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Aula 35 Creio na Igreja Católica - 11

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Academic year: 2021

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Aula 35

Creio na Igreja Católica - 11

Vida Consagrada, ou Vida Religiosa (CIC 914-933)

1 - Introdução

Em primeiro lugar quero lembrar que estamos, desde a aula 32, a falar dos componentes da Comunidade Católica. O n.2 daquela aula intitulou-se Como se estrutura a Comunidade Católica. Claramente percebemos 3 grupos de membros da Igreja: Clero que se ocupa com a doutrina (=Formação) católica e com o governo (2.1 da aula 32); Leigos, com o título “o grande Povo de Deus” (aula 34); Religiosos, envolvendo muitas congregações ou ordens religiosas que procuram viver os “Conselhos Evangélicos” expressos nos votos de castidade, pobreza, e obediência.

2 - Fonte Inspiradora da Vida Religiosa

No AT não temos nada que se assemelhe a qualquer vida consagrada ou vida religiosa como encontramos na Igreja católica.

Em primeiro lugar, a cultura religiosa judaica era muito voltada para família e procriação, sinais de ricas bênçãos divinas. Há autores que sublinham a esperança da vinda do Messias como fator a pesar na mística da família como benção de Deus. Ter filhos podia significar que algum

descendente teria chance de vir a ser o Ungido do Senhor (Messias).

Não ter filhos era sinal de maldição certa. Consequentemente, virgindade constituía apenas condição para o casamento, mas não um valor em si. O pedido da filha adolescente de Jefté de poder por dois meses “errar pelas montanhas e chorar a minha virgindade, eu e minhas

companheiras” (Jz 11,37) antes de morrer é revelador.

Desde o tempo dos Patriarcas, ou seja, desde o início da história do judaísmo, havia a tradição obrigatória de oferecer e consagrar a Deus o filho mais velho de cada casal. Samuel, o profeta, é até criado no santuário do Senhor, desde o desmame. Mas, celibato não era uma coisa sequer pensável.

A fonte inspiradora da vida religiosa só vamos encontrá-la no NT e tem a marca de Jesus Cristo. O jovem retratado no Evangelho ( Mt19,16-22) tinha uma vida correta e despertou vivo interesse em Jesus (Mc 10,21). Vêm, então, as palavras de nosso Divino Mestre que mudaram vidas e caminhos de muita gente nos últimos dois mil anos: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que

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possuís, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos Céus. Depois, vem e segue-me” (cf. também Lc 18,22).

Na verdade, Jesus faz uma distinção bem clara entre práticas que são obrigatórias para todos e práticas não obrigatórias, mas que são expressão de uma vontade de crescer mais, ir além do exigido, procurar uma perfeição cada vez maior. “Se queres ser perfeito ...”. Os mandamentos são ordens divinas, são obrigação para todos que desejam a Redenção Eterna. Eles garantem a vida eterna. Mas Jesus ocupa-se das pessoas que querem mais já aqui na Terra. Desejam viver inteiramente o Evangelho, imitando mais de perto o Divino Mestre. “Se queres ser perfeito ...” é endereçado aos voluntários de Deus. Estes querem prestar-lhe toda sorte de serviços sem cobrar, ou sequer pensar em retribuição.

Esse conselho que Jesus deu ao jovem rico é a fonte daquilo que a Igreja sempre chamou de conselhos evangélicos. Na verdade são tres. Vender tudo é a renúncia de bens materiais

individuais. É a pobreza. Renunciar aos bens materiais e seguir Jesus implica necessariamente na renúncia ao direito de fundar uma família. Tal pessoa aceita o estado celibatário. Se alguém quer ser seguidor de Jesus, passo por passo, precisa colocar-se em obediência total sob a direção Dele, como Ele estava totalmente a serviço e obediência ao Pai. Daqui surgiu a instituição dos votos de pobreza, castidade e obediência, que devem ser livre e publicamente declarados por todos os que desejam seguir a Vida Religiosa.

Isso supõe um amor total à Pessoa e à causa de Jesus. Por isso os mestres da doutrina católica falam que a Vida Religiosa tem como base a perfeição da Caridade.

A Vida Religiosa abraça pois os Conselhos Evangélicos e não apenas os mandamentos como forma de vida. Colocar-se inteiramente a serviço de Cristo traduz uma verdadeira consagração da pessoa a Deus. É certo que todo ser humano, ao aceitar o Batismo, já é consagrado (é duplamente ungido) a Deus. Mas agora trata-se de uma entrega pessoal total de seu tempo integral, de todos os outros projetos possíveis, inclusive de uma família.

3 - Um pouco de História (CIC 920-925)

Jesus havia abordado discretamente o assunto casamento ou não casamento (celibato) de forma um tanto quanto misteriosa. Chega a dizer que, sem um toque de graça divina, não é possível compreender que alguém renuncie a um bom casamento “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19, 10-12).

São Paulo chega a dizer que renunciar ao casamento para só servir ao Senhor “sem divisão” é melhor do que casar. Esta seria uma opção de vida mais perfeita (1Cor 7,34-36). Uma coisa é certa. Jesus era solteiro. Escolheu os doze apóstolos sendo uns casados e outros parece que não. Paulo era solteiro e considerava-se assim em vantagem para dedicar-se inteiramente ao serviço do Evangelho, da Igreja e de Cristo, sua verdadeira paixão de vida. Ao menos dois convertidos por ele

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e que se tornaram seus amigos muito próximos, Timóteo e Tito, e por ele colocados à frente de igrejas como bispos, eram solteiros ao que tudo indica.

O CIC fala que havia, desde os tempos apostólicos, virgens cristãs que consagravam-se

inteiramente ao Senhor, e que tais decisões eram aprovadas pela Igreja. Nos dias de hoje existem pessoas, em geral jovens, que se consagram ao Cristo e colocam-se a serviço da Igreja. Elas são consagradas, mediante ritual aprovado pela Igreja, pelo bispo diocesano. O cânon 604 do Código de Direito Canônico dá as normas legais para isso.

Mas, aos poucos, foram surgindo indivíduos, no começo só homens, que levados pelos Conselhos Evangélicos, metiam-se deserto adentro para viverem em solidão. Visavam fugir das tentações do mundo, vencer o diabo no seu território (deserto). Aí podiam dedicar-se à vida de oração e contemplação, servindo ao mesmo tempo a Deus e a Igreja. Sim, eles acreditavam no valor de sua vida orante e na vitória sobre o Maligno, para santificar a Igreja de Jesus Cristo.

Tais homens eram conhecidos como eremitas, do latim eremus, deserto. Eram os homens do deserto, e viviam sozinhos. O primeiro desses homens a tornar-se famoso, conhecido e logo admirado em vida como santo, foi Santo Antão. Teria vivido 105 anos e morreu em 356. Sua fama espalhou-se graças à biografia escrita pelo grande bispo Santo Atanásio.

A fama de santidade ainda em vida acabou prejudicando seus planos de solidão. Pessoas o procuravam para receber conselhos e orações. Outros chegavam para viver com ele. Acabou deixando o deserto para fundar uma comunidade num monte perto do Mar Vermelho.

Um contemporâneo de Antão foi São Pacômio. Soldado pagão das tropas de Constantino em 313, converteu-se na década de 320 e foi para o deserto como eremita. Também ele logo passou a ser procurado por muitos que queriam a mesma forma de vida. Tratou então de organizar esses seus seguidores, escrevendo as primeiras regras de vida religiosa. Cada eremita vivia isolado no seu abrigo, formando colônias. Seus membros podiam trabalhar em diversos ofícios. Um encarregado vendia os produtos e comprava o indispensável para a vida de todos.

Assim Pacômio acabou inaugurando a vida monástica. Monge vem do grego monachos que significa o solitário. Mantém-se o objetivo básico iniciado pelos eremitas, o de viver a sós com Deus. Pacômio morreu em 346. Havia então 11 comunidades seguindo sua regra, inclusive duas formadas por mulheres.

Houve também outros fundadores de comunidades de monges, que podiam abrigar muitos membros. Há poucos dias de viagem para o sul de Alexandria, estava a comunidade de Nitria. Um viajante fala em cinco mil monges no local (cf. História do Cristianismo, de Jonathan Hill, Edições Rosari, Ltda, 2008, pág 86 a 89; ou www.rosari.com.br).

Mas estamos no Egito, parte oriental da Igreja. Na sua parte ocidental, Igreja Latina, a vida monástica começou a propagar-se com mais intensidade a partir do fim do séc. IV. Mas cada mosteiro tinha suas próprias normas de vida. Eis que então surge São Bento (480 a 550), fundador do mosteiro mais famoso de todos os tempos, o de Monte Cassino, ao sul de Roma. Bento era

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dotado de um talento organizador raro, e entendedor da arte da liderança fora do comum. Elaborou uma regra de vida monástica realmente completa. Ela vai servir de modelo para praticamente toda a Vida Religiosa na Igreja Romana, ao menos até o séc. XIII.

Depois da queda do Império Romano do ocidente, a expansão da Igreja para as áreas rurais e para os povos do centro e norte da Europa, todos ainda pagãos, vai se dar, não através das dioceses e seus bispos, mas através de mosteiros da regra de São Bento (cf. op. cit. p. 164-165).

Temos na Igreja a Vida Religiosa, muitas vezes também chamada de Vida Consagrada, organizada em ordens e congregações. Ordens religiosas em geral são mais antigas e tem ou tiveram maior importância na Igreja. Beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas, jesuítas e outros são ordens. Congregações, sobretudo femininas, são mais numerosas. As ordens estão diretamente sujeitas ao Papa. As congregações são em geral de direito pontifício, sujeitas diretamente à autoridade do Papa.

Mas, mesmo que uma instituição de Vida Religiosa esteja diretamente sob a autoridade do Papa, onde quer que ela esteja, deve reverência ao bispo diocesano, e em toda atividade de

atendimento ao povo de Deus, ou de apostolado, precisam estar em sintonia com a pessoa do bispo local e seu plano diocesano de pastoral.

Nos últimos tempos multiplicaram-se na Igreja os assim chamados Institutos Seculares. “Instituto Secular é um instituto de vida consagrada no qual os fiéis, vivendo no mundo, tendem à perfeição da Caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo, principalmente a partir de dentro” (CIC 928).

A novidade dos institutos seculares é realmente viver os votos religiosos sem morar em convento, mas espalhados no meio do povo e exercendo as mais diversas profissões, ou cooperando

diretamente com os trabalhos pastorais. Todos participam da missão evangelizadora da Igreja “no mundo, a partir do mundo” (929). Sua principal atuação evangelizadora é a partir do exemplo. É o verdadeiro fermento na massa. Acredito estarmos precisando de muito mais divulgação e

propaganda.

Por fim, existem ainda Sociedades de Vida Apostólica (930). É também uma forma de Vida Consagrada. “Ao lado das formas diversas de vida consagrada, acrescentam-se as sociedades de vida apostólica, cujos membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria da sua sociedade e, levando vida fraterna em comum, segundo o próprio modo de vida, tendem à perfeição da Caridade pela observância das constituições. Entre elas há sociedades cujos membros assumem os conselhos evangélicos por meio de algum vínculo determinado pelas constituições” (CIC 930 e cânon 731).

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Este simples título diz tudo. Todo cristão, pelo Batismo, já está consagrado. Mas todo aquele ou aquela que quer consagrar sua existência toda diretamente ao serviço divino e ao bem da Igreja anuncia o Evangelho do Reino de Deus pela atuação direta nos serviços apostólicos da Igreja e ou pela pregação do próprio exemplo. Tais pessoas mostram ao mundo que o ES atua na Igreja de Cristo e que o Evangelho é sempre capaz de atrair pessoas que querem viver somente em função dele.

O n. 932 do nosso Catecismo frisa que os religiosos e consagrados de vida precisam seguir e imitar a Cristo mais de perto; manifestá-lo mais claramente; e estar mais profundamente presente aos seus contemporâneos no coração de Cristo. É a tradução da escolha do “caminho mais estreito” de Jesus.

Para terminar, precisamos lembrar que toda realidade terrena, nossos projetos, realizações e sonhos são passageiros. Nada neste mundo merece a dedicação total da existência do ser humano. A existência de religiosos que consagram sua vida a Cristo e à Sua causa em nosso meio deve sempre apontar para os bens do Reino. São os únicos bens pelos quais vale a pena realmente dar tudo.

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