VARIAcAo LINGOiSTICA CORRELACIONADA A
,
USOS:
A varia~io linga18tica tem 8ido e8tudada em varias dimen-soes. Ji 8ao hem conhecidos estudos de varia~ao diacronica, dia-topica e diastritica que tratam de correla~Oes com 0tempo, es-pa~o geografico e espa~o social, respectivamente. Para esses es-tudos ja hi uma metalinguagem consensual e unidades anal!ticas reconhecidas como: diale~o, lingua, sotaque; socioleto, etoleto, sexoleto.
Ao contririo destes estudos de correla~oes com tipos de usuirios, os estudos das correla~Oes com tipos de usos lingft!s-ticos nao estao tao avan~ados, 0que pode ser percebido pela falta de consenso ate com rela~ao ao rotulo a ser adotado para o tipo de varia~ao: varia~ao diat!pica/diafasica. Alern disso, observamos algumas coocorrencias que tern pouco em comum como: registro da propaganda, registro academico, registro de
esto-gistro jornal!stico, registro jur!dico, discurso materno que nos dao a impressao que REGISTRO e um termo vazio, um sinonimo
*Professora Adjunto do Departamento de LingUistica, Letras Classicas e Vernaculas da Universidade Federal do Parana.
ta~ao: que sintonizam a linguagem com usos bem especificos. Observando com mais vagaras coocorrencias acima citadas vamos perceber que por detras desse aparente caos ha urn esquema, ha urna ordena~ao. Porern nao e urn esquema simples, mas sim urn esquema de muitos pIanos, todos eles variaveis.
Cada urna das coocorrencias acima citadas destaca urn dos pIanos que tern que ser levados em considera~ao no estudo do Re-gistro:
a. registro jurldico - revela varia~ao correlacionada com assunto, area de conhecimento culturalmente rele-vante:
b. registro academtco - revela varia~ao do contInuo que vai do mais tecnico-cientlfico para 0menos tecnico/cien-tIfico:
c. registro escrito - revela a varia9ao em rela9ao ao meio de expressao formal: escrito ou falado:
d. registro oral - revela varia9ao em rela~ao ao meio de realiza~ao: grafado ou oral:
e. registro formal - revela varia9ao de acordo com ograu de formalidade:
f. registro materna revela varia9ao ca acordo com grau de solidariedade:
g. registro de estOrias infantis - revela a varia9ao de acordo com 0genero (tipo de texto):
h. registro da propaganda - revela varia9ao segundo a fun9ao comunicativa do texto: referencial, conativa, expressiva, etc.
Com a identifica9ao das escolhas feitas nesses p~anos em um determinado discurso podemos classificar cada realiza9ao de
urn Registro, pois cada uso requer urna escolha adequada de cada urndesses requisitos.
Por exemplo, alguem que e convidado para participar de urn congresso podera fazer as seguintes escolhas: preparara urn texto escrito com estrutura de oonferencia, de urn determinado assunto, com enfase na fun~ao referencial; e 0 apresentara
oral--.ente
em tom foDla1 e nao-solidirio.Ao final de sua conferencia, aberto 0 debate, automatica-mente seu discurso sofrera adequa~oes. Continuara fa lando sobre o mesmo assunto mas pas sara para uma linguagem puramente oral, falada. Podera se tornar mais info~l e ate tornar sua fala mai s oonati va sem se tornar solidario.
Ao final do debate, conduzido ao cafezinho, podera mu-dar de assunto, falar sobre a copa do aundo, numa conversa in-formal, fatica.
Mais tarde esta mesma pessoa pode telefonar para amigos para ter noticias deles e de suas familias. Falara ao telefone de modo informal, solidario misturando fun~oes: expressiva, 00-nativa, referencial e fatica.
Mandando urn cartao postal para sua familia produzira um texto adequado para cartao postal, dizendo da viagem, em lin-guagem oral, apesar de grafada, em estilo informal-intima, so-lidario e expressivo.
Os exemplos evidenciam que no processo de adequa~ao da linguagem ao uso e necessario que se fa~am escolhas em todos esses niveis.
Em cada ocasiao 0 resultado das escolhas e sempre uma intersec~ao de pontos de varios pIanos.
Diante desta constata9ao podemos definir REGISTRO como sendo 0 resultado final dessas oito escolhas? 0resultado da intersec9ao desses oito planos?
De certa forma sim: do ponto de vista da sUbstancia, da realiza~ao caso a caso.
Do ponto de vista formal, no entanto, para que se tenha clara a n09ao de REGISTRO e precise verificar qual dessas oito variaveis e mais constante, e mais resistente as mudan~as que possam ocorrer as demais variaveis.
Esta seria a dimensao definidora da no~ao de REGISTRO. A formalidade, solidariedade, tecnicalidade sac afasta-das ja de inIcio por serem relativas. As marc as de formalidade, tecnicalidade, solidariedade nao sac absolutas. Elas variam de momenta para momenta, de situa~ao para situa~ao.
A variavel escrita/falada tambern pode ser descartada com facilidade ja que todos os usos podem ser realizados por estes dois meios, com maior ou menor naturalidade.
Genero e fun~ao nao sac tao claramente afastados ambos tern marcas lingaIsticas mais permanentes, como e 0
da estoria infantil e da propaganda.
No entanto, verificamos em qualquer lIngua que ha maia usos do que a soma dos generos e das fun90es realizaveis na cul-tura correspondente.
Ao analisarmos 0 item 'area de conhecimento'/'assunto'/ 'conhecimento culturalmente relevante', verificamos que e 0 item que se mantem constante ap~sar de altera90es de formalida-de, solidariedaformalida-de, tecnicalidade, linguagem escrita/oral, gene-ro, fun~ao.
Um medico pode tratar de urn assunto de sua area: 1. ora1mente ou por escrito;
2. can linquaqem mais ou menos tecnica; 3. com mais ou menos formalidade;
4. com mais ou menos solidariedade; 5. em varios qeneros (tipos de texto); 6. em qualquer fun<;rao.
Alem disso, 0 surqimento de novas areas de conhecimento causa 0 aparecimento de novas variedades de uso, como por exem-plo mais recentemente 0 reqistro da informatica com seus chips, disquetes, softers, hardwares.
A dimensao definidora de REGISTRO e,na verdade,a area de conhecimento culturalmente relevante.
Como as areas de conhecimento culturalmente relevantes se refletem no lexico, 0 REGISTRO e caracterizado fundamehtal-mente pela escolha lexical e, em decorrencia disso, uma ultima evidencia que se poderia apresentar em favor do carater de "re-fletor do conhecimento" do REGISTRO e a multiplica<;raode dicio-narios especializados no mercado: Dicionario Medico, Dicionario de LingnIstica, Dicionario de Teoria Literaria, Dicionario de Quimica, etc.
Voltando as coocorrencia apresentadas no inicio, consi-derarlamos adequadas as que se referem a: registro juridico, registro de futebol, registro das artes, por refletirem areas de conhecimento; mas inadequadas as que se referem a: reqistro formal, registro de estorias infantis, registro escrito, etc., pois estas referem-se a aspectos nao diagnosticos da variedade rotulada REGISTRO.
1 CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramatica do Portugues contemporaneo. Rio, Nova Fronteira, 1985.
2 HALLIDAY, M.A.K. Explorations in the Functions of Language. London, Edward Arnold, 1973.
3 HALLIDAY, M.A.KJ MCINTOSH, AngusJ STREVENS, Peter. As Cien-cias LingftIsticas e 0 Ensino de LInguas. Petropolis, Vo-zes,
1971.
4 LYONS, J. Semantics. London, CUP, 1977. Vol.2.
5 REGO, L.B. A escrita de estorias por crian~as: as implica-~oes pedagogicas do uso de um registro lingftIstico. In: DELTA. Vol.2, n9 2. 1986. p.165-80.