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03/01/ :00 'Crescimento do Brasil pode ser uma das surpresas agradáveis'

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O'Neill: além do apoio à agenda ortodoxa e menor dependência de commodities, Brasil precisa impulsionar investimento privado 03/01/2019 - 05:00

'Crescimento do Brasil pode ser uma das surpresas agradáveis'

Por Sergio Lamucci

O crescimento brasileiro poderá estar entre as principais "surpresas agradáveis" da economia global se Jair Bolsonaro (PSL) de fato apoiar a agenda de políticas ortodoxas com a qual se comprometeu na campanha, avalia o economista inglês Jim O'Neill. No campo econômico, Bolsonaro e sua equipe defendem prioridade ao ajuste fiscal, às privatizações e à melhora do ambiente de negócios. Para o criador do conceito do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), "é claro que o Brasil pode atingir um crescimento de 2,5% a 3%, e talvez mais".

Na visão de O'Neill, não seria impossível até mesmo o país avançar a

um ritmo superior a 4% por vários anos. "Mas isso requer que as políticas do novo presidente sejam reais, autênticas e persistentes", diz o economista, que é presidente do centro de estudos Chatham House, sediado em Londres. O'Neill também destaca a importância de o país reduzir a dependência excessiva de commodities. "O Brasil precisa parar de ser dominado por commodities e os ciclos desenfreados desses produtos."

Para o país voltar a crescer a um ritmo mais forte, de modo sustentável, ele diz que o Brasil precisa "ser sério e autêntico sobre o que o Bolsonaro tem dito, fazer algo em especial para impulsionar o investimento do setor privado, além de comercializar produtos que não sejam commodities com o resto do mundo".

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"O Brasil precisa parar de ser dominado por commodities e os ciclos desenfreados desses produtos"

O'Neill ficou no banco de investimento Goldman Sachs entre 1995 e 2013, a maior parte do tempo como economista-chefe. Em 2001, criou o conceito do Bric, o acrônimo que o tornou famoso - a África do Sul foi acrescentada posteriormente, não por sua iniciativa. Ao falar do tema, brinca que talvez devesse ter criado o "IC", numa referência ao desempenho decepcionante de Brasil e Rússia nesta década, bem abaixo do registrado pela China e pela Índia. "Mas também é verdade que eles [Brasil e Rússia] entraram na segunda década depois de a primeira ter sido bem melhor do que eu esperava", afirma. "A economia brasileira ainda é maior que a da Itália, apesar dos problemas desta década."

O'Neill fala de modo mais positivo da China e da Índia, ainda que destaque os desafios enfrentados pelos dois países. "Eu suspeito que eles vão continuar a crescer a um ritmo próximo dos números que eu presumi para esta década e a próxima. De 2020 a 2030, a Índia deve crescer de 6% a 7%, e a China, cerca de 5%. Os dois países verão sua fatia do PIB global crescer fortemente."

"A economia brasileira ainda é maior que a da Itália, apesar dos problemas desta década"

A seguir, a íntegra da entrevista, feita por e-mail. Na conversa, O'Neill trata também da situação da economia global, analisando as perspectivas para os EUA e para a China. Para ele, a economia americana vai desacelerar e não é impossível uma recessão no país em 2019 ou 2020. Quanto à China, O'Neill considera factível um

crescimento inferior a 6% neste ano - o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta expansão de 6,2% para 2019, já abaixo da expectativa de 6,6% para 2018. Ele diz, porém, que essa desaceleração não é "necessariamente"

uma questão dramática.

Valor: Como o sr. analisa as perspectivas para a economia global em 2019?

Jim O'Neill: Ela parece caminhar para ser mais fraca do que em 2018, infelizmente. Muitos dos indicadores cíclicos confiáveis que eu sigo há muito tempo apontam para um desempenho mais fraco, e em várias partes do mundo. Esses indicadores incluem comércio, vários índices de gerentes de compras e os de condições financeiras, que são um indicador antecedente. Eu suspeito que já vimos o melhor sobre a economia dos EUA. Então, 2019 vai começar mais fraco do que 2018. Espero que isso signifique pelo menos que a política monetária não precisará ser muito mais apertada. Eu também espero que alguma desaceleração nos EUA leve [o presidente Donald] Trump a ter uma atitude de menor confrontação com o mundo, uma vez que isso seria útil.

Valor: Quão preparados estão os mercados emergentes para enfrentar a normalização da política monetária nos EUA?

O'Neill: Como em 2018, de modo geral, não muito bem. Francamente, nós vemos evidências contínuas de que o sistema financeiro americano é muito mais importante para os mercados globais relativamente à importância da economia americana. Não é sensato e, em algum momento, autoridades de outros países que não os EUA terão de fazer algo a respeito, à medida que isso significa que uma grande parte do mundo é muito influenciada pela política monetária americana.

Valor: A economia americana deve desacelerar em 2019, à medida que o estímulo fiscal arrefecer, mas a maior parte dos analistas ainda projeta um crescimento de 2,5%. O sr. vê algum risco de uma desaceleração abrupta ou mesmo uma recessão em 2019 ou 2020?

O'Neill: Acho que é algo mais possível do que muitos [acreditam]. Eu não preveria isso, não só porque não estou mais no negócio de previsões, mas os EUA não estão imunes do modo como muitos pensam. O consumo das famílias está outra vez acima de 70% do PIB, o mercado imobiliário é altamente sensível à alta dos juros dos títulos

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públicos e o estímulo fiscal está quase encerrado. Além disso, as exportações dos EUA não podem ir bem quando o resto do mundo não se expande muito. Acho que os EUA vão muito provavelmente desacelerar, e uma recessão não é impossível.

Valor: Em que medida a crescente guerra comercial entre EUA e China pode colocar em risco o crescimento global, com impactos negativos sobre mercados emergentes como o Brasil?

O'Neill: Se a escalada se intensificar e a recente pausa nas disputas acertadas por Trump e Xi Jinping não durar, é ruim. Até o momento, 85% de todo o crescimento nominal do PIB global nesta década veio apenas desses dois lugares. Com isso, se eles estão lutando um contra o outro e o crescimento deles desacelera junto, claramente não é boa notícia para ninguém, seja você o Brasil, seja você a Alemanha.

Valor: O crescimento da China deve perder mais gás em 2019. O FMI e o Goldman Sachs estimam uma expansão da economia chinesa de 6,2%, por exemplo. O sr. acha que essas estimativas são realistas - e até que ponto o desempenho é preocupante?

O'Neill: É possível que a China cresça menos de 6%. Vários de seus indicadores cíclicos e antecedentes continuam a perder força. Não acho que isso seja necessariamente uma questão dramática. Na verdade, olhando para as nossas antigas projeções para o Bric, um crescimento chinês em torno de 5% de 2020 a 2030 ainda seria

consistente com a história de longo prazo que tornou a minha tese sobre o Bric tão popular. O que é vital é que o consumidor permaneça forte, [embora] recentemente tenha havido alguns sinais de enfraquecimento.

Valor: Qual a sua preocupação em relação à trajetória explosiva da dívida na China? Ela pode provocar um pouso forçado da economia chinesa em 2019 ou 2020?

O'Neill: Eu reluto em ficar tão preocupado em relação à dívida chinesa como muitos analistas. Mas me preocupo que eu possa estar errado. Por elevadas que sejam algumas das dívidas dos chineses, elas estão em geral

confinadas a autoridades locais e empresas estatais. Os consumidores estão muito pouco endividados. O maior dilema da China provavelmente permanece a taxa de poupança muito alta. A questão do endividamento é um desafio, mas acho que pode ser administrado. Na verdade, isso explica em parte o motivo pelo qual eu acredito que o crescimento possa ser reduzido para menos de 6% - as autoridades querem reduzir as dívidas.

Valor: A maior parte dos investidores ficou mais otimista sobre o Brasil depois do resultado das eleições. Como o sr. vê as perspectivas para a economia brasileira no governo de Jair Bolsonaro, que recentemente adotou uma agenda ortodoxa e amigável aos mercados, mas, como deputado federal, tinha posições intervencionistas e nacionalistas?

O'Neill: Eu não sou especialista nele ou em muito dos acontecimentos econômicos brasileiros atuais. Faz quase seis anos que deixei o setor financeiro e não acompanho mais os eventos com uma frequência diária ou semanal, como fazia. Dito isso, eu suspeito que as pessoas estão pessimistas demais em relação ao Brasil. Se o novo presidente de fato apoiar essas políticas ortodoxas, o crescimento brasileiro poderá estar entre as maiores surpresas agradáveis possíveis. Obviamente, esse é um grande "se"!

Valor: Depois das eleições, alguns analistas elevaram as estimativas para o crescimento brasileiro em 2019 para o intervalo de 2,5% a 3%. O Brasil pode atingir esse ritmo de crescimento no ano que vem?

O'Neill: Não sabia disso, mas não é uma surpresa. É claro que o Brasil pode atingir um crescimento de 2,5% a 3%, e talvez mais. De acordo com o potencial conceitual do Brasil, não seria impossível o Brasil crescer mais de 4% por muitos anos. Mas isso requer que as políticas do novo presidente sejam reais, autênticas e persistentes.

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Valor: O Brasil enfrentou uma recessão grave do segundo trimestre de 2014 até o quarto trimestre de 2016, e desde então a recuperação tem sido lenta e fraca. Por que a recuperação tem sido tão lenta?

O'Neill: Porque o Brasil sofreu muito por sua dependência excessiva de commodities, um caso clássico da chamada doença holandesa [fenômeno pelo qual as receitas obtidas com as exportações de produtos primários apreciam o câmbio e afetam os setores manufatureiros]. O Brasil precisa parar de ser dominado por commodities e os ciclos desenfreados desses produtos.

Valor: O que o Brasil deve fazer para crescer a um ritmo mais rápido de modo sustentável?

O'Neill: Ser sério e autêntico sobre o que Bolsonaro tem dito, e fazer algo em especial para impulsionar o

investimento do setor privado, além de comercializar produtos que não sejam commodities com o resto do mundo.

Valor: O Brasil teve um crescimento bastante bom no período entre 2004 e 2011 e um desempenho muito ruim desde 2014. O país pode repetir o sucesso que obteve na década passada?

O'Neill: É claro. Eu ainda penso frequentemente que os brasileiros são o melhor indicador de reversão de médio prazo do país. Quando as coisas parecem muito boas, muitos brasileiros são frequentemente otimistas demais. E, quando as coisas vão mal, eles são persistentemente pessimistas.

Valor: O Brasil enfrenta uma situação fiscal difícil, com uma dívida pública crescente e déficits elevados. O sr.

está preocupado com as contas fiscais do país?

O'Neill: Se as políticas do novo presidente forem sérias, então é hora de não se preocupar excessivamente em relação à dívida brasileira. Más é importante que a liderança seja séria. Uma repetição das políticas adotadas a partir de 2010 [último ano do governo Lula] não seria bom.

Valor: O Brasil tem hoje inflação e juros baixos, pelo menos para padrões brasileiros. O sr. acha que a redução dos juros é estrutural?

O'Neill: É muito cedo para dizer, mas espero que seja estrutural. Se de fato for, será algo muito positivo. Mas ainda é muito cedo para dizer.

Valor: Como o sr. vê os países do Bric 17 anos depois de ter criado o acrônimo? Em que medida o Brasil e a Rússia o decepcionaram?

O'Neill: Eu poderia escrever horas sobre isso! Eu frequentemente brinco que talvez devesse ter criado o "IC".

Obviamente a segunda década tem sido uma decepção para o Brasil e para a Rússia. Mas também é verdade que elas entraram na segunda década depois de a primeira ter sido bem melhor do que eu esperava. A economia brasileira ainda é maior que a da Itália, apesar dos problemas desta década. Eu estou desapontado com o Banco do Brics. Ele ainda não fez muito até o momento para beneficiar alguém e nem, nesse sentido, os encontros anuais dos líderes do Brics. Mas obviamente eu me sinto com sorte por ter criado o acrônimo, que, suspeito, vai durar por um longo tempo.

Valor: E quanto à China e à Índia? Quais as perspectivas para as duas economias que mais crescem do Bric?

O'Neill: Os dois países têm muitos desafios - como em outros lugares. Mas eu suspeito que eles vão continuar a crescer a um ritmo próximo dos números que eu estimei para esta década e para a próxima. De 2020 a 2030, a Índia deve crescer de 6% a 7%, e a China, cerca de 5%. Os dois países verão sua fatia do PIB global crescer fortemente. Mas é verdade, e não pode ser ignorado, que os dois países poderiam ter conseguido muito mais, especialmente a Índia. A demografia do país sugere que a Índia poderia facilmente crescer 10% por muitos anos, se eles promovessem a sério reformas estruturais.

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