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Retrato geoepidemiológico das pessoas assistidas por organização não governamental de apoio ao câncer / Geoepidemiological portrait of people assisted by cancer supporting non-governmental organization

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761

Retrato geoepidemiológico das pessoas assistidas por organização não

governamental de apoio ao câncer

Geoepidemiological portrait of people assisted by cancer supporting

non-governmental organization

DOI:10.34117/bjdv6n11-271

Recebimento dos originais: 19/10/2020 Aceitação para publicação: 13/11/2020

Sheilla de Oliveira Faria

Nutricionista Doutoranda

Faculdade de Medicina. Universidade de São Paulo E-mail: sheila.faria@usp.br

Daniela Braga Lima

Nutricionista

Professora Adjunta, Doutora Universidade Federal de Alfenas - MG

E-mail: danibraga@unifal-mg.edu.br

Tábatta Renata Pereira de Brito

Enfermeira

Professora Adjunta, Doutora Universidade Federal de Alfenas - MG

E-mail: tabatta_renata@hotmail.com

Daniel Hideki Bando

Geógrafo

Professor Adjunto, Doutor Universidade Federal de Alfenas - MG E-mail: daniel.bando@unifal-mg.edu.br

Murilo César do Nascimento

Enfermeiro

Professor Adjunto, Doutor Universidade Federal de Alfenas – MG E-mail: murilo.nascimento@unifal-mg.edu.br

Eliane Garcia Rezende

Nutricionista e Farmacêutica-bioquímica Professora Associada, Doutora Universidade Federal de Alfenas – MG E-mail: eliane.rezende@unifal-mg.edu.br

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

Justificativa e Objetivos: O câncer é considerado importante problema de saúde pública e as organizações não governamentais vem ganhando mais reconhecimento na assistência ao indivíduo, agindo como parceiras dos setores público e privado. O objetivo foi descrever o retrato geoepidemiológico dos indivíduos com câncer assistidos por uma organização não governamental. Método: Estudo transversal, descritivo, a partir dos cadastros de indivíduos com câncer realizados entre maio de 2002 e maio de 2017, obtidos do banco de dados da organização não governamental. Para a descrição do perfil epidemiológico foram utilizadas as variáveis idade, sexo, local de residência, estado civil, renda, situação de acompanhamento junto à associação e localização do tumor. A distribuição espacial foi feita por meio da construção de mapas temáticos. Resultados: No período analisado, 2732 indivíduos foram assistidos. Os tumores dos órgãos digestivos (23,17%) foram os mais prevalentes, seguido de câncer de mama (16,73%) e órgão genitais masculinos (12,88%). Verificou-se que a maioria dos assistidos era idosos, casados e com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos. A análise espacial evidenciou que o município sede apresentou o maior número de indivíduos assistidos (1394), seguido pelos municípios vizinhos. Conclusão: Entender o perfil dos indivíduos que procuram pelo apoio de organização não governamental no enfrentamento do câncer é fundamental para colocar em discussão e dar mais direcionamento ao processo de cuidado oferecido por essas instituições.

Palavras-Chave: Neoplasias, Epidemiologia, Distribuição Espacial da População, Organizações não

Governamentais.

ABSTRACT

Background and Objectives: Cancer is an important public health problem, and nongovernmental organizations have been gaining more recognition in assisting the individual, acting as partners in the public and private sectors. The aim was to describe the epidemiological profile and spatial distribution of individuals assisted by a nongovernmental organization. Method: Cross-sectional, descriptive study based on the registrations of individuals with cancer performed between May 2002 and May 2017, obtained from the nongovernmental organization database. For the description of epidemiological profile, variables age, sex, place of residence, marital status, income, follow-up situation with the association and location of the tumor were used. The spatial distribution of registers was made through the construction of thematic maps. Results: During the analyzed period, 2732 individuals were assisted. Tumors of digestive organs (23.17%) were the most prevalent, followed by breast cancer (16.73%) and male genitalia (12.88%). It was verified that the majority of assisted were old, married and with family income between 1 and 2 minimum wages. The spatial analysis showed that the municipality where the organization is located presented the largest number of individuals attended (1394), followed by the neighboring municipalities. Conclusion: Understanding the profile of individuals seeking nongovernmental organization support in the fight against cancer is fundamental to discuss and give more direction to the care process offered by these institutions.

Keywords: Neoplasms, Epidemiology, Residence Characteristics, Non-Governmental Organizations. 1 INTRODUÇÃO

De acordo com dados do IARC, o câncer é considerado importante problema de saúde pública em todas as regiões econômicas do mundo, e, especialmente nos países em desenvolvimento é considerado grande desafio, uma vez que ao contrário maioria dos países de renda mais alta, as taxas de mortalidade por câncer em particular, não estão diminuindo. 1-2

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 A América Latina, apesar de apresentar menor incidência global do câncer do que Europa e Estados Unidos, exibe carga de mortalidade mais alta, devido principalmente ao diagnóstico em estágio tardio além de dificuldade de acesso ao tratamento.3

No Brasil, conforme as estimativas do Instituto Nacional de Câncer José Gomes da Silva (INCA), para cada ano do triênio 2020-2022, estimam-se que ocorram cerca de 625 mil novos casos.4

A partir da análise destes números, verifica-se que o câncer é um dos desafios mais complexos do Sistema Único de Saúde, devido a sua magnitude epidemiológica, social e econômica e compreende-se a necessidade de compreende-se enfrentar a problemática do câncer de modo abrangente, ou compreende-seja, por meio de ações de ensino, pesquisa, informação, prevenção e assistência.5

No Caribe e América Latina como um todo, ministérios da saúde e sistemas de saúde enfrentam muitos desafios para cuidar de indivíduos em tratamento oncológico avançado: financiamento inadequado; distribuição desigual de recursos e serviços; número, treinamento e distribuição de pessoal e equipamentos de saúde inadequados; sistemas voltados para as necessidades das minorias ricas e urbanas entre outros.5

Países de baixa a média renda enfrentam uma carga desproporcional de mortalidade de câncer uma vez que estão menos preparados para combater a doença. 6 No Caribe e América Latina, por exemplo, ministérios da saúde e sistemas de saúde enfrentam muitos desafios para cuidar de indivíduos em tratamento oncológico avançado: financiamento inadequado; distribuição desigual de recursos e serviços; número, treinamento e distribuição de pessoal e equipamentos de saúde inadequados; sistemas voltados para as necessidades das minorias ricas e urbanas entre outros.7

Sendo assim, no que concerne a assistência à pessoa com câncer, deve-se reconhecer a importância da integração de serviços assistenciais, para atender as diferentes demandas desses indivíduos, a partir de uma infinidade de esforços e iniciativas 8-9 Uma abordagem de várias partes

interessadas para lidar com as doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, tem sido defendida há algum tempo como um meio de aumentar a conscientização, estabelecendo objetivos comuns e otimizando recursos.10 Neste contexto, o “terceiro setor” vem ganhando cada vez mais reconhecimento, agindo como parceiro dos setores público e privado na área da saúde.

Fazem parte desse setor, os institutos, entidades, organizações não governamentais (ONGs), entidades de classe e beneficentes, movimentos sociais, entre outros; originadas por auto-organização ou ainda por iniciativa de particulares externos, com o intuito de prestação de serviços gratuitos, representando, organizações sem fins lucrativos, voltadas para a produção de bens e serviços de

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 interesse público.11-12 No Brasil, o “terceiro setor” é previsto legalmente em duas principais

modalidades, as associações e fundações, e experimentou crescimento a partir de 1990.13

As ONGs têm apresentado um papel cada vez mais importante na prevenção e controle do câncer uma vez que promovem a conscientização da população, oferecem suporte e cuidado ao paciente, além de contribuírem para regulação da política de câncer.7 Existe ainda a possibilidade de fundos de organizações não-governamentais e/ou instituições filantrópicas auxiliarem no financiamento da pesquisa do câncer.14

Portanto, diante da importância que as ONGs vêm representando na prestação de cuidados aos indivíduos em tratamento oncológico, justifica-se a condução de mais pesquisas neste campo. Além da questão de regulação, faz-se necessário entender a influência dessas entidades sobre acesso, equidade e natureza dos bens de saúde.12

Pesquisas nessa área justificam-se também pela importância da atuação de tais instituições que, além de incentivar e conscientizar a sociedade civil da necessidade de mobilização social, acabam auxiliando nas dificuldades enfrentadas pelos setores público e privado. Apesar da crescente notoriedade do Terceiro Setor nos últimos anos no cuidado ao indivíduo com câncer, pouca atenção é dada ao perfil de atendimento das ONGs.

Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico e a distribuição espacial de indivíduos assistidos por uma organização não governamental.

2 MÉTODOS

Estudo transversal, descritivo, com dados secundários referentes aos cadastros dos indivíduos com câncer realizados entre 2002 e 2017, obtidos do banco de dados da Associação de Voluntários Vida Viva, localizada na cidade de Alfenas- MG, ao sul do estado de Minas Gerais.15 A missão da

ONG nos últimos anos tem sido oferecer assistência para indivíduos com câncer, de 23 cidades que compõem a Regional de Saúde.16

Para descrição do perfil epidemiológico foram utilizadas as variáveis idade, sexo, local de residência, estado civil, renda, situação de acompanhamento junto à associação, além da localização do tumor, que seguiu a Classificação Internacional de Doenças para Oncologia – CID-O/2.

A análise exploratória da distribuição espacial das variáveis foi realizada por meio de mapas temáticos, elaborados pelo método das figuras geométricas proporcionais. Os intervalos de valores situados nas legendas foram gerados pelo método dos quantis. Foi utilizado o programa ArcGIS 10.1 para a elaboração dos mapas temáticos. A base de dados para elaboração dos mapas do Brasil, estado

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 de Minas Gerais e municípios foi extraída diretamente do sítio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.15

Para análise estatística, os dados foram compilados e analisados de maneira descritiva no programa Stata versão 13.0.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 54701116.0.0000.5142), sendo seguidos todos os princípios éticos em pesquisa envolvendo seres humanos.

3 RESULTADOS

No período de maio de 2002 a maio de 2017, 2732 indivíduos foram assistidos pela Associação Viva Vida de Alfenas. O número de indivíduos assistidos pela Associação Vida Viva vem crescendo anualmente, passando de 19 no ano de sua fundação a 341 no ano de 2016 (Figura 1).

Figura 1. Número de indivíduos cadastrados na organização não governamental de 2002 a 2017.

Os tumores dos órgãos digestivos (23,17%) foram os mais prevalentes no período estudado, seguido de câncer de mama (16,73%) e órgão genitais masculinos (12,88%) (Figura 2).

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Figura 2. Percentual de indivíduos cadastrados segundo localização do tumor na organização não governamental de 2002 a 2017.

Ao longo do período analisado, verificou-se que a maioria dos indivíduos assistidos eram idosos, casados e com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos. Com relação ao local de residência, observou-se que o perfil dos indivíduos assistidos mudou ao longo dos 15 anos, sendo que nos primeiros 6 anos prevaleceram os indivíduos alfenenses e nos anos seguintes houve aumento do cadastro de indivíduos dos demais municípios da Gerência Regional de Saúde de Alfenas (Tabelas 1 e 2).

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Tabela 1. Indivíduos assistidos na organização não governamental de 2002 a 2009.

*Média(dp) **Jovem (0 – 19 anos); adulto (20 – 59 anos); idoso (60 anos ou mais)*** Ativo (ainda realiza algum tipo de atendimento na instituição)

2002 n(%) 2003 n(%) 2004 n(%) 2005 n(%) 2006 n(%) 2007 n(%) 2008 n(%) 2009 n(%)

Sexo Feminino 16(84,21) 42(73,68) 25(64,10) 30(57,69) 46(64,79) 42(60,00) 67(50,76) 91(46,19)

Masculino 3(15,79) 15(26,32) 14(35,90) 22(42,31) 25(35,21) 28(40,00) 65(49,24) 106(53,81)

Idade* 64,16(4,9) 61,42(2,5) 64,92(2,7) 63,19(2,6) 67,5(2,3) 65,08(2,1) 67,31(1,6) 65,38(1,3)

Faixa Etária** Jovem 1(5,26) 5(8,77) 1(2,56) 2(3,85) 3(4,23) 2(2,86) 6(4,55) 8(4,06)

Adulto 4(21,05) 12(21,05) 13(33,33) 16(30,77) 12(16,90) 17(24,29) 27(20,45) 56(28,43) Idoso 14(73,68) 40(70,18) 25(64,10) 34(65,38) 56(78,87) 51(72,86 99(75,00) 133(67,51) Residência Alfenas 18(94,74) 54(94,74) 35(89,74) 47(90,38) 65(91,55) 66(94,29) 106(80,30) 92(46,70) Outras cidades 1(5,26) 3(5,26) 4(10,26) 5(9,62) 6(8,45) 4(5,71) 26(19,70) 105(53,30) Renda familiar* 361,4(159,5) 473,7(175,6) 344,8(93,2) 91,0(34,6) 381,4(102,9) 282,0(86,4) 269,4(46,5) 571,1(68,2)

Estado civil Solteiro 1(5,26) 1(1,75) 1(2,56) 3(5,77) 4(5,63) 5(7,14) 11(8,33) 10(5,08)

Casado 14(73,68) 45(78,95) 32(82,05) 43(82,69) 57(80,28) 56(80,00) 110(88,33) 140(71,07) Divorciado 0(0) 4(7,02) 2(5,13) 2(3,85) 3(4,23) 5(7,14) 3(2,27) 13(6,60) Amasiado 1(5,26) 0(0) 3(7,69) 0(0) 0(0) 0(0) 0(0) 10(5,08) Viúvo 3(15,79) 7(12,28) 1(2,56) 4(7,69) 7(9,86) 4(5,71) 8(6,06) 24(12,18) Situação*** Ativo 12(63,16) 38(66,67) 21(53,85) 29(55,77) 35(49,30) 32(45,71) 79(59,85) 94(47,72) Inativo 7(36,84) 19(33,33) 18(46,15) 23(44,23) 36(50,70) 38(54,29) 53(40,15) 103(52,28)

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Tabela 2. Indivíduos assistidos na organização não governamental de 2010 a 2017.

*Média(dp) **Jovem (0 – 19 anos); adulto (20 – 59 anos); idoso (60 anos ou mais)*** Ativo (ainda realiza algum tipo de atendimento na instituição)

2010 n(%) 2011 n(%) 2012 n(%) 2013 n(%) 2014 n(%) 2015 n(%) 2016 n(%) 2017 n(%)

Sexo Feminino 132(52,59) 111(47,03) 120(46,15) 112(45,90) 138(51,11) 140(45,16) 195(57,18) 103(56,28)

Masculino 119(47,41) 125(52,97) 140(53,85) 132(54,10) 132(48,89) 170(54,84) 146(42,82) 80(43,72)

Idade* 65,43(1,1) 66,31(1,0) 65,74(1,1) 64,86(1,0) 61,18(1,0) 62,77(0.9) 61,80(0,8) 62,50(1,1)

Faixa Etária** Jovem 2(0,80) 3(1,27) 5(1,92 2(0,82) 4(1,48) 6(1,94) 2(0,59) 3(1,64)

Adulto 84(33,47) 67(28,39) 72(27,69) 69(28,28) 118(43,70) 112(36,13) 148(43,40) 67(36,61) Idoso 165(65,74) 166(70,34 183(70,38) 173(70,90) 148(54,81) 192(61,94) 191(56,01) 113(61,75) Residência Alfenas 105(41,83) 106(44,92) 96(36,92) 112(45,90) 136(50,37) 140(45,16) 142(41,64) 74(40,44) Outras cidades 146(58,17) 130(55,08) 164(63,08) 132(54,10) 134(49,63) 170(54,84) 199(58,36) 109(59,56 Renda familiar* 907,7(40,4) 1166,6(70,7) 1173,5(41,5) 1277,4(63,4) 1141,9(46,6) 1202,5(41,7) 1259,9(46,2) 1336,5(64,2)

Estado civil Solteiro 32(12,75) 26(11,02) 37(14,23) 26(10,66) 51(18,89) 67(21,61) 73(21,41) 34(18,58)

Casado 134(53,39) 137(58,05) 150(57,69) 129(52,87) 132(48,89) 150(48,39) 167(48,97) 89(48,63) Divorciado 28(11,16) 26(11,02) 10(3,85) 24(9,84) 29(10,74) 25(8,06) 33(9,68) 15(8,20) Amasiado 12(4,78) 15(6,36) 17(6,54) 21(8,61) 16(5,93) 20(6,45) 16(4,69) 7(3,83) Viúvo 45(17,93) 32(13,56) 46(17,69) 44(18,03) 42(15,56) 48(15,48) 52(15,25) 38(20,77) Situação*** Ativo 114(45,42) 108(45,76) 154(59,23) 136(55,74) 156(57,78) 205(66,13) 273(80,06) 177(96,72) Inativo 137(54,58) 128(54,24) 106(40,77) 108(44,26) 114(42,22) 105(33,87) 68(19,94) 6(3,28)

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 Na análise espacial, constatou-se que no período estudado, o município sede da ONG, Alfenas, apresentou o maior número de indivíduos cadastrados na ONG (1394), seguido pelos municípios vizinhos Machado (222), Paraguaçu (150), Alterosa (127), Areado (121). Três municípios fora da região sul do estado de Minas Gerais, como, Itumirim, Campo Belo e Lavras também apresentaram cadastro (Figura 3).

Figura 3. Número de indivíduos cadastrados na organização não governamental de 2002 a 2017 segundo sua localização.

4 DISCUSSÃO

O presente estudo descreveu o perfil epidemiológico e a distribuição espacial de indivíduos assistidos por uma organização não governamental em um município do Sul de Minas Gerais. Com tal análise, foi possível observar a dimensão da importância da ONG no auxílio ao enfrentamento do câncer na região em questão.

O aumento anual de cadastros na ONG encontrado foi compatível com o aumento da incidência de câncer no período, tanto no Brasil como na Região Sudeste.4 Ademais, o crescimento dos cadastros

ao longo dos anos pode ser justificado pela relação com a expansão da própria instituição com seus serviços.16 O crescente número de cadastros mostra também a importância da ONG no apoio aos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 serviços de oncologia de um dos hospitais do município, em 2009.17 Geralmente, as ONGs de apoio

ao câncer acabam absorvendo a demanda contínua de serviços para indivíduos com câncer, tentando auxiliar nos serviços administrados pelo governo, por meio de atividades como o atendimento especializado, manutenção de bancos de medicamentos, criação de campanhas educacionais sobre prevenção e detecção precoce entre outros.18-20

Não se observou mudança no perfil dos indivíduos assistidos em relação às variáveis idade, faixa etária, renda familiar média e estado civil. No entanto, observou-se que nos primeiros seis anos houve predominância de assistência a indivíduos do sexo feminino. Acredita-se que este predomínio inicial seja explicado, em parte, pelas relações socioculturais, uma vez que a ideia de cuidado com a saúde é associada à fragilidade, e os locais que prestam serviços de saúde acabam sendo rotulados como de mulheres, crianças e idosos.21 Pode-se dizer que na população em envelhecimento, há uma heterogeneidade significativa em relação ao estado de saúde e necessidades de cuidados relacionado ao gênero.22

Os dados revelaram que a maioria dos indivíduos assistidos eram idosos. A maior ocorrência de neoplasias nessas idades pode estar associada a uma maior exposição dos indivíduos aos fatores de risco para o câncer e ao próprio envelhecimento populacional. Assim, o grupo de idosos encontra-se exposto por mais tempo aos diferentes agravadores da problemática.23

O aumento de indivíduos procedentes de outros municípios da região após os primeiros 6 anos coincide com o credenciamento do serviço de oncologia do hospital, além da implantação de um estabelecimento vinculado a ONG que proporciona aos indivíduos em tratamento oncológico no hospital, lanches reforçados, área para repouso e convívio social.16

O predomínio de indivíduos portadores de câncer de órgãos digestivos deve-se ao fato de que juntos eles representam uma grande fração dos casos de câncer. No Brasil, os tumores de intestino, estômago, esôfago, estão entre os mais incidentes.4

Neste estudo, encontrou-se como segundo tipo mais predominante o câncer de mama, o que pode ser explicado pelo fato de que é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil.24,25 Da mesma forma, justifica-se a prevalência de tumores do órgão genital masculino encontrada neste estudo. Estima-se 66.280 casos novos de câncer de mama e 65.840 casos novos de câncer de próstata no Brasil para cada ano do triênio 2020-2022.4

Na análise espacial, os resultados evidenciaram, como esperado, que o município sede da ONG apresentou maior número de cadastros seguidos pelos municípios mais próximos da cidade. Apesar da maioria das ONGs de câncer serem regionalmente limitadas por seu tamanho pequeno, parece que vem

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p. 87843-87856, nov. 2020. ISSN 2525-8761 conseguindo ampliar este cenário.18 Possivelmente, a divulgação do trabalho explique a sobrevivência

e expansão, uma vez que, na maioria das vezes a obtenção de recursos é proveniente da própria sociedade.13

Deve-se ressaltar que as informações contidas no banco de dados da ONG estudada não representam a totalidade de cânceres diagnosticados e tratados na região, mas sim os casos assistidos pela mesma; portanto, tornam-se limitadas para permitir inferências quanto ao perfil oncológico da região. Ainda assim, são importantes para entender qual o perfil dos indivíduos que procuram pelo apoio de ONGs no enfrentamento do câncer, contribuindo para o entendimento quanto ao contexto epidemiológico deste município e região quanto a essa patologia e, pensar ações e estratégias que possibilitem um novo olhar para a realidade do câncer na população atendida nesse espaço.

5 CONCLUSÃO

O retrato geoepidemiológico das pessoas assistidas pela ONG de apoio ao câncer proposto foi alcançado. Foram assistidos 2732 indivíduos no período analisado, onde os tumores dos órgãos digestivos (23,17%) foram os mais prevalentes, seguidos de câncer de mama (16,73%) e do órgão genital masculino (12,88%). Verificou-se que a maioria dos assistidos era idosos, casados e com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos. A análise espacial evidenciou que o município sede apresentou o maior número de indivíduos assistidos (1394), seguido pelos municípios vizinhos.

Apesar desse tema ainda não ser frequentemente abordado pela academia, é fundamental entender o perfil dos indivíduos que procuram pelo apoio de organizações não governamentais no enfrentamento do câncer para colocar em discussão e dar mais direcionamento ao processo de cuidado oferecido por essas instituições e, a partir de então, orientar estrategicamente as ferramentas já existentes. Considerando que o “terceiro setor” tem uma importância cada vez maior na sociedade, justifica-se a necessidade de realização de outros estudos para demonstrar a eficácia dos serviços prestados por este.

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REFERÊNCIAS

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Figura 1. Número de indivíduos cadastrados na organização não governamental de 2002 a 2017
Figura 2. Percentual de indivíduos cadastrados segundo localização do tumor na organização não governamental de 2002 a  2017
Tabela 1. Indivíduos assistidos na organização não governamental de 2002 a 2009.
Tabela 2. Indivíduos assistidos na organização não governamental de 2010 a 2017.
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