• Nenhum resultado encontrado

Autos: ATO NORMATIVO Requerente: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CNJ. Requerido: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CNJ

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Autos: ATO NORMATIVO Requerente: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CNJ. Requerido: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA CNJ"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Autos: ATO NORMATIVO – 0007574-69.2021.2.00.0000 Requerente: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ Requerido: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA – CNJ

RECOMENDAÇÃO. TRIBUNAIS DE JUSTIÇA DOS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL. DECRETAÇÃO DA PRISÃO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS DURANTE A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS. RELATIVIZAÇÃO DO

CUMPRIMENTO DA PRISÃO EM REGIME DOMICILIAR. Recomendação feita aos magistrados que forem analisar pedidos de decretação de prisão do devedor de

alimentos que considerem: a) o contexto epidemiológico local e a situação concreta dos casos no município e da população carcerária; b) o calendário vacinal do Município de residência do devedor de alimentos, em especial se já lhe foi ofertada a dose única ou todas as doses da vacina; c) a eventual recusa do devedor em vacinar-se, como forma de postergar o cumprimento da obrigação alimentícia.

RECOMENDAÇÃO APROVADA.

ACÓRDÃO

O Conselho, por unanimidade, decidiu: I - incluir em pauta o presente procedimento, nos termos do § 1º do artigo 120 do Regimento Interno; II - aprovar a Recomendação, nos termos do voto do Relator.

Presidiu o julgamento o Ministro Luiz Fux.

Plenário Virtual, 22 de outubro de 2021.

Votaram os Excelentíssimos Conselheiros Luiz Fux, Maria Thereza de Assis Moura, Luiz Fernando Tomasi Keppen, Tânia Regina Silva Reckziegel, Mário Guerreiro, Flávia Pessoa, Sidney Madruga, Ivana Farina Navarrete Pena, Marcos Vinícius Jardim

Rodrigues, André Godinho e Mário Goulart Maia. Não votaram os Excelentíssimos Conselheiros Luiz Fernando Bandeira de Mello e, em razão das vacâncias dos cargos, os representantes do Tribunal Superior do Trabalho, do Tribunal Regional Federal e da Justiça Federal.

1. RELATÓRIO

Trata-se de proposta de recomendação, aprovada no âmbito da Comissão de Justiça Criminal, infracional e segurança pública deste Conselho Nacional de Justiça, na reunião do dia 29 de setembro de 2021, a partir de proposta formulada por este Relator.

2. FUNDAMENTAÇÃO

Durante o quadro pandêmico, o Conselho Nacional de Justiça editou normas aplicáveis à população carcerária e aos adolescentes destinatários das medidas socioeducativas decorrentes de atos infracionais, inclusive aos genitores devedores de alimentos.

(2)

A Recomendação 62/2020 do CNJ - prorrogada pelas Recomendações 78/20 e 91/21 - estipula (grifos acrescidos): Art. 6º Recomendar aos magistrados com competência cível que considerem a colocação em prisão domiciliar das pessoas presas por dívida

alimentícia, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus.

Recomendação 91. Art. 1º Recomendar aos tribunais e magistrados a adoção de

medidas preventivas adicionais à propagação da infecção pelo novo Coronavírus e suas variantes - Covid-19, no âmbito dos estabelecimentos do sistema prisional, do sistema socioeducativo e Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTPs),

considerando o atual contexto epidemiológico no país. § 1º As disposições da Recomendação CNJ nº 62/2020 e suas atualizações permanecem aplicáveis no que couber, até 31 de dezembro de 2021, competindo a cada autoridade judicial e tribunal compatibilizá-las com o contexto epidemiológico local e a situação concreta dos casos analisados, devendo ser observado que as medidas previstas nos arts. 4º e 5º da

Recomendação nº 62/2020 não se aplicam às pessoas condenadas por crimes previstos na Lei 12.850/2013 (organização criminosa), na Lei 9.613/1998 (lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores), contra a administração pública (corrupção, concussão, prevaricação etc.), por crimes hediondos ou por crimes de violência doméstica contra a mulher. Art. 3º Recomendar aos tribunais e magistrados que, no exercício da

competência jurisdicional para as fases de conhecimento do processo de apuração de ato infracional e de execução de medidas socioeducativas, adotem providências para a redução dos riscos epidemiológicos em observância ao contexto local de disseminação do vírus, considerando especialmente: I - a adequação da ocupação das unidades socioeducativas aos parâmetros fixados pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do Habeas Corpus 143.988/ES; II - a substituição da privação de liberdade de gestantes, mães, pais e responsáveis por crianças e pessoas com deficiência por medida em meio aberto sempre que possível, nos termos das ordens de habeas corpus concedidas pelo STF nos HCS 143.641 e 165.704/DF e na forma da Resolução CNJ 369/2021; III - assegurar o direito ao contato familiar, nos termos dos acórdãos proferidos nos Habeas Corpus143.641/SP e 165.704/DF, na forma da Resolução CNJ 367/2021; e IV - a realização de audiências e outros atos processuais por videoconferência, a partir dos critérios estabelecidos na Resolução CNJ 330/2020. § 1º Recomenda-se aos tribunais que confiram prioridade à audiência de apresentação e outros atos processuais em processos de apuração de atos infracionais e de execução de medidas socioeducativas no planejamento da retomada de atividades presenciais.

No ano de 2020 o Congresso Nacional editou a Lei 14.010, publicada em 12/6/2020, que dispôs sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia do coronavírus (covid-19),

estabelecendo que: Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida

alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações. Diante desse quadro, inicialmente o Superior Tribunal de Justiça determinou o cumprimento da pena em regime estritamente domiciliar, em observação à Recomendação 62 do CNJ e à norma supracitada. A norma, contudo, ficou vigente até 30.10.2020, pois se estimava a volta à regularidade da vida cotidiana, o que não ocorreu. A CF/88 (art. 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069/90, priorizam o interesse absoluto da Criança e do Adolescente e desde o início da pandemia os devedores de alimentos vem

(3)

cumprindo as penas de prisão em regime domiciliar, por recomendação do CNJ e por orientação jurisprudencial do STJ. Posteriormente, dado o aumento da inadimplência e a

"comodidade" em cumprir a medida coercitiva em regime do miliar, o STJ criou outras alternativas ao cumprimento da obrigação, à escolha do credor: a) aplicar o regime domiciliar; b) diferir o cumprimento (suspensão) ou, c) utilizar outras medidas, ainda que concomitantemente[1][2].

Observe-se: "CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO.

PRISÃO CIVIL POR ALIMENTOS. REGIME DE CUMPRIMENTO DA PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS DURANTE A PANDEMIA CAUSADA PELO CORONAVÍRUS APÓS A PERDA DE EFICÁCIA DO ART. 15 DA LEI 14.010/2020. IMEDIATO CUMPRIMENTO DA PRISÃO EM REGIME FECHADO.

IMPOSSIBILIDADE. SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO EM REGIME FECHADO PELO REGIME DOMICILIAR OU DIFERIMENTO DO CUMPRIMENTO EM REGIME FECHADO. IMPOSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO APRIORÍSTICA E

RÍGIDA DO REGIME SEM CONSIDERAR AS CIRCUNSTÂNCIAS ESPECÍFICAS DE CADA HIPÓTESE. ESCOLHA A CRITÉRIO DO CREDOR DOS ALIMENTOS QUE, EM TESE, PODERÁ INDICAR A MEDIDA POTENCIALMENTE MAIS EFICAZ DIANTE DAS ESPECIFICIDADES DA CAUSA E DO DEVEDOR.

ADOÇÃO PELO JUIZ, DE OFÍCIO OU A REQUERIMENTO, DE OUTRAS MEDIDAS INDUTIVAS, COERCITIVAS, MANDAMENTAIS OU SUB- ROGATÓRIAS, INCLUSIVE CUMULATIVAS OU COMBINADAS.

POSSIBILIDADE. 1- O propósito do habeas corpus é definir se, após a perda de eficácia do art. 15 da Lei nº 14.010/2020, a prisão civil do devedor de alimentos deverá ser cumprida em regime domiciliar, em regime fechado imediatamente ou em regime fechado diferidamente, suspendendo-se, apenas por ora, o cumprimento da prisão. 2- Desde o início da pandemia causada pelo coronavírus, observa-se que a jurisprudência desta Corte oscilou entre a determinação de cumprimento da prisão civil do devedor de alimentos em regime domiciliar e a suspensão momentânea do cumprimento da prisão em regime fechado, tendo em vista, especialmente, que vigorou, por determinado lapso temporal, regra legal específica determinando o cumprimento da prisão em regime domiciliar (art. 15 da Lei nº 14.010/2020). Precedentes. 3- Tendo em vista que o art. 15 da Lei 14.010/2020 teve a sua vigência expirada em 30/10/2020, não há, atualmente, nenhuma norma regulando o modo pelo qual deverão ser cumpridas as prisões civis de devedores de alimentos durante a pandemia, razão pela qual se impõem renovadas reflexões sobre o tema. 4- Diante do contexto social e humanitário atualmente vivido, não há ainda, infelizmente, a possibilidade de retomada do uso da medida coativa extrema que, em muitas situações, é suficiente para dobrar a renitência do devedor de alimentos, sobretudo daquele contumaz e que reúne condições de adimplir a obrigação.

5- A experiência acumulada no primeiro ano de pandemia revela a necessidade de afastar uma solução judicial apriorística e rígida para a questão, conferindo o

protagonismo, quanto ao ponto, ao credor dos alimentos, que, em regra, reúne melhores condições de indicar, diante das inúmeras especificidades envolvidas e das

características peculiares do devedor, se será potencialmente mais eficaz o cumprimento da prisão em regime domiciliar ou o diferimento para posterior cumprimento da prisão em regime fechado, ressalvada, em quaisquer hipóteses, a possibilidade de serem adotadas, inclusive cumulativa e combinadamente, as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias, nos termos do art. 139, IV, do CPC, de ofício ou a requerimento do credor. 6- Ordem parcialmente concedida, apenas para impedir, por ora, a prisão civil do devedor de alimentos sob o regime fechado, mas facultando ao

(4)

credor indicar, no juízo da execução de alimentos, se pretende que a prisão civil seja cumprida no regime domiciliar ou se pretende diferir o seu cumprimento, sem prejuízo da adoção de outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias.

(HC 645.640/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/03/2021, DJe 26/03/2021)

Esse tem sido o entendimento até então adotado. Mas é preciso ponderar algumas situações: a) a colisão de direitos fundamentais adulto x criança; b) as mudanças no quadro pandêmico com o grande percentual de imunizados; c) a situação local onde se encontra o jurisdicionado, situação a ser avaliada caso a caso pelo juízo. Quanto ao primeiro ponto, é muito provável que a aplicação das soluções apresentadas pelo Superior Tribunal de Justiça (a prisão domiciliar, a suspensão ou a utilização de outros meios) não estejam conferindo maior efetividade ao cumprimento da obrigação. Em verdade, todos os brasileiros foram obrigados ao isolamento social, de forma que o regime domiciliar em nada contribuiu para coagir o devedor de alimentos a solver seu débito alimentar, mas tão somente para resguardar sua "integridade física" em

detrimento dos alimentos dos filhos. Enquanto isso, crianças e adolescentes continuam sofrendo com a recalcitrância do inadimplente, porquanto o direito à liberdade e saúde do devedor tem prevalecido sobre a subsistência e dignidade das crianças e

adolescentes, muito embora sejam a parte vulnerável da relação. Com relação aos itens

"b" e "c", há que se considerar a redução da crise pandêmica a nível nacional e estadual, em razão do grande número de vacinados com primeira e segunda doses no país. Assim, parece-nos bastante coerente que - no momento atual - seja delegado ao juiz da causa a verificação, em cada Município/Comarca sob sua jurisdição, qual o contexto local da imunização e da contaminação, assim como se o devedor de alimentos já foi imunizado com a dose única, primeira dose ou com as duas doses da vacina, situação que lhe garantiria um menor risco de contaminação. E, havendo o Estado ofertado a vacinação à sua faixa etária, a recalcitrância do devedor em vacinar-se não poderia configurar impedimento ao decretamento da prisão. Além disso, muito embora recentemente este Conselho tenha divulgado informação de que a vacinação da população carcerária está abaixo da população em geral[3], dados do ministério da saúde revelam que quase 40%

da população já está integralmente imunizada, o que ocasionou um decréscimo do número de mortes por Covid-19 no Brasil. A sobrevivência de muitas crianças e

adolescentes depende fortemente do pagamento debito alimentar. A situação agravou-se fortemente durante a pandemia, porquanto as escolas públicas permaneceram fechadas, e não puderam oferecer-lhes parte da alimentação infantil diária, com a qual as famílias contavam. Por isso, no atual cenário, o cotejamento entre o risco do enclausuramento do alimentante x subsistência alimentando atualmente, afigura-se mais favorável aos credores de alimentos. A Recomendação n. 91 (15 de março de 2021) do CNJ assegurou a cada autoridade judicial a compatibilização das medidas com o contexto

epidemiológico local e a situação concreta dos casos analisados (§1º, art. 1º) em relação à população carcerária em geral. Contudo, não fez recomendações específicas em relação à prisão civil, que possui inegáveis particularidades. Assim, considerando a importância fundamental dos alimentos, o longo período de espera dos credores da verba alimentar - que são crianças e adolescentes -, o avanço da imunização nacional, a redução concreta dos perigos causados pela Pandemia e o inegável fato de que o cumprimento da obrigação alimentícia só ocorre com o anúncio da expedição do mandado prisional, submete-se à aprovação plenária a seguinte recomendação:

RECOMENDAÇÃO Nº , DE XXX DE OUTUBRO DE 2021.

(5)

O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ), no uso de suas atribuições legais e regimentais;

CONSIDERANDO que o artigo 227 da Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) priorizam o interesse absoluto da Criança e do Adolescente;

CONSIDERANDO que desde o início da pandemia os devedores de alimentos vêm cumprindo as penas de prisão em regime domiciliar, por recomendação do CNJ e por orientação jurisprudencial do STJ;

CONSIDERANDO que a prisão domiciliar não configura medida eficaz apta a constranger o devedor de alimentos a quitar sua dívida e o inegável fato de que o cumprimento da obrigação alimentícia só ocorre com o anúncio da expedição do mandado prisional;

CONSIDERANDO o longo período de espera dos credores da verba alimentar - crianças e adolescentes -, durante o período da pandemia do coronavírus;

CONSIDERANDO o avanço da imunização nacional contra o coronavírus e a redução concreta dos perigos causados pela pandemia.

RESOLVE:

Art. 1º Recomendar aos magistrados dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal que forem analisar pedidos de decretação de prisão do devedor de alimentos que considerem:

a) o contexto epidemiológico local e a situação concreta dos casos no município e da população carcerária;

b) o calendário vacinal do Município de residência do devedor de alimentos, em especial se já lhe foi ofertada a dose única ou todas as doses da vacina;

c) a eventual recusa do devedor em vacinar-se, como forma de postergar o cumprimento da obrigação alimentícia.

Art. 2º Esta Recomendação entra em vigor na data de sua publicação.

Ministro LUIZ FUX Presidente

[1] RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. PANDEMIA. CORONAVÍRUS (COVID-19).

RECOMENDAÇÃO N° 62/2020, DO CNJ. AUSÊNCIA DE DETERMINAÇÃO DE CONVERSÃO EM PRISÃO DOMICILIAR. SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DA EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. MEDIDA MAIS ADEQUADA AOS VALORES CONSTITUCIONAIS. 1. Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (Covid- 19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão temporária do cumprimento da prisão civil dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado, medida que está em consonância com a Recomendação n° 62/2020, do CNJ e atende, concomitantemente,

(6)

aos interesses do alimentante e alimentado. 2. Recurso a que se nega provimento. (RHC 136.143/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2021, DJe 30/03/2021)

[2] No mesmo sentido: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ALIMENTOS EM FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. OPÇÃO PELO RITO DA PRISÃO CIVIL (CPC/2015, ART. 528, § 3º). SUSPENSÃO DE TODA PRISÃO DE DEVEDOR DE ALIMENTOS NO ÂMBITO DO DISTRITO FEDERAL, ORDENADA PELO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA, TANTO EM REGIME FECHADO, COMO EM REGIME DOMICILIAR, ENQUANTO DURAR A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS.

ADOÇÃO DE ATOS DE CONSTRIÇÃO NO PATRIMÔNIO DO DEVEDOR, SEM CONVERSÃO DO RITO. POSSIBILIDADE. EQUILÍBRIO NA RELAÇÃO

JURÍDICA ENTRE AS PARTES. ACÓRDÃO RECORRIDO MANTIDO EM SUA INTEGRALIDADE. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. A questão

controvertida nos autos consiste em saber se, enquanto durar a impossibilidade de prisão civil do devedor de alimentos, em razão da pandemia do coronavírus, é possível a determinação de penhora de bens em seu desfavor, sem que haja a conversão do rito da prisão para o da constrição patrimonial. 2. Da leitura do art. 528, §§ 1º a 9º, do Código de Processo Civil de 2015, extrai-se que, havendo prestações vencidas nos três meses anteriores ao ajuizamento da execução de alimentos, caberá ao credor a escolha do procedimento a ser adotado na busca pela satisfação do crédito alimentar, podendo optar pelo procedimento que possibilite ou não a prisão civil do devedor. Caso opte pelo rito da penhora, não será admissível a prisão civil do devedor, nos termos do art. 528, § 8º, do CPC/2015. Todavia, se optar pelo rito da prisão, a penhora somente será possível se o devedor, mesmo após a sua constrição pessoal, não pagar o débito alimentar, a teor do que determina o art. 530 do CPC/2015. 3. Considerando a suspensão de todas as ordens de prisão civil, seja no regime domiciliar, seja em regime fechado, no âmbito do Distrito Federal, enquanto durar a pandemia do coronavírus, impõe-se a realização de

interpretação sistemático-teleológica dos dispositivos legais que regem a execução de alimentos, a fim de equilibrar a relação jurídica entre as partes. 3.1. Se o devedor está sendo beneficiado, de um lado, de forma excepcional, com a impossibilidade de prisão civil, de outro é preciso evitar que o credor seja prejudicado com a demora na satisfação dos alimentos que necessita para sobreviver, pois ao se adotar o entendimento defendido pelo ora recorrente estaria impossibilitado de promover quaisquer medidas de constrição pessoal (prisão) ou patrimonial, até o término da pandemia. 3.2. Ademais, tratando-se de direitos da criança e do adolescente, como no caso, não se pode olvidar que o nosso ordenamento jurídico adota a doutrina da proteção integral e do princípio da prioridade absoluta, nos termos do art. 227 da Constituição Federal. Dessa forma, considerando que os alimentos são indispensáveis à subsistência do alimentando, possuindo caráter imediato, deve-se permitir, ao menos enquanto perdurar a suspensão de todas as ordens de prisão civil em decorrência da pandemia da Covid-19, a adoção de atos de constrição no patrimônio do devedor, sem que haja a conversão do rito. 4. Recurso especial

desprovido. (REsp 1914052/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021) [3]

https://www.cnj.jus.br/covid-19-indice-de-vacinacao-de-pessoas-presas-fica-abaixo-da- media-da-populacao/

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste artigo é identificar as patologias que geraram maior tempo de afastamento e propor ações que colaborem com a saúde e segurança do trabalho dos

Após realização dos ensaios de tipo e, ou especiais, desde que acordada a sua execução pelas partes, ensaios de rotina e de aceitação, o FORNECEDOR deverá enviar

Uma via interessante para atingir essa meta é lançar mão de itens da cultura popular, o que pode ser feito, inclusive, com o auxílio da comunidade escolar, contando com o

A presente monografia Desempenho recente do CNJ versa sobre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e enfoca sua missão constitucional e os possíveis conflitos de

Foi com o intuito de contribuir para a melhoria das condições das mulheres que estão na prisão no Brasil, que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) elaborou a Cartilha

Atualmente o Campus Ceilândia oferta dois cursos técnicos na modalidade subsequente (Eletrônica e Manutenção de Equipamentos Biomédicos), um curso técnico na

Assunto: Pedido de providencias da OAB junto ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em face da Recomendação da Corregedoria Nacional de Justiça, no tocante ao recebimento dos

A análise das respostas dos PEA com sons verbas e não verbais nas crianças do Grupo Estudo Bilateral (GEB) revelou aumento nos valores de latência e amplitude em todas as