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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA ANA KARINA DE OLIVEIRA ALVES

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADEFEDERALDORIOGRANDEDONORTE

ESCOLADEMÚSICA

CURSODELICENCIATURAEMMÚSICA

ANAKARINADEOLIVEIRAALVES

SENSIBILIZAÇÃO MUSICAL DA GESTAÇÃO AO 1º ANO DE VIDA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ÉDGAR.

NATAL 2021

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SENSIBILIZAÇÃO MUSICAL DA GESTAÇÃO AO 1º ANO DE VIDA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ÉDGAR.

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Licenciatura em Música, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Música.

Orientadora: Profa. Dra. Carolina Chaves Gomes.

NATAL 2021

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SENSIBILIZAÇÃO MUSICAL DA GESTAÇÃO AO 1º ANO DE VIDA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ÉDGAR.

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Licenciatura em Música, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Música.

Aprovada em: 07 de abril de 2021.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Profa. Dra. Carolina Chaves Gomes

Orientador(a)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

______________________________________ Profa. Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa

Membro interno

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

______________________________________ Profa. Dra. Tamar Genz Gaulke

Membro interno

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DEDICO ESTE TRABALHO AO MEU FILHO ÉDGAR BENJAMIN QUE FOI MINHA INSPIRAÇÃO AO FAZER ESSE TRABALHO.

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Gostaria de agradecer a minha mãe, Silvana Karla, a minha avó Francisca Lucia, a minha tia-avó Francisca Martins, e a minha irmã, Edna Kayllane, pelo apoio incondicional durante esta jornada de seis anos que foi a minha graduação. Agradeço aos amores da minha vida que são meu esposo, Erickson Elias e meu Filho Édgar Benjamin. Obrigado, do fundo do meu coração, pelo seu carinho e incentivo. Agradeço a Wyllyane Moura e a Larissa Fernandes que, por muitas das vezes, me ajudaram a cuidar de Édgar para que esse trabalho fosse escrito.

A minha maravilhosa orientadora, Carolina Gomes, agradeço e expresso a minha admiração pelo seu trabalho. Você me inspira sempre em ser uma boa mãe e uma ótima profissional! Agradeço ao Madrigal da UFRN pela oportunidade de iniciação ao canto e de despertar esse talento que antes era escondido, e por ser bolsista nesse coral, trazendo muita experiência enriquecedora. Obrigada a todos os meus professores e professoras da Escola de Música da UFRN (EMUFRN), em especial à Prof.ª Cláudia Roberta e à Prof.ª Amélia Martins Dias que por muitas vezes me estimularam positivamente. Vocês foram essenciais para a minha formação humana e profissional!

Agradeço à equipe da ONG Atitude Cooperação (não irei citar nomes para não esquecer nenhum). Serei eternamente grata a todos pelo grande apoio, mas destaco o projeto Tocando a Vida, pois foi essa experiência que mudou a minha vida e foi fundamental para eu escolher a graduação em Música. Em especial, agradeço ao prof. Magno Job, ao prof. Dary Sousa e ao prof. Breno que foram grandes incentivadores musicais na minha trajetória.

Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) pela oportunidade de cursar uma graduação em Música de qualidade, pois quem poderia imaginar que uma menina da periferia da Zona Oeste de Natal, iria tornar-se uma professora de música. Oriunda de uma família de quatro gerações de lavadeira, isso seria um orgulho para minha comunidade. Agradeço a todos os funcionários, efetivos e terceirizados, da Escola de Música da UFRN. E agradeço às amigas e aos amigos da turma de 2016.1.

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A persistência é o caminho do êxito.

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Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo geral identificar as possibilidades de sensibilização musical feita desde minha gestação até o primeiro ano de vida do meu filho, realizando seu acompanhamento e explorando algumas formas de trabalhar a música com os bebês, e até mesmo antes do seu nascimento. Foram apresentadas as fases do desenvolvimento de acordo com a fase de vida, evidenciando formas de abordagem e metodologias para cada uma delas. Todas as referências foram feitas levando em consideração artigos da ABEM (Associação Brasileira de Educação Musical) da primeira infância e a musicalização e os benefícios que trazem para a gestação (textos dos últimos vinte anos), buscando informações que contemplassem de forma ampla e objetiva as temáticas apontadas, contribuindo para o desenvolvimento integral do bebê. Essas experiências foram compiladas aqui demonstrando como foi a sensibilização musical realizada no período da minha gestação e depois do meu filho nascer. A última parte do trabalho refere-se aos registros da musicalização com o bebê, incluindo o uso da música de maneira intencionalmente educativa. Na análise dos dados e considerações finais são destacadas atividades musicais que foram realizadas como: canto, apreciação musical e jogos lúdicos.

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This is a work of course conclusion and it has the general objective of identifying the possibilities of musical awareness since my gestation until the first year after my son’s birth, monitoring his development and exploring some ways of work with music for babies and even for before their births. The phases of work development were presented accordingly to babies life stages showing proper approaches and methodologies for each of them. All references were concerned since articles from ABEM (Brazilian Association of Musical Education) about early childhood and about musicalization and its benefits during pregnancy (texts from the last twenty years), searching for information that could broadly and objectively the thematic pointed out on such papers contributing to a full baby’s development. Those experiences were compiled in this work showing how musical awareness were performed during my pregnancy and after my son was born. The last part of the work refers to records of musicalization with the baby including intentional use of music with educational purpose. At the data analysis and at final regards musical activies were highlighted such as singing, musical appreciation and recreational activities.

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Figura 1 Frequência das produções vocais... 25

Figura 2 Duração das produções vocais... 26

Figura 3 Imitação/variação... 26

Figura 4 Alternação de turnos... 26

Figura 5 Apresentação do trabalho de musicalização com gestantes... 35

Figura 6 Registro de uma parte da turma de Seminário em Educação Musical Infantil... 36

Figura 7 Nascimento de Édgar... 37

Figura 8 Vovó (materna) fazendo shantala... 37

Figura 9 Cochilo da tarde... 38

Figura 10 Registro da música do sapo... 39

Figura 11 Registro da música do feijão... 40

Figura 12 Figura 13 Musicalizando com o violão... Musicalizando com a viola... 41 41 Figura 14 Momento lúdico... 42

Figura 15 Seu primeiro violão de brinquedo... 43

Figura 16 Musicalizando com a flauta doce... 43

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EMUFRN Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ABEM Associação Brasileira de Educação Musical LDB Leis e Diretrizes Básicas

CNE Curricular Nacional para Educação CMEI Centro Municipal de Educação Infantil

LISTA DE QUADROS

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1 INTRODUÇÃO... 12

1.1 METODOLOGIA... 13

2. CONHECIMENTOS SOBRE MÚSICA E INFÂNCIA... 15

2.1 O DESENVOLVIMENTO MUSICAL DO FETO E DO BEBÊ... 15

2.2 DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE BEBÊS E MÚSICA: O ESTADO DA ARTE... 21

3 MUSICALIZANDO DA GESTAÇÃO AO PRIMEIRO ANO: O RELATO PARA ÉDGAR BENJAMIN... 33

3.1 A GESTAÇÃO... 33

3.2 PRIMEIRO ANO DE VIDA... 36

4. CONTRIBUIÇÕES PARA UMA SENSIBILIZAÇÃO A PARTIR DA GESTAÇÃO... 44

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 45

REFERÊNCIAS... 46 ANEXOS

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1. INTRODUÇÃO

Comecei minha vida musical desde o ventre da minha mãe, pois de uma forma involuntária, já na sua gravidez, ela me musicalizava, tocava tarol ou corneta na banda marcial Jean Mermoz, da Escola Estadual Jean Mermoz.

Uma flauta doce de plástico foi meu primeiro instrumento musical e minha primeira vivência em grupo foi tocando surdo (tambor) na mesma banda marcial que minha mãe me colocou aos doze anos. Aos catorze anos iniciei na viola clássica em um projeto da minha escola, Tocando a Vida com D'amore. Desde então desenvolvi interesse na música. No primeiro semestre de 2016 entrei no Curso de Licenciatura em Música, pois desde pequena tinha a habilidade de ensinar o que eu aprendia para as outras pessoas. Pensava eu que iria me aprofundar apenas na viola, mas conheci o canto com o coral da universidade (Madrigal da UFRN). Fiz o teste e passei. Então, desde o semestre de 2016, cantar tornou-se minha vida. Ingressei no curso técnico em canto lírico em 2018 e hoje tento conciliar o canto e o instrumento.

Durante o curso de Licenciatura, engravidei e cursei a disciplina Seminário em Educação Musical Infantil, onde pude conhecer o universo da educação musical infantil desde a gestação aos primeiros anos de vida. Me encantei com a temática e, com minha condição de gestante pude ali mesmo já verificar as aprendizagens que passava a conhecer.

Quando se trata de musicalização para o bebê, desde o feto ou nos primeiros anos de vida surgem vários questionamentos, tanto para leigos quanto até mesmo para os profissionais da música. Na primeira infância a musicalização ainda é pouco abordada sistematicamente no desenvolvimento e no contexto social, mas tem relevante importância no desenvolvimento pleno da criança, pois ao desenvolver as atividades musicais, é realizado um grande volume de conexões neurais, envolvendo várias áreas do cérebro ao mesmo tempo.

[...] trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. (BRASIL, 1998, p.47).

Apesar da música estar presente em todos os grupos familiares, não é comum vermos a musicalização no cotidiano das famílias, ainda que conheçamos, hoje, os inúmeros benefícios que a música traz para o bebê. Ferreira (2005), Brasil (1998), Ilari (2002), entre outros autores que trago neste trabalho, descrevem o benefício que a música nos proporciona.

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Delalande (1995, 1999) e Gordon (2000, 2008) contribuíram com importantes estudos buscando o desenvolvimento musical para a criança, tendo como ponto em comum a análise de como as crianças aprendem música. Sobre isso, Correia (2003) afirma que

A utilização da música, bem como o uso de outros meios, pode incentivar a participação, a cooperação, socialização, e assim destruir as barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. (CORREIA, 2003, p.85). O autor apontam, um potencial musical inato ao bebê, podendo ser estimulado a partir da ampliação da percepção de estímulos auditivos. Beyer (1988, 2001, 2003) e Ilari (2002, 2003, 2006) mostram a importância da presença de um adulto interativo com o bebê e reconhecem que o seu desenvolvimento cognitivo-musical ocorre a partir dos estímulos que lhe são ofertados. Ambas defendem a relevância da musicalização na primeira infância para o amadurecimento da criança. Assim, identificamos os seguintes questionamentos: como a música pode auxiliar no aprendizado enquanto feto? Qual tipo de música terá um melhor aproveitamento para bebês? Existe idade certa para iniciar o processo de musicalização? Como trabalhar música com bebês?

Considerando os questionamentos acima, busquei características no desenvolvimento do bebê e associando cada uma delas às atividades que fiz enquanto eu era gestante, mostrando o processo de musicalização do meu bebê enquanto feto e no primeiro ano de vida, respeitando a individualidade e buscando o desenvolvimento integral. As atividades englobam desde a gestação e depois dele nascido, até um ano de idade.

Este trabalho trata-se, portanto, de um relato da sensibilização musical realizada da gestação ao primeiro ano de vida de Édgar Benjamin de Oliveira Regis. Para isso, tenho como objetivo geral identificar as possibilidades de sensibilização musical da gestação ao primeiro ano de vida considerando o acompanhamento do meu filho, Édgar Benjamin. Especificamente, busquei compreender as etapas de desenvolvimento musical na gestação e primeiro ano de vida do bebê e suas implicações, apresentar e analisar os estímulos auditivo-musicais realizados da gestação ao primeiro ano de vida no acompanhamento de Édgar Benjamin e discutir as principais perspectivas para uma sensibilização musical a partir da gestação para bebês.

Assim, constitui-se foi levantado como problemática do trabalho investigar quais as possibilidades de sensibilização musical da gestação ao primeiro ano de vida, considerando o que foi vivenciado com meu filho, Édgar Benjamin.

Assim, trago nesta introdução os objetivos e metodologia utilizados ao longo de todo o período de experimentação. No primeiro capítulo apresento uma conversa com autores dialogando com as principais publicações encontradas. Já no segundo capítulo, descrevo meu

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relato e os registros da musicalização realizada desde a gestação com meu filho. No terceiro, discuto sobre as contribuições que acredito serem mais relevantes para musicalização neste período com bebês. E, por fim, nas considerações finais, apresento os principais resultados de todo o trabalho.

1.1 METODOLOGIA

Esta pesquisa participativa, através de meu relato de experiência, busca compreender o trabalho de sensibilização que fiz durante a minha gestação e a musicalização com meu bebê. Uma parte significativa deste trabalho consiste em documentar as práticas musicais que fiz durante a gestação e até o 1º ano de vida do meu filho. Para além desses registros, desenvolvi um quadro para melhor comparar os artigos de embasamento teórico, permitindo a análise de informações de diferentes publicações (QUADRO 1).

A pesquisa deste trabalho teve início com uma certa curiosidade sobre a musicalização para o feto que é pouco abordada no curso de Licenciatura em Música. Ao participar de uma disciplina denominada Seminário em Educação Musical Infantil durante a minha gestação, despertou-me a ideia de então acrescentar meu relato de experiência, como base do meu trabalho a partir da pesquisa de artigos dos últimos vinte anos que falam sobre o benefício da música ao ser humano.

Esta monografia foi escrita em um momento muito difícil da história, em meio à pandemia provocada pelo COVID-19, o que provocou uma defasagem da minha pesquisa, no qual só tive acesso a alguns artigos acessados através da Internet e alguns arquivos que eu registrei por meio de fotos e vídeos de alguns momentos de interação do trabalho de musicalização com Édgar (meu filho). Minha busca na Internet levou-me a autores e arquivos interessantes, apesar de pouco material, o que encontrei foi de valor contributivo à pesquisa.

Os artigos que enriqueceram este trabalho foram encontrados em publicações dos últimos 20 anos. Foi utilizada uma tabela para melhor analisar esses artigos. Isso permitiu uma melhor organização dos conteúdos e utilização mais coerente dos estudos que fundamentaram o que está sendo apreciado neste trabalho.

O site da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM) foi a principal fonte de pesquisa, onde foi possível encontrar os principais artigos que embasaram o trabalho. Na pesquisa foram usados os seguintes descritores: bebê, gravidez e musicalização.

Abaixo está o exemplo de quadro utilizado para analisar os artigos mais relevantes encontrados e assim consolidar uma base teórica.

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Descritores Ano da revista

Título

do artigo Autores Objetivo Metodologia Conclusão

Qual a contribuição para a minha

pesquisa

Quadro 1: Organização Metodológica Fonte: Karina Alves (2021)

Esse quadro foi fundamental para analisar e organizar os artigos encontrados. Foi bastante útil no momento da leitura e na busca dos dados mais relevantes, tudo separado por tópicos e já estruturados diretamente neste formato. Assim já ficava cadastrada uma referência para futuras consultas.

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2. CONHECIMENTOS SOBRE MÚSICA E INFÂNCIA

2.1 O DESENVOLVIMENTO MUSICAL DO FETO E DO BEBÊ

Muitos pensam que o desenvolvimento do bebê acontece gradativamente após o nascimento, mas o aparelho auditivo se desenvolve completamente durante a gestação, por isso que já ao nascer o bebê escuta todos os sons emitidos ao seu redor (refiro-me às crianças que não possuem alterações/insuficiências na formação auditivas) e “o ambiente acústico uterino não é silencioso como muitos acreditavam, mas, sim, um universo sonoro rico e único, que proporciona ao bebê uma grande mistura de sons externos e internos” (ILARI, 2002, p. 84), de forma que a vivência do bebê com o universo dos sons e da música vem muito antes dele ter saído do ventre da mãe.

Apesar do uso da música na infância ser universal, há ainda quem pense no bebê como um ouvinte passivo e pouco sofisticado. Porém, nas últimas décadas, estudiosos da área de percepção e cognição musical na infância revelaram que, antes mesmo de completar 1 ano de idade, os bebês são ouvintes bastante sofisticados (TREHUB, 2001; TREHUB, BULL e THORPE, 1984 apud ILARI, 2002, p. 84).

Segundo Ilari, o feto passa por várias etapas do seu desenvolvimento durante a gestação e a formação do aparelho auditivo inicia-se por volta da 22ª semana. Nessa etapa da gestação, já é possível iniciar o contato do feto com a música, ou seja, realizar o processo de musicalização através do som. Tendo essa consciência acerca da fisiologia da audição do feto, a autora percebe os benefícios a esse estímulo iniciado ainda na gestação e ainda descreve suas reações de acordo com o tempo de vida fetal, ressaltando que os bebês já reconhecem e preferem a voz da mãe à voz de outras mulheres com apenas três dias de vida (DECASPER e FIFER, 1980), e, ainda, reagem a diversas provocações sonoras a ponto de reconhecerem poesias e prosas em gêneros diversos, inclusive musicais quando no último estágio da gestação. (DECASPER e SPENCE, 1986; DECASPER et al, 1994; ILARI, 2002). Tanto na gestação quanto após o nascimento, as respostas às exposições sonoras são percebidas através de alterações no batimento cardíaco e da movimentação corporal do bebê quando a música é tocada. (HEPPER, 1991; WILKIN1995). Observando essas reações-respostas, pode-se deduzir que o estudo do aprendizado musical é possível desde o útero e não somente após o nascimento, como sugere Ilari (2002).

Autores e estudiosos da área da música, como Hans Joachim Koellreutter, Keith Swanick, Edgar Willems, Carl Orff, Zoltán Kodály, Murray Schafer, entre outros, defendem e

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mostram os benefícios que a musicalização traz para a criança pequena, benefícios esses que o quanto antes estimulados será enriquecedor para o seu desenvolvimento.

A importância da música e do canto dirigido ao bebê não se limita à relação bebê-pais/responsáveis. O uso da música e do canto tem beneficiado bebês prematuros e sob risco de vida (Caine,1991; Moore e Standley, 1996; Standley, 1998; 1999; 2001), gestantes (Winslow, 1986), crianças e adolescentes hospitalizados (Klein e Winkelstein, 1996).1996). Intervenções musicais nas incubadoras dos bebês prematuros têm auxiliado na estabilização dos níveis de saturação de oxigênio (Moore e Standley, 1996), na redução de perda de peso (Caine, 1991), na redução de estresse (Caine, 1991) e na redução de dias de hospitalização (Caine, 1991; Standley, 1999). Ainda nas incubadoras, o uso de canções de ninar tem reforçado o aprendizado do ato de sugar, difícil para muitos bebês prematuros (para maiores detalhes consultar o PAL – Pacifier Activated Lullabies em Standley 1999; 2001) (ILARI, 2002, p.88).

Se o contato com a música é um fator fortalecedor para bebês pré-maturos, há de se pensar que a musicalização durante a gestação pode trazer benefícios diversos para o feto e também desenvolver um maior vínculo entre mãe e bebê (ILARI 2002), trazendo fortalecimento dos músculos através dos movimentos que o som estimula e consequentemente gera uma melhora do fluxo da respiração (da mãe e do feto). A música também influencia na circulação sanguínea, porque estimula um relaxamento das artérias e assim proporciona uma condição clínica significativamente melhor na pressão arterial da mãe e do feto e, portanto, melhora o metabolismo de ambos. Ilari afirma que:

O uso da música auxilia também na redução da cólica infantil, um problema sério que é enfrentado por vários bebês e seus responsáveis (Larson e Ayllon, 1990). Embora estudos sobre o uso da música com bebês de alto risco sejam ainda uma novidade, as evidências de que a música pode servir como uma forma de terapia com essa população se acumulam e se solidificam (ILARI, 2002, p.88).

Mas esses benefícios só acontecem na prática, se existirem algumas condições importantes como a organização de um ambiente confortável e bem acolhedor para mãe, escolher músicas que sejam agradáveis à mãe, mas com a finalidade de gerar estímulos ao feto (agitar, acalmar, etc) e perceber a importância da variação entre música instrumental e música vocal, mesclando ritmos e pulsações diferentes.

Os comportamentos e verbalizações de mães e crianças influenciam-se reciprocamente, caracterizando um cenário de troca mútua em que a criança é parte ativa e dinâmica nas interações, e a mãe o elemento da díade responsável pela criação de uma estrutura sócio interativa favorável à aprendizagem da linguagem. Desta forma, não importa a profundidade de conhecimento musical da mãe, pois ela, intuitivamente, estará interagindo com seu bebê, e reagindo às suas verbalizações (FILIPAK e ILARI, 2005, p. 87).

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A mãe pode entoar a melodia, isto aumentará o vínculo afetivo ao mesmo tempo em que o feto reconhece sua voz, porque “a música transmite uma sensação de proteção e tranquilidade aos bebês e [...] as experiências afetivas na primeira infância são determinantes para que a pessoa estabeleça padrões de conduta e formas de lidar com as próprias emoções” (RANIRO e JOLY, 2012, p.10), já que “os pais são os responsáveis pelo incentivo às atividades musicais de seus filhos no dia-a-dia, seja através do canto, da escuta musical passiva e ativa ou, simplesmente, pela criação de ambientes sonoros dentro de casa, durante a rotina da criança” (ILARI, 2002, p. 88). Em um dos seus artigos, Ilari ainda especifica mais detalhes sobre o efeito causado pelos tipos de construções melódicas:

Já os contornos melódicos que apresentam notas sustentadas e depois descendentes estão normalmente associados ao ato de acalmar o bebê, e estão presentes na fala materna (Fernald, 1989) e nas canções de ninar (Chen-Hafteck, 1997). Fica claro, através desses estudos, que os contornos melódicos, presentes tanto em canções infantis quanto na fala, exercem um papel importante na comunicação entre o bebê e seu responsável. (ILARI, 2002, p. 85).

A autora adicionalmente ratifica que “o canto dirigido ao bebê é considerado importante no desenvolvimento infantil, porque influencia na comunicação e interação dos bebês e seus responsáveis.” (ILARI, 2002, p. 87).

Com vinte e duas semanas de gestação, a mãe, o pai ou educador musical já pode iniciar o processo de musicalização durante a gestação. Nesta fase o feto já é capaz de ouvir os sons do corpo da mãe, como os batimentos cardíacos, por exemplo e também consegue ouvir os sons do ambiente externo ao corpo da mãe, como as vozes de outras pessoas.

O ouvido humano se desenvolve por volta do 22º (vigésimo segundo) dia de gestação, mas passa a ter função somente a partir da 25a (vigésima quinta) semana de gravidez (Woodward et al.,1992). Contudo, é a partir da 32a (trigésima segunda) semana de gestação que o feto tem o sistema auditivo completo e escuta relativamente bem, ainda dentro do útero. (ILARI, 2002, p. 84).

Embora esses sons não sejam claros ainda, já é possível perceber os estímulos com melodias e ritmos e, com o passar dos meses, tanto dentro quanto fora da barriga, o bebê passa a identificar cada vez mais movimentos sonoros, criar preferências por sons, por gêneros musicais, por canções, e até mesmo distinguir células rítmicas contrastantes. (ILARI, 2002).

Na vigésima quinta semana o feto é capaz de reconhecer os sons. É importante atentar-se às percepções nessa faatentar-se e, através das atentar-sensações do feto, fazer uma avaliação diagnóstica, observando as reações de acordo com o som utilizado. A mãe é muito importante nesse

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processo, pois é ela quem sente essa mudança de “humor” do feto. Depois da vigésima oitava semana, o feto já é capaz de diferenciar os sons, reconhecer vozes específicas etc. Nessa fase devemos estimular ainda mais, explorando o som de formas diversas.

Podemos registrar todas essas reações e repetir essas mesmas músicas como forma de relaxamento para mãe e para o feto durante o parto. As músicas utilizadas no parto, devem ser aquelas que já foram ouvidas durante a gestação e concluídas que relaxam o bebê, pois ele vai reconhecer esses sons e vai sentir-se mais seguro, uma vez que, ao nascer, ele vai estar adentrando em um novo ambiente repleto de sensações novas até então desconhecidas.

Ao nascer o bebê lembra-se dos sons que ouvira durante a gestação. Há relatos de mães que mencionam que o bebê se acalma com o barulho do secador ou com barulho de água. Isto acontece porque esses sons são muito semelhantes ao som do útero e o bebê inicia a sua escuta e o desenvolvimento de suas percepções musicais ainda no ventre da mãe, os quais vão se fortalecendo até o seu nascimento, e

Após o nascimento, os bebês conseguem localizar a direção de uma fonte sonora, inicialmente, com olhares discretos e, mais tarde, com movimentos corporais, tais como viradas de cabeça. Acalentados com cantigas de ninar, passam a reconhecer os sons do ambiente que os cerca, como os dos brinquedos, dos animais, das vozes dos familiares. Ao mesmo tempo, seus corpos respondem com outros sons, como gargalhadas, choro ou passos em direção ao objeto. Ao imitar as falas ouvidas, a criança dá início à conquista de suas próprias falas e, depois, passa da fala ao canto. Logo que se percebe sentada ou se mantém em pé, o ritmo de uma música a leva a acompanhar com o corpo os movimentos cadenciados (RANIRO e JOLY, 2012, p. 11 e 12).

Além do mais, não é apenas o som do corpo da mãe que o bebê se lembra, mas também das músicas que a mãe ou o pai (ou o educador musical) estimularam durante a gestação e esses momentos ainda fazem parte da sua memória auditiva e pode ser utilizada como uma boa ferramenta no cotidiano do bebê, porque, ao recordar essas músicas, a recorrência desses estímulos pode acalmá-lo. Como a música também ajuda no bom funcionamento fisiológico do organismo desde quando feto, ajuda a diminuir a sensação das cólicas, melhora a qualidade do sono etc. A repetição das mesmas músicas durante a amamentação também é muito importante, porque ajuda a relaxar tanto a mãe quanto o bebê, não apenas aumentando os nutrientes do leite, mas também a nutrição afetiva. Um vínculo extremamente forte é criado e fortalecido durante a amamentação e torna-se um laço marcante para ambos.

Ainda no primeiro mês de vida, apesar de a maioria dos movimentos serem resultados de reflexos, é possível perceber que o bebê reage a estímulos sonoros, acompanhando o som pelo olhar, olhando para a fonte de som. Entre o primeiro e o segundo mês de vida o bebê inicia

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um processo de “imitação da fala” ao abrir e fechar a boca emitindo balbucio como forma de interação com pessoas ao seu redor. Nessa fase é muito importante interagir com o bebê através da conversa, mantendo uma distância próxima para manter um contato visual, pois além do estímulo sonoro, a imitação de expressões e movimentos faciais colabora de forma significativa para o desenvolvimento da fala. Cantar as canções infantis (no ritmo da música) enquanto o bebê está mamando ou dormindo, é uma forma de trabalhar a musicalização de forma efetiva.

Os pais são os responsáveis pelo incentivo às atividades musicais de seus filhos no dia-a-dia, seja através do canto, da escuta musical passiva e ativa ou, simplesmente, pela criação de ambientes sonoros dentro de casa, durante a rotina da criança. (ILARI,2002, p.88).

No terceiro mês as atividades cerebrais do bebê estão bem mais intensas. Percebe-se a diminuição dos movimentos reflexos e o bebê começa a levar tudo à boca, uma forma de testar algumas formas, textura diferentes, novos sabores etc. Ainda nesta fase, o bebê reage a conversas: sua linguagem compreende o choro, o sorriso e vários gestos.

Com o passar do tempo, durante a transição para o quarto mês de vida, a quantidade de sons emitidos aumenta e a boca continua sendo a área de reconhecimento de objetos. O balbucio começa a ser uma forma de imitar o canto. Ao ouvir uma música, o bebê inicia um movimento ainda desordenado e é capaz de perceber o início e o fim de uma música.

Estimular o bebê com materiais sonoros é fundamental para que se inicie um contato musical. Também é importante entoar canções ao mesmo tempo em que se trabalha a movimentação do bebê. Movimentar o bebê batendo palmas, batendo os pés, flexionar as pernas e braços são ótimas formas de trabalhar nesse período, e o educador musical deve estar sempre na altura do olhar da criança, pois caretas e movimentos faciais chamam bastante a atenção e pode contribuir para manter a atenção por mais tempo.

Ao longo do quarto e sexto mês, o bebê consegue identificar o educador musical. Este é um momento certo para iniciar um vínculo entre os dois, tornando o momento musical um momento agradável e aconchegante. Não é recomendada a troca do educador, pois ela prefere pessoas e ambientes que lhe trazem segurança, por isso a troca por outro(a) educador(a) pode inibir a criança e assim trazer um certo prejuízo para a musicalização da mesma. Ilari analisou uma série de pesquisas a respeito do desenvolvimento dos bebês no seu primeiro ano de vida. A partir de seu trabalho pode-se perceber que

Os estudos descritos [...] descrevem o bebê como um ouvinte sofisticado, capaz de discriminar entre propriedades isoladas contrastantes da música tais como altura, contorno melódico, timbre, ritmo e frases musicais. Mais do que isso, durante o primeiro ano de vida os bebês já exibem preferência e memória

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musical de longo prazo. Como exemplo, sabe-se hoje que a partir dos 6 meses de idade os bebês escutam melhor e preferem ouvir sons agudos a sons graves, ainda mais quando os pais cantam para eles. (ILARI, 2002, p. 88).

A partir do sexto mês, o bebê é capaz de sentar apoiada possibilitando novas formas de trabalhar. Chocalhos agora podem ser usados para o acompanhamento de músicas, bem como gritos e outros sons. A criança produz e repete sons com o corpo ou com instrumentos e músicas que fazem parte da sua rotina que a possibilita tranquilidade. No sétimo mês a criança começa a movimentar pernas e braços com uma melhor coordenação, pois nesta fase começa o processo de engatinhar. Nesse mês orienta-se trabalhar o movimento de forma intensificada, visando contribuir com o desenvolvimento da criança.

Ao chegar no oitavo mês, o bebê identifica músicas e associa movimento de canção com o bater as mãos, bater os pés, levantar as mãos, mexer a cabeça etc. A imitação de timbres, durações e intensidades acontece intencionalmente, para que ela aprenda e reconheça alguns instrumentos e outros tipos de sons. Nesse período é importante a realização de atividades que provoquem estímulos motores podendo utilizar canções como “O sapo não lava o pé”, e até mesmo “Parabéns a você” e o educador deve auxiliar nessas atividades. Inserir instrumentos, através do contato também é indicado para esta fase. O teclado ajuda muito na percepção sonora, estimulando cada vez mais o desenvolvimento neural. Gordon (1990-1994), menciona, em uma de suas pesquisas, que algumas crianças podem até aprender a decifrar problemas matemáticos complexos mais cedo do que outros que não tiveram um estímulo musical. O piano é um bom instrumento para começar e a progressão linear das teclas do teclado/piano ajuda a entender o conceito de escala musical.

Do nono mês até um ano, muitas crianças adquirem um aumento significativo no vocabulário através da repetição, conseguindo chamar bastante a atenção dos pais com pequenos balbucios ou até mesmo palavras. Com onze meses, geralmente conseguem dar os primeiros passos com o auxílio dos pais ou apoiado em móveis e chamam mamãe e papai com bastante frequência. As atividades que desenvolvem a coordenação motora continuam auxiliando, porém podem ser usadas atividades que ajudem no desenvolvimento social e afetivo como o canto (considerando os “balbucios de melódicos”), dança, etc Para Mião (2016), a musicalização em bebês estimula a sensibilidade, a capacidade de se expressar, bem como a conquista de habilidades essenciais para o fazer musical, assumindo um caráter lúdico, mediante atividades que permitem aos envolvidos ouvir músicas e timbres diversos, dançar e interagir, explorando variadas fontes sonoras, assim a música também ajuda a fortalecer o vínculo dos pais com seus filhos, pois a criança vai adorar ver os pais dançando ou cantando

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com ela. É bem divertido compartilhar alegria dançando juntos ao som de melodias suaves, ou, ainda mais, pulando com músicas mais enérgicas.

A música é única para os seres humanos e, como as outras artes, é tão básica como a linguagem para a existência e o desenvolvimento humanos. Através da música, as crianças aprendem a conhecer-se a si próprias, aos outros e à vida. E o que é mais importante: através da música, as crianças são mais capazes de desenvolver e sustentar a sua imaginação e criatividade ousada. Dado que não se passa um dia sem que, duma forma ou de outra, as crianças não ouçam ou participem em música, é lhes vantajoso que a compreendam. Apenas então poderão aprender a apreciar, ouvir e participar na música que acham ser boa, e é através dessa percepção que a vida ganha mais sentido. (GORDON, 2008, p. 6).

Depois do primeiro ano acontecem muitos aspectos de transformação nas estruturas cognitivas, motoras e de linguagem da criança. A expressão oral se intensifica e, apesar de usar palavras desconectas, a oralidade já é seu principal meio de comunicação. Imitam animais, automóveis, pessoas e objetos sonoros da sua rotina sem muita dificuldade, também conseguem diferenciar som e silêncio e reconhecem sons já ouvidos anteriormente, simpatizando com alguns e não com outros. A música, nesta fase, é vivenciada por gestos e socialização, sendo fundamental a participação dos pais e do educador nas atividades propostas:

E, de acordo com educadores musicais, o contato com a música, além de desencadear reações motoras e vocais nos bebês, provoca mudanças na sua ação, incentivando-o a descobertas sonoro-musicais próprias, em manifestação de aprendizagem. (SOARES, 2008, p.82).

Essas fases podem variar de bebê para bebê, pois cada criança tem seu próprio desenvolvimento, algumas crianças desenvolvi algo mais rápido do que outras ou tem uma certa dificuldade em algum momento, seja na coordenação ou na fala, mas isso é normal, pois cada bebê tem seu tempo de aprendizado, o importante é não apressar as coisas e dar tempo a criança, para ela se conhecer e conhecer o mundo.

2.2 DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE BEBÊS E MÚSICA: O ESTADO DA ARTE

A música é a sucessão de sons e silêncio organizados ao longo do tempo. O ritmo, a melodia, e a harmonia, elementos constituintes da música, são capazes de afetar o ser humano, de forma física e psicológica. Através de tais elementos o receptor da música responde tanto afetiva quanto corporalmente. (FERREIRA, 2005). A música nos remete ao primeiro e mais importante som da vida: as batidas do coração de nossa mãe. O som uterino está gravado no

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inconsciente e em um contexto saudável simboliza proteção, aconchego e tranquilidade, com isso Ilari traz que:

Logo após o nascimento, o cérebro do bebê passa por um crescimento fantástico […]. O cérebro do bebê é faminto de novas experiências que o transformarão em redes neurais para a linguagem, o raciocínio lógico, o pensamento racional, a resolução de problemas e os valores morais. Essas redes neurais já estão sendo formadas antes mesmo de o bebê completar um ano de idade. São elas que permitem a associação de ideias e o desenvolvimento de pensamentos abstratos, que constituem as bases da inteligência, imaginação e criatividade. Contudo, essas redes podem ser destruídas quando as experiências na infância são destituídas de estimulação mental ou sobrecarregadas de estresse (ILARI, 2003, p.8).

Assim, faço discorro resumidamente três artigos da Revista da ABEM dos últimos 20 anos, que achei fundamentais para esse trabalho, uma resenha de cada para melhor traduzi-los. O primeiro é “Bebês também entendem de música: a percepção e a cognição musical no primeiro ano de vida” da autora Beatriz Ilari (2002). A autora expõe a utilização de músicas para bebês com os principais objetivos de obter efeitos curativos e sedativos, e também apresenta a principal característica das canções de ninar ou brincar.

O artigo tem como objetivo a reunião e revisão da literatura existente, dando destaque à percepção e à cognição musical durante o primeiro ano de vida. Dividido em três partes, o artigo descreve os resultados das pesquisas da psicologia experimental na área do desenvolvimento musical infantil. A primeira parte do artigo fala sobre o ambiente sonoro pré-natal e o aprendizado musical que se inicia no terceiro trimestre da gravidez, quando o ouvido do feto começa a funcionar. A segunda parte do artigo descreve várias experiências sobre a percepção e a cognição musical dos bebês, realizadas com bebês de quatro a onze meses. As práticas musicais utilizadas como estímulo foram variações de altura, contorno melódico, timbre, ritmo, frases musicais e escalas. A autora traz estudos recentes sobre a memória de longo prazo dos bebês. E a última parte do artigo destaca o uso cotidiano da música com bebês, incluindo-se aí o uso da música em contextos terapêuticos e educativos.

A autora destaca no artigo a importância de notar que para os bebês “mais do que notas isoladas, o contorno melódico apresenta ser vital na percepção musical”, e que o contorno melódico traz informações importantes, como o sobe-e-desce característico da fala da mãe que chama a atenção do bebê ou a nota suspensa que depois descende usada para acalmar o bebê. Ilari (2002) ressalta também que os bebês por não terem sido influenciados pela cultura, são objeto de pesquisas sobre a influência da cultura sobre o humano, que já pode ser detectada (influências) a partir de um ano de vida. Para estas pesquisas foi utilizada a percepção das

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chamadas escalas exóticas. Pesquisas essas que apontam a preferência dos bebês por acordes simples, ou seja, acordes consonantes, o que aponta para as músicas utilizadas ao trabalhar com bebês que já têm esta característica.

A autora traz que sem dúvidas o timbre preferido dos bebês é o da voz de sua mãe, pois é a voz que ele ouve com mais frequência, até antes do nascimento. Há poucos estudos que se saiba sobre a percepção do bebê com relação à diferenciação dos sons dos instrumentos musicais. No artigo, menciona os bebês como sensíveis a frases musicais, manifestam-se quando são interrompidas ou invertidas. Até antes de completarem um ano, os bebês conseguem distinguir células rítmicas contrastantes, além de demonstrarem agrupar elementos semelhantes.

As pesquisas mostram (ainda há poucas pesquisas na área, pois existe um excesso de dificuldades encontrada por muitos, relata a autora no artigo) que bebês têm memória musical entre dois e três meses, sendo esta atingida quando executada a mesma gravação. Há indícios de que a memória musical de longo prazo do bebê pode depender da complexidade da obra musical. Com isso, o repertório e a forma de cantar se aproximam muito do que as pesquisas apontam como ideal, de como tocar o bebê através da música. Por ser considerado importante ao desenvolvimento, os pais esforçam-se em dar grande expressão às canções cantadas, qualquer que seja o estilo escolhido.

A autora menciona no artigo que a música tem sido usada com sucesso no apoio ao tratamento de bebês prematuros, ajudando em diversos pontos, como redução de dias de internação, estabilização da respiração, redução da perda de peso e também no alívio das cólicas infantis. Nisso a autora traz o educador como maior incentivador ao canto dos pais para seu bebê, sendo que “os programas educacionais dirigidos aos bebês devem ser vistos por ambos: o bebê e os pais”. No entanto, o ensino deve considerar o preparo dos pais para que cantem com frequência para seus bebês, possibilitando a expansão de seu repertório e o educador deve estar preparado para receber também repertório eclético trazido pelos pais.

Nos últimos anos houve um aumento significativo no número de pesquisas relacionadas com a percepção auditiva dos bebês. A principal conclusão destas pesquisas é que os bebês não são ouvintes passivos, eles têm grande receptividade aos sons e devem ser alimentados com músicas simples interpretadas com expressividade. Sabemos que os bebês estão atentos à música que escutam bem mais do que todos nós julgávamos ser possível.

O segundo artigo é da autora Anna Rita Addessi (2012) que fala da Interação vocal entre bebês e pais durante a rotina da “troca de fraldas”, com um intuito de mostrar um trabalho de interação entres os pais por meio da musicalização na troca de fralda que durou duas semanas

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seguidas, mostrando a metodologia de pesquisa-ação, que tem sido realizado na Universidade de Bolonha (Itália), abordando as rotinas diárias entres pais e bebê no ambiente familiar (casa) e na creche, durante as trocas de fraldas, alimentação, jogo livre e na hora de dormir. Estudos com base na psicologia social e cultural têm mostrado a relevância dos aspectos sociais, motores, linguísticos e emocionais das rotinas do cotidiano infantil. No entanto, um relato sistemático e detalhado sobre os aspectos musicais das rotinas é muitas vezes inexistente, mesmo quando as referências às vocalizações das crianças são consideradas. Durante as rotinas, há variações no processo que nascem das interações entre os participantes e ocorrem em uma tentativa de conseguir uma adaptação recíproca de ações e intenções. As crianças são sensíveis aos diversos ritmos dos adultos que cuidam delas, e tentam adaptar-se a elas. Através das rotinas diárias, o adulto e a criança podem compartilhar experiências precoces e duradouras do ritmo e do mecanismo de repetição/variação. A voz da mãe, com suas repetições, representa uma espécie de “espelho sonoro” para a criança, o que reforça o seu “eu” musical. Anzieu (1996) chama esse tipo de experiência infantil de “invólucro musical do self”.

A autora traz que o cuidar da criança é um dos momentos mais importantes da relação entre pais e filhos. A natureza ritual ao “trocar a fralda” é realizada com a segurança oferecida pelo cuidado dos pais e com a orientação no desenvolvimento do conceito de temporalidade pela criança. Trocar a fralda representa uma excelente ocasião para observar adulto e criança num processo de interação vocal face a face.

A observação foi um ponto chave da pesquisa e foi realizada em ambientes naturais, ou seja, no ambiente familiar (casa) e na creche, durante os processos de troca de fraldas, com crianças entre 36 e 39 e semanas de idade. As observações foram feitas em duas semanas consecutivas. A fim de observar as variáveis, uma tabela foi elaborada para análise. Os dados foram registrados por diversos observadores independentes, assistindo aos vídeos.

A observação foi realizada no ambiente familiar, durante os momentos de troca de fraldas, que era realizada pela mãe (31 anos) e pelo pai (32 anos) com seu bebê (um menino de 9 meses de idade). Uma câmera de vídeo fixa foi posicionada em frente à mesa da troca do bebê, localizada no banheiro da família, a câmera foi posicionada da melhor forma para registrar o maior número de movimentos possíveis.

A autora observa a interação das díades vocais (pai-filho, mãe-filho). Foi elaborada uma tabela para melhor analisar os dados qualitativos e quantitativos. A voz, canto e vocalização foram as atividades vocais que foram analisadas. A duração e a frequência com que os pais estimularam com o bebê também foram medidas. Houve alternação de turnos entre os pais e a presença de imitação/variação. O artigo traz um momento de reflexão sobre o pai e o filho

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chegarem a uma sintonia passo a passo, após dia a dia de uma rotina, que os permitiu aprender e antecipar gestos vocais e regular ações em relação às expectativas.

• Três tipos de atividade vocal: fala, canto, vocalização;

• A alternação de turnos (alternação da vez no momento de falar/vocalizar); • O fenômeno de imitação/variação.

Podemos ver que nas Figuras 1-4 houve uma alta percentagem de interação vocal em ambas as díades. No entanto, deve-se notar que na sessão com a mãe, a criança parecia ser mais vocalmente passiva. Em síntese, observa-se que:

• A frequência e a duração de vocalizações da criança são maiores durante a interação com o pai (Figuras 1 e 2 – coluna preta) do que com a mãe (Figuras 1 e 2 – coluna cinza);

• A frequência e a duração das produções vocais da mãe são superiores às do pai; • A mãe canta e vocaliza mais do que o pai;

• O pai fala mais do que a mãe;

• O pai imita a criança mais do que a mãe (Figura 3);

• A alternação de turnos é maior na díade pai-filho (Figura 4).

Figura 1: Frequência das produções vocais Autor: Adessi (2012)

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Figura 2: Duração das produções vocais Autor: Adessi (2012)

Figura 3: Imitação/variação Autor: Adessi (2012)

Figura 4: Alternação de turnos Autor: Adessi (2012)

O aumento da passividade vocal do bebê, que foi observado na díade mãe-filho, poderia ter sido causado por uma maior presença de produções vocais do adulto, pela pouca alternação

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de turnos, por menos imitação por parte do adulto e pelas intervenções do adulto interrompendo as vocalizações da criança durante a alternação de turnos.

As trocas vocais com o pai foram mais fluidas temporalmente. As vocalizações foram distribuídas uniformemente ao longo do tempo e tiveram maior variedade melódica e rítmica. No caso da mãe, há um maior número de vocalizações culturalmente codificadas e repetitivas e esses elementos levam a uma maior fluidez, riqueza timbrística e presença de sintonia observadas na díade pai-filho.

No artigo destaca que as vocalizações mais repetitivas com ritmos culturalmente codificados e afinação parecem estimular menos a criança do que os jogos vocais, que entram em sintonia com a criança numa improvisação livre de estilo vocal. Duas interações musicais foram as diferentes intencionalidades dos adultos: a intenção do pai era jogar (nomeadamente o prazer do jogo musical) enquanto a intenção da mãe era funcional (nomeadamente com o objetivo de mudar a fralda e ensinar canções e palavras).

Houve uma sincronia entre pai e criança que parecia ter atingido o máximo e incluiu episódios frequentes de sintonia afetiva, durante os quais as vocalizações foram expressas em conjunto, apresentando antecipação notável e sincronia. O artigo mostrou que aconteceu um aumento da atividade vocal do bebê por meio do estímulo das mudanças de turnos no diálogo, na maior imitação dos pais nas vocalizações do bebê e pela riqueza da qualidade vocal e intencionalidade dos pais. A autora destaca que houve algumas diferenças entre as trocas de fralda em casa e na creche. Os educadores parecem ter ambas as características observadas com os pais, isto é, a intenção de brincar com a criança, mas também de ensinar a ele/ela algumas palavras ou músicas. Durante o processo de interação vocal com os pais, o bebê aprendeu a compartilhar suas emoções, sons e ao mesmo tempo controlá-los.

O artigo traz um o ponto de vista pedagógico de que esses resultados sugerem que, a fim de melhorar a atividade vocal da criança, os adultos/educadores não devem vocalizar muito, mas, sim, encontrar um equilíbrio com as vocalizações da criança, imitando a criança, respeitando as alternações de turnos e seguindo as nuances da voz da criança, dando preferência ao prazer de interação musical e o fazer musical. Nesse artigo a pesquisa mostra que as rotinas podem atuar como estruturas cognitivas e afetivas para ampliar a experiência musical das crianças pequenas. A autora descreve no estudo que

Embora as rotinas não sejam consideradas momentos de interação sonora, composta por jogos vocais, este trabalho mostra como, na realidade, elas são momentos ricos de estímulos vocais e como é importante saber aproveitar as oportunidades para oferecer experiências adequadas para as crianças (ADDESSI. 2012. p.28).

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O último texto chave para embasar este trabalho foi o artigo de Cíntia Vieira Soares (2008) intitulado “Música na creche: possibilidades de musicalização de bebês”. O artigo construiu algumas experiências significativas de musicalização com bebês na instituição particular Escola Música e Bebê. Daí surgiu a pergunta: como seria a interação do bebê em creche pública? Esse artigo surgiu de uma pesquisa de mestrado sobre o trabalho musical com bebês. Pesquisas que concluem que vivências musicais com a criança dão a ela satisfação, alegria e potencializam o desenvolvimento físico, motor, afetivo, social e cognitivo. A autora destaca a influência positivista da música, para o desenvolvimento do ser humano, e ainda reforça o quanto é mais impactante para os bebês do que para os outros estágios. É importante criar condições de percepção, criação e expressão musical para o bebê respeitando sua forma de interação musical. Isso é fundamental no trabalho de musicalização infantil. No artigo a autora fala que os bebês têm intimidade com a música. Eles balançam seu corpo, balbuciam, ficam hipnotizados com os sons agudos, reagem com alegria e curiosidade, exploram instrumentos etc. E os pais que acompanham seus bebês nas atividades de musicalização relatam que “[...] a música influencia significativamente os bebês e os beneficia em seu desenvolvimento cognitivo, motor, afetivo e social.” (SOARES, 2008, p. 80)

O artigo acrescenta que o bebê cultiva o ambiente sonoro desde quando feto e ouve sons interiores e exteriores. No sexto mês de gestação o bebê ouve comparavelmente como o adulto. O bebê reage como ouvinte potencial aos sons, consegue lembrar-se dos sons percebidos quando era feto e demonstra preferências musicais por esses mesmos sons, porque os bebês têm preferência musical. Bebês de pais músicos se revelam depois como potencialidades musicais pois desde muito cedo estão imersos em um ambiente musical, porque, para um bebê, a música se torna um elo afetivo muito forte com os pais. Depois de nascidos, os bebês reagem com movimentos corporais e com produção sonora aos sons que ouvem. Então os bebês ouvem, discriminam sons e preferem a voz humana, principalmente a voz da mãe.

A autora traz que a voz humana exerce importante influência na vida do bebê através do “mamanês”, da canção de ninar etc. Mamanês são “... as modificações adaptativas da fala que os adultos utilizam para se dirigem aos bebês. Por meio [...] [deles] os bebês captam ritmo, modulações melódicas, intensidade [etc.] ...” (SOARES, 2008, p. 81)

A canção de ninar tem a sua importância por estar repleta de elementos musicais, para acalmar os bebês e por estabelecer uma interação forte entre mãe e filho. As primeiras produções sonoras dos bebês de comunicação com o mundo são: gritos, choros, balbucios entre outros. O bebê manifesta o seu estado de humor pelos proto-ritmos, que são os elementos sonoros diferentes que antecedem a fala, formados por balbucios, grunhidos etc. Eles dão forma

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ao ritmo primário do bebê e base para o surgimento da palavra. Balbucios e explorações vocais constituem a primeira etapa evolutiva da linguagem dos bebês e servem de base para a aprendizagem musical. Os balbucios ainda podem ser musicais e não musicais e manifestam-se nessa mesma ordem. O musical aparece entre o manifestam-segundo e oitavo mês e antecede a fala, mas geralmente é uma resposta a uma música que o bebê ouve. Formado por poucas sílabas, ritmo simples e pausas para respirar.

A exploração sonora do bebê, através dos balbucios musicais, depende do contexto sonoro-musical em que está inserido. Os bebês respondem de variadas maneiras aos estímulos musicais: acompanham o som com os olhos, balançam o corpo etc. Bebês de alguns meses de idade podem identificar variações em melodias conhecidas, o bebê, ouve, percebe, reage, identifica e associa em contato com a música e por isso que um bebê imerso em um ambiente sonoro, através de sua ação, revela suas capacidades e possibilidades de aprendizagem. Através da aquisição dessas informações, surgiram os programas de vivências musicais para bebês, com o objetivo de ampliar o contato musical do bebê, a fim de aprofundar elementos específicos da música.

Para Soares (2008) os bebês poderiam vivenciar a música de forma lúdica e prazerosa, por meio de cantigas de roda, músicas instrumentais, folclóricas, populares, de variadas culturas e estilos, e ainda pela dança ou apenas pela apreciação auditiva. Buscando melhor analisar sistematicamente possíveis contribuições com o desenvolvimento pleno do bebê.

A autora relata experiências de sua vivência na instituição privada somadas a pesquisas realizadas por outros autores. Então ela se faz a pergunta de como se dariam esses eventos no âmbito das creches públicas. Sua resposta compreende o contexto atual dessas instituições, seus percursos e conquistas legais.

A autora destaca que, no início, a creche era para crianças pobres. Tinha uma característica assistencialista. Essas crianças eram tidas como carentes, deficientes, mas com a constituição de 1988 as creches assumem uma nova reputação, tornando-se dever do estado e direito da criança. A LDB da Educação Nacional de 1996 estabelece educação infantil a faixa etária entre 0 e 6 anos, oferecida em creches (0-3 anos) e pré-escolas (3-6 anos). Determina também municipalizar a educação infantil e garante caráter pedagógico e especificidade do trabalho adaptados às crianças menores.

Em 1998 o CNE aprova os Referenciais Curriculares Nacional para a Educação Infantil, com bases foram lançadas, cabe aos professores da educação infantil alcançar a qualidade. Isso consiste numa proposta educacional que respeite a criança como criança e principalmente em tornar real o que os documentos oficializam. Mas, as instituições apresentam diversas

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dificuldades para colocar a linguagem musical no contexto educativo, fazendo essa inclusão restrita apenas às datas comemorativas, à formação de hábitos e à memorização de conteúdo. Dessa forma, há uma fragmentação no trabalho e a criança é privada da construção musical. Na prática as atividades musicais em instituições públicas não acontecem e acabam sendo privilégio das instituições particulares e só conseguem acesso através de projetos de extensão de universidades que levam o fazer musical e suas vivências para a comunidade externa. Apesar do não cumprimento prático e social das referências para a educação infantil – música, vive-se um tempo de retomada de discussões sobre o assunto e até efetivações de leis que garantem inclusão social de crianças no direito à educação musical.

A autora faz uma abordagem qualitativa em sua investigação e participa com muita observação das atividades musicais que propõem ao grupo observado, com a sua participação efetiva na realização das atividades bem como no processo de obtenção das informações, observando de forma participativa o percurso da pesquisa. Em se tratando de bebês, a observação é ainda mais específica. O instrumento de observação é a filmagem em vídeo. Por meio dessas filmagens das atividades, a autora obteve uma visão geral de todo o processo musical do qual participaram as crianças e professoras, analisou de perto os movimentos do bebê nesse contexto musical, como também as possibilidades e dificuldades de realização das vivências musicais em uma instituição como o CMEI.

A autora organizou as gravações das pesquisas da seguinte forma: primeiro fizeram a digitalização com a reprodução das fitas de vídeo em DVD (todos os encontros com os bebês foram registrados, dez fitas foram gravadas, cada uma com 1h30 de filmagem e um total aproximado de 15h de registro), buscando melhor qualidade e durabilidade do material. Em seguida, analisaram todos os DVDs por diversas vezes, analisando primeiro visualmente, depois com registros escritos.

“Vivenciar música com bebês significa [...] possibilitar, de forma lúdica, o seu contato com a música por meio do canto, da dança, tocando instrumentos e até mesmo ouvindo-a.” (SOARES, 2008, p. 85) De início os bebês foram reunidos por idade aproximada e separados em locais específicos, cada subgrupo com 7 bebês no máximo, em seguida, todos foram reorganizados em dois grandes grupos de 17 bebês. As atividades foram realizadas de manhã, no entanto houve dificuldades com a sonolência e choros das crianças por sentirem a falta da mãe ou por terem que acordar cedo para ir à instituição. Depois as atividades foram transferidas para a tarde e aí melhorou. Em todos os encontros realizaram-se atividades especificamente musicais de forma lúdica: brincadeiras musicais, canto, dança, exploração de instrumentos e apreciação musical.

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Os materiais utilizados foram apropriados à idade dos bebês: bolas coloridas, brinquedos sonoros, fantoches, chocalhos, guizos, tambores, pandeiros etc. Assim os bebês manuseavam, sugavam, jogavam no chão etc. Todas essas ações constituem-se importantes para o desenvolvimento deles.

O repertório utilizado inclui diversos estilos musicais, principalmente a música popular brasileira e a música do cotidiano escolar dos bebês. O repertório objetivou o contato com diferentes culturas musicais, ritmos variados e diferentes sonoridades. A autora destaca que a metodologia constituiu-se de um momento de cumprimento, músicas cantadas, danças, exploração dos instrumentos musicais e apreciação musical. Quanto às professoras e agentes educativas, no começo mostraram-se receosas e distantes, mas depois mostraram interesse nas atividades realizadas.

Soares (2008) descreve que os bebês inicialmente mostraram-se muito curiosos em relação aos sons e só depois de um certo tempo ficaram mais ativos nas atividades musicais e então balançaram mais o corpo bem como exploraram, manipularam e descobriram sons, sempre brincando. As brincadeiras musicais propiciaram as descobertas motoras e de movimentos, assim os bebês mostraram-se concentrados nas atividades de apreciação musical e exploração de instrumentos musicais. Nas atividades os bebês demonstraram alegria e prazer, tendo ações criativas e inovadoras. A relação entre os bebês e a pesquisadora aumentou gradualmente e no final os bebês demonstravam confiança e afeto por ela.

O espaço físico foi adaptado à realização das atividades musicais, visto que não se tinha um espaço apropriado. A diferença entre as atividades realizadas na instituição particular e no espaço público é que no privado as crianças estavam acompanhadas de seus pais, enquanto no público estavam acompanhadas pelas agentes educativas. Isso dificultou a realização de algumas atividades devido a impossibilidade de haver uma agente por bebê. Mas, apesar da ausência dos pais nas aulas de musicalização infantil, verificou-se que é possível a realização de atividades musicais com os bebês. Com isso considera-se que a atividade musical com bebês contribui para o seu desenvolvimento bem como para a aproximação com culturas musicais diferentes tornando-se mais sensível à arte musical.

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3. MUSICALIZANDO DA GESTAÇÃO AO PRIMEIRO ANO: O RELATO PARA ÉDGAR BENJAMIN

3.1 A GESTAÇÃO

A descoberta da gestação foi um choque para o pai e para mim, pois não foi uma gestação planejada. Estando no final do Curso de Licenciatura em música, a gravidez seria uma mudança muito grande no nosso cotidiano (tanto o pai quanto eu somos do mesmo curso). Apesar da surpresa, a chegada de um bebê foi muito bem-vinda na nossa família. Ficamos muito felizes e esperançosos com a sua chegada. Primeiro neto da avó materna e sétimo neto da avó paterna, recebeu muita atenção de todos. O cuidado dos exames cansativos e os cuidados que vêm com a gestação, fez com que ele fosse esperado ansiosamente mais a cada dia, tanto por mim quanto pelo pai.

Não havia um dia que o pai e eu não conversássemos com ele, desde o primeiro mês de gestação. Mesmo sabendo que o feto não estava ouvindo, insistimos em falar com ele para que sentisse que tinha algo o esperando. Ilari (2002) destaca que,

[...] o feto tem o sistema auditivo completo e escuta relativamente bem, ainda dentro do útero. Através de experimentos realizados usando métodos como a inserção de microfones minúsculos no útero de gestantes em trabalho de parto ou logo após o parto, muitas informações importantes sobre o ambiente acústico-sonoro do útero humano foram obtidas (para exemplos consulte Lecanuet, 1996) (ILARI, 2002, p. 84).

Todos os dias eu fazia massagem com hidratante na barriga, pois já era uma preparação para pele que iria esticar com a gestação, e nessa rotina eu conversava bastante, pois,

A voz materna constitui, indubitavelmente, a ‘massa sonora’ sobre a qual se vai moldar a linguagem. A mãe exprime o seu vivido, os seus sentimentos e, em particular, o seu amor materno através de um material acústico bem específico percebido de uma forma singular pelo feto (TOMATIS, 1987, p. 157).

Eu perguntava como era lá dentro, se era apertado ou se tinha espaço para ele nadar, mesmo sabendo que ele não ouvia. Mas, eu já queria realizar esse estímulo. Fazia perguntas que aparentemente não são importantes para outras pessoas, mas que para mim era um momento especial. Eu parava para ver como meu corpo e minha mente mudavam com o decorrer dos meses.

Desde o nascimento, a criança tem necessidade de desenvolver o senso de ritmo, pois o mundo que a rodeia, expressa uma profusão de ritmos evidenciados por diversos aspectos. (FERREIRA et al, 2007) No quarto mês da gestação descobrimos o sexo do feto e a partir daí,

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começamos a chamar ele pelo nome, Édgar. Sempre bem agitado, fizemos três ultrassonografias para descobrir o sexo. A partir do quarto mês da gestação, intencionalmente começamos a inserir músicas que a gente escutava no nosso cotidiano. O momento da massagem na maioria das vezes era quando íamos dormir. Era um momento bem especial, pois o pai e eu ficávamos conversando com ele e colocávamos a música no celular perto da barriga, uma música ambiente e bem calma, enquanto conversávamos sobre o nosso dia a dia ou sobre a música que estava tocando, se era um violino que se destacava ao tocar ou um violoncelo. O que era mais comum nesse momento era o violão e o piano. As músicas mais comuns que nós colocávamos eram a peça Lágrimas de Francisco Tarrega no violão e Sparrow - piano interpretado por Miika Met Tiainen.

[...] na aculturação, crianças pequenas são expostas à música de sua cultura, e assim elas são capazes de basear os sons de seu balbucio musical e seus movimentos nos sons musicais que elas escutam em seu ambiente. Quanto mais variada a música que as crianças ouvem, isto é, quanto mais rico seu ambiente musical é em tonalidades, harmonias, e métricas, e quanto mais elas são encorajadas a interagirem com o que elas ouvem através da orientação musical informal, mais elas irão se beneficiar (GORDON, 2003, p.43). Os estudos de Barreto e Silva (2004) vêm ao encontro de nossos anseios, no sentido de mostrarem que a música ajuda a equilibrar as energias, desenvolve a criatividade, a memória, a concentração, autodisciplina, socialização, além de contribuir para a higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos. A musicalização nos traz conhecimento variado e tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, desenvolvendo a sensibilidade, a criatividade, o senso rítmico, o prazer de ouvir música, a imaginação, a memória, a concentração, atenção, motivando a autodisciplina, o respeito ao próximo, a socialização e a afetividade e contribuindo também para uma efetiva consciência corporal e de movimento (BRÉSCIA, 2003). Havia noites que eu fazia a musicalização sozinha e percebia diferenças, pois Édgar ficava bem agitado entre chutes brincalhões que me lembravam que eu não estava mais sozinha, tornando-me consciente do meu poder interior. Ele tinha uma relação com o pai que eu não conseguia explicar. Algumas noites eu não conseguia dormir, porque ele mexia muito. Eu conversava com ele, pedia para que ficasse mais quieto, afinal eu precisava dormir. Mas, ele só parava quando o pai conversava com ele, ou somente depois que ele colocasse a mão na barriga. Acredito que ele sentia que era a mão do pai e não a minha. A gente mudava com frequência os gêneros musicais, inclusive aqueles que eu particularmente não gostava, pois eu queria que ele tivesse uma sensação diferente.

A partir do quinto mês de gestação o cantar foi ficando cada vez mais complicado, minha respiração foi ficando cada vez mais apertada e o repertório por mais simples que fosse ficava

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bem difícil. Na hora que eu cantava, ele mexia muito e chutava minhas costelas. Quando chegou no oitavo mês, eu não conseguia mais cantar e, mesmo assim, cantei no Madrigal (coral da UFRN) até completar oito meses de gestação. Após esse período, participei como ouvinte.

Se um feto de 8 meses está em posição cefálica, de cabeça para baixo, ele receberá o som através da condução óssea, pois sua cabeça está apoiada diretamente sobre os ossos da pelve de sua mãe. E se o bebê está em posição podálica, sua cabeça estará mais perto da placenta e do coração materno (FEDERICO, 2013, p.105).

A música está presente em todas as culturas e pode ser utilizada como fator determinante nos desenvolvimentos motor, linguístico e afetivo de todo ser vivo. (MARTINS, 2004). Durante a gestação me matriculei em uma disciplina chamada Seminário em Educação Musical Infantil, com a professora Carolina Gomes, que me fez refletir mais sobre a forma que estava musicalizando o nosso bebê e fui adquirindo mais conhecimento sobre ele.

Figura 5: Apresentação do trabalho de musicalização com gestantes Fonte: Karina Alves (2019)

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Figura 6: Registro de uma parte da turma de Seminário em Educação Musical Infantil. Fonte: Karina Alves (2019)

Em uma atividade que planejamos, mostrei minha forma de musicalização para toda a turma, sentei em uma cadeira e coloquei uma música que particularmente gosto muito e que pertencia à lista das músicas do momento da massagem. Todos acharam muito interessante a forma que ele se mexia na barriga ao ouvir a música no momento em que eu coloquei o aparelho bem perto da barriga. Com tudo isso é necessário observar qual o tipo de contribuição que ocorre com o trabalho de musicalização para bebês, como pode acontecer isso e as influências que pode proporcionar na formação e no desenvolvimento futuro dos seres humanos (MARTINS, 2004).

Até o nascimento continuamos com os estímulos sonoros via celular, por meio das massagens e conversas noturnas/diurnas.

3.2 PRIMEIRO ANO DE VIDA

Então o amado Édgar nasceu no dia 26 de dezembro de 2019, às 23h20, pesando 3,396 quilogramas e 49 centímetros de comprimento. Entrei em trabalho de parto pela manhã, mas tive falta de passagem para o parto normal, então dei à luz por meio de uma cesariana. Foi o dia mais lindo de nossas vidas. Passamos três dias na maternidade e depois retornamos para casa.

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Figura 7: Nascimento do Édgar

Fonte: desconhecida (enfermeira) (2019)

Édgar ao nascer era um menino bem calmo, só chorava para comer ou para ser trocado. Só se agitava um pouco na hora do banho, mas só por alguns instantes e depois relaxava com a shantala que a mamãe e a vovó (materna) faziam enquanto ele estava na água.

Figura 8: Vovó (materna) fazendo shantala Autora: Karina Alves (2020)

Referências

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