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Mediação familiar e processo de mudança adaptativa : impacto das decisões parentais responsáveis na (co) parentalidade, em fase de separação-divórcio

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Mediação familiar e processo de mudança adaptativa: impacto das

decisões parentais responsáveis na (co) parentalidade, em fase de

separação-divórcio

Lucinda das Dores Tiago Gomes

Orientadora: Prof. Doutora Maria Teresa Meireles Lima da Silveira Rodrigues Ribeiro

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de doutor em Psicologia Clínica na área de especialidade em Psicologia da Família e Intervenção Familiar

2018

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

FACULDADE DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

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Mediação familiar e processo de mudança adaptativa: impacto das decisões parentais responsáveis na (co) parentalidade em fase de separação-divórcio

Lucinda das Dores Tiago Gomes

Orientadora: Prof. Doutora Maria Teresa Meireles Lima da Silveira Rodrigues Ribeiro

Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de doutor em Psicologia Clínica na área de especialidade em Psicologia da Família e Intervenção Familiar

Júri: Presidente:

 Doutora Isabel Maria de Santa Bárbara Teixeira Nunes Narciso Davide, Professora Associada e Vice-Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Vogais:

 Doutora Margarita García Tome, Professora

Instituto de Ciencias de la Familia da Universidad Pontifícia de Salamanca, Espanha;

 Doutora Rita Mafalda Costa Francisco, Professora Auxiliar

Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa;

 Doutor Fausto José Robalo Amaro, Professor Catedrático

Escola Universitária de Ciências Empresariais, Saúde, Tecnologias e Engenharia da Universidade Atlântica;

 Doutora Maria Madalena dos Santos Torres Veiga de Carvalho, Professora Auxiliar Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra;

 Doutora Maria Teresa Meireles Lima da Silveira Rodrigues Ribeiro, Professora Associada Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Orientadora.

2018

UNIVERSIDADE DE COIMBRA

FACULDADE DE PSICOLOGIA E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE

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Esta tese é dedicada,

À minha doce e forte mãe. Pelo amor infinito por mim.

Ao meu pai pela luz do seu amor. Pela poesia (que só nós dois sabemos).

À minha filha, por ser o meu amor maior. Por sempre acreditar (exageradamente) nas minhas qualidades intelectuais.

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AGRADECIMENTOS

Esta tese é o resultado de um longo e enriquecedor percurso que não teria sido possível sem o contributo e apoio de muitas pessoas a quem deixo do fundo do coração o meu agradecimento.

Em primeiro lugar, à minha orientadora, a Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro, pela excelência da sua orientação científica, pelo apoio incondicional, pelas sugestões, reflexões e ensinamentos de qualidade impar. Mas, também pelas suas qualidades humanas exemplares, pelo carinho e sensibilidade sempre demonstrados. Por ter confiado em mim e me ter incentivado desde o primeiro momento.

À Professora Doutora Isabel Narciso por me ter acompanhado neste percurso desde o início e por ter acreditado nele. Pelas suas aulas brilhantes de metodologias qualitativas, no programa de doutoramento, às quais sempre regressava quando precisava de me centrar nos conceitos essenciais.

À Maria José Eusébio e à Elsa Carapito pelo tempo despendido e a ajuda concreta como assistentes na realização dos focus groups. À Elsa pela segurança e doçura que a sua amizade me transmite e à Maria José pela presença constante e carinhosa.

À Marta Pedro e à Rita Francisco pela prontidão e empatia com que responderam aos meus pedidos de ajuda e pela forma positiva e serena com que sempre me animaram.

Um agradecimento especial aos professores do Programa de Doutoramento Interuniversitário em Psicologia Clínica (FPUL- FPCEUC) pela excelência dos conhecimentos que me transmitiram sem os quais não teria sido possível realizar este projeto, mas também pela simpatia e carinho incomparáveis.

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viii Agradeço também aos colegas de doutoramento pelo apoio genuíno, pelo carinho e inúmeras partilhas sempre enriquecedoras, em Lisboa, Ana Pego, Ana Prioste, Ana Vedes e Luana Cunha Ferreira; em Coimbra, Ana Fonseca, Alda Portugal, Diamantino Santos, Dora Pereira, Francisco Simões, Isabel Silva, Luciana Sotero e Luís Franklin.

À Direção Geral de Política de Justiça, Ministério da Justiça e ao Instituto da Segurança Social, IP (ISS) pela colaboração prestada autorizando o acesso à recolha dos dados imprescindíveis à concretização deste trabalho.

A cada um dos mediadores/as familiares e dos assessores/as do ISS que, de forma tão generosa, se dispuseram a participar nos focus groups compartilhando os seus preciosos conhecimentos tornando possível o estudo 1. A cada um dos pais e das mães que amavelmente se dispuseram a realizar as entrevistas necessárias ao estudo 2, por vezes com sacrifícios pessoais para o seu dia-a-dia. A todos o meu profundo agradecimento pois sem a vossa colaboração esta tese não teria sido possível.

A todos os meus queridos amigos/as que me incentivaram e apoiaram durante todos estes anos. Com um especial carinho à Luisa Aboim Inglez e à Paula Trindade Rodrigues, amigas de tantos anos, pela forma como profissionalmente sempre me inspiraram e acreditaram em mim. À Laura Teles Barros, pela pureza da sua amizade.

À minha mãe por todo o orgulho que sempre sentiu por mim. Ao António e à Inês pela bondade e amor indescritíveis, pelas birras e tensões que conseguiram desculpar. Por tudo.

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RESUMO

Nas últimas duas décadas, a mediação familiar tem alcançado uma crescente expressão legal, tanto interna como externa, ao mesmo tempo que o reconhecimento sua eficácia prática tem contribuído para dar suporte à sua institucionalização e expansão. Verifica-se que os estudos científicos existentes, especialmente, em Portugal, além de limitados quanto aos assuntos abordados são ainda muito escassos. Por outro lado, a mediação familiar tem sido associada, quer à diminuição dos fatores de stress a que as crianças ficam expostas em consequência da SD dos pais, quer à promoção de coparentalidade positiva e de relações autoritativas pais-filhos. Deste modo, pretende-se com esta tese - incidente na regulação do exercício das responsabilidades parentais, em contexto de mediação familiar, na transição para a separação/divórcio (SD) - contribuir para explorar, analisar e aprofundar a compreensão do processo de tomada de decisões (co)parentais responsáveis e protetoras do bem-estar e do interesse superior dos filhos. Optou-se por uma investigação de matriz qualitativa completada por um miniestudo quantitativo e enquadrada pelo paradigma Pós Positivista.

Numa primeira fase desta investigação, desenvolveu-se o estudo 1, para explorar características sobre o conflito familiar, examinar e identificar fatores de proteção e fatores de risco associados à transição para a SD e investigar quais as estratégias e os modelos de mediação familiar percecionados pelos participantes como sendo os mais eficazes. O estudo 1 foi conduzido segundo o método de focus group tendo sido realizados três focus groups com mediadores familiares (N=13) do Sistema de Mediação Familiar (SMF), Ministério da Justiça e dois focus groups com técnicos do Instituto da Segurança Social, IP (ISS), (N=11) procedentes das equipas de assessoria aos Tribunais de Família e Menores, na área tutelar cível. Os instrumentos elaborados e utilizados consistiram no

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x guião de focus group e no questionário sociodemográfico. Posteriormente, procedeu-se à análise de conteúdo dos focus groups.

Numa segunda fase desta investigação, realizou-se o estudo 2 com o propósito de delimitar características definidoras de decisões parentais responsáveis em contexto de SD, investigar as dimensões de maior influência no processo de tomada de decisões (co) parentais, bem como, identificar e analisar fatores de proteção e fatores de risco e o impacto da mediação familiar na promoção de mudança adaptativa para os pais e para as crianças, na transição para SD. Os instrumentos elaborados e utilizados consistiram em numa entrevista semiestruturada e no questionário sociodemográfico. O estudo 2, foi desenvolvido segundo a estratégia metodológica de Grounded Theory tendo sido realizadas entrevistas semiestruturadas a uma amostra composta por 29 pais e mães que passaram por um processo de mediação familiar, no SMF, no contexto de regulação das responsabilidades parentais. Posteriormente, procedeu-se à análise categorial do conteúdo das entrevistas realizadas.

Os participantes do estudo 2 responderam também ao Questionário da Coparentalidade (QC) (Margolin, Gordis & John, 2001, versão portuguesa de Pedro & Ribeiro, 2012), (N=30), com vista à concretização do miniestudo quantitativo.

De um modo geral, os resultados dos estudos realizados permitem concluir que o processo de mediação familiar tem efeitos positivos na adaptação dos pais e das crianças, na transição para a SD e apoiam a necessidade de implementar métodos de mediação familiar preventiva e pré judicial, especialmente quando esteja em causa a regulação das responsabilidades parentais e a proteção do superior interesse da criança.

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xi Os resultados do estudo 1 suportam a conclusão de que os mediadores familiares optam pelo uso de um leque de estratégias diversificadas não compagináveis com o uso de modelos estritos de mediação familiar. A análise realizada permitiu ainda obter um quadro sistematizado e funcional de estratégias de mediação familiar de forma a aprofundar a sua compreensão teórica e aplicação prática.

Os resultados do estudo 2 sustentam a conclusão de que os fatores de proteção e os fatores de risco, têm um impacto forte nas relações parentais, (co)parentais e na criança, na transição para a SD. A presente investigação permitiu concluir que os resultados dos três estudos são consistentes com a necessidade da prevenção dos efeitos negativos da SD para as crianças e para os pais, concretamente: do conflito elevado, da coparentalidade negativa e da severidade do período de separação/divórcio.

Os estudos qualitativos 1 e 2, em conjugação, permitem delimitar o conceito de ‘decisões parentais responsáveis’ através das suas características definidoras e permitiram a análise emergente mediante a respetiva comparação categorial.

O miniestudo estudo 3 permitiu encontrar uma associação significativa entre as dimensões da coparentalidade aferidas pelo instrumento, as variáveis sociodemográficas e variáveis processuais como a voluntariedade e a origem do processo de mediação.

O miniestudo quantitativo apoia os resultados dos estudos qualitativos 1 e 2, suportando a conclusão de que as probabilidades de terminar o processo de mediação familiar sem acordo são mais elevadas nas situações de mediação familiar com origem no curso do processo judicial e mais baixas nos casos em que a mediação familiar tem origem espontânea/extrajudicial. Este estudo permitiu também encontrar uma associação significativa entre duas dimensões da coparentalidade aferidas pelo instrumento (QC) e as variáveis sociodemográficas, de tal forma que, a cooperação é mais baixa nos processos

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xii de mediação familiar com origem judicial e a triangulação mais elevada comparativamente com os processos de mediação familiar com origem espontânea/extrajudicial, embora a subescala do conflito não apresente diferença significativa. Assim, os resultados obtidos no miniestudo quantitativo apoiam e enfatizam os resultados emergentes dos estudos qualitativos relativamente às categorias de análise ‘dimensões de influência no processo de decisão’ e ‘Fatores de Proteção e Fatores de Risco’, na transição para a SD.

Esta tese abre diversas pistas para o desenvolvimento de outros estudos, especificamente, sobre mediação familiar preventiva, sobre instrumentos para realização de triagem prévia e obrigatória antes do início de qualquer processo judicial que envolva crianças, assim como, para o desenvolvimento de investigações e práticas de envolvimento seguro das crianças em processos de mediação familiar.

Palavras-chave: coparentalidade, mediação familiar, fatores de proteção, fatores de risco, responsabilidades parentais

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xiii

ABSTRACT

In the last two decades, family mediation has reached a growing legal expression, both internal and external, while acknowledging its practical effectiveness has contributed to support its institutionalization and expansion. It is verified that the existent scientific studies, especially in Portugal, besides being limited in the subjects covered are still very scarce.

On the other hand, family mediation has been associated either to a reduction of stress factors to which children are exposed because of parents’ SD, or the promotion of positive coparenting and authoritative parent-child relationships. In this way, this thesis is intended to regulate the exercise of parental responsibilities, in the context of family mediation, in the transition to separation /divorce (SD) - to contribute to explore, analyze and deepen the understanding of the decision-making process of (co)parental decisions that are responsible and protective of children’s well-being and the best interests. We chose a research of qualitative matrix completed by a quantitative mini-study and framed by the Post Positivist paradigm.

In a first phase of this investigation, study 1 was developed to explore characteristics about family conflict, to examine and identify protective factors and risk factors associated with the transition to SD, and to investigate the strategies and models of family mediation perceived by participants as being the most effective. Study 1 was conducted according to the focus group

method, with three focus groups with family mediators (N = 13) from the Family Mediation System (FMS), Ministry of Justice and two focus groups with technicians from the Institute of Social Security, IP (ISS) (N = 11) from the advisory teams to the Family

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xiv and Juvenile Courts, in the civil tutelar area. The instruments elaborated and used consisted of the focus group script and the sociodemographic questionnaire. Subsequently, we analyzed the content of the focus groups.

In a second phase of this investigation, study 2 was carried out with the purpose of delimiting defining characteristics of responsible parental decisions in the SD context, investigating the dimensions of greater influence in the (co)parental decision making process, as well as identifying and analyze protective factors and risk factors, and the impact of family mediation on promoting adaptive change for parents and children in the transition to SD. The instruments developed and used consisted of a semi-structured interview and the sociodemographic questionnaire. Study 2 was developed according to the Grounded Theory methodological strategy and semi-structured interviews were conducted with a sample composed of 29 parents and mothers who have gone through a family mediation process in the SMF in the context of parental responsibility regulation. Subsequently, the content of the interviews was categorized.

The participants of study 2 also answered the Coparenting Questionnaire (CQ) (Margolin, Gordis & John, 2001, Portuguese version of Pedro & Ribeiro, 2014), (N = 30), with a view to the accomplishment of the quantitative study.

In general, the results of the studies show that the family mediation process has positive effects on the adaptation of parents and children, on the transition to SD, and support the need to implement preventive and pre-judicial family mediation methods, especially when it comes to regulating parental responsibilities and protecting the best interest of the child.

The results of study 1 support the conclusion that family mediators choose to use a range of diversified strategies that can not be combined with the use of strict family

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xv mediation models. The analysis made it possible to obtain a systematized and functional framework of family mediation strategies in order deepen their theoretical understanding and practical application.

The results of study 2 support the conclusion that protective factors and risk factors have a strong impact on parental (co) and child relationships in the transition to SD. The present investigation allowed us to conclude that the results of the three studies are consistent with the need to prevent the negative effects of SD on children and parents, namely: high conflict, negative coparenting and severity of the separation/divorce period.

The qualitative studies 1 and 2, in conjunction, allow to delimit the concept of 'responsible parental decisions' through their defining characteristics and allowed the emergent analysis through the respective categorial comparison.

The mini-study 3 allowed us to find a significant association between the dimensions of coparenting ascertained by the instrument, sociodemographic variables and procedural variables such as voluntariness and the origin of the mediation process.

The quantitative mini-study supports the results of qualitative studies 1 and 2, supporting the conclusion that the probabilities of terminating the process of family mediation without agreement are higher in family mediation situations originating in the course of the judicial process and lower in the cases in which that family mediation has a spontaneous / extrajudicial origin. This study also allowed us to find a significant association between two dimensions of coparentality as measured by the instrument (CQ) and sociodemographic variables, so that cooperation is lower in family mediation processes with judicial origin and higher triangulation compared to family mediation processes with spontaneous/extrajudicial origin, although the conflict subscale presents no significant difference. Thus, the results obtained in the quantitative study support and

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xvi emphasize the emerging results of the qualitative studies regarding the categories of analysis 'dimensions of influence in the decision process' and 'Factors of Protection and Risk Factors' in the transition to SD.

This thesis opens several clues for the development of other studies, specifically on preventive family mediation, instruments for prior and mandatory screening before the beginning of any judicial process involving children, as well as the development of investigations on models and practices of involvement insurance in family mediation processes.

Key words: coparenting, family mediation, protective factors, risk factors, parental responsibilities

(17)

xvii

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO 1

1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DA MEDIAÇÃO FAMILIAR 4

1.1 Contexto inicial da mediação familiar 5

1.2. Enquadramento histórico 7

1.2.1 Portugal 12

1.3 O Conflito 15

1.3.1 Perspetivas da mediação familiar sobre o conflito na transição para a SD 16

1.3.2 Elevado conflito 18

1.4 Modelos de mediação familiar 22

1.4.1 Mediação familiar terapêutica 28

1.4.2 Direito colaborativo 31

1.5 Parentalidade: um conceito com alcance jurídico e psicológico 32

1.5.1 Estilos parentais 35

1.5.2 Coparentalidade 37

1.6 Resumo do capítulo 40

2. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL E METODOLÓGICO 42

2.1 Resumo do capítulo 43

2.2 Enquadramento conceptual 43

2.3 Enquadramento da investigação qualitativa 44

2.3.1 Contexto histórico da investigação qualitativa 46

2.3.2 Paradigmas da investigação 49

2.3.3 Características da investigação qualitativa 55

2.3.3.1 Olhares e metáforas sobre a investigação qualitativa 56 2.3.5 A questão da validade na Investigação Qualitativa 60

2.4 Enquadramento metodológico 64

2.4.1 Questão de partida 66

2.4.2 Mapa conceptual 66

(18)

xviii

2.5.1 Objetivos gerais 68

2.5.2 Objetivos específicos 69

2.5.3 Objetivos específicos do mini estudo quantitativo 69

2.6 Procedimentos de recolha de dados 69

2.6.1 Os focus groups 71

2.6.2 A entrevista semiestruturada 76

2.6.3 Análise dos dados 78

2.6.3.1 A Grounded Theory 79

2.6.3.2 A análise quantitativa 81

2.6.3.2.1 Instrumentos 81

2.6.3.2.2 Questionário da Coparentalidade 82

2.7 Síntese do capítulo 83

3. ESTUDO EMPÍRICO 1: FOCUS GROUPS – FATORES, PROCESSOS E CONTEXTOS DE INFLUÊNCIA NA RESPONSABILIDADE DE DECISÃO

PARENTAL 85

3.1 Resumo do capítulo 86

3.2 Metodologia 86

3.3 Objetivos 87

3.3.1 Objetivos gerais do estudo 1 88

3.3.1.1 Objetivos específicos 88

3.3.2 Questões de investigação 89

3.3.3 Seleção da amostra 90

3.3.4 Número, tamanho, tempo e setting dos focus groups 93

3.3.5 Instrumentos 94

3.3.5.1 Guião da entrevista dos focus groups 94

3.3.5.2 Questionário sociodemográfico 96

3.3.5.3 Procedimentos, preparação e realização dos focus groups 97

3.3.5.4 A equipa de Moderação dos focus groups 98

3.3.5.5 Realização dos focus group 99

3.3.5.6 Preparação dos dados 101

3.3.6 Análise dos dados 102

3.3.6.1 Caracterização da amostra 102

3.3.6.2 Processo de codificação 104

(19)

xvix 3.3.8 Conflitos identificados pelos participantes de acordo com as respetivas causas

106 3.3.8.1 Conflitos estruturais 111 3.3.8.2 Conflitos de valores 113 3.3.8.3 Conflitos de relação 114 3.3.8.4 Conflitos de interesses 115 3.3.8.5 Conflitos de informação 116

3.3.8.6 Fatores de influência no conflito 120

3.3.8.6.1 Fatores ativadores 122

3.3.8.6.2 Fatores Pacificadores 127

3.3.9 Estratégias de mediação familiar 131

3.3.9.1 Estratégias de gestão do conflito 133

3.3.9.1.1 Estratégias de comunicação 133

3.3.9.1.2 Estratégias de Relação 140

3.3.9.2 Estratégias de gestão do processo 146

3.3.9.2.1 Estratégias focalizadas no contexto 146

3.3.9.2.2 Estratégias de organização 149

3.4 Modelos de mediação familiar 156

3.4.1 Sessão inicial informativa obrigatória de mediação familiar 159

3.5 Coparentalidade no contexto da SD 162

3.5.1 Fatores de proteção 163

3.5.2 Fatores de risco 170

3.5.3 Fatores de influência nas decisões responsáveis dos pais 180 3.6 Perceções sobre o enquadramento prévio ao processo de mediação familiar 197 3.6.1 Perceções sobre o uso de conhecimentos jurídicos 198 3.6.2 Perceções sobre condições prévias para mediação familiar 200 3.6.3 Perceções sobre o sucesso da MF durante o processo judicial 207

3.7 Síntese do capítulo 209

4. ESTUDO EMPÍRICO 2 - FATORES DE IMPACTO NA PARENTALIDADE NA TRANSIÇÃO PARA A SD E O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO SOBRE RESPONSABILIDADES PARENTAIS, NO CONTEXTO DE MEDIAÇÃO

FAMILIAR 211

4.1 Resumo do capítulo 212

(20)

xx

4.3 Objetivos 213

4.3.1 Objetivos específicos 213

4.3.2 Questões de investigação 214

4.3.3 Critérios e circunstâncias de seleção da amostra 216

4.3.3.1 Estratégia de amostragem 216

4.3.3.2 Número, duração e setting das entrevistas 218

4.3.3.3 Entrevista semiestruturada 218

4.3.3.4 Questionário sociodemográfico 219

4.3.3.5 Procedimentos, preparação e realização das entrevistas 220 4.3.3.6 Realização das entrevistas semiestruturadas 220

4.3.3.7 Preparação dos dados 221

4.3.4 Análise dos dados 221

4.3.4.1 Caracterização da amostra 221

4.3.4.2 Processo de codificação 224

4.4 Modelos e abordagens gerais do processo de tomada de decisão 226

4.5 Apresentação e discussão dos resultados 236

4.5.1 Caracterização das decisões dos pais na transição para a SD, no âmbito da

mediação familiar 236

4.5.2 Características das DPR 238

4.5.2.1 Autonomia 239

4.5.2.2 Centradas no interesse dos filhos 239

4.5.2.3 Tempo para pensar 241

4.5.2.4 Conjuntas 242 4.5.2.5 Exequíveis 244 4.5.2.6 Gratificantes 245 4.5.2.7 Inclusivas 245 4.5.2.8 Informadas 246 4.5.2.9 Refletidas 247

4.5.3 Obstáculos às decisões responsáveis 249

4.5.3.1 Debate insuficiente 250

4.5.3.2 Desconfiança relativa ao cumprimento do acordo 250

4.5.3.3 Desconforto com as decisões assumidas 251

(21)

xxi 4.5.4 Potencialidades da mediação familiar para a composição de decisões

responsáveis 253

4.5.4.1 O estimulo à cooperação 254

4.5.4.2 A prevenção da conflitualidade 255

4.5.4.3 Promoção de decisões refletidas 256

4.5.5 Domínios de influência implicados no processo de tomada de decisão dos pais, relativamente à regulação das responsabilidades parentais, na fase de SD 258

4.5.5.1 Comunicação 260

4.5.5.1.1 Comunicação disfuncional 262

4.5.5.1.2 Comunicação funcional 262

4.5.5.2 Mudanças positivas na comunicação 265

4.5.5.3 Contexto da mediação familiar 268

4.5.5.4 Emotividade 283

4.5.5.5 Promoção da mudança em contexto de mediação familiar 295

4.5.5.6 Relação interpessoal 301

4.5.6 Fatores de Proteção e Fatores de Risco associados à SD 308

4.5.6.1 Fatores de Proteção 312

4.5.6.2 Fatores de Risco 319

4.5.7 Impacto do tempo no conflito 331

4.5.8 Sensibilidade Parental 332

4.5.8.1 Perceções dos pais sobre a relação de coparentalidade atual e futura 335 4.5.8.2 Perceção dos pais relativamente à adaptação dos filhos à SD 336 4.5.9 Integração do direito da criança a participar no processo de mediação familiar

337 4.5.9.1 Requisitos para a inclusão das crianças na mediação 340

4.5.10 Satisfação com a mediação familiar 341

4.6 Integração de variáveis quantitativas 342

4.6.1 Análise comparativa entre os resultados obtidos nas três subescalas do

Questionário de Coparentalidade e a origem do processo de mediação familiar bem

como o resultado do processo de mediação familiar 343

4.6.2 Análise comparativa entre os resultados obtidos nas três subescalas do

Questionário de Coparentalidade com a origem do processo de mediação familiar –

(22)

xxii 4.6.3 Análise comparativa entre os resultados obtidos nas três subescalas do

Questionário de Coparentalidade com o resultado do processo de mediação familiar –

com acordo ou sem acordo 345

4.6.4 Análise da possível relação entre a variável origem do processo de mediação familiar (judicial ou voluntário) com a variável resultado do processo de mediação

familiar (com acordo ou sem acordo) 347

4.7 Síntese do capítulo 349 5. CONCLUSÕES 351 352 352 354 355 356 357 358 5.1 Conclusões

5.2 A especificidade dos conflitos familiares 5.3 Modelos de mediação familiar

5.4 Domínios de influência no processo de mediação familiar 5.5 Fatores de proteção e fatores de risco, na transição para a SD 5.6 Implicações práticas

5.7 Limites e pistas para futuras investigações REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICES

(23)

xxiii

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Paradigmas de investigação científica Tabela 2 - Desenvolvimento da investigação empírica Tabela 3 - Categorização das questões para focus group

Tabela 4 - Caracterização sociodemográfica da amostra do estudo 1 Tabela 5 - Tipos de conflitos identificados pelos participantes nos 5 focus

groups

Tabela 6 - Comparação entre o estilo de pensamento intuitivo, experimental, analítico e racional.

Tabela 7 - Caracterização geral das decisões dos pais relativamente a responsabilidades parentais, durante a SD.

Tabela 8 - Características das DPR identificadas pelos pais/participantes Tabela 9 - Obstáculos à composição de DPR

Tabela 10 - Características da mediação familiar que contribuem para o processamento de DPR

Tabela 11 - Domínios de influência no processo de decisão dos pais, no âmbito da regulação das responsabilidades parentais

Tabela 12 - Características da comunicação na transição para a SD Tabela 13 - Categoria Contexto da mediação familiar e respetivas subcategorias

Tabela 14 - Categoria Emotividade e as respetivas subcategorias

Tabela 15 - Subcategoria de Análise: Estratégias e contextos que potenciam mudanças

Tabela 16 - Fatores de proteção para a família (crianças e pais), durante a fase de transição para a SD

Tabela 17 - Subcategoria de Análise: Coparentalidade positiva como fator de proteção durante a SD

Tabela 18 - Fatores de risco para a família (crianças e pais), durante a fase de transição para a SD 49 68 92 100 109 231 234 236 247 252 257 258 266 283 293 310 313 317

(24)

xxiv Tabela 19 - Subcategoria de Análise: Coparentalidade negativa como fator de

risco durante a SD

Tabela 20 - Subcategoria de Análise: elevado conflito

Tabela 21 - Impacto do decorrer do tempo no desenvolvimento do conflito

319 323 329

(25)

xxv

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa conceptual com indicação dos estudos que integram a tese Figura 2 - Etapas de conceção e desenvolvimento dos focus groups

Figura 3 - Tipos de conflitos mais referidos pelos participantes nos focus

groups

Figura 4 - Principais objetivos do mediador familiar na fase inicial da mediação familiar

Figura 5- Fatores de influência no conflito referidos pelos participantes nos

focus groups

Figura 6 - Fatores ativadores do conflito Figura 7 - Fatores Pacificadores do Conflito

Figura 8 - Tipos de estratégias utilizadas no âmbito da mediação familiar Figura 9 - Estratégias focadas na “comunicação” identificadas nos cinco focus

groups realizados

Figura 10 - Estratégias focadas na comunicação identificadas nos focus

groups realizados com mediadores familiares

Figura 11 - Estratégias focadas na comunicação identificadas nos focus

groups realizados com os assessores aos TFM, FG-ISS

Figura 12 - Estratégias focadas na “relação” identificadas nos cinco focus

groups realizados

Figura 13 - Estratégias focadas na relação identificadas nos focus groups realizados com os mediadores familiares (FG – MF)

Figura 14 - Estratégias focadas na “relação” identificadas nos focus groups realizados com os técnicos do ISS (FG-ISS)

Figura 15 - Estratégias de gestão do processo de mediação familiar focadas no contexto identificadas nos focus groups com mediadores familiares (FG-MF) Figura 16 - Estratégias de gestão do processo de mediação familiar focadas no contexto identificadas nos focus groups com assessores do ISS (FG-ISS)

108 72 107 117 119 120 125 130 132 132 133 139 139 140 145

(26)

xxvi Figura 17 - Categorias de organização do processo de mediação nos 5 focus

groups realizados

Figura 18 - Estratégias de gestão processo de mediação familiar relativas a organização da mediação identificadas nos focus groups com mediadores familiares (FG-MF)

Figura 19 - Estratégias de gestão do processo de mediação familiar direcionadas para a organização identificadas nos focus groups com assessores do ISS aos TFM (FG-ISS)

Figura 20 - Modelos de mediação familiar identificados pelos participantes Figura 21 - Número de FG-MF comparativamente dos FG-ISS em que foram referidos os vários modelos de mediação familiar

Figura 22 - Sessão informativa obrigatória antes do inicio do processo judicial ou administrativo na Conservatória do Registo Civil

Figura 23 - Fatores de proteção referidos pelos participantes nos focus groups Figura 24 - Fatores de risco referidos pelos participantes nos focus groups Figura 25 - Fatores de influencia negativa na responsabilidade dos pais Figura 26 - Fatores de influência positiva na responsabilidade dos pais Figura 27 - Necessidade de os mediadores familiares terem conhecimentos jurídicos

Figura 28 - Mapa temático do estudo 2

Figura 29 - Comparação entre as categorias “comunicação funcional” e “comunicação disfuncional” e o resultado da mediação familiar (com acordo ou sem acordo)

Figura 30 - Mudanças positivas na comunicação relativamente aos casos em que a mediação familiar terminou com acordo ou sem acordo

Figura 31 - Impacto da participação dos advogados na mediação familiar Figura 32 - Clima da mediação familiar

Figura 33 - Perceções relativas ao espaço físico onde decorre a mediação familiar

Figura 34 - Motivação voluntária para a mediação familiar e motivação voluntária condicionada 148 149 149 155 157 158 162 179 187 196 223 262 265 158 268 269 270 272

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xxvii Figura 35 - Tipos de voluntariedade (de acordo com as motivações

subjacentes) e conclusão do processo de mediação familiar (com acordo/sem, acordo)

Figura 36 - Perceções referentes ao desenvolvimento do processo

Figura 37 - Obstáculos processuais identificados no contexto do processo de mediação familiar

Figura 38 - Atributos positivos para o contexto de mediação familiar relativos à postura do mediador

Figura 39 - Atributos negativos para o contexto de mediação familiar relativos à postura do mediador

Figura 40 - Caracterização das emoções como positivas e negativas durante a mediação familiar

Figura 41 - Conclusão da mediação familiar com acordo e sem acordo em função do nº de participantes que referenciaram a existência de emotividade negativa

Figura 42 - Conclusão da mediação familiar com acordo e sem acordo em função do nº de participantes que referenciaram a existência de emotividade positiva

Figura 43 - Perceção dos participantes relativamente às suas próprias emoções e às emoções sentidas outro pai/mãe

Figura 44 - Tipos de relação interpessoal perante o conflito durante o processo de mediação familiar

Figura 45 - Relação interpessoal face à detenção e ao uso do poder Figura 46 - Indicadores de sensibilidade parental, na transição para a SD Figura 47 - Comparação entre a perceção dos pais sobre a sua relação de coparentalidade no presente e a forma como a perspetivam para o futuro Figura 48 - Perceção dos pais relativamente à adaptação dos filhos à SD Figura 49 - Perspetivas dos pais relativamente à inclusão das crianças no processo de mediação familiar

Figura 50 - Satisfação/insatisfação/indiferença dos participantes no estudo relativamente ao processo de mediação familiar

273 274 277 278 279 285 288 289 291 300 303 331 333 335 337 339

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(29)

1

INTRODUÇÃO

A presente tese insere-se na área científica da Psicologia da Família. Nesse sentido, tem como base metateórica a Teoria dos Sistemas (Bertalanffy, 1950), a teoria da complexidade (Morin, 2008) e a teoria ecológica do desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1977, 1995) e os trabalhos concretizados por Bateson (1996) e por Watzlawick, Beavin e Jackson (1993) sobre os efeitos pragmáticos da comunicação humana. A Psicologia da Família tem como o principal foco de compreensão o território relacional da família, na qual cada um dos respetivos membros constitui parte do processo que cria, mantém e regula os padrões de comportamento humano (Magnavita, 2012; Minuchin, 1985).

Tendo presente a existência de escassos estudos sobre mediação familiar pretende-se com esta tepretende-se, entre outros aspetos, contribuir para o pretende-seu depretende-senvolvimento científico e para uma reflexão integrada e interdisciplinar entre a Psicologia da Família e o Direito da Família e da criança de modo a promover a consistência da sua prática no âmbito da resolução extrajudicial de conflitos familiares.

Assim, no capítulo I procedeu-se ao enquadramento histórico da mediação familiar, à abordagem dos principais modelos de mediação familiar e à especificidade do conflito familiar aludindo-se ainda à parentalidade.

No capítulo II pretendeu-se situar historicamente a investigação qualitativa aludindo aos momentos mais marcantes. Referiram-se os principais paradigmas de investigação científica e sustentou-se a nossa opção pelo paradigma Pós-positivista. Delinearam-se os contornos metodológicos desta investigação referindo os procedimentos e métodos de recolha e de análise de dados. Foram, também, abordadas as metodologias de focus groups e entrevista semiestruturada, bem como a estratégia

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2 metodológica Grounded Theory. Por fim, refletiu-se sobre a importância das metodologias mistas não só como forma de aumentar a validade da investigação, mas também como forma de ampliar o campo de observação da realidade que se pretende estudar.

No capítulo III procedeu-se à análise do sistema hierárquico de categorias obtido a partir do conteúdo dos focus groups realizados com mediadores familiares e técnicos do Instituto da Segurança Social, IP (ISS). Começou-se por examinar as tipologias de conflito familiares e os fatores de ativação e de pacificação dos mesmos. Seguidamente, procedeu-se à análise das estratégias que os participantes no estudo utilizam com mais frequência e consideram mais eficientes, tentando corelacioná-las com os modelos de mediação familiar. Foram ainda analisadas categorias emergentes sobre a coparentalidade e os fatores de proteção e os fatores de risco para as crianças na transição da SD dos pais.

No capítulo IV realizou-se a análise do sistema categorial do estudo empírico 2, realizado com pais e mães que passaram por um processo de mediação familiar. Neste estudo caracterizaram-se as decisões parentais responsáveis, e identificaram-se os domínios de influência no processo de tomada de decisão no contexto da mediação familiar. Investigaram-se os fatores de proteção e os fatores de risco na fase de transição para a SD integrando os resultados na literatura e estudou-se a sensibilidade parental enquanto fator de promotor de vantagens para as crianças. Examinou-se de que forma o direito de participação das crianças nos assuntos que as afetam é levado em consideração pelos pais e quais os critérios que devem ser observados para a sua inclusão no processo de mediação familiar. Finalmente, analisou-se a perceção positiva/negativa, que os pais-mães/mediados têm sobre a sua experiência em mediação familiar.

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3 No capítulo V apresentam-se as conclusões integradas dos dois estudos empíricos realizados, as implicações práticas e as pistas para futuras investigações.

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4

CAPÍTULO I

1. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DA MEDIAÇÃO

FAMILIAR

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5 1.1 Contexto inicial da mediação familiar

Como sabemos a mediação familiar insere-se no âmbito dos meios complementares e alternativos de resolução de conflitos familiares, podendo ocorrer antes, durante ou após um processo judicial, muito embora os mecanismos jurídicos informativos sobre mediação familiar antes do inicio de qualquer processo judicial ou administrativo (e.g. Conservatórias do Registo Civil) se tenham mostrados pouco eficazes para a prevenção do conflito mediante recurso a mediação familiar.

Importa notar que a mediação familiar contemporânea surge na sequência das impactantes mutações sociais, culturais e familiares iniciadas nas décadas de 60, 70 e seguintes do século passado, cujos efeitos têm repercussões a vários níveis. O sistema jurídico (e judicial) alicerçado em leis orientadas para a regulação de relações jurídicas familiares relativamente estáveis é confrontada, num espaço de tempo relativamente pequeno, com uma complexidade de problemas e de conflitos familiares que requerem abertura, inovação legislativa e rapidez de adaptação da sua estrutura e organização. No entanto, estas tensões são ao mesmo tempo a condição básica para a emergência de soluções inovadoras e para o desenvolvimento de movimentos de mudança na sociedade e na família. De facto, foi esta conjuntura que permitiu a (re) invenção do processo de mediação familiar como método extrajudicial de resolução de conflitos familiares centrado na autonomia, na capacidade de auto-organização e no respeito pela reserva da vida privada da família no plano dos procedimentos inerentes à regulação das responsabilidades parentais na transição para a SD (e.g. Eusébio, 2014; Severino, 2012). A presente tese incide num período particular do desenvolvimento familiar correspondente à fase de transição para a SD. Esta fase, inicia-se a partir do momento em que um dos cônjuges desencadeia o processo de rutura conjugal, mas o seu final pode

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6 durar meses ou anos dependendo, nomeadamente, das condições pessoais envolvidas no processo de ajustamento emocional e das forças integradoras e mobilizadas em torno da reorganização familiar, bem como da eficácia dos meios judiciais e extrajudiciais implementados.

Os atuais desenvolvimentos da mediação familiar e os estudos existentes ainda não responderam de forma ampla e totalmente consistente a uma variedade de questões que se colocam relativamente ao processo subjacente à tomada de decisões parentais responsáveis. Nesta perspetiva, pretende-se analisar as potencialidades dos vários modelos de mediação familiar para o processo de tomada de decisões parentais responsáveis, procurando compreender os aspetos que influenciam positiva e negativamente as decisões parentais e o impacto destas na concretização efetiva do superior interesse da criança.

Das questões que se colocam a propósito da abordagem dos modelos de mediação familiar (Bush & Folger, 2005; Haynes, 1993; Parkinson, 2008; Winslade, 2006) como a da sua maior proximidade ao Direito e/ou à Terapia, a adequação dos seus modelos teóricos aos diversos tipos de conflito ou as questões relacionadas com a eficácia, destacamos no âmbito da parentalidade, o processo de decisão e de codecisão parental que se desenvolve na transição familiar para SD, bem como o impacto das decisões parentais responsáveis na efetivação do núcleo essencial do conceito de superior interesse da criança (artigo 3º, Convenção sobre os Direitos da Criança - CDC).

Não obstante, o crescente desenvolvimento teórico e prático da mediação familiar e as vantagens que representa para as famílias em conflito, no contexto de SD, a sua identidade e autonomia ainda não se encontram suficientemente consolidadas e validadas (Beck & Sales, 2001). Ao perspetivar-se a natureza da mediação familiar, no plano do Direito, considera-se que tem natureza extrajudicial, complementar e/ou alternativa ao

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7 sistema judicial (Farinha & Lavadinho, 1997). Mas, se se considerarem as metodologias e estratégias de gestão do conflito utilizadas no processo de mediação familiar observamos que a sua aplicação se inspira em bases teóricas e práticas adaptadas da área da Psicologia. Assim, a dificuldade de delimitação em torno da identidade da mediação familiar não se encontra totalmente resolvida, sendo certo que o corpo de conhecimentos que a integram foi progredindo a partir de contributos vários, nomeadamente a partir de três campos do conhecimento já estabelecidos: a Psicologia, o Direito e o Serviço Social. De facto, foi face ao crescente aumento de divórcios e demais conflitos familiares, que se constatou a necessidade de incorporar conhecimentos, quer do domínio do Direito, quer ao domínio da Psicologia, de modo a encontrar a abordagem mais apropriada para enfrentar os problemas das famílias que passam pela experiência do divórcio ou da separação. Então, nos Estados Unidos da América, alguns profissionais de mediação começaram a desenvolver projetos de mediação familiar baseados na interação entre estas duas disciplinas, iniciando-se assim um percurso de interdisciplinaridade. De salientar, que, se por um lado, foram criados modelos de mediação com uma notória inspiração da Psicologia (e.g. modelo Transformativo e modelo Circular Narrativo, mediação familiar terapêutica), por outro lado, a mediação familiar tem evoluído em ligação e em articulação com o sistema legal e judicial. Neste contexto, considera-se que a intersecção de conhecimentos entre a Psicologia, o Direito e outras Ciências Sociais deveria, cada vez mais, tender para a construção de uma unidade estruturada de conhecimentos de mediação familiar, autónoma e própria, apoiada pela investigação científica (Beck & Sales, 2001).

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8 Assim como o conflito faz parte da interação humana, também a busca de formas adequadas à sua gestão ou resolução se tem revelado uma necessidade generalizada. As tradições Judaica, Cristã, Hindu, Islâmica, Budista e diversas culturas indígenas têm recorrido, em diferentes regiões do mundo, desde tempos remotos, a ações mediadoras como forma de dirimir os conflitos civis, políticos, religiosos, comunitários e familiares (Moore, 2003; Parkinson, 2008).

Nesta perspetiva, a mediação, em sentido amplo, está enraizada na própria cultura humana e no desenvolvimento de uma ética democrática, informada, imbuída de respeito pela diversidade e orientada para o bem comum.

A prática contemporânea da mediação, como modalidade extrajudicial de resolução e de gestão de conflitos, conheceu um claro desenvolvimento nos Estados Unidos da América a partir da década de 1970 (Cohen, 2006; Hedeen, 2004; Moore, 2003). A especificidade e o aumento da litigância familiar provocam alguma entropia no sistema judicial que, conjugada com uma certa insatisfação por parte de cidadãos e de vários advogados (Cohen, 2006), propiciam um ambiente favorável ao desenvolvimento e implantação da mediação familiar, tanto pública como privada.

Verificou-se, então, uma proliferação de programas de mediação orientados para a abordagem de conflitos quer interpessoais quer organizacionais. Em meados de 1970, o governo federal dos Estados Unidos da América fundou o Centro de Justiça de Vizinhança (NJCs) destinado a resolver conflitos entre vizinhos; seguiram-se muitos outros programas de mediação, designadamente, no campo laboral, escolar, étnico, comercial e criminal (Hedeen, 2004; Moore, 2003). Também na área dos conflitos relativos à família e ao divórcio, surgiram diversos programas direcionados para a resolução de litígios familiares, os quais, tinham então características muito distintas dos

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9 atuais conflitos familiares, o que explica que algumas das estratégias de mediação familiar então utilizadas nos parecem agora inapropriadas (Saposnek, 2004).

Relativamente aos países europeus, especificamente, no quadro da União Europeia (EU), o interesse pela mediação familiar encontra-se ligado a fatores sociais políticos e jurídicos. A convicção de que o afeto tem um papel central no casamento e na educação das crianças, a secularização, a permissão legislativa e a paridade entre homens e mulheres, indiciam mudanças de paradigma no sentido de uma menor relevância das relações contratuais para uma maior relevância das relações afetivas na família.

A nível jurídico e político os movimentos de desjudicialização e a ideia de justiça de proximidade foram-se difundindo pela maioria dos países europeus, dando lugar a vários mecanismos de resolução de litígios por via consensual, com especial destaque para a mediação familiar.

Em termos gerais a mediação de conflitos encontra-se definida no artigo 2.º da Lei nº 29 de 2013, de 19 de abril como sendo uma “forma de resolução alternativa de litígios, realizada por entidades públicas ou privadas, através do qual duas ou mais partes em litígio procuram voluntariamente alcançar um acordo com assistência de um mediador de conflitos”, seguindo-se nos artigos seguintes da referida lei a estatuição dos princípios estruturantes comuns aos diferentes sistemas de mediação de conflitos.

Tomé (2008, p. 43), afirma que a mediação familiar é um “método de resolução de conflitos, alternativo ou complementar ao sistema judicial que visa alcançar um acordo conjunto, melhorar a comunicação, reduzir a área de conflito e tomar decisões autónomas”. Por sua vez, Parkinson (2008, p.16) define mediação familiar como sendo um processo “no qual duas ou mais partes em litígio são ajudadas por uma ou mais terceiras partes imparciais (mediadores) com o fim de comunicarem entre elas e de

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10 chegarem à sua própria solução, mutuamente aceite, acerca da forma como resolver os problemas em disputa”.

Nas últimas duas décadas, no contexto da União Europeia, têm sido produzidos diversos documentos e diplomas legislativos sobre mediação familiar, com vista ao reconhecimento de projetos já implementados pelos Estados-Membros e ao incentivo da prática da mediação numa perspetiva de harmonização processual e legislativa entre os Estados-Membros. De destacar, a importância da adoção por parte do Comité de Ministros do Conselho da Europa da Recomendação nº R (98) 1 aos Estados Membros da União Europeia, na qual, se materializam os princípios estruturantes sobre o processo de mediação familiar, as orientações sobre o seu campo de aplicação, organização, promoção, acesso e validação jurídica dos acordos obtidos através mediação familiar.

Posteriormente, a diretiva 2008/52/CE, de 21 de maio de 2008, do Parlamento Europeu e do Conselho, Relativa a Mediação em Certos Aspetos em Matéria Civil e Comercial, corporizou um passo importante no sentido da criação de um quadro legal de referência comum aos Estados-Membros. Esta diretiva, entretanto, transposta para o ordenamento jurídico português através da Lei nº 29 de 19 de abril de 2013, estabelece os princípios a observar no campo da mediação (artigos 3º e seguintes), especificamente, os princípios da voluntariedade, da autonomia das partes, da imparcialidade, da confidencialidade e o dever de os tribunais informarem as partes sobre a possibilidade de recurso a mediação.

Perante os desafios dos conflitos familiares emergentes da sociedade contemporânea o sistema judicial - enquadrado por uma lógica, por vezes, demasiado tecnicista e assente num quadro formal e legal pré-determinado -, confronta-se com a necessidade de promover abordagens eficientes do conflito familiar e de conjugar métodos complementares como a mediação familiar para melhorar as intervenções,

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11 sobretudo nos processos que envolvem crianças. No entanto, não raras vezes, é impossível evitar os elevados custos económicos, familiares e pessoais resultantes da relitigância. Neste contexto, a mediação familiar tem vindo a afirmar um reconhecimento crescente, nomeadamente, em resultado da consolidação do seu quadro teórico e da sua evolução prática e institucional, com efeitos positivos ao nível da prevenção e da gestão do conflito.

De salientar, o esforço desenvolvido pelos vários países europeus no sentido de regular a mediação familiar e de a inserir nas respectivas legislações nacionais, durante a primeira década deste século (Casals, 2005). Mas, independentemente do maior ou menor impulso dado à mediação em geral e à mediação familiar em particular, pela U.E., as suas potencialidades começaram a ser experimentadas e valorizadas desde a década de 1990 um pouco por toda a Europa. O Reino Unido, em meados de 1980, começou a pôr em prática iniciativas locais de mediação familiar (Parkinson, 2008) tendo-se constituído a Associação Nacional de Mediação Familiar (NFM) sem fins lucrativos e a Associação de Mediadores Familiares (FMA) de natureza privada (Roberts, 2005), ambas dedicadas à formação e prática da mediação familiar, apesar da ausência de qualquer regulamentação. Em 1996, oficializou-se o Colégio de Mediadores do Reino Unido com o propósito de promover a mediação e assegurar um bom nível de formação e de supervisão (Roberts, 2005). Ainda, nesse mesmo ano, foi publicada a Lei da Família (Family Law

Act 1996), a qual encoraja o recurso à mediação e lhe confere um papel central no âmbito

do processo de divórcio (Roberts, 2005). Em 1999 foi publicado o Código de Conduta de Mediadores Familiares do Reino Unido.

Marian Roberts (2005), no seu trabalho sobre o quadro de regulamentação da mediação familiar no Reino Unido, enfatiza várias questões relacionadas com a evolução da mediação familiar, que, de certa maneira, traduzem preocupações comuns existentes

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12 em vários países europeus, incluindo Portugal, como a questão de saber se o financiamento público da mediação familiar não poderá de algum modo pôr em causa a independência e autonomia da mediação familiar ou mesmo a criatividade e flexibilidade inerentes à sua prática.

Em França, através da Lei 2002-305, de 4 de março de 2002, relativa a autoridade parental, o juiz pode propor aos pais o recurso a mediação familiar relativamente ao exercício das responsabilidades parentais (Casals, 2005). Nos dois anos seguintes a esta publicação, sucederam-se-lhe outras duas importantes alterações legislativas: A Lei de reforma do divórcio, 2004-439, de 26 de maio de 2004, que alterou o Código Civil e a Lei 2004-1158, de 29 de outubro de 2004, que modificou o Código de Processo Civil, com vista à articulação da mediação familiar no quadro do sistema de justiça. Em França as atribuições relativas à prática, formação e supervisão encontram-se cometidas às associações de mediação familiar, as quais, se encontram congregadas na Confederarão Nacional de Mediação Familiar (FENAMEFA).

Em Espanha, é também clara a adesão à mediação familiar sobretudo a partir de 1990. De notar, que neste país a regulamentação da mediação familiar não é necessariamente uniforme tendo em consideração o sistema de autonomia legislativa das várias comunidades autónomas.

1.2.1 Portugal

Em 1994, realizou-se, em Portugal, o primeiro curso de mediadores familiares, promovido pelo Instituto Português de Mediação Familiar e com o apoio do Centro de Estudos Judiciários. Três anos mais tarde, em 1997, por iniciativa de um grupo de mediadores familiares formados no primeiro curso de Mediação Familiar-1994/95,

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criou-13 se, uma associação de mediadores familiares - a Associação Nacional para a Mediação Familiar – Portugal (ANMF), com o objetivo de formar novos mediadores familiares e de promover e divulgar a mediação familiar.

A mediação familiar, em Portugal, começou por ter um acolhimento muito favorável com a congregação de esforços do Centro de Estudos Judiciários, da Ordem dos Advogados e do Ministério da Justiça, sendo que, o primeiro serviço público de mediação familiar decorreu de um protocolo celebrado entre o Ministério da Justiça e a Ordem dos Advogados (Protocolo de Colaboração entre o Ministério da Justiça e a Ordem dos Advogados no Âmbito do Projeto “Mediação Familiar em Conflito Parental”, 16 de Maio de 1997). Com o decorrer do tempo, a cooperação inicial foi decaindo e dando lugar a uma certa inércia institucional e ao surgimento de naturais tensões entre a advocacia e a mediação familiar, a primeira, reclamando o campo da família como sendo tradicionalmente da sua competência e a segunda, tentando delimitar um espaço próprio de intervenção diferenciada – a mediação familiar.

O Despacho nº 12368/97, de 28 de agosto de 1997, criou o Gabinete de Mediação Familiar de Lisboa (GMF), com competência geográfica limitada à cidade de Lisboa e com competência material circunscrita à regulação, alteração ou incumprimento das responsabilidades parentais, o qual, entrou em funcionamento em setembro de 1999.

Neste contexto, a Lei nº 133/99, de 28 de agosto de 1999, estabeleceu no art.º 147D a possibilidade de recurso à mediação pública ou privada, oficiosamente ou a requerimento, mediante consentimento dos interessados.

Posteriormente, em 2002, foi alargada a competência territorial do Gabinete de Mediação Familiar, (GMF) à região da grande Lisboa, através do Despacho nº 1091/2002, de 16 de janeiro de 2002.

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14 De notar, que os meios de resolução alternativa de litígios (RAL) expandiram-se de forma decisiva a partir de 2000, altura em que o Governo de Portugal criou a Direcção-Geral da Administração Extrajudicial, que antecedeu o atual Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios - GRAL. Em 2001, através da Lei nº 78/2001, de 13 de julho de 2001, foram criados os tribunais de justiça de proximidade denominados Julgados de Paz, orientados para privilegiar a resolução de litígios relativamente a matérias cíveis (artigo 9º da Lei nº 78/2001, de 13 de julho de 2001) por via consensual, através de mediação e de conciliação.

Atualmente, os Julgados de Paz encontram-se implantados em grande parte do país e são alvo de relativo interesse político pelos sucessivos governos e pelos municípios, apesar do benefício que representam para os cidadãos que a eles podem recorrer de forma simples, direta e económica, entre outros aspetos.

Em 2006/2007, o governo de Portugal criou os sistemas de mediação pública, laboral (SML), penal (SMP) e familiar (SMF). O SMF foi regulado pelo Despacho nº 18778/2007, de 22 de agosto de 2007, através do qual se introduziram duas importantes alterações em relação ao quadro legal anterior: uma dessas alterações decorreu do alargamento da competência territorial a todo o país, e a outra alteração respeitou ao alargamento da competência material, tendo passado a ser possível abordar um conjunto de matérias e de conflitos familiares por meio de mediação familiar (e.g. questões relativas ao divórcio, pensão de alimentos entre cônjuges e filhos maiores, entre outros conflitos de natureza familiar).

O SMF coordena os serviços de mediação familiar a nível nacional a partir do Gabinete para a Resolução de Litígios, na dependência do Ministério da Justiça. Os gabinetes de mediação familiar instalados em vários locais do país decorrem, em regra, de protocolos celebrados entre os Municípios e o Ministério da justiça. O recrutamento

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15 dos mediadores que integram a lista nacional de mediadores familiares a prestar serviços de mediação familiar publica, no âmbito do SMF, são recrutados através de concurso público sendo o respetivo pagamento de honorários da responsabilidade do Ministério da Justiça.

1.3 O Conflito

Em geral, a gestão ou a resolução dos vários conflitos com que as pessoas se confrontam são objetivos centrais da atividade dos mediadores, por isso, o conflito é frequentemente objeto de uma abordagem plural e abrangente (Cunha & Leitão, 2011). O conflito familiar é um processo dinâmico e sequencial, caracterizado pela interação, pela interdependência e pela incompatibilidade de objetivos entre as pessoas envolvidas (Williams, 2011). Compreende, assim, um sistema complexo de intrincadas interações que, num determinado contexto, se cruzam e desenvolvem numa dinâmica não linear (Brack, Lassiter, Hill, & Moore, 2011). De salientar, o contributo da teoria dos sistemas (Anderson, Anderson, Palmer, Mutchler & Baker, 2011).; Haddad, Phillips & Bone, 2016) e da teoria da Complexidade Ecossistémica do Conflito (Brack, et al., 2011) para a compreensão e abordagem do conflito não no prisma de patologia, mas como parte do processo familiar. Brack, et al. (2011) propõe uma visão do conflito com base em cinco premissas fundamentais: 1) as dinâmicas humanas não são lineares; 2) as dinâmicas humanas desenvolvem-se em múltiplos níveis sociais que contêm diversos fatores que afetam a origem, desenvolvimento e resolução dos conflitos; 3) as dinâmicas humanas são imprevisíveis e difíceis de controlar; 4) apesar da imprevisibilidade do conflito há padrões que emergem e oferecem oportunidades de mudança; 5) As intervenções não

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16 devem ser centradas no conflito, mas sim orientadas para a adaptação das pessoas à mudança e para a obtenção de soluções mutuamente aceitáveis

1.3.1 Perspetivas da mediação familiar sobre o conflito na transição para a SD

Durante a transição para a SD, o círculo do conflito compreende um conjunto complexo de elementos, objetivos, atitudes, perceções e padrões de comunicação ou de interação suscetíveis de obstruir o desenvolvimento de relações positivas e de soluções construtivas entre as partes (Bush & Folger, 2005; Moore, 2003). Como sabemos o conflito é uma realidade complexa que apresenta, por um lado, potencialidades negativas e destrutivas, ao mesmo tempo que, por outro lado, é uma força indispensável para a mudança, renovação e desenvolvimento dos sistemas vivos impedindo assim a sua estagnação e o seu desaparecimento. De notar, que no decorrer da SD o foco do conflito manifesta-se principalmente em torno de questões da coparentalidade (Sbarra, & Emery, 200

5

), cujo impacto negativo no bem-estar dos filhos se encontra amplamente documentado na literatura (e. g. Cummings & Davies, 2002; Weaver & Schofield, 2014). Segundo Parkinson (2008), o conflito traduz um estado de turbulência, no qual, pequenos remoinhos no interior de grandes remoinhos geram estados de confusão e de desordem capazes de bloquear os esforços tendentes à estabilidade. Por sua vez, Bush e Folger (2005) referem-se a um conjunto de teorias frequentemente referidas na literatura tais como: a teoria do poder, a teoria dos direitos e a teoria das necessidades. Assim, os mediadores familiares de acordo com a teoria do conflito adotada tenderiam a atuar segundo um modelo avaliativo, facilitativo ou interventivo. De facto, Bush e Folger (2005) perfilham a teoria transformativa do conflito, cuja premissa fundamental é a de que a crise interacional procede do significado que a experiência do conflito tem para as

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17 pessoas, sustentando que a respetiva vivência é geralmente interiorizada como sendo negativa. De facto, estudos revelaram que as pessoas ao serem inquiridas sobre as suas interações conflituosas as representaram através de imagens e de metáforas negativas, assim como expressaram sentimentos de impotência e de alienação (McCorkle & Mills, 1992, cit. por Bush e Folger 2005). Desta forma, o conflito enquanto fenómeno social, não respeita somente a interesses, direitos, ou ao poder sendo, pois, um fenómeno mais complexo engendrado na interação entre seres humanos (Bush e Folger, 2005).

O conflito é motivado por múltiplas causas e manifesta-se de várias formas, especificamente através de padrões de comunicação disfuncional patentes na interação que criam ambiguidade e confusão (e.g. Brack, et al., 2011; Bush & Folger, 2005; Irving & Benjamin, 2005; Moore, 2003; Parkinson, 2008; Winslade, 2006), dificultando, assim, os processos de tomada de decisão. De facto, a SD, tem consequências significativas para a generalidade das famílias, a nível jurídico, socioeconómico e psicológico (Braver, Shapiro & Goodman, 2006; Sayer, 2006), consequências estas, frequentemente mescladas por conflitos e experiencias emocionais fortes, de raiva, dor, ansiedade e stress, entre outras, (des) adaptativas para a reorganização da família.

Assim, é crucial que os mediadores familiares utilizem estratégias orientadas para o enfrentamento dos desafios em presença, para que consigam ajudar os pais/ex-casal a lidar com o stress e a melhorarem a sua capacidade de autorregulação emocional promovendo, desse modo, disposições mentais apropriadas à tomada das decisões, respeitantes à vida dos filhos e à sua própria vida pessoal. É igualmente fulcral planificar as sessões de forma a desenvolver uma abordagem de acordo com as especificidades do conflito com que os intervenientes na mediação familiar se confrontam. Para tal, afigura-se esafigura-sencial que afigura-se verifique um nexo de adequação entre as causas do conflito e os métodos e estratégias potencialmente mais eficazes para a sua gestão ou eventual

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18 resolução. Neste sentido, Moore (2003) refere três momentos essenciais relativamente à gestão do conflito: 1) identificação das fontes centrais do conflito; 2) formulação de conjeturas ou hipóteses sobre as causas prováveis do conflito; 3) testar as hipóteses formuladas introduzindo estratégias de prevenção e de intervenção.

1.3.2 Elevado conflito

A forma como o conflito se manifesta durante a SD é, geralmente, a consequência de padrões de interação anteriormente estabelecidos durante o período em que o casal se mantinha unido. Através de diversos estudos com casais Gottman (1993) identificou cinco tipos de casais que designou por casais envolvidos, voláteis, validadores, hostis e hostis/separados. O autor comparando esta tipologia de casais com a tipologia identificada por Fitzpatrick’s (1988, cit. por Gottman, 1993) que, consiste em casais tradicionais, independentes e separados, observou que às características dos casais tradicionais equivalem os casais validadores; aos casais voláteis correspondem os casais independentes e os casais separados coincidem com os casais hostis.

De destacar, que da tipologia formulada por Gottman (1993) sobressaem dois tipos de casais a que correspondem formas de elevado conflito – os casais voláteis e os casais hostis/separados (Anderson, et. al., 2011). Segundo Gottman (1993), os relacionamentos voláteis caracterizam-se pela instabilidade das interações com muito envolvimento na expressão emocional e com coexistência de afetos positivos e negativos, bem como, mensagens recíprocas em que cada um tenta persuadir o outro que está errado; por sua vez, nos conflitos hostis/separados, as pessoas não têm envolvimento emocional, sendo comuns generalizações e ataques recíprocos por motivos frequentemente triviais e com escuta exclusivamente direcionada para a defensividade.

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19 De acordo com a tipologia de casais enunciada por Gottman (1993) os casais voláteis e hostis espelham interações de elevado conflito, em que prevalecem os quatro cavaleiros de discórdia referidos pelo autor: criticismo, defensividade, desprezo e obstrução, os quais, se expandem rapidamente e são exacerbados aquando da SD (Anderson, et. al., 2011).

Certamente que o conflito, em regra, não é uma catástrofe, contudo o elevado conflito tem frequentemente efeitos devastadores para as pessoas envolvidas (e.g. pais, crianças, a família, relações de amizade).

Haddad, et. al., (2016) definem elevado conflito como sendo um processo com duração superior a dois anos, caracterizado por um alto grau de raiva, hostilidade, desconfiança, intensa litigação sobre a regulação das responsabilidades parentais e dificuldades de comunicação apresentando taxas mais elevadas que o normal de incumprimento da prestação de alimentos.

Anderson, et. al. (2011) refere que as situações de elevado conflito refletem um processo crónico, com um grau alto de reatividade, de protestos, de maledicência e de incapacidade para assumir a responsabilidade pelo respetivo papel no conflito.

De salientar, que o alto nível de conflito entre os pais frequentemente desenvolve-se em torno do tema das responsabilidades parentais, durante ou após a SD, tem um impacto significativo, nas crianças, designadamente ao nível do stress, depressão, isolamento social, dificuldades académicas e auto estima, assim como, no seu desenvolvimento e funcionamento psicológico (e.g. Beck & Sales 2001; Haddad, et al. 2016; Kelly & Emery, 2003).

Por outro lado, o conflito elevado tem sido relacionado em alguns estudos com alienação parental e com desordens da personalidade, especificamente com personalidade

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Figura 2. Etapas de conceção e desenvolvimento dos focus groups.
Figura 3. Tipos de conflitos mais referidos pelos participantes nos focus groups  realizados com mediadores familiares e assessores do ISS (nº de referências)
Figura 6. Fatores ativadores do conflito.
Figura 7. Fatores Pacificadores do Conflito.
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Referências

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