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Avaliação crítica da literatura. Por que nos importamos?

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Academic year: 2021

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ISSN 1806-3713

© 2018 Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562018000000364

Avaliação crítica da literatura. Por que nos importamos?

Juliana Carvalho Ferreira1,2,a, Cecilia Maria Patino1,3,b

1. Methods in Epidemiologic, Clinical, and Operations Research–MECOR–program, American Thoracic Society/Asociación Latinoamericana del Tórax, Montevideo, Uruguay.

2. Divisão de Pneumologia, Instituto do Coração, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.

3. Department of Preventive Medicine, Keck School of Medicine, University of Southern California, Los Angeles, CA, USA.

a. http://orcid.org/0000-0001-5742-2157; b. http://orcid.org/0000-0001-6548-1384 CENÁRIO PRÁTICO

Pesquisadores realizaram um ensaio clínico duplo-cego de não inferioridade envolvendo 4.215 pacientes com asma leve, aleatoriamente designados para receber placebo duas vezes ao dia mais budesonida-formoterol conforme necessário vs.

terapia de manutenção com budesonida duas vezes ao dia mais terbutalina conforme necessário. Eles concluíram que budesonida-formoterol usados quando necessário não era inferior ao uso de budesonida duas vezes ao dia em relação à taxa de exacerbações graves de asma, mas era inferior no controle dos sintomas.(1)

COMO AVALIAR CRITICAMENTE A LITERATURA MÉDICA

Como clínicos, quando lemos um artigo relatando o benefício de uma determinada intervenção, avaliamos se devemos usar esses resultados para guiar como cuidamos de nossos pacientes. Em nosso exemplo, após a leitura do artigo, nos perguntamos: a médica que trabalha em um hospital público no Brasil deve prescrever budesonida-formoterol quando necessário, em vez de budesonida de manutenção para pacientes com asma leve? Quais critérios devem orientar sua decisão de adotar uma nova intervenção? Pode-se pensar que, se um estudo for publicado em um periódico de alto impacto e revisado por pares, ele é de alta qualidade e, portanto, deve ser usado para orientar a tomada de decisão clínica. No entanto, se a população incluída no estudo ou o contexto for diferente de sua população, isso pode não ser o caso. Portanto, examinar a validade externa de um estudo é fundamental para guiar a prática local.

Outros critérios comumente utilizados estão relacionados à avaliação da qualidade da evidência, avaliando o tipo de delineamento do estudo utilizado. A pirâmide de evidências coloca meta-análises no topo (como fornecedoras da mais alta qualidade de evidência), seguida de revisões

sistemáticas e ensaios clínicos randomizados; em seguida, estudos observacionais (estudos de coorte, de caso-controle e transversais); ao passo que relatos de casos e séries de casos são categorizados como oferecendo a menor qualidade de evidência. Embora esses critérios possam ser úteis, fazer uma avaliação detalhada de um artigo, levando-se em conta outros aspectos além do desenho do estudo, é uma habilidade que pesquisadores e clínicos podem aprender e aplicar ao ler a literatura.

A avaliação crítica é uma avaliação sistemática de artigos de pesquisa clínica que nos ajuda a estabelecer se os resultados são válidos e se poderiam ser usados para guiar a decisão médica em uma determinada população e contexto locais. Há várias diretrizes para avaliar criticamente a literatura científica, a maioria das quais são estruturadas como check-lists e abordam desenhos de estudo específico.(2) Embora diferentes ferramentas de avaliação possam variar, a estrutura geral é mostrada na Tabela 1.

Os itens da Tabela 1 são um guia para avaliar o conteúdo de um artigo de pesquisa. Há também diretrizes para avaliar a qualidade do relato da pesquisa em saúde que focam na acurácia e completude dos relatos de estudos de pesquisa. (3) Esses dois tipos de avaliação (conteúdo e relato) são complementares e ambos devem ser usados porque é possível que um artigo de pesquisa tenha alta qualidade de relato, mas não seja relevante para o contexto em questão.

MENSAGEM CHAVE

A avaliação crítica da literatura é uma habilidade essencial para pesquisadores e clínicos, e há diretrizes fáceis de usar.

Os clínicos têm a responsabilidade de ajudar seus pacientes a tomar decisões relacionadas à saúde, que devem ser baseadas em pesquisas válidas e de alta qualidade e que sejam aplicáveis em seu contexto.

Tabela 1. Como avaliar a literatura médica.

PERGUNTA O QUE PROCURAR

Este estudo aborda uma questão importante e

claramente focada? A questão da pesquisa deve estar claramente declarada, e o escopo do estudo deve ser focado

O desenho do estudo foi apropriado para a questão da

pesquisa? O desenho escolhido deve ser adequado para responder à questão da

pesquisa O estudo usou métodos válidos para abordar essa

questão? Alocação adequada de participantes, administração da intervenção e

avaliações de desfechos

O viés sistemático foi evitado ou minimizado? Os grupos comparados devem ser tão semelhantes quanto possível, exceto quanto à intervenção/exposição em estudo.

O desfecho primário foi avaliado adequadamente? As avaliações devem ser cegadas quando possível, medidas

objetivamente e realizadas para todos os (ou a maioria dos) participantes Estes resultados válidos e significativos são aplicáveis a

meu paciente ou população? As intervenções do estudo devem ser disponíveis, acessíveis e aceitáveis em seu contexto clínico

REFERÊNCIAS

1. Bateman ED, Reddel HK, O’Byrne PM, Barnes PJ, Zhong N, Keen C, et al.

As-Needed Budesonide-Formoterol versus Maintenance Budesonide in Mild Asthma. N Engl J Med. 2018;378(20):1877-1887. https://doi.org/10.1056/

NEJMoa1715275

2. Critical Appraisal Skills Programme-CASP [homepage on the Internet]. Oxford

(UK): CASP; c2018 [cited 2018 Nov 1]. CASP Checklists. Available from:

https://casp-uk.net/casp-tools-checklists/

3. Equator network [homepage on the Internet]. Oxford (UK): Centre for Statistics in Medicine, University of Oxford [cited 2018 Nov 1]. Available from:

https://www.equator-network.org/

J Bras Pneumol. 2018;44(6):1-1

1 EDUCAÇÃO CONTINUADA:

METODOLOGIA CIENTÍFICA

Referências

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