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Atendimento Sistêmico a Famílias de Pessoas com Deficiência e a sua Rede Social em um Centro de Referencia da Assistência Social CRAS

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Atendimento Sistêmico a Famílias de Pessoas com Deficiência e a

sua Rede Social em um Centro de Referencia da Assistência

Social – CRAS

Área temática D - Desenvolvimento humano e social

Maria Otaviana Mindêllo Muschioni Equipe Práticas Sistêmicas otavianamuschioni@gmail.com

Soraya Corgosinho Soares do Amaral Equipe Práticas Sistêmicas sorayaamarall@hotmail.com

Resumo

Este trabalho pretende abordar a prática de Atendimento Sistêmico às famílias e sua rede social, realizado por duas profissionais sistêmicas, em quatro Encontros Conversacionais com as famílias de pessoas com deficiências e sua rede social, em um Centro de Referência da Assistência Social – CRAS, de Belo Horizonte. Será apresentada uma das etapas da Metodologia de Atendimento Sistêmico – a Realização de Encontros Conversacionais com a Rede – o “sistema determinado pelo problema” – SDP, com o objetivo de análise das transformações do sistema, durante o atendimento. A prática deste Atendimento Sistêmico partiu de uma situação-problema vivenciada pelos profissionais do CRAS e evidenciou que os vínculos interpessoais, quando estabelecidos, mantêm a conectividade da rede social, pois, aproximam seus membros, por meio das relações entre indivíduos, famílias, redes sociais das famílias e rede de serviços. O uso da Metodologia de Atendimento Sistêmico, trabalhando com as redes sociais, permitiu às profissionais a abordagem do fenômeno mantendo a sua complexidade e possibilitou ao sistema a coconstrução de novas narrativas sobre a situação-problema, em um contexto conversacional de autonomia. Neste contexto, as famílias ficaram mais empoderadas e foram recuperando seus recursos nas próprias conversações do sistema, viabilizando a garantia dos direitos das famílias usuárias do CRAS e a inclusão social de seus membros com deficiência.

Palavras-chave: Metodologia de Atendimento Sistêmico. Famílias e Redes Sociais.

Encontro Conversacional do SDP. Inclusão social da pessoa com deficiência.

Introdução: A prática de Atendimento Sistêmico

A prática de Atendimento Sistêmico aqui relatada foi realizada por duas profissionais sistêmicas, que compuseram a equipe sistêmica que coordenou quatro Encontros Conversacionais de um sistema lingüístico que se constituiu em torno da situação problema: “A Integração entre o Centro de Referência da Assistência Social- CRAS, as famílias, as pessoas com deficiência e a comunidade em busca da inclusão social”, em um CRAS da Regional Oeste de Belo Horizonte. As famílias convidadas para participar destes encontros foram: famílias de pessoas com deficiência cadastradas no CRAS, famílias da lista do Serviço de Proteção à Pessoa com Deficiência da Regional Oeste de Belo Horizonte e famílias identificadas pelos técnicos do CRAS, por meio de visitas domiciliares, no território de

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abrangência deste Serviço. Quanto à rede social convidada para participar dos Encontros Conversacionais foi identificada em conversações, entre a equipe sistêmica e o CRAS - e ainda houve ampliação durante os encontros – sobre quem mais poderia estar interessado em conversar sobre a inclusão social de pessoas com deficiência

A realização do Encontro Conversacional corresponde a uma das etapas da aplicação da Metodologia de Atendimento Sistêmico, na qual acontecem as assembléias do “sistema determinado pelo problema” – SDP. Esse sistema é distinguido como um sistema lingüístico constituído de pessoas que estão conversando sobre algo que elas próprias definem ou consideram como problema, ou seja, algo que, na percepção delas, não está bem, não está como deveria estar e, em geral, tendo opiniões divergentes ou posições antagônicas em relação ao que está acontecendo.

Segundo Maturana (2001), sistemas humanos são constituídos de pessoas em interação, conversando, linguajando, construindo significados. Maturana afirma que nós, seres humanos, existimos como tais na linguagem, e tudo o que fazemos como seres humanos fazemos como diferentes maneiras de funcionar na linguagem. O linguajar é nosso modo de existir como seres humanos.

Assim, o sistema a ser atendido, quando se realiza o Atendimento Sistêmico, é definido como (...) um “sistema determinado pelo problema” – SDP (Goolishian, Winderman, 1988/ 1989), composto todos aqueles que estão ativamente comprometidos em uma conversação sobre a situação-problema, inclusive o próprio profissional interessado por ela, não se restringindo o sistema a limites estabelecidos por relações de consangüinidade, organizacionais ou legais. (AUN, 2010, p.102)

Metodologia: A realização dos Encontros Conversacionais

Essa etapa do processo do Atendimento Sistêmico é um momento rico para a criação e o estabelecimento de vínculos afetivos que viabilizam ações intersetoriais e interdisciplinares e ações colaborativas e protetivas de apoio às famílias na resolução de suas situações-problema. Em conversações com a equipe sistêmica, a equipe do CRAS se referiu as dificuldades que tem experimentado, uma vez que o trabalho que antes era desenvolvido com essas famílias pelo Serviço de Proteção, agora passaria a ser incumbência do CRAS:

 dificuldade em abordar as famílias de pessoas com deficiências e em mobilizá-las para um trabalho, porque não havia ainda um vínculo entre o CRAS e essas famílias;

 dificuldade em conversar com a escola sobre a questão da inclusão de crianças e adolescentes com deficiências;

 dificuldade de desenvolver ações intersetoriais entre o CRAS e a rede de serviços, o que torna mais difícil fazer os encaminhamentos e desenvolver o trabalho em parceria, em prol dessas famílias.

A equipe sistêmica distinguiu essas dificuldades como relacionais, referentes a dificuldades de relação entre a equipe do CRAS, as famílias de pessoas com deficiência, as escolas e até mesmo com a rede de serviços. Assim, coube-nos tirar o foco dos aspectos negativos, aqui apresentados como dificuldades e transformá-las em proposta de mudança, o que, segundo Esteves de Vasconcellos (2010), seria uma condição para se conseguir encaminhamentos de solução para a situação-problema. A equipe sistêmica, a partir das conversações com a equipe técnica do CRAS definiu então a situação-problema de forma positiva, ou seja, na forma de situação-problema solucionável: “A Integração entre o Centro de Referência da Assistência Social - CRAS, as famílias, as pessoas com deficiências e a comunidade em busca da inclusão social”.

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Na coordenação dos Encontros Conversacionais a postura da equipe sistêmica foi de colaboração e de “não saber” (ANDERSON; GOOLISHIAN, 1993), ou seja, de alguém que não tem um conhecimento privilegiado sobre a situação-problema a abordar, mas que faz parte do sistema, criando e coordenando um contexto de autonomia que viabilize a coconstrução de alternativas de solução para a situação-problema.

Aun (2006) define coconstrução como “processo conversacional em que todos os membros do sistema atendido participam na construção de alternativas ou de novos significados que dissolvam o problema em torno do qual o sistema se organiza”. E o contexto de autonomia é definido como um contexto conversacional dialógico, em que todos seus membros têm igual direito à voz, exceto aquela pessoa ou equipe que está na posição de coordenação e manutenção do contexto conversacional (AUN, 2010).

Desenvolvimento e Resultados dos Encontros Conversacionais

Os Encontros Conversacionais foram desenvolvidos com espaço de tempo entre eles de aproximadamente vinte dias, com duração de três horas cada e participaram em média trinta pessoas. Nos quatro Encontros Conversacionais, pode-se observar o desenvolvimento da participação de todos os membros do sistema na construção de alternativas e propostas de ações para as situações por eles mesmos trazidas para as conversações. Para Sluzki (1997, p. 66):

[...] a convocação e coordenação das reuniões de rede com a inclusão de todos os representantes de agências de serviço social e outros sistemas de ajuda favorecem mudanças qualitativas na maneira como os participantes falam sobre os problemas. Essas reuniões, bem conduzidas, têm o efeito de aumentar o poder de decisão e autonomia dos pacientes e das famílias, e, portanto, favorecem mudanças terapêuticas cruciais.

1º Encontro Conversacional do SDP

O primeiro Encontro Conversacional foi realizado com as famílias e o CRAS, já que os vínculos entre ambos estavam sendo construídos junto com a proposta destes Encontros Conversacionais. Este foi um momento em que o CRAS e as famílias puderam se conhecer melhor, falar de como pensam a integração entre o CRAS e as famílias e dizer de suas dificuldades e expectativas com relação à inclusão social da pessoa com deficiência. Para exemplificar, seguem-se algumas opiniões de alguns participantes que se posicionaram a favor da inclusão das crianças com deficiência na escola regular e outros que eram a favor da escola especial.

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Quadro 1- Posições Antagônicas em relação à inclusão na escola regular e na especial

Opiniões a Favor da Inclusão das Crianças com Deficiência na Escola Especial.

Opiniões a Favor da Inclusão das Crianças com Deficiência na Escola Regular

Mãe 1: “Se a professora não tem paciência, isto não é inclusão; querem acabar com a escola especial; acho errado porque nem toda professora ou estagiária vai ter condições de cuidar de nossos filhos”.

Coordenadora da conversação: “Quem concorda com esta mãe?”

Mãe 2: “Concordo, porque inclusão de criança especial não funciona em escola normal. Na escola de Ensino Regular são muitas crianças que as professoras têm de cuidar e mais as crianças especiais é muito difícil. Meu filho ficava isolado; ele regrediu e só melhorou na escola especial. Inclusão em escola normal não funciona para a criança especial, porque a Prefeitura não preparou os professores, nem o ambiente físico está preparado”.

Mãe 3: “Concordo, a criança fica humilhada, tinha que ter salas especiais dentro da escola regular”.

Mãe 4: “Procurei a regional para falar sobre a inclusão na escola regular. Uma andorinha sozinha não faz verão, é preciso juntar mais mães”.

Mãe 5 expõe sobre as mudanças da escola regular para que ocorra a inclusão: “Tem que vir de cima, do governo. (...) Governo junto com a família e escola, trabalhando juntos para que ocorra a inclusão”.

Mãe 6 expõe que deve ter “professores aptos para ajudar nossos filhos”.

Coordenadora da conversação pergunta: “Como deveria ser a professora na sala de aula?”

Mãe 6: “Integrar e acolher sem discriminar”

2º. Encontro Conversacional do SDP

Para o segundo Encontro Conversacional do SDP houve a ampliação deste sistema conversacional e outras instituições foram convidadas a participar. Neste encontro, ocorreram trocas de informações entre os serviços e famílias e houve relatos de mobilização de famílias em busca de soluções para seus problemas, saindo da posição de queixas.

Mães expressaram a busca de soluções para a inclusão na escola de ensino regular, como nas colocações abaixo:

-Mãe 1: coloca que está mais esperançosa e mais estimulada com relação à escola de ensino regular, pois está mais presente na escola de seu filho;

-Mãe 2: expõe que, diante da falta de estrutura da escola de ensino regular para receber o seu filho com deficiência, ficou insegura. Mas, por conta da qualidade do ensino desta escola, ela insistiu em matricular seu filho, sendo ele o primeiro aluno com deficiência desta escola. Ela ficou feliz com a sua integração com os colegas. Depois dele, vários outros alunos com deficiência chegaram à escola. Ela conclui: “Obstáculos surgiram, mas eu não me deixei abater. Meu filho quer estudar para chegar ao mesmo lugar do presidente Lula”;

-Mãe 3: diz que superprotege seu filho, por medo do que pode acontecer com ele junto a outras crianças. Ele pode cair ser empurrado e apanhar. Ela disse: “Foi difícil abrir mão da superproteção. Tomei consciência de que meu filho não viverá para sempre num ambiente especial”.

Este movimento das famílias gerou trocas de experiências entre elas, o que viabilizou mudanças de premissas da impossibilidade da inclusão de seus filhos na escola de ensino regular para a possibilidade de incluí-los nelas. As pessoas passam a ver saídas, possibilidades de solução e partem para a ação. Foi o caso de uma mãe que, no primeiro encontro, defendeu a permanência de seu filho na escola especial e que, entre o primeiro e o segundo encontros,

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conversou com uma escola de ensino regular e se sentiu mais segura para incluí-lo nesta escola.

3˚ Encontro Conversacional do SDP

O terceiro Encontro Conversacional contou com a participação de novas instituições, as quais trouxeram grandes contribuições.

Verificou-se que, através das conversações sobre a integração entre a escola, o CRAS, as instituições que desenvolvem trabalhos com crianças sem deficiências há possibilidade de uma abertura mais efetiva para a inclusão, como por exemplo articular as atividades entre elas para receber a pessoa com deficiência. Percebeu-se um maior empoderamento das famílias, nas conversações deste encontro.

Bronzo (2009 p. 177) define empoderamento como algo que se processa no meio da relação entre usuários e agentes públicos como produto emergente das relações que se estabelecem entre as famílias, os agentes, as redes de políticas e as redes sociais. Sen, (1997) citado por Bronzo (2009), empowerment envolve poder, implica alteração das relações de poder em favor daqueles que contavam com pouco poder para manejar sua vida, no sentido de ter maior controle sobre elas.

Observou-se a mudança de posição de uma mãe que a princípio se apresentou muito queixosa dos três filhos que, segundo ela, têm “problema”. Ela não conseguiu ficar até o final do primeiro encontro, seus filhos estavam inquietos e com atitudes de chamar a atenção para si, dificultando o andamento da conversação. No segundo encontro esta família não compareceu e novamente foi convidada para o terceiro encontro, no qual compareceu. Inicialmente, a postura da mãe era a mesma, a de se colocar sempre queixosa. Durante o encontro, foram percebidas algumas falas, que demonstraram um movimento em direção a uma mudança desta postura para a de uma participação efetiva dela na conversação. A mãe diz: “Não tenho animo para sair, não posso fazer nada e a minha vontade é de sair correndo, correndo, sumir, sumir. Eu enfrento preconceito, pois os outros pensam que sou mendiga, que não trabalho, mas eu tenho que cuidar das crianças, elas me dão muito trabalho”. Neste terceiro encontro ela conseguiu falar de si mesma, de como se sente diante das dificuldades que enfrenta. De uma forma não verbal, olhava para os filhos e numa tentativa de dizer-lhe para ficarem quietos. Ela ficou até o final da conversação e prestou muita atenção a tudo o que fora dito. As crianças ficaram mais tranqüilas e participaram algumas vezes na roda, dando opinião.

Outra mãe reavalia sua posição diante de situações em seu cotidiano em relação a inclusão e expõe: “Eu sempre achei que tenho uma mente aberta e vez ou outra eu me pego tendo preconceito homossexual, foi isso que aprendemos e isso não é normal”.

A participação da escola trouxe um novo olhar para as famílias e vice e versa, pois ambas puderam perceber a realidade de cada um em seu espaço “privado”. Como mostra a transcrição desta conversa:

Vice-diretora da escola diz: “enfrento muita dificuldade na questão da inclusão. Como por exemplo, temos uma aluna com deficiência que precisa do estagiário e não enviam o estagiário. Esta é uma criança difícil, pois bate nos outros, cospe nos outros, etc.. Ela ficou um tempo em casa e o pai chegou bravo na escola e com razão, porque precisava que a filha estivesse na escola. Procurou a secretaria de educação da regional e ficou sabendo que a estagiaria que vinha para a escola foi fazer um curso com duração de um mês. As famílias devem se mobilizar em relação à reivindicação de ter o estagiário para as crianças com deficiência”. Diz de mais uma dificuldade, que a escola tem de ter acesso às informações do

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médico e as de outros profissionais que acompanham a criança, ou seja, fazer uma parceria. E percebe também que a família precisa ter uma percepção das possibilidades de seus filhos com deficiência. Fala sobre o desgaste do professor, que esta com o cabelo caindo e etc., Ela tem desafiado uma professora a acolher uma criança.

A coordenadora da conversação faz uma proposta para os participantes, dizendo: “vamos imaginar de que forma pode-se trabalhar com esta criança: se você tivesse uma varinha mágica, o que faria?

Pai: “Faria uma escola só para deficientes, mas a Lídia falou na primeira reunião que isto é discriminação”.

Vice-diretora: Buscar o equilíbrio, pois não podemos tirar o direito da criança de conviver com o diferente, mas possibilitar um atendimento mais especial também.

Conselho Tutelar: “Criança tem direito ao atendimento e se não consegue a família deve buscar o Conselho e requisitar o serviço. Mas, o que geralmente acontece, é que, quando chega ao Conselho, já tá afundando. Quando a escola fala do estagiário, eu fico pensando (...) já recebemos solicitações isoladas, mas o conjunto tem força. É preciso também ter uma demanda para que tenha um estagiário. O Conselho requisita o serviço e faz o encaminhamento. É um espaço de direito da criança e do adolescente”.

Esta fala do Conselho dentre outras mostrou a possibilidade de desmistificação da idéia de punição e de ameaça do Conselho para as famílias e demonstrou que a relação entre ele pode ser de parceria, na busca do bem estar da criança e do adolescente.

Representante da Educação da Regional: “Quero retomar com o grupo que agora que estas pessoas (com deficiência) estão ocupando este espaço, que antes não era ocupado. São dez anos que o município esta trabalhando, o que ainda é pouco. E ainda estamos aprendendo. O estagiário é uma estratégia desta prefeitura, a lei não diz isto. Estamos enfrentando dificuldades de contratação pela mudança de prefeitura. Às vezes, o estagiário não se adapta com a criança e tem que ser trocado e fazer nova contratação. O maior desafio é formar uma rede junto com todos os serviços, Conselho Tutelar, Escola, Saúde, Família, CRAS, para discutir o caso. Temos muitos serviços e ainda não conseguimos sentar e formar está rede”. Neste encontro, ainda foram trabalhadas algumas sugestões sobre as dificuldades apresentadas pelas famílias nos outros encontros, ao mesmo tempo em que surgiram em suas falas outras dificuldades. Vejamos quadro a seguir:

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Quadro 2 – Problemas e sugestões de ações

Problemas Sugestões 1- Aprender a ser mãe de pessoas com

deficiência.

2- Conhecer as limitações do meu filho e suas potencialidades.

3- Deslocamento das famílias para as atividades especiais que os filhos necessitam é difícil.

4- Dialogar com outras famílias que não têm pessoas com deficiência (principalmente com mães de colegas de nossos filhos)

5- Construir a inclusão da pessoa com deficiência com todas as pessoas da família.

1- As famílias devem buscar juntamente com a escola como vencer as dificuldades apresentadas pelos filhos.

-Abrir mão dos cuidados excessivos que nós temos para com nossos filhos, pois nem sempre estaremos junto a eles para ajudá-los. 2- Respeitar os limites individuais de cada um, aceitando que cada um se desenvolve de uma maneira particular. E também conhecer as potencialidades de cada um.

-Criar um diálogo entre famílias e equipe médica para obter informações e compreender melhor a deficiência.

3- Seria bom se as mães tivessem coisas para fazer enquanto esperam os filhos nas atividades terapêuticas.

-Seria bom que as atividades terapêuticas fossem próximas de onde moramos.

Entre este encontro e o próximo a escola conversou com uma das técnicas do CRAS, dizendo que gostou de participar do encontro e queria continuar. Para a técnica isto que aconteceu foi uma mudança muito significativa. Para ela a escola está mais receptiva e aconteceu uma maior visibilidade em relação ao CRAS junto à comunidade, pois quatro famílias com pessoas deficiência já foram procurá-los para expor suas necessidades.

4˚ Encontro Conversacional do SDP

Neste encontro, foram trabalhadas as propostas de ações para as dificuldades de inclusão por eles apresentadas nos Encontros Conversacionais. A coordenadora do encontro leu os itens e as propostas que foram levantadas nos dois encontros anteriores e perguntou para os participantes qual dos seis itens - lazer, saúde, acessibilidade/transporte, escola, CRAS e família - gostariam de desenvolver em busca de solução.

Uma mãe propôs que o item escolhido fosse a escola e compartilhou que: “ontem tive uma surpresa boa, meu filho está escrevendo. Ele escreveu meu nome e eu falava as letras ...eu não acreditava no que estava vendo”. Os participantes aceitaram a sugestão e acrescentaram o item família, por distinguirem que estes são os temas mais importantes para eles. Vejamos alguns exemplos destas propostas para a Escola:

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Quadro 3 – Idéias/ propostas de ações coconstruídas e os responsáveis pelos

encaminhamentos

Problemas Ações Responsáveis Prováveis Parceiros

1 - Criar condições para que professores e estagiários tenham habilidade para cuidar das crianças e adolescentes com deficiência. -Formação continuada para professores e estagiários

-Trazer para escola pessoas

especializadas para lidar com estas crianças -Secretaria Municipal da Educação -GERED (Gerência Regional de Educação), -Núcleo de Inclusão, -Secretária de Saúde. -Hospital da Unimed -Universidade -Posto de Saúde 2 - Construir a inclusão na escola. -Acreditar na qualidade de ensino escolar.

-Criar espaço dentro da escola para troca de experiências; -Apresentar exemplos de grupos culturais com crianças com deficiência. -Escola, -CRAS -Grupo de Percussão. -APAE (associação de pais e amigos dos excepcionais), -Outras Escolas -CERSAM (Centro de Referencia em Saúde Mental). 3 – Criar um ambiente

escolar agradável para que as pessoas com deficiência se sintam mais alegres. -Criar atividades culturais e lúdicas com as crianças; -Investir em materialidade e estrutura física; -Criar eventos esportivos.

-Escola. -Instituições que

trabalham com alunos com deficiência -Secretaria de Cultura -Secretaria de Esporte.

Ocorreu, ainda, neste encontro uma importante mudança de postura diante da inclusão da pessoa com deficiência. Como exemplo: Um membro do grupo de percussão trouxe o seguinte relato: “Depois destas conversas aqui, eu estou buscando fazer a inclusão no meu dia a dia. Procuro conversar sobre a inclusão em todos os espaços que eu estou presente. E hoje trouxe dois alunos do grupo de percussão para participar desta conversa. È muito importante que eles também vejam e participem destes encontros”.

No encerramento deste encontro, a equipe sistêmica conversou com os participantes, comunicando-lhes que esta seria sua última participação nos encontros e que o CRAS assumiria a coordenação dos próximos encontros. Com isso avaliamos que os participantes receberam bem a proposta, pois conseguiram estar vinculados com o CRAS.

Conclusão

Durante os encontros, notou-se que as famílias ficaram mais participativas, ativas, empoderadas, se apropriaram das informações e fizeram uso do conhecimento que foi coconstruído no espaço de conversação, por meio de ações concretas na busca da inclusão social. As famílias sentiram mais liberdade para se posicionarem frente às instituições e, pouco a pouco, começaram a se expressar e colocar suas questões. Elas foram às escolas na

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busca de diálogo e também conversaram com o Serviço de Inclusão para resolver os problemas de seus filhos nas escolas. As instituições informaram e esclareceram dúvidas, acrescentando conhecimento tanto para as famílias quanto entre elas, abrindo assim as portas para o estabelecimento de uma rede que se mantenha conectada pelos vínculos ali construídos. Como é afirmado nesta colocação abaixo:

[...] o que se quer enfatizar é que a criação de autonomia nas famílias é algo que se processa com base nas relações que se estabelecem entre pessoas e instituições, a partir da interação de aspectos objetivos (acesso a bens e serviços, na quantidade e qualidade necessárias) e subjetivos (autoestima, protagonismo, capacidade de decisão e ação) e da complexa interação de fatores micro (relativos às histórias particulares e específicas das famílias e seus membros, contextuais e localizadas) e fatores macro (relativos aos sistemas e estruturas econômicas, sociais, políticas e institucionais mais gerais), sendo algo que pode ou não ocorrer, contingente, portanto, das interações e dos vínculos que se criam, principalmente, entre as famílias e os agentes públicos encarregados de seu atendimento. (BRONZO, 2009, p.178)

No decorrer do processo, pudemos perceber várias das funções da rede citadas por Sluzki (1997) sendo desempenhadas nas trocas interpessoais entre seus membros. Neste SDP, seus membros puderam contar com apoio emocional ao se sentirem compreendidos, e apoiados pelas instituições presentes e as outras famílias. Quando os participantes receberam e compartilharam informações, esclareceram dúvidas sobre a escola, o Conselho Tutelar, e proporcionaram modelos de papéis ao procurarem saber como aprender ser mãe de uma criança com deficiência e, em pensar qual seria a melhor escola para o filho com deficiência, a rede então desempenhou a função de guia cognitivo e conselhos. A função de ajuda e

colaboração também esteve presente quando as famílias receberam encaminhamentos para

especialistas, como a busca pelo Conselho Tutelar, a informação de acesso ao passe livre para o uso do transporte coletivo. E sem dúvida foi um espaço para o acesso a novos contatos, vínculos se estabelecendo e havendo uma disposição e flexibilidade para a conexão das pessoas e das redes que até então não se conheciam.

De acordo com Esteves de Vasconcelos (2010) a Metodologia de Atendimento Sistêmico, usa como recurso instrumental as perguntas reflexivas na mobilização de conversações transformadoras das relações, possibilitando ao sistema novas formas de se relacionar, viabilizando a solução da situação-problema e a dissolução do sistema lingüístico que havia emergido nas conversações, na constituição do SDP. Ou seja, aquelas posições antagônicas que constituíram a situação-problema, que impediam o encontro de soluções, que constituíram o sistema lingüístico em torno do problema, se desfizeram, na medida em que as conversações propiciaram novos significados, nova narrativa e ações sobre a situação vivida. Portanto, consideramos que o trabalho alcançou a proposta inicial de integração entre o CRAS, as famílias, as pessoas com deficiência e a comunidade em busca da inclusão social e podemos dizer que o processo de Atendimento Sistêmico se completou, pois, após os quatro encontros observou-se que o processo de integração aconteceu: o sistema mostrava mudanças em sua forma de se relacionar através do estabelecimento de vínculos sociais, das trocas e acesso as informações, da coconstrução das propostas de ações colaborativas para a solução de situações-problema e o compromisso dos atores na realização destas ações, em prol de objetivos comuns e em uma atitude de autonomia.

De acordo com Aun (2007) o seguimento – follow-up – é uma forma de acompanhamento do processo de Atendimento Sistêmico, após a dissolução do SDP. Assim, depois de

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aproximadamente dez meses do término deste trabalho, a equipe sistêmica retornou ao CRAS para fazer este seguimento. A equipe técnica do CRAS relatou que, desde a realização do Atendimento Sistêmico, a relação entre a escola e o CRAS passou a acontecer de forma cooperativa e integrada, a vice-diretora da escola disse que gostou de participar e quer continuar; a escola tem desenvolvido atividades juntamente com o CRAS e o espaço da escola ficou mais disponível; no CRAS, as atividades passaram a ser planejadas e desenvolvidas para incluir as pessoas com deficiência; as famílias desde então procuram o CRAS quando necessitam; o CRAS reconheceu que foi muito importante este trabalho, pois lhe deu mais visibilidade ao CRAS junto a outras instituições do território, como referência para o trabalho com as famílias de pessoas com deficiência e para outras famílias que não conheciam este serviço. Um das técnicas diz, por exemplo: “agora, quando ligamos para algumas instituições quem atende nos reconhece e logo pergunta de que estamos precisando e hoje, quando precisamos, podemos deixar até a chave do CRAS com a escola”. Os encontros continuaram a acontecer por um período, em parceria com o setor de estágio de um curso de psicologia da cidade.

Os resultados obtidos neste trabalho, por meio da Metodologia de Atendimento Sistêmico vão ao encontro da proposição de SLUZKI (1997), quando afirma que o isolamento social é fonte de enfermidades físicas e psíquicas e que, de outro lado, uma rede social ativa e sensível pode promover saúde. Portanto, nosso Atendimento Sistêmico foi promotor de saúde e de desenvolvimento de cidadania para as pessoas nele envolvidas.

REFERÊNCIAS

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uma abordagem às políticas de assistência às pessoas portadoras de deficiência. Belo

Horizonte: FAFICH – UFMG, 1996, dissertação de mestrado.

________________. O processo de co-construção. Uma metodologia sistêmica para a “implantação” de políticas sociais. Anais do III Congresso Brasileiro de Terapia Familiar,

O individuo a família e as redes sociais na virada do século. Promoção ABRATEF e ATF

– RJ, Rio de Janeiro, 1998.

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Mineiro de Psiquiatria, Belo Horizonte, 1999.

_____________. O processo de co-construção em um contexto de autonomia: coordenando o processo básico das práticas sistêmicas novo-paradgmáticas. In: AUN, Juliana Gontijo; ESTEVES DE VASCONCELLOS, Maria José; COELHO, Sônia Vieira. Atendimento

sistêmico de famílias e redes sociais. Desenvolvendo práticas com a Metodologia de

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ESTEVES DE VASCONCELLOS, Maria José; COELHO, Sônia Vieira. Atendimento

sistêmico de famílias e redes sociais. Desenvolvendo práticas com a Metodologia de

Atendimento Sistêmico. Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2010. Vol.III, p. 91-122.

_________________ Distinguindo a Metodologia de Atendimento sistêmica como uma prática novo-paradigmática, desenvolvida com um “sistema determinado pelo problema”. In: AUN, Juliana Gontijo; ESTEVES DE VASCONCELLOS, Maria José; COELHO, Sônia Vieira. Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais. Desenvolvendo práticas com a Metodologia de Atendimento Sistêmico. Belo Horizonte: Ophicina de Arte & Prosa, 2010. Vol.III, p. 47-48.

GOOLISHIAN, Harold; WINDERMAN, Lee. Constructivismo, autopoiesis y sistemas

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KLEFBECK, Johan. Os conceitos de Pespectiva de Rede e os Métodos de Abordagem em

Rede. Belo Horizonte, EquipSIS, 1996 (Tradução de Maria José Esteves de Vasconcellos).

MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Tradução de Cristina Magro. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.p.130 -178.

SLUZKI, Carlos Eduardo. A rede social na pratica sistêmica. Alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 138p.

Referências

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