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PARADIGMAS E PERSPECTIVAS EPISTEMOLÓGICAS DOS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 1

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PARADIGMAS E PERSPECTIVAS EPISTEMOLÓGICAS

DOS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

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Margarida M. Krohling Kunsch2

Resumo: A comunicação organizacional tem ocupado espaço relevante no meio acadêmico e no âmbito corporativo, na contemporaneidade,. Este estudo trata dos fundamentos teóricos da comunicação organizacional, fazendo uma retrospectiva de sua evolução conceitual de 1950 a 2000. Analisam-se as principais correntes do pensamento comunicacional internacional, bem como os paradigmas e as perspectivas mais presentes nesse campo acadêmico. Consideram-se, a partir de uma reflexão analítica, as práticas da comunicação organizacional com base em três dimensões: a humana, a instrumental e a estratégica.

Palavras-Chave: Comunicação; organizações; estudos; paradigmas; teorias

Introdução

A comunicação organizacional é uma disciplina que cresceu muito ao longo do século XX e na primeira década deste terceiro milênio. Pode ser considerada, na atualidade, um campo acadêmico de múltiplas perspectivas. Diferentemente do passado, quando a vertente da área de administração era muito mais frequente na pesquisa e na literatura, seus estudos hoje se concentram muito mais no âmbito das ciências da comunicação. Como veremos a seguir, todo um caminho foi percorrido para se alcançar esse estágio atual.

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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Epistemologia da Comunicação”, do XVIII Encontro da Compós, na PUC-MG, Belo Horizonte, MG, em junho de 2009.

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Professora titular e pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Tem mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação e livre-docência em Teoria da Comunicação

Institucional: Políticas e Processos, pela ECA-USP. Autora de: Planejamento de relações públicas na comunicação integrada; Universidade e comunicação na edificação da sociedade; e Relações públicas e modernidade: novos paradigmas na comunicação organizacional. Organizadora de, entre muitos outras coletâneas de comunicação social: Obtendo resultados com relações públicas (2. ed., 2006): Relações públicas comunitárias: a comunicação em uma perspectiva dialógica e transformadora (2007); e Gestão estratégica em comunicação organizacional e relações públicas (2008). Ex-presidente da Intercom (1987-1989; 1991-1993). Ex-presisente da Alaic - Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (1998-2002; 2002-2005). Presidente da Abrapcorp - Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas.. Diretora de Relações Internacionais da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação. Membro do Conselho Consultivo da Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. E.mail: mkkunsch@usp.br

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Breve retrospectiva dos estudos

A comunicação organizacional tem suas raízes em vários campos, como os da administração e das teorias das organizações; da sociologia e psicologia social e organizacional; da antropologia; da linguística e da retórica; e da teoria da comunicação. Os estudiosos dessas áreas foram os primeiros a desenvolverem trabalhos que prenunciavam preocupações com a comunicação nas organizações, podendo-se vê-los como os grandes iniciadores de um campo que hoje já pode ser considerado uma disciplina acadêmica. Os estudos de comunicação organizacional surgiram nos Estados Unidos, país com maior tradição em pesquisa e produção científica e que possui o maior número de cursos de pós-graduação e vasta literatura nesse campo.

Foi a partir da segunda metade da década de 1940 que a comunicação organizacional começou a despertar o interesse dos estudiosos, sobretudo dos norte-americanos. Na verdade, ela buscou dar uma forma mais apropriada aos trabalhos antes realizados pelos integrantes da “escola de relações humanas” – Elton Mayo e outros – e da “escola da teoria dos sistemas abertos”– Daniel Katz e Robert Kahn (1978) –, que complementa a teoria humanista. Esta contribuiu para estudos subsequentes no campo da comunicação industrial e da comunicação de negócios. Os psicólogos sociais e organizacionais, como Kurt Levin, Keith Davis, entre outros, também tiveram um papel muito importante nos primeiros estudos. Outro destaque refere-se ao trabalho pioneiro de Chester Barnard, em A função dos executivos (1938), quando chamou a atenção para a importância da comunicação no processo de cooperação humana nas organizações. Naquela época ele já afirmava: “Numa teoria exaustiva de organização, a comunicação ocuparia um lugar central, porque a estrutura, a extensão e o âmbito da organização são quase inteiramente determinados por técnicas de comunicação” (BARNARD, apud LITTLEJOHN,1982, p. 301).

Cristalização dos estudos – década de 1950

Charles Redding considera a década de 1950 um momento de “cristalização dos estudos” da comunicação nas organizações. Com o nome de comunicação industrial ou

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de comunicação dos executivos, os estudos estavam eminentemente centrados na comunicação descendente e em seus efeitos no ambiente organizacional, nas redes, nas relações superior-subordinados etc. Dennis K. Mumby (2007)3 faz o seguinte comentário a propósito de estudo realizado por Charles Redding:

Interessantemente, Redding indica que a comunicação era vista como um fenômeno organizacional bastante periférico pela maioria das disciplinas de ciências sociais já estabelecidas, como psicologia industrial, administração, economia, sociologia e relações industriais. Deste modo, eles cederam o estudo da “comunicação industrial” a programas nascentes dos departamentos de discurso (mais tarde, comunicação). Por isso, Redding identifica os anos 1950 como “a década da cristalização” dos estudos, pois foi durante ela que um número de programas sobre comunicação industrial foi estabelecido.

Com o início dos primeiros departamentos de comunicação nas universidades norte-americanas, coube a Keith Davis o mérito de defender na Ohio State University a primeira tese de doutorado, em 1952, com o título Channels of personnal

communication within the management setting: episodic communications channels in organizations (Ecco). Esse método visava entender a cadeia de mensagem e o seu envio

até chegar ao destinatário para estudar os rumores espalhados pelos canais informais (POZO LITE, 1997, p. 42).

Entre 1953 e 1954, muitos outros trabalhos (teses de doutorado) foram surgindo sobre comunicação industrial e comunicação de negócios, sobretudo nos departamentos fundantes das seguintes instituições: North Western University, Ohio University, Pardue University, Chicago State University e Soutthern California University. Nesse período, destaca-se o notável trabalho realizado por Charles Redding na Purdue University, em que foi criado o departamento de Speech Communication, considerado na época o melhor grupo de estudos, denominado Industrial Commnunication Research Center.

3 Tivemos acesso A este texto de Dennis K. Mumby em 2005, antes de sua publicação na

Enciclopedia of sociology, que tem como editor George Ritzer (Blackwell Publishing, 2007). Por esse motivo, não constam as páginas das citações transcritas.

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Sistematização dos primeiros estudos – 1960-1980

A partir dos anos 1960, surgem os primeiros trabalhos sistematizadores do “estado da arte” da comunicação organizacional. Phillip K. Tompkins e Maryanne Wanca-Thibault (2001) fazem uma revisão das revisões, da qual tentaremos extrair alguns fatos mais importantes para esta retrospectiva.

Em 1967, Tompkins e Wanca-Thibault fizeram a primeira revisão, examinando estudos empíricos, usando categorias de canais formais e informais de comunicação entre superiores e subordinados. Portanto, o foco estava nos aspectos administrativos. Os estudos ainda se limitavam à visão instrumental da comunicação. Em 1972, W. Charles Redding procedeu à segunda revisão. Com 538 páginas, foi a mais importante realizada até então, tornando-se uma obra de referência para o campo. O autor defendeu a necessidade de avaliar o objeto dentro de uma teoria mais ampla da comunicação e enfatizou a comunicação interna, propondo dez postulados (apud TOMPKINS; WANCA-THIBAULT, 2001, p xviii-xxiii)4.

Em suma, Redding ajudou a colocar as atenções da comunicação organizacional sobre os receptores. Fez uso dos seus conhecimentos da teoria da comunicação para aplicá-la aos estudos organizacionais com ênfase nos receptores e princípios da comunicação humana no âmbito das organizações.

Outro autor que se envolveu com os estudos focados no receptor foi Lee Thayer. Putnam e Cheney (1990) chegaram a considerar que os trabalhos de Thayer (1961 e 1968) e de Redding (1972) mudaram o foco da comunicação organizacional do modelo de emissão para o de recepção.

Linda Putnam e George Cheney (1990), em um exaustivo trabalho sobre a história dos estudos de comunicação organizacional, identificaram cinco tradições de pesquisa nesse campo: estudo da comunicação como meio-mensagem; estudo dos canais de comunicação; estudos de clima; análise das redes formal e informal de comunicação; comunicação superior-subordinado .

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Alternativas e mudanças de paradigmas – década de 1980

Até os anos 1980 a pesquisa em comunicação organizacional, conforme considerações anteriores, se caracterizava como uma forte vertente funcionalista e em uma perspectiva linear. No início dos anos 1980, o quadro começa a mudar. Muitos estudiosos perceberam a necessidade de se valerem da teoria crítica e a pesquisa interpretativo-crítica passou a ser considerada. Linda Putnam e Michael E. Pacanowsky (1983) editaram o livro

Comunicação e organizações: uma abordagem interpretativa, como resultado de um

simpósio realizado em Alta (Utah, Estados Unidos) sobre esse tema. E foi publicada, também, uma edição especial (1982) do Western Journal of Speech Communication, voltada para a pesquisa interpretativa da comunicação organizacional.

Os estudos interpretativos da comunicação nas e das organizações priorizam aspectos como a ênfase nas práticas cotidianas, na construção social, nas interações entre as pessoas e nos processos simbólicos. Há uma valorização da cultura, das falas e das narrativas das pessoas. Outro aspecto importante é ver a comunicação como organização e a organização como comunicação, conforme defende o estudioso canadense James Taylor (1993; 2000).

Uma forma interessante de ver e tentar compreender a complexidade da comunicação que ocorre nas organizações é fazer uso de metáforas, como propõem Linda Putnam, Nelson Phillips e Pamela Chapman (PUTNAM et al., 2004, p. 81-106), ao compararem essa comunicação em sete itens: conduíte; lente; linkage; performance; símbolo; voz; e discurso.

As organizações em geral, como fontes emissoras de informações e como sujeito não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos causam os efeitos positivos desejados ou que são automaticamente respondidos e aceitos na forma em que foram intencionados. É preciso levar em conta os aspectos relacionais, os contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a complexidade que permeia todo o processo comunicativo.

Há necessidade, portanto, de trabalharmos a comunicação nas organizações em uma perspectiva muito mais interpretativa do que instrumental, buscando ter uma visão de mundo. Com base nas experiências com organizações complexas e em estudos

realizados, James Taylor (2005, p. 215) relata que “a comunicação não é mais descrita como transmissão de mensagens

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ou conhecimento, mas como uma atividade prática que tem como resultado a formação de relacionamento”.

Convergências dos estudos e avanços – 1980-1990

Pode-se dizer que a partir dos anos 1980 a 1990 as abordagens das pesquisas emergentes competiam com as tradicionais já estabelecidas. Mumby (2007) considera turbulento esse período. “No centro desses debates, estavam questões não só sobre métodos apropriados, desenvolvimento de teorias etc., mas também sobre a essência do

status de organizações como fenômenos comunicacionais”. Em outras palavras, essas

teorias “têm características reais e independentes da prática comunicacional e do processo de cognição humana ou podem ser resumidas a sistemas de significados socialmente construídos”? São reflexões que abrem caminhos para se estudar uma epistemologia da comunicação organizacional.

É nesse período que se processa uma notável expansão e um grande número de estudos. Adriana Casali (2005, p. 30-31), fazendo referência à revisão de Tompkins e Wanca-Thibault (2001), afirma: “No final dos anos 1980, ao mesmo tempo em que a área ainda buscava a conceituação do seu objeto de estudo tradicional, procurava modos de abordagem para estudos emergentes”. A autora destaca ainda a incomensurabilidade desse período, “que implica que cada paradigma deve logicamente desenvolver-se separadamente, perseguindo sua própria problemática”. A partir de então, os estudos de comunicação organizacional passam a adquirir uma forma mais abrangente, incorporando novos métodos e, consequentemente, avançando como disciplina acadêmica.

As múltiplas perspectivas dos estudos – início do novo milênio

A comunicação organizacional, no início do terceiro milênio, se caracteriza como uma identidade interdisciplinar, abrigando várias perspectivas teóricas e pressupostos epistemológicos, incluindo (pós)positivismo, realismo, interpretativismo, retórica, teoria crítica, pós-modernismo e pós-estruturalismo, feminismo e pós-colonialismo. Pode ser considerada um campo de perspectivas múltiplas e universal em sua abordagem, por seus métodos, suas teorias, seus âmbitos de pesquisa e seus postulados filosóficos. Essa

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abrangência e as inúmeras possibilidades de estudos possibilitarão grandes avanços no sentido de realmente se estudarem os fenômenos comunicacionais nas organizações como objetos de uma disciplina própria, e não só como análises sociológicas ou psicológicas. Os estudos estão, assim, mais focalizados nas teorias da comunicação, em comparação com o passado, quando o foco era mais organizacional. A publicação, em 2001, da obra The new handbook of

organizational communication: advances in theory, research, and methods, organizada por

Frederic M. Jablin e Linda L. Putnam, com a contribuição de importantes autores, expressa o quanto essa área avançou como campo acadêmico e científico e a pluralidade dos estudos em curso.

Paradigmas determinantes

Os pesquisadores da comunicação organizacional, sobretudo nos Estados Unidos, já produziram livros, artigos e inúmeras reflexões sobre as diferentes perspectivas teóricas ou os paradigmas de estudo desse campo das ciências da comunicação. A matriz teórica mais utilizada passa pelo trabalho clássico de G. Burrel e G. Morgan (1979), que conceituaram a teoria social segundo quatro perspectivas: funcionalista, interpretativa, humanista radical e estruturalista radical. Os estudos disponíveis sobre os paradigmas da comunicação organizacional indicam que eles estão centrados basicamente em três: funcionalista, interpretativo e crítico. A partir destes, os autores costumam ampliar as percepções teóricas, como é o caso de Linda Putnam (1982), que analisa os paradigmas das perspectivas mecânica, psicológica, interpretativa e de interação de sistemas. Tom D. Daniels, Bany Spiker e Michael J. Papa (1997) referem-se aos mesmos paradigmas, mas enfatizam também a perspectiva crítica, como resultado de uma visão dialética. Já Eric M. Eisenberg e Harold L. Goodall (2001) apresentam cinco paradigmas: transferência de informação; processo transacional; estratégia de controle; equilíbrio entre criatividade e constrangimento/coação/sujeição; e esforço de diálogo.

Para os estudiosos, o modelo mecanicista é o que tem predominado na comunicação organizacional, sobretudo nas décadas de 1960 a 1980. Esse paradigma considera e avalia a comunicação a partir do prisma funcionalista e da eficácia organizacional, bem como parte da premissa de que o comportamento comunicativo pode ser observável e tangível, medido e

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padronizado. Além disso, preocupa-se com as estruturas formais e informais de comunicação e com as práticas em função dos resultados, deixando de lado as análises dos contextos sociais, políticos, econômicos, tecnológicos e organizacionais.

Cremos que, mesmo em pleno terceiro milênio, as organizações, muitas vezes, elas têm uma retórica moderna, mas suas atitudes e ações comunicativas são ainda impregnadas por uma cultura tradicional e autoritária do século XIX. A abertura de canais de diálogo e a prática da “comunicação simétrica” requerem uma nova filosofia organizacional e a adoção de perspectivas interpretativas e críticas, capazes de incorporarem atitudes coerentes com os anseios da sociedade pós-moderna.

A perspectiva interpretativa considera as organizações como culturas. A organização é um fenômeno mais subjetivo do que objetivo e a sua realidade é socialmente construída por meio da comunicação. Esta baseia-se nos símbolos e significados compartilhados e envolvidos em várias formas de comportamento organizacional (MORGAN, 1996; PACANOWSKY; O’DONNELL-TRUJILLO, 1983).

A perspectiva crítica depende de uma visão dialética – trabalha com as relações de poder. A organização é percebida como uma arena de conflitos e o foco está nas classes oprimidas (trabalhadores, mulheres, minorias e outros grupos). Insere-se, nesse contexto, a questão de gênero, avaliando-se como as organizações são dominadas pelo patriarcalismo (a dominação masculina institucionalizada) como instrumento dessa opressão.

Evidentemente, as perspectivas interpretativa e crítica são formas de abordar a comunicação organizacional de maneira mais complexa do que na visão funcionalista, que parte de uma concepção linear simplista e reducionista.

O estudioso norte-americano Stanley Deetz (2001, p. 3-39) questiona a visão predominante dos estudos de comunicação organizacional fundamentados nos modelos propostos por George Burrel e Gareth Morgan (1979), os quais conceituaram a teoria social em quatro paradigmas: funcionalista, interpretativo, humanista radical e estruturalista radical. Segundo Deetz, isso tem provocado certas limitações, impossibilitando novas formas alternativas de abordagem. A ênfase ficou muito centrada na diferenciação um tanto rígida entre o funcionalismo e outras perspectivas, como, sobretudo, a interpretativa e a crítica. O autor propõe uma matriz com quatro quadrantes para situar os estudos de comunicação organizacional:

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os estudos normativos, interpretativos, críticos e dialógicos. Suas modalidades serão contrapostas segundo dois critérios: orientações emergentes ou elitistas; e, em uma outra direção, posições consensuais (hegemônicas, que reproduzem o discurso dominante da organização) ou dissensuais (quando os estudos propõem romper com a visão dominante)5. No âmbito do dissenso, em síntese, os estudos de comunicação organizacional podem ser caracterizados como dialógicos, pós-modernos, desconstrucionistas, críticos, reformistas. E, na dimensão do consenso, como interpretativos, pré-modernistas, tradicionais, normativos, modernistas e progressivos.

Diversidade conceitual

Se recorrermos a uma revisão bibliográfica da literatura internacional disponível nessa área do conhecimento, verificaremos que existem várias correntes de pensamento. Os limites deste artigo não nos permite uma revisão bibliográfica mais ampla por isto faremos um recorte mais ilustrativo

Os Estados Unidos são considerados hegemônicos nos estudos de comunicação organizacional. No entanto, esse panorama está mudando. James Taylor (2005) afirmou:

O campo de estudos da comunicação organizacional está se desenvolvendo fora dos Estados Unidos. Por muito tempo foi considerado como uma área de investigação exclusivamente americana. [...] Agora estão surgindo pesquisas em outros países, o que muito enriquece nossa comunidade científica. Na França, por exemplo, existe um grupo extremamente ativo de pesquisadores em comunicação organizacional. São mais de duzentas pessoas representando oito diferentes países. Há um grande interesse pela comunicação organizacional também na Austrália, na Nova Zelândia e nos países escandinavos. Esta expansão tem acrescentado, aos estudos em comunicação organizacional, novas áreas de investigação.

Esse estudioso canadense, um dos principais expoentes da “Escola de Montreal”, da Universidade de Montreal, tem se destacado, propondo novos olhares para os estudos da

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comunicação organizacional. A singularidade do pensamento dessa escola é conseguir fazer uma mescla entre o pragmatismo norte-americano e o pensamento francês. Assim, ela tem trabalhado a comunicação organizacional em uma perspectiva interpretativa e crítica, por meio de análise de narrativas e pensando a comunicação como organização, em vez da comunicação na organização. Procura-se enfatizar a equivalência entre organização e comunicação.

O pensamento comunicacional norte-americano, em uma perspectiva tradicional, tinha como foco perceber a comunicação organizacional mais no âmbito interno e nos processos informativos de gestão. A pesquisa concentrou-se na descrição da estrutura de comunicação em si e nas relações interpessoais das organizações (GOLDHABER et al., 1984).

Hoje, pode-se dizer que os estudos são mais abrangentes e contemplam muitos assuntos em uma perspectiva mais ampla, como análise de discurso, tomada de decisão, poder, aprendizagem organizacional, tecnologia, liderança, identidade organizacional, globalização e organização, entre outros. Basta ver o handbook de 2001, organizado por Jablin e Putnam, para verificar a abrangência temática e a diversidade de abordagem dos vinte artigos ali trabalhados. No Capítulo 7, “Identidade organizacional: ligações entre comunicação interna e externa”, George Cheney e Lars Thoger Christensen (2001, p. 235) chamam a atenção para a interdependência e inter-relação dessas duas formas de comunicação.

Com base em novas tendências, Stanley Deetz (2001, p. 3-46) questiona: o que, afinal, é comunicação organizacional? O que vemos ou o quanto estamos preparados para fazer, se pensamos a comunicação organizacional apenas de uma forma em contraposição a outras? Partindo dessa problemática, o autor propõe três maneiras novas e diferentes de conceituar a comunicação organizacional. Assim, de acordo com sua percepção, primeiro o foco poderia estar no desenvolvimento da comunicação organizacional como uma especialidade em departamentos e associações de comunicação, caracterizando-se como qualquer produção ou publicação de seus membros em jornais privados. Em segundo lugar, poder-se-ia analisá-la como um fenômeno que existe dentro das organizações, independentemente de seus departamentos. E, por fim, poder-se-ia pensá-la como uma maneira de descrever e explicar as organizações, ou seja, como um modo distinto de realizar a organização:

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“Assim como a sociologia, psicologia ou economia podem ser pensadas como capazes de explicar os processos organizacionais, a comunicação também poderia ser pensada como um modo distinto de estudo ou modo de pensar nas organizações” (Deetz, 2001, p. 5).

Na perspectiva européia, apenas como ilustração, citaremos dois autores, entre muitos outros que vêm trabalhando esse tema.

O catalão Joan Costa (1995, p. 95) apresenta uma visão abrangente da comunicação como estratégia nas organizações, atribuindo importância às questões de imagem e de identidade. Para ele, a comunicação se transformou em “corporativa”. Ele considera essa modalidade comunicacional um produto da complexidade generalizada e da atuação tecnológica que caracterizam nossa sociedade e nossa civilização. Para esse autor, a comunicação corporativa nasce de uma nova estratégia das organizações, considerando a comunicação de marketing, as várias formas de comunicação organizacional.

Já o holandês Cees B. M. van Riel (1995), diretor do Centro de Comunicação Corporativa da Erasmus University, de Roterdam, analisa três principais vertentes: comunicação organizacional, comunicação de marketing e comunicação de direção/administrativa. Ele apresenta uma visão da comunicação corporativa e estratégica com forte ênfase nos estudos de reputação e imagem corporativa, temas sobre os quais tem concentrado suas últimas obras.

Quanto à América Latina, os países que mais se destacam, em termos de obras publicadas e de desenvolvimento de pesquisas, são o Brasil, a Colômbia e o México. Os estudos latino-americanos se equiparam aos europeus no que concerne a uma visão mais ampla da comunicação organizacional.

O pensamento mexicano se assemelha muito ao do Brasil, ao focalizar a visão integrada e estratégica da comunicação organizacional, com mais ênfase nos aspectos institucionais e internos, nas relações públicas, na cultura organizacional, na publicidade e na comunicação gerencial/comunicação de negócios etc. Para Horácio A. Rodriguez de San Miguel (2003), a comunicação organizacional pode ser vista como um conjunto de técnicas e atividades que buscam facilitar o processo de comunicação nas organizações por meio da comunicação interna e externa, das relações públicas, da publicidade e da propaganda institucional.

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A pesquisadora Maria Antonieta Rebeil Corella ( 2000, p. 77), também do México, faz um breve apanhado de como a comunicação organizacional é vista pelos estudiosos daquele país, abordando-a segundo três dimensões: a comunicação institucional ou corporativa; a comunicação interna; e a comunicação mercadológica (marketing e publicidade).

Os colombianos contemplam uma visão ampla e social da comunicação nas organizações, entendendo-a como processos, mensagens e redes, analisando sua gestão por meio da cultura e da identidade organizacional. Enfatizam, também, a comunicação estratégica e corporativa. Mariluz Restrepo (1996, p. 92), por exemplo, valoriza muito os aspectos da cultura e da identidade na dinâmica organizacional: “A comunicação em e das organizações deve ser entendida de uma maneira integral, reconhecida como presente em todas as ações de uma empresa ou entidade”.

Pablo A. Múnera Uribe e Uriel H. Sánchez Zuluaga (2003, p. 107), dois outros estudiosos do campo na Colômbia, priorizam a visão mais corporativa da comunicação organizacional. Ressaltam que “a comunicação corporativa é a integração de todas as formas de comunicação de uma organização, com o propósito de fortalecer e fomentar sua identidade e, por conseqüência, melhorar sua imagem corporativa”.

No Brasil, os pesquisadores da comunicação organizacional a abordam segundo uma visão ampla e estratégica, considerando-a em uma perspectiva integrada. Estudos mais recentes, resultantes, sobretudo, de teses de doutorado geradas a partir dos anos 2000, estão se ocupando de novas abordagens, como, entre muitas outras: cultura organizacional e comunicação (Marlene Marchiori); comunicação e mudança organizacional (Maria do Carmo Reis); comunicação e autopoiese (João José Curvello); comunicação e qualidade (Cleusa Andrade Scrofernecker); e comunicação organizacional e complexidade (Rudimar Baldissera).

Gaudêncio Torquato (1986, 2002), um dos pioneiros dessa concepção no País, relaciona a esse conceito as subáreas da comunicação social (jornalismo, relações públicas, publicidade, editoração etc.), a assessoria de imprensa, o jornalismo empresarial, a comunicação interna, a comunicação institucional, o marketing cultural e social, entre outras, todas elas amplamente trabalhadas em suas obras.

Wilson da Costa Bueno (2003, p. 31-32) procura conciliar o institucional e o mercadológico, destacando a função social das empresas. O autor continua adotando a terminologia comunicação “empresarial”.

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Nós, por nossa vez, consideramos que a “comunicação organizacional integrada” precisa ser entendida de forma ampla e abrangente. Ela é uma disciplina que estuda de que forma se processa a comunicação nas organizações, no âmbito da sociedade global, e como fenômeno inerente à natureza das organizações e aos agrupamentos de pessoas que a integram. Além disso, configura as diferentes modalidades comunicacionais que a permeiam, compreendendo, dessa forma, a comunicação institucional, a mercadológica, a interna e a administrativa (KUNSCH, 2003, p. 149).

Essa nossa concepção procura ver a comunicação nas e das organizações segundo uma visão abrangente, lconsiderando todos aqueles aspectos relacionados com a complexidade do fenômeno comunicacional (natureza das organizações, relacionamentos interpessoais, função estratégica e instrumental etc.). Trata-se de um estudo que, iniciado nos anos 1980, continua em curso, pois buscamos sempre fundamentar e aperfeiçoar os pontos mais relevantes para construção de uma teoria em uma perspectiva do pensamento comunicacional brasileiro dessa área do conhecimento.

Esperamos que este tenha proporcionado uma visão, ainda que de forma panorâmica, de como a comunicação organizacional surgiu e do percurso que percorreu até os anos 2000. As conquistas em termos teóricos e metodológicos são muitas e a valorização desse campo é sem dúvida uma realidade mundial.

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Referências

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