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ÍNDICE DE FIGURAS

Estudo 1 Qualitativa Focus Group

2.6.3 Análise dos dados

5 A recolha pode consistir também em observações, vídeos, documentos ou outras fontes que o investigador

79 2.6.3.1 A Grounded Theory

O processo de categorização delineado por Corbin e Strauss (2008) progride por fases inter-relacionadas. Inicia-se com a codificação aberta, prosseguindo com a codificação axial e a codificação seletiva.

A codificação aberta é uma análise inicial e minuciosa do material recolhido, palavra a palavra, linha a linha ou incidente a incidente com o objetivo de facilitar a compreensão das questões que são colocadas nas entrevistas. Pretende-se dimensionar os dados segmentando-os para formar categorias de informação.

A codificação axial consiste na fixação da categoria nuclear do evento “core category”. O cerne da codificação axial compreende a exploração: 1) das condições causais (fatores que causaram o fenómeno); 2) das estratégias (ações, interações e emoções individuais ou em grupo) desencadeadas para responder aos problemas, situações, acontecimentos e eventos que constituem o cerno do fenómeno; 3) as condições intervenientes (contexto e condições em sentido restrito ou amplo que influenciaram as estratégias); 4) as consequências (resultados decorrentes das ações, interações ou emoções).

A codificação seletiva ocorre quando o investigador pode compor uma história relacional das categorias ou quando tem possibilidade de especificar as suas proposições e hipóteses. No termo do processo é possível desenvolver uma matriz visual (matriz condicional/consequencial) que consiste num instrumento analítico organizado por círculos concêntricos que se expandem a partir do nível micro para o nível macro. O resultado final do processo de recolha e análise é depois completado com o acervo dos

80 memorandos6 que foram sendo criados ao longo do estudo, de forma a atingir o nível substantivo em que a teoria emerge (Creswell 2007, Corbin & Strauss, 2008).

Vários autores (e.g. Charmaz, 2006; Corbin & Strauss, 2008) referem um conjunto de procedimentos de recolha e de análise dos dados indispensáveis ao processo de análise com a GT. No entanto, Charmaz (2006) desenvolve a GT numa perspetiva construtivista em que, múltiplas realidades e complexidades, visões, ações e particularidades são incluídas e enfatizadas, em contrapartida Corbin e Strauss (2008) restringem o campo de estudo a um único processo espelhado numa categoria nuclear única (Creswell 2007). Em suma, Corbin e Strauss (2008) estilizam fortemente os procedimentos circunscrevendo o processo a um esquema sistemático de apuramento da teoria enquanto Charmaz (2006) reclama a perspetiva do investigador no processo em que se encontra envolvido, enquanto titular de ideologias, valores, sentimentos, aprendizagens, decisões e interpretações, de tal maneira que a teoria desenvolvida surge repassada da perspetiva do investigador.

Em regra, nos estudos desenvolvidos com a GT, os participantes são selecionados segundo a modalidade de amostra teórica, ou seja, em função da relevância da sua contribuição para desenvolver a teoria emergente. A amostra é utilizada para focar e desenvolver as propriedades e as dimensões das categorias até que não surjam novas categorias relevantes e assim se obtenha a saturação teórica (Charmaz (2006).

A análise de conteúdo das entrevistas que integram este trabalho foi realizada com base no software Qualitative Solutions Research (QSR) NVivo 11 for Windows. De notar que a utilização de computadores tem cada vez mais influência na investigação qualitativa proporcionando instrumentos de análise cada vez mais sofisticados e eficientes e, dessa

6 A elaboração de memorandos é uma tarefa intermédia entre a recolha dos dados e a e análise e redação

final do estudo que visa, entre outros aspetos, ajudar o investigador a refletir sobre os dados, a desenvolver ideias novas, a criar novos conceitos e conexões entre as categorias e entre estas e os dados.

81 forma, contribuindo para garantir o rigor do processo de análise e ajudando o investigador a engajar-se no trabalho de uma forma mais metódica, minuciosa e atenta (Bazeley, 2010).

2.6.3.2 A análise quantitativa

Incidindo este estudo, especialmente sobre o processo, os contextos e as variáveis associadas à tomada de decisões parentais na transição para a SD e o seu impacto na proteção efetiva do interesse da criança, pretende-se averiguar, através de um estudo quantitativo complementares ao estudo qualitativo 2, a repercussão dos estilos parentais e da coparentalidade na forma como os pais gerem o processo de decisão sobre responsabilidades parentais e o espetro de mudanças inerentes à SD. Também nos interessou pesquisar possíveis conexões destes constructos com a abordagem das responsabilidades parentais em contexto de mediação familiar.

2.6.3.2.1 Instrumentos

Para recolher os dados quantitativos foram aplicados os seguintes instrumentos a cada um dos participantes no estudo 2: 1) Questionário sociodemográfico aplicado aos participantes nas entrevistas semiestruturadas (vide Apêndice G); 2) Questionário da Coparentalidade – QC (Margolin, Gordis & John, 2001 (Apêndice H); tradução e adaptação portuguesa: Pedro & Ribeiro, 2014).

82 2.6.3.2.2 Questionário da Coparentalidade

É geralmente consensual considerar-se a coparentalidade como sendo um constructo multidimensional (Feinberg, 2003), se bem que os vários modelos de coparentalidade divirjam quanto ao conceito e ao número de dimensões (e. g. Margolin, et al., 2001; Van Egeren & Hawkins, 2004).

No presente estudo optou-se pelo modelo de coparentalidade exposto por Margolin et al. (2001), o qual, compreende três dimensões principais. A primeira dimensão, alude ao conflito entre as figuras parentais, incluindo a frequência e severidade das divergências acerca da educação dos filhos ou as tentativas de sabotar ou debilitar a relação parental do outro pai (ou mãe). A segunda dimensão, consiste na cooperação parental, mensurando o respeito, valorização apoio e partilha que os pais reciprocamente manifestam nas suas funções parentais. A terceira dimensão, reflete as situações de triangulação que têm lugar quando se verifica uma coligação entre um dos pais e o filho que ao pertencerem a diferentes níveis hierárquicos determinam uma distorção das fronteiras entre os subsistemas coparental e paterno-filial. Esta situação tem como consequência o enfraquecimento, depreciação ou mesmo a exclusão de uma das figuras parentais da vida da criança. Vários estudos referem que a dinâmica de triangulação está frequentemente associada à SD e a um desajustamento emocional da criança.

O modelo de coparentalidade desenvolvido por Margolin et al. (2001) apresenta um interesse acrescido quando se visa compreender o universo de influências e os sistemas de decisão parental no intercurso da transição para a SD ou, ainda quando se ambiciona perspetivar de que forma a Mediação Familiar pode funcionar preventivamente no atual sistema social e jurídico. Assim, a aplicação e análise dos dados recolhidos com do Questionário da Coparentalidade às díades parentais do estudo 2 tem

83 o mérito de facultar uma visão de tipo estandardizada que nos permita esmerar e complementar a análise qualitativa do estudo 2.

O Questionário da Coparentalidade (Margolin, Gordis & John, 2001; tradução e adaptação portuguesa: Pedro & Ribeiro, 2014) é um questionário que foi concebido para avaliar a perceção que os pais têm um do outro enquanto pais com base em três dimensões distintas. O questionário, comparativamente com outros instrumentos congéneres, mostra-se bastante mais completo permitindo, medir dimensões positivas e negativas ao mesmo tempo que possibilita a avaliação de dinâmicas de triangulação. Por outro lado, as respostas dadas por cada um dos pais correspondem à perceção que os próprios têm sobre o comportamento do outro pai ou mãe na relação coparental o que, entre outros aspetos, contribui para reduzir a elevada desejabilidade social que os instrumentos de autorrelato e o próprio tema da parentalidade comportam.

O QC é um questionário de hétero-relato composto por três subescalas (Cooperação: itens 1 a 5; Conflito: itens 10 a 14 e Triangulação: itens 6 a 9) que, no conjunto, totalizam 14 itens, cujas respostas aos mesmos são fornecidas por uma escala de Likert de cinco pontos, variando de (1) Nunca a (5) Sempre (Margolin, et al., 2001). Os níveis de consistência interna nas três subescalas do QC são bastante satisfatórios (alphas de Cronbach entre 0.80 e 0.94) sendo o item 13 invertido, de acordo com instruções dos autores originais (Margolin, et al., 2001 adaptação Pedro & Ribeiro 2014).