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Academic year: 2021

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ÍNDICE

Capa: Adriana Dee, a Agente Laranja – Arte de Cayman Moreira Índice e Tira de Omar Viñole: Coelho Nero - Censura

Multiplicando - Editorial de André Carim 3

HQ “Agente Laranja” – Cayman Moreira 4

Entrevista do Mês: Juvêncio Hilário Veloso 10 Ilustração “Tianinha” – Arte de Omar Viñole 26 HQ “Horror Pets” – Roteiro e Arte de Salatheil Anacleto 27

HQ “Publicitário” – Arte de Calazans 32

Entrevista Participativa com Gazy Andraus 33

Cotidiano Alterado – Edgard Guimarães 67

HQ “O” – Arte de Edgar Franco 68

Fórum de Discussão – Preto e Branco ou Colorido? 71 HQ “Super-Heróis do Barulho” – Orlando, Bira e Wanderley 74

Cotidiano Alterado – Edgard Guimarães 84

Seção de Cartas 85

HQ “Cérebro Canibal “ – Arte de Rafael Portela 88

Divulgação de Publicações 98

Contracapa – A Agente Laranja – Arte de Cayman Moreira

Nota: A capa teve finalização de Clodoaldo Cruz. Logotipo da capa de Laudo Ferreira Jr. e selo do Múltiplo por Alberto de Souza.

COELHO NERO DE OMAR VIÑOLE

Fanzine Múltiplo e Adriana Dee, a Agente Laranja, registrados na Biblioteca Nacional sob o número 83.569 em 19 de julho de 1993 – Autor/Criador: André Carim de Oliveira

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Multiplicando...

André Carim O Múltiplo chega ao sexto número com novidades, a começar pela entrevista participativa e interativa proposta ao amigo Gazy Andraus, onde ele nos conta um pouco do seu trabalho, conquistas e sua visão da HQ nacional.

Como entrevistado do mês, trazemos Juvêncio Hilário Veloso, um bravo lutador pelos Quadrinhos Nacionais e um visionário também. Con-tamos com um depoimento de Beralto sobre o entrevistado, onde pode-mos sentir toda a amizade e companheirismo que uniu esses dois amigos e importantes colaboradores da HQ nacional.

Novos amigos vão chegando e nos dando a honra de publicar seus trabalhos, sejam HQs, ilustrações ou tiras, e que outros se motivem a par-ticipar do projeto. No mais, teremos as seções de sempre, cartas e divul-gação de fanzines e artistas nacionais.

Estrelando a capa e contracapa dessa edição a arte de Cayman Mo-reira, que nos traz uma HQ da Agente Laranja inédita... um agradecimento especial ao amigo Cayman pelo carinho com a minha personagem...

Espero que todos curtam a edição, comentem, divulguem e até o próximo mês... ah, e um agradecimento especial ao Clodoaldo Cruz e ao Alberto de Souza, Beralto, que sempre me ajudaram na confecção das ca-pas e caca-pas das entrevistas...

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Nesta entrevista do mês, trazemos o amigo e blogueiro Juvêncio Veloso, numa entrevista superinteressante, falando de suas produções no Universo Alternativo e sua vivência no mundo dos Quadrinhos Nacionais. Mas, para início de con-versa, trazemos um depoimento especial do amigo em co-mum Alberto de Souza – Beralto, que nos mostra um pouco mais desse quadrinhista. Espero que curtam a leitura...

André Carim “Conheci o Juvêncio Veloso nos tempos em que os zines eram uma verda-deira rede social analógica, lá pelos anos 80, quando

nem sonhávamos

em um dia dispor de algo parecido com a

internet. Naquela

época, o jovem que curtia HQ tinha uma boa variedade de HQs de banca, os fa-mosos formatinhos da RGE e Editora Abril, com os super-heróis Marvel/DC e os he-róis clássicos da King Features. Mas além disso, ainda desfru-távamos do eco de períodos áureos dos quadrinhos nacionais com as revistas da Editora D'Arte de Rodolfo Zalla, nas quais, além de contar com HQs de Colin, Colonese, Mozart Couto,

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Rodval Matias, Olendino, e outros feras veteranos, e novos ta-lentos da HQB, tínhamos o espaço de interação dos leitores com oportunidade de divulgação de publicações alternativas. Cheguei a ter uma HQ minha redesenhada por Zalla com o título “Era Uma vez que saiu na Calafrio 28”, se não me engano. Citei tudo isso só para rememorar aquele contexto em que só dispúnhamos de um fórum de quadrinhistas e fãs por meio de publicações impressas. E para o quadrinhista amador se sentir motivado a fazer suas HQs numa revistinha xerocada era facinho. O primeiro zine que conheci foi o Notí-cias dos Quadrinhos, de Ofeliano. A partir dali, achei o "Fio de Ariadne" dos fanzines, porque bastava um anúncio com o en-dereço, para encomendar as publicações de quadrinho ama-dor, e dá-lhe carta. Assim comecei a publicar minhas HQs em zines, e também me vi motivado a publicar em fanzines para todo canto. E criei meu zine, que distribuía gratuitamente para os amigos, com apenas 4 páginas, com minhas HQs. Anunciei na Calafrio, e ia recebendo as encomendas, e estreitando con-tatos com amigos de diversas partes do país. Foi assim que conheci o Juvêncio Veloso, e daí para frente começamos a tro-car correspondência, com grande frequência, e, embora não

tenha conhecido pessoalmente este parceiro, o tenho em estima como um amigo muito especial. JUVÊNCIO VELOSO

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Recebia com frequência, copias das tirinhas do mano Juvêncio, e fizemos algumas parcerias a partir daí. Chegamos a ter personagens similares, enquanto ele tem o Profeta, eu criei o Eremita, ele tem os Astronautas, e eu criei os Djahoja-nos, que são os equivalentes personagens extraterrestres.

Chegamos a preparar uma HQ em parceria com o Ere-mita, uma história que fala sobre drogas. Tive até um perso-nagem meu que o Juvêncio adotou, o Eugênio, o burro, rsrs. Logo depois da febre dos zines na adolescência, eu estava co-meçando a trilhar os estudos de esoterismo, e mergulhei fundo numa busca espiritual, que foi tão intensa a ponto de que os zines ficaram sem espaço na minha vida, e junto a isso me casei, e então acabei me distanciando de amigos impor-tantes que só conheci por cartas.

Cheguei a publicar HQs em tiras de jornal e suplemen-tos infantis para complementar a renda. Mas os zines ainda não estavam nos meus planos. Só um tempo depois, quando comecei a trabalhar como servidor público em instituição de ensino, foi que me vi motivado a trabalhar em projetos edu-cacionais que envolviam o uso de HQ. Nesse momento resolvi

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pesquisar na net se meus antigos companheiros estavam atu-antes ou citados na web.

Eis que encontrei o Juvêncio na versão blogueiro, com o Baú do Veloso, muito prestigiado e com um número expres-sivo de seguidores e muito bem articulado na net. A retomada de contato com o amigo Juvêncio me estimulou inclusive a criar meu blog – beraltocartum.blogsot.com.br - e republicar as HQs antigas que tinha engavetadas.

O que falar de meu amigo? O Juvêncio é um quadri-nhista nato, prolífero e de uma criatividade surpreendente.

Seu humor é perfeito para as tiras cômicas, contando com personagens dos mais variados, mas sempre com uma visão humana e sensível do mundo: Canjica, Sapito, Astronau-tas, Náufragos, Profeta, Lady Garça e muitos outros. No mais posso dizer que tenho um grande e generoso amigo que, além de compartilhar comigo a predileção pela nona arte, é par-ceiro em trabalhos desenvolvidos no passado, e pretendo que, em momento oportuno, voltemos a fazer novas parcerias, quando o tempo nos permitir.

Creio que assim aconteceu com muitos zineiros, a gente pode ficar um tempo longe da fanzinagem, mas uma vez con-tagiado pelo vírus do zine a gente volta cedo ou tarde, pode-mos até migrar para a web, como o Juvêncio faz com muito êxito, enquanto blogueiro quadrinhista independente, mas o espírito zineiro está no sangue”.

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Múltiplo: Como co-meçou nos Fanzines?

Juvêncio Veloso: Res-pondi um anúncio numa Seção de Cartas de uma Revista (Se-ção de Cartas era uma espécie de Rede So-cial na Época) enviei o pedido e recebi o Fanzine! O Fanzine era uma folha do-brada ao meio.... Foi mágico, uma emoção incrível, We Can! Nós podemos! Tinha encontrado os meus Iguais.

Múltiplo: O que a lembrança traz de gostoso daquela época?

Juvêncio Veloso: Gostava daquela Efervescência Criativa e Co-laborativa! Escrever, desenhar, montar os Fanzines, as Trocas de Correspondências e Colaborações!

Múltiplo: Quais eram suas referências nos Fanzines?

Juvêncio Veloso: O Beralto (Alberto de Souza) foi umas das pessoas que muito me inspirou e ensinou, foi a pessoa com quem tive um contato maior, e fizemos até algumas parcerias em Roteiros e HQs... O Marco Muller do Fanzine Mutação, que foi quem primeiro publicou uma tirinha minha, o Edgard Gui-marães do QI (que assim como o Beralto continua muito ativo). Enfim são tantos que fica até difícil citar nomes! Tinha também o saudoso e Grande Agitador no Movimento Fanzi-nístico Joacy Jamys.

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Múltiplo: O que te dava mais prazer ao receber Fanzines e depois, ela-borá-los?

Juvêncio Veloso: O grande barato era che-gar em casa depois de um dia de trabalho e ter um monte de envelopes com os Fanzines para abrir, era um Ritual que curtia muito, ler as car-tas, os Fanzines, respon-der uma a uma avan-çava as madrugadas!

Múltiplo: O que, na sua opinião, inspirava essa arte pelos cantos do país?

Juvêncio Veloso: Talvez o fato do Brasil estar vi-vendo o começo da Abertura Política! Havia alguma coisa no ar, uma ânsia de se viver, de se fazer ouvir! Rádio Pirata do RPM acho que seria a Trilha Sonora para explicar este mo-mento! A Década de 1980 foi uma Década Especial! Hey! Anos 80! Charrete que perdeu o condutor...

Múltiplo: O que você produzia? Fale um pouco sobre seu tra-balho.

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Juvêncio Veloso: Produzia um pouco de tudo, estava come-çando a descobrir que podia cometer Quadrinhos, queria ex-perimentar de tudo e também queria colaborar com todos os Zines! Como cantou Renato Teixeira “nem tanto pelo encanto das palavras, mais pela beleza de se ter a voz”.

Múltiplo: Gosta mais de HQs ou tiras na hora de desenhar?

Juvêncio Veloso: Sempre gosto de deixar claro que não me considero um desenhista, acho que sou apenas alguém que quer contar algumas histórias, ou desabafar, o desenho aca-bou sendo mais uma ferramenta para isto! Acabei optando, ou sendo levado para as tirinhas, pois sou limitado para dese-nhar e também porque gosto do desafio de ter que sintetizar e passar uma mensagem em poucos Quadrinhos!

Múltiplo: Sobre o que falam seus trabalhos de HQs?

Juvêncio Veloso: Em minhas tirinhas sempre procurava passar mensagens de Alertas Ecológicos, Críticas Sociais, em certo momento senti que estava ficando muito panfletário, hoje

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faço uma coisa mais voo livre, sem uma preocupação de pas-sar uma mensagem, gosto de brincar com referências! Solto a folha ao vento e espero que alguém as apanhe...

Múltiplo: A HQ nacional, o que você vê de bom e ruim?

Juvêncio Veloso: O que vejo de ruim é que tenho visto pouco! Sinto Falta de Quadrinhos Populares Brasileiros! Quadrinhos de Bancas. Houve um tempo que quase tivemos isso! Tem al-gumas iniciativas, como as Graphics MSP que ao mesmo tempo parece um caminho, me causa uma certa frustação por ser limitada aos personagens do Mauricio.

Múltiplo: Acha que o Quadrinho nacional pode conquistar seu espaço?

Juvêncio Veloso: O Cinema Nacional conquistou? Se a res-posta for sim, estenda a minha como um sim também! Sou um

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eterno sonhador, acredito que pode sim. O fato de mui-tos meninos que conheci de-senhando para os Fanzines hoje estarem desenhando para as Editoras lá fora é uma prova que tudo é possível! Acho que houve muitos avanços, só que fica difícil para dimensionar, pois os Quadrinhos, ou a forma de se produzir e ler Quadrinhos passou por muitas transfor-mações com a chegada da In-ternet!

Múltiplo: O que seria preciso fazer para mudar o cenário?

Juvêncio Veloso: Acredito que todas as Alternativas são váli-das. Fanzines, Blogs, Páginas, Grupo, Exposições, Financia-mento Coletivo, buscar o Mercado Externo. Não sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso, pois não publico e nem desenho profissionalmente, e nem tenho mais esta pretensão.

Múltiplo: Quais conquistas do quadrinho nacional você acha mais importantes?

Juvêncio Veloso: Acho que a maior conquista são os FANZI-NES, que acabaram sendo válvula de escape para a criativi-dade de tantos jovens que hoje são excelentes profissionais!

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Múltiplo: Você, em determinado momento, se afastou dos Fanzines e das HQs, como isso aconteceu e por quê?

Juvêncio Veloso: Como o Capitão América, fiquei um tempo congelado. Veio a sobrevivência, tra-balho, família, mili-tância sindical. O Boom do Movi-mento Fanzineiro começava a ter uma acomodação natural e a garo-tada também es-tava crescendo e correndo atrás de novos sonhos, e os contatos começa-ram a ficar mais es-cassos, então co-mecei a achar que minhas longas cartas estavam forçando a barra em busca de contato e interação que para mim era um alimento vital. Não sei dizer se foi só isso, tem também a questão financeira - mi-nha e do país - era muito difícil brigar pelos Quadrinhos Naci-onais e não ter grana para comprar nem as raras Publicação que chegavam bancas.

Múltiplo: Atualmente, o que tem feito? Qual é, hoje, a sua pro-dução e participação nas HQs?

Juvêncio Veloso: Não tenho feito nada que seja digno de re-gistro! Tenho procurado incentivar a todos aqueles que estão

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começando, os que estão retornando, aqueles que estão em-barcando em novos projetos, sempre gostei deste papel de apoiador, de doar palavras de incentivo a quem está entrando na batalha, ou aos velhos e calejados Guerreiros! Tenho pro-duzido Tirinhas para minha página de uma forma mais des-compromissada, sem obrigação de carregar bandeiras!

Blog "O Baú do Veloso"

Múltiplo: Fale um pouco do seu blog, o Baú do Veloso.

Juvêncio Veloso: Pode parecer incrível, meu Blog estreou jus-tamente no dia em que entrei pela primeira vez na internet! Tenho um carinho muito grande por ele, é como o nome diz, um Baú, só que digital. É onde posto meus Quadrinhos, lem-branças e coisas que me tocam, e também os meus poucos escritos! Fiz muitas amizades através do blog, pessoas especi-ais que me ajudaram a superar uma depressão profunda. Mi-nha principal personagem, Lady Garça, teve sua mais forte ins-piração nas mulheres blogueiras e sua elevada auto estima e bom humor!

Múltiplo: Qual a linha editorial que ele segue?

Juvêncio Veloso: A linha é meio Metamorfose Ambulante, foi mudando com o tempo e com a chegada dos novos amigos!

Múltiplo: Tem algum trabalho seu publicado? Pretende publi-car alguma coisa?

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Juvêncio Veloso: Cheguei a publicar minhas tiras em jornal de grande circulação regional, por uns dois anos, até ter abando-nado os Quadrinhos por uns 25 anos! Não tenho pretensão de publicar não, a não ser como uma forma de agradecer a todos os que curtem e apoiam o meu trabalho!

Múltiplo: Você diz que se considera um contador de histórias, qual história poderia nos contar?

Juvêncio Veloso: Vou contar uma curtinha, que é um pouco no que procuro pautar minha vida, é um Tributo ao Meu Pai que era um verdadeiro Contador de História!

TRIBUTO AO MEU PAI

Em umas das tantas viagens com meu pai pelo interior do Pa-raná, paramos numa sombra a beira do caminho para chupar laranjas. Na inquietude dos meus quinzes anos, questionei o porquê de meu pai ter plantado as sementes de laranjas em um lugar esquecido, numa estrada que talvez nunca mais vol-tasse a passar.

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Meu pai me disse com sua profunda sabedoria e franca sim-plicidade, que só hoje consigo reconhecer: na vida é preciso plantar boas sementes mesmo que não possamos ficar para a colheita. Pouca atenção dei às palavras de meu pai naquela tarde de sol forte e poeira pesada.

Mas hoje procuro passar para os meus filhos a lição que meu velho ensinou:

“NA VIDA DEVEMOS SEMEAR BOAS SEMENTES, MESMO QUE NÃO POSSAMOS FICAR PARA A COLHEITA ”

Bom, se vocês revirarem o Baú, encontrarão outros dos meus poucos escritos...

Múltiplo: Qual o seu recado para os Fanzineiros da velha guarda e para os que estão começando?

Juvêncio Veloso: Vocês fizeram e estão fazendo um ótimo tra-balho, não temos a dimensão exata deste tratra-balho, mas é maior do que imaginamos! Através dos Fanzines muita gente boa pôs os pés na Profissão. Para os que estão começando... A Jornada é longa, então aproveitem as companhias dos ami-gos nesta caminhada. Procure se misturar mais, buscar con-tato com pessoas fora do seu círculo, isso ajuda a encontrar novos rumos e não continuar andando em círculo! Com o Blog

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conheci pessoas que nunca tinham tido um contato maior com os Quadrinhos e que disseram que aprenderam a curtir Tirinhas através do meu trabalho, essa interação é gratificante e isto é buscar novos públicos!

Múltiplo: É possí-vel construir uma rede de HQ nacio-nal que seja efici-ente na divulgação e distribuição de quadrinhos?

Juvêncio Veloso:

Para mim isso já parece uma Utopia para os

Quadri-nhos de uma

forma geral, ima-gine para os Qua-drinhos Nativos. Mas acredito na criatividade e garra deste povo que faz até as utopias piarem!

Múltiplo: Defina Juvenal Hilário Veloso.

Juvêncio Veloso: Juvenal é Juvêncio. Ainda continuo prefe-rindo ser uma Metamorfose Ambulante...

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Múltiplo: Tema livre.

Juvêncio Veloso: Se a Cultura não te representa crie a tua própria Cultura!

Juvêncio Hilário Veloso

Um contador de histórias,

Um amigo,

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Inauguramos nesta edição mais uma novidade, mais uma al-ternativa de interatividade a que tenho proposto com frequência entre vocês, lei-tores e colaboradores do Múltiplo... uma forma de aproximar mais o artista do fã, estreitar laços e proporci-onar que todos possam co-nhecer melhor o trabalho do quadrinhista... e para come-çar teremos uma super entrevista com Gazy Andraus, um apai-xonado por HQs e que se propôs de imediato a nos atender quando da oferta dessa entrevista participativa e interativa... espero que todos curtam... boa leitura...

Múltiplo: Como você se considera quando falamos de quadri-nhos?

Gazy Andraus: Al-guém que sempre

(mas sempre

mesmo), se mara-vilhou desde pe-queno, ao ver aquelas imagens GAZY ANDRAUS

GAZY ANDRAUS NO IISEMINÁRIO DE PESQUISA EM C UL-TURA VISUAL 2009

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pequenas separadas por retângulos, impressas co-lorizadas numa revista, num mistério insondável e irrespondível acerca de sua beleza e atração desmesu-rada cujos desenhos têm exercido em mim fascínio, tanto a meus olhos, como à minha mente!

Múltiplo: O que seria HQ poético-filosófica?

Gazy Andraus: Um tipo de História em Quadrinhos (HQ) cuja mensagem sin-tetizada traz a reflexão, numa narrativa não linear, similar ao que faz e ao que é um haikai (ou haicai) à literatura, porém, de maneira imagético-textual.

Múltiplo: Pelo que vi em alguns artigos e material de internet, você produziu diversos fanzines. Nos fale um pouco sobre isso.

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36 Gazy Andraus: Meu início de publicação foi pelos fanzines. Assim, é uma relação importante e simbiótica como parte in-tegrante e coroamento de produções de HQs e afins, em que realizo um fanzine autoral ano a ano, no mínimo. Além de participar vez ou outra de outros zines, colaborando com eles no envio de HQs e/ou textos. Os fanzines são imprescindí-veis, porque permitem-nos fazer todo o processo, desde a ela-boração das HQs à publicação delas e distribuição, como num desenvolvimento alquímico.

Múltiplo: Se considera um pesquisador? Nos conte sobre.

Gazy Andraus: Sim, pois em essência, todos o somos. Porém, alguns enveredam pelo caminho, tentando desvendar ques-tões que pululam em nossas mentes, enquanto que outros não se aprofundam em resolvê-las, atuando na vida de outras maneiras. No meu caso, a instigante saga das HQs e sua intri-gante falta de valorização antes atestada pela sociedade, fez-me querer entender a raiz e razão disso, já que via nelas (nas HQs), algo de maravilhoso e importante que não poderia ser mantido em desacordo com seu valor por mim aventado. Esse era um dos tópicos mais importantes que me fizeram singrar a área acadêmica e de pesquisas desvelando as histórias em quadrinhos (ou parte delas) e sua importância num mestrado ÁS-DESENHO DA JUVENTUDE

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e doutorado. Ainda assim, não fico estagnado apenas nesse tema das HQs e fanzines, mas me interessa o ser humano em essência, o planeta em que vivemos e o universo e suas imbri-cações (pois que cheguei até a fazer um curso rápido de as-tronomia quando cursava artes na UFG em 1986 para 1987).

Múltiplo: Como você separaria a HQ tradicional da HQ poé-tico-filosófica?

Gazy Andraus: O paralelo que traço para que se possa com-preender, é relacionar a poesia haicai japonesa à literatura: não é um conto, um romance ou

texto descritivo ou uma narrativa épica, mas ainda assim, pertence ao rol da chamada Literatura! Há os que dele gostem (do haicai) e os que não o apreciem. Assim o são as HQs poético-filosóficas (ou fantástico-filosóficas): são geralmente elípticas como nas poesias haicais e há muitos que não lhas gostam, porque suas narrativas não são lineares como as tradicionais histórias em qua-drinhos. Mas são HQs, apesar de

tudo, assim como haicais são literatura!

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Múltiplo: Como foi ganhar o Troféu HQ Mix na categoria “me-lhor tese de doutorado”? Nos conte sobre o que você fala nesta tese.

Gazy Andraus: Foi um reco-nhecimento de um trabalho exaustivo e longo, e pelo qual só fui entender e res-ponder o seu cerne no úl-timo dos quatro anos do doutorado que levei para fi-nalizá-lo: cursei disciplinas de pós, elaborei artigos para elas, para congressos, fui lendo, relendo, escrevendo, pesquisando, até que consegui entender que a mente é inte-grada, mas que a depender do input, pode ou não se tornar mais (ou menos) afeita às artes e à apreciação de linguagens como os desenhos. E descobri que é o que aconteceu com a humanidade: ao desenvolver-se muito na racionalidade aca-bou por atrofiar áreas em atividade do cérebro que reconhe-ceriam intuitivamente as artes e os desenhos (ficando nossa mente preconceituosa), as quais dialogariam melhor com ou-tras regiões atinentes ao pensamento racional e à escrita fo-nética, o que tornaria a mente mais expansiva na inteligência, equilibrando o uso dos hemisférios cerebrais esquerdo (racio-nal) e direito (criativo), desenvolvendo uma mente integrada,

CÉREBRO-BALÃO SÍMBOLO E CAPA DA TESE DE GAZY

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salutar e melhor equilibrada. Descobri isso lendo e estudando ciência cognitiva, e constatando que os experimentos científi-cos apontavam, por tomografias computadorizadas que, por exemplo, áreas distintas dos hemisférios cerebrais entravam em mais ou menos atividades quando recebiam incentivos: como exemplo, na leitura de imagens e ideogramas, mais por-ções do hemisfério direito acusavam respostas, enquanto que na leitura de textos (fonemas) havia supremacia do esquerdo entrando em atividade. Isso tudo criou na nossa mente “cin-dida”, a racionalidade excludente que gerava o preconceito contra o que ela pensava ser menos importante: no caso, as HQs, por serem imagens, e as imagens à mente racional que lê textos, eram consideradas informação irrelevante, o que é um engodo total que vai caindo década após década, já que tudo é informação necessária, tanto a escrita como o desenho. Porém, a maneira como atuam tais informações em nossas mentes é que se apresenta distinta e neces-sária para um

dia-logismo

sistê-mico e de manu-tenção amplifi-cada de nossas mentes, que são neuroplásticas - se usarmos,

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expandem-se, se não, atrofiam-se. Ou seja, se não damos va-lor às imagens e aos desenhos, e as lemos menos, não conse-guimos acionar áreas prontas para se ativar suficientemente e conjugarem-se com outras, deixando-nos até menos criativos. Na educação cartesiana, esse tem sido o maior erro, e os qua-drinhos podem ajudar a melhorar, pois são expressões artísti-cas. Por isso, quando recebi a notícia do prêmio em 2007, fi-quei contente, por saber (e confirmar) que fiz um trabalho cor-reto e essencial à área das HQs (e da educação e pedagogia, em especial, universitárias).

Múltiplo: Você faz palestras? Sobre qual tema você trabalha?

Gazy Andraus: Sim, abordando tudo o que discorri anterior-mente, mas enfocando para quaisquer áreas adjacentes: se às artes, mostro HQs e afins pertinentes, se à educação, explano a importância das HQs com amostragens, à Pedagogia e

Le-tras idem, e por aí vai. Tanto em escolas, como em cursos universitários de graduação e pós-gra-duação. Também faço o mesmo com relação aos fanzines e sua essenciadade como parte da li-berdade humana de criar e confraternizar OFICINA COM ARTISTA E PROFESSOR GAZY ANDRAUS,

NO SESC ANÁPOLIS (GO), DIA 26 DE NOVEMBRO DE 2016

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com as ideias e expressões artísticas. Minhas palestras e cur-sos, assim, vão abarcando principalmente desde as artes, HQs, fanzines, ciência cognitiva e mudanças paradigmáticas cientí-fico-educacionais.

Múltiplo: Seus quadrinhos li-mitam-se apenas a HQ poé-tico-filosófica?

Gazy Andraus: Em geral, na atualidade (desde a década de 1990 principalmente), sim. É como uma vontade interna de liberar o processo (principal-mente se estou sob a audição de músicas): tem que ser rá-pido e direto (muitas vezes à tinta, sem esboço prévio).

Múltiplo: Como surgiu essa ideia de produção de HQS?

Gazy Andraus: Foi se tornando natural a partir de uma mescla de estilos baseada na leitura de HQs europeias, em especial de autores franceses como Moebius, Druillet e especialmente Caza. Mas esse processo, que natural, aconteceu não só a mim,

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como provavelmente a alguns outros, como Edgar Franco, An-tônio Amaral, e antes a Henry Jaepelt e Flávio Calazans, mas

para certeza com relação a eles perguntando também.

Múltiplo: Desde quando se interessa por HQs?

Gazy Andraus: Desde quando comecei a ler, aos meus 7 anos de idade: então, Disney, Maurício de Sousa, outros autores que não mais estão, como Perotti, Canini etc. Mas na infância, obvia-mente eu não sabia muito dessas autoralidades, e sim de seus personagens como Mickey, Cebolinha, Gabola, Kactus Kid, dentre outros inclusive estrangeiros que eram publicados no Brasil, como Mortadelo e Salaminho do espanhol F. Ibañez etc. Só na adolescência, aos 12 ou 13 anos em diante é que fui passando aos super-heróis, e depois, no início da maturidade, aos europeus e poéticos.

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Múltiplo: Já trabalhou em parceria? Como foi? Gosta deste tipo de trabalho?

Gazy Andraus: Trabalhei e trabalho, embora pouco. Fiz parce-rias váparce-rias, com Edgar Franco, Feijó, Del Bianco, Cícero, Ma-theus Moura, Sandro (e até passei um esboço para Jaepelt, que ainda aguardo-o concretizá-lo). Mas as parcerias são raras devido a nossos estilos, que em geral é distinto do mainstream e requer uma autoralidade mais complexa. O meu mais re-cente trabalho em parceria foi o fanzine “Fraterimagenes”, em que convidei diversos autores para ilustrarem meus poemas, dentre eles, E. Franco, Danielle Barros, Mozart Couto, Beralto, SERGIO MACEDO (NA ESQUERDA) E BIRA DANTAS (DIREITA TOCANDO GAITA) NO

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H. Jaepelt, Thaisa Maia e a cor na capa de Silvio Ribeiro. Ao mesmo tempo, no meu trabalho quando palestro e dou cursos, já trabalhei em parceria, também com Edgar Franco, Márcio Gomes,

Fer-nanda de Aragão, Jorge Del Bianco e

até já montei dois grandes eventos de HQs e zines para o Cen-tro Cultural da Juventude de SP, sendo curador, e trazendo nomes como Laerte e Sérgio Macedo, bem como E. Franco, Daniel Esteves, Laudo etc. Para a Gibiteca de Santos, desde 2012 e 2013 venho me juntando a outros como Fabiano Ge-raldo, Thina Curtis, Fábio Tatsubô, Dani Marino, trazendo o

evento anualmente em outu-bro em comemoração ao Dia Nacional do Fanzine. Integro também a Comissão do Troféu Ângelo Agostini, trabalhando junto de Bira Dantas, Alexan-dre Silva e Marcos Venceslau dentre outros que premia au-tores de HQs e fanzines no Brasil, num evento bastante empolgante que ocorre no Memorial da América Latina, A MORDAÇA E OS GRILHÕES – PÁGINA 2B

-SANDRO E GAZY - INÉDITO

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perto da data do dia Nacional dos Quadrinhos, em final de janeiro. Múltiplo: quanto tempo você desenha? Gazy Andraus: Desde criança,

como todo mundo. Só que a maioria larga os desenhos conforme vai dei-xando a infância, devido a várias mo-tivações, mas espe-cialmente o sis-tema escolar e o sistema social que não veem ainda o valor correto para o ato de desenhar (conforme expliquei na minha tese), sem saber que isso amplificaria a inteligência.

Múltiplo: Já publicou profissionalmente? CAZA - TRECHO

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46 Gazy Andraus: Sim. Não muitas vezes,

mas já em revistas como Metal Pesado, Heavy Metal Brazilian, Camiño di Rato, e um álbum, o “Ternário M.E.N.” com a Editora Marca de Fantasia. Recente-mente saiu um livro meu de desenhos na linha “Sketchbook Custom” da Ed.

Criativo (

http://editoracria-

tivo.com.br/produtos/exibir/203/gazy-andraus-sketchbook-custom#) e está no prelo outra participação minha na nova

série da mesma editora, cha-mada “Post Art” com desenhos coloridos. A maioria de minhas publicações artísticas está nos fanzines de vários editores (e nos meus), e tenho grande pu-blicação de textos em congres-sos e capítulos de livros na área acadêmica também.

Múltiplo: Como é o seu modo de criação?

Gazy Andraus: Música! Como não sou músico, arranjei outra maneira de elaborar musicalidade: ao ouvir sons (heavy metal, prog rock, instrumentais etc.), eu despejo no papel de maneira CRIAÇÃO ATRAVÉS DE MÚSICA -ADVERSE -

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ritmada – ao som do que escuto, que amplifica minha consci-ência – os desenhos diretamente sem esboços prévios, com textos que vão formando as HQs poéticas. Tenho até um vídeo que apresento isso para uma plateia acadêmica. Veja aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=k3d_xuog7Uk .

Múltiplo: O que você vê de bom no cenário de quadrinhos In-dependentes?

Gazy Andraus: Tudo: a criati-vidade pulsante e pungente, que não tem a ver com o sis-tema anacrônico oficial, e que engessa tudo para obter lucro com mesmices e repe-tições à exaustão. Nos fanzi-nes, por exemplo, há a criati-vidade em títulos e textos, e a prova cabal é o desenvolvi-mento de um típico quadri-nho nacional poético que se consagrou no fanzinato da década de 1990 principal-mente e fez história (e ainda continua fazendo).

Múltiplo: Acha que o Quadrinho Nacional teve alguma evolu-ção durante os últimos anos?

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48 Gazy Andraus: Sim, claro. Alguns dos expoentes que estavam no fanzinato, como por exemplo Laudo, mostram sua evolução. Vide seu magnífico traba-lho “Yeshuah”. Outros como Edgar Franco ainda mantêm um pé lá e na profissionalização, com sua revista “Artlectos e

Pós-Humanos” pela

Marca de Fantasia. Rotei-ristas como Daniel Esteves mostram o valor a que chegaram, incluindo no-vos expoentes como Bruno Bispo e Victor Freundt.

Múltiplo: Nos fale sobre o que você considera “Fanzines”, uma definição.

Gazy Andraus: Como disse a pesquisadora Zavan em seu texto de 2004 “Fanzine: a pluralidade Paratópica”, é uma revista

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“paratópica”, ou seja: existe na não oficialidade das editora-ções, não existindo oficialmente, mas fazendo parte inte-grante do processo de criação dos que querem e precisam tra-zer seu universo de criação! Costumo brincar que o fanzine (ou zine) é como a micropartícula da física quântica: esta pa-radoxal, pois é ao mesmo tempo partícula e onda – enquanto que o zine também o é, já que ao mesmo tempo que existe (não oficialmente), não existe (oficialmente) – logo, é dual, rico e “quântico”. Quando você pensa que o compreendeu, ele lhe foge. Quando você percebe que não vai compreendê-lo, ele lhe vem e lhe pega e te faz lançá-lo como parte de si. Atu-almente, o fanzine se divide basicamente em 3 categorias, a meu ver: a do tradicional, publicando artes e textos; a dos que o elevam à categoria de revistas artísticas (e que pedem para

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chamá-lo apenas de “zine” sem a pecha de “fã”) e os da área da educação ou que servem ao ensino (como os Gibiozines de Hylio, prof. da UFSCAR ou os Peibê de Beralto do IFFlumi-nense).

Múltiplo: Fale-nos um pouco sobre você. Onde nasceu? Sua idade, formação acadêmica…

Gazy Andraus: Nasci em Ituiutaba-MG, como meu conterrâ-neo Edgar Franco. Mas brinco di-zendo que fui “fabricado” no Lí-bano, e viajei de navio (no útero de minha mãe), vindo a ser “desenva-sado” no Brasil, em Minas! Tenho agora 50 anos, mas a energia ainda me remanesce forte! Tenho licenci-atura em artes pela FAAP/SP, mes-trado em artes pela UNESP/SP e doutorado em Ciências da Comuni-cação pela USP, mas minha forma-ção inteira é eclética e interdiscipli-nar (no doutorado falo de fanzines, falo de ciência cognitiva e mudança de paradigma da ciência clássica à quântica que pede contraparte na educação descompassada e anacrônica). Também tenho outras atividades que realizava muito, como caminhadas peripatético-sonoras (andava muito ouvindo mú-sicas e criando na mente, num prazer intenso que atualmente

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faço menos), e jogo basquete (atualmente também menos de-vido ao joelho): foi no esporte também que percebi o processo criativo de outra maneira, como o percebia no ato de dese-nhar. Nas jogadas, o corpo também se comporta

criativa-mente se nos situarmos em uníssono ao momentum... coisa

que me era muito difícil no aprendizado (tanto no jogo, como no ato de deitar a caneta e deixar a tinta rolar diretamente e sem esboço prévio, similarmente à atitude que se tem numa ação desportiva após a outra).

Múltiplo: Você começou no mercado independente publi-cando em zines como Barata, Quadritos e Fantasia Filosófica. Conte-nos um pouco como foi esse início de carreira, se você teve algum empecilho para divulgação de seu trabalho, como foi a aceitação das editoras.

Gazy Andraus: Na verdade, a publicação em fanzines era como quase um impe-rativo nas déca-das de 80 e 90, pois os autores e aspirantes a qua-drinhistas no Bra-sil não tinham ou-tro caminho. E é por isso que agra-deço aos fanzines, AULA DE HQ PARA TURMA DO 6º SEM. DE ARTES -EMFIG

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e a esse tipo de problemática que havia no Brasil: graças a isso, a confraternização zineira se estendeu de norte a sul e leste e oeste indo ao estran-geiro.

Nem tenho como reclamar de editores, porque isso quase não existia para nós. Atualmente vejo outro quadro no Brasil, mas ainda assim, tirando parcos editores comerciais, a maioria não dá o valor devido às HQs poéticas, por justamente achar que são inferiores às HQs de narrativas longas, o que é um engano: são distintas, e ambas contendo valores únicos e potentes.

Múltiplo: Com a evolução dos meios de comunicação, princi-palmente a internet, está mais fácil hoje um artista conseguir viver de sua arte com a visibilidade que eles poderão alcançar a partir dessas mudanças?

Gazy Andraus: Parece-me que sim. O outro lado da coisa é a pulverização de públicos e ampliação de nichos, o que tam-bém contribui para serem menos os leitores, embora mais agrupados. Mas daí volto a lembrar-me que a Internet permite uma difusão maior e mais rápida do que jamais havia antes do

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advento dela (embora, como falei, alcançando nichos mais subdivididos). De toda maneira, ainda a editoração e publica-ção em papel é mais forte. Eu mesmo prefiro ler gibis e álbuns de HQs em papel que no monitor.

Múltiplo: Quais são os artistas independentes que você des-taca hoje?

Gazy Andraus: Ed-gar Franco, Bruno Bispo e Victor Freundt, Laudo, Jaepelt, e editores e faneditores como Denílson Reis (Tchê), Clodo-aldo Cruz (Cabal), Henrique Maga-lhães (Marca de Fantasia), Edgard Guimarães (QI), Marcos Freitas (Ed. Atomic), dentre outros.

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Múltiplo: Quais são os seus atuais projetos/trabalhos? E os fu-turos?

Gazy Andraus: Continuar desenvolvendo projetos artísti-cos/acadêmicos, e me manter criando HQs poéticas, bem como lecionando em cursos universitários. Um de meus pro-jetos atuais são as transposições de desenhos e HQs curtas para a possibilidade de impressão 3D (com o software “3D Build” do Windows 10). Até já fiz um fanzine para isso, o “3D’Imagens”, aventando a hipótese de realizar uma exposi-ção de HQs e desenhos impressos em 3D, futuramente!

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Múltiplo: Atualmente, quais HQs nacionais você destaca?

Gazy Andraus: Tenho lido poucas HQs, sejam estrangeiras se-jam nacionais. Não consigo mais acompanhar. Mas destaco totalmente o trabalho de Laudo e Omar em Yeshuah: obra-prima que me emocionou e me fez refletir muito, além dos desenhos que me embeveceram! Também destaco o trabalho do universo pós-humano do amigo-irmão Edgar Franco, o Ci-berpajé, e seus Artlectos e Pós-Humanos, e a criatividade das HQs e formatos dos trabalhos de Victor Freundt e Bruno Bispo, dentre os zines de H. Magalhães, E. Guimarães, Deníl-son Reis e outros. Admiro sempre os autores como Mozart Couto e Shimamoto, bem como a pulsão dos mais novos como Daniel Esteves e Cadú Simões.

Múltiplo: Mini currículo.

Gazy Andraus: Sou atualmente professor designado da Uni-dade Campanha/MG (UEMG). Lecionei na FIG-UNIMESP de 2005 a 2016 onde também coordenei e ministrei pós-gradua-ção bem como Tecnólogo em Design. Sou membro pesquisa-dor do Observatório de HQ (USP) e ASPAS - Associação dos Pesquisadores em arte Sequencial; bem como da Intercultura-lidade e Poéticas da Fronteira (UFU); INTERESPE-Interdiscipli-naridade e Espiritualidade na Educação (PUC/SP) e Criação e

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Ciberarte (UFG). Tenho doutorado em Ciências da Comunica-ção pela USP (2006) e mestrado em Artes Visuais pela UNESP (1999) e licenciatura plena em Artes pela FAAP (1992). Minha tese “As Histórias em Quadrinhos como informação imagética integrada ao ensino universitário” (USP, 2006) ganhou o prê-mio como melhor tese de 2006 pelo HQMIX em 2007. Consi-dero-me também autor de HQs e zines de temática fantástico-filosófica (como Homo Eternus, Convergência, Fraterimage-nes). Como pesquisador, tenho participações em livros (“His-tórias em Quadrinhos e Práticas Educativas: o trabalho com universos ficcionais e fanzines” de Elydio dos Santos Neto (que até escreveu um livro sobre minha arte), e, Marta Regina da Silva (orgs.), da Ed. Criativo, 2013); e eventos acadêmicos, coorganizando e apresentando artigos em congressos nacio-nais e internacionacio-nais, como o das “Jornadas Internacionacio-nais de Histórias em Quadrinhos” da USP e o “Aspas – Associação dos Pesquisadores em Arte Sequencial” (ambos terão eventos esse ano), dentre outros. Também sou o idealizador da data come-morativa do dia Nacional do Fanzine que se iniciou desde 2012 (a partir do dia 12/10/1965 quando Edson Rontani

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lan-57 çou o Fanzine “Ficção”). Um detalhe que poucos da área sabem, é que possuo um blog chamado “Consciências e sociedades” em que abordo questões sociais, políticas e até relativas à defesa do consumidor, auxiliando com informações e conselhos ba-seados em leis, regimentos e CDC – Código de Defesa do Consumidor, mas que vez ou outra também discorro sobre a importância das HQs para a sociedade. Sites e blogs: http://tesegazy.blogspot.com.br ,

http://clas-sichqs.blogspot.com.br ;

http://conscienciasesociedades.blo-gspot.com.br ; E-mail: yzagandraus@gmail.com;

HQS INFANTIS GAZY –ELYDIO - CAPA

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Perguntas interativas enviadas por

leito-res e quadrinhistas:

Nos anos 1980, Henry Jaepelt fez um trabalho misturando a narrativa gráfica (HQ) com poesia e temas existenciais. Hoje temos vários autores que trabalham nesta temática. Como você vê a importância do trabalho de Jaepelt para o

quadri-nho poético-filosófico que se firma nos dias atuais?(Denílson

Reis – Fanzine Tchê)

Gazy Andraus: Realmente, Jaepelt é um precursor das HQs poéticas, ainda mais que suas artes têm muito a ver com o intuitivo (e surrealismo) que fora deflagrado antes, tanto na pintura de surrealistas como na escrita automática, o que pro-vavelmente faz parte de seu próprio processo. É mister lem-brar que nas décadas de 80 e 90, muitos de nós, como por exemplo, Jaepelt, Calazans, Edgar Franco e eu, criávamos sem sabermos que fazíamos uma “linha”, pois os fanzines, onde todos publicávamos, eram os meios de comunicação entre nós (enviados pelo correio). Então, para os dias atuais, Henry Jae-pelt sem dúvida foi um pioneiro (talvez o primeiro), mas não só ele, como os outros que mencionei aqui, além de mais al-guns, e por isso, caracterizo a linha poética das HQs atinentes a esses autores todos e não a apenas um. Principalmente por-que o “timing” entre um e outro foi muito curto em diferenças de tempo (talvez como o desenvolvimento teórico da seleção

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Natural de Darwin, que se deu ao mesmo tempo que o de Wallace).

Gazy, como você avalia a atuação de algumas pessoas que procuram, sempre que possível, levar o termo fanzine para dentro da sala de aula e para os eventos de cultura pop, já que hoje, pouco se fala em fanzine nos eventos e sim em

indepen-dentes? (Denílson Reis – Fanzine Tchê)

Gazy Andraus: Bem, não sei se pouco se fala em fanzines, como você mencionou, Denílson. Talvez em eventos, mas na área de educação e mesmo nas redes sociais como o Face-book, vejo grassar o tema dos fanzines (ou zines). E, claro, muitos estão aprendendo e conhecendo o fanzine como ma-terial pedagógico importantíssimo. Desde escolas às faculda-des e pós-graduações. Nas escolas temos vários exemplos, como você mesmo, Adriane Almeida que mescla à didática os fanzines e meditação laica, e Ioneide Santos que usa em aulas, ou Renato Donisete (fanzine “Aviso final”) que utiliza-se do fanzine como material de apoio pedagógico, até Beralto (Al-berto de Souza), Carlos de Brito Lacerda e Hylio Laganá, pro-fessores que empregam os zines como complementos de es-tímulo e criação aos seus alunos de licenciaturas e escolas, ao Elydio dos Santos Neto, falecido, que criou os Biograficzines para usar na pedagogia da Pós-Graduação. E eu mesmo que me utilizei de zines na minha didática, tanto em cursos livres, como na graduação e pós em docência. Portanto, saibamos

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que não estamos sós no emprego dos zines como materiais de apoio didático-culturais, e que depende mesmo de nós para ampliar esse reconhecimento.

Os fanzines foram o principal espaço independente para que quadrinhistas do mundo todo publicassem HQs livres das cor-rentes do "mercado". Tivemos uma entressafra, em que a pro-dução de fanzines caiu muito, mas agora o "mercado inde-pendente" se mostra como um dos mais fortes no Brasil e no mundo, sendo apontado como Allan Moore como o único meio de se produzir Quadrinhos de qualidade. A que se deve

isto? (Bira Dantas)

Gazy Andraus: Lembro que Moore está certo, pois tudo que nasce criativo e vanguardista, não tem rótulo e advém de um ímpeto criativo. Nisso, as HQs, em especial no Brasil dos anos 80 principalmente, e que eram publicadas em fanzines, tra-ziam inovações e conteúdos experimentais incríveis. Na Eu-ropa, em especial na França, o fanzinato também permitia ex-plorações e até a criação de um grupo nos anos 90 “L’Associ-ation” tido como banda desenhada alternativa. O maior exem-plo de como os fanzines e sua liberdade criativa se distanciam da HQ mainstream são os super-heróis: esses, por estarem atrelados a uma indústria e a editores, têm HQs muitas vezes sem originalidade e criatividades forçadas, que atualmente mostram uma decadência sem par! E aí, sim, com o recrudes-cimento da possibilidade da liberdade criativa, os fanzines

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despontam-se como alternativa, não só para criação, como na área da educação, sendo uma novidade para o sistema escolar (e até universitário), recrudescendo o potencial dos zines. Lembro também outra vertente atual aos fanzines no Brasil, em que alguns autores os têm como “zines” (retirando o pre-fixo “fan”), numa modalidade artística de igual valor aos livros de artistas. Ou seja, os fanzines sempre estão em mutação.

De que forma a espiritualidade está presente em seus

quadri-nhos e na vida, como artista e educador? (Alberto de Souza,

Beralto)

Gazy Andraus: Beralto: na minha juventude e no início como autor de HQs, eu me desprendi dos super-heróis e me aproxi-mei das HQs autorais fantásticas, como as de Moebius, Druil-let e Caza enquanto ia lendo livros da área espiritualista e eso-térica. Minha educação inicial e mais forte foi com Huberto Rohden e Trigueirinho (e outros como Anne Besant etc.), mas também tive altos arroubos ao ler, na época, quando tinha uns vinte e poucos anos, o Tao! Isso tudo me foi influenciando na realização de HQs que passaram a ser conhecidas como poé-ticas (e que eu chamo de fantástico-filosóficas como Henrique Torreiro as chamou num de seus catálogos de Exposição de Fanzines em Ourense na Espanha, quando lhe chegou o zine “Irmãos Siameses”, cocriado por mim e Edgar Franco). Assim, todas as leituras que eu fazia, as reflexões advindas delas e de minha experiência na vida, acabavam por serem difundidas

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homeopática e elipticamente nas minhas HQs poéticas que se-riam a contraparte imagética equivalente do que são os Hai-Kais, ou então, do que são os Koans-zen budistas (que expla-nei e usei de exemplos em meu mestrado:

http://tesegazy.blo-gspot.com.br/p/blog-page_3859.html) – frases-enigmas sem

respostas racionais, utilizadas pelos monges budistas a que seus pupilos transcendessem a mera mente cartesiana. Essas eram minhas intenções, sem que eu as soubesse, até fazer o mestrado. Lembro também que para deflagrar tais HQs, o es-tímulo é obtido com a audição de músicas que reverberam em mim, trazendo riscos e traços hachuriados “nervosos”, num ar-roubo criativo que pode ser observado no livro recente da li-nha Sketchbook-Custom da Ed. Criativo, lançado com meu

nome (

http://editoracriativo.com.br/produtos/exi-bir/203/gazy-andraus-sketchbook-custom#). E é assim que

uno a espiritualidade que busco, quando escuto músicas e leio, deflagrando as imagens com textos que vão sendo “jo-gadas” intuitivamente no papel, ao deflagrar uma HQ poética, ou fantástico-filosófica das que crio.

Qual o papel da arte dos quadrinhos em um mundo que ca-minha para a sexta extinção massiva de espécies, e no qual

nossa espécie também pode extinguir-se? (Edgar Franco,

Ci-berpajé)

Gazy Andraus: Acredito que cada um de nós expressa em vida, a arte, sendo arte, como significado original, um modo de

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ser/agir na vida. Porém, a maioria acaba por não concretizar isso, trocando sua “vida/arte” pelo que o sistema que foi cri-ado, entrega: que é o deus “mamon”, seja para seu bel-prazer (ilusório), seja pela sua subsistência (que o sistema lhe im-pinge). Assim, os artistas verdadeiros (em quaisquer áreas: há médicos que operam artisticamente, e engenheiros que tra-balham com poeticidade) são os esteios que mantêm a vida ainda em ressonância. Foi Carl Gustav Jung quem afirmou que o artista é uma pessoa que traz do psíquico aquilo que se torna existente, materializando o inconsciente coletivo, e tra-zendo aquilo que os humanos buscam e não sabem. Essa é a função do artista verdadeiro, e como quaisquer outras artes, os quadrinhos-arte desses que percebem isso (como você e Laudo, por exemplo), buscam sustentar o que resta dessa hu-manidade, trabalhando o criativo e o que deve (ria) possibili-tar nossa redenção.

Gazy, você e o Edgar Franco sempre tiveram estilos parecidos de desenho, e hoje em dia, diria que continuam com o mesmo estilo? Como classificaria o seu estilo e qual a principal

dife-rença do estilo do Edgar Franco?(Clodoaldo Cruz)

Gazy Andraus: Realmente, Clodoaldo, no início nossos traba-lhos eram sumariamente similares: tanto que eu não o conhe-cia, e quando vi uma HQ de Franco, muitos anos atrás no Fan-zine “Barata” (editado por Calazans), achando-a muito pare-cida com as minhas, me espantei ao ver o endereço de contato

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dele ser de Ituiutaba/MG, onde nasci também. Após escrever para ele, encontramo-nos lá nas férias (pois ele estudava Ar-quitetura em Brasília) e coproduzimos o zine “Irmãos Siame-ses”, mostrando a semelhança de nossas artes. Atualmente o caminho das HQs dele segue poeticamente, adicionado a um viés de temática mais pertinente aos estudos que ele singrou, como os de tecnologia e interferência ao humano. Sem falar que a produção dele é intensa, tanto nas HQs (seu “Artlectos e Pós-Humanos” se encontra no nº 10 pela Marca de Fantasia

- http://marcadefantasia.com/revistas/revistas.htm), como no

meio acadêmico. No meu caso, eu produzo bem menos HQs que antes, e ainda me situo pela metodologia de ouvir músi-cas e “jogar” sequências curtas poétimúsi-cas que aparecerem com base na intuição (também derivadas de leituras). Assim, a se-melhança atual é que ainda estamos na linha de HQ ‘poéticas” e/ou “poético-filosóficas”, mas as dele têm uma linha de con-textualização mais atinente ao universo pós-humano técnico que ele criou, e as minhas ainda estão na linha fantástico-filo-sóficas, sem uma linha própria além dela conquanto ao tema, ou seja, não criei (ainda) um universo.

Como é atualmente sua relação autor-espiritualidade e

pes-soa-espiritualidade? (Laudo Ferreira Jr.)

Gazy Andraus: Laudo, amigo, minha relação é intrínseca: en-quanto ser humano, sinto-me espiritualmente potencializável, mas não ainda realizado (como diria Huberto Rohden). Já fui

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mais atinente à espiritualidade quando tinha desde meus vinte e tantos anos aos trinta e tantos, mas conforme fui me embrenhando na área da pós-graduação acadêmica com mes-trado, e depois com o doutoramento, afastei-me bem mais das leituras espirituais e foquei na racionalidade. Isso compro-vou a minha própria tese tornando-me cobaia de mim mesmo: vi que minha mente foi diminuindo de atuação na espirituali-dade e se ampliando na racionaliespirituali-dade do pensamento carte-siano do pesquisador científico. Mas também mantive em meio às pesquisas, vez ou outra, leituras de cientistas e pen-sadores com um pé na espiritualidade, como Amit Goswami. Ao mesmo tempo, minha produção artística foi diminuindo, e minha canalização foi passando para as escritas acadêmicas. Resumindo: quero voltar a equilibrar-me com mais leituras do espírito, e mais artes das minhas HQs poéticas ao som musical que abriam (e ainda abrem) canais na minha mente para o universo de maneira distinta da racional. E vi que você, Laudo, fez talvez caminho inverso ao meu: suas HQs vieram num pro-cesso cronológico, de algo mais – digamos – terreno, para algo mais além, como “Yeshuah” e agora seus “Cadernos de Viagem” com seu alterego psiconauta (este não li ainda, mas está na minha lista de desejos). Assim, apesar de aparente-mente eu estar produzindo menos artes e mais racionalismos, minha verve interior continua gritando e demandando pela minha relação pessoa/autoria/espiritualidade! Grato mesmo, por essa pergunta, que me fez redirigir-me a meu âmago!

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André Carim (Múltiplo): Obrigado, meu amigo Gazy, pela dis-posição em responder às minhas questões e as dos leitores e quadrinhistas.

Gazy Andraus: Eu que agradeço: entrevistas são como resul-tantes num processo criativo/racional, similar ao de se elabo-rar um zine ou até um biografiazine (lembrando o grande Ely-dio!): ao redigir as respostas é como se houvesse um estudo interno para ampliar o autoconhecimento. E a cada fase em que sou entrevistado, percebo que as questões e questiona-mentos mostram que estou sempre diferente, embora o mesmo na essência, percebendo isso durante a elaboração das respostas que pedem uma reflexão sempre mais apurada, como que numa busca da maturidade e espiritualidade! São Vicente-SP, março de 2017.

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Fórum de Discussão

Preto e Branco ou Colorido?

Dando sequência aos questionamentos feitos a diversos dese-nhistas no número anterior, mais algumas respostas enviadas por amigos e leitores do Múltiplo! E você, já opinou? Não? Está esperando o que para interagir?

Perguntas para artigo do Múltiplo: O que você prefere quando desenha HQ/Ilustração, Preto e Branco e Colorido? Por quê? O que te inspira nessa escolha e qual o sentimento em relação à sua escolha preferida? Com a palavra, os desenhistas:

Prefiro em cores, pois creio que o bom uso delas dá um toque mágico à criação. Embora eu prefira em cores, boa parte do que já fiz foi publicado em preto e branco devido aos custos de impressão. Lembrando que eu sou mais da parte escrita, as obras que tenho com desenhos fiz mais em parceria com Ed-gar Franco, o Ciberpajé. Meus desenhos por enquanto deixo apenas como uma arte guardada para meu prazer, não di-vulgo tanto quanto meus textos. Acho que o mais importante, seja no desenho, no texto ou qualquer expressão artística é criar sem amarras, sem demandas, como um processo de cura interior que acontece durante o ato de criar. Nieva Rosle Balisi é escritora e sacerdotisa da Aurora Pós-Humana. Contato: Pá-gina Escritos da Nieva Rosle Balisi no Facebook.

[Nieva Balisi]

Minha formação básica como artista foi com o preto e branco numa época que era impensável ver reproduções coloridas de meus trabalhos. Assim, só comecei a trabalhar mais efetiva-mente com cores aos 18 anos de idade, quando entrei para a Faculdade de Arquitetura da UnB. Nunca deixei de amar o

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preto e branco e continuo produzindo e explorando suas múl-tiplas possibilidades técnicas, mas aprendi a amar a expressão colorida também e divirto-me muito criando obras em cores.

[Edgar Franco]

Gosto do P&B pela praticidade no acabamento e poder fazer auto contraste com nanquim. Em HQs de terror, que é um dos gêneros que mais gosto de fazer, funciona bem demais!

[Carlos Henry]

Como leitor prefiro a cores, como autor depende, algumas ideias surgem pedindo cores e outras pedindo P&B, haverá ou aguada ou contraste a pincel. A dificuldade de publicar e custo reduzem a produção a cores e eu desenho em ritmo europeu, o oposto do mangá; ou seja, uma ilustração colorida leva 18 a 36 horas e uma HQ colorida de três páginas como a do Visões de Guerra Pátria Armada levou 3 meses.

Flávio Calazans

Boa noite. Sou das antigas e como tal, sou apaixonado pelo traço puro da tinta preta (Nanquim). Mas também gosto das cores. Não gosto do meu colorido, porquê fazer uma ótima colorização leva tempo e tempo é um luxo que não tenho há muitos anos. Tudo me inspira, desde as séries da Netflix, noti-ciários no Yahoo, coisas do cotidiano. O artista não tem que escolher, mas deve encarar cada trabalho como um novo de-safio e ser melhor que no último trabalho. Qualidade, tanto no texto como na narrativa dos desenhos.

[Airton Marcelino]

Olá André, como disse por estes dias, tenho andado fora. Vou agora então responder às perguntas. Não tenho uma prefe-rência. Gosto tanto de trabalhar a preto e branco como a co-res, tendo a perfeita noção de que são duas formas de

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lhar distintas. Por exemplo, atualmente sinto-me mais moti-vado com o preto e branco e toda a complexidade de texturas que essa técnica envolve, mas existem outras alturas em que a riqueza de trabalho da cor me atrai. Por isso, a escolha de-pende unicamente daquilo que sinto em determinado mo-mento. E confesso que quando escolho se quero desenhar de uma determinada forma nem sequer penso no custo que isso envolve. O mais importante na hora de começar a trabalhar para mim tem unicamente a ver de como é que vou gostar do trabalho, porque de certa forma quando vou começar a dese-nhar ou pintar eu o tenho visualizado na minha cabeça. O im-portante, acima de todo o resto, é no fundo o desafio da cria-ção e a constante procura de novas técnicas e formas de tra-balhar. Pronto, com este pequeno texto espero ter respondido de forma satisfatória às questões colocadas. É que a escrita inteligente de vez em quando prega-nos peças.

[João Amaral]

Nossa discussão vai continuar, envie a sua opinião e in-teraja com os demais participantes... abraços e até a próxima.

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Cartas, e-mails e resenhas

Grande Carim, curti montão o seu último zine, a começar pela bela capa do afiado Viñole! En-tendo a sua queixa de que na era da internet o pessoal está até se esquecendo de agradecer o envio de um PDF, comparado à era analógica do envio do zine e retorno das respostas via correio. Acontece que a rapidez e a facilidade digital não trouxeram o aguardado ócio no cotidiano da gente, muito pelo contrário, está sugando até o tempo sagrado que reservávamos ao sono. Ninguém mais respira e come direito, devido ao dilúvio de mensagens e informações que nos afogam diariamente. Confesso que essa situação vem afetando pesadamente a minha pro-dutividade, desde que, tardiamente, em 2007, aderi ao microcompu-tador (vírus do qual não se pode mais viver sem). Falemos do conteúdo: Entrevista com Viñole, nota mil! “Soberbo e Altivo Coração, soberbo! “P&B ou Colorido? ”, bem justificadas as opiniões. “A Garota do Silên-cio”, desfecho magistral. “Arquiteto”, muito bom, idem ironias das pul-gas. Tirinhas de “Coelho Nero”, rarrahhh!... “Cotidiano Alterado 1”, gostei muito! “A Fúria dos Mortos Vivos”, Joey, Fugir para outra cidade é inútil. “A Guerra dos Golfinhos”, matéria desperta interesse. “Eram os Deuses Ninfomaníacos? ”, Arrarrarrahhh!... “Efêmeros Momentos”, que aconselha, amigo é. “Fraimbroles”, o negócio mesmo é vender. “Você Responde”, espaço democrático. “Faltam 8 dias”, magistral paródia so-bre o “viciogame”. “Cotidiano Alterado 2, nota dez! Parabéns e grande abraço! Shima.

Referências

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