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Pós-neoliberalismo e Cidadania Corporativa: uma Análise da América Latina.

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Academic year: 2021

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V Encontro Nacional da Anppas

4 a 7 de outubro de 2010

Florianópolis - SC – Brasil

Pós-neoliberalismo e Cidadania Corporativa: uma Análise da América

Latina.

Fabián Echegaray é Doutor em Ciência Política pela Universidade de Connecticut, EUA Atualmente, é diretor geral da Market Analysis, instituto de pesquisas de opinião pública do Brasil. fabian@marketanalysis.com.br Bruno Costa Barreiros é psicólogo pela UFBA Atualmente, é analista de pesquisa da Market Analysis. bruno@marketanalysis.com.br Paula Goerg é graduada em Secretariado Executivo pela UFSC Atualmente, atua como coordenadora de projetos na Market Analysis.

pgoerg@marketanalysis.com.br

Resumo

Este estudo visa investigar a avaliação dos consumidores brasileiros sobre as práticas de cidadania corporativa no Brasil e comparar com consumidores dos outros dois países de destaque na América latina: Argentina e México; procura também compreender a demanda de regulação por parte do governo das práticas de responsabilidade socioambiental das empresas para consumidores do bloco latino, analisar o tipo de posicionamento político-econômico predominante diante da realidade da sustentabilidade empresarial e, por fim, testar a hipótese de que o tema da responsabilidade socioambiental é um terreno onde se pode constatar a presença da atitude pós-neoliberal. Os resultados demonstram que não há homogeneidade no subcontinente latino em relação aos cenários de sustentabilidade empresarial e que os brasileiros são os mais inclinados a uma legitimação da cidadania corporativa como conjunto de práticas integrante da sociedade.

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Introdução

Como os consumidores latinos se posicionam diante da cidadania corporativa? Qual papel os indivíduos atribuem ao Estado diante da sustentabilidade empresarial, o de regulador das práticas privadas? O que há de semelhança e o que há de diferença entre argentinos, brasileiros e mexicanos?

O Estado neoliberal na América Latina se consolidou por volta de 1990, principalmente com a posse dos presidentes Carlos Salinas de Gortari no México, Carlos Saúl Menem na Argentina e Fernando Collor de Melo no Brasil. As reformas econômicas e políticas se deram em termos da abertura do mercado de bens e de valores, bem como de privatizações de empresas públicas (Cervo, 2000). As idéias neoliberais ao redor do mundo eram fundamentadas nos pilares de democracia, direitos humanos, liberalismo econômico, cláusula social, proteção ambiental e responsabilidade estratégica solidária, com epicentros idealizadores nos EUA, Europa ocidental e Japão (Cervo, 2000).

Um dos pilares neoliberais, a cidadania corporativa, no Brasil, não é somente observável a partir da consolidação neoliberal. Desde 1960, a discussão já existe, sendo que nos anos 80, ela ganha força nos meios empresarial, acadêmico e na mídia; o surgimento do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), em 1989; a campanha do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) pela publicação do balanço social, a partir de 1997; e a criação do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, em 1998, são marcos importantes (Coutinho, Macedo-Soares e Silva, 2006).

Na maior parte da literatura de ciência política e opinião pública, o Estado e o mercado são esferas de atuação independentes, às vezes tidas como antagônicas (Echegaray e Sarsfield, 2009). A predominante visão de separação entre a esfera privada e a esfera pública tem origens na própria teoria política e exemplos são encontrados em propostas como as de Arendt (1993), na sua distinção entre o mundo do trabalho, da produção e da ação.

A esfera privada é encarregada de produzir e disponibilizar bens privados voltados para a satisfação de necessidades dos consumidores, enquanto o governo se orienta pela provisão de bens públicos, que afetam a comunidade ou a grupos suficientemente relevantes ou numerosos para adquirir status de bem público. Assim, se constitui o senso comum de que o Estado é encarregado do coletivo e do bem público, enquanto o mercado é a esfera do auto-interesse e dos anseios individuais.

Tais crenças rígidas são abaladas quando o Estado é visto pelos seus próprios cidadãos como um insuficiente solucionador das demandas sociais e, ulteriormente, demandas ou compensações de

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de interesse público ganha força em todos os vetores sociais, desde os cidadãos até os próprios governantes, passando também por uma estratégia oportuna dos empresários. Muito embora, a relevância da cidadania corporativa é ainda questionável em todo o mundo e motivo de debates em todos os espaços sociais.

A partir desta conjuntura, este trabalho se inscreve como uma proposta de abordar a avaliação dos consumidores brasileiros sobre as práticas de cidadania corporativa no Brasil e comparar com consumidores dos outros dois países de destaque na América latina: Argentina e México. Complementarmente, discute-se a necessidade de regulação por parte do governo das práticas de responsabilidade socioambiental das empresas na opinião dos consumidores do bloco latino. Desta forma, o objetivo final é entender o posicionamento político-econômico predominante entre os consumidores dos três países diante da realidade da sustentabilidade empresarial e testar a hipótese de que o tema da responsabilidade socioambiental é um terreno onde se pode constatar a presença da atitude pós-neoliberal do brasileiro, isto é, uma postura que reivindica a parceria público-privada.

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Metodologia

A metodologia deste trabalho utiliza os resultados da pesquisa Monitor de Responsabilidade Social 2010 do instituto de pesquisa Market Analysis. O estudo foi realizado no Brasil e em mais 34 países com aproximadamente 1.000 entrevistas representativas da população de cada país. No Brasil, a pesquisa foi realizada com 810 adultos, com idade entre 18 e 69 anos, residentes em nove das principais capitais do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia e Brasília. As entrevistas foram realizadas face a face no domicílio do entrevistado entre dezembro/2009 e janeiro/2010. A margem de erro do estudo é de +/- 3,4%.

Resultados e Discussão

Os brasileiros possuem opinião relativamente homogênea sobre a avaliação do trabalho das corporações na construção de uma sociedade melhor para todos, mas tal homogeneidade não é a mesma a respeito da participação do Estado no incentivo das ações empresariais: os cidadãos se dividem entre os que acreditam que o governo deveria criar leis que obrigassem grandes empresas a irem além do seu papel tradicional e contribuírem para uma sociedade melhor, mesmo que isso resulte em preços mais altos e menos empregos.

Cidadania corporativa no Brasil: regulação estatal e aprovação por parte do

consumidor

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo parcialmente Discordo totalmente NS/NR Aprovação da cidadania corporativa 21% 46% 20% 6% 7%

Regulação estatal da cidadania

corporativa 24% 32% 20% 23% 1%

Fonte: Market Analysis

A idéia de que leis governamentais devem regular a cidadania corporativa ganha força a partir da boa avaliação do trabalho das empresas. Para o consumidor, esses bons exemplos de trabalho em prol da sociedade e do meio ambiente não deveriam depender somente de decisões unilaterais que surgem nos ambientes de negócios, mas também de regulamentações capazes de incentivar o comprometimento com o progresso da comunidade e o meio ambiente.

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Percepção de bom trabalho de cidadania corporativo e necessidade de regulação

estatal – de 2005 a 2010 - percentual de concordância

Fonte: Market Analysis

Dentre os consumidores latinos, são os brasileiros os que mais positivamente avaliam a performance do setor privado em termos de sustentabilidade, mas os mexicanos são os que menos acreditam que seja necessária a legitimação das práticas de cidadania corporativa e a participação estatal neste cenário. Estes últimos, aliás, mostram o ceticismo ao discordarem fortemente da necessidade de regulação estatal das práticas de responsabilidade socioambiental, quesito no qual os argentinos superam os brasileiros.

Cidadania corporativa nos três países latinos: regulação estatal e aprovação por

parte do consumidor – percentual de concordância

Brasil Argentina México Mundo Aprovação da cidadania corporativa 67% 43% 33% 53% Regulação estatal da cidadania corporativa 56% 59% 13% 53%

65% 61% 67% 59% 50% 57% 2005 2008 2010

Percepção de bom trabalho corporativo na construção de uma sociedade melhor

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Para análise destes resultados, uma matriz conceitual condutora do teste da hipótese principal foi elaborada a partir das duas questões centrais do estudo:

Matriz atitudinal do posicionamento político-econômico dos consumidores

Avaliação da atuação empresarial em cidadania corporativa e Necessidade de regulação governamental destas práticas empresariais

Apesar de haver maior aprovação pública da atuação empresarial do que sobre se esta atuação deva ser regulada pelo governo, a maior parte dos aprovadores do modo como as empresas têm agido para contribuir para a sociedade acreditam que esta atividade deve ser regulada pelo Estado para que as boas ações corporativas sejam expandidas. Este é um indício de uma atitude pós-neoliberal do consumidor brasileiro, no sentido de que vai além da atitude neoliberal de pouca participação do Estado e apreciação da atuação corporativa nas esferas social e ambiental: o brasileiro acredita, em medida razoável, que leis governamentais são necessárias para a legitimação da cidadania corporativa.

Atuação empresarial R e g u la ç ã o e s ta ta l Intervencionistas Neoliberais Pós-neoliberais Céticos

Atitude que se caracteriza por uma descrença na regulação estatal e na cidadania corporativa.

Postura favorável ao livre mercado e à atuação da esfera privada nos bens públicos, mas que não prevê regulação estatal. Postura mais favorável à

regulação estatal do que atuação da esfera privada sobre os bens públicos.

Atitude marcada pelo desejo de otimização de ações socioambientais corporativas através da legitimização estatal.

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Posicionamento dos consumidores brasileiros diante da cidadania corporativa

Fonte: Market Analysis Obs: 8% dos respondentes brasileiros não possuem posicionamento diante desta temática.

Em oposição aos brasileiros, os mexicanos são os mais céticos – não acreditam na regulação estatal nem na atuação empresarial cidadã, enquanto os argentinos se mostram como os mais divididos diante das questões.

Posicionamento dos consumidores mexicanos e argentinos diante da cidadania

corporativa

Mexicanos Argentinos

Fonte: Market Analysis Obs: 38% dos respondentes mexicanos e 22% dos argentinos não possuem posicionamento diante desta temática

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Ainda, o brasileiro não só acredita na atuação socioambiental das empresas, como também acredita que os líderes políticos poderiam ser substituídos por presidentes de grandes corporações, opinião também compartilhada por 71% dos consumidores mexicanos.

“Eu acho que os presidentes de muitas grandes empresas podem oferecer uma

liderança melhor para o futuro do que muitos dos atuais líderes políticos” –

percentual de concordância

Fonte: Market Analysis

53% 71% 76% Argentina México Brasil

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Considerações Finais

Diversas discussões são levantadas acerca dos rumos políticos que a América Latina vem levando em torno da sustentabilidade. A aprovação da atuação da cidadania empresarial junto à demanda por regulação estatal dos brasileiros indica uma atitude pós-neoliberal, a qual não é encontrada com a mesma intensidade nos outros dois países de destaque da América Latina. O consumidor brasileiro pode ser considerado mais inclinado a aprovar a consolidação da responsabilidade social corporativa na sociedade, tema que ainda desperta ceticismo entre os mexicanos e maior polêmica entre os argentinos. Não é possível falar, a partir destas análises, em homogeneidade do movimento da sustentabilidade empresarial no subcontinente latino, mesmo porque estas temáticas possuem íntima relação com os cenários nacionais encontrados a partir da crise financeira global de 2008, os quais variam consideravelmente nos três países.

Estudos posteriores podem enfatizar a evolução dos quatro tipos de posicionamento nos países latinos, buscando averiguar a expansão ou retração da atitude pós-neoliberal. Quais rumos a sustentabilidade tende a tomar nesses três diferentes países? Quais serão os papéis de cada instituição e de cada agente social diante da problemática socioambiental? Assim, este estudo se constitui essencialmente em uma provocação, um convite para a reflexão sobre os responsáveis pela busca de melhores condições de vida para as gerações atuais e futuras.

Referências

ARENDT, H. La condición humana. Barcelona: Paidós, 1993.

CERVO, A. L. Sob o signo neoliberal: as relações internacionais da América Latina. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 43, n. 2, Dec. 2000.

COUTINHO, R. B. G.; MACEDO-SOARES, T. D. L. V. A.; SILVA, J. R. G. Projetos sociais de empresas no Brasil: arcabouço conceitual para pesquisas empíricas e análises gerenciais. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 5, Oct. 2006.

ECHEGARAY, F.: Economic crises and electoral responses in Latin America, Landham: University Press of America, 2005.

ECHEGARAY, F.; SARSFIELD, R. .Rethinking citizenship: Politicization of consumption in Latin America.In: Conferência Anual da WAPOR, Lausanne, Setembro, 2009.

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