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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU

PROJETO DE PESQUISA

EXECUÇÃO:

EPPC – Estudos e Projetos em Patrimônio Cultural Ltda. ME CNPJ 15.608.400/0001-51

Rua México 450, Cj. 404.

CEP 82510 060, Bacacheri, Curitiba/PR Telefones: (41) 3039-9080 / 9901-1423

Responsabilidade Cientifica: Arqueólogo M.Sc. Antônio C. M. Cavalheiro E-mail: antonio.eppc@gmail.com

EMPREENDEDOR:

GERAÇÃO CÉU AZUL SA– GRUPO NEOENERGIA (CNPJ 09.136.819/0001-55) Praia do Flamengo, 200, 11º e 12º Andar – CEP 22210-030 – Rio de Janeiro – RJ Telefones: 55 3235 2800

Home page: www.neoenergia.com

Contato responsável: Ronaldo Câmara Cavalcanti, gerente de Meio Ambiente E-mail: rcavalcanti@neoenergia.com

ENDOSSO INSTITUCIONAL:

Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná, MAE-UFPR Diretor: Profª. Dr. Márcia Cristina Rosato.

EQUIPE TÉCNICA FIXA:

Arqueólogo coordenador: Antônio Carlos Mathias Cavalheiro Arqueólogo 2: Jonas Elias Volcov

Arqueólogo 3: Eliane Sgarzela Arqueólogo 4: Eloi Bora

Historiador 1: Jacqueline Monteiro dos Santos Historiador 2: Gabriela Dors Batassini

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ... 3

2. HISTÓRICO ARQUEOLÓGICO DO PROJETO ... 5

2.1. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP). EIA-RIMA,... 5

2.2. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA DE INSTALAÇÂO (LI). ... 6

3. O EMPREENDIMENTO ... 11

3.1. ABRANGÊNCIAS ... 13

4. CONCEITUAÇÃO ... 16

5. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO ... 18

5.1. OBJETIVOS GERAIS ... 19

5.2. METODOLOGIA ... 21

5.2.1. Escavações e coletas arqueológicas ... 23

5.2.2. Laboratório ... 25

5.2.2.1. Limpeza, Identificação, Análise e Acondicionamento ... 25

5.2.2.2. Considerações teórico-metodológicas na análise do material lítico ... 27

5.2.2.3. Considerações Teórico-Metodológicas na Análise do Material Cerâmico ... 32

5.2.3. Valoração e Prioridades ... 36

5.2.3.1. Prioridades de ação ... 37

5.2.3.2. Valoração dos Sítios ... 38

6. PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO ... 41

6.1. ATIVIDADES ... 41

6.2. METODOLOGIA ... 43

7. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO E EXTROVERSÃO PATRIMONIAL ... 45

7.1. OBJETIVOS ... 46

7.2. METODOLOGIA ... 47

7.2.1. Macro-atividades ... 47

7.2.2. Procedimentos ... 48

7.2.3. Estudos e levantamento prévios ... 49

7.2.4. Proposta de Ação ... 51

7.3. AGENDA MÍNIMA ... 53

8. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES E RECURSOS HUMANOS ... 55

8.1. RECURSOS HUMANOS ... 56

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 57

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

1. APRESENTAÇÃO

A empresa EPPC – Estudo e Projetos em Patrimônio Cultural LTDA, em observação a portaria IPHAN/Minc n° 007 de 01 de dezembro de 1988, apresenta Projeto de Pesquisa referente aos Programas de Resgate Arqueológico, de Monitoramento Arqueológico e de Educação Patrimonial, a serem realizados nas Áreas de Abrangência da planejada Usina Hidroelétrica Baixo Iguaçu, discorrendo sobre as especificidades técnicas e metodológicas e de cronograma para os mesmos.

A meta almejada pelos Programas propostos é tentar minimizar e compensar os impactos negativos gerados pelas obras de instalação e operação da UHE Baixo Iguaçu sobre bens históricos/arqueológicos. Para este caso a melhor estratégia, em consonância com a legislação e normas em vigência nos âmbitos nacional e internacional, refere-se à implementação e execução dos Programas Arqueológicos acima citados, que lidam diretamente com o bem patrimonial e cumprem com o direito das comunidades humanas ao conhecimento do legado das gerações passadas.

O planejamento e a execução desses Programas Arqueológicos deverão ser compatíveis com o cronograma das obras, de maneira a não prejudicar o desenvolvimento normal das pesquisas e das obras. Neste sentido, serão seguidas as prioridades de ação e cobertura, estabelecidas previamente no Programa de Prospecção Arqueológica: primeiramente, executar-se-ão trabalhos arqueológicos nas áreas destinadas à infra-estruturas e ao barramento para a liberação das mesmas e para que se possa dar início às obras e, posteriormente, nas áreas do reservatório , na faixa de depleção e nas áreas de preservação permanente (faixa dos 100m), nestas somente para as porções que serão reflorestadas.

Para desenvolvimento dos Programas ora apresentados – que envolverão levantamentos bibliográficos e trabalhos de Resgate do patrimônio arqueológico, que incluem escavações exaustivas, registros de sítios e coleta de materiais significativos em cada sítio arqueológico (IPHAN, Portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002) – estima-se uma duração de 30 meses, a contar a partir da obtenção da autorização expedida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A coordenação científica dos trabalhos ficará a cargo do arqueólogo M. Sc.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

Antônio Carlos Mathias Cavalheiro e, ainda, contará com a participação dos arqueólogos M.Sc. Jonas Elias Volcov, Eliane Maria Sganzerla, Eloi Bora e das historiadoras Gabriela Dors Batassini e Jacqueline Monteiro dos Santos, cujos currículos e declarações de participação seguem nos anexos 2 e 3.

Este projeto de pesquisa, em suma, apresenta a descrição do empreendimento e a delimitação de suas áreas de abrangência; os objetivos e metodologias dos programas supracitados; as características ambientais de relevância arqueológica; e a caracterização do quadro de pesquisas arqueológicas desenvolvidas na região; o cronograma de atividades e recursos humanos necessários. Além destes conteúdos, serão apresentados, nos anexos, os seguintes documentos:

 Endosso Institucional da pesquisa, fornecido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná, MAE-UFPR;

 Atestados de Compromisso de Participação da Equipe Técnica  Currículos do coordenador e dos pesquisadores participantes.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

2. HISTÓRICO ARQUEOLÓGICO DO PROJETO

Seguindo os padrões e as normas da Portaria 230/02 do IPHAN, os trabalhos de arqueologia no processo de licenciamento ambiental da UHE Baixo Iguaçu previram três (3) etapas acrescidas de Educação Patrimonial.

A primeira etapa, já concluída, de Diagnóstico e Avaliação de Impactos, foi realizada na fase de obtenção da Licença Prévia (LP) e compôs o EIA-RIMA (2007) da obra.

A segunda etapa, de Prospecção Arqueologia intensiva, já concluída, foi realizada na Fase de obtenção de Licença de Implantação (2010/11).

A terceira etapa, a ser realizada, para a qual apresentamos Projeto, é a execução do Programa de Resgate Arqueológico baseado nas diretrizes e critérios de relevância e prioridades propostos na etapa anterior e, realizado durante a fase de obtenção da Licença de Operação (LO). Essa é a etapa onde ocorrerão às escavações arqueológicas (Resgate arqueológico).

Educação Patrimonial, a ser realizada, para a qual apresentamos Projeto, se faz pela implementação do Programa de valorização do patrimônio Arqueológico e histórico-cultural. Esta etapa também é realizada durante a fase de obtenção da Licença de Operação (LO), e deve iniciar logo em seguida aos trabalhos da etapa anterior, de Resgate aos sítios arqueológicos, assim, as escavações já podem ser exploradas educacionalmente.

2.1. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP). EIA-RIMA,

Os trabalhos de Avaliação e Diagnóstico Arqueológico para compor os Estudos e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento foram realizados pela empresa Scientia Consultoria Cientifica Ltda, e estiveram sob a coordenação da arqueóloga Dra. Solange Bezerra Caldarelli em 2004.

O método seguido foi o de Avaliação Arqueológica não Interventiva e serviram de base para avaliar os possíveis impactos sobre os bens arqueológicos decorrentes da implantação e

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

operação do empreendimento hidroelétrico, assim como para proposições de medidas mitigadoras e/ou compensatórias para os possíveis impactos.

A fim de estimar o potencial da área como um todo, foram levantados dados secundários sobre arqueologia da região, bem como, realizado levantamento arqueológico no local, junto às áreas de Influência Direta do empreendimento através do método de Avaliação Arqueológica Rápida não Interventiva, apenas com inspeção de superfícies dos solos expostos. O objetivo era construir um panorama estimativo do potencial arqueológico, bem como da suas características e graus de ameaças em relação à implantação do empreendimento para projetar parâmetros e indicações específicas necessárias à minimização dos impactos sobre esses bens culturais. Os trabalhos em campo localizaram 18 locais com evidências arqueológicas. Destes 8 eram sítios arqueológicos, 7 Ocorrências isoladas e 3 eram informações orais de moradores locais que lembravam de já ter encontrado peças arqueológicas.

Segundo os autores do Diagnóstico, em relação às fontes secundárias consultadas a época, estas atestaram, para todo o vale do rio Iguaçu, uma intensa ocupação humana em ampla faixa temporal. Há inúmeros sítios líticos (pedras lascadas), cerâmicos e históricos que representam a alta potencialidade do rio e de seus ambientes para assentamentos humanos, e concluíram, somados aos resultados obtidos em campo, pela existência de alto potencial arqueológico para as Áreas de Impacto Direto da UHE Baixo Iguaçu e recomendam a implementação dos Programas de Prospecção arqueológica intensiva e de Resgate Arqueológico como medida mitigadora e o Programa de educação patrimonial como medida compensadora.

2.2. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA DE INSTALAÇÂO (LI).

As atividades executadas durante o Programa de Prospecção Arqueológica (2010/2011), um dos quesitos da Portaria 230 do IPHAN para obtenção da Licença de Instalação, resultaram na localização de cinqüenta e dois Sítios Arqueológicos (ST), de setenta e três Ocorrências Arqueológicas (OC) e na coleta de 336 materiais, que foram destinados a estudos sobre a arqueologia da região e acervo. Do total dos cinqüenta e dois sítios identificados, trinta e quatro são líticos, cinco são cerâmicos, doze são lito-cerâmicos e um é relacionado à arte rupestre. Estes sítios se localizavam, principalmente, na Área de Impacto Direto (AID), onde foram

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

registrados um total de quarenta e oito: quarenta em área destinada ao reservatório, quatro em área de infra-estrutura e posterior reservatório, três em Área de Preservação Permanente (APP – faixa de 100 metros) e um em área de infra-estrutura (canteiro na margem esquerda).

No quadro abaixo, apresentamos a relação dos sítios arqueológicos identificados no Programa de Prospecção Arqueológica, indicando seus nomes, tipos, localizações e filiações culturais.

SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, LOCALIZAÇÕES E FILIAÇÕES CULTURAIS

FILIAÇÃO CULTURA MATERIAL TIPO NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO COORDENADA M AR GE M DO RIO IG UA ÇU ÁR E A DE ABRANG Ê NC IA ÁREA ESPECÍFICA Tradição Geométrica Arte Rupestre (gravuras)

Vista Alta BI01CLM-ST 22J 244386

7175970 Direita AII Entorno/faixa APP/ reservatório Tradição Bituruna Lítico Barra do Sarandi BI02RLZ-ST 22J 248755

7171501 Esquerda AID Reservatório Lítico Ilha

Montalvani 1 BI03CLM-ST

22J 236291

7173919 Direita AID Reservatório Lítico Córrego

Laranjeira 2 BI11CLM-ST

22 J 232472

7176665 Direita AID Bota-fora Lítico Joy BI16CLM-ST 22 J 236439

7173911 Direita AID Reservatório Lítico Flores BI14CLM-ST 22 J 235302

7174827 Direita AID Reservatório

Sem identificação

Lítico Córrego

Caçula 2 BI18CLM-ST

22 J 236950

7173400 Direita AID Reservatório Lítico Presotto 1 BI19CLM-ST 22J 239186

7170520 Direita AID Reservatório Lítico Presotto 2 BI20CLM-ST 22J 239115

7170442 Direita AID Reservatório Lítico Linha Hortelã

1 BI22CLM-ST

22J 240376

7173157 Direita AID Reservatório Lítico Linha Hortelã

3 BI25CLM-ST

22J 240029

7172986 Direita AID Reservatório Lítico

Linha Vargem

Bonita

BI27CPM-ST 22J 234647

7174474 Esquerda AID Reservatório Lítico José Guerra BI28CPM-ST 22 J 234788

7174001 Esquerda AID Reservatório Lítico Fazenda

Sinuelo BI30CPM-ST

22J 237133

7172192 Esquerda AID Reservatório Lítico Barra do Capanema 1 BI32RLZ-ST 22J 239294 7169355 Esquerda AID APP e Reservatório Lítico Barra do Capanema 2 BI33RLZ-ST 22J 238386

7169945 Esquerda AID Reservatório Lítico Olaria

Realeza BI34RLZ-ST

22J 241614

7171563 Esquerda AID APP Lítico Matiuzzi BI35RLZ-ST 22J 241464

7170501 Esquerda AID Reservatório Lítico Kives BI36RLZ-ST 22J 241017

7173795 Esquerda AID Reservatório Lítico Lajedo Rodeio 1 BI40CLM-ST 22J 246125 7175417 Direita AID APP e Reservatório Lítico Lajedo Rodeio 2 BI42CLM-ST 22J 246397 7175496 Direita AID APP e Reservatório Lítico Foss 1 BI43CLM-ST 22J 244885

7176283 Direita AID APP e Reservatório Lítico Porto Três Irmãos 1 BI44CLM-ST 22J 244521 7176293 Direita AID APP e Reservatório

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, LOCALIZAÇÕES E FILIAÇÕES CULTURAIS

FILIAÇÃO CULTURA MATERIAL TIPO NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO COORDENADA M AR GE M DO RIO IG UA ÇU ÁR E A DE ABRANG Ê NC IA ÁREA ESPECÍFICA

Lítico Sartori 2 BI46CLM-ST 22J 244718

7177073 Direita AII Lítico Córrego Maria BI47CLM-ST 22J 245760 7177179 Direita AID APP e Reservatório Lítico São Brás BI48CLM-ST 22J 245591

7178473 Direita AID

APP e Reservatório Lítico Vacaria BI50CPM-ST 22J 237450 7163518 Esquerda AID Reservatório APP e Lítico Linha Moraes BI51CPM-ST 22J 238516

7164665 Esquerda AID APP Lítico Alto Faraday BI52CPM-ST 22J 236034

7166810 Esquerda AID Reservatório Cerâmico Iguaçu BI23CLM-ST 22J 240474

7173112 Direita AID Reservatório

Ceramista não identificado Lítico de ceramista Córrego Estrela 1 BI04CPM-ST 22 J 235476

7173770 Esquerda AID Alagamento Lítico de

ceramista

Gonçalves

Dias BI10CLM-ST

22J 231086

7177159 Direita AID Canteiro Lítico de

ceramista Monteiro 1 BI12CLM-ST

22 J 233008

7176576 Direita AID Reservatório Lítico de

ceramista Luis Pitol BI29CPM-ST

22 J 236455

7172715 Esquerda AID

APP e Reservatório Lítico de

ceramista Ouro Azul BI31CPM-ST

22J 238145

7170056 Esquerda AID Reservatório

Tradição Tupiguarani

Cerâmico Córrego

Saltinho 1 BI05CLM-ST

22J 234534

7175237 Direita AID Reservatório Cerâmico São Luís BI06CLM-ST 22J 232150

7176600 Direita AID Infra-estrutura-alagamento Lito-cerâmico Córrego Laranjeira 1 BI07CLM-ST 22J 231959 7176517 Direita AID Infra-estrutura-alagamento Lito-cerâmico Andrada 1 BI08CLM-ST 22J 244642

7175669 Direita AII Entorno externo APP Lito-cerâmico 0Córrego Saltinho 2 BI13CLM-ST 22 J 235194

7175060 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Ponte Alta BI21CLM-ST 22J 240190

7170277 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Linha Hortelã

2 BI24CLM-ST

22J 240429

7172916 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Córrego

Leãozinho BI26CLM-ST

22J 241086

7175608 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Tecchio BI37RLZ-ST 22J 247682

7172204 Esquerda AID

APP e Reservatório Lito-cerâmico Monteiro 2 BI38CLM-ST 22J 234311 7178867 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Porto Três Irmãos 1 BI39CLM-ST 22J 246180 7175249 Direita AID APP e Reservatório Lito-cerâmico Doring BI41CLM-ST 22J 246306

7175151 Direita AII Faixa da APP Lito-cerâmico Sartori 1 BI45CLM-ST 22J 244084

7178310 Direita AID APP Lito-cerâmico Foss 2 BI49CLM-ST 22J 245581

7175676 Direita AID

APP e Reservatório

Tradição Itararé

Lito-cerâmico Marechal Lott BI09CPM-ST 22 J 232089

7175768 Esquerda AID Infra-estrutura-alagamento Cerâmica Antenor Raubert BI15CLM-ST 22 J 236332

7173982 Direita AID Reservatório Lítico Córrego

Caçula 1 BI17CLM-ST

22 J 236621

7173655 Direita AID Reservatório

Quadro 1. Quadro de sítios arqueológicos localizados nas áreas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu, com suas coordenadas e filiações culturais.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

A avaliação técnica do Programa de Prospecção sobre o potencial arqueológico e dos possíveis impactos decorrente da implantação e operação da UHE Baixo Iguaçu recomendou como medida preventiva e corretiva três (3) Programas Básicos Arqueológicos: de Resgate, de Monitoramento, e de Educação e Valoração Patrimonial.

Os Programas de Resgate Arqueológico são aconselháveis e devem ser implementados como medida compensatória quando obras de engenharia ameaçam integridade de sítios arqueológicos e, quando não há possibilidade de mudanças no projeto para salvaguarda das áreas de interesse arqueológico cientifico. Nesses casos o Resgate arqueológico visa, através de produção de conhecimento sobre eles, incorporá-lo à Memória Nacional.

A meta almejada pelos Programas é tentar minimizar e compensar os impactos negativos gerados pelas obras de instalação e operação da UHE Baixo Iguaçu sobre bens históricos/arqueológicos. A melhor estratégia, em consonância com a legislação e normas em vigência brasileiras e internacionais, refere-se à implementação e execução dos Programas Arqueológicos acima citados, que lidam diretamente com o bem patrimonial, cumprindo com o direito das comunidades humanas ao conhecimento do legado das gerações passadas.

Abaixo apresentamos ilustração com o croquis de localização dos Sítios Arqueológicos localizados durante o Diagnóstico e o Programa de Prospecção Arqueológica

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO F ig ura 1 Cro qu is de lo ca liza çã o s ít io s a rqueo g ico s UH E B a ix o I g ua çu

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

3. O EMPREENDIMENTO

A projetada Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu é o último aproveitamento hidroelétrico em cascata previsto para o rio Iguaçu (afluente do rio Paraná). A opção de construção é de arranjo geral clássico, de derivação curta, e é composto por lago artificial (reservatório), circuito de adução e geração (canal de adução, conjuntos tomada d‟água/casa de força e canal de fuga), vertedouro, barragem de enrocamento e área de montagem. A potência nominal a ser gerada pela futura UHE será de 350 Megawatts e integrará o Sistema Elétrico Nacional. O reservatório a ser formado terá em média 31,63 km2 de superfície com um perímetro de 225 km e se nivelará na cota 259 metros de altitude, sendo que o total da área inundada territorial é de 13,59 km2. O empreendimento se localiza no sudoeste do Estado do Paraná. O eixo do barramento situa-se a 174 km da foz do rio Iguaçu sobre o rio Paraná e está imediatamente a montante da confluência do rio Gonçalves Dias e do limite leste do Parque Nacional do Iguaçu, entre os municípios de Capanema, na margem esquerda, e Capitão Leônidas Marques, na margem direita, sob as coordenadas geográficas 25º 30‟ 12‟‟ de Latitude e 53º 40‟ 18‟‟ de Longitude. O acesso rodoviário ao local do empreendimento se dá pela rodovia BR 277 até o entroncamento com a estrada PR 182/163, seguindo por essa até o município de Capitão Leônidas Marques. A distância de Foz do Iguaçu é de 120 km e de Curitiba é de aproximadamente 500 km.

A Sociedade Anônima Geração água Grande do Grupo NEONENERGIA (CNPJ 09.136.819/0001-55) é detentora do direito de construção e operação da UHE Baixo Iguaçu obtida por leilão público.

O empreendimento será construído pelo CCBI - CONSÓRCIO Construtor Baixo Iguaçu, consórcio este formado pela Construtora Norberto Odebrecht S.A., Voith Siemens Hydro Power Generation LTDA. e pela Engevix Engenharia S.A.

A construção da UHE Baixo Iguaçu terá seu canteiro de obras centralizado e localizado à margem esquerda do rio Iguaçu, em área contígua à de implantação do barramento, com área total prevista de 0,7 km2. Ali estarão localizados as centrais de concreto, de armadura, de forma

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

e de britagem, alojamentos, oficinas, almoxarifados, escritórios, refeitórios e centrais de utilidade, bem como áreas de estocagem de materiais.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

3.1. ABRANGÊNCIAS

Considerando a abrangência diversa dos efeitos ambientais do projeto, foram definidas, quando dos estudos de impacto ambiental, três escalas de análises:

1 - Área de Influência Macro regional (AIM)

A Área de Influência em escala Macro Regional abrange toda a bacia hidrográfica do rio Iguaçu, considerando todas as usinas hidroelétricas existentes e àquelas constantes em planejamento governamental;

2 - Área de Influência Indireta (AII)

A Área de Influência Indireta compreende toda a bacia incremental para o futuro reservatório, sendo os principais afluentes no trecho do barramento e reservatório, margem esquerda: rios Capanema e Cotejipe, Margem direita: rios Monteiro e Andrada.

3 - Área de Impacto Direto (AID)

As Áreas de Impacto Direto consistem nos áreas atingidas pelo reservatório, faixa de proteção marginal, canteiro, acessos, bota-foras e demais intervenções, sendo esta a área de abrangência que concentrará a maioria dos trabalhos arqueológicos a serem desenvolvidos no Programa de Resgate Arqueológico.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO Figura 3. Área de Influência Indireta da Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO Figura 4. Área de Impacto Direto (AID) da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

4. CONCEITUAÇÃO

São considerados sítios arqueológicos os locais onde são identificados evidências de ocupações antigas. Colin Renfrew e Paul Bahn definem sítios arqueológicos como locais onde artefatos, ferramentas, estruturas, e vestígios orgânicos e ambientais são localizados juntos, caracterizando assim todos os locais onde houve atividade humana, seja para modificação ou obtenção de matéria prima, ou de estabelecimento temporário ou de duração indeterminada (RENFREW & BAHN, 2000: 50).

As sociedades pretéritas, sejam simples ou complexas, produziram quantidades significativas de vestígios, que permitem aos arqueólogos estudar as relações existentes entre comportamento humano e a cultura material e, a partir de então, produzir inferências sobre a história dessas sociedades. Além dos vestígios arqueológicos propriamente ditos, o estudo do contexto ambiental fornece dados indispensáveis para a compreensão das estratégias de subsistências adotadas, migrações, mudanças paleoclimáticas e transformações culturais, impactos de atividades antrópicas antigas sobre o meio, entre outros. Nessa perspectiva, a Arqueologia é considerada uma ciência social voltada ao estudo de sociedades humanas, independente da cronologia, mas calcada nas marcas na paisagem e na cultura material remanescente, bem como de seu arranjo e articulação.

Os sítios arqueológicos e vestígios nele encerrados devem ser tratados como vetores de informações passíveis de interpretação e reconhecidos como legítimos documentos da história, que expressam coisas sobre as pessoas que ali ocuparam e produziram cultura (BALLART, 1997). Para Sosa (1998) o patrimônio arqueológico deve ser entendido como um recurso frágil, não renovável e integrado ao espaço que ocupa. Ao considerá-lo como um recurso reconhece além de seu valor cultural, o seu valor econômico e a possibilidade de incorporação ao sistema social circundante, havendo, entretanto a necessidade da sua proteção e valorização. Define ainda a natureza do patrimônio arqueológico como uma produção cultural única e finita (porquanto seus criadores não mais existem), e específica quanto à disposição no espaço e na paisagem.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

Desse modo, a disciplina arqueológica é a indicada para tentar localizar e interpretar as ocupações humanas passíveis de ocorrência na área de influência do empreendimento, sejam essas ocupações relacionadas às populações indígenas - as quais recuam cronologicamente no tempo há milhares de anos atrás - ou à história da colonização da região.

1) Sítios arqueológicos (ST): o que basicamente o define é o quantum de informação que um determinado local ele encerra (DEETZ, 1967). Em 1958, Willey & Phillips definiram sítio arqueológico como a menor unidade do espaço a ser trabalhada pelo arqueólogo, podendo ir do pequeno acampamento à grande cidade. Os sítios arqueológicos apresentam expressivos vestígios em um determinado local, conformando estruturas com características afirmativas de atividade humana.

A definição de sítio adotada no presente trabalho de caráter prospectivo é de que “sítio arqueológico” está intimamente ligado com os limites das conclusões que se podem tirar para formar as bases para modelos de permanência, fixação e uso da terra. Ou seja, sítio arqueológico é um local limitado que reúne informações materiais significativas sobre o tipo, cultura e utilização dos recursos ambientais por grupos humanos do passado em um determinado espaço geográfico.

2) Ocorrência arqueológica isolada (OC): Outro termo utilizado neste programa é o de Ocorrência Arqueológica Isolada (OC). As ocorrências arqueológicas, resumidas a uma, ou a um pequeno número de unidades, podem ser resultado de atividades ligeiras ou de objetos caídos, perdidos e/ou fora de sua origem transportados por meios naturais ou antrópicos. Apesar da aparente desconexão, os OCs ainda guardam informações, se não pela própria peça, pela tipologia, matriz e, ainda, por sua posição. Ás vezes OCs podem indicar áreas de atividade, caça, roça, entre outros, ou mesmo periferia de sítios arqueológicos.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

5. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

Os Programas Arqueológicos de Resgate, de Monitoramento e de Educação Patrimonial, para os quais apresentamos o Projeto para sua realização, foram recomendados pelo Programa de Prospecção Arqueológica realizado durante a Fase de obtenção de Licença Instalação nas áreas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu em 2010/11.

Os trabalhos relacionados ao Programa de Resgate Arqueológico possuem como finalidade específica o estudo do patrimônio arqueológico identificado durante a realização do Programa de Prospecção Arqueológica nas Áreas de Abrangência da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu. Com esse objetivo as atividades aqui propostas seguirão as avaliações dos sítios constatados na nessa etapa anterior, e considerarão os critérios de prioridades e de significância arqueológica dos sítios e, ainda, as proposições teórico-metodológicas.

Os sítios arqueológicos localizados durante o Programa de Prospecção Arqueológica, juntamente com aqueles resultantes das pesquisas realizadas em décadas anteriores (tal como a executada durante PRONANA – Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – em finais da década de 1960, onde foram registrados 30 sítios arqueológicos (CHMYZ, 1971)1, e aquelas relacionadas ao início e ao desenvolvimento da exploração do potencial hidrelétrico do rio Iguaçu a partir da década de 1970, como os trabalhos de prospecção e resgate associados às obras da UHE Salto Santiago (1975-1979), que resultou no registro de 41 sítios 2; de resgate na UHE Foz da Areia (1975-1979), onde foram identificados 35 sítios3, e na UHE Salto Segredo (1990), que apontou a presença de mais 32 sítios4; e, ainda, às atividades relacionadas à UHE

1 Esta pesquisa, realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA – UFPR), compreendeu as margens do rio Iguaçu, divididas em três áreas: Alto, Médio e Baixo (CHMYZ, 1968). Em relação aos sítios arqueológicos identificados, 23 foram classificados como cerâmico, e 7 como não-cerâmico (CHMYZ, 1971).

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O número real de sítios arqueológicos identificados é de 38, pois os sítios multicomponenciais receberam registros diferentes para cada camada de ocupação. Assim sendo, 29 dos sítios foram classificados como lito-cerâmicos associados à Tradição Itararé, 03 como líticos filiados à Tradição Umbu, 03 como multicomponenciais (pré-cerâmico da Tradição Umbu e (pré-cerâmico da Itararé), 01 sítio da Tradição Bituruna e dais dois sítios, sendo um lítico e outro lito-cerâmico não associados a tradições arqueológicas.

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Dos sítios arqueológicos resgatados, 04 eram lito-cerâmicos associados à Tradição Itararé, com casas subterrâneas e aterros alongados, 01 relacionado à Tradição Bituruna, e o restante ou seja, 30 sítios – não foram filiados a tradições arqueológicas.

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Salto Caxias, entre os anos de 1995 e 1999, que registraram e cadastraram 120 sítios)5, confirmam não só o grande potencial arqueológico e a essencial importância do rio Iguaçu para na ocupação humana pretérita, mas também a grande variabilidade da cultura material e de seu aspecto componencial, abrangendo tanto populações pré-históricas quanto históricas, sendo importantíssimas documentações para a construção de um passado plural e heterogêneo para o Oeste paranaense.

Neste sentido, o Programa de Resgate Arqueológico por ora apresentado, cujo objetivo maior é minimizar os impactos negativos gerados pelo empreendimento e, sobretudo, compensar o mesmo mediante o resgate e a conservação de bens históricos/ arqueológicos, também se integrará com as atividades do Programa de Monitoramento Arqueológico e com o Programa de Educação Patrimonial. Para tanto são previstos trabalhos para cada sítio localizado e em seu contexto de ambientação, abrangendo coleta e processamento sistemático de dados, intervenções e escavações arqueológicas, execução de estudos e análises laboratoriais, ações de cunho educativo-patrimonial e apresentação dos resultados por meio de relatórios técnico-científicos. Ressalta-se que o planejamento e execução dos Programas devem ser compatíveis com o cronograma das obras, de forma a não prejudicar o desenvolvimento normal das pesquisas e das obras. Também deve seguir as prioridades de cobertura de áreas estabelecidas no Programa de Prospecção, em primeiro executar os trabalhos arqueológico e liberar as áreas destinadas a infraestruturas e barramento, para que se possa dar inicio as obras, e posterior, cobertura das áreas do reservatório e da faixa de depleção.

5.1. OBJETIVOS GERAIS

 Aplicar escavações exaustivas e sistemáticas nos sítios arqueológicos indicados pelo Programa de Prospecção Arqueológica da UHE Baixo Iguaçu;

5 Os trabalhos empreendidos na área de implantação desta UHE foram realizados, primeiramente, pela equipe do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA – UFPR) e sob a coordenaçãodo arqueólogo Dr. Igor Chmyz e, posteriormente, pelo Museu Paranaense, tendo como coordenadora a arqueóloga Dra. Cláudia Inês Parellada. Dos 120 sítios registrados, 02 foram relacionados à tradição Neobrasileira, 34 à Tradição Tupiguarani, 40 à Tradição Itararé, 03 à Tradição Bituruna, 36 à Tradição Humaita, 14 à TradiçãoUmbu, 03 a inscrições rupestre associados à Tradição Geométrica e 03 sítios líticos não relacionados às tradições arqueológicas.

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO  Promover o registro detalhado de cada sítio e de seu contexto de ambientação;

 Processar a coleta sistemática de amostras da cultura material contida em cada um dos sítios arqueológicos e de amostras geoarqueológicas necessárias à compreensão dos contextos abordados;

 Coletar amostras apropriadas para datação pelo método Termoluminescência ou Carbono 14, de modo a obter cronologias de ocupação da área;

 Encaminhar as amostras coletadas para fins de datação aos laboratórios especializados;

 Elaborar relatórios mensais que especifiquem as atividades desenvolvidas em campo;

 Realizar estudo e análise laboratorial do material coletado no decorrer das escavações arqueológicas, compreendendo: higienização, inventário, análises, interpretação, acondicionamento e guarda dos materiais e da documentação científica gerada em área de reserva técnica arqueológica;

 Sistematizar as informações obtidas;

 Executar ações de cunho educativo-patrimonial em sinergia com o Programa de Educação Patrimonial da UHE Baixo Iguaçu (visitas monitoradas as escavações arqueológicas);

 Construir a síntese da pesquisa arqueológica;

 Sistematizar e interpretar os dados de campo e de laboratório;

 Apresentar os resultados da pesquisa arqueológica, por meio de relatórios técnico-científicos, conforme exigências expressa na portaria de autorização da pesquisa, especificando as atividades desenvolvidas e apresentando os resultados científicos sobre a arqueologia do universo estudado (Portaria n. 230/2002);

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5.2. METODOLOGIA

Um Programa de Resgate Arqueológico se desenvolve em várias atividades. É preciso realizar arrolamentos exaustivos sobre a arqueologia e a etno-história regional, levantar e registrar a paisagem-arqueológica local, identificar pontos de oferta de matérias-prima e de nichos de produtos relacionados a subsistências e, principalmente, a execução de escavações arqueológicas, atividade esta mais demorada e de maior custo financeiro.

As escavações arqueológicas buscam evidenciar a organização do espaço vital do homem no passado, tentando reconstituir as atividades sociais em um determinado local (BINFORD: 1983, 179). Neste sentido, os trabalhos de escavação visam à evidenciação da espacialidade da cultura material deixada, in loco, por meio de decapagens em uma perspectiva contextual (horizontal) e temporal (vertical), objetivando “revelar” o passado e estabelecer a diversidade e a complexidade das estruturas arqueológicas nas dimensões temporal, espacial, cultural e social. Os métodos e as técnicas de escavações arqueológicas se desenvolveram muito por influência dos desdobramentos da própria Geologia e, principalmente, pelo trabalho de Hutton - que estabeleceu o princípio do uniformismo - e, mais tarde, de Lyell (RENFREW & BAHN, 2000), onde estabelecem os princípios da estratigrafia através da sua associação com estratos contendo vestígios inorgânicos com alterações intencionais (objetos trabalhados pelo homem) e com ossos de animais extintos (LLORET, 1997: 41).

No entanto, durante algum tempo ainda, a estratigrafia, em termos arqueológicos, seria encarada como uma construção teórica, definida pelo conteúdo dos estratos e não através da disposição física da estratificação. Desta forma, as escavações eram feitas por estratos artificiais (de espessura arbitrária previamente estabelecida), elaborando-se depois a estratigrafia, de acordo com as percentagens de material de cada camada e a sua profundidade (LLORET, 1997: 152). Entre os séculos XIX e XX, o general Pitt-Rivers e Sir Flinders Petrie estabeleceram os primeiros parâmetros para uma escavação com grande qualidade de registros (RENFREW & BAHN, 1996: 28). Pitt-Rivers (1827–1900), general do exército britânico, desenvolveu escavações lentas e meticulosas, inspiradas no rigor militar da sua formação, nas suas propriedades no sul de Inglaterra (TRIGGER, 1989: 197). Serão estes os primeiros arqueólogos

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a estabelecer escavações meticulosas, com registros exaustivos e cuidados com todo vestígio localizado.

Apesar do rigor pretendido por estes homens, faltava ainda o estabelecimento de uma metodologia que regularizasse os trabalhos arqueológicos, que pudesse servir de guia a arqueólogos e que se impusesse de forma quase universal. Este fator permitiu que o método instituído por Sir Mortimer Wheeler, na década de 1930, estabelecesse as bases de uma moderna Arqueologia (LLORET, 1997: 154). Apesar de colher diretamente dos seus antecessores influências metodológicas, coube a Wheeler o mérito de ter sistematizado, aperfeiçoado e executado o seu método (RAPOSO, 1996: 77). O método Wheeler (como viria a ficar conhecido), estabeleceu aquilo que se viria a se tornar a imagem de marca da Arqueologia moderna: as escavações verticais por quadriculamento do terreno com preservação de porções lineares (bermas) do mesmo como testemunhos estratigráficos.

Com o desenvolvimento de um pensamento processualista na arqueologia, se apresentam novas visões sobre os problemas metodológicos encontrados, mais adequados às novas questões colocadas pela Arqueologia. Percebeu-se que a existência das bermas, propostas pelo método Wheeler, levantava problemas à correta percepção do registro horizontal da escavação (LLORET, 1997:154). Assim, na década e 1970, Barker apresentou uma nova visão sobre os problemas metodológicos ao propor que todo o sítio arqueológico deveria ser escavado, não recorrendo a seções ou trincheiras de amostragem (BARKER, 1993). Assim, não deveriam ser deixadas interrupções físicas no interior da área escavada, pois, regra geral, “um sítio

arqueológico é provavelmente três vezes mais complexo em plano do que parece ser em secção”

(LLORET, 1997: 154; BARKER, 1993). Nascia, assim, o método open-area, baseado na suposição da escavação de superfícies amplas de terreno (LLORET, 1997: 154). Este método pretendeu, antes de mais nada, ter em conta cada camada ou seqüência estratigráfica na sua integridade horizontal (PELLETIER, 1985: 69).

O método de escavação em amplas superfícies privilegia, portanto, mais as inter-relações sócias intra-sítios, os modos de vida e a utilização do espaço do que dispersão espacial/cultural/cronológica que os trabalhos histórico/culturalistas até então desenvolviam.

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O arqueólogo francês Leroy-Gourhan desenvolveu durante a década 1950 o método topográfico/etnográfico que aliava intervenções verticais e de amplas superfícies. Suas escavações em abrigos e cavernas foram executadas com o desenvolvimento de abordagens verticais na execução de perfis (para detecção dos perfis estratigráficos do sítio), na execução de trincheiras (para detectar os mais diversos tipos de vestígios como fogueiras, sepultamentos, entre outros), e da abertura de amplas superfícies com decapagens por níveis naturais em áreas no interior do sítio com concentração de cultura material, as quais foram localizadas em abordagens verticais. Esse procedimento metodológico possibilitou as evidenciações de contextos de atividades sociais diversas, tendo como fulcro, o sítio, o espaço, a cultura material e a temporalidade, onde o fundamental era se conhecer o cotidiano das populações pré-históricas.

5.2.1. Escavações e coletas arqueológicas

Em relação aos métodos de escavação, deverão ser empregados tanto abordagens verticais como horizontais, adotando-se o método topográfico/etnográfico de Leroi-Gourhan de forma a obter dados referentes às:

 Atividades humanas desenvolvidas em um período particular da ocupação do local;

 Mudanças ocorridas nestas atividades ao longo do tempo;

 Semelhanças e diferenças entre os sítios estudados e os da região.

Lidaremos desta forma, com atividades que se desenvolveram de forma contemporânea estando, portanto, dispostas de forma horizontal no espaço, e com as mudanças nas mesmas, que ocorrem de forma vertical ao longo do tempo (RENFREW & BAHN: 1996, BARKER: 1993). Assim sendo, as escavações arqueológicas, ao mesmo tempo evidenciam solos contemporâneos de ocupação, também lidam com a sucessão dos solos, definindo variações nas formas de apropriação do terreno.

A técnica de escavação deverá enfatizar a dimensão horizontal, de superfícies amplas, trabalhando sempre com a planta topográfica da área de precisão milimétrica com plotagem das peças, conjuntos de peças ou estruturas. Isto se sucederá em profundidade, no momento em que

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cada solo evidenciado for devidamente mapeado e as peças coletadas, afundando-se em seguida para níveis mais profundos. O objetivo é revelar as relações espaciais entre estruturas e artefatos no espaço dos sítios.

Todo o sedimento retirado deve ser peneirado, as características e quantidades da matriz e do arcabouço anotadas e, coletados os materiais arqueológicos ou evidência arqueológicas móveis com valor arqueológico-cronológico, devidamente acondicionados em sacos plásticos com a identificação de procedência, delimitação das ocorrências, realização de croquis e descrição em fichas padronizadas.

Para o estabelecimento de cronologia absoluta, especial atenção deverá ser dada à coleta de material orgânico para datação arqueológica (método do C14), principalmente na forma de carvões, encontrados em estruturas de combustão (fogueiras), já que este se mostra um dado fundamental na análise dos sítios e de todas as discussões arqueológicas regionais realizadas ao término das escavações. As amostras deverão ser processadas, selecionadas e enviadas a laboratórios especializados, para o qual sugerimos o laboratório Beta Analytic Inc, situado na Florida - EUA, uma vez que não contamos com serviço de qualidade similar no Brasil.

É de relevância ressaltar que as datações servirão tanto como um dos fundamentos na distinção de diferentes assentamentos que se processaram na área, quanto para o estudo do desenvolvimento interno de cada um deles. Outro ponto importante será definir as características funcionais dos sítios (se de habitação, cemitérios, acampamentos, sítios cerimoniais), visto exigirem estudos específicos de territorialidade e articulação dentro do sistema.

Para a coleta das Ocorrências Arqueológicas (OC‟s), que são peças isoladas e/ou dispersas em baixa densidade no entorno imediato aos sítios, realizaremos com vistas à valorização da distribuição espacial dessas ocorrências, georreferenciá-las com a utilização de GPS de precisão centimétrica, de modo que em uma etapa posterior do trabalho se possa, e dadso para futuras pesquisas, através de softwares de sistemas de informação geográfica (GIS), cruzar todos os dados, produzindo mapas de dispersão do material em qualquer escala para manipulação em laboratório.

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Os padrões de distribuição constituem importante elemento de análise. Através da identificação de regularidades na disposição dos vestígios no interior dos sítios (análise intra-sítio) ou na disposição dos sítios entre si (análise inter-sítio) é possível evidenciar características de territorialidade, de organização e de interação sócio-econômicas. Assim sendo, artefatos, estruturas ou sítios não fazem sentido se examinados isoladamente, só podendo ser compreendidos como partes interagentes de um sistema sociocultural, dentro de uma estrutura articulada e dinâmica (RENFREW & BAHN,1996).

5.2.2. Laboratório

É, nesta etapa, que serão processados os dados obtidos a partir das escavações arqueológicas e atividades de campo, sendo feitas análises técnicas que culminarão na criação e obtenção de novos conhecimentos.

Os trabalhos de laboratório deverão tratar da limpeza e da identificação referencial, da triagem segundo a natureza dos objetos, da identificação das matérias-primas, da forma, do tamanho, da tipologia, da análise paleológica, dos sedimentos, da traceologia e da antropologia física, bem como das datações absolutas C-14 e termoluminescência).

As atividades laboratoriais serão iniciadas concomitantemente ao início das intervenções e escavações do Programa de Resgate Arqueológico, não só para que se estabeleça de imediato, uma inter-relação entre as informações geradas nos trabalhos de campo e aquelas, já mais refinadas, obtidas em laboratório, mas também para que se gere níveis mais elevados de informações e comunicações para o Programa de Educação Patrimonial.

5.2.2.1. Limpeza, Identificação, Análise e Acondicionamento

O material coletado em campo - que será imediatamente acondicionado em pacotes plásticos individuais com etiquetas de identificação com informações referente ao sítio ou ocorrência na seqüência diária de trabalhos, à coordenada UTM, ao contexto de deposição, à data da coleta, à

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relação de fotografias realizadas em campo e à sucinta descrição do material -, irá ser organizado em pacotes identificados por rótulos primários que abrangerá:

a) Identificação do projeto b) Código da peça c) Descrição da peça; d) Dimensões da peça; e) Contexto de deposição; f) Data da coleta. EPPC LTDA

Projeto de Resgate Arqueológico – UHE-BI UHEBI-OC1L1

Instrumento bifacial sobre seixo de arenito silicificado

4,5 x 11 x 2,2

22 K 601414 6816825 Superfície

xx/xx/xxxx

Figura 5. Exemplo de rótulo primário a ser utilizado.

As atividades laboratoriais consistirão no tratamento e na análise da cultura material coletada, que abrangerá os seguintes itens:

1) Higienização do material arqueológico, variando os procedimentos de acordo com os tipos de materiais, com o objetivo de não danificá-los de forma alguma;

2) Registro definitivo, individualizado e descritivo de cada peça, onde se ratifica, modifica ou completa o registro realizado em campo;

3) Marcação das peças de acordo com o sistema de codificação apresentado acima, realizando-se a aplicação de uma camada de laca em zona adequada da peça (no caso de materiais cerâmicos, na face interna e, no caso de materiais líticos, em face com o mínimo de lascamento ou com sua ausência), seguida, após a secagem, da escrita do

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código com tinta nanquim preta ou branca e finalizada, posteriormente à secagem da tinta, com uma cobertura de laca transparente para a fixação;

4) Registro fotográfico dos conjuntos de peças de cada sítio, visando à representação do conjunto artefatual como um todo;

5) Realização de descrição, análise e inventário individual das peças, assim como preenchimento de tabelas e pranchas específicas para cada tipo de artefato;

6) Seleção dos materiais mais representativos dos conjuntos para o recebimento de tratamentos mais detalhados, tais como a criação de desenhos, elaboração de fotografias e reconstituição gráfica;

7) Reconstituição dos materiais que apresentarem esta possibilidade;

8) Embalo dos materiais, que serão agrupados por formas ou coleção, para depósito definitivo em instituição museológica.

5.2.2.2. Considerações teórico-metodológicas na análise do material lítico

As análises tipológicas em arqueologia foram impulsionadas pelo trabalho da lista de tipos de F. Bordes de 1950, para o período Auchelense e Paleolítico Médio com a noção básica de estratégias de redução de núcleos. As informações qualitativas e quantitativas provenientes deste tipo de análise possibilitaram a substituição da utilização do artefato guia, onde um instrumento particular era tomado como marcador cultural. Na prática, no entanto, a análise tipológica permaneceu isolada de seu objetivo original, o contexto comportamental, decorrente das dúvidas a respeito da eficiência da utilização das tipologias morfológicas em interpretações da variabilidade cultural no registro arqueológico. Assim, a utilização da classificação sistemática dos artefatos pelas análises tipológicas restringiu-se na elaboração de uma descrição histórico-cultural (BAR-YOSEF, 2009).

A principal crítica a esta metodologia centra-se na impossibilidade de se compreender a natureza da variabilidade das indústrias líticas somente a partir das características morfológicas, ou no foco de instrumentos retocados e brutos com marcas de usos, sem considerar a dinâmica do processo de produção lítica, englobando uma interpretação que inter-relacione os demais vestígios do registro arqueológico, como núcleos e lascas, fornecendo uma compreensão das

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atividades técnicas desenvolvidas. Complementando esta questão, Fogaça (2003) enfatiza que a tipologia desconsidera a gênese do artefato (os processos de produção, com aquisição de matéria-prima, produção, uso e função, reciclagem e descarte) ao pressupor que a forma do objeto corresponde somente a conceitos mentais estabelecidos e não a eventuais readequações e reformulações de uso e acidentes provocados durante a produção do instrumento. Assim, ao desconsiderar o artefato como resultado de um processo tecnológico, proveniente de uma relação entre agente, objeto técnico e material, as análises tipológicas priorizam o aspecto final do instrumento ao vincular a forma a uma função, a partir de analogias a objetos presentes na experiência pessoal de cada pesquisador (MELLO, 2005).

Assim, os estudos de tecnologia em arqueologia foram impulsionados, sobretudo a partir do desenvolvimento de conceitos vinculados à antropologia social, filosofia da ciência e pré-história, por Leroi-Gourhan e Lemonnier, que visavam explicar a evolução da tecnologia (VIANA, 2005; SELLET, 1999). Dentre estes conceitos, destaca-se a idéia embrionária de

chaîne opératoire cunhado inicialmente por Mauss, como ferramenta na descrição das técnicas

tradicionais, sobretudo em observações etnográficas, concebendo o ato técnico como uma sucessão de etapas inter-relacionadas. No entanto, Mauss enfatizava que a técnica existe independente do instrumento, pois há técnicas do corpo, caracterizadas pelo modo de caminhar, falar e correr, e técnicas instrumentais, reduzindo estas a uma tendência funcional de aquisição e consumo de objetos (VIANA, 2005; FOGAÇA, 2003; MELLO, 2005).

Por sua vez, Leroi-Gourhan, na obra La geste et la parole de 1950, difundiu o conceito de cadeia operatória, apontando que a produção de instrumentos técnicos são provenientes de três grandes processos: aquisição (matéria prima), fabricação e consumo. Na totalidade de sua obra, o autor também enfatizava o movimento e seu resultado, ao considerar o instrumento como uma exteriorização do homem, sendo impossível analisar um instrumento isoladamente, já que este, tecnicamente, só existe com os gestos, permitindo a dinamização entre técnicas do corpo e instrumentais de Mauss. Assim, Leroi-Gourhan concretizou o conceito de cadeia operatória ao considerar a técnica como “simultaneamente gesto ou utensílio, organizados em cadeia para

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A análise do material lítico a ser resgatado pelo Programa de Resgate Arqueológico da UHE Baixo Iguaçu seguirá uma abordagem voltada para compreender as etapas de redução dos artefatos, tendo em vista que toda tecnologia lítica se organiza a partir da debitagem e/ou da façonagem. No primeiro caso, núcleos são preparados para a extração de lascas que servirão de suporte aos instrumentos; já no segundo, o próprio núcleo serve de suporte para os instrumentos. Para Collins (1975), os seguintes estágios são observados tanto na debitagem quanto na façonagem:

1) Aquisição da matéria-prima;

2) Preparação inicial do núcleo (debitagem) ou redução inicial do suporte (façonagem); 3) Redução primária (dando origem a bifaces e unifaces);

4) Redução secundária, ou seja, retoque; 5) Reavivamento ou reciclagem.

No caso dos instrumentos, especialmente, utilizaremos esta abordagem para classificá-los conforme possuam apenas lascamento primário ou também retoques.

Instrumentos

1) Com lascamento primário: poucas retiradas ao longo do contorno da peça, sem retirar completamente o córtex, e sem trabalho posterior para refinar os bordos;

2) Com retoques: após um lascamento primário mais intenso, retirando completamente o córtex, o artesão refinou os bordos do instrumento através de retoques contínuos ao longo do contorno da peça.

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As lascas que resultam deste processo podem fornecer informações mesmo na ausência de instrumentos ou núcleos. Podemos, assim, classificá-las como:

1) Lascas corticais ou primárias (com a superfície dorsal completamente coberta por córtex): relacionadas à preparação inicial dos núcleos ou à redução inicial (retirada do córtex) dos instrumentos;

2) Lascas de preparação de núcleo ou secundárias: lascas grandes e espessas que apresentam negativos de retiradas anteriores (portanto, não estão mais completamente cobertas por córtex);

3) Lascas de redução de biface: são aquelas resultantes da produção de instrumentos; são lascas pequenas, finas e ligeiramente curvas que apresentam, em sua superfície dorsal, negativos dos estágios anteriores de redução do instrumento.

Lascas

Lasca de preparação de núcleo

Lasca de redução de biface Lasca de redução de biface

Tal perspectiva pode ser combinada com os pressupostos de Andrefsky (1998) no que se refere à função dos sítios: quanto maior a diversidade artefatual de um sítio (e acrescentamos, quanto mais etapas de redução estiverem representadas), maior seria o número de atividades desempenhadas e o tempo de permanência no local. Sítios efêmeros de atividades específicas seriam indicados por baixa variedade artefatual e por apenas algumas das etapas de redução (por exemplo, apenas instrumentos, sem debitagem ou lascas que indiquem a produção dos instrumentos no local).

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A análise do material lítico levará em conta ainda, como metodologia de base, os preceitos propostos pelos estudos relacionados à concepção de cadeia operatória6 e desenvolvidos por Boëda (1997 apud HOELTZ, 2005; MELLO, 2005), empregados por FOGAÇA (2003) HOELTZ (2005), VIANA (2005) e MELLO (2005), onde serão levados em consideração, essencialmente, os seguintes aspectos: aquisição de matéria prima, produção (gerenciamento e/ou uso), e manutenção/descarte.

A aquisição de matéria-prima consistirá na avaliação de dois fatores: acessibilidade (indicando os tipos de matérias primas utilizadas e sua disponibilidade na região), e características (qualidade de lascamento, origem da matéria prima – transporte terrestre ou fluvial).

A análise da produção focará na descrição das etapas de lascamento empregadas na produção de um instrumento, objetivando a leitura diacrítica dos gestos técnicos, almejando o detalhamento dos conhecimentos cognitivos utilizados. Além disso, permite estabelecer os esquemas de produção (debitagem7 e façonnage8) e inferir o funcionamento do objeto (Unidades Tecno-Funcionais9).

A partir dos dados levantados na etapa anterior, é possível identificar possíveis estratégias de manutenção de determinados instrumentos, como o reavivamento do gume, ou reutilização de instrumentos quebrados, alterando os sistemas de função (para que) e de funcionamento (como)

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Segundo Boëda (1995 apud Mello, 2005), a cadeia operatória é a totalidade dos estágios técnicos necessários na produção de instrumentos, desde a aquisição de matéria prima bruta até o seu descarte, incluindo os vários processos de transformação e utilização de instrumentos.

7 “A debitagem consiste em produzir retiradas, em detrimento de um bloco, que servirão imediatamente como

instrumentos ou que serão objeto, num segundo momento, de uma transformação em instrumento” (FOGAÇA &

BOEDA, 2006: 675-6). O objetivo deste procedimento é a obtenção de suportes, no caso lascas, que poderão ser usados imediatamente, ou configurados a partir de lascamentos subseqüentes, indicados pela façonnage. Neste processo, são identificados, portanto, lascas e núcleos.

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“O façonnage consiste na redução por etapas sucessivas de um bloco de matéria prima tendo em vista conseguir um instrumento ou uma matriz cujas bordas serão, num segundo momento, arranjadas para a obtenção de vários instrumentos. (FOGAÇA & BOEDA, 2006: 676). Neste procedimento, o alvo é a configuração de um suporte, seja uma lasca ou um bloco, em um instrumento, não havendo núcleo, pois o interesse do artesão é produzir um instrumento a partir do suporte. Como o suporte pode ser uma lasca, este procedimento pode complementar a produção de instrumento iniciado com o processo de debitagem.

9 Segundo Lepot (1993 apud HOELTZ, 2005) um instrumento é formado por três partes: a receptiva, a qual recebe a energia necessária para o funcionamento do objeto, a preensiva, que permite o instrumento funcionar – sobrepondo-se a primeira em muitos casos, e a transformativa. Segundo Boeda (1997 apud HOELTZ, 2005) cada uma destas partes pode ser formada por uma ou mais Unidades Tecno-Funcionais (caracteres técnicos que coexistem em uma sinergia de efeitos), possibilitando a compreensão de uma complexidade organizacional no funcionamento do instrumento.

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projetados inicialmente para o objeto técnico. A impossibilidade técnica de transformação do instrumento ou inadequação ao uso, por exemplo, são aspectos que podem levar ao descarte do objeto.

5.2.2.3. Considerações Teórico-Metodológicas na Análise do Material Cerâmico

Os materiais cerâmicos, em suas variadas categorias, apresentam um essencial potencial interpretativo para os estudos arqueológicos. Geralmente exumados dos sítios arqueológicos cerâmicos em grande quantidade, estes testemunhos materiais apresentam um importante número de características e questões passíveis de serem analisadas e interpretadas: podem-se inferir sobre sociabilidades, hábitos alimentares e higiênicos, padrões econômicos, trocas comerciais, relações de prestígio, relações diante da morte, questões de gênero, entre outros. Recentemente, os estudos relacionados ao material cerâmico tem se diferenciado, apontando para estudos tecnotipológicos associados à concepção de cadeia operatória (MEDEIROS, 2007). Neste sentido, a análise da cerâmica, para além de quantitativa e serial10, tem se tornando também qualitativa, assinalando para a técnica não como um modo de satisfazer as necessidades materiais de um determinado grupo, atuando como apenas uma estratégia de adaptação ao meio, mas, ao contrário, como integrante de um sistema social, feito de escolhas e associada aos demais subsistemas que fazem parte da composição de uma sociedade (MEDEIROS, 2007: 21-22), contendo significados simbólicos e traços importantes da dinâmica cultural.

10 Tal metodologia de análise, ainda utilizada em pesquisas, foi amplamente utilizada pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), que se voltou, de acordo com Ana Nascimento e Suely Luna, aos estudos dos grupos ceramistas. Neste sentido, “para classificar a cerâmica, foram estabelecidos parâmetros que

identificavam os tipos, fases e tradições ceramistas a partir dos dados arqueológicos, utilizando-se também correlações etnohistóricas e etnolinguísticas”, tendo como principais elementos de classificação o antiplástico, a

decoração e as formas dos vasilhames (Cf.: LUNA & NASCIMENTO, 1994: 8). Com o encerramento do PRONAPA (1965-1970), iniciou-se um questionamento do quadro até então estabelecido em relação a aspectos teórico-metodológicos. Neste sentido, diante das críticas, novas propostas de análise e reflexão começaram a surgir, “onde a perspectiva principal é integrar a cerâmica em um contexto mais amplo” (LUNA & NASCIMENTO, 1994: 9), sendo necessário que, conforme Medeiros (2007: 21), o arqueólogo não compreenda a cultura material pela cultura material, mas que “estude o artefato dentro dos contextos sociais, culturais e tecnológicos, acima de

tudo buscando compreender como as escolhas estão inseridas nesses contextos: dos gestos técnicos que estruturam a manufatura de uma dada cultura material, perpassando pelo seu emprego social até o descarte”.

(34)

PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

Neste âmbito, várias técnicas instrumentais têm sido utilizadas para a análise e compreensão do material cerâmico com o intuito de compreender os grupos sociais pretéritos (GOULART, 2004; MEDEIROS, 2007). Dentre elas, ressaltam-se a microscopia óptica (GOULART, 2004) e a utilização da fluorescência induzida por raios ultravioletas. Por meio da microscopia óptica, “técnica que permite a caracterização dos materiais de interesse arqueológico, sejam as

matérias-primas, sejam os produtos cerâmicos [...]” (GOULART, 2004: 251), pode-se obter

informações valiosas sobre os materiais cerâmicos, tais como forma, constituição mineralógica da pasta, distribuição granulométrica, procedimentos técnicos de manufatura, presença de minerais corantes, utilização de aditivos – ou seja, de materiais adicionados à massa cerâmica para se conseguir técnicas propícias a uma boa secagem e cocção (GOULART, 2004: 257), tratamentos de superfície e a existência de fissuras ou quebras na pasta cerâmica, assim como bolhas de ar. Já com a fluorescência visível induzida por raios ultravioletas, técnica esta não destrutiva, pode-se obter informações a respeito de aspectos técnicos de execução e de constituição de materiais não mais visíveis a olho nu, como a presença de decorações muito desgastadas (IPINZA & POBLETE, 2011).

Ambos os métodos, assim sendo, são capazes de oferecer uma vasta quantidade de dados essenciais para se compreender as técnicas utilizadas por grupos sociais que as produziram e, conseqüentemente, as etapas de produção do artefato cerâmico, sem perda significativa do material a ser analisado.

Para a análise do material cerâmico, utilizaremo-nos da definição genérica de cadeia operatória, ou seja, da seqüência de operações para a realização da transformação da matéria-prima em artefato (PFAFFENBERGER apud MACHADO, 2006). A aplicação de tal conceito para a compreensão e em uma forma de classificação de conjuntos cerâmicos deve, portanto, considerar uma ampla gama de atributos relacionados a diferentes etapas desta cadeia, levando-se em consideração a percepção de combinações entre distintas escolhas tecnológicas no momento da manufatura, tais como matérias-primas selecionadas, técnicas de manufatura, tratamentos de superfície, resultados formais, técnicas decorativas e, até mesmo, atividades de uso e de descarte (MACHADO, 2006).

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PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO

Para obter tais informações, a análise do material cerâmico será executada em duas etapas: uma

quantitativa e outra qualitativa. Na primeira delas, ou seja, na qualitativa, levar-se-á em

apreensão de questões tipológicas e morfológicas, com o intuito de se estabelecer etapas de manufatura para os materiais exumados.

Em relação à morfologia, nossas observações se encontram consorciadas ao sistema de classificação cerâmica de Birkhoff (1933) e adaptada por Shepard (1965). Conforme Machado embasada nos escritos de Shepard (2006: 90), “a classificação [...] baseia-se na observação e

descrição dos pontos considerados chaves do contorno do pote, a partir dos quais é possível se ter uma idéia das dimensões”, onde devem ser observados (MACHADO, 2006: 90):

a) O ponto final da curva, na base ou lábio;

b) Os pontos que medem o diâmetro máximo e mínimo da curvatura; c) O ponto que marca uma mudança abrupta na curvatura;

d) O ponto que marca a inversão na direção da curvatura

O emprego de tal sistema de pontos-chave do material cerâmico proporciona a compreensão da morfologia dos instrumentos cerâmicos, facilitando também sua projeção e reconstituição a partir de fragmentos específicos, como no caso das bordas (MACHADO, 2006).

Na análise cerâmica aqui proposta, tendo-se em vista a lida não com vasos cerâmicos inteiros, mas sim com fragmentos cerâmicos, tais categorias serão simplificadas, adotando-se como parâmetros de análise a base, o bojo e a borda. Aqueles elementos que não apresentarem características para se afirmar que pertençam a alguma destas três categorias, serão classificados como fragmentos de cerâmica (MEDEIROS, 2007: 84). Importante também para a análise a ser desenvolvida são as classificações de estruturas de potes propostas por Shepard (apud MACHADO, 2006), onde podem ser de:

a) Orifícios restritivos (“restricted orifice”); b) Orifícios irrestritivos (“unrestricted orifice”); c) Pescoço ou gargalo (“neck”).

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