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Mudan¸
ca de vari´
avel linear
Consideremos uma mudan¸ca de vari´aveis linear, definida pela matriz n˜ao sin-gular J :
G : Rn → Rn : x 7→ w = J x . (1.1) J ´e tamb´em o Jacobiano da transforma¸c˜ao:
J = ∂w1 ∂x1 · · · ∂w1 ∂xn ... ... ... ∂wn ∂x1 · · · ∂wn ∂xn .
indicaremos os operadores de deriva¸c˜ao com respeito aos dois vetores de vari´aveis por ∂x = ∂x1 ... ∂xn e ∂w = ∂w1 ... ∂wn .
Dada uma fun¸c˜ao u(x), definamos
v(w) := u(G−1(w)) = u(J−1w) ; u(x) = v(G(x)) = v(J x) pela regra da cadeia em nota¸c˜ao matricial, temos
Ju(x) = Jv◦G(x) = Jv(G(x)) JG(x)
logo ∇u(x) = ∇v(w) J e assim
∂x = Jt∂w. − − − ∂w = J−t∂x
Observe que podemos obter o mesmo resultado pela f´ormula escrita por componentes ∂xj = ∂ ∂xj = n X i=1 ∂wi ∂xj ∂ ∂wi = n X i=1 Ji,j∂wi .
1.1 Exemplo Rota¸c˜ao em R2 ξ η = cos θ − sin θ sin θ cos θ x y ∂x ∂y = cos θ sin θ − sin θ cos θ ∂ξ ∂η Laplaciano: ∂x2 + ∂y2 = (C∂ξ + S∂η)2 + (−S∂ξ + C∂η)2 = ∂ξ2 + ∂ 2 η
Invariante por rota¸c˜oes.
Onda: ∂x2 − ∂y2 = (C∂ξ + S∂η)2 − (−S∂ξ + C∂η)2 = (C2 − S2)(∂ξ2 − ∂ 2 η) + 4CS∂ξ∂η A rota¸c˜ao de 45o transforma ∂x2 − ∂2 y em 2∂ξ∂η.
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Classifica¸
c˜
ao de eq. de segunda ordem em duas vari´
aveis
Considere a equa¸c˜ao diferencial linear
auxx + 2buxy + cuyy + dux+ euy + f u = g , (2.1)
onde os coeficientes a, b, c s˜ao constantes. Supondo a 6= 0, podemos escrever como
a uxx+ 2 b auxy + b2 a2uyy + ac − b2 a2 uyy + ... , a " ∂x+ b a∂y 2 + ac − b 2 a2 ∂y2 # u + ... , quero ∂ξ ∂η = ∂x+ ab∂y δ∂y = 1 ba 0 δ ∂x ∂y , logo x y = 1 0 b a δ ξ η = ξ b aξ + δη .
Assim a equa¸c˜ao torna-se uξξ + 1 δ2 ac − b2 a2 uηη + ...
Assim a equa¸c˜ao torna-se uξξ + 1 δ2 ac − b2 a2 uηη + ... Consideremos o determinante ∆ = b2 − ac Defini¸c˜ao 2.1. Dizemos que a equa¸c˜ao (2.1) ´e:
(H) Hiperb´olica se ∆ = b2−ac > 0: pode ser tansformada em uξξ−uηη+...
(E) El´ıptica se ∆ = b2 − ac < 0: pode ser tansformada em uξξ + uηη + ...
(P) Parab´olica se ∆ = b2 − ac = 0: pode ser tansformada em uξξ + ...
Teorema 2.2. Toda equa¸c˜ao de segunda ordem linear a coeficientes constantes da forma (2.1) pode ser reduzida a uma onde os termos de grau dois est˜ao numa dessas trˆes formas, atrav´es de uma mudan¸ca de vari´aveis linear.
Na verdade,
Teorema 2.3. Se na equa¸c˜ao (2.1), a, b, c dependem de x, y, n˜ao s˜ao todos nulos e a eq. ´e do mesmo tipo (H, E ou P) em todo um aberto, ent˜ao pode (pelo menos localmente) ser transformada, atrav´es de uma mudan¸ca de vari´aveis, numa nova equa¸c˜ao onde os termos de grau dois est˜ao na forma correspondente.
Argumento via ´algebra linear:
Escrevemos a∂xx + 2b∂xy+ c∂yy como A∂x· ∂x onde ∂x =
h ∂x ∂y i e A = [a b b c].
Dada a mudan¸ca de vari´aveis w = (z, w) = J x, temos ∂x = Jt∂w.
Logo A∂x· ∂x = J AJt∂w· ∂w, isto ´e, a matriz eA correspondente `a A nas novas
vari´aveis ´e e A = A B B C = J AJ t Al´em disso
− e∆ = AC − B2 = det( eA) = det(A)det(J)2 = (−∆)det(J )2 o sinal do determinante ´e invariante por mudan¸cas de vari´aveis
Sabemos da ´algebra linear que dada uma matriz 2x2 sim´etrica A, sempre existe uma matriz M ortonormal tal que M AMt = λ1 0
0 λ2.
Logo M define uma mudan¸ca de vari´aveis que leva a equa¸c˜ao numa forma sem a uξη.
Alternativamente, renormalizando as linhas de M , podemos obter os termos diagonais sendo apenas 1, −1 ou 0. Logo M define uma mudan¸ca de vari´aveis que leva a equa¸c˜ao numa das trˆes formas P,H,E.
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Equa¸
c˜
oes lineares de segunda ordem em n vari´
aveis
O m´etodo acima funciona tamb´em para mais de duas vari´aveis. Podemos escrever os termos de ordem m´aximo
X
|α|=2
aα(x)∂αu (3.1)
como A∂x · ∂x onde agora ∂x =
h∂ x1 : ∂xn i e A = a2e1 1 2ae1+e2 .. 1 2ae1+en 1 2ae1+e2 a2e2 .. 1 2ae2+en : : : : 1 2ae1+en 1 2ae2+en .. a2en .
Existe uma mudan¸ca de vari´aveis linear que diagonaliza e normaliza A: a nova matriz eA ter´a a forma a blocos
e A = INp 0 0 0 −INn 0 0 0 0Nz (3.2)
onde Np, Nn e Nz s˜ao, respectivamente, o n´umero de autovalores positivos,
Defini¸c˜ao 3.1. A equa¸c˜ao correspondente a (3.1) diz-se:
1. el´ıptica no ponto x0 se eAx0 = In : os autovalores de Ax0 tem todos o
mesmo sinal);
2. hiperb´olica no ponto x0 se
e Ax0 = INp −INn (3.3)
com Np, Nn > 0, isto ´e, os autovalores de Ax0 n˜ao s˜ao nulos mas tem sinais
diferentes;
normalmente hiperb´olica se Np = 1 : forma diagonalizada ∂xxu(x, y) −
∆yu(x, y) + ... = 0 (equa¸c˜ao da onda);
ultrahiperb´olica se Np, Nn > 1 (n˜ao existem problemas f´ısicos assim).
3. parab´olica no ponto x0 se det eAx0 = 0, isto ´e, existem autovalores nulos
(Nz > 0).
Se Nz = 1 e Nn (ou Np) ´e nulo, temos a eq. do calor: forma diagonalizada
∂xu(x, y) − ∆yu(x, y) + ... = 0
Podemos sempre transformar a equa¸c˜ao a coeficientes constantes na forma sem derivadas mistas .
Para a equa¸c˜ao a coeficientes vari´aveis, podemos fazer isso apenas em um ponto fixado, n˜ao em todo um aberto como no caso em R2.
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Classifica¸
c˜
ao para equa¸
c˜
oes n˜
ao lineares
No caso de equa¸c˜oes n˜ao lineares a classifica¸c˜ao depender´a, em geral, n˜ao apenas da equa¸c˜ao mas tamb´em da solu¸c˜ao considerada.
• O caso semilinear ´e an´alogo ao linear.
• No caso quaselinear, fixada uma solu¸c˜ao, podemos substiru´ı-la nos coefici-entes e classificar como no caso linear.
Exemplo 4.1.
• uxx+ (1 + x2)uyy = 0 ´e el´ıptica em todo R2
• uxx− (1 + x2)uyy = 0 ´e hiperb´olica em todo R2
• uxx+ uyy + buxy = 0 ´e el´ıptica/parab´olica/hiperb´olica se b <, =, > 2
• uyy − yuxx = 0 (eq. de Tricomi) ´e el´ıptica para y < 0 e hiperb´olica para
y > 0 Exemplo 4.2. 1. Seja uxx + 2uxy + uyy + uzz = ux− uy − uz. A matriz correspondente ´e 1 1 0 1 1 0 0 0 1 ,
o polinˆomio caracter´ıstico ´e: p(λ) = (1−λ)3−(1−λ) = (1−λ)((1−λ)2−1)
as ra´ızes s˜ao: λ1 = 1, λ2 = 0 e λ3 = 2.
A equa¸c˜ao ´e parab´olica.
Em novas vari´aveis poder´a ser escrita na forma uxx(x, y, z) + 2uyy(x, y, z) +
... = 0. 2. Seja yuxx+ uyy + 2zuyz = 0. A matriz correspondente ´e y 0 0 0 1 z 0 z 0 ,
o polinomio caracter´ıstico ´e p(λ) = (λ − y)(1 − λ)λ − z2(y − λ), as ra´ızes s˜ao: λ1 = y, λ2 =
1 +√1 + 4z2
2 e λ3 =
1 −√1 + 4z2
2 .
Caso I. Se yz = 0 ent˜ao λ1 = 0 ou λ3 = 0 e a equa¸c˜ao ´e parab´olica (planos
y = 0 e z = 0).
Caso II. Se y 6= 0 e z 6= 0, tem-se λ2 > 0 e λ3 < 0, uma vez que
√
1 + 4z2 > 1,
assim a equa¸c˜ao ´e hiperb´olica.
F Exemplo 4.3. • A equa¸c˜ao (quase linear)
(c2 − u2x)uxx+ c2uyy = 0, (4.1)
onde c > 0 ´e um parˆametro, ´e el´ıptica se |ux| < c, parab´olica se |ux| = c e
hiperb´olica se |ux| > c.
Por exemplo, em correspondˆencia da solu¸c˜ao u(x, y) = λx ser´a el´ıptica se |λ| < c, parab´olica se |λ| = c e hiperb´olica se |λ| > c.
Esta equa¸c˜ao ´e um modelo simplificado (velocidade predominante-mente horizontal) para o escoamento de um fluido compress´ıvel, onde a velocidade do fluido ´e V = ∇u e c ´e a velocidade do som.
A vers˜ao mais completa dessa equa¸c˜ao ´e
(c2 − u2x)uxx − 2uxuyuxy + (c2 − u2y)uyy = 0 : (4.2)
neste caso ∆ = c2(|V |2 − c2).
Em ambos os casos, onde o escoamento ´e supersˆonico a equa¸c˜ao ´e hi-perb´olica enquanto onde ´e subsˆonico ela ´e el´ıptica.