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Os Segredos do Templo de Salomão - Kevin L. Gest

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Academic year: 2021

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Kevin L. Gest

Os Mitos em Torno do Rei Bíblico

Tradução: Silvio Antunha MADRAS

2011

A Sabedoria é Suprema

"Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria, o homem que adquire conhecimento... Adquire pois a

sabedoria, obtenha entendimento... A sabedoria é suprema; portanto, obtenha sabedoria. Ainda que custe

tudo que você tem, obtenha entendimento."

Provérbios 3,13 e 4,7

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Índice

Agradecimentos...2

Capítulo 1...9

Por que o Sol?...9

Conhecimento Secreto - Sabedoria Sagrada...83

Capítulo 4...127

O Segredo do Selo de Salomão...127

Capítulo 5...158

Pitágoras, Escolas de Mistério e Maçonaria...158

Capítulo 6...174

Influência Eclesiástica - Maçons Admiráveis...174

Capítulo 10...348

Capítulo 11...371

Capítulo 12...377

Capítulo 13...394

A

GRADECIMENTOS

A preparação deste livro resultou em muita leitura de assuntos que originalmente não eram familiares para mim, em viagens a outras terras e na investigação histórica de um jeito que antes não havia imaginado. Isso implicou trancar-me com um computador e fazer desenhos sem fim em papel para diagramas, tanto para provar como para investigar diversos critérios. Tudo isso demorou vários anos, durante os quais coloquei minha família em muitas situações inconvenientes. Só posso agradecer-lhes pela paciência e compreensão, enquanto eu me entregava à fascinação por aquilo que descobria.

Transmito aos membros da Loja Santa Cecilia 1636 a minha gratidão pelas muitas horas que agüentaram ouvir minhas conversas e palestras por um período de dez anos, quando explicava o que havia descoberto e avaliava a reação deles aos meus achados. Em particular, gostaria

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de agradecer ao bom amigo e pesquisador por profissão, o Ven. Irm. Mike Oulten, que ouvia atentamente minhas divagações em outros tempos e me incentivava a continuar procurando. E Mike, mais uma vez, em companhia do Ven. Irm. Ron Cuff OBE, ambos os quais perceberam que eu devia registrar meus achados na expectativa de que seriam de interesse e valor para outras pessoas. Foi o incentivo deles que me inspirou a escrever este livro. Junto a isso, eu gostaria, da mesma forma, de agradecer ao Grão-Mestre Provincial da Província Maçônica de Sussex pela permissão de utilizar a grande quantidade de fotografias do Templo Maçônico de Sussex nesta obra. Também agradeço ao Ven. Irm. Reg Barrow, curador do Museu Maçônico de Sussex, pela paciência de comentar a respeito de algumas de minhas observações, pouco sabendo onde isso poderia terminar.

É desnecessário dizer que a publicação de qualquer livro envolve muita gente. Só posso agradecer a todo o pessoal da Ian Allan-Lewis Masonic Books pela ajuda e, em particular, pela orientação e incentivo que recebi de Peter Waller nas primeiras etapas de redação. Nick Grant por sua paciência com as ilustrações e correções, e Martin Faulks pela orientação sobre questões de marketing.

Também agradeço à maravilhosa equipe de funcionários e bibliotecários da Biblioteca e Museu Maçônico do

Freemasons Hall, em Londres, que tantas vezes a meu

pedido procuraram documentos há muito esquecidos e me orientaram para informações que talvez eu jamais levasse em consideração. Eu também gostaria de agradecer aos bibliotecários e outros funcionários que me atenderam na Biblioteca Britânica, em Londres, no Real Instituto de Arquitetos Britânicos, na Real Sociedade

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Astronômica de Londres, no Observatório Real de Greenwich, na Biblioteca de Referência de Sussex e na Biblioteca Central da Cidade de Brighton; aos funcionários do Departamento de Turismo do Governo Egípcio, em Londres, da Biblioteca de Referência da Cidade de Westminster, em Londres, do Museu Judaico em Camdem, Londres, e outras fontes de informações e referências que são muitas para citar individualmente.

Meus agradecimentos também vão para Crichton Miller pelo uso das imagens que ele criou relacionadas à utilização da cruz céltica; para dr. Robert Lomas por seu incentivo e pela permissão de usar o material desen-volvido a respeito da Jarda Megalítica [Megalithic Yard] e as obras de William Preston; para Paul Bush e o deão da Catedral de Peterborough pela permissão de usar informações e desenhos previamente produzidos a respeito da catedral - novamente são muitas pessoas para mencionar individualmente.

Nota especial: neste livro, fiz referências às obras do sr. George Lesser e sua investigação, na década de 1960, do uso de geometria sagrada na construção de várias catedrais em toda a Europa e, em particular, na Catedral de Chartres. Foram feitos esforços para localizar os editores de suas obras, Tiranti, a fim de obter a aprovação paia usar certas ilustrações, mas em vão. Parece que a companhia editora dos Tiranti foi vendida na década de 1970, mas as tentativas de localizar quem naquele tempo possuía as listas de obras publicadas antes resultaram em silêncio. Por isso, peço desculpas antecipadamente por qualquer inconveniência que o uso desse material possa causar-lhes.

Todos os esforços foram feitos para rastrear cada detentor de direitos autorais e conseguir a devida

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autorização, mas, na eventualidade de alguma omissão, favor entrar em contato com o autor, via editor, para que as correções necessárias possam ser feitas em futuras edições deste livro.

Abertura - O nascer do Sol, uma inspiração

Ainda estava escuro. Exceto o da minha própria respiração, nenhum outro ruído quebrava o silêncio da noite. As brasas da fogueira ardiam em um rubor intenso. O ar estava tão parado que a fumaça de um braseiro, que queimava parte de uma tora erguida verticalmente, unificava-se com a nebulosa fumaça da Via Láctea, como se a textura nublada acima tivesse sido criada apenas por ela.

Saltei para fora do meu saco de dormir. Andando silenciosamente em volta da fogueira para não perturbar meu companheiro, coloquei alguma lenha no fogo para mantê-lo aceso. E também uma pequena chaleira, com água suficiente para fazer uma boa caneca de café quente.

Havia acordado muito naturalmente e senti que a alvorada não poderia demorar muito. Nossos relógios de corda haviam parado há alguns dias e não tínhamos a menor idéia de qual horário inventado pelo homem estávamos vivendo. Longe do alcance das estações de rádio, vínhamos, desde a semana passada, levantando com o Sol e encerrando as tarefas do dia quando o Sol se punha. Com o café na mão, afastei-me do fogo, agora inflamado, e me coloquei em frente ao velho Volkswagen. Antes de sair para o sertão australiano, fui aconselhado a usar um dos seguintes três tipos de veículos: um com tração nas quatro rodas; algum carro fabricado no país -

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tipo Holden -, cujas peças de reposição eram fáceis de encontrar; ou um Volkswagen refrigerado a ar - sem radiador ou mangueiras d'água com que se preocupar. O velho Volkswagen era tudo o que eu podia pagar.

Sentado nas Montanhas Kimberley, no noroeste da Austrália, as estrelas no céu tinham uma claridade rara. A cidade grande mais próxima, que irradiaria luzes intrusas de faróis de carros, semáforos e iluminação das ruas, ficava a cerca de 640 quilômetros. O Cruzeiro do Sul se destacava entre as constelações, enquanto Orion, que eu chamava de "meu velho amigo", pois foi um dos primeiros grupos de estrelas importantes que aprendi a reconhecer, surgia no céu ao norte. Nos meses em que eu estivera no mato, percebi que olhava os céus como centenas de gerações antes de mim haviam feito. As estrelas, muito mais do que qualquer pessoa poderia ver perto de uma cidade, destacavam-se pelo brilho exuberante, enquanto o pano de fundo do espaço sideral era mais negro do que qualquer um pudesse imaginar. Também vi estrelas cadentes em abundância, algo que alguém dificilmente saberia que existe em um ambiente urbano.

Embora não tivesse notado quando me coloquei em frente ao Volkswagen com meu café, eu estava virado para o Leste. Quando quase todo café havia sido bebido, o primeiro resplendor da alvorada rompia no horizonte. Não era a primeira alvorada que eu testemunhava, mas presenciei com respeito o desenrolar desse drama de todo dia. As estrelas no oriente começavam a esmaecer à medida que a luz do Sol ganhava força. Quando a bola amarela de fogo apareceu no horizonte, um calor confortável e inesperado atingiu meu rosto em cheio. O ar, que estava completamente parado, de repente e agradavelmente precipitou-se em direção ao horizonte

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iluminado, como se o Sol fosse um imenso ímã que o atraísse. Um martim-pescador cantou a distância. Um ruído sussurrante, fraco, vinha do capim branco comprido que nos rodeava, quando as pontas dos caules roçavam suavemente umas na outras ao leve sabor do ar. Um bando de papagaios, cor-de-rosa e cinza - Galahs -, voou bem no alto, rodopiou e circulou, depois arremeteu para o chão, várias centenas de metros abaixo. No ar também se sentia o leve aroma do eucalipto e do capim seco, onde antes nada mais havia além do frescor do ar da noite e da leve fragrância do café instantâneo que saía da caneca encaixada nas minhas mãos.

Embora eu tivesse presenciado o alvorecer muitas vezes, nessa manhã, em particular, meus sentidos pareciam encontrar alguma afinidade extra com o mundo ao meu redor. Estava preenchido com uma tranqüilidade e uma paz interior, com um sentimento de estar completamente de acordo com o ambiente à minha volta, totalmente sintonizado com o mundo - com a natureza - e minha participação nele. Era muito bom estar vivo, sentir-me vivo.

Tal sentimento vivo deixou sua marca. Ainda hoje, tantos anos depois, posso fechar os olhos e ser transportado de volta àquela manhã e experimentar tudo isso: a luz, o calor, o movimento do ar, até mesmo o cheiro do mundo misturado com o café. Foi uma experiência espiritual que jamais esqueci.

Muitos anos depois, minha atenção foi particularmente atraída para o Sol nascente e sua influência sobre as pessoas das antigas civilizações. Precisei de pouquíssimas pesquisas para constatar que tais civilizações cultuavam esse evento como a base da própria vida e que o impacto que ele teve há tantas

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gerações continua a ser sentido hoje. Isso voltou à tona nos lugares mais inesperados.

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Salomão, rei de Israel no Antigo Testamento, é um personagem bem conhecido dos adeptos das três principais religiões do Ocidente - o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo - e se mantém vivo graças às referências ao Templo de Salomão, em Jerusalém, e à sua conhecida sabedoria. Ele foi um líder, um construtor e um diplomata talentoso. E, se a tradição for interpretada de forma lógica, foi claramente um homem de charme e presença considerável - o que talvez ficou consubstanciado no seu relacionamento com a rainha de Sabá. Sua liderança foi demonstrada em muitos atos, o mais significativo talvez ligado à construção e ornamentação do primeiro Templo em Jerusalém. Nas entrelinhas do texto bíblico, o reinado dele coincidiu com um período de estabilidade para os adoradores de

Yahweh, um povo cujos ancestrais haviam vagado,

errantes, por várias gerações, pela Península do Sinai, depois do êxodo do Egito, e haviam se envolvido em batalhas para garantir a sua terra prometida. Com essa estabilidade, veio também um período de relativa prosperidade, o que fica evidente nas descrições dos opulentos ornamentos do Templo.

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Como uma dedução a partir de seus vínculos com o primeiro Templo em Jerusalém, e de sua pretensa sabedoria, somos levados a crer que seu nome era

Salomão. Mas suponhamos que não fosse. Vamos

presumir que essa palavra servisse para descrever seu cargo e sua posição. Assim, se o nome do Templo fosse um reflexo de seu cargo ou posição, então poderia mudar nosso entendimento a respeito do significado e da finalidade para a qual o Templo servia. Isso poderia definir para que o templo fora criado ou dedicado, em vez de identificar de quem ele recebeu seu nome. A suposta sabedoria de Salomão pode então ter sido um reflexo das habilidades e do conhecimento que ele adquiriu em relação à sua função, em vez de implicar que ele fosse uma pessoa de intelecto superior ou que tivesse poderes de raciocínio altamente desenvolvidos.

Os resultados de tal revelação seriam extremamente poderosos.

Apesar do fato de eu ter ocupado, por muitos anos, cargos executivos em negócios e também em muitos comitês e organizações sociais, não havia nada em minha vida que tivesse me preparado verdadeiramente para a Maçonaria. Minhas primeiras impressões foram de uma organização cujas práticas eram, na melhor das hipóteses, obtusas. Porém, ao mesmo tempo, existe uma dignidade e uma grandeza nos procedimentos que vêm de uma tradição muito antiga e consagrada. Percebi depois que essa grandeza era realçada pela decoração da sala que a Loja da qual eu era membro usava para suas reuniões.

Alguns anos depois da minha iniciação, aquela sala, junto com sua arquitetura e decoração, tornou-se um foco de minha atenção. Isso resultaria em um fascínio que me

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levaria a uma jornada de descoberta e mudaria, de uma maneira que eu jamais havia pensado, meu entendimento e minha percepção sobre o quadro histórico de certos eventos associados às principais religiões ortodoxas.

O tema da Maçonaria é algo que, por várias vezes nos últimos séculos, atraiu um misto de excitação e histeria do público. Existem famílias nas quais a filiação a essa sociedade fraterna tão antiga existe há gerações, com pais iniciando filhos, e depois netos, com grande orgulho. Existem outras pessoas que a vêem como uma organização que perpetra sentimentos diabólicos e anti-religiosos; uma sociedade secreta na qual os membros estão empenhados em golpes para desestabilizar e derrubar governos, uma associação de homens que está comprometida em garantir que seus membros sejam promovidos a altos cargos no governo local, em instituições ou corporações importantes, em detrimento de qualquer outra pessoa com capacidade similar. Porém, repetidas investigações de funcionários de governos e de pessoas respeitadas, que não eram maçons, mas pesquisaram sua história e estrutura, concluíram que tais temores são infundados. Em vez disso, eles relatam que se trata de uma organização altamente intelectual e moral, que no passado foi instigadora, motivadora e patrocinadora de significativos empreendimentos científicos e de caridade, papel que ainda continua existindo.

A Maçonaria é uma organização dominada por homens, embora, desde o início do século XX, participantes femininas passaram a ter sua própria estrutura de Loja no Reino Unido, operando de maneira concomitante à de seus equivalentes masculinos. Os homens ingressam na Maçonaria em várias etapas de sua vida, a partir de 21

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anos de idade. Eles vêm de vários substratos socio-econômicos, permanecem membros por várias razões, mas obviamente não o fazem a menos que retirem alguma satisfação interior de sua filiação. O período típico de filiação é acima de 25 anos. A maioria associa-se na meia-idade, embora os que ingressam na juventude provavelmente se tornam membros regulares de apoio por volta de 40 ou 50 anos. Existem aqueles que desistem de sua filiação e também o fazem por razões variadas.

A Maçonaria é uma organização global que, se adequadamente regulamentada, é aceita pela constituição da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI), sujeitando-se a ela. A GLU da Inglaterra tem suas origens em 1717, quando um pequeno grupo de Lojas sediadas em Londres reuniu-se para formar a Grande Loja da Inglaterra, a precursora do órgão administrativo que existe atualmente. Porém, Lojas Maçônicas existem há muito mais tempo. Na Escócia, por exemplo, existem Lojas conhecidas em Edimburgo desde o século XV. A mais antiga Loja conhecida da Inglaterra, cujos registros foram

conservados, é a Loja de Antigüidade no 2. Seus livros de

atas estão disponíveis desde 1736, mas se sabe que outros estiveram disponíveis desde 1721, e desde então se perderam. Os mais antigos livros de atas guardados na Biblioteca do Freemasons Hall, em Londres, são da reunião de uma Loja que se juntava em uma taberna conhecida como Swan and Rummer [Cisne e Copázio] e datam de 1725. Porém, Elias Ashmole registrou em seu diário que foi iniciado como maçom especulativo em Warrington, em 1646, cerca de 70 anos antes da forma-ção da Grande Loja da Inglaterra.

Existiram, no passado, muitos autores e pesquisadores eminentes que acreditavam que as origens da Maçonaria

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derivavam do conhecimento sagrado conservado pelos sacerdotes do Antigo Egito; que o mesmo foi transferido para as civilizações da Grécia e de Roma antes de chegar à Grã-Bretanha com as legiões romanas, há 2 mil anos. As reuniões típicas da Loja consistem na representação de uma série de peças curtas que contêm uma mensagem moral e incentivam a compreensão pessoal e o entendimento. Tudo isso está contido em uma complicada história que envolve a construção do Templo de Salomão.

Caracterizado nos livros de Crônicas e Reis do Antigo Testamento, o Templo de Salomão dispõe da aura de ter sido algo especial, uma aura que resistiu ao passar do tempo. Existem muitos livros dedicados apenas ao tema do Templo, com uma ampla variedade de imagens e modelos feitos através dos séculos em tentativas de revelar como o mesmo deve ter sido. Apesar disso, o Templo de Salomão demonstrou ser um enigma. Alguns arqueólogos e pesquisadores acadêmicos chegaram mesmo a questionar se ele existiu algum dia.

Na introdução de seu livro essencial A Test of Time [Um Teste do

Tempo], o dr. David Rohl reflete sobre uma tese apresentada pelo professor Thomas L. Thompson da Universidade de Copenhague, considerado pelo dr. Rohl como "uma das maiores autoridades em assuntos bíblicos". O dr. Rohl comenta a opinião do professor Thomas L. Thompson assim:

(...) basicamente ele está dizendo que as histórias do Antigo Testamento são composições ficcionais, escritas no segundo século a.C., e que, como resultado, seria uma "completa perda de tempo" (em suas palavras) alguém

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tentar confirmar essas histórias por meio da arqueologia (...).

De fato, a base do livro do dr. Rohl se origina da questão sobre a significativa defasagem entre aquilo que o texto bíblico nos conta, que aconteceu há 3 ou 4 mil anos, e a capacidade da comunidade arqueológica de provar isso por meio de evidências de campo, apesar de 150 anos de escavações no Egito, em Israel e em territórios adjacentes. O dr. Rohl prossegue, fazendo uma observação mais interessante como conseqüência dessa falta de evidências:

(...) temos um problema fundamental para aqueles que defendem o uso da Bíblia como fonte de história. As escavações históricas no Egito e no LEVANTE, em andamento na maior parte dos últimos dois séculos, não produziram evidências tangíveis para demonstrar a veracidade arqueológica das narrativas bíblicas iniciais. O material direto de apoio à história tradicional da nação israelita, legado nos livros de Gênesis, Êxodo, Josué, Juizes, Samuel, Reis e Crônicas, virtualmente não existe. É como se os israelitas simplesmente tivessem pegado seus pertences, deixado o Egito no reinado de Ramsés II (no século XIII a.C.) e se encaminhassem para o Sinai, para milagrosamente desaparecer da História por cerca de 400 anos, antes de voltarem à tona nas inscrições da campanha dos reis da Assíria do século IX. Aonde eles foram? De acordo com a Bíblia, eles foram se instalar na Palestina, onde afinal deveriam forjar uma pátria sob os carismáticos reis do Período da Monarquia Unida: Saul, Davi e Salomão. Mas virtualmente nada parecido com essa aventura épica foi encontrado nos registros

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arqueológicos da Palestina. Aliás, os séculos da longa peregrinação na terra dos faraós também não deixaram absolutamente nenhum vestígio no vale ou no delta do Nilo.

O dr. Rohl prossegue para acrescentar:

(...) é essencial encontrar evidências arqueológicas que mostrem que os eventos registrados no Antigo Testamento verdadeiramente aconteceram e que personagens como José, Moisés, Saul, Davi e Salomão realmente caminharam por esta Terra por volta de 3 a 4 mil anos atrás?

Claramente, se existe dúvida de que Moisés, Saul, Davi e Salomão de fato

caminharam por esta Terra, então, por definição, também deve existir alguma dúvida se o Templo atribuído a Salomão foi mesmo construído. Por outro lado, o templo, que depois alcançaria certa fama, pode ter sido construído, mas não por Salomão, ainda que atribuído a ele no texto do Antigo Testamento. Algumas pessoas sugeriram que o Templo não foi realmente construído em Jerusalém, mas que fazia parte de um complexo, atribuído a Salomão, que foi escavado em Megido. Mas mesmo a conexão de Salomão com essas escavações é duvidosa. Novamente citamos o dr. Rohl:

Através dos anos até o presente, têm sido mostradas estruturas monumentais, de vários períodos arqueológicos que se estendem por séculos, atribuídas às atividades de construção de Salomão nas cidades de Megido, Gezer e Hazor. O "Portão de Salomão", em Megido, não é mais datado dos tempos de Salomão,

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embora a sinalização turística moderna, erguida na frente do mesmo, continue a informar aos visitantes que eles estão diante de um portão "dos tempos de Salomão.

O enigma da existência de Salomão acabou ficando ainda mais confuso. O dr. Rohl menciona que Salomão não era seu nome de nascimento, mas um nome atribuído a ele algum tempo depois de sua morte. Então, se não existiu ninguém com o nome de rei Salomão, quem seria a pessoa que posteriormente adotou esse nome? E por que seu nome foi mudado?

Supõe-se que a época à qual nos referimos como a do reinado de Salomão tenha sido um tempo em que seu reino gozou de um período prolongado de paz. Por isso, deduziu-se que o nome dele derivava da palavra hebraica

shalom, que significa paz. Existem outros pesquisadores

que têm diferentes interpretações para a origem do nome dele, assunto que será devidamente retomado adiante.

Então, existe um problema potencial. Com base em comentários recentes do professor Thompson, ampliados pelo dr. Rohl, a comunidade arqueológica nos deixa com um dilema:

• Temos um povo que constitui o foco central de muitas

religiões ocidentais, mas que aparentemente deixou pouca ou nenhuma evidência arqueológica de sua existência inicial na Palestina, no Sinai ou no Egito.

• Temos a impressão de que não existem evidências de

ter existido um grupo de reis, Saul, Davi e Salomão, cujo comentário escrito no Antigo Testamento é fonte diária de considerável inspiração para milhares de pessoas.

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• É questionável se a edificação que constitui a peça

fundamental da organização fraterna mais antiga do mundo, a Maçonaria, jamais tenha existido.

• É duvidoso se o nome atribuído à pessoa reverenciada

pela sua empreitada de construção e por sua sabedoria, Salomão, tenha realmente sido seu verdadeiro nome.

O que vamos fazer com tudo isso?

Existem respostas possíveis para os problemas causados pela falta de evidências observada antes, como o dr. Rohl habilmente demonstra em seu livro. Ele faz isso por meio do reexame de algumas evidências e artefatos arqueológicos que foram recuperados, mas considerados de um contexto diferente pela comunidade arqueológica. Isso, entretanto, ainda nos deixa com um número de perguntas sem respostas, especialmente em relação à Salomão e a conexão com a Maçonaria. Se não há evidências para provar a existência de um homem chama-do Salomão, então como ele e o Templo que lhe é atribuído foram ligados à Maçonaria?

Não havia referências aparentes em minha família de filiação à Maçonaria por parte de pai, mas sim por parte de mãe. Quando estava no início de minha adolescência, minha avó encorajou-me à filiação caso a oportunidade aparecesse. Ela vinha de uma família razoavelmente grande, que cresceu no começo do século XX. A maior parte de seus irmãos havia sido membros da fraternidade e muitas de suas irmãs se casaram com homens que eram maçons, ou se tornaram, sendo encorajados por sua tradição familiar. Desse modo, tendo sido devidamente planejado pela minha avó, quando surgiu a oportunidade de ingressar, perto da minha chegada à meia-idade, eu também fui iniciado nessa antiga instituição.

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Alguns anos após a minha iniciação, tivemos uma palestra em nossa Loja, a primeira em muitos anos, conhecida como Palestra de Preston, assim chamada em homenagem a um dos grandes registradores e historiado-res maçônicos, Willian Phistoriado-reston. Este é especialmente

lembrado pela obra Illustrations of Masonry [Ilustrações da

Maçonaria], publicada pela primeira vez em 1772 e que se tornou referência freqüentemente citada nos registros maçônicos antigos. Uma Palestra de Preston é aquela, segundo o que nos dizem, fundamentada em uma pesquisa bem estruturada. O título da palestra a que assistimos naquela noite era "A História da Maçonaria na Inglaterra". O tema em pauta prendeu a minha atenção e aguardei com interesse o início dos trabalhos, pois desejava ter uma compreensão clara de uma história que até aquele momento continuava amplamente desco-nhecida para mim. Ouvi atentamente. Fiquei pouco entusiasmado com as conclusões. Elas afirmavam que:

• não havia história da Maçonaria na Inglaterra antes de

1717, ano em que a Grande Loja da Inglaterra foi formada por quatro Lojas sediadas em Londres.

• embora alguns membros acreditassem que a

Maçonaria guardasse algum grande segredo, muitos haviam procurado e chegado à conclusão de que ali nada disso existia.

• a Maçonaria havia sido formada apenas como um clube de cavalheiros e assim permanecera até os dias atuais. Por razões que não posso explicar, uma descrença completa nessas conclusões cresceu dentro de mim nos meses seguintes. Acho que eu esperava que algo mais misterioso fosse revelado, e como isso não aconteceu,

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senti que deveria existir alguma coisa a mais. Assim sendo, gastei os dois anos seguintes lendo uma ampla variedade de livros sobre a história maçônica. Embora eles trouxessem uma quantidade considerável de infor-mações, não respondiam as muitas questões fundamentais que surgiram em minha mente. Muitos dos livros oficiais sobre a Maçonaria haviam sido escritos algumas décadas antes e, muitas vezes, baseavam-se em pesquisas realizadas no final do século XIX. A maioria tratava da história da instituição, especulando sobre suas origens e/ou de onde derivavam certas práticas e elementos de nossas cerimônias. Ao final desse breve período de leitura e pesquisa, muitas outras questões haviam surgido em minha mente:

1. A Grande Loja Unida da Inglaterra, em uma gravação de vídeo produzida e disponibilizada para qualquer pessoa interessada em Maçonaria, mencionava que nossas cerimônias giravam em torno de uma complicada história, envolvendo o Templo do Rei Salomão.

a. Por que, eu me perguntei, esse edifício, brevemente

mencionado no Antigo Testamento, deveria ter tal foco de atenção?

b. Existia alguma coisa a respeito desse edifício que não

fosse imediatamente óbvia?

c. Por que o assim chamado clube de cavalheiros

estaria interessado em um obscuro edifício religioso da Antigüidade? Era difícil imaginar que alguém, em algum momento das últimas centenas de anos, de repente levado por uma onda de imaginação erudita, tivesse achado uma boa idéia incluí-lo nas cerimônias maçônicas e de fato conseguisse fazer isso.

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d. Existia, eu me perguntei, algo a respeito do Templo de Salomão que não fosse imediatamente óbvio quando subentendido ou transmitido pelo ensino religioso tradicional?

2. No começo de uma das cerimônias maçônicas, indica-se que a Maçonaria é um sistema próprio de moralidade, coberto de alegorias. Eu

pensei que soubesse o que era uma alegoria, mas,

apesar disso, fui procurar no Oxford Dictionary para ter certeza de

que a minha interpretação estava correta. A definição afirmava que era uma: "narrativa que descreve um assunto sob a aparência de outro".Em

outras palavras, uma alegoria é uma coisa mascarada ou apresentada como outra coisa. Uma verdade ou uma realidade subliminar ou oculta da visão evidente, como em uma história. Assim, dentro das nossas cerimônias, existe uma declaração aberta de que debaixo da aparência externa da Maçonaria existe alguma coisa que está escondida e não imediatamente óbvia. Isso, eu pensei, dificilmente está de acordo com as conclusões da Palestra de Preston de que não existe nada ali.

3. Meus instintos levaram-me de volta à referência sobre

sistema próprio de moralidade. Sem uma análise mais profunda, este é

um ideal altamente respeitável, para encorajar a honestidade e a integridade em todas as coisas que uma pessoa faz na vida. A moralidade é um código pelo qual uma pessoa deve viver sua vida e regular suas ações. É, portanto, um código que governa a vida e lhe dá ordem. É um código pelo qual povos civilizados devem conduzir seus negócios e se relacionar uns com os outros.

Comecei a me perguntar por que a palavra próprio precisava

ser usada. Convenci a mim mesmo de que talvez a

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outro código que, de modo organizado, influenciasse a nossa

vida.

4. Desenvolvi um fascínio pelo ano no qual quatro Lojas, sediadas em Londres, reuniram-se para criar uma corporação administrativa única a fim de governar seus procedimentos - a Grande Loja da Inglaterra. O ano em questão era 1717. Esse número é freqüentemente usado por acaso como nota de rodapé da história maçônica - um ponto de referência de passagem e nada mais. Mas esse número - 1717 - é muito simétrico. Por que as quatro Lojas com sede em Londres se juntaram nesse ano em particular e não no ano anterior, 1716, ou no ano seguinte, 1718? Durante algum tempo comecei a achar que estava atribuindo um grande significado a algo que era, apesar de tudo, apenas um número para definir um ano. Mas eu estava bem alerta para o fato de que nada na Maçonaria é realmente tão simples, tudo existe ali com uma finalidade. A simetria dos números me intrigou, mas muitos anos passariam antes que uma resposta inesperada se apresentasse a mim.

Quando alguém participa pela primeira vez de uma Loja

Maçônica, é aceito naquilo que é conhecido como O Ofício. As

Lojas de Ofício na Maçonaria abrangem três níveis de capacitação, conhecidos como graus. Esses graus são chamados:

Aprendiz: significa, como nas profissões de antigamente, aquela pessoa que não sabe nada das habilidades da profissão em que ingressará e que está no ponto de partida de seu processo de aprendizagem. O nome desse indivíduo é incluído no registro para mostrar sua aceitação

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como apto para treinamento, exatamente como no sistema das antigas Guildas.

Companheiro: significa que o conhecimento, a compreensão e as habilidades básicas da arte foram alcançadas.

Mestre Maçom: significa que agora a pessoa adquiriu o entendimento completo das habilidades da indústria e é Mestre da Arte.

Hoje esses três níveis de capacitação estão mais relacionados ao entendimento simbólico do que ao conhecimento real associado à arte de moldar e entalhar a pedra. Cada Grau tem uma cerimônia bastante específica pela qual todo maçom deve passar. Todas essas cerimônias são decoradas e passadas de uma geração de maçons a outra, de cor, exatamente como as tradições orais das antigas civilizações e como os maçons operativos de antigamente faziam.

Como quase todas as sociedades e clubes, a administração de cada Loja é empreendida por membros nomeados e eleitos para realizar tarefas específicas, como Secretário, Tesoureiro, Mestre de Banquete e Esmoler. Existem três cargos principais em cada Loja. Eles são conhecidos como o Venerável, exatamente como o Presidente de qualquer organização social; o Primeiro e o Segundo Vigilante, cujos papéis são parecidos com o de

presidentes em treinamento. Existem outros cargos na

Loja, normalmente classificados pelos mais velhos, que participam e realizam as cerimônias. À medida que a pessoa progride em cada cargo, torna-se então responsável por uma parte específica de cada cerimônia,

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uma parte que precisa ser decorada tanto em palavras como em ações.

A sala na qual minha Loja se reunia em Sussex, na Inglaterra, era mencionada como um Templo Maçônico. Outras salas usadas por Lojas em outras localizações geográficas, muitas vezes, eram mencionadas como Salas de Loja, o que indicava que ali havia alguma diferença. Por que, eu me perguntei, havia ali alguma diferença? Essas razões, eu descobri depois.

Uma nova cidade, um novo Templo

O Templo de Sussex é único e o prédio que o abriga

conquistou o status de Edifício Listado. Isso quer dizer que é

visto como uma construção de significado histórico e arquitetônico especial e que seu caráter deve ser preservado. Nem sempre foi usado como edifício maçônico. Foi construído originalmente na década de 1820 e depois foi usado como residência de uma família proeminente do negócio de cervejaria local. No final do século XVIII, uma pequena cidade de pesca situada na costa sul da Inglaterra, uma aldeia chamada Brighthelmstone, de repente se viu em uma situação muito desagradável. O príncipe regente, filho do rei George III, depois coroado como George IV, adquiriu uma chácara perto do mar e determinou que fosse construído nela um palácio. Fascinado pelos desenhos do Oriente, reconhecendo que naquela época o Império Britânico estava expandindo sua influência em territórios como a Índia, a arquitetura do palácio refletia seus interesses. Arquitetonicamente, o mesmo não estaria deslocado se tivesse sido construído por algum marajá. Mas, nessa pequena aldeia costeira de pesca, causou um rebuliço

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total. Atualmente, com seu interior restaurado em sua antiga glória, é conhecido como o Pavilhão de Brighton, uma importante atração turística na estância balneária de Brighton. E desnecessário dizer que o advento do novo palácio resultou na rápida transformação da antiga aldeia de pesca em uma cidade na moda, enfeitada com espetaculares residências, ladeadas por outras casas que refletiam a arquitetura georgiana da época em que foram construídas. Foi durante esse período da expansão urbana de Brighthelmstone, que o antigo príncipe regente, o rei George IV, tornou-se maçom e, depois, Grão-Mestre. À medida que a cidade de Brighton se expandia e sua população crescia, nas décadas seguintes, tornou-se o destino obrigatório de uma invenção, a estrada de ferro, que trouxe enorme prosperidade à cidade. Foi nesse cenário de desenvolvimento da cidade que, em meados de 1800, os maçons de Sussex começaram a procurar um local onde pudessem estabelecer uma sede permanente. Uma reunião dos maçons de Sussex foi realizada na Prefeitura de Brighton, em 1858, e, embora vários locais fossem examinados e muitas outras reuniões dos maçons de Sussex acontecessem, em 1893, o então Grão-Mestre Provincial lamentou que por várias razões nenhuma das plantas podia ser aproveitada. Alguns anos mais tarde, em 1897, a antiga casa pertencente à família da cervejaria e uma área adjacente de um terreno baldio, ambas ficando a poucos minutos de caminhada da estação ferroviária de Brighton, tornaram-se propriedades dos maçons de Sussex, estabelecendo a sede maçônica permanente que eles procuravam há tanto tempo. No mesmo ano, a pedra fundamental foi lançada para que a antiga residência se transformasse em um Clube Maçônico, que, no final da reforma, ostentava um salão de

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sinuca, salas para comissões e salas menores onde as Lojas podiam praticar suas cerimônias.

Não foi antes de 1928 que o Templo Maçônico de Sussex foi construído no complexo que existe hoje em dia. Uma das razões para a demora na construção do Templo foi a Primeira Guerra Mundial, a Grande Guerra que ocorreu de 1914 a 1918, após a qual, por causa da colossal carnificina humana nos campos de batalha da Europa, houve considerável redução de mão-de-obra especializada. Essa redução de homens capacitados retardou as oportunidades para a construção.

Por isso, a pedra fundamental foi lançada em 26 de junho de 1919 pelo Grão-Mestre Provincial de Sussex, o duque de Richmond. A edificação foi consagrada nove anos depois, em 20 de julho de 1928, por lorde Ampthill.

Enquanto estava investigando o cenário desses acontecimentos e expondo minhas descobertas para um companheiro de Loja - um pesquisador local bem conceituado -, ele chegou à conclusão de que um conceito do desenho do Templo provavelmente já havia sido definido em meados do século XVII. Esse conceito possivelmente ditava inclusões específicas, o formato resultante e o espaço necessário. O que se procurava, depois da reunião na Prefeitura de Brighton, em 1858, era um local onde pudesse ser construído. A antiga moradia do cervejeiro, junto com o terreno baldio adjacente a ela, constituíam o local ideal. E, como era uma cidade que gozava de amparo real e atraía muitos moradores com influência política, fortuna e posição social, nenhuma despesa seria poupada em sua execução. O Templo Ma-çônico de Sussex evidentemente pretendia ser algo especial. De fato, temos uma clara indicação disso nas atas, após a cerimônia de dedicação. Ao propor um brinde

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ao "Templo Maçônico de Sussex", o Mui Venerável Irmão

sir Alfred Robbins concluiu com estas palavras:

Eu tive a oportunidade de examinar o edifício e jamais vi outro mais bem planejado para o uso ao qual foi proposto. Fico satisfeito que nossos filhos e os filhos dos nossos fi-lhos possam, em tempos vindouros, rememorar o evento deste dia e dizer que nessa época existiram maçons que acreditaram totalmente nos grandes princípios da Maçonaria e, por isso, se empenharam em erguer um edifício merecedor sob todos os aspectos das tradições da Maçonaria e merecedor da alta posição que a mesma alcançou.

Essas palavras por si só deixam claro que realmente aquele era considerado um edifício muito especial.

Algo especial foi o que a construção se tornaria, como

veremos nas páginas seguintes. Por uma dessas estranhas coincidências que às vezes acontecem, a Loja na qual fui iniciado se reuniu nas salas do Pavilhão Real a maior parte do tempo nos anos iniciais de sua existência, antes de se mudar para o Templo Maçônico de Sussex, pouco depois do edifício ter sido concluído.

A decoração incomum levantou questionamentos

Embora tenha visitado outros complexos maçônicos ou locais onde as Lojas realizam suas reuniões, tanto na Grã-Bretanha como no exterior, eu ainda estava para encontrar algum cuja decoração ornamental se comparas-se com aquela onde a minha própria Loja comparas-se reúne. Ele até hoje ainda é decorado de forma espetacular: as paredes têm painéis de madeira, existe uma suave

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claridade difusa, que torna possível a iluminação uniforme em volta da sala, fornecida discretamente e oculta em uma galeria engalanada com uma decoração floral. Os principais móveis são de madeira, exuberantemente entalhados com grande esmero e habilidade por mãos desconhecidas, feitos há várias décadas. Na área central, sobre o antigo chão de madeira, há a inserção do pavimento mosaico em preto e branco, cercado pela orla dentada.

No centro do pavimento, existem dois círculos de diferentes tamanhos, um dentro do outro; o menor contém a letra "G" pintada em dourado. Mas a característica dominante da sala é um zodíaco enorme, lindamente decorado, no teto. Medindo cerca de 40 pés (12,5 metros), seu efeito é irresistível quando visto pela primeira vez. Em intervalos equidistantes em torno da circunferência do zodíaco, existem 12 pequenos painéis que exibem a representação ilustrativa de cada símbolo do zodíaco - cada qual pintado à mão por um artista

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desconhecido. Dentro do círculo descrito pelo zodíaco, o teto sobe para formar uma cúpula, a abóbada celeste, pintada à mão em azul pastel suave e complementada com estrelas e com um símbolo do Sol. O teto em abóbada projeta-se por inteiro diretamente em cima do pavimento mosaico. Fica evidente que nenhuma despesa foi economizada quando tudo isso foi instalado originalmente. Definitivamente, tal sala era considerada de grande importância para receber tanto esmero e atenção. Durante os primeiros dez anos de minha carreira maçônica, visitei essa sala em muitas ocasiões e sua ambientação se tornou o pano de fundo de um cenário tão familiar para nossas ocupações que não atribuí à decoração nenhum outro pensamento. Mas, quando entramos em uma era muito mais aberta a respeito do movimento maçônico, após muitos anos de suspeita, fustigação e acusações infundadas sobre sermos uma sociedade secreta, foi realizado um evento social nesse complexo maçônico para o qual companheiras e esposas foram convidadas. Uma exibição especial sobre nossa história foi montada no templo principal. Foi dessa maneira que minha esposa passou pela porta do Templo, quando então ficou imediatamente perplexa com a preeminência do zodíaco. Ela virou-se para mim e perguntou por que aquilo estava ali. Fiquei um pouco envergonhado de ter de admitir que não sabia o porquê. Igual pergunta surgiu a respeito do pavimento mosaico e novamente precisei admitir a completa falta de compreensão da finalidade daquilo. Outras questões surgiram a respeito da decoração e do tamanho de vários objetos e o meu embaraço, por não ter respostas satisfatórias, foi ficando cada vez mais intenso. No final daquela noite, percebi que estivera tão envolvido em fazer

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direito a minha parte nas cerimônias, que não havia dado o devido valor àquilo que estava ao meu redor, o porquê de estar ali ou o que significava. Isso era algo que claramente eu precisava corrigir.

Cada Loja realiza o que é conhecido como Instrução da

Loja, noites em que cerimônias são ensaiadas e alguns

fatos menos conhecidos sobre a Maçonaria são revelados. Tendo participado regularmente dessas noites, fiquei um pouco surpreso de não ter sido informado da razão e do significado das instalações do Templo. Indaguei aos mais antigos da Loja o motivo do zodíaco estar ali. Fiquei pasmo ao descobrir que nenhum deles sabia. Alguns membros dos mais antigos comentou que nosso Grão-Mestre Provincial Adjunto, um cargo muito alto da Maçonaria sediada em Sussex, certa vez disse que ele mesmo havia se perguntado sobre o significado de o zodíaco. Pedi a opinião do curador do Templo, e ele comentou que também não sabia. Por meio dessas respostas percebi que, se aquilo tivera algum significado na época em que foi instalado, então esse entendimento se perdera para a atual geração de maçons. Esse ponto ficou mais bem demonstrado quando o curador acrescentou o comentário: "Se algum dia você ficar sabendo, então, por favor, conte-me. Essa é a primeira pergunta que sempre me fazem quando recebo visitantes no Templo". Depois fiquei sabendo que o curador era muito bem informado a respeito da história maçônica, de modo que o comentário dele dava a entender que a descoberta de alguém que conhecesse o significado do zodíaco seria bastante improvável. Se eu quisesse encontrar a resposta, então precisaria procurá-la por mim mesmo.

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Dessa experiência com nossos anciões maçônicos, logo cheguei à conclusão de que empenhávamos esforços consideráveis para aprender e aperfeiçoar nossas cerimônias, mas que não dedicávamos tempo algum ao entendimento daquilo que fazíamos, ou por que fazíamos aquilo. Se essa mesma situação fosse comum em outras Lojas, então nossa organização como um todo corria sério risco de perder todo vestígio e entendimento a respeito da base de nossa antiga instituição e, consequentemente, terminaríamos como uma sociedade que seria como uma concha oca, vazia de conteúdo. Quando externei essa opinião para alguns dos maçons seniores da região de Sussex, eles reconheceram que talvez já havíamos chegado a tal situação. Os comentários negativos só serviram para me incentivar a encontrar respostas.

A busca pelo entendimento

Existem pessoas que acreditam que a Maçonaria seja uma sociedade secreta, o arauto de algum grande segredo. A visão oficial, como mencionei anteriormente, é que a Maçonaria não passa de um clube de cavalheiros. Como qualquer maçom confirmará, as cerimônias dos três graus do Ofício usam uma linguagem um tanto enigmática, junto com ações complexas, algumas das quais podem ser desconfortáveis de se realizar e passí-veis de discussões, sendo deliberadamente planejadas para serem assim. Agora, quando essas cerimônias são bem realizadas, elas transmitem uma dignidade e uma grandeza raramente experimentadas hoje em outros gêneros de vida. Essas cerimônias são totalmente únicas. Então, qualquer maçom que ler este livro entenderá o meu ponto de vista, quando afirmo que cheguei à

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conclusão de que qualquer indivíduo ou grupo de pessoas, que tenha deliberadamente se assentado à mesa, há várias centenas de anos, e concebido nossa organização, nossas cerimônias - tanto na retórica como nas ações, na estrutura, nos cargos, nas insígnias e no mobiliário -, com a finalidade exclusiva de criar um clube de cavalheiros, estaria, sem sombra de dúvidas, sofrendo de algum sério distúrbio mental.

Apesar dos muitos livros oficiais que indicavam e explicavam a origem e o significado simbólico ocultos sob certos aspectos de nossas cerimônias, não existiam explicações para muitos dos pontos que começaram a me intrigar. Entre eles estava a maneira como o Sol figura em nossas cerimônias, ao indicar:

• que o Sol nasce no Oriente;

• que existe um cargo para marcar o Sol poente;

• que existe um cargo para marcar o meridiano (o ponto

mais alto) que o Sol alcança no céu, ponto que chamamos meio-dia;

• que a Terra gira constantemente sobre seu eixo em

sua órbita em torno do Sol.

Existem outras referências ao Sol, além das mencionadas. Até mesmo o símbolo que o Grão-Mestre mostra em parte de sua insígnia é o do Sol. Por que, eu me perguntei, fazemos isso? Por que existe toda essa referência ao Sol? Por que um clube de cavalheiros precisaria chamar a atenção para essas coisas?

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O Templo Maçônico de Sussex tem outra característica: mantém um museu e um centro de exposições de itens da memória do passado maçônico. Isso inclui grande quantidade de aventais e outros objetos ilustrativos que faziam parte das imagens que compunham as insígnias da Maçonaria nos séculos XVIII e XIX. O que surpreende é que grande parte dessas imagens contém o símbolo do

Sol, da Lua e das estrelas, e também ilustrações pictóricas de

referências bíblicas: a escada de Jacó, conectando o Céu e a Terra, está particularmente bem representada. Hoje em dia, as insígnias da Maçonaria são produzidas em massa por poucos fornecedores especializados e adquiridas pelos membros como objeto necessário ao progresso e à posição de alguém.

Um belo avental bordado, com data em torno de 1785, junto com representações do Sol e da Lua.

Porém, nos séculos XVIII e XIX, tudo era feito à mão, especialmente os aventais, alguns dos quais exibiam imagens pictóricas maravilhosas, delicadamente bordadas com muita habilidade. Hoje em dia, adquirimos as insígnias a cada nova posição que avançamos. Nos séculos anteriores, os membros acrescentavam novas

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imagens às insígnias existentes para indicar a posição que ocupavam na Loja. Assim, no passado, essas imagens indicavam conhecimento e entendimento, enquanto hoje em dia as insígnias são estilizadas, com mais simplicidade, destituídas de imagens elaboradas e mais indicativas da hierarquia e do tempo da filiação. O que havia ocorrido, me perguntei, para causar tal mudança? Por que, de repente, o Sol, a Lua, as estrelas e as imagens bíblicas saíram de moda das insígnias maçônicas?

A Loja em que fui iniciado é, por padrões modernos, muito antiga, tendo sido fundada em 1876. Originalmente, para alguém ser aceito como membro, precisava ser músico ou de alguma forma estar ligado à música, como um organista de igreja. O resultado dessa conexão musical foi que a Loja acabou sendo batizada de acordo com a santa padroeira da música, Santa Cecília. Na época em que a Loja foi fundada, um estandarte foi feito para ser exibido sempre que a Loja estivesse reunida. Esse estandarte media cerca de 1,82 metro de comprimento por 1,5 metro de largura, e foi delicadamente bordado com fios de seda para exibir a maravilhosa imagem dessa famosa santa. Também bordadas no estandarte existiam imagens geométricas, semelhantes aos símbolos que se destacavam em outros objetos do século XIX, inclusive o símbolo do pentagrama. Depois de cerca de 75 anos de bons serviços prestados, durante os quais ela foi reparada várias vezes, o estandarte original foi considerado sem condições de mais reparos, sendo doado ao Museu Maçônico de Sussex. Outro estandarte foi feito, semelhante em cada aspecto ao original, mas com uma revisão principal: o pentagrama foi omitido. Na mesma época, existiam duas lâmpadas ornamentais,

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cuidadosamente fabricadas em ferro fundido, que iluminavam a entrada principal do Templo Maçônico de

Sussex. Uma delas tinha o símbolo geométrico do Selo de Salomão

e a outra era decorada com o pentagrama. Em um tempo de vandalismo insensato, essas lâmpadas tornaram-se alvo de persistente estrago, durante o qual em uma ocasião a lâmpada que mostrava o pentagrama foi arrancada da parede. Quando a mesma foi substituída, o pentagrama foi removido e a lâmpada substituta foi

decorada com mais um Selo de Salomão. Lamentavelmente, desde

então, ambas as lâmpadas foram removidas. Por que o até então altamente respeitado modelo geométrico do pentagrama, um exemplo do qual se destaca

or-gulhosamente nos degraus principais do Freemasons Hall, em

Londres, na sede da Grande Loja Unida da Inglaterra, a corporação que governa a Maçonaria, caiu tão dramaticamente em desgraça? Essas eram questões para as quais não havia resposta imediata.

Imagens místicas

Existia ainda mais alguma coisa a respeito do Templo de Sussex que era intrigante. Assim como o degrau da

entrada principal do Freemasons Hall, em Londres, mostra a

representação de um pentagrama, o degrau principal do complexo de Sussex exibe um modelo completamente diferente: seções de círculos rodeadas por um círculo externo.

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Mais uma vez procurei os maçons mais antigos de Sussex e perguntei a respeito do significado daquilo. Houve zombarias de que se tratava de um sinal secreto, cujo simbolismo eles não poderiam divulgar. Ficava óbvio por esse comportamento que eles que não tinham mais nenhuma idéia da importância daquela representação, como não tiveram sobre o zodíaco. Esse desenho entrou para a minha lista como mais um item a ser investigado. Começa a busca - graças à BBC

Resolvi encontrar respostas para as questões que entraram no foco central. Assim que minha busca começou, vários eventos ocorreram em minha vida em um curto espaço de tempo que, de modo imprevisto, tiveram considerável influência sobre a minha linha de pesquisa. Isso acabou virando um rumo de pesquisa que me levou por um caminho de descoberta e esclarecimento, colocando-me em contato com pessoas de prestígio, enviando-me a lugares distantes que de outra maneira talvez eu apenas sonhasse visitar.

Em primeiro lugar, eu estava inseguro por onde começar. Demorei muito para chegar à conclusão de que, se seguisse um caminho tradicional de investigação, terminaria com uma resposta tradicional. Eu teria que

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pro-curar e abordar qualquer investigação sobre o tema do zodíaco, do pavimento, do pentagrama e do símbolo no degrau da frente do Templo de Sussex de um ângulo inteiramente diferente, usando outras fontes além das tradicionais obras maçônicas. Raciocinei que, se ainda assim terminasse com uma resposta tradicional, então ficaria satisfeito.

À medida que ponderei a questão a respeito de quais fontes deveria usar, várias semanas passaram. Uma tarde, eu estava dirigindo perto do Aeroporto Gatwick, de Londres, e ouvia um programa no rádio do carro transmitido pela BBC. Nesse programa em particular, os ouvintes eram incentivados a escrever para o apresentador em busca de respostas para questões que os intrigassem. Toda semana, várias dessas questões eram tratadas em determinada tarde, em um segmento conhecido como "Answers Please" [Respostas, Por Favor]. Sendo assim, naquela ocasião em que eu estava ouvindo o rádio perto do Aeroporto Gatwick, escutei que um ouvinte escreveu para o programa dizendo que havia lido que existiam muitas discrepâncias entre as afirmações bíblicas e sua relação com eventos históricos. O ouvinte perguntava se o programa podia trazer mais luz ao assunto, verificando se isso era verdade. Para conseguir respostas, o apresentador da BBC fez algo que parecia ser um contato ao vivo com o Vaticano, em Roma, falando com um bibliotecário do Vaticano e perguntando a questão do ouvinte. O bibliotecário concordou que existiam muitas afirmações de eventos que não se encaixavam naquilo que hoje conhecemos como a cronologia real, com base em calendários produzidos a partir dos registros históricos conservados. Uma observação em particular, que eu vou parafrasear, ficou

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gravada em minha mente. Ela foi exposta da seguinte forma:

Por exemplo, observou o bibliotecário, referimo-nos a Jesus de

Nazaré, sugerindo que ele veio de uma cidade com esse nome. As autoridades romanas eram muito conscienciosas e meticulosas a respeito dos registros que faziam. Muitos documentos dessa época foram conservados. Não fomos capazes de localizar nenhum mapa dessa área, nem qualquer documento conservado dessa época, que mostre um lugar chamado Nazaré. Nossas investigações mostraram que não existiu nenhum lugar com esse nome antes de cerca de 600 d.C. Então isso nos coloca diante de um problema com referência a esse termo: Jesus de Nazaré.

Essa simples afirmação me forneceu a possível explicação para aquilo que eu estava procurando. Parecia lógico dar uma olhada mais próxima no pano de fundo e no cenário histórico e arqueológico do Templo de

Salomão do que meramente confiar no texto bíblico e na

orientada pela Igreja. Logo consegui perceber que existia considerável diferença entre o meu entendimento, baseado naquilo que me ensinaram na escola e por meio da doutrinação religiosa, e aquilo que aparentemente aconteceu com base nos registros históricos. E especialmente aquilo que foi deixado de fora, de forma deliberada ou não, que distorce as imagens. E é aquilo que nos é dito que dá colorido às nossas percepções. Quando alguém está informado sobre os fatos ocorridos, uma nova perspectiva sobre os eventos se apresenta.

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O Zodíaco e o Pavimento - outra análise

Quando mencionamos o termo zodíaco instintivamente, podemos ser levados a pensar nisso como uma ferramenta astrológica usada para ler a sorte. Isso não surpreende. Hoje em dia, dificilmente uma revista ou um jornal no mundo ocidental deixa de apresentar um horóscopo, produzido por astrólogos, que fornece previsões a respeito de eventos que podem ou não ocorrer na vida de alguém. Essas previsões são relacionadas à data de nascimento da pessoa, que, por sua vez, é associada a um signo específico do zodíaco. A Astrologia é uma ciência antiga que se originou há milhares de anos do estudo do movimento dos céus. Era a ciência da previsão do lugar onde as estrelas ou os planetas estariam em certas horas de dias específicos. Foi precursora da ciência que conhecemos atualmente como Astronomia. E continuou a ter significativa força científica até o século XIX, embora tenha começado a dar lugar à Astronomia que se desenvolveu no século XVIII. Ao que parecia, seria possível existir alguma lógica no zodíaco que circundava a abóbada celeste, salpicada de estrelas, que eu tão freqüentemente via no Templo Maçônico de Sussex. Tendo em mente que se as minhas conjecturas estivessem corretas e que o desenho do Templo de Sussex havia sido criado antes de meados do século XIX, então isso teria acontecido em uma época em que ainda existiria considerável entendimento a respeito da antiga influência da Astrologia. Assim, raciocinei: o zodíaco provavelmente estava mais relacionado com a astrologia da localização de planetas e estrelas do que

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com a leitura da sorte. Nesse caso, haveria alguma mensagem oculta nisso tudo?

O pavimento tinha uma história diferente. Não apenas se mostrava mais próximo da Terra, mas estava intrinsecamente vinculado com o zodíaco.

Eu tinha antes afirmado que o pavimento era uma área mosaica de ladrilhos pretos e brancos, cercada por uma orla dentada. São dez ladrilhos na largura por 22 ladrilhos no comprimento. Parecia uma proporção extremamente singular, pois o pavimento oferecia uma simetria visual que aparentava naturalmente se encaixar com o tamanho da sala, a decoração e o zodíaco acima. Isso levava a pensar no que veio primeiro, a sala - e daí o pavimento desenhado para se encaixar nela -, ou se o desenho da abóbada celeste tinha influenciado o tamanho da sala, e daí novamente o pavimento havia sido calculado para se encaixar nela. Demonstrarei, no momento oportuno, que os três elementos estão vinculados por conceitos desenvolvidos por civilizações antigas para garantir a harmonia da forma.

Porém, antes que eu chegasse a esse estágio, alguma coisa mais aconteceu.

Logo que notícias do meu interesse em certos aspectos do Templo de Sussex tornaram-se conhecidas, um Irmão de outra Loja chamou minha atenção para "The Lectures of the Three Degrees" [Palestras dos Três Graus]. Essas, lamentavelmente, poucas vezes são citadas ou menciona-das nas Lojas hoje em dia, mas elas fornecem um ponto de referência útil. Desconhecemos exatamente onde e quando essas palestras se originaram, mas registros antigos parecem remetê-las ao sistema de palestras de William Preston, publicado pela primeira vez em 1772. Nas Lectures, o pavimento é descrito assim:

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O Pavimento Mosaico pode ser considerado o belo soalho de uma Loja Maçônica justamente pelo fato de ser colorido e enxadrezado... À medida que os passos do homem são trilhados nos vários e incertos incidentes da vida, e que seus dias são variegados, encaixando-se em tribulações e eventos desconhecidos, sua passagem por esta existência, embora algumas vezes acompanhada de circunstâncias prósperas, muitas vezes é acossada por uma grande quantidade de coisas ruins. Por essa razão, nossa Loja é guarnecida com o trabalho mosaico para indicar a incerteza de todas as coisas aqui na Terra. Hoje podemos andar na prosperidade, enquanto amanhã podemos tropeçar nos caminhos acidentados da fraqueza, da tentação e da adversidade. Então, embora tais emblemas estejam diante de nós, somos moralmente instruídos para não nos vangloriarmos de nada, mas para prestarmos atenção em nossos caminhos, para andarmos honestamente e com humildade perante Deus, pois não existe uma situação na vida na qual o orgulho possa ser fundido com o equilíbrio.

Essa é a qualidade moral da área quadriculada do pavimento em questão, seu objetivo claramente definido. Dizem-nos que ele serve para nos lembrar dos destinos opostos que podemos experimentar em nossa passagem pela vida. Exatamente como o dia é claro e a noite é escura, há a alegria e a tristeza, a vida e a morte, a saúde e a doença, a prosperidade financeira e a pobreza. Dessa mesma forma, existem aqueles que têm abundância de todas as coisas sob seu comando, enquanto existem muitos que enfrentam as marés baixas das adversidades da vida. Para estes, devemos providenciar alguma ajuda,

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cada um de nós pessoalmente e nós como um todo. Temos uma responsabilidade caridosa.

Lições mais justas e morais são difíceis de imaginar e ainda assim são ilustradas de uma forma tão simples. Isso, porém, levanta questões específicas:

• Como tudo isso começou?

• Onde surgiu a idéia do uso desses métodos simples de

ilustração moral?

• Onde e como o pavimento mosaico em preto e branco

se originou?

Também somos apresentados a uma interpretação alegórica de nossos arredores. Por um lado, temos um pavimento desenhado de maneira atraente sobre o qual somos convidados a caminhar, mas, por outro lado, ele contém um simbolismo oculto - uma mensagem que enfatiza a moralidade em seu contexto mais amplo.

Quando chega a orla dentada, as Lectures continuam:

A orla dentada representa para nós os planetas que, em suas várias rotações, formam um belo arremate ou orla em volta desse grande luminar, o Sol...

Novamente o Sol!

Das observações feitas nas Lectures, parecia que a abóbada, como símbolo do céu, representava o Céu, enquanto o pavimento era o reflexo de nossa vida na Terra. Porém, isso não explica por que deveria existir qualquer menção aos planetas, nem por que atenção específica deveria ser dirigida a eles. Eu observara que a maioria das salas de Loja tinha o pavimento mosaico, mas nem todas elas tinham a orla dentada; então para estas tal simbolismo planetário estava perdido. Fiquei sabendo que algumas Lojas no Norte da Inglaterra reuniam-se em

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salas com o teto pintado com estrelas afixadas, mas estas eram poucas e raras. Das que me informaram, nenhuma mostrava o zodíaco.

A medida que os meses passavam, entrei regularmente no Templo Maçônico para nossas reuniões da Loja, com o zodíaco e o pavimento em visão total. Tendo desenvolvido interesse pelas suas imagens, eu sentia como se alguma força oculta me levasse para eles e me dissesse para continuar procurando. Eu olhava mas não conseguia enxergar aquilo que havia para eu ver. A única resposta, que me parecia adequada, era aquela amplamente aceita entre os maçons e que já foi mencionada, da lição de moralidade, de que o pavimento simboliza e representa a experiência da vida na Terra, com seu padrão de antagonismos, sob a cobertura do Céu. Era uma resposta, mas meus instintos continuavam a me dizer que existiam mais revelações a caminho.

Por causa dos meus anos de envolvimento com essa antiga instituição, eu sabia que tudo na Maçonaria estava lá para alguma finalidade, quer fosse um símbolo ou um movimento em uma cerimônia. Isso reforçou em minha mente que deveria existir um propósito específico para o plano da Loja. Como eu observara anteriormente, o número de ladrilhos do pavimento mosaico contava 22 de comprimento por dez de largura. Nenhum desses números parecia relacionado a nada que eu conhecesse. O total de 22 x 10 = 220 fazia menos sentido ainda.

Eu continuava sem poder deixar de sentir que havia alguma coisa a respeito do pavimento para a qual meus instintos tentavam chamar minha atenção. Como havia notado que o pavimento parecia se encaixar tão bem nas proporções do Templo de Sussex, com o comprimento total cabendo exatamente acima no diâmetro do zodíaco,

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