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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL E SUA APLICAÇÃO: DIREITO PENAL MÍNIMO, DIREITO INTERTEMPORAL E A CONSEQUÊNCIA DESSE INSTITUTO

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ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL E SUA APLICAÇÃO: DIREITO PENAL MÍNIMO, DIREITO INTERTEMPORAL E A CONSEQUÊNCIA DESSE INSTITUTO

CRIMINAL NON-PERSECUTION AGREEMENT AND ITS APPLICATION: MINIMUM CRIMINAL LAW, INTER-TEMPORAL LAW AND THE CONSEQUENCE OF THIS INSTITUTE

Ana Paula Arantes dos Santos

Graduanda em Direito, Faculdade Presidente Antônio Carlos - Brasil email: anapauladarantes@hotmail.com.

Érica Oliveira Santos Gonçalves

Professora do curso de Direito da Faculdade Presidente Antônio Carlos - Brasil email: erica.almenara@gmail.com.

Lívia Ribeiro Alves de Souza

Graduanda em Direito, Faculdade Presidente Antônio Carlos - Brasil email: liviaribsouza@outlook.com.

RESUMO

O presente artigo relata a implementação do acordo de não persecução penal no Código de Processo Penal, através da Lei 13.964/19. O objetivo do acordo é tornar mais célere a Justiça Criminal, para que possa dar uma atenção maior aos crimes considerados graves. Após a análise, é possível ver que a utilização do acordo na esfera criminal, tem sido um começo para resolução de um dos problemas do Sistema Penal Brasileiro.

Palavras- chave: Direito Penal Consensual; Justiça Negociada; Celeridade.

ABSTRAT

This article reports on the implementation of the non-criminal prosecution agrément in the Criminal Procedure Code, through Law 13.964/19. The objective of the agrément is to speed up Criminal Justice, so that it can give greater attention to crimes considered serious. After the analysis it is possible to see, that the use of the agrément in the criminal sphere, has been a beginning to solve one of the problems of the Brazilian Penal System.

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1 INTRODUÇÃO

O tema percorrerá ao fato de como o Sistema de Justiça Criminal Brasileiro não anda bem, segundo Rodrigo Leite Ferreira Cabral (2021), há cada vez mais um aumento significativo de delitos, o que torna a instrução criminal morosa e fracassada.

Com isto, as infrações praticadas, em sua maioria não chegam às Varas Criminais, e nem sequer, tem a devida investigação criminal, sendo que, geralmente, a autoria apenas é reconhecida através da prisão em flagrante.

Desta forma, conforme o renomado Promotor de Justiça, Rodrigo Leite Ferreira Cabral (2021), uma das alternativas que possam melhorar esta problemática, é a implementação de um acordo na esfera criminal. Sendo assim, há que se fazer um juízo sobre quais são as prioridades, para que consequentemente, seja levado ao julgamento plenário somente aqueles crimes considerados graves, fazendo com que o Judiciário abarrotado de processos, dê atenção devida aos casos relevantes.

Dessa forma, este novo método de realização de acordo, por mais que não seja suficiente, já é um começo para resolução dos problemas do nosso sistema, pois boa parte dos procedimentos serão encaminhados para o órgão ministerial que poderá, desde que cumprido os requisitos, fazer uma espécie de acordo com o próprio investigado e o seu defensor.

Assim, a Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) trouxe ao Código de Processo Penal esta celebração, chamado Acordo de Não Persecução Penal, que será objeto no decorrer deste trabalho.

2 ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO CRIMINAL

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O acordo de não persecução penal consiste em uma espécie de medida despenalizadora, assim como aqueles trazidos pela Lei 9.099/95, chamados de suspensão condicional do processo e transação penal. Ou seja, refere-se a uma medida que irá afastar do investigado a sua punibilidade. Deste modo, trata-se de uma ampliação da Justiça negociada trazida ao Processo Penal e a mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública incondicionada.

O Conselho Nacional do Ministério Público criou o acordo por meio da Resolução nº 181/70, trazendo um mecanismo consensual para soluções de conflitos, que muitas vezes sofrem com a demora do Judiciário.

Sendo assim, a resolução foi viável, pois transferiu alguns critérios de oportunidade ao titular da ação penal, o Ministério Público, para que pudesse abrir mão da ação penal, diante de ataques irrelevantes ao Direito Penal, conforme cumprissem determinadas obrigações dispostas no CNMP e agora previstas no Código de Processo Penal.

Conforme, Rodrigo Leite Ferreira Cabral (2021), o CNMP teve como objetivo retirar as demandas do judiciário e melhorar a persecução penal por meio do consenso, pois a impunidade gerada pela demora da instrução criminal tem acarretado uma série de movimentos na sociedade.

Nesse sentido, basta observar os preocupantes movimentos de milícias, de grupos de extermínio e de justiceiros que vêm se espalhando, com uma força cada vez maior, em nossa sociedade. Na própria polícia, tem-se notado um grande sentimento de revolta contra a impunidade. No meio de certas facções policialescas e no seio de muitas comunidades e agrupamentos menos esclarecidos, a revolta contra a impunidade tem se transformado em um aberto ataque aos direitos humanos. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 41, JusPodivm).

Assim, é possível vislumbrar que o acordo fará o processo penal promissor, fazendo com que sobre espaço para julgar os crimes realmente relevantes e consequentemente diminua a impunidade.

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O acordo de não persecução penal sofreu algumas modificações quando da sua inserção ao Código de Processo Penal, passando a ser regulado especificamente no art. 28-A do referido Código. Destarte, o texto em si, não teve alteração, apenas tratou a dúvida deixada pela resolução quanto sua aplicação, pois permitia o Parquet abrir mão da ação penal, o que não era amparada por nenhuma lei.

A Lei 13.964/19, de 24 de dezembro de 2019, incluiu no Código de Processo Penal, o art. 28-A, que insere na legislação brasileira um novo mecanismo de solução consensual no âmbito criminal, o denominado acordo de não persecução penal.

A lei, porém, não trouxe propriamente uma novidade, pois o instituto do acordo de penal já havia sido pioneiramente instituído pelo art. 18 da Resolução nº 181/17, do Conselho Nacional do Ministério Público.

(CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 40, JusPodivm).

Portanto, o ANPP ao ser inserido no Código de Processo Penal, teve como finalidade trazer a utilização de um modelo da justiça negociada, que tem como objetivo não somente a punição do infrator, como também as reparações dos danos causados.

2.3 Direito Penal Consensual

Com a evolução histórica e o estudo do Direito Penal, percebe-se visivelmente a substituição da vítima pelo Estado quanto a punição e responsabilização do suposto infrator. Dessa forma, o Estado age como um representante social, trazendo regras para instruir os processos. Deste modo, conceitua Bitencourt (2018) “o Direito Penal se caracteriza pela imposição de sanções específicas – penas e medidas de segurança – como resposta aos conflitos que é chamado a resolver”. Com isso, muitas condutas foram criminalizadas, aumentando significativamente as demandas do Estado, tornando-as morosas e pouco efetivas.

Vale destacar, que segundo o estudo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, a tramitação de um processo criminal na fase de conhecimento na 1ª

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instância é de aproximadamente 3 anos e 10 meses na Justiça Estadual e 2 anos e 3 meses na Justiça Federal, tornando o sistema penal incapaz de punir a criminalidade.

Nesse sentido, surge então, o direito penal consensual, com resoluções de conflitos por meio de concordância entre as partes, um modelo de justiça negociada, em que com a confissão do investigado sobre crime, juntamente com a defesa e a acusação vão definir a penalidade ao caso concreto.

Sem embargo, cada vez mais, essa afirmação vem perdendo o sentido, uma vez que vem ganhando força em nosso ordenamento jurídico o denominado Direito Penal Consensual, que é caracterizado pela utilização de institutos em que o Sistema Penal acaba abrindo mão das respostas tradicionais, manifestadas pela imposição de pena ou de medida de segurança, e passa a adotar soluções alternativas ao processo e à aplicação de sanção penal. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 69, JusPodivm).

Destarte, com relação ao Direito Penal Consensual, pode ser citado alguns institutos já existentes, como é o caso da transação penal, a suspensão condicional do processo, e agora o acordo de não persecução penal regulado pelo Código de Processo Penal.

Ademais, dispõe ainda Rodrigo Leite Ferreira Cabral (2021) que “Seguramente o pleabargain é um dos mais conhecidos e tradicionais mecanismos de solução de casos penais via consenso no sistema mundial”.

Assim, a justiça penal consensual é uma boa alternativa, pois deixa o processo mais célere, o que torna um benefício a todos da sociedade e não somente ao investigado.

2. 4 Requisitos Objetivos para o ANPP

Para que ocorra a realização do acordo de não persecução penal, é preciso que estejam presentes requisitos que são indispensáveis, sendo eles classificados como: requisito objetivo, que diz respeito ao fato, e requisitos subjetivos, que são

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relacionados ao investigado. Nesse sentido, serão analisados neste tópico alguns dos requisitos objetivos.

De acordo com art. 28-A do CPP para que o acordo seja firmado, é necessário que a pena mínima do delito não ultrapasse 4 anos, já considerando causas de diminuição e aumento que sejam aplicados ao caso.

Isto posto, o autor Rodrigo Leite Ferreira Cabral dispõe ainda em sua obra:

Com esse requisito objetivo, buscou-se, ainda que de forma aproximativa, descortinar-se a eventual pena que o investigado receberia caso condenado e – uma vez constatado que, provavelmente, não seria o caso de aplicação de pena privativa de liberdade, mas sim restritiva de direito – acabou o legislador optando por possibilitar a celebração do acordo de não persecução penal, como solução alternativa ao processo penal. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 94, JusPodivm).

Outro requisito que a lei traz, é que o crime não pode ser cometido com violência e grave ameaça, levando a possibilidade de uma interpretação ampla, que abarque todas as hipóteses que se enquadre a esse conceito, isso porque, crimes com características como essas são, consequentemente, injustos e mais reprováveis. O renomado Promotor de Justiça, acima mencionado, conceitua o que seria o real sentido da palavra violência:

Violência, de acordo com a melhor doutrina, significa “todo acontecimento físico de caráter agressivo que constitui um exercício de força física”. Essa violência contra a pessoa pode ser tanto a violência dolosa (v.g. crime de roubo), quanto a violência culposa (v.g. homicídio culposo). Isso porque, o legislador não delimitou a restrição a uma determinada modalidade de imputação subjetiva (o dolo), como o fez, por exemplo, no parágrafo único do art. 71, do Código Penal, nem previu expressamente a possibilidade de ANPP para todos dos delitos culposos, como feito no art. 44, I, in fine, CP.

(CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 97, JusPodivm).

Destarte, que o art. 28-A do CPP traz duas vedações. A primeira diz respeito ao delito cometido no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou seja, abrangem aquelas violências sofridas por todas as pessoas que convivam no mesmo local,

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mesmo que seja convivência eventual. Vale destacar, que aqui também não importa o gênero da vítima.

Assim, o ambiente doméstico abrange todos os integrantes que ali residem ou trabalham com habitualidade, mesmo que não tenham relação de parentesco (v.g. estudantes que moram numa mesma “república”). Abarca, inclusive, pessoas que ali estão acolhidas temporariamente (v.g. afilhado que reside por um determinado período na casa dos padrinhos) e mesmo empregados domésticos. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 110, JusPodivm).

A segunda vedação, diz respeito a hipótese de crimes cometidos contra mulher por razões da condição de sexo feminino, dispõe o autor Rodrigo Leite Ferreira Cabral:

Nesses casos, estão incluídos aqueles delitos que são cometidos contra as mulheres, pela sua própria condição de mulher ou valendo-se da condição de mulher da ofendida, em que se pretenda sua diminuição, coisificação ou que se pretenda tratá-la como se fosse um objeto disponível ou inferior.

(CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 113, JusPodivm).

Por fim, o último requisito trazido, é de que o delito não seja caso de arquivamento, para que o acordo de não persecução seja proposto é necessário que a investigação criminal esteja pronta para o oferecimento da denúncia, ou seja, que estejam preenchidas as condições da ação penal. Vejamos:

Assim, deve existir a aparência de prática de um crime (fumus comissi delicti), deve existir legitimidade de parte (ou seja, a ação deve ser penal pública), a punibilidade concreta deve estar preservada (não pode estar, por exemplo, prescrita a pretensão acusatória) e também deve estar presente a justa causa, consubstanciada pelos elementos informativos e probatórios mínimos que emprestem fundamentos empírico para o oferecimento de denúncia. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 116, JusPodivm).

Outrossim, os pressupostos processuais que são aplicáveis ao acordo, previstos no art. 395, II, do CPP, devem estar preenchidos, como por exemplo a representação do ofendido quando for o caso.

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2. 5 Requisitos Subjetivos para o ANPP

O art. 28-A do Código de Processo Penal, estabelece que o investigado deve cumprir algumas condições pessoais para que seja realizado o acordo de não persecução penal, denominados requisitos subjetivos.

Dessa forma, os requisitos subjetivos são trazidos como vedações e uma condição que o investigado deve cumprir no momento da formalização do acordo.

A primeira restrição que o legislador adotou para o não cabimento do acordo, foi o fato do investigado não ser reincidente. O ANPP visa dar oportunidade somente para aqueles que cometerem pela primeira vez, prática delitiva. Vale destacar, que o prazo dessa reincidência é de 05 anos.

Com relação à identificação do investigado reincidente, não há muita polêmica. Basta examinar, por meio de folha de antecedentes existentes nos autos, se o agente, em tese, praticou o delito, com relação ao qual pretende fazer o ANPP, no prazo de até 05 (cinco) anos depois do cumprimento ou extinção da pena, conforme preconizam os artigos 63 e 64 do Código Penal. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 117, JusPodivm).

Outra proibição trazida pelo Código de Processo Penal, é a possibilidade da celebração do ANPP para aqueles que, os cincos anos antes do cometimento da infração, já tenham sido contemplados por algum benefício do mecanismo consensual, seja ele o próprio acordo de não persecução penal, suspensão condicional do processo ou transação penal.

Para fiel aplicação deste requisito, é imprescindível que os Tribunais passem a registrar adequadamente os acordos de não persecução penal realizados, para que constem das certidões de antecedentes, que devem ser extraídas antes do exame da admissibilidade do ANPP, como recomenda, inclusive, o § 12 do art. 28-A, CPP (“§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, exceto para fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo.”). (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 121, JusPodivm).

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O último requisito para que seja realizado o acordo, é indispensável. Trata-se da confissão formal e circunstanciada sobre a prática do delito que está sendo apurado. Essa confissão, deverá ocorrer na presença do Membro do Ministério Público, do investigado e seu defensor, exatamente no momento da celebração do acordo de não persecução penal.

Salienta-se, que não vale confissão realizada anteriormente em qualquer investigação, IP ou PIC, devendo ser feita apenas no momento do acordo.

Veja-se que a confissão é um requisito imprescindível e indispensável para o acordo de não persecução penal, de modo que, caso seja celebrado o acordo sem confissão, será o caso de o juiz indeferir o pedido de homologação, conforme já decidido, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 122, JusPodivm).

Assim, o uso da confissão realizada perante o titular da ação penal, o Ministério Público, no momento da realização do acordo é muito importante e não viola o direito de ficar em silêncio, pois é uma opção legítima para a sua defesa, além disso, estará acompanhado do seu defensor.

3 DIREITO PENAL MÍNIMO

3. 1 Direito Penal Mínimo

A teoria do Direito Penal Mínimo tem como concepção a aplicação do Direito Penal sem excessos, para que entre a conduta do infrator e a ofensa ao bem tutelado, seja feita a adequação razoável do que seria realmente relevante para que receba a proteção do ordenamento jurídico.

Sendo assim, para que haja um amparo, é necessário esse juízo sobre quais são as prioridades, para que o Direito Penal proteja bens importantes para o convívio social e que não poderão ser respaldados por outros ramos do direito. Devendo, portanto, a privação da liberdade ser imposta em último caso, quando há efetivamente um risco.

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De acordo com o princípio da intervenção mínima, coração do Direito Penal Mínimo, a sua primeira missão é a de orientar o legislador quando da criação ou revogação dos tipos penais. Todo o raciocínio correspondente ao princípio da intervenção mínima girará em torno da proteção dos bens mais importantes existentes na sociedade, bem como da natureza subsidiária do Direito Penal. O primeiro passo para a criação do tipo penal incriminador é, efetivamente, a valoração do bem. Se for concebido como bem de relevo, passaremos ao segundo raciocínio, ainda no mesmo princípio, vale dizer, o da subsidiariedade. Embora importante o bem, se os outros ramos do ordenamento jurídico forem fortes e capazes o suficiente para levar a efeito a sua proteção, não haverá necessidade da intervenção drástica do Direito Penal. (GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão Minimalista do Direito Penal, 2020, p. 31, Impetus).

Ainda, dentro do Direito Penal Mínimo, há uma teoria bastante conhecida, sendo seu precursor Luigi Ferrajoli, chamada de Direito Penal Garantista. Esta teoria, objetiva aumentar a liberdade e garantias do homem e diminuir a intervenção estatal. Assim, o Estado deverá atuar somente em infrações graves, se pautando é claro, do devido processo legal.

O garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias individuais. Assim, o garantismo exerce a função de estabelecer o objetivo e os limites do direito penal nas sociedades democráticas, utilizando-se dos direitos fundamentais, que adquirem status de intangibilidade. (CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte geral, 2021, p. 42, JusPodivm).

Ademais, a referida teoria não traz a exclusão da tipicidade em crimes considerados de menor potencial ofensivo, até porque existe o princípio da insignificância que trata sobre isso, mas ela vem defender que a ação criminal busque ser mais justa e célere.

O princípio da insignificância, cuja aplicação conduz à atipicidade do fato praticado, deverá merecer análise em sede de tipicidade conglobante, especificamente na vertente correspondente à tipicidade material, que é o critério em virtude do qual o Direito Penal afere a importância do bem no caso concreto. Se chegarmos à conclusão, mediante a análise dos

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princípios anteriores, de que o patrimônio, por exemplo, é um bem importante a ponto de ser protegido pelo Direito Penal, que a conduta que o ataca é lesiva e inadequada socialmente e, por essas razões, criarmos os delitos patrimoniais, devemos no caso concreto, nos fazer a seguinte indagação: Se é certo que o patrimônio, abstratamente considerado, é um bem importante a ponto de merecer a proteção do Direito Penal, o bem em análise, isto é, que fora objeto da subtração pelo agente, goza desse status? Foi pensando nesse bem que o legislador criou a figura do delito contra o patrimônio? Se a resposta for positiva, concluiremos que a conduta é típica e passaremos à aferição das outras características da infração penal (ilicitude e culpabilidade). Se a resposta for negativa, o estudo da infração penal estará interrompido por ausência de tipicidade material (inserida dentro do contexto da tipicidade conglobante), conduzindo-nos, em último plano, à completa atipicidade do fato. (GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão Minimalista do Direito Penal, 2020, p. 33, Impetus).

Deste modo, o Direito Penal Mínimo, encontra-se numa posição equilibrada, uma via que traz acesso razoável do Estado para que faça valer o seu ius puniendi sem agir como opressor, ofendendo a liberdade e a dignidade das pessoas.

3.2 A Seletividade do Direito Penal

A seletividade do Direito penal ocorre através do processo de criminalização primária, em que o Estado poderá selecionar tipos de comportamentos existentes na sociedade e que comportamcomo ameaça a todos. Assim, mediante lei formalmente prevista, irá proibir e impor sanções àqueles que ofendem bens jurídicos tutelados.

Nesse sentido, quando a lei já estiver em vigor e for descumprida, surge o efeito conhecido como criminalização secundária, é neste momento, em que o Estado vai fazer valer o seu jus puniendi, processando e condenando o infrator da lei penal. Assim, esta seleção ocorre desde o instante que a lei é editada.

Valores de determinados grupos sociais, tidos como dominantes, prevalecem em detrimento da classe dominada, Em seguida, já quando vigente a lei penal, surge novo processo de seleção. Quem deverá ser punido? A resposta a essa indagação deveria ser simples, ou seja, todos aqueles que descumprirem a lei penal, afrontando a autoridade do

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Estado/Administração. (GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão Minimalista do Direito Penal, 2020, p. 157, Impetus).

Destarte, para corroborar com entendimento da seletividade do Direito Penal, não basta infringir atos tipificados na lei como crimes, é necessário que essas condutas ataquem os bens jurídicos considerados importantes para a sociedade para que esta punição não seja cruel.

4 DIREITO INTERTEMPORAL E CONTROVÉRSIA DO ANPP

4.1 Cabimento do ANPP em Processo em Curso

Uma questão bastante polêmica e de grande relevância é a respeito do cabimento do acordo de não persecução penal em processos já em curso. Como é sabido, a regra que deve ser seguida, é que o acordo seja realizado antes do oferecimento da denúncia, ocorrendo então, antes da instauração processual. No entanto, tal regra comporta exceções.

A primeira exceção diz respeito aos processos penais instaurados antes da inserção do acordo mediante a Lei 13.964/19. Para que os investigados sejam tratados de forma igualitária, nessa fase de transição entre o novo e o sistema adotado anteriormente, é possível o cabimento do acordo para processos em curso. Insto posto, o autor Rodrigo Leite Ferreira Cabral, traz alguns argumentos:

O art. 3°-B, inciso XVII do Código de Processo Penal (que, apesar de estar com sua vigência suspensa por conta da cautelar nas ADIs n.6.298, 6.299, 6.300 e 6.305, serve como norte interpretativo) preconiza que compete ao Juiz de Garantias “decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou os de colaboração premiada, quando formalizados durante a investigação”.

É dizer, a própria Lei – interpretada a contrario sensu – admite que o ANPP seja celebrado em momento distinto da investigação criminal, ou seja, no curso do processo penal. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 236, JusPodivm).

O segundo argumento está na Lei 9.099/95, quando trouxe a aplicação intertemporal no seu art. 90, que foi objeto de Ação Direta de Inconstitucionalidade:

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Ação direta de inconstitucionalidade. Arguição de inconstitucionalidade do artigo 90 da Lei 9.099, de 26.09.95, em face do princípio constitucional da retroatividade da lei penal mais benigna (art. 5º, XL, da Carta Magna). Pedido de liminar. - Ocorrência dos requisitos da relevância da fundamentação jurídica do pedido e da conveniência da suspensão parcial da norma impugnada. Pedido de liminar que se defere, em parte, para, dando ao artigo 90 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, interpretação conforme à Constituição suspender "extunc", sua eficácia com relação ao sentido de ser ele aplicável às normas de conteúdo penal mais favorável contidas nessa Lei. (ADI 1719 MC, Relator(a): MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/1997, DJ 27-02-1998 PP-00001 EMENT VOL-01900-01 PP-00001).

Outrossim, a segunda exceção ocorre em processos que por fato superveniente, passa a ser cabível o acordo de não persecução penal, pois pode haver casos que no momento antes de oferecer a denúncia não é possível realizar o acordo, mas que depois, passam a preencher os requisitos para que ele ocorra.

Assim, por exemplo, nos casos em que houver o aditamento à denúncia, a desclassificação da imputação ou a procedência parcial da acuação e, em virtude disso, passar o acusado a preencher os requisitos do ANPP, nos parece ser cabível que o juiz remeta os autos ao Ministério Público para eventualmente celebrar acordo de não persecução penal, mesmo em se tratando de processo penal em curso. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 246, JusPodivm).

Desta forma, reforça-se o argumento de que é possível, ainda que de maneira excepcional, a celebração do acordo de não persecução penal em processos já em curso.

5 CONSEQUÊNCIA DO ANPP

5.1 Consequência do Acordo no Ordenamento Jurídico

O Brasil é um país reconhecido pela sua impunidade, pois o judiciário abarrotado de processos não consegue dar a devida atenção a todos os casos, até mesmo aqueles crimes considerados como graves.

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Em razão disso, o acordo de não persecução penal traz uma consequência positiva ao ordenamento jurídico, pois faz com que a Justiça Criminal abra mão de crimes de menor potencial ofensivo e possa olhar para aqueles crimes relevantes ao convívio social.

Vale destacar, que o ANPP faz com que o sistema penal brasileirose torne menos oneroso, pois o grande número de prisões traz grandes custos à Administração Pública. Conforme a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informa, cada preso custa aproximadamente R$2.500 (dois mil e quinhentos) reais.

Portanto, o acordo de não persecução penal inserido ao Código de Processo Penal, tem como consequência tornar a esfera criminal mais célere e diminuir a taxa de encarceramento de crimes que podem ter sua reprovação de uma maneira menos gravosa.

6 EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA COM O ANPP

6.1 Experiência de outros países com a implementação do ANPP

O acordo de não persecução penal não é previsto apenas no Brasil, outros países tiveram suas experiências, sendo um deles a França e a Alemanha. Insto posto, o autor Rodrigo Leite Ferreira Cabral trouxe em sua obra como ocorreu o ANPP:

Na França, as primeiras experiências de soluções alternativas para os casos penais surgem não da lei, mas sim da iniciativa pessoal de juízes e promotores de justiça, que se conscientizaram da incapacidade da Justiça Penal de lidar com a grande carga de trabalho decorrente da persecução penal da delinquência de menor importância.

Em virtude dessa prática, inicialmente, heterogênea é que surgiu, pela primeira vez, um processo de institucionalização dos acordos penais na França, por meio da Nota de Orientação do Ministério da Justiça, de 03 de junho de 1992. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 43, JusPodivm).

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Na Alemanha ocorreu situação semelhante à francesa. O acordo penal iniciou-se em virtude das práticas dos Promotores de Justiça e Juízes, apesar da ausência de lei prevendo tal possibilidade. (CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal, 2021, p. 45, JusPodivm).

Assim sendo, como visto acima, o acordo de não persecução penal também foi implementado em outros países, o que traz como parâmetro sua experiência para aplicação diversa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho possibilitou a análise detalhada do acordo de não persecução penal inserido ao Código de Processo Penal através da Lei 13.964/2019, em que busca punir apenas os crimes considerados graves para o convívio social.

O Direito Penal Consensual trouxe este modelo de acordo, bem parecido com aqueles previstos na Lei 9.099/95, para desafogar a Justiça Criminal, desburocratizando a aplicação do processo penal, em que o Ministério Público, juntamente com o investigado e seu defensor, pudesse abrir mão da ação penal, diante de ataques irrelevantes ao Direito Penal e assim, oferecer o acordo quando preenchidos os requisitos.

Portanto, o acordo de não persecução penal veio como aliado ao sistema penal brasileiro para o tornar mais célere e efetivo.

REFERÊNCIAS

LUCCA, José Felipe. A (In)compatibilidade do Direito Penal do Inimigo no Estado Democrático de Direito. Centro Universitário Univates, 2016.

MOREIRA, Reinaldo Daniel. Notas sobre a Seletividade do Sistema Penal. Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery, 2010.

Revista Âmbito Jurídico, 2019. Revista Consultor Jurídico, 2017. Revista JurisFib, 2019.

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CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. Manual do Acordo de Não Persecução Penal. Salvador, JusPodivm, 2021.

GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: uma visão Minimalista do Direito Penal. Niterói, Impetus, 2020.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: parte geral. Salvador, JusPodivm, 2021.

PEREIRA, Vanessa Anastácio. O Crime e a Punição: Impacto Social. Fundação Educacional do Município de Assis, 2014.

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Referências

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