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J. bras. pneumol. vol.43 número1

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Academic year: 2018

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ISSN 1806-3713 © 2017 Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia

http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37562017000100002

Busca pela terapia personalizada para o

tabagismo

Ilka Lopes Santoro1

1. Disciplina de Pneumologia, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo (SP) Brasil.

Muito embora a prevalência do tabagismo no Brasil esteja diminuindo nessas últimas décadas,(1) o tabaco é

uma droga classiicada como lícita; portanto, a epidemia

dessa doença neurocomportamental, causada pela dependência de nicotina, provavelmente ainda perdurará por muitas décadas.(2) Como qualquer epidemia, se faz

necessário conhecer o comportamento da doença em diferentes grupos da população para delinear estratégias

eicazes de controle e tratamento.

Nesse sentido, é importante enfatizar que estamos na era das terapias personalizadas, sendo fundamental

estabelecer uma classiicação de risco para cada sub -grupo de doentes, de maneira a esboçar quais serão as estratégias terapêuticas a serem estabelecidas a cada um deles. Primeiramente, existem fortes evidências de que as mulheres são afetadas diferentemente pelo tabaco do que os homens, pois são mais aderentes ao

vício tabagístico. Isso ocorre especialmente naquelas

mais vulneráveis e naquelas em desvantagens pela baixa

renda ou pelo baixo nível educacional.(3-5) Um segundo

aspecto a ser ressaltado é que o vício do tabagismo em

mulheres pode ser potencializado mais pelo contexto sensorial e social do que pela dependência à nicotina, o

que signiica dizer que, diferentemente do sexo masculino,

as mulheres buscam o tabaco em situações induzidas pelos sentimentos negativos, ou então pela busca de redução de estresse ou de controle de peso.(6)

Procurando essa avaliação epidemiológica, o artigo

intitulado “Tabagismo em mulheres proissionais do

sexo: prevalência e variáveis associadas”,(7) publicado no

presente número do JBP, tem como foco um subgrupo

especíico da população brasileira que se encaixa perfei

-tamente entre as mulheres mais vulneráveis ao vício. Os

autores foram muito felizes ao escolherem este objeto de

estudo para descrever as características e a prevalência

do tabagismo nesse subgrupo da população, sendo que essa prevalência se mostrou muito alta em comparação com a da média nacional (71,1% vs. 10,4%).

Além disso, os autores buscaram entender o padrão

do uso do tabaco, descrevendo a idade precoce de início do vício, o alto consumo diário da droga, com alto nível de dependência à nicotina, e o baixo nível de motivação para a cessação do tabagismo. Foi veriicado também

se havia associações entre o tabagismo e os distúrbios de humor (ansiedade, depressão e estresse referido).

Ainda, embora intervenções governamentais — como o aumento de preço do maço de cigarros por meio do aumento de tributos — tenham reduzido a venda de

tabaco em 32%, veriicou-se que o comércio paralelo, ilícito, de venda de cigarros oriundos do Paraguai é uma

prática habitual no subgrupo em questão.

Em conclusão, é importante salientar que, ao se

estabelecer o comportamento das mulheres proissionais

do sexo em relação ao uso do tabaco, o estudo de

Devóglio et al.(7) levanta uma questão fundamental,

que é o planejamento estruturado, especiicamente

delineado, para atuar nesse subgrupo de maior risco. Assim, não só a abordagem cognitiva comportamental e a utilização de farmacoterapia deverão ser contempladas, mas também o uso da estratégia de redução de danos, no sentido de melhorar a qualidade de vida dessas mulheres. Além disso, algumas particularidades desse subgrupo deverão ser contemporizadas, como a redução

dos fatores de risco modiicáveis (uso de álcool e de drogas ilícitas), que também são muito prevalentes, bem como a necessidade de estabelecer políticas de controle

do contrabando de cigarros.

“Parar de fumar é a coisa mais fácil de ser feita no mundo.

Eu sei pois já o iz milhares de vezes.”

Mark Twain

REFERÊNCIAS

1. Levy D, de Almeida LM, Szklo A. The Brazil SimSmoke policy simulation model: the effect of strong tobacco control policies on smoking prevalence and smoking-attributable deaths in a middle income nation. PLoS Med. 2012;9(11):e1001336. https://doi.org/10.1371/journal. pmed.1001336

2. Silva LC, Araujo AJ, Queiroz ÂM, Sales MD, Castellano MV; Comissão de Tabagismo da SBPT. Smoking control: challenges and achievements. J Bras Pneumol. 2016;42(4):290-8. https://doi.org/10.1590/S1806-37562016000000145

3. Higgins ST, Kurti AN, Redner R, White TJ, Gaalema DE, Roberts ME, et al. A literature review on prevalence of gender differences and intersections with other vulnerabilities to tobacco use in the United States, 2004-2014. Prev Med. 2015;80:89-100. https://doi.org/10.1016/j. ypmed.2015.06.009

4. Partnership for a Tobacco-free Main [webpage in the Internet]. Augusta:

Maine Center for Disease Control and Prevention [cited 2017 Jan 1]. US Department of Health and Human Services. Women and Smoking: a Report of the Surgeon General. 2002 [Adobe Acrobat document, 686p.]. Available from: http://www.tobaccofreemaine.org/channels/providers/ documents/WomenandSmoking_000.pdf

5. Lombardi EM, Prado GF, Santos Ude P, Fernandes FL. Women

and smoking: risks, impacts, and challenges. J Bras Pneumol. 2011;37(1):118-28. https://doi.org/10.1590/S1806-37132011000100017 6. Japuntich SJ, Gregor K, Pineles SL, Gradus JL, Street AE, Prabhala R, et

al. Deployment stress, tobacco use, and postdeployment posttraumatic stress disorder: Gender differences. Psychol Trauma. 2014;8(2):123-6. https://doi.org/10.1037/tra0000093

7. Devóglio LL, Corrente JE, Borgato MH, Godoy I. Smoking among female sex workers: prevalence and associated variables. J Bras Pneumol. 2017;43(1):6-13.

J Bras Pneumol. 2017;43(1):3-3

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