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A visão budista sobre a morte

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Academic year: 2021

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A visão budista sobre a morte

Terceira Civilização - Diálogo Sobre a Filosofia Budista

Convidados: Margarida Yuko Yoshimatsu Hama, vice-coordenadora geral da DF da BSGI; Alexandre Kensiro Kogake, vice-coordenador da CMSP; Adriana de Carvalho Monteiro, vice-coordenadora da DFJ.

Alexandre Kensiro Kogake — Nos impressos lemos diversos depoimentos de pessoas desenganadas pelos médicos que conseguiram superar a doença e hoje se dedicam com todo afinco pelo Kossen-rufu. Por que isso ocorre? Porque compreenderam no âmago de sua vida que a doença é um efeito de causas cometidas no passado, um carma que só pode ser transformado com uma recitação séria e sincera de Daimoku que atinja o âmago da vida. Então o veneno, ou seja, a doença, passa a ser um remédio pois possibilita a revolução humana.

Adriana de Carvalho Monteiro — Quando Nitiren Daishonin afirma no Gosho que devemos primeiro entender a morte, acredito que seja no sentido de que, se não a consideramos como algo inerente à vida, ao enfrentá-la, sentimos medo, desespero e sofremos. É claro que isso não significa que devemos nos resignar, muito pelo contrário. Mas se deixarmos que sentimentos negativos, que as lamentações e a autocomiseração tomem conta de nós, não conseguimos ter energia suficiente nem fazer causas à altura para mudarmos esse carma. Mesmo que o resultado seja a morte, são as nossas ações, a nossa vontade de vencer, o nosso aspecto tanto em vida como na morte, e

ainda o nosso ambiente familiar que nos permitirá perceber e sentir a transformação do carma.

Margarida Yuko Yoshimatsu Hama — O presidente Ikeda diz que a morte é apenas um descanso. Todos precisamos descansar. Depois de um dia inteiro de trabalho, ficamos fisicamente esgotados e o nosso corpo necessita repor as energias. Contudo, dependendo de como passamos o dia ou do que fazemos, às vezes não conseguimos descansar, temos pesadelos ou preocupações que nos atormentam a noite toda. Quem viveu um dia com grande satisfação consegue dormir tranqüilamente. A morte também é um repouso para reativar nossas energias para que possamos despertar bem, ou seja, renascermos fortes e cheios de energia para cumprirmos nossa nova missão.

Terceira Civilização — Apesar de a morte ser inevitável, a maneira ou a idade com que as pessoas falecem, principalmente quando praticam o Budismo de Nitiren Daishonin, parece gerar questionamentos tanto entre os companheiros como entre os que praticam outras religiões.

Kogake — É verdade. Ao saberem que uma pessoa é budista, parece que as outras ficam observando mais sua vida e postura. Se um jovem, muito ativo na organização e na prática, falece tragicamente, as pessoas imediatamente questionam a validade da religião que ele

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seguia. A maioria se prende somente no modo como ocorreu o falecimento e se esquece do valor pessoal do falecido e de como viveu. A morte chegará para todas as pessoas. Contudo, ninguém consegue prever quando e nem como ocorrerá. Muitos fatores estão relacionados à questão da morte, e um deles é o carma. Não sabemos que causas cometemos no passado que podem determinar a maneira como morreremos. Mas uma coisa é certa, independentemente de como tenha vindo a falecer, o que determinará sua iluminação e felicidade serão suas ações em vida, seja ela curta seja longa, e ainda a oração dos familiares e amigos.

Margarida — Sem dúvida, aceitar a morte não é nada fácil para os familiares, principalmente quando é repentina ou trágica. Mas o mais importante é se o falecido e a família também recitavam Daimoku. O presidente Ikeda diz que esse já é o caminho para a iluminação do falecido.

Adriana — Quando um de meus primos faleceu ainda jovem, li uma orientação do presidente Ikeda que me confortou muito. Ele dizia que muitas vezes uma pessoa que tem o carma de falecer jovem, morre jovem mais uma vez, mesmo tendo encontrado o Gohonzon, talvez para romper de vez com esse ciclo e desfrutar uma próxima existência longa e plena. Em outra ocasião, ele disse que não importava a maneira que uma pessoa viesse a falecer, se mesmo jovem ela conseguiu acumular os tesouros do coração e fazer o bem para outras e o Chakubuku, e se no momento de sua morte, houver pessoas orando Daimoku para sua iluminação,

naquele exato momento formaria-se a causa para ela renascer em uma condição de vida melhor. Lendo isso, refleti o quanto é importante quando a família de alguém que praticava sozinha permite que se faça uma cerimônia budista na ocasião de seu falecimento. Porque nesse momento, somente o Daimoku dos companheiros pode beneficiar a vida do falecido.

Margarida — No caso de morte acidental ou violenta, muitas pessoas ficam preocupadas se o falecido não está sofrendo ou se não está sentindo dores. O budismo ensina que essa resposta pode ser obtida observando o aspecto de seus familiares. Se a família, imbuindo-se de coragem, prossegue em sua prática e em sua luta diária dedicando-se para o Kossen-rufu e pela felicidade das pessoas, então esta será exatamente a condição de vida do falecido.

Kogake — Numa orientação a respeito do Gongyo, o presidente Ikeda diz que quando a família continua uma prática consistente mesmo sofrendo a perda de um ente querido, todos os caracteres do Gongyo proferidos pelos familiares transformam-se em um só e posteriormente em um buda que se desloca até o domínio onde a pessoa falecida se encontra e transmite a ela que foi enviado pelos familiares, e diz que isso automaticamente possibilita a sua iluminação.

Adriana — Há um Gosho em que Nitiren Daishonin incentiva uma senhora que perdeu o filho samurai. Ela, uma fervorosa praticante do Nam-myoho-rengue-kyo, estava angustiada pois temia pela sorte de

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seu filho que havia matado muitas pessoas, embora tivesse também recitado Daimoku. Diante desse sofrimento profundo de mãe, Nitiren a encoraja a praticar firmemente para que a sua iluminação conduza também o filho a essa suprema condição. Senti a grande benevolência de Nitiren Daishonin ao remover o sofrimento do coração dessa senhora. O Daimoku permite-nos alcançar essa serenidade.

Margarida — Não sabemos o que fizemos no passado. Mas o mais importante é que temos uma grande oportunidade de garantir um futuro melhor. A maneira como vivemos nosso presente definirá nossa sorte no futuro. Gosto muito da seguinte frase: “Não acrescente dias à sua vida, mas sim vida aos seus dias. Valorize cada momento e viva cada dia como se fosse o último.” Contudo, não é fácil aplicá-la em nosso dia-a-dia. Depois de tudo o que passei após o nascimento de minha filha, saí da UTI numa cadeira de rodas, pois estava com anemia profunda. Não tinha forças para caminhar e cheguei a pensar que estava paralítica. Mas mesmo assim, naquele momento orava Daimoku de felicidade, por ter sobrevivido. Desejava muito ver minha filha recém-nascida e meu filho. Chegando à casa de minha mãe, ela abriu o oratório para recitarmos três vezes o Daimoku (sansho). Não consegui conter as lágrimas e minha voz estava embargada pela emoção. Eu já tinha mais de vinte anos de conversão e nunca havia falhado em minha prática diária, mas foi nesse momento que percebi como era displicente. Desde aquele dia, nunca mais desprezei a oportunidade de fazer bem feito mesmo que um simples Daimoku

sansho. Nunca sabemos quando será a última vez que poderemos nos encontrar com o Gohonzon. Foi uma lição que a vida me ensinou.

Kogake — O ser humano tende a descobrir o valor das coisas quando já é tarde demais.

Margarida — Por sorte, eu tive uma segunda chance e pude rever toda minha postura em relação à prática.

Kogake — Com certeza essa sua experiência deve ter contribuído para que muitas outras pessoas renovassem suas decisões, revessem sua postura ou seu conceito de vida. Por você possuir muita coragem e muito Daimoku acumulados durante anos, conseguiu transformar esses acontecimentos em encorajamento para as pessoas. O presidente Ikeda cita em uma orientação a existência de dois tipos de Daimoku, o de rotina e o de fé. Ele diz que o Daimoku de rotina pode ser comparado ao de um pedinte, que implora pela ajuda do Gohonzon. A pessoa faz uma lista enorme de pedidos e a coloca no oratório, orando apenas em função dela. Se os resultados demorarem a aparecer, então ela começa a desanimar e a duvidar da força do Gohonzon. O Daimoku verdadeiro é aquele proveniente da fé, em que a pessoa se compromete a vencer as dificuldades. É um Daimoku de juramento visando ao Kossen-rufu. Esse é o Daimoku que transforma a vida e traz felicidade, mas que requer muita coragem e determinação.

Adriana — Sim. Para ser feliz é necessário ter coragem para enxergar todos os

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acontecimentos da vida como uma oportunidade. As pessoas enxergam os fatos da vida da perspectiva de seu carma e estado de vida. Por exemplo, para algumas pessoas, meio copo de vinho pode ser motivo para lamentações do tipo “Puxa, só temos meio copo de vinho...” Mas, para outras, pode ser de alegria: “Que bom, ainda temos meio copo de vinho!” Conforme nossa condição de vida podemos ver o excesso de trabalho como uma exploração ou como um desafio para o nosso próprio desenvolvimento profissional. Para sermos felizes, precisamos nos desfazer de pensamentos negativistas e errôneos. As insatisfações, as lamentações só atrasam a nossa revolução humana. É por isso que Nitiren Daishonin afirma que o que mais importa no budismo é o coração. A sinceridade e o espírito de gratidão sem dúvida são essenciais. Temos de criar uma tendência de vida sempre positiva e otimista.

Margarida — Esse é um ponto muito importante pois o budismo explica que assim como cada um de nós possui os dez estados de vida, o Universo também os tem. Então quando falecemos, nossa vida funde-se exatamente com o estado do Universo referente à condição em que nos encontrávamos no momento da morte. Quem morre no estado de Inferno, funde-se com o estado de Inferno do Universo. Se a pessoa estava no estado de Alegria, funde-se com o estado de Alegria do Universo e assim por diante. É por isso que devemos sempre procurar mudar nossa tendência básica de vida e fazer sempre causas positivas dia a dia para mantermos um estado de vida elevado. Aquele que passa a vida em vão, vivendo

somente para si de modo egoísta, no momento da morte só sentirá arrependimento. No entanto, o poder do Daimoku é imensurável, capaz de transformar até mesmo a vida de alguém que faleceu no estado de Inferno. O Daimoku que os familiares oram diariamente em memória dos falecidos contribui para isso.

Kogake — Sabendo disso, é lamentável que companheiros de prática percam tempo brigando entre si, criticando uns aos outros, ou provocando desarmonia dentro dessa organização do Kossen-rufu, onde temos a maior das oportunidades para realizarmos mais rapidamente nossa revolução humana. Contudo, da mesma forma que podemos transformar mais rapidamente, realizando boas causas, acredito que o peso das más causas cometidas em relação aos companheiros terão peso muito maior.

Adriana — A organização é, sem dúvida, o meio ideal pelo qual podemos nos aprimorar como seres humanos. O relacionamento com várias pessoas nos oferece inúmeras oportunidades para lapidarmos o nosso estado de vida. Sempre fui medrosa em relação à questão da morte, mas conforme fui assumindo responsabilidades na organização e aprofundando a compreensão do budismo, comecei a superar isso. O sentimento de prezar mesmo que uma única pessoa e orar Daimoku para sua felicidade, principalmente no momento da morte, tornou-se mais forte do que todos os meus medos. Acredito que isso também sejam causas para que, no momento de minha morte, existam pessoas orando por mim.

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Como o falecido não pode mais orar, são as pessoas vivas que criarão o ambiente propício para que ele possa renascer. E vendo como são os ambientes das cerimônias feitas pela Gakkai, temos a certeza de que o falecido estará muito bem e retornará em breve para perto de nós.

Margarida — Com base em tudo que conversamos, podemos concluir que é importante empenharmo-nos pelo Kossen-rufu para realizarmos a nossa transformação interior e elevarmos nossa condição de vida. No budismo, o nosso passado, presente e futuro estão interligados e tudo pode ser determinado no momento presente. A morte também está relacionada a tudo o que fazemos no presente.

Adriana — O budismo é realmente maravilhoso pois nos dá a completa liberdade para conduzirmos nossa vida sem medo de ser feliz.

Kogake — E além de tudo estamos vivendo uma época de ouro, junto ao nosso mestre da vida. Em gratidão a isso deveríamos nos dedicar ao Kossen-rufu sem medir esforços, deixando de lado problemas de menor importância. Mas como somos mortais “muito” comuns (risos), desperdiçamos inúmeras oportunidades de viver uma vida feliz e de plena satisfação e ainda de ter uma morte serena e tranqüila.

Margarida — É verdade. Desperdiçamos também tempo para recitarmos Daimoku, que possui um poder extraordinário. O presidente Ikeda diz que mesmo uma

pessoa que passou por grandes sofrimentos devido a um mau carma pode experimentar um estado de paz como um sonho, como se estivesse brincando em um jardim florido. O som de nossa voz recitando Daimoku ressoa por todo o Universo e envolve também a vida dos falecidos num ambiente tranqüilo, como uma música suave e pétalas de flores esvoaçantes. Por isso acredito que a conclusão de nosso diálogo é a de que devemos viver cada um de nossos dias como se fosse o último. Nosso mestre disse: “Cada dia de vida é um acontecimento novo, precioso e único de toda uma existência. Aqueles que não se lançam a metas nem aos desafios, que só fazem o que sabem fazer, são incapazes de criar sua própria história. Se cada dia, cada desafio for recebido com espírito esperançoso e sincero, isso resultará em sua própria esplêndida vitória.”

Adriana — Gostaria também de mencionar algumas palavras do presidente Ikeda. Ele nos diz: “O importante é a profundidade com a qual vivemos, a força do pensamento que manifestamos. Uma pessoa com esse estado de vida profundo é capaz de fazer cada dia valer dez dias ou ainda um mês. Em um ano ela pode criar o valor de dez, ou ainda de cem anos. Essa é a verdadeira medida da duração da vida de uma pessoa. Ela não é definida simplesmente com bases superficiais de duração do tempo. Tenho conduzido minha vida empenhando-me com essa consciência. Estou determinado a continuar agindo dessa forma. Portanto, não importando o que aconteça, nada tenho a temer. Posso suportar tudo com tranqüilidade e com espírito do rei-leão.”

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Se o mestre tem esse espírito, então eu, como discípula, quero procurar viver também dessa forma.

Kogake — Entendemos que tudo depende da própria pessoa no tocante a como encarar a morte, mas para que possamos ter uma morte tranqüila e renascer logo, é importante que cumpramos em vida a promessa que fizemos de renascer neste mundo e conduzir as pessoas à felicidade, que é a ação do bodhisattva. Uma vida dedicada a esse propósito certamente atingirá a iluminação. É isso que o budismo ensina, que o mestre ensina e é esse o caminho que quero seguir.

Referências

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