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Academic year: 2022

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Sumário

Memoriais ... 2

1 - Cabimento e prazo ... 2

2 - Base legal ... 2

3 - Identificação... 2

4 - Conteúdo ... 3

5 - Preliminares ... 3

6 - Mérito ... 3

7 - Subsidiariedade ... 4

8 - Pedido ... 5

8.1 - Sentença Absolutória ... 5

9 - Estrutura dos memoriais ... 7

9.1 - Modelo de peça ... 7

Peças Resolvidas ... 9

Memoriais no Júri ... 19

1 - Fundamento legal para colocar no preâmbulo ... 19

2 - Como descobrir a peça ... 19

3 - Conteúdo dos memoriais do júri ... 19

3.1 - Preliminares ... 20

3.2 - Mérito ... 20

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M EMORIAIS

1 - Cabimento e prazo

Declarada encerrada a instrução, passa-se à etapa dos debates orais. Todavia, sobretudo no contexto da prova da OAB, os debates orais podem ser substituídos por memoriais escritos em, basicamente, três hipóteses: a) complexidade da causa; b) excessivo número de réus; c) quando requerida diligência em audiência.

Prazo: 5 dias a contar da intimação.

2 - Base legal

403, § 3.ª, CPP ou 404, parágrafo único

3 - Identificação

Os memoriais são oferecidos após a instrução e antes da sentença.

Exemplos de como identificar a peça extraídos de memoriais que já cobrados pela FGV:

XXIII Exame [...] Recebida a denúncia, durante a instrução, foi ouvida Cláudia, que confirmou ter deixado seu notebook acoplado à tomada, mas que Roberta o subtraíra, somente havendo restituição do bem com a descoberta dos agentes da lei. Também foram ouvidos os funcionários do curso preparatório, que disseram ter identificado a autoria a partir das câmeras de segurança. Roberta, em seu interrogatório, confirma os fatos, mas esclarece que acreditava que o notebook subtraído era seu e, por isso, levara-o para casa. Foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais da ré sem qualquer outra anotação, o laudo de avaliação do bem subtraído, que constatou seu valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), e o CD com as imagens captadas pela câmera de segurança. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação da ré nos termos da denúncia. Você, como advogado(a) de Roberta, é intimado(a) no dia 24 de agosto de 2016, quarta-feira, sendo o dia seguinte útil em todo o país, bem como todos os dias da semana seguinte, exceto sábado e domingo. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Roberta, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes.

A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição.

XX Exame [...] Após a juntada da Folha de Antecedentes Criminais do réu, apenas mencionando aquele inquérito, e do laudo de exame de material, confirmando que, de fato, a substância encontrada no veículo do denunciado era “cloridrato de cocaína”, os autos foram encaminhados para o Ministério Público, que pugnou pela condenação do acusado nos exatos termos da denúncia. Em seguida, você, advogado(a) de Astolfo, foi intimado(a) em 06 de março de 2015, uma sexta-feira. Com base nas informações acima expostas

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e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)

XVII Exame [...] Após, foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais de Daniel, que ostentava apenas aquele processo pelo porte de arma de fogo, que não tivera proferida sentença até o momento, o laudo de avaliação indireta do automóvel e o vídeo da câmera de segurança da residência. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação nos termos da denúncia. A defesa de Daniel é intimada em 17 de julho de 2015, sexta-feira.

XIV Exame da OAB [...] A prova pericial atestou que a menor não era virgem, mas não pôde afirmar que aquele ato sexual foi o primeiro da vítima, pois a perícia foi realizada longos meses após o ato sexual. O Ministério Público pugnou pela condenação de Felipe nos termos da denúncia. A defesa de Felipe foi intimada no dia 10 de abril de 2014 (quinta-feira). Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, no último dia do prazo, excluindo a possibilidade de impetração de habeas corpus, sustentando, para tanto, as teses jurídicas pertinentes.

(Valor: 5,0)

IX Exame [...] Nesse sentido, considere que o magistrado encerrou a audiência e abriu prazo, intimando as partes, para o oferecimento da peça processual cabível. Como advogado de Gisele, levando em conta tão somente os dados contidos no enunciado, elabore a peça cabível. (Valor: 5,0)

4 - Conteúdo

Os memoriais podem conter questões preliminares e/ou matérias de mérito.

5 - Preliminares

Como já referido, as questões preliminares são aquelas que não observam aspectos formais de determinado ato processual, gerando, invariavelmente, nulidade.

Aqui, por questão de organização, recomenda-se que as causas extintivas de punibilidade, notadamente prescrição, sejam abordadas no campo destinado às preliminares.

6 - Mérito

Conforme abordado na resposta à acusação, nas peças práticas profissionais, deverão ser desenvolvidas teses que, ao final, viabilizarão o correspondente pedido. Ou seja, somente se aborda na peça aquilo que, ao final, poderá ser objeto de pedido.

No caso dos memoriais escritos, as teses de mérito guardam relação com as hipóteses que ensejam a absolvição previstas no art. 386 do CPP.

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Considerando que o pedido de absolvição deve observar um dos incisos do art. 386, a matéria de mérito nos memoriais (aqui vale para apelação e, se for o caso, embargos infringentes) consistirá, necessariamente, na discussão acerca da materialidade, autoria, tipicidade, ilicitude, culpabilidade, além de teses subsidiárias:

Materialidade (incisos I e II) Autoria (incisos IV e V) Tipicidade (inciso III) Ilicitude (inciso VI) Culpabilidade (inciso VI) Subsidiariedade

Os incisos I e II do art. 386 tratam da materialidade;

Os incisos IV e V tratam da autoria;

O inciso III, da tipicidade;

O inciso VI, da ilicitude e culpabilidade;

O inciso VII trata da hipótese genericamente da absolvição por insuficiência de prova (in dubio pro reo).

7 - Subsidiariedade

Além das preliminares e das questões de mérito, deve-se buscar no enunciado informações que permitam identificar alguma tese subsidiária. As teses subsidiárias consistem, basicamente, nas hipóteses em que, uma vez condenado, permitem ao réu ter sua situação amenizada.

As teses subsidiárias consistem basicamente:

a) Na quantidade de pena: art. 59, II, do CP: verificar o sistema trifásico (art. 68 do CP).

buscar pena-base no mínimo legal (afastar, por exemplo, maus antecedentes);

apontar atenuantes (previstas no art. 65 do CP); afastar agravantes (previstas nos arts. 61 e 62 do CP);

apontar causas de diminuição de pena (ex.: tentativa – art. 14, parágrafo único, do CP);

afastar causas de aumento de pena.

afastar qualificadoras

b) Regime carcerário mais brando: art. 59, III, do CP.

Verificar o art. 33 do Código Penal.

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c) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos: art. 59, IV, do CP

Verificar o art. 44 do CP.

d) Sursis: art. 77 do CP e) Desclassificação do delito.

8 - Pedido

Deve-se formular pedido específico para cada uma das teses desenvolvidas ao longo da peça.

Exemplos:

Se sustentou a tese da incompetência do juízo, sob o argumento de que o processo tramita na Justiça Estadual, ao passo que a competência é da Justiça Federal, deve-se, ao final, formular pedido expresso de que seja declarada a incompetência do Juízo.

Isso vale também para as matérias de méritos e teses subsidiárias.

Se sustentou, por exemplo, princípio da insignificância, deve-se formular pedido expresso de absolvição, com base no art. 386, III, do CPP. Se sustentou, subsidiariamente, que o réu não é reincidente, deve-se, ao final, formular pedido expresso para afastar a reincidência, com a consequente diminuição da pena...e assim por diante...

O pedido de absolvição tem como base uma das hipóteses do art. 386 do CPP.

8.1 - Sentença Absolutória

A sentença absolutória é aquela que julga improcedente a acusação, valendo-se de um dos fundamentos mencionados no art. 386 do CPP:

a) Estar provada a inexistência do fato – art. 386, I, do CPP.

Nesse caso, há prova robusta da inexistência da materialidade do delito. Ou seja, não se trata de mera insuficiência de prova, pois restou categoricamente demonstrado que o fato não existiu.

Ex. 1. Vítima de estupro que admite, em juízo, não ter havido o constrangimento, tendo imputado o delito ao réu somente para prejudicá-lo.

Ex. 2. Vítima de furto que afirma ter encontrado os objetos, que, na verdade, estavam perdidos.

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b) Não haver prova da existência do fato – art. 386, II, do CPP.

Nesse caso, incide a dúvida acerca da existência ou não do fato criminoso. Ou seja, o fato até pode ter ocorrido, mas a acusação não logrou comprovar a sua existência ou materialidade.

Ex.: quando o juiz fica na dúvida se a vítima foi efetivamente estuprada ou mentiu para prejudicar o réu.

c) Não constituir o fato infração penal – art. 386, III, do CPP.

Nessa hipótese, a instrução revelou causas de exclusão de uma ou algumas elementares do delito relatado na denúncia. Trata-se, pois, de hipótese de reconhecimento de uma das causas excludentes da tipicidade do fato descrito na denúncia.

Ex. 1. Sujeito denunciado por ter praticado conjunção carnal consentida com menina de 14 anos de idade. Trata-se de fato atípico, pois o art. 217-A do CP incrimina a conduta de praticar conjunção carnal ou ato libidinoso diverso da conjunção carnal com menor de 14 anos.

Ex. 2. Princípio da insignificância.

d) Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal – art. 386, IV, do CPP.

Nesse caso, restou caracterizada a existência do delito. Todavia, restou comprovado que o delito foi praticado por outras pessoas.

Ex.: vítima reconhece o réu por fotografia como sendo o autor do roubo ocorrido na Avenida Tenente Coronel Brito em Santa Cruz do Sul, no dia 5 de novembro de 2012, por volta das 22h00 o réu consegue comprovar não ter sido o autor do delito, porque, na referida data e horário, estava em São Luiz Gonzaga, distante 400 km, visitando a família.

e) Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal – art. 386, V, do CPP.

O fato ocorreu. Todavia, não há comprovação segura no sentido de que o réu contribuiu para a empreitada delituosa. Aqui a dúvida deve militar em favor do réu.

Considere o fato de a autoria ter sido apontada por meio de prova ilícita (ex.: interceptação telefônica sem autorização judicial), uma vez alegada a ilicitude da prova e o seu consequente desentranhamento dos autos, nada restará para apontar a autoria do delito.

f) Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência – art. 386, VI, do CPP.

Absolvição com base nas circunstâncias que excluam o crime: trata-se de causas excludentes de ilicitude, previstas nos arts. 23, 24 e 25 do CP, consistentes na legítima

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defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal.

Absolvição com base nas causas que isentem o réu de pena: trata-se das causas excludentes de culpabilidade previstas nos arts. 21 (erro de proibição inevitável), 22 (coação moral irresistível e obediência hierárquica à ordem não manifestamente ilegal), 26, caput (inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado), e 28, § 1º (embriaguez acidental completa), todos do Código Penal.

Na hipótese de absolvição com base na inimputabilidade decorrente de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o juiz aplicará medida de segurança consistente em internação ou tratamento ambulatorial (art. 386, parágrafo único, III, do CPP). Por se tratar de sentença absolutória na qual se aplica uma espécie de sanção penal, chama-se de sentença absolutória imprópria.

g) Não existir prova suficiente para a condenação.

Constitui fórmula genérica a ser utilizada quando não for possível a aplicação dos dispositivos anteriores.

9 - Estrutura dos memoriais

✔ Endereçamento: juiz da causa

Preâmbulo: nome e qualificação do acusado (não inventar dados), capacidade postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (art. 403, § 3º, ou 404, parágrafo único, do CPP), nome da peça (memoriais escritos), frase final (pelas fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos);

✔ Corpo da peça (teses defensivas)

✔ Pedidos:

i) nulidades (acompanhar a ordem das preliminares);

ii) absolvição, com base no art. 386 do CPP;

iii) diminuição da pena, regime carcerário etc.;

iv) parte final (local, data, advogado e OAB).

9.1 - Modelo de peça

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA COMARCA... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)

(9)

B) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE...

(SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL) Processo n. ...

(6 a 10 linhas)

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS, com base no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal (se complexidade da causa ou número de réus), ou 404, parágrafo único, do Código de Processo Penal (se requeridas diligências em audiência), pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

(2 linhas) I – DOS FATOS

II – DO DIREITO

A) DAS PRELIMINARES B) DO MÉRITO

* No mérito, busca-se afastar a materialidade e a autoria, bem como arguir uma das causas excludentes do crime: exclusão da tipicidade, ilicitude e culpabilidade, além das teses subsidiárias, representada pela sigla MATICS.

Materialidade Autoria Tipicidade Ilicitude Culpabilidade Subsidiariedade C) SUBSIDIARIEDADE III – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer o denunciado:

a) nulidades (correspondente às nulidades arguidas na peça);

b) seja declarada a extinção da punibilidade, pela prescrição, com base no art. 107, IV, do Código Penal (exemplo);

c) absolvição, com base no art. 386, inciso..., do Código de Processo Penal;

d) diminuição da pena;

e) regime carcerário;

f) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos;

g) sursis (se não cabível a restritiva de direitos).

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., data...

Advogado. OAB n. ...

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P EÇAS R ESOLVIDAS

1. (XVII Exame) Daniel, nascido em 2 de abril de 1990, é filho de Rita, empregada doméstica que trabalha na residência da família Souza. Ao tomar conhecimento, por meio de sua mãe, que os donos da residência estariam viajando para comemorar a virada de ano, vai até o local, no dia 2 de janeiro de 2010, e subtrai o veículo automotor dos patrões de sua genitora, pois queria fazer um passeio com sua namorada.

Desde o início, contudo, pretende apenas utilizar o carro para fazer um passeio pelo quarteirão e, depois, após encher o tanque de gasolina novamente, devolvê-lo no mesmo local de onde o subtraiu, evitando ser descoberto pelos proprietários. Ocorre que, quando foi concluir seu plano, já na entrada da garagem para devolver o automóvel no mesmo lugar em que o havia subtraído, foi surpreendido por policiais militares, que, sem ingressar na residência, perguntaram sobre a propriedade do bem.

Ao analisarem as câmeras de segurança da residência, fornecidas pelo próprio Daniel, perceberam os agentes da lei que ele havia retirado o carro sem autorização do verdadeiro proprietário. Foi, então, Daniel denunciado pela prática do crime de furto simples, destacando o Ministério Público que deixava de oferecer proposta de suspensão condicional do processo por não estarem preenchidos os requisitos do art. 89 da Lei n. 9.099/95, tendo em vista que Daniel responde a outra ação penal pela prática do crime de porte de arma de fogo.

EM 18 DE MARÇO DE 2010, A DENÚNCIA FOI RECEBIDA PELO JUÍZO COMPETENTE, qual seja, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Florianópolis. Os fatos acima descritos são integralmente confirmados durante a instrução, sendo certo que Daniel respondeu ao processo em liberdade. Foram ouvidos os policiais militares como testemunhas de acusação, e o acusado foi interrogado, confessando que, de fato, UTILIZOU O VEÍCULO SEM AUTORIZAÇÃO, MAS QUE SUA INTENÇÃO ERA DEVOLVÊ-LO, TANTO QUE FOI PRESO QUANDO INGRESSAVA NA GARAGEM DOS PROPRIETÁRIOS DO AUTOMÓVEL.

Após, foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais de Daniel, que ostentava apenas aquele processo pelo porte de arma de fogo, que não tivera proferida sentença até o momento, o laudo de avaliação indireta do automóvel e o vídeo da câmera de segurança da residência. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação nos termos da denúncia. A defesa de Daniel é intimada em 17 de julho de 2015, sexta-feira.

Com base nas informações acima expostas e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de habeas corpus, no último dia do prazo para interposição, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE FLORIANÓPOLIS/SC

Processo n. ...

DANIEL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS, com base no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

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I – DOS FATOS

O réu foi denunciado pela prática do crime de furto simples, sendo acusado de, no dia 2 de janeiro de 2010, ter subtraído o veículo automotor dos patrões da sua genitora.

A denúncia foi recebida no dia 18 de março de 2010.

Durante a instrução, foram ouvidos os policiais militares como testemunhas da acusação e o acusado foi interrogado.

O Ministério Público requereu a condenação nos termos da denúncia.

A defesa foi intimada em 17 de julho de 2015.

II – DO DIREITO

A) DAS PRELIMINARES A.1) DA PRESCRIÇÃO

O réu foi denunciado pela prática do crime de furto simples, previsto no art. 155, caput, do Código Penal, cuja pena máxima cominada é de 4 anos. Logo, conforme o art. 109, IV, do Código Penal, o prazo prescricional seria de 8 anos. Contudo, Daniel era menor de 21 anos de idade à época do fato, já que nascido em 2-4-1990 e os fatos ocorreram em 2-1-2010. Assim, conforme o art. 115 do Código Penal, o prazo prescricional deverá ser contado pela metade, ou seja, no caso será de 4 anos.

Considerando que a denúncia foi recebida somente no dia 18-3-2010 e até pelo menos o dia 17-7-2015 não há publicação de eventual sentença penal condenatória, conclui-se que incidiu no caso a prescrição da pretensão punitiva em abstrato do Estado, já que entre o recebimento da denúncia até o dia 17-7- 2015 já se passaram cinco anos.

Logo, deve ser declarada extinta a punibilidade do réu, com base no art. 107, IV, do Código Penal.

B) DO MÉRITO

B.1) DA AUSÊNCIA DE DOLO OU FURTO DE USO

O réu foi acusado de ter subtraído o veículo automotor dos patrões da sua genitora. Todavia, o réu não tinha intenção de subtrair para si o veículo. Pretendia apenas utilizar o veículo para fazer um passeio pelo quarteirão e depois devolvê-lo no mesmo lugar em que retirou, tanto que encheu o tanque de gasolina e foi preso quando ingressava na garagem dos proprietários do automóvel.

Logo, o réu não tinha dolo de se assenhorar do veículo, ou seja, de ter a coisa para si ou para outrem, tanto que estava devolvendo o veículo no mesmo local que pegou e nas mesmas condições, caracterizando, no caso, o furto de uso.

Assim, trata-se de fato atípico, devendo o réu ser absolvido, com base no art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

C) SUBSIDIARIAMENTE

C.1) Do afastamento dos maus antecedentes

Foi juntada folha de antecedentes contendo a informação de que o réu responde a outro processo pelo porte ilegal de arma. Todavia, nos termos da Súmula 444 do Superior Tribunal de Justiça, não é possível utilizar ações penais em curso e inquéritos policiais para elevar a pena-base.

Além disso, considerar outro processo em curso pelo porte ilegal de arma como maus antecedentes viola o princípio da presunção da inocência, previsto no art. 5º, inciso LVII, da Constituição da República.

Logo, requer seja afastada a hipótese de considerar o réu com maus antecedentes e, por consequência, fixada a pena-base no mínimo legal.

C.2) Da atenuante da menoridade

Conforme se verifica, o réu era menor de 21 anos na data dos fatos. Logo, incide a atenuante da menoridade relativa, prevista no art. 65, I, do Código Penal.

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Assim, requer seja reconhecida a atenuante da menoridade relativa.

C.3) Da confissão espontânea

Ao ser interrogado, o réu confessou que utilizou o veículo sem autorização, mas que sua intenção era devolvê-lo. Logo, incide a atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Assim, requer seja reconhecida a atenuante da confissão espontânea.

C.4) Do regime carcerário aberto

O crime de furto simples tem pena máxima de 4 anos. Logo, na hipótese de eventual condenação, o Magistrado deverá fixar o regime aberto, nos termos do art. 33, § 2º, c, do Código Penal, já que é primário e as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal são favoráveis.

C.5) Da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos

Além disso, considerando que se trata de crime praticado sem violência ou grave ameaça, bem como que eventual pena não será superior a 4 anos, cabe, no caso, a substituição da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do Código Penal.

III – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer o denunciado:

a) seja declarada a extinção de punibilidade, com base no art. 107, IV, do Código Penal;

b) a absolvição, com fulcro no art. 386, III, do CPP;

c) seja afastada a hipótese de maus antecedentes e fixada a pena-base no mínimo legal;

d) seja reconhecida a atenuante da menoridade relativa e da confissão espontânea;

e) seja reconhecida a atenuante da confissão espontânea;

f) seja fixado o regime aberto para início do cumprimento de pena;

g) seja substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., 24 de julho de 2015.

Advogado. OAB n. ...

Caiu na OAB – Peça prático-profissional

2. XXIII Exame No dia 23 de fevereiro de 2016, Roberta, 20 anos, encontrava-se em um curso preparatório para concurso na cidade de Manaus/AM. Ao final da aula, resolveu ir comprar um café na cantina do local, tendo deixado seu notebook carregando na tomada. Ao retornar, retirou um notebook da tomada e foi para sua residência. Ao chegar em casa, foi informada de que foi realizado registro de ocorrência na Delegacia em seu desfavor, tendo em vista que as câmeras de segurança da sala de aula captaram o momento em que subtraiu o notebook de Cláudia, sua colega de classe, que havia colocado seu computador para carregar em substituição ao de Roberta, o qual estava ao lado. No dia seguinte, antes mesmo de qualquer busca e apreensão do bem ou atitude da autoridade policial, Roberta restituiu a coisa subtraída. As imagens da câmera de segurança foram encaminhadas ao Ministério Público, que denunciou Roberta pela prática do crime de furto simples, tipificado no art. 155, caput, do Código Penal. O Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão condicional do processo, destacando que o delito de furto não é de menor potencial ofensivo, não se sujeitando à aplicação da Lei n. 9.099/95, tendo a defesa se insurgido. Recebida a denúncia, durante a instrução, foi ouvida Cláudia, que confirmou ter deixado seu notebook acoplado à tomada, mas que Roberta o subtraíra, somente havendo restituição do bem com a descoberta dos agentes da lei. Também foram ouvidos os funcionários do curso preparatório, que disseram ter identificado a autoria a partir das

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câmeras de segurança. Roberta, em seu interrogatório, confirma os fatos, mas esclarece que acreditava que o notebook subtraído era seu e, por isso, levara-o para casa. Foi juntada a Folha de Antecedentes Criminais da ré sem qualquer outra anotação, o laudo de avaliação do bem subtraído, que constatou seu valor de R$

3.000,00 (três mil reais), e o CD com as imagens captadas pela câmera de segurança. O Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação da ré nos termos da denúncia. Você, como advogado(a) de Roberta, é intimado(a) no dia 24 de agosto de 2016, quarta-feira, sendo o dia seguinte útil em todo o país, bem como todos os dias da semana seguinte, exceto sábado e domingo. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Roberta, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição. (Valor: 5,00)

Obs.: o examinando deve indicar todos os fundamentos e dispositivos legais cabíveis. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.

O examinando deve redigir Alegações Finais na forma de Memoriais ou Memoriais, com fundamento no art.

403, § 3º, do Código de Processo Penal, devendo a petição ser direcionada ao juiz de uma das Varas Criminais da Comarca de Manaus/AM. De início, deveria o examinando, na condição de advogado, requerer a nulidade dos atos processuais realizados durante a instrução probatória, tendo em vista que não foi oferecida proposta de suspensão condicional do processo. Prevê o art. 89 da Lei n. 9.099/95 que caberá ao Ministério Público oferecer proposta de suspensão condicional do processo quando a pena mínima cominada ao delito imputado for de até 1 ano, abrangidas ou não por esta lei, preenchidos os demais requisitos legais, dentre os quais se destacam a primariedade e a presença dos requisitos do art. 77 do Código Penal. Roberta era primária, de bons antecedentes e as circunstâncias do crime não justificam a recusa na formulação da proposta de suspensão condicional do processo. Ademais, o delito de furto simples tem pena mínima prevista em abstrato de 1 ano, logo irrelevante o fato da infração não ser de menor potencial ofensivo.

Assim, não estamos diante de mera faculdade do Promotor de Justiça, mas sim de um poder-dever limitado pela lei, de modo que deveria ter sido oferecida a proposta do instituto despenalizador. Em seguida, quanto ao mérito, deveria o examinando alegar a ocorrência de erro de tipo. Prevê o art. 155 do Código Penal que pratica crime de furto aquele que subtrai coisa alheia móvel. Ocorre que Roberta estava em erro em relação a uma das elementares do tipo, qual seja, a coisa alheia, tendo em vista que acreditava estar levando para casa o seu próprio notebook, o que não configuraria crime. De acordo com o art. 20 do Código Penal, o erro sobre elemento constitutivo do tipo exclui o dolo, mas permite a punição do agente a título de culpa, caso previsto em lei. Inicialmente deve ser destacado que o erro de tipo, na hipótese, era escusável, de modo que não há que se falar em dolo ou culpa. Ademais, ainda que assim não fosse, não existe previsão da modalidade culposa do furto, logo, ainda assim, Roberta deveria ser absolvida. Com base no princípio da eventualidade, o examinando deveria enfrentar eventual pena a ser aplicada em caso de condenação da ré. Na aplicação da pena base, deveria o candidato destacar que deveria ser fixada no mínimo legal, tendo em vista que a agente possui bons antecedentes e as circunstâncias do art. 59 do CP são favoráveis. Na determinação da pena intermediária, deveria ser solicitado o reconhecimento da atenuante da confissão espontânea, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal, assim como da menoridade relativa, uma vez que Roberta era menor de 21 anos na data dos fatos, conforme o art. 65, I, do CP. Não havia causas de aumento a serem reconhecidas.

Todavia, considerando que houve restituição do bem subtraído antes do recebimento da denúncia, que tal

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ato decorreu de conduta voluntária da denunciada e que o delito não foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, cabível o reconhecimento da causa de diminuição do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP. Em caso de aplicação de pena privativa de liberdade, deveria ser requerida a substituição desta por restritiva de direitos, pois preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal. O regime inicial de cumprimento de pena a ser buscado é o aberto. Diante do exposto, deveriam ser formulados os seguintes pedidos, requerendo: a) nulidade da instrução, com oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo; b) absolvição do crime de furto, na forma do art. 386, inciso III, do CPP; c) aplicação da pena base no mínimo legal; d) reconhecimento das atenuantes da menoridade relativa e confissão espontânea; e) aplicação da causa de diminuição do arrependimento posterior; f) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; g) aplicação do regime aberto. A data a ser indicada é 29 de agosto de 2016, tendo em vista que o prazo para Alegações Finais é de cinco dias. Por fim, deve o examinando finalizar a peça, indicando o local, data, assinatura e OAB.

XX Exame Astolfo, nascido em 15 de março de 1940, sem qualquer envolvimento pretérito com o aparato judicial, no dia 22 de março de 2014, estava em sua casa, um barraco na comunidade conhecida como Favela da Zebra, localizada em Goiânia/GO, quando foi visitado pelo chefe do tráfico da comunidade, conhecido pelo vulgo de Russo. Russo, que estava armado, exigiu que Astolfo transportasse 50 g de cocaína para outro traficante, que o aguardaria em um Posto de Gasolina, sob pena de Astolfo ser expulso de sua residência e não mais poder morar na Favela da Zebra. Astolfo, então, se viu obrigado a aceitar a determinação, mas quando estava em seu automóvel, na direção do Posto de Gasolina, foi abordado por policiais militares, sendo a droga encontrada e apreendida. Astolfo foi denunciado perante o juízo competente pela prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006.

Em que pese tenha sido preso em flagrante, foi concedida liberdade provisória ao agente, respondendo ele ao processo em liberdade. Durante a audiência de instrução e julgamento, após serem observadas todas as formalidades legais, os policiais militares responsáveis pela prisão em flagrante do réu confirmaram os fatos narrados na denúncia, além de destacarem que, de fato, o acusado apresentou a versão de que transportava as drogas por exigência de Russo. Asseguraram que não conheciam o acusado antes da data dos fatos.

Astolfo, em seu interrogatório, realizado como último ato da instrução por requerimento expresso da defesa do réu, também confirmou que fazia o transporte da droga, mas alegou que somente agiu dessa forma porque foi obrigado pelo chefe do tráfico local a adotar tal conduta, ainda destacando que residia há mais de 50 anos na comunidade da Favela da Zebra e que, se fosse de lá expulso, não teria outro lugar para morar, pois sequer possuía familiares e amigos fora do local.

Disse que nunca respondeu a nenhum outro processo, apesar já ter sido indiciado nos autos de um inquérito policial pela suposta prática de um crime de falsificação de documento particular. Após a juntada da Folha de Antecedentes Criminais do réu, apenas mencionando aquele inquérito, e do laudo de exame de material, confirmando que, de fato, a substância encontrada no veículo do denunciado era “cloridrato de cocaína”, os autos foram encaminhados para o Ministério Público, que pugnou pela condenação do acusado nos exatos termos da denúncia. Em seguida, você, advogado(a) de Astolfo, foi intimado(a) em 6 de março de 2015, uma sexta-feira. Com base nas informações acima expostas e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de Habeas Corpus, no último dia do prazo, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. (Valor: 5,00)

Obs.: O examinando deve indicar todos os fundamentos e dispositivos legais cabíveis. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.

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O candidato deveria redigir Alegações Finais por memoriais, com fundamento no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, sendo a peça endereçada a uma das Varas Criminais da Comarca de Goiânia/GO.

O candidato deveria arguir as seguintes teses:

I. Mérito:

Deveria o candidato pleitear, em um momento inicial, a absolvição do acusado por inexigibilidade de conduta diversa. Para que determinada conduta seja considerada crime, deve ela ser típica, ilícita e culpável.

Um dos elementos da culpabilidade é a exigibilidade de conduta diversa, sendo, portanto, a inexigibilidade de conduta diversa uma causa de exclusão da culpabilidade. Deveria o examinando alegar que Russo, estando armado, ao exigir o transporte das substâncias entorpecentes por parte de Astolfo, um senhor de 74 anos de idade, sob pena de expulsá-lo de sua casa e da comunidade da Favela da Zebra, sem ele ter outro local para residir, praticou uma coação moral irresistível. Diante das circunstâncias e das particularidades do caso concreto, em especial considerando a idade de Astolfo e o fato de não ter familiares para lhe dar abrigo, não seria possível exigir outra conduta do acusado. Conforme previsão do art. 22 do Código Penal, no caso de coação irresistível, somente deve responder pela infração o autor da coação. Assim, na forma do art. 386, inciso VI, do Código de Processo Penal, deveria o réu ser absolvido.

Segundo se extrai do enunciado, há a figura do coator e do coagido, além da ameaça de um mal grave e injusto. Nesse caso, embora tenha praticado um fato típico e antijurídico, o coagido Astolfo não será culpável, porquanto não lhe era exigível, nas circunstâncias, conduta diversa, por conta da coação moral irresistível, previsto no art. 22 do Código Penal. Logo, a coação moral irresistível constitui causa excludente de culpabilidade, ensejando absolvição com base no art. 386, inciso VI, do CPP.

II. Teses subsidiárias:

Em subsidiariedade, não sendo acolhida a tese absolutória da coação moral irresistível, deveria o candidato alegar:

a) a aplicação da pena-base no mínimo legal, uma vez que, nos termos da Súmula 444 do STJ, inquéritos policiais e ações penas em curso não podem ser considerados circunstâncias judiciais desfavoráveis. Assim, o inquérito policial pela suposta prática de um crime de falsificação de documento particular não seria suficiente para elevar a pena-base para além do mínimo legal;

b) a atenuante da coação moral resistível, prevista no arti. 65, inciso III, c, do Código Penal, uma vez que Astolfo somente transportou a droga por exigência de Russo;

c) deveria o examinando requerer o reconhecimento da atenuante do art. 65, inciso I, do Código Penal, já que o réu era maior de 70 anos na data da sentença. Note-se que o enunciado informou a data de nascimento do réu (15 de março de 1940), bem como proporcionou ao candidato concluir que teria mais de setenta anos na data da sentença ao informar que o fato ocorreu no dia 22 de março de 2014;

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d) a atenuante da confissão, prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal, mesmo tendo alegado causa excludente de culpabilidade, uma vez que o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido a confissão qualificada suficiente para atenuar a pena do réu;

e) Segundo se extrai do enunciado, o réu é primário, ostenta bons antecedentes e não há elementos no sentido de envolvimento com organização criminosa ou dedicação às atividades criminosas. Logo, o candidato deveria, ainda em sede de subsidiariedade, apontar a causa de diminuição da pena em patamar máximo, previsto no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343;

f) Com relação ao regime carcerário, em que pese o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90 prever a fixação do regime inicial fechado aos condenados por crimes hediondos ou equiparados, deveria o candidato alegar que o STF reconheceu a inconstitucionalidade desse dispositivo por violação do princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º, XLVI, da CF/88, postulando, ao final, a fixação do regime inicial aberto de cumprimento da reprimenda penal;

g) O candidato deveria, ainda, sustentar a tese da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Isso porque, uma vez sendo reconhecido o tráfico privilegiado, com a diminuição da pena no patamar máximo, a pena definitiva não ultrapassara quatro anos. Além disso, a vedação constante no art.

33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não mais subsiste, uma vez que, por meio da Resolução n. 05, publicada em 15-2-2012, o Senado suspendeu a execução da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direito”, sendo, pois, possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

III. Pedido:

Diante do exposto, deveriam ser formulados os seguintes pedidos:

a) absolvição do crime de tráfico, na forma do art. 386, VI, do Código de Processo Penal;

b) subsidiariamente, aplicação da pena base no mínimo legal;

c) reconhecimento das atenuantes do art. 65, I e III, c e d, do Código Penal;

d) aplicação da causa de diminuição do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343;

e) aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena;

f) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

A peça deveria ser assinada, além de constar como data 13 de março de 2015, pois o prazo só se iniciou na segunda-feira seguinte à intimação.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

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GOIÂNIA/GO Processo n. ...

Astolfo, já qualificado no processo supra, vem, por meio de seu advogado legalmente habilitado, apresentar MEMORIAIS, com fundamento legal no art. 403, § 3º, do CPP, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:

1. DOS FATOS

Consta do processo que o réu primário, nascido em 15 de março de 1940, teria, no dia 22 de março de 2014, sido obrigado, pelo traficante de drogas Russo, a levar droga de um local para outro.

Tal imperatividade foi materializada pela ameaça de ser expulso de sua casa caso não fizesse o que lhe era requisitado. Astolfo, então, se viu obrigado a aceitar a determinação, mas quando estava em seu automóvel, na direção do Posto de Gasolina, foi abordado por policiais militares, sendo a droga encontrada e apreendida.

Após o ínício da persecução penal, o réu foi denunciado pela prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006. Foi-lhe concedida liberdade provisória. Durante a audiência de instrução e julgamento, as testemunhas de acusação confirmaram os fatos narrados na denúncia, além de destacarem que, de fato, o acusado apresentou a versão de que transportava as drogas por exigência de Russo. Asseguraram que não conheciam o acusado antes da data dos fatos. Astolfo, Em seu interrogatório, o réu confirmou que fazia o transporte da droga, mas alegou que somente agiu dessa forma porque foi obrigado pelo chefe do tráfico local a adotar tal conduta, ainda destacando que residia há mais de 50 anos na comunidade da Favela da Zebra e que, se fosse de lá expulso, não teria outro lugar para morar, pois sequer possuía familiares e amigos fora do local. Disse que nunca respondeu a nenhum outro processo, apesar já ter sido indiciado nos autos de um inquérito policial pela suposta prática de um crime de falsificação de documento particular. Após a juntada da Folha de Antecedentes Criminais do réu, apenas mencionando aquele inquérito, e do laudo de exame de material, confirmando que, de fato, a substância encontrada no veículo do denunciado era “cloridrato de cocaína”, os autos foram encaminhados para o Ministério Público, que pugnou pela condenação do acusado nos exatos termos da denúncia. A defesa foi intimada em 06 de março de 2015. Eis o que havia para relatar.

2. DO DIREITO 2.1 DO MÉRITO

O réu deve ser absolvido por não caracterizar o fato infração penal. Senão vejamos:

a) Da inexigibilidade de conduta diversa

Para que determinada conduta seja considerada crime, deve ela ser típica, ilícita e culpável. Um dos elementos da culpabilidade é a exigibilidade de conduta diversa, sendo, portanto, a inexigibilidade de conduta diversa uma causa de exclusão da culpabilidade. Russo, estando armado, ao exigir que o réu, um senhor de 74 anos de idade, transportasse droga, sob pena de expulsá-lo de sua casa e da comunidade da Favela da Zebra, sem ele ter outro local para residir, praticou coação moral irresistível.

Diante das circunstâncias e das particularidades do caso concreto, em especial considerando a idade de Astolfo e o fato de não ter familiares para lhe dar abrigo, não seria possível exigir outra conduta do acusado. Conforme previsão do art. 22 do Código Penal, no caso de coação irresistível, somente deve responder pela infração o autor da coação. Assim, na forma do art. 386, VI, do Código de Processo Penal, o réu deve ser absolvido.

2.2 DAS TESES SUBSIDIÁRIAS

Subsidiariedade, caso não seja acolhida a tese absolutória da coação moral irresistível, vem requerer:

a) a aplicação da pena-base no mínimo legal, uma vez que, nos termos da Súmula 444 do STJ, inquéritos

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policiais e ações penas em curso não podem ser consideradas como circunstâncias judiciais desfavoráveis. Assim, o inquérito policial pela suposta prática de um crime de falsificação de documento particular não tem força legal para elevar a pena-base acima do mínimo legal;

b) a atenuante da coação moral resistível, prevista no art. 65, III, c, do Código Penal, uma vez que Astolfo somente transportou a droga por exigência de Russo;

c) a atenuante do art. 65, I, do Código Penal, já que o réu era maior de 70 anos na data da sentença (DOC. X);

d) a atenuante da confissão, prevista no art. 65, III, d, do Código Penal, mesmo tendo alegado causa excludente de culpabilidade, uma vez que o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido a confissão qualificada suficiente para atenuar a pena do réu;

e) segundo se extrai do enunciado, o réu é primário, ostenta bons antecedentes e não há elementos no sentido de envolvimento com organização criminosa ou dedicação às atividades criminosas, o que legitima o réu a requerer a causa especial de diminuição de pena do tráfico privilegiado. Assim, requer a causa de diminuição da pena em patamar máximo, previsto no artigo art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343;

f) com relação ao regime carcerário, em que pese o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90 prever a fixação do regime inicial fechado aos condenados por crimes hediondos ou equiparados, o STF reconheceu a inconstitucionalidade desse dispositivo por violação do princípio da individualização da pena, previsto no art 5º, XLVI, da CF/88, sendo cabível, portanto, a fixação do regime inicial aberto de cumprimento da reprimenda penal;

g) a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Isso porque, uma vez sendo reconhecido o tráfico privilegiado, com a diminuição da pena no patamar máximo, a pena definitiva não ultrapassará quatro anos. Lembrando que a vedação constante no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não mais subsiste, uma vez que, por meio da Resolução n. 05, publicada em 15-2-2012, o Senado suspendeu a execução da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direito”, sendo, pois, possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

3. PEDIDO

Diante do exposto, a defesa requer:

a) absolvição do crime de tráfico, com fundamento legal no art. 386, VI, do Código de Processo Penal;

b) subsidiariamente, a aplicação da pena base no mínimo legal, por serem todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, favoráveis;

c) o reconhecimento das atenuantes do art. 65, I e III, alíneas c e d, do Código Penal;

d) a aplicação do privilégio, causa especial de diminuição da pena, prevista no art. 33, § 4º, da Lei n.

11.343;

e) a aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena;

f) a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

Termos em que pede deferimento.

Local, 13 de março de 2015.

Advogado(a), OAB n. ...

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4. XIV Exame OAB Felipe, com 18 anos de idade, em um bar com outros amigos, conheceu Ana, linda jovem, por quem se encantou. Após um bate-papo informal e trocarem beijos, decidiram ir para um local mais reservado. Nesse local trocaram carícias, e Ana, de forma voluntária, praticou sexo oral e vaginal com Felipe.

Depois da noite juntos, ambos foram para suas residências, tendo antes trocado telefones e contatos nas redes sociais.

No dia seguinte, Felipe, ao acessar a página de Ana na rede social, descobre que, apesar da aparência adulta, esta possui apenas 13 anos de idade, tendo Felipe ficado em choque com essa constatação.

O seu medo foi corroborado com a chegada da notícia, em sua residência, da denúncia movida por parte do Ministério Público Estadual, pois o pai de Ana, ao descobrir o ocorrido, procurou a autoridade policial, narrando o fato.

Por Ana ser inimputável e contar, à época dos fatos, com 13 anos de idade, o Ministério Público Estadual denunciou Felipe pela prática de dois crimes de estupro de vulnerável, previsto no art. 217- A, na forma do art. 69, ambos do Código Penal. O Parquet requereu o início de cumprimento de pena no regime fechado, com base no art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90, e o reconhecimento da agravante da embriaguez preordenada, prevista no art. 61, II, alínea “l”, do CP.

O processo teve início e prosseguimento na XX Vara Criminal da cidade de Vitória, no Estado do Espírito Santo, local de residência do réu.

Felipe, por ser réu primário, ter bons antecedentes e residência fixa, respondeu ao processo em liberdade.

Na audiência de instrução e julgamento, a vítima afirmou que aquela foi a sua primeira noite, mas que tinha o hábito de fugir de casa com as amigas para frequentar bares de adultos.

As testemunhas de acusação afirmaram que não viram os fatos e que não sabiam das fugas de Ana para sair com as amigas.

As testemunhas de defesa, amigos de Felipe, disseram que o comportamento e a vestimenta da Ana eram incompatíveis com uma menina de 13 anos e que qualquer pessoa acreditaria ser uma pessoa maior de 14 anos, e que Felipe não estava embriagado quando conheceu Ana.

O réu, em seu interrogatório, disse que se interessou por Ana, por ser muito bonita e por estar bem vestida.

Disse que não perguntou a sua idade, pois acreditou que no local somente pudessem frequentar pessoas maiores de 18 anos. Corroborou que praticaram o sexo oral e vaginal na mesma oportunidade, de forma espontânea e voluntária por ambos.

A prova pericial atestou que a menor não era virgem, mas não pôde afirmar que aquele ato sexual foi o primeiro da vítima, pois a perícia foi realizada longos meses após o ato sexual.

O Ministério Público pugnou pela condenação de Felipe nos termos da denúncia.

A defesa de Felipe foi intimada no dia 10 de abril de 2014 (quinta-feira).

Com base somente nas informações de que dispõe e nas que podem ser inferidas pelo caso concreto acima, redija a peça cabível, no último dia do prazo, excluindo a possibilidade de impetração de habeas corpus, sustentando, para tanto, as teses jurídicas pertinentes.

5. IX Exame OAB Gisele foi denunciada, com recebimento ocorrido em 31-10-2010, pela prática do delito de lesão corporal leve, com a presença da circunstância agravante, de ter o crime sido cometido contra mulher grávida. Isso porque, segundo narrou a inicial acusatória, Gisele, no dia 1-4-2009, então com 19 anos, objetivando provocar lesão corporal leve em Amanda, deu um chute nas costas de Carolina, por confundi-la

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com aquela, ocasião em que Carolina (que estava grávida) caiu de joelhos no chão, lesionando-se. A vítima, muito atordoada com o acontecido, ficou por um tempo sem saber o que fazer, mas foi convencida por Amanda (sua amiga e pessoa a quem Gisele realmente queria lesionar) a noticiar o fato na delegacia. Sendo assim, tão logo voltou de um intercâmbio, mais precisamente no dia 18-10-2009, Carolina compareceu à delegacia e noticiou o fato, representando contra Gisele. Por orientação do delegado, Carolina foi instruída a fazer exame de corpo de delito, o que não ocorreu, porque os ferimentos, muito leves, já haviam sarado.

O Ministério Público, na denúncia, arrolou Amanda como testemunha. Em seu depoimento, feito em sede judicial, Amanda disse que não viu Gisele bater em Carolina e nem viu os ferimentos, mas disse que poderia afirmar com convicção que os fatos noticiados realmente ocorreram, pois estava na casa da vítima quando esta chegou chorando muito e narrando a história. Não foi ouvida mais nenhuma testemunha e Gisele, em seu interrogatório, exerceu o direito ao silêncio. Cumpre destacar que a primeira e única audiência ocorreu apenas em 20-3-2012, mas que, anteriormente, três outras audiências foram marcadas; apenas não se realizaram porque, na primeira, o magistrado não pôde comparecer, na segunda o Ministério Público não compareceu e a terceira não se realizou porque, no dia marcado, foi dado ponto facultativo pelo governador do Estado, razão pela qual todas as audiências foram redesignadas. Assim, somente na quarta data agendada é que a audiência efetivamente aconteceu. Também merece destaque o fato de que na referida audiência o parquet não ofereceu proposta de suspensão condicional do processo, pois, conforme documentos comprobatórios juntados aos autos, em 30-3-2009, Gisele, em processo criminal onde se apuravam outros fatos, aceitou o benefício proposto. Assim, segundo o promotor de justiça, afigurava-se impossível formulação de nova proposta de suspensão condicional do processo, ou de qualquer outro benefício anterior não destacado, e, além disso, tal dado deveria figurar na condenação ora pleiteada para Gisele como outra circunstância agravante, qual seja, reincidência. Nesse sentido, considere que o magistrado encerrou a audiência e abriu prazo, intimando as partes, para o oferecimento da peça processual cabível.

Como advogado de Gisele, levando em conta tão somente os dados contidos no enun-ciado, elabore a peça cabível. (Valor: 5,0)

M EMORIAIS NO J ÚRI

1 - Fundamento legal para colocar no preâmbulo

Admite-se, no procedimento do júri, a substituição dos debates orais em memoriais escritos, por analogia aos arts. 403, § 3º, e 404, ambos do Código de Processo Penal.

2 - Como descobrir a peça

Os memoriais são apresentados após a instrução criminal (audiência de instrução) e antes da decisão de pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação, proferida pelo Juiz de Direito da Vara do Júri,

3 - Conteúdo dos memoriais do júri

Deve-se buscar no enunciado preliminares e mérito.

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3.1 - Preliminares

As teses preliminares são aquelas que não observam aspectos formais de determinado ato processual, gerando nulidade.

Ver a nossa aula sobre teses preliminares para ter acesso à lista completa.

3.2 - Mérito

Finda a instrução do processo relacionado ao Tribunal do Júri, cuidando de crimes do-losos contra a vida e infrações conexas, o magistrado poderá proferir uma das seguintes decisões:

a) pronunciar o réu (art. 413 do CPP);

b) impronunciar o réu (art. 414 do CPP);

c) absolvê-lo sumariamente (art. 415 do CPP);

d) desclassificar a infração penal (art. 419 do CPP).

Existe tese subsidiária em memoriais no júri?

A tese subsidiária consiste, basicamente, no afastamento da qualificadora e/ou causa de aumento de pena.

Exemplo: Buscar modificar o homicídio doloso qualificado para homicídio doloso simples (com isso afasta- se a qualificadora, reduzindo eventual pena em futura condenação pelo Conselho de Sentença, na segunda fase do júri.

No caso dos memoriais do procedimento do júri, as teses de mérito guardam, invariavelmente, relação com as hipóteses que podem ensejar decisão de:

a) impronúncia (art. 414 do CPP);

b) absolvição sumária (art. 415 do CPP);

c) ou desclassificação (art. 419 do CPP).

CUIDADO - NÃO PEDIR PARA PRONUNCIAR O SEU CLIENTE. É A ÚNICA DECISÃO QUE NÃO PODE SER PEDIDA.

Hora de estudar as decisões que podem ser proferidas nesta 1ª fase do Júri:

PRONÚNCIA

Está prevista no art. 413 do CPP. É decisão interlocutória mista não terminativa, que julga admissível a acusação, remetendo o caso à apreciação do Tribunal do Júri.

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Na pronúncia, há um mero juízo de admissibilidade, pelo qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem penetrar no exame do mérito. No caso de o juiz se convencer da existência do crime e de indícios suficientes da autoria, deve proferir sentença de pronúncia, funda-mentando os motivos de seu convencimento.

Assim, nos termos do art. 413, § 1º, do CPP, a decisão de pronúncia deve se limitar à indicação da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.

Se o Magistrado se aprofundar na análise do mérito, extrapolando na linguagem, en-fatizando, por exemplo, ser o réu efetivo autor do delito ou que não agiu sob o amparo de excludente de crime, caracteriza-se o que se denomina eloquência acusatória, gerando nulidade da decisão de pronúncia.

IMPRONÚNCIA

Nos termos do art. 414 do CPP, é a decisão interlocutória mista de conteúdo termina-tivo, visto que encerra a primeira fase, deixando de inaugurar a segunda, sem haver juízo de mérito. Assim, inexistindo prova da materialidade do fato ou não havendo indícios sufi-cientes de autoria, deve o magistrado impronunciar o réu, que significa julgar improceden-te a denúncia e não a pretensão punitiva do Estado.

ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

Conforme se extrai do art. 415 do CP, a absolvição sumária ocorrerá quando estiver provada a inexistência do fato, provado não ser o réu autor ou partícipe do fato, o fato não constituir infração penal ou estiver demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime. No caso de inimputáveis, a absolvição sumária só é possível, agora por disposição expressa, se a inimputabilidade for a única tese defensiva.

Provada não ser ele o autor ou partícipe do fato: prova indiscutível de que o réu não cometeu ou participou de sua execução.

Provada a inexistência do fato: prova cabal de que os fatos narrados na inicial acusatória não aconteceram.

O fato não constituir infração penal: fato atípico.

Demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime: são as excludentes de ilicitude e culpabilidade.

De acordo com o parágrafo único do art. 415 do CPP, “não se aplica o disposto no inciso IV do caput do art.

26 do CP, salvo quando esta for a única tese defensiva”.

Dessa forma, ainda que a inimputabilidade se encontre comprovada por exame de in-sanidade mental, o CPP não autoriza a absolvição imprópria do agente, pois esta implicará a imposição de medida de segurança, o que poderá ser prejudicial ao réu, uma vez que não lhe será viabilizado demonstrar, no plenário do Júri, outras teses defensivas a sua inocên-cia, sem a imposição de qualquer medida restritiva.

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Assim, havendo outra tese defensiva e não sendo caso de absolvição sumária por ou-tro fundamento, o Magistrado deverá pronunciar o réu, para que seja submetido a julga-mento pelo plenário do júri. Agora, se, por conta dessa outra tese, ficar evidenciada hipó-tese de absolvição sumária, que não a inimputabilidade, o juiz deverá absolver o réu suma-riamente, sem imposição de medida de segurança (absolvição própria).

De outro lado, se a inimputabilidade for a única tese da defesa, admite-se a absolvição sumária imprópria, com a imposição de medida de segurança.

No caso de não haver prova da autoria, ainda que o acusado seja inimputável, deverá ser impronunciado, pois a medida de segurança só poderá ser imposta se ficar provada a prática de um fato típico e ilícito.

DESCLASSIFICAÇÃO

O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime não doloso contra a vida e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o seja. É o que se extrai do art. 419 do CPP.

C) PEDIDO

No campo destinado aos pedidos, deve-se formular pedido específico para cada uma das teses desenvolvidas ao longo da peça.

Ex.: Se sustentou alguma preliminar, nulidade, por exemplo, deve-se, ao final, formu-lar pedido expresso no sentido de que seja declarada a nulidade.

No que tange ao mérito, o pedido deve guardar relação com a(s) tese(s) invocadas:

a) impronúncia, com base no art. 414 do Código de Processo Penal; e/ou b) absolvição sumária, com base no art. 415 do Código de Processo Penal; e/ou c) desclassificação, com base no art. 419 do Código de Processo Penal.

No procedimento do júri, as teses e os pedidos subsidiários guardam relação, invaria-velmente, com o afastamento da qualificadora ou causa de aumento de pena.

Não se pode confundir a absolvição sumária prevista no art. 397 do CPP com essa, pertencente ao rito do júri, trazida no art. 415 do CPP.

Estrutura dos memoriais do júri

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a) Endereçamento: Juiz de Direito da Vara do Tribunal do Júri (se crime da compe-tência da Justiça Estadual) ou Juiz Federal da Vara Criminal do Júri da Seção Secção Judiciária (se crime da competência da Justiça Federal).

b) Preâmbulo: nome e qualificação do acusado (não inventar dados), capacidade postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (arts. 403, § 3º, do CPP ou 404, parágrafo único, do CPP), nome da peça (Memoriais escritos), frase final (pelas fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos).

c) Corpo da peça: teses defensivas.

d) Pedidos:

i) nulidades (acompanhar a ordem das preliminares);

ii) absolvição sumária (art. 415), impronúncia (art. 414) e/ou desclassificação (art. 419).

e) Parte final: local, data, advogado e OAB.

Modelo de peça

A) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA... (SE CRIME DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL)

Processo n. ...

FULANO DE TAL, já qualificado nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração anexa, vem, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência apresentar MEMORIAIS, com base nos arts. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fun-damentos jurídicos a seguir expostos:

I – DOS FATOS II – DO DIREITO A) DAS PRELIMINARES B) DO MÉRITO

• Impronúncia: ausência de prova da materialidade e não restar provada a autoria (art. 414 do CPP).

• Absolvição sumária (art. 415 do CPP).

• Desclassificação: fato imputado não constitui crime doloso contra a vida (art. 419 do CPP).

C) SUBSIDIARIAMENTE

afastar qualificadora ou causa de aumento de pena.

(25)

III – DO PEDIDO

a) preliminares (nulidades, prescrição etc. – acompanhar a ordem das preli-minares) b) impronúncia, com base no art. 414 do Código de Processo Penal;

c) absolvição sumária, com base no art. 415 do Código de Processo Penal;

d) desclassificação, com base no art. 419 do Código de Processo Penal;

e) afastar qualificadora ou causa de aumento de pena.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local..., data...

Advogado. OAB n. ...

Peça profissional resolvida

(I Exame Unificado) Leila, de 14 anos de idade, inconformada com o fato de ter engravidado de seu namorado, Joel, de 28 anos de idade, resolveu procurar sua amiga Fátima, de 20 anos de idade, para que esta lhe provocasse um aborto. Utilizando seus conhecimentos de estudante de enfermagem, Fátima fez que Leila ingerisse um remédio para úlcera. Após alguns dias, na véspera da comemoração da entrada do ano de 2005, Leila abortou e disse ao namorado que havia mens-truado, alegando que não estivera, de fato, grávida. Desconfiado, Joel vasculhou as gavetas da namorada e encontrou, além de um envelope com o resultado positivo do exame de gravidez de Leila, o frasco de remédio para úlcera embrulhado em um papel com um bilhete de Fátima a Leila, no qual ela prescrevia as doses do remédio. Munido do resultado do exame e do bilhete escrito por Fátima, Joel narrou o fato à autoridade policial, razão pela qual Fátima foi indiciada por abor-to. Tanto na delegacia quanto em juízo, Fátima negou a prática do aborto, tendo confirmado que fornecera o remédio a Leila, acreditando que a amiga sofria de úlcera. Leila foi encaminhada para perícia no Instituto Médico Legal de São Paulo, onde se confirmou a existência de resquícios de saco gestacional, compatível com gravidez, mas sem elementos suficientes para a confirmação de aborto espontâneo ou provocado. Leila não foi ouvida durante o inquérito policial porque, após o exame, mudou-se para Brasília e, apesar dos esforços da autoridade policial, não foi localizada. Em 30-1-2010, Fátima foi denunciada pela prática de aborto. Regularmente processada a ação penal, o juiz, no momento dos debates orais da audiência de instrução, permitiu, com a anuência das partes, a manifestação por escrito, no prazo sucessivo de cinco dias.

A acusação sustentou a comprovação da autoria, tanto pelo depoimento de Joel na fase policial e ratificação em juízo, quanto pela confirmação da ré de que teria fornecido remédio abortivo. Sustentou, ainda, a materialidade do fato, por meio do exame de laboratório e da conclusão da perícia pela existência da gravidez.

A defesa teve vista dos autos em 12-7-2010.

(26)

Em face dessa situação hipotética, na condição de advogado(a) constituído(a) por Fátima, redija a peça processual adequada à defesa de sua cliente, alegando toda a matéria de direito processual e material aplicável ao caso. Date o documento no último dia do prazo para protocolo.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA...

Processo n. ...

FÁTIMA, já qualificada nos autos, por seu procurador infra-assinado, com procuração anexa, vem, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência apre-sentar MEMORIAIS, com base 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos

I – DOS FATOS

Leila, de 14 anos de idade, inconformada com o fato de ter engravidado de seu namorado, Joel, de 28 anos de idade, resolveu procurar a ré, a fim de que lhe provocasse um aborto. Utilizando seus conhecimentos de estudante de en-fermagem, a ré fez que Leila ingerisse um remédio para úlcera.

Joel, namorado de Leila, desconfiado do aborto, após encontrar o frasco de remédio para úlcera embrulhado em um papel com bilhete de Fátima a Leila, deslocou-se até a Delegacia de Polícia e narrou os fatos à autoridade policial.

A ré foi denunciada pela prática do delito de aborto. Encerrada a instrução, a acusação sustentou a comprovação da autoria e da materialidade.

II – DO DIREITO A) DAS PRELIMINARES A.1) Da prescrição

O crime de aborto provocado por terceiro, previsto no art. 126 do Código Pe-nal, prevê a pena máxima de 4 anos, sendo o prazo prescricional de 8 anos, nos termos do art. 109, IV, do Código Penal. Todavia, como a ré contava com 20 anos à época dos fatos, o prazo prescricional é reduzido pela metade, sendo, portan-to, de 4 anos, nos termos do art. 115 do Código Penal.

No caso, considerando que o fato ocorreu na entrada do ano de 2005 e a de-nunciada foi oferecida em 30 de janeiro de 2010, verifica-se que entre a data da consumação do delito e do recebimento da denúncia passaram-se quatro anos.

Logo, incidiu a prescrição da pretensão punitiva em abstrato, devendo ser declarada extinta a punibilidade da ré, com base no art. 107, IV, do Código Pe-nal.

B) DO MÉRITO

B.1) Da materialidade

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Conforme se verifica dos autos, Leila foi encaminhada para perícia no Institu-to Médico Legal, onde se confirmou a existência de resquícios de saco gestacio-nal, compatível com a gravidez, mas sem elementos suficientes para a confirma-ção do aborto espontâneo ou provocado. Logo, verifica-se que o laudo pericial não concluiu tenha sido o aborto provocado, não havendo, portanto, prova da materialidade.

Diante disso, não havendo prova da materialidade, deve o Magistrado deci-dir pela impronúncia da ré, nos termos do art. 414 do Código de Processo Penal.

B.2) Da inexistência de dolo

A ré foi denunciada pela prática do crime de aborto com base no bilhete en-contrado por Joel onde constava a prescrição de doses de remédio para úlcera a Leila.

Todavia, a ré não sabia que Leila estava grávida, receitando o remédio com o objetivo de curar a úlcera.

Assim, verifica-se que a ré não agiu com dolo de interromper a gravidez com a morte do feto, razão pela qual a absolvição sumária é medida que se impõe.

III – DO PEDIDO

Ante o exposto, a ré requer:

a) seja declarada extinta a punibilidade pela prescrição, nos termos do art. 107, IV, do Código de Penal;

b) a impronúncia da ré, com base no art. 414 do Código de Processo Penal;

c) a absolvição sumária, com base no art. 415, III, do Código de Processo Pe-nal.

Nestes termos, Pede deferimento.

Local, 19 de julho de 201055.

Advogado. OAB n. ...

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