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Propriedades vibracionais de cristais de DLleucina e Lprolina monohidratada submetidos a altas pressões

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR ´A CENTRO DE CI ˆENCIAS

DEPARTAMENTO DE F´ISICA

PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA

BRUNO TAVARES DE OLIVEIRA ABAGARO

PROPRIEDADES VIBRACIONAIS DE CRISTAIS DE

DL-LEUCINA E L-PROLINA MONOHIDRATADA

SUBMETIDOS A ALTAS PRESS ˜

OES

(2)

BRUNO TAVARES DE OLIVEIRA ABAGARO

PROPRIEDADES VIBRACIONAIS DE

CRISTAIS DE DL-LEUCINA E L-PROLINA

MONOHIDRATADA SUBMETIDOS A ALTAS

PRESS ˜

OES

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de P´os-graduac¸˜ao em F´ısica da Universidade Fe-deral do Cear´a como requisito parcial para a obtenc¸˜ao do T´ıtulo de Doutor em F´ısica. ´Area de Concentrac¸˜ao: F´ısica da Mat´eria Conden-sada.

Orientador:

Prof. Dr. Paulo de Tarso Cavalcante Freire

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR ´A CENTRO DE CI ˆENCIAS

DEPARTAMENTO DE F´ISICA

PROGRAMA DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA

Fortaleza-CE

(3)

BRUNO TAVARES DE OLIVEIRA ABAGARO

PROPRIEDADES VIBRACIONAIS DE

CRISTAIS DE DL-LEUCINA E L-PROLINA

MONOHIDRATADA SUBMETIDOS A ALTAS

PRESS ˜

OES

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de P´os-graduac¸˜ao em F´ısica da Universidade Federal do Cear´a como requisito parcial para a obtenc¸˜ao do T´ıtulo de Dou-tor em F´ısica. ´Area de Concentrac¸˜ao: F´ısica da Mat´eria Condensada.

Aprovada em Julho/2012

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Paulo de Tarso Cavalcante Freire (Orientador) Universidade Federal do Cear´a (UFC)

Prof. Dr. Jos´e Alves de Lima J´unior Universidade Federal do Cear´a (UFC)

Prof. Dr. Josu´e Mendes Filho Universidade Federal do Cear´a (UFC)

Prof. Dr. Paulo S´ergio Pizani

Universidade Federal de S˜ao Carlos (UFSCAR)

(4)
(5)

Agradecimentos

Ao prof. Dr. Paulo de Tarso Cavalcante Freire pela orientac¸˜ao deste trabalho. Sem a sua paciˆencia, humildade, simplicidade e dedicac¸˜ao, este trabalho jamais seria poss´ıvel.

Ao prof. Dr Josu´e Mendes Filho pela sua dedicac¸˜ao ao departamento de F´ısica, lideranc¸a e vis˜ao em transformar o grupo de espalhamento Raman em referˆencia n˜ao s´o no Brasil, mas no mundo.

Ao prof. Dr. Paulo S´ergio Pizani e ao prof. Dr. Pedro de Freitas Fac¸anha Filho que se dispuseram prontamente em participar desta banca.

Ao prof. Dr. Antˆonio Gomes de Souza Filho, coordenador do curso de p´os-graduac¸˜ao. Ao prof. Dr. Jos´e Alves de Lima J´unior pela ajuda e sugest˜oes que contribuiram para direcionar este trabalho.

Ao prof. Dr. Jorge Luiz Brito de Faria por ter ajudado indiretamente o presente trabalho. A todos os professores e pesquisadores do grupo de espalhamento Raman desta Universi-dade.

Ao prof. Dr. Jo˜ao Herm´ınio da Silva e prof. Dr. Alexandre Magno Rodrigues Teixeira e prof. Francisco Eduardo de Sousa Filho pela considerac¸˜ao.

Ao t´ecnico Edipo Oliveira do laborat´orio de difrac¸˜ao de Raios-X pelos difratogramas utili-zados neste trabalho.

Ao prof. Dr. Alan Silva de Menezes pela ajuda com a identificac¸˜ao dos difratogramas. A todos os professores que contribu´ıram para minha formac¸˜ao.

A todos os meu familiares, em especial a minha m˜ae, Mirtis e minha tia N´ubia, pela formac¸˜ao e incentivo constante.

A todos os amigos e colegas que conheci durante os anos em que permaneci neste Departa-mento, desde a graduac¸˜ao at´e o doutorado e tamb´em aos amigos que conheci fora do ambiente acadˆemico.

Agradecimentos especiais aos amigos: Mairton Cavalcante Romeu, Aristeu Lima, Alan Silva de Menezes, Victor Hugo Bezerra, Jos´e Gla´ucio, Jos´e Silva, Acr´ısio Lins e Ricardo Oli-veira.

Aos funcion´arios da biblioteca setorial da F´ısica e os demais funcion´arios do Departamento de F´ısica.

`

As secret´arias da p´os-graduac¸˜ao, Rejane e Ana Cleide pela ajuda na burocracia exigida nos ´ultimos dias desta tese.

(6)

Resumo

Neste trabalho, estudou-se a estabilidade de dois tipos de cristais de amino´acidos: um cris-tal racˆemico; DL-leucina (C6H13NO2) e um quiral; L-prolina monohidratada (C5H9NO2·H2O),

ambos submetidos a altas press˜oes. As propriedades estruturais em condic¸˜oes ambientes (com dados sobre as ligac¸˜oes de hidrogˆenio) de cada tipo de cristal foram apresentadas. Para o cristal de DL-leucina foram feitas medidas de espectrosocopia Raman polarizada em trˆes diferentes geometrias de espalhamento. A distribuic¸˜ao dos modos normais de vibrac¸˜ao foi feita em ter-mos das representac¸˜oes irredut´ıveis dos grupos fatores Ci (para o cristal de DL-leucina) e C2

(7)

Abstract

We studied the stability of two types amino acid crystal: a racemic crystal, DL-leucine (C6H13NO2); and a chiral one; L-proline monohydrate (C5H9NO2·H2O). Both were subjected

to high pressures. The structural properties at ambient conditions (with the hydrogen-bonds data) of each crystal type were presented. For the DL-leucine crystal, polarized Raman scatte-ring measurements were made in three different scattescatte-ring geometries. The classification of the normal modes of vibration was made in terms of representations of irreducible factors groups Ci (for the crystal of DL-leucine) and C2 (crystal of L-proline monohydrate). Based on

(8)

Lista de Figuras

2.1 Foto da primeira DAC modelo NBS. Retirada de [42]. . . p. 23

2.2 Ilustrac¸˜ao esquem´atica dos processos Raman Stokes e Raman anti-Stokes . . p. 28

3.1 Sobreposic¸˜ao de lˆaminas cristalinas de DL-leucina com difrerentes orientac¸˜oes

visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P. . . p. 33

3.2 Eixos X, Y e Z para o cristal de DL-leucina visto por um microsc´opio Leica

DM 2500 P. . . p. 34

3.3 Monocristal de L-prolina monohidratada visto por um microsc´opio Leica DM

2500 P. . . p. 35

3.4 Comparac¸˜ao de difratogramas de Raios-X de cristais de DL-leucina. A-difratograma de policristais provenientes diretamente do fabricante Sigma-Aldrich sem nenhuma recristalizac¸˜ao. B- difratograma calculado, atrav´es do software Mercury, por meio de arquivo cif constru´ıdo a partir da referˆencia [86]. C- Difratograma de cristais crescidos com press˜ao de vapor de etanol e

´agua, os quais foram usados no presente trabalho. . . p. 36

3.5 Identificac¸˜ao dos picos de difrac¸˜ao do cristal de L prolina monohidaratada. Em vermelho, padr˜ao de difrac¸˜ao medido e em preto, riscas do padr˜ao de

referˆencia da Capes cujo c´odigo ´e 32-1869. . . p. 37

3.6 Espectrˆometro modelo T6400 da Jobin-Yvon equipado com CCD. . . p. 38

3.7 Ilustrac¸˜ao de uma cˆamara de bigornas de diamante usada neste trabalho. Re-tirada de [41]. (1) Parafuso onde se aplica a forc¸a; (5) alavanca que transmite

a forc¸a at´e um pist˜ao m´ovel no outro extremo [41]. . . p. 39

3.8 representac¸˜ao esquem´atica de uma amostra e sensor de press˜ao (rubi - Al2O3:

Cr3+) preechidos por um meio compressor hidrost´atico, comportados em

uma gaxeta met´alica entre duas bigornas de diamante com acesso ´optico. . . . p. 39

3.9 Espectros de luminescˆencia do rubi para os valores inicial de 0,0 GPa

(9)

3.10 Espectros de luminescˆencia do rubi para os valores inicial de 0,2 GPa (verme-lho) e final 8,0 (azul) para o experimento realizado com o cristal de L-prolina

monohidratada. . . p. 41

4.1 Representac¸˜ao das regi˜oes hidrof´ılicas intercaldas por regi˜oes hidrof´ılicas em

cristais de amino´acidos hidrof´obicos. Adaptado de [92]. . . p. 43

4.2 Vis˜ao detalhada das ligac¸˜oes de hidrogˆenio entre as monocamadas da rei˜ao

hidrof´ılica, apresentada na figura (4.1). Retirado de [92]. . . p. 43

4.3 Disposic¸˜ao L2-L2. Retirado de [92]. . . p. 44

4.4 Disposic¸˜ao L1-D1. Retirado de [92]. . . p. 44

4.5 C´elula unit´aria vista ao longo do eixo c. . . p. 45

4.6 Ligac¸˜oes de hidrogˆenio entre as monocamadas da regi˜ao hidrof´ılica vistas ao

longo do eixo b. . . p. 46

4.7 Espectros Raman polarizados do cristal de DL-leucina `a temperatura e press˜ao

ambientes entre 30 e 600 cm−1. . . p. 50 4.8 Espectros Raman polarizados do cristal de DL-leucina `a temperatura e press˜ao

ambientes entre 600 e 1100 cm−1. . . p. 51 4.9 Espectros Raman polarizados do cristal de DL-leucina `a temperatura e press˜ao

ambientes entre 1100 e 1570 cm−1. . . p. 53 4.10 Espectros Raman polarizados do cristal de DL-leucina `a temperatura e press˜ao

ambientes entre 2800 e 3200 cm−1. . . p. 55 5.1 Estrutura molecular de L-prolina na conformac¸˜ao. Modificado de [85]. . . p. 59

5.2 Estrutura do cristal de L-prolina monohidaratada. Retirado de [118]. Em (a) vis˜ao da c´elula unit´aria mostrando o empacotamento das mol´eculas e as ligac¸˜oes de hidrogˆenio. Em (b) vis˜ao da c´elula unit´aria ao longo do eixo c,

[118]. . . p. 59

5.3 Espectro Raman do cristal de L-prolina monohidratada `a temperatura ambi-ente e press˜ao de 0,2 GPa no intervalo espectral compreendido entre 40 a 600

(10)

5.4 Espectro Raman do cristal de L-prolina monohidratada `a temperatura ambi-ente e press˜ao de 0,2 GPa no intervalo espectral compreendido entre 600 a

1150 cm−1. . . p. 63 5.5 Espectro Raman do cristal de L-prolina monohidratada `a temperatura

ambi-ente e press˜ao de 0,2 GPa no intervalo espectral compreendido entre 2800 a

3200 cm−1. . . p. 64 5.6 Espectro Raman do cristal de L-prolina monohidratada `a temperatura

ambi-ente e press˜ao de 0,2 GPa no intervalo espectral compreendido entre 2800 a

3200 cm−1. . . p. 66 6.1 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 4,9 GPa entre 30

e 160 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 70

6.2 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 30 a 160 cm−1. p. 71 6.3 Ampliac¸˜ao da Figura 6.1 para press˜oes na regi˜ao entre 1,1 e 4,9 GPa. . . p. 72

6.4 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 4,9 GPa entre 160 e 600 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 75

6.5 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 160 a 600

cm−1. . . p. 76 6.6 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 4,9 GPa entre 600

e 1100 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 77

6.7 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 600 a 1100

cm−1. . . p. 78 6.8 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 4,9 GPa entre 2800

e 3200 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 83

7.1 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 8,0 GPa entre 50 a 200 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 86

(11)

7.3 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 8,0 GPa entre 200 a 650 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 89

7.4 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 200 a 650

cm−1. . . p. 90 7.5 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 8,0 GPa entre 650

a 1100 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 92

7.6 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 650 a 1100

cm−1. . . p. 93 7.7 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 8,0 GPa entre 2800

a 3200 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 96

7.8 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 2800 a 3200

cm−1. . . p. 97 7.9 Evoluc¸˜ao dos espectros Raman em func¸˜ao da press˜ao at´e 8,0 GPa entre 3100

a 3600 cm−1. O espectro tomado em 0,0* GPa ´e o espectro obtido ap´os a

descompress˜ao. . . p. 102

7.10 Curvas de n´umero de onda versus press˜ao da regi˜ao espectral de 3100 a 3600

cm−1. . . p. 103 7.11 Largura de linha em func¸˜ao da press˜ao da banda associada `a vibrac¸˜ao de

(12)

Lista de Tabelas

4.1 Dimens˜oes m´edias da ligac¸˜oes de hidrogˆenio para o cristal de DL-leucina . . p. 56

4.2 Tabela de Caracteres para o grupo Ci . . . p. 56

4.3 Classificac¸˜ao das bandas Raman para o cristal de DL-leucina.ν: estiramento;

νs: estiramento sim´etrico;νas: estiramento assim´etrico; r: rocking; w:

wag-ging;τ: torc¸˜ao; γ: vibrac¸˜ao fora do plano,δ: dobramento,δa: dobramento

assim´etrico,δs, dobramento sim´etrico . . . p. 57

5.1 Dimens˜oes m´edias e ˆangulos da ligac¸˜oes de hidrogˆenio para o cristal de

L-prolina monohidradatada. Dados retirados de [118]. . . p. 60

5.2 Tabela de Caracteres para o grupo C2. . . p. 61

5.3 Classificac¸˜ao das bandas Raman para o cristal de L-prolina monohidratada.

ν: estiramento; νs: estiramento sim´etrico; νas: estiramento assim´etrico, r:

rocking; w: wagging;τ: torc¸˜ao; sc: scissoring; def.: deformac¸˜ao; δ:

dobra-mento. . . p. 67

6.1 Valores dos n´umeros de onda (cm−1) das bandas dos espectros Raman do cristal de DL-leucina entre 0,0 e 4,9 GPa e os parˆametros do ajuste linear

ω=ω0+αP dos valores medidos. . . . p. 82

7.1 Valores dos n´umeros de onda (cm−1) das bandas dos espectros Raman do cristal de L-prolina monohidratada entre 0,2 e 8,0 GPa e os parˆametros do

ajuste linearω =ω0+αP dos valores medidos. . . p. 100

7.2 Valores dos n´umeros de onda (cm−1) das bandas dos espectros Raman do cristal de L-prolina monohidratada entre 0,2 e 8,0 GPa e os parˆametros do ajuste linear ω =ω0+αP dos valores medidos. Os valores com marcados

(13)

Sum´ario

1 Introduc¸ ˜ao p. 15

2 Fundamentac¸ ˜ao Te´orica p. 22

2.1 Breve hist´orico sobre a tecnologia de altas press˜oes . . . p. 22

2.2 Efeitos de altas press˜oes em materiais . . . p. 24

2.3 Espalhamento Raman . . . p. 26

2.4 Outros efeitos de altas press˜oes nos espectros Raman . . . p. 30

3 Procedimentos Experimentais p. 32

3.1 Crescimento dos cristais . . . p. 32

3.2 Identificac¸˜ao dos cristais de DL-leucina e de L-prolina monohidratada por

difrac¸˜ao de raios-X . . . p. 33

3.3 Medidas de espalhamento Raman em condic¸˜oes ambientes . . . p. 35

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸˜oes de altas press˜oes . . . p. 37

4 Propriedades Estruturais e Vibracionais do Cristal de DL-leucina p. 42

4.1 Estrutura do cristal de DL-leucina . . . p. 42

4.2 Grupos de simetria para o cristal de DL-leucina . . . p. 45

4.3 Identificac¸˜ao e classificac¸˜ao dos modos normais `a temperatura e press˜ao

am-bientes . . . p. 47

(14)

4.3.4 Regi˜ao espectral entre 2800 cm−1e 3200 cm−1 . . . p. 54

5 Propriedades Estruturais e Vibracionais do Cristal de L-prolina

Monohidra-tada p. 58

5.1 Estrutura do cristal de L-prolina monohidratada . . . p. 58

5.2 Grupos de simetria para o cristal de L-prolina monohidratada . . . p. 60

5.3 Classificac¸˜ao tentativa das bandas Raman para o cristal de L-prolina

monohi-dratada . . . p. 61

5.3.1 Regi˜ao espectral entre 40 e 600 cm−1 . . . p. 61 5.3.2 Regi˜ao espectral entre 600 e 1150 cm−1 . . . p. 63 5.3.3 Regi˜ao espectral entre 2800 e 3200 cm−1 . . . p. 64 5.3.4 Regi˜ao espectral entre 3200 e 3600 cm−1 . . . p. 65

6 Espalhamento Raman de Cristais de DL-leucina sob Altas Press˜oes p. 68

6.1 Cristal de DL-leucina sob altas press˜oes . . . p. 68

6.1.1 Regi˜ao espectral entre 30 cm−1e 200 cm−1 . . . p. 68 6.1.2 Regi˜ao espectral entre 160 cm−1e 600 cm−1 . . . p. 69 6.1.3 Regi˜ao espectral entre 600 cm−1e 1100 cm−1 . . . p. 74 6.1.4 Regi˜ao espectral entre 2800 cm−1e 3200 cm−1 . . . p. 80

7 Espalhamento Raman de Cristais de L-prolina Monohidratada sob Altas Press˜oes p. 84

7.1 Cristal de L-prolina monohidratada sob altas press˜oes . . . p. 84

7.1.1 Regi˜ao espectral entre 50 e 200 cm−1 . . . p. 84 7.1.2 Regi˜ao espectral entre 200 e 650 cm−1 . . . p. 85 7.1.3 Regi˜ao espectral entre 650 e 1100 cm−1 . . . p. 88 7.1.4 Regi˜ao espectral entre 2800 e 3200 cm−1 . . . p. 94 7.1.5 Regi˜ao espectral entre 3100 e 3600 cm−1 . . . p. 95

(15)
(16)

15

1

Introduc¸˜ao

Os amino´acidos s˜ao pequenas mol´eculas formadoras das prote´ınas de todos os seres vi-vos. No estado s´olido, estas mol´eculas se apresentam na forma de “zwitterion”: NH+3 -CH(R)-COO−, onde R ´e uma cadeia caracter´ıstica de cada tipo de mol´ecula de amino´acido. Os cristais de amino´acidos s˜ao estabilizados por meio de complexas redes de ligac¸˜oes de hidrogˆenio (LH) e forc¸as do tipo van der Waals. As ligac¸˜oes de hidrogˆenio mais comuns s˜ao da forma N+-H· · ·O, onde a ligac¸˜ao ´e estabelecida entre um grupo amina de uma mol´ecula com um grupo carbox´ılico de outra. Em cada cristal de amino´acido existe um padr˜ao particular de ligac¸˜oes de hidrogˆenio, sendo portanto um dos fatores fundamentais para a estabilidade desses materiais em condic¸˜oes diversas de press˜ao e/ou temperatura [1].

Desde o trabalho pioneiro realizado pelo grupo de espalhamento Raman do Departamento de F´ısica da Universidade Federal do Cear´a na d´ecada de noventa do s´eculo XX [2], os estudos de cristais de amino´acidos sob condic¸˜oes de altas press˜oes tˆem se tornado um t´opico de intensi-vos estudos [3–5]. Uma das principais motivac¸˜oes para esse fascinante campo de pesquisas est´a na possibilidade da descoberta de novos polimorfos, uma linha de pesquisa que ultimamente se revelou important´ıssima nas ciˆencias farmacˆeuticas, devido ao uso dessas novas fases cristalinas em f´armacos [6].

Outra motivac¸˜ao ´e que os cristais de amino´acidos servem como modelos mais simples para o estudo de ligac¸˜oes de hidrogˆenio que tamb´em est˜ao presentes na estrutura secund´aria das prote´ınas. Assim, tais estudos sobre a estabilidade desses materiais em func¸˜ao da aplicac¸˜ao de condic¸˜oes variadas de press˜ao e de temperatura fornecem valiosas informac¸˜oes sobre as propriedades estruturais das prote´ınas como desnaturac¸˜ao, renaturac¸˜ao, auto-dobramento, entre outras [7], um t´opico, portanto, important´ıssimo na bioqu´ımica.

(17)

pro-1 Introduc¸ ˜ao 16

priedades magn´eticas [9]. Finalmente, citam-se as aplicac¸˜oes em ´optica n˜ao linear, pois os amino´acidos polares s˜ao geradores de segundo harmˆonico [10] sendo que, por exemplo, o cris-tal de L-treonina apresenta eficiˆencia de gerac¸˜ao de segundo harmˆonico da mesma ordem que cristais tradicionalmente usados para esse fim, como o KDP [11].

A glicina ´e o amino´acido prot´eico com menor quantidade de ´atomos em sua forma mole-cular e n˜ao possui quiralidade, sendo por isso mesmo, o amino´acido mais simples conhecido. No estado s´olido, em condic¸˜oes de press˜ao e temperatura ambientes, este amino´acido apresenta trˆes polimorfos: a α-glicina e a β-glicina, com estruturas monocl´ınicas, cujos grupos espa-ciais s˜ao P21/n e P21, respectivamente, e a γ-glicina, que possui uma simetria trigonal (P31)

[12]. Quando aα-glicina ´e submetida `a altas press˜oes de at´e 23 GPa, n˜ao se observa nenhuma mudanc¸a estrutural [13]. A explicac¸˜ao para tal estabilidade em altas press˜oes se deve a difi-culdade de rearranjo de camadas duplas de ligac¸˜oes de hidrogˆenio presentes na estrutura desse polimorfo. Goryainov et al. [14] observaram por meio de medidas de espectroscopia Raman uma transic¸˜ao de fase revers´ıvel em torno de 0,76 GPa na β-glicina. Mudanc¸as como gran-des gran-descontinuidagran-des nas curvas de n´umero de onda versus press˜ao, foram observadas em tal transic¸˜ao, por exmeplo, a banda associada `a vibrac¸˜ao do “rocking”do grupo NH+3 apresenta um salto de 10 cm−1. Al´em disso, observou-se a formac¸˜ao de rachaduras (“cracks”) durante a transic¸˜ao. Outro ponto interessante ´e que nesse experimento n˜ao foi observada nenhuma histe-rese. J´a o comportamento da faseγ ´e bem mais complexo. Por meio de difrac¸˜ao de raios-X [15], observaram uma transic¸˜ao de fase a partir de 2,7 GPa, com uma abrupta mudanc¸a no volume da c´elula unit´aria. Essa transic¸˜ao n˜ao foi completada at´e press˜oes de 7,8 GPa. A nova fase, chamada deδ-glicina, n˜ao desaparece totalmente na descompress˜ao. Isto ´e, a transic¸˜ao da fase

γ para a fase δ n˜ao ´e completamente revers´ıvel [16]. Al´em disso, uma nova fase a partir de 0,62 GPa, chamada deζ-glicina, foi observada, inclusive atrav´es de medidas de espalhamento Raman [17].

Os cristais de amino´acidos quirais (lev´ogiros) foram amplamente estudados, com poucos trabalhos envolvendo o estudo de cristais racˆemicos 1 sob altas press˜oes. Entre esses traba-lhos, est´a o estudo feito com o cristal de Dalanina sob altas press˜oes [19]. Enquanto a L-alanina cristaliza-se numa estrutura ortorrˆombica com grupo espacial D42(P212121) [20], o

cris-1Cristais racˆemicos s˜ao formados por uma quantidade igual de mol´eculas com a mesma f´ormula qu´ımica, mas

(18)

1 Introduc¸ ˜ao 17

tal racˆemico de DL-alanina, cristaliza-se em uma estrutura ortorrˆombica com grupo espacial C92v (Pna21). Em medidas de espalhamento Raman no cristal de L-alanina sob altas press˜oes [21]

foi observado que entre 0,0 e 2,3 GPa, ocorre um aumento da intensidade de uma banda asso-ciada ao modo da rede e centrada em torno de 41 cm−1, enquanto outra banda de baixa energia (em torno de 49 cm−1) perde a sua intensidade. Ap´os 2,3 GPa, foi observado a ocorrˆencia do efeito inverso na intensidade dessas mesmas bandas. Outro efeito importante foi a observac¸˜ao em torno de 2,3 GPa do surgimento de uma nova banda na regi˜ao dos modos da rede e cen-trada em torno de 120 cm−1. Esses fenˆomenos foram interpretados como sendo resultado de uma transic¸˜ao de fase estrutural em torno de 2,3 GPa. Por´em, em um recente trabalho com experimentos de difrac¸˜ao de raios-X e espectroscopia Raman at´e 12,3 GPa [22], os autores n˜ao correlacionaram os resultados de espectroscopia Raman com uma transic¸˜ao de fase estrutural, mas apenas mudanc¸as conformacionais, pricipalmente do grupo amina. Em torno de 2,0 GPa, os autores observaram que os parˆametros de rede a e b se tornaram acidentalmente iguais entre si, por´em permanecendo numa estrutura ortorrˆombica com o mesmo grupo espacial P212121.

Estes resultados contrastam com os obtidos por Olsen et al. [23]. Neste trabalho, os autores interpretaram os resultados de difrac¸˜ao como uma transic¸˜ao de fase em torno de 2,0 GPa, de uma fase ortorrˆombica para uma tetragonal e ainda sugeriram uma segunda transic¸˜ao em torno de 9,0 GPa, como sendo uma transic¸˜ao de fase estrutural tetragonal para monocl´ınica.

O estudo com o cristal de DL-alanina [19] sugeriu que em cerca de 1,1 GPa, a aplicac¸˜ao da press˜ao hidrost´atica induz mudanc¸as conformacionais da cadeia CH3das mol´eculas de alanina.

Estas mudanc¸as s˜ao precursoras de uma primeira transic¸˜ao de fase que foi observada entre 1,7 e 2,3 GPa. Tal transic¸˜ao foi acompanhada de grandes mudanc¸as nas bandas associadas aos modos da rede do cristal, al´em de modificac¸˜oes adicionais nas bandas das unidades moleculares CH e CH3. Entre 4,0 e 4,6 GPa, uma nova mudanc¸a conformacional foi observada com o

desaparecimento de uma banda na regi˜ao das vibrac¸˜oes de deformac¸˜ao do esqueleto molecular. A segunda transic¸˜ao de fase estrutural foi sugerida devido ao aparecimento de uma banda de baixa energia na regi˜ao associada ao modos da rede, “splitting” de uma banda associada ao estiramento do grupo CH3. Finalmente, entre 11,6 e 13,2 GPa uma terceira transic¸˜ao de fase

foi observada. Esta ´ultima, foi caracterizada por mudanc¸as nos modos da rede, “red shift”da banda associada ao estiramento do grupo CH3e alargamento da banda associada ao “wagging”

do grupo CO2. Todas essas transic¸˜oes foram revers´ıveis e o espectro original foi recuperado

com a descompress˜ao.

(19)

1 Introduc¸ ˜ao 18

de 5,0 GPa. Essa transic¸˜ao ´e caracterizada pela mudanc¸a nas ligac¸˜oes de hidrogˆenio do tipo -OH· · ·OH da fase inicial para ligac¸˜oes do tipo -OH· · ·O(CO) ap´os 5,0 GPa [24, 26]. Em experimentos de espectroscopia Raman at´e 8,7 GPa, Boldyreva et al. [25], confirmaram esta primeira transic¸˜ao de fase, por´em com uma press˜ao cr´ıtica de 5,4 GPa. Adicionalmente, uma segunda transic¸˜ao de fase foi observada em torno de 7,8 GPa , cuja explicac¸˜ao foi associada a uma instabilidade causada por uma maior compactac¸˜ao da estrutura devido ao fortalecimento das novas ligac¸˜oes de hidrogˆenio criadas ap´os a primeira transic¸˜ao de fase. Nesse mesmo estudo os autores n˜ao observaram nenhuma transic¸˜ao de fase para o cristal de DL-serina. A estabilidade do cristal de DL-serina foi tamb´em confirmada com um estudo de difrac¸˜ao de raios-X at´e 8,6 GPa [24]

Os cristais de L-ciste´ına, uma amino´acido que cont´em enxofre em sua composic¸˜ao - NH+3 -CH-(CH2SH)-COO−- apresentam polimorfismo `a press˜ao ambiente, com uma estrutura

or-torrˆombica e outro polimorfo monocl´ınico. Atrav´es de medidas de difrac¸˜ao de raios-X [27] em 1,8 GPa, constatou-se que o polimorfo ortorrˆombico de L-ciste´ına sofre uma transic¸˜ao de fase. Esta nova fase ´e preservada at´e 4,2 GPa. Com a descompress˜ao a partir de 1,7 GPa, o cristal sofre uma nova transic¸˜ao de fase em que se acredita que haja coexistˆencia da nova fase com a antiga. Finalmente, com a descompress˜ao para a press˜ao ambiente, a fase ortorrˆombica original ´e recuperada. J´a por meio de medidas de espectroscopia Raman [28], uma seq¨uˆencia de transic¸˜oes de fases foi sugerida no intervalo de press˜ao entre 1,0 e 3,0 GPa. Todas essas transic¸˜oes apresentadas no cristal de L-ciste´ına (polimorfo ortorrˆombico `a press˜ao ambiente), foram associadas `as ligac¸˜oes S-H· · ·H ou S-H· · ·O, as quais podem ser ordenadas ou desorde-nadas. Assim, mudando a estabilidade da estrutura cristalina dependendo do valor de press˜ao no intervalo entre 1,0 a 3,0 GPa, nesse mesmo trabalho Boldyreva et al.[28], observaram outra s´erie de transic¸˜oes de fase revers´ıveis no cristal de DL-ciste´ına. As transic¸˜oes foram observadas em torno de 0,1, 1,5, 2,0 e 5,0 GPa. Novamente, essas transic¸˜oes foram explicadas por meio da dinˆamica dos grupos SH das mol´eculas de ciste´ına: a press˜ao aplicada provoca mudanc¸as de orientac¸˜ao dos grupos -CH-CH2SH, produzindo um aumento da desordem das ligac¸˜oes de

hidrogˆenio SH· · ·S induzindo transic¸˜oes de fase.

(20)

1 Introduc¸ ˜ao 19

fase estrutural, o que tamb´em seja o que esteja ocorrendo em torno de 5,3 GPa. Em outro experimento com espectroscopia Raman, Murli et al. [30] investigaram o comportamento de policristais de DL-valina sob altas press˜oes de at´e 12 GPa. Os autores observaram uma leve descontinuidade de todas as curvas de n´umero de onda versus press˜ao em torno de 3,0 GPa. Essa transic¸˜ao foi acompanhada do “splitting”das bandas associadas a vibrac¸˜ao de deformac¸˜ao do esqueleto molecular al´em, da perda significativa da intensidade dessas bandas ap´os a press˜ao de 3,0 GPa. Outras bandas que perdem intensidade foram aquelas classificadas pelos autores como associadas aos modos de librac¸˜ao das ligac¸˜oes N+-H· · ·O.

Em relac¸˜ao aos resultados existentes sobre as propriedades vibracionais de cristais de amino-´acidos hidratados submetidos a condic¸˜oes de altas press˜oes, o primeiro deles ´e a L-asparagina monohidratada. Medidas realizadas entre 0 e 2,0 GPa mostraram que o cristal sofre trˆes dife-rentes transic¸˜oes de fase que ocorrem (i) entre 0,0 e 0,2 GPa; (ii) entre 0,2 e 0,6 e (iii) entre 0,9 e 1,3 GPa. [2]. Posteriormente, um estudo mais completo nesse cristal mostrou um quadro ainda mais complexo [31]. De acordo com este estudo do material submetido at´e 30 GPa, a L-asparagina monohidratada sofreria mais cinco transic¸˜oes de fases nos seguintes intervalos: (a) 2,1 - 3,1 GPa; (b) 4,7 - 6,6 GPa; (c) 9,3 - 9,9 GPa; (d) 15,0 - 17,0 GPa; (e) 22,4 -25,1 GPa. A partir do que foi observado nos espectros Raman pode-se inferir que a transic¸˜ao (a) envolve uma mudanc¸a conformacional das mol´eculas na c´elula unit´aria. A transic¸˜ao de fase (b) envolveria modificac¸˜oes nas ligac¸˜oes de hidrogˆenio. A transic¸˜ao de fase (c) seria uma transic¸˜ao de fase estrutural, haja vista que grandes mudanc¸as s˜ao observadas nos espectros tanto na regi˜ao dos modos internos quanto na regi˜ao dos modos externos. A transic¸˜ao de fase (d) foi interpretada como sendo devida a um rearranjo de mol´eculas na c´elula unit´aria, enquanto que na transic¸˜ao de fase (e) observou-se a ocorrˆencia de uma mudanc¸a conformacional, precedida por modificac¸˜oes nas ligac¸˜oes de hidrogˆenio.

Outro cristal hidratado de amino´acido estudado sob altas press˜oes foi a L-arginina.H2O,

cujos os espectros Raman foram registrados at´e press˜oes de cerca de 8,0 GPa. Deste estudo [32] inferiu-se que a L-arginina·2H2O sofre uma transic¸˜ao de fase em torno de 2,5 GPa,

perma-necendo na nova estrutura at´e o valor m´aximo de press˜ao atingida nos experimentos.

Finalmente, estudou-se um cristal de L-histidina·HCl·H2O por espectroscopia Raman

sub-metido a condic¸˜oes de altas press˜oes hidrost´aticas at´e cerca de 7,5 GPa [33]. Desse estudo foi poss´ıvel descobrir que o referido cristal sofre uma transic¸˜ao de fase revers´ıvel entre 2,7 e 3,05 GPa, conforme indicam modificac¸˜oes em diversas regi˜oes dos espectros Raman.

(21)

1 Introduc¸ ˜ao 20

que existe uma relac¸˜ao entre a acumulac¸˜ao de prolina durante o per´ıodo de aclimatac¸˜ao ao frio e a tolerˆancia ao congelamento [34]. Como consequˆencia, este amino´acido possui um importante papel na crio-protec¸˜ao das plantas, sendo considerado um crio-protetor natural [35]. A prolina tem importˆancia para os animais pelo fato de ser um dos componentes prim´arios da prote´ına col´ageno, o tecido que liga e sustenta todos os outros tecidos. N˜ao ´e considerado um amino´acido essencial, haja vista que pode ser sintetizada pelo ser humano a partir de outros amino´acidos. Normalmente, a prolina ´e encontrada em quinas de prote´ınas e devido ao fato de possuir um hidrogˆenio a menos no grupo amida, ela n˜ao pode atuar nos processos bioqu´ımicos como um doador, apenas como um aceitador em ligac¸˜oes de hidrogˆenio [36].

Por outro lado, a L-leucina ´e um amino´acido alif´atico, sendo considerado essencial, uma vez que o corpo humano n˜ao a produz a partir de outras substˆancias. Isso significa que ela deve ser ingerida atrav´es da alimentac¸˜ao. Este amino´acido entra na constituic¸˜ao de diversas prote´ınas e, al´em disso, serve como fonte de energia quando o corpo, principalmente dos mam´ıferos, est´a sob intensa atividade f´ısica [36]. Como fontes alimentares rica neste amino´acido pode-se citar as carnes e os vegetais leguminosos como o feij˜ao e a soja.

No que diz respeito ao cristal de L-leucina, alguns estudos j´a foram realizados at´e o mo-mento. Medidas de espalhamento Raman realizadas no cristal no intervalo de temperatura entre 300 e 430 K no intervalo espectral 50 – 3100 cm−1mostraram diversas modificac¸˜oes em torno de 353 K, sendo elas evidˆencias de que o cristal sofre uma transic¸˜ao de fase [37]. Tal transic¸˜ao de fase foi interpretada como uma mudanc¸a de uma simetria C2para uma simetria Cs. Assim,

pr´oximo da temperatura da transic¸˜ao de fase, bandas associadas a modos longitudinais ´oticos comec¸ariam a diminuir de intensidade e acima da transic¸˜ao suas intensidades iriam para zero, como acontece com um pico em aproximadamente 920 cm−1 [37]. Al´em disso, especula-se que na referida transic¸˜ao de fase ocorra a ruptura de uma ligac¸˜ao de hidrogˆenio entre as trˆes formadas pelos ´atomos de hidrogˆenio do grupo amino, uma vez que s˜ao observadas mudanc¸as na regi˜ao espectral de baixa frequˆencia [37].

(22)

1 Introduc¸ ˜ao 21

sofridas pelo cristal de L-leucina [38]. Nestas transic¸˜oes tamb´em foram verificadas mudanc¸as em modos relacionados `as unidades CH e CH3, bem como a modos relacionados com a unidade

CO−2. Este ´ultimo fato ´e um indicativo de que mudanc¸as nas ligac¸˜oes de hidrogˆenio estejam en-volvidas nas duas transic¸˜oes de fase. A terceira anomalia ´e caracterizada por uma mudanc¸a discreta das inclinac¸˜oes das curvas das frequˆencias versus press˜ao para a maioria dos modos observados. Adicionalmente, verificou-se que ap´os a descompress˜ao os espectros Raman ori-ginais s˜ao recuperados, o que indica que as transic¸˜oes de fase sofridas pelo cristal de L-leucina s˜ao revers´ıveis.

(23)

22

2

Fundamentac¸˜ao Te´orica

2.1

Breve hist´orico sobre a tecnologia de altas press˜oes

O pioneiro na ´area de pesquisas de altas press˜oes foi Percy Williams Bridgman, o qual foi agraciado em 1946 com o prˆemio Nobel de F´ısica por seu trabalho desenvolvido neste campo. A partir das d´ecadas de 60 e 70 houve um grande crescimento de pesquisas em f´ısica e qu´ımica de altas press˜oes, em grande parte devido ao desenvolvimento de novas tecnologias para a gerac¸˜ao de altas press˜oes hidrost´aticas. A partir de 1959, foram desenvolvidas as primeiras c´elulas de bigornas de diamantes (em inglˆes, DAC ; Diamond Anvil Cell) independentemente, por Jamiesson, Lowson e Nachtrieb na Universidade de Chicago [39] e, no National Bureau of Standards, NBS por Weir et al. [40], Figura 2.1. Enquanto o primeiro grupo utilizou um sistema de parafusos para pressionar as bigornas de diamante, o segundo utilizou parafuso, molas e o princ´ıpio do brac¸o de alavanca [41, 42].

Em 1965, Van Valkenburg introduziu o uso da gaxeta met´alica [41], que atrav´es de adequada endentac¸˜ao com as pontas dos diamantes permite a produc¸˜ao de altas press˜oes, com a desvanta-gem de grande reduc¸˜ao da massa da amostra, limitada atualmente a poucos microgramas [43]. Outro grande avanc¸o n˜ao s´o na f´ısica de altas press˜oes, mas tamb´em na metrologia foi o desen-volvimento na d´ecada de 70 por Piermarini e colaboradores, da t´ecnica de calibrac¸˜ao de press˜ao a partir dos deslocamentos do dubleto de fluorescˆencia do rubi (Al2O3:Cr3+) [44]. Atualmente,

(24)

2.1 Breve hist´orico sobre a tecnologia de altas press˜oes 23

Figura 2.1: Foto da primeira DAC modelo NBS. Retirada de [42].

(25)

2.2 Efeitos de altas press˜oes em materiais 24

2.2

Efeitos de altas press˜oes em materiais

O efeito da aplicac¸˜ao de altas1 press˜oes sobre a mat´eria induz a uma grande diversidade de fenˆomenos f´ısicos e qu´ımicos. A aplicac¸˜ao da press˜ao reduz as distˆancias interatˆomicas, o que leva ao aumento da densidade do material comprimido, proporcionando alterac¸˜oes de em-pacotamento, mudanc¸as significativas nos estados eletrˆonicos e nas ligac¸˜oes qu´ımicas, surgindo novas fases e propriedades n˜ao observadas em condic¸˜oes de press˜ao ambiente [52].

Como exemplo de fenˆomeno induzido pela aplicac¸˜ao de altas press˜oes hidrost´aticas pode-mos citar aquele conhecido como metalizac¸˜ao do iodo (I2) [43]. Em condic¸˜oes ambientes o iodo

´e um s´olido ortorrˆombico com quatro mol´eculas por c´elula unit´aria, sendo classificado como um semicondutor. Com a aplicac¸˜ao de press˜ao o “gap” de energia entre as bandas de valˆencia e de conduc¸˜ao ´e gradualmente reduzido at´e que, em torno de 20 GPa, ocorre a sobreposic¸˜ao destas bandas com a transformac¸˜ao do iodo em um metal. Em torno de 21 GPa, ocorre outro fenˆomeno interessante com este s´olido, chamado “dissociac¸˜ao molecular induzida por press˜ao”. Isto ´e, as mol´eculas de I2 se dissociam, e o iodo passa a ser um solido met´alico monoatˆomico

[53]. Associado com este fenˆomeno de dissociac¸˜ao molecular o iodo sofre sucessivas transic¸˜oes de fase estruturais, da fase ortorrˆombica para uma fase ortorrˆombica de corpo centrado em torno de 21 GPa (fase II). Depois, em torno de 43 GPa, para uma fase tetragonal (fase III) e um fase cubica de face centrada (fase IV) a partir de 55 GPa [54]. Um outro exemplo de metalizac¸˜ao induzida por press˜ao ´e a do oxigˆenio, a qual ocorre em torno de 100 GPa [55]. J´a em relac¸˜ao ao hidrogˆenio solido (H2), previs˜oes te´oricas mais recentes apontam para que sua metalizac¸˜ao

ocorra em press˜oes hidrost´aticas em torno de 400 GPa [56]. Por´em, devido a certas limitac¸˜oes tecnol´ogicas relacionadas a espectroscopia em ultra press˜oes, ainda n˜ao foi observado experi-mentalmente tal fenˆomeno no hidrogˆenio solido [57].

Como outro exemplo de mudanc¸as nas propriedades de conduc¸˜ao de s´olidos devido a aplicac¸˜ao de altas press˜oes ´e o que ocorre em materiais supercondutores. Quando a press˜ao ´e aplicada em um supercondutor, a temperatura cr´ıtica de transic¸˜ao `a supercondutividade ge-ralmente muda. Muitos supercondutores compostos de metais de transic¸˜ao e suas ligas e comp´ositos exibem um aumento da temperatura cr´ıtica quando s˜ao submetidos a press˜ao [58]. Um dos compostos com maior temperatura cr´ıtica de supercondutividade sob altas press˜oes ´e o HgBa2Ca2Cu3O8+δ [59]. Assim, existe uma corrida para tentar alcanc¸ar temperaturas cr´ıticas

cada vez maiores atrav´es da aplicac¸˜ao de altas press˜oes em materiais supercondutores

conveni-1O termo “altas press˜oes” em geral, ´e usado para press˜oes acima de 1 GPa, em torno de 9869 atm

(26)

2.2 Efeitos de altas press˜oes em materiais 25

entemente escolhidos. Al´em disso, 23 elementos s˜ao conhecidos por possuirem fases supercon-dutoras am altas press˜oes. Nesta lista est˜ao o O, S, Fe, Li e Ca, sendo este ´ultimo, o de maior temperatura cr´ıtica entre os elementos [57].

Em relac¸˜ao aos fenˆomenos qu´ımicos, a aplicac¸˜ao de altas press˜oes induz a produc¸˜ao de novos materiais, por meio de reac¸˜oes qu´ımicas que diferem significativamente daquelas obser-vadas em condic¸˜oes ambientes. Reac¸ ˜oes podem ser aceleradas ou cineticamente inibidas atrav´es da aplicac¸˜ao de press˜ao [52]. Misturas pressurizadas de mol´eculas simples podem resultar em novas classes de “compostos estequiom´etricos densos”, os quais s´o ocorrem em altas press˜oes, com novas aplicac¸˜oes tecnol´ogicas [60].

Dependendo da compressibilidade de um s´olido e da press˜ao aplicada, as constantes de rede de um material podem ser reduzidas mais que 20%, efeito muito maior que o normalmente obtido pelo resfriamento de um cristal da temperatura ambiente `as temperaturas do h´elio l´ıquido [61]. Em um processo isot´ermico, a taxa de variac¸˜ao da energia livre de Gibbs do s´olido com a press˜ao ´e o volume, com a reduc¸˜ao de volume no processo, em determinado ponto cr´ıtico de press˜ao, os ´atomos do material comprimido n˜ao ocupam as posic¸˜oes esperadas para a condic¸˜ao de estabilidade associada `a respectiva fase e o sistema evolui para uma nova fase.

Essa transic¸˜ao de fase pode ser uma transformac¸˜ao cont´ınua da energia livre de Gibbs em func¸˜ao da press˜ao, em que, portanto, n˜ao haver´a descontinuidade nos parˆametros da c´elula unit´aria do cristal (e, portanto, de seu volume), ou uma transic¸˜ao em que ocorre uma descon-tinuidade no volume da c´elula unit´aria. Assim, transic¸˜oes de fase tipo s´olido-s´olido s˜ao ge-ralmente classificadas como transic¸˜oes cont´ınuas ou descont´ınuas (classificac¸˜ao de Fisher) ou como transic¸˜oes de primeira ordem (descont´ınuas) ou de segunda ordem (cont´ınuas) de acordo com a classificac¸˜ao de Ehrenfest2. Em geral, de acordo com a teoria de Landau das transic¸˜oes de fase, em transic¸˜oes descont´ınuas n˜ao h´a relac¸˜ao de simetria entre as fases, ao contr´ario das transic¸˜oes cont´ınuas, em uma relac¸˜ao de grupo-subgrupo est´a presente.

Al´em da transic¸˜ao de fase do tipo s´olido-s´olido, em que ocorre entre as fases a permanˆencia de cristalinidade do s´olido, a aplicac¸˜ao de altas press˜oes pode induzir o surgimento de fases amorfas, efeito conhecido como “amorfizac¸˜ao induzida por press˜ao”. Este fenˆomeno j´a foi ob-servado em diversos s´olidos, tais como cristais moleculares orgˆanicos, inorgˆanicos e met´alicos [62–64]. A amorfizac¸˜ao pode ser irrevers´ıvel. Processos de amorfizac¸˜ao irrevers´ıvel foram ob-servados, por exemplo em tungstatos [65, 66] e molibidatos de terras raras [67]. Esta

irreversibi-2De acordo com Ehrenfest, quando a descontinuidade ´e na derivada primeira da energia livre de Gibbs em

(27)

2.3 Espalhamento Raman 26

lidade est´a associada a transic¸˜oes de fase com impedimento cin´etico [68] e processos qu´ımicos como por reac¸˜oes de descomposic¸˜ao [67] ou o efeito de polimerizac¸˜ao [69]. Amorfizac¸˜oes re-vers´ıveis nas quais a configurac¸˜ao cristalina inicial ´e recuperada ap´os descompress˜ao, foram observadas em [70, 71]. O mecanismo proposto como sendo o respons´avel para a reversibili-dade ´e que algumas unireversibili-dades poliatˆomicas do material permanecem intactos durante a transic¸˜ao da fase cristalina para a fase amorfa [70]. Em relac¸˜ao aos cristais de amino´acidos, de acordo com o experimento de difrac¸˜ao de raios-X conduzido por Funnel et al. [71], o cristal de L-alanina, foi o ´unico at´e o presente momento que apresentou amorfizac¸˜ao em torno de 15 GPa. Segundo os autores, essa amorfizac¸˜ao se deu em decorrˆencia de um colapso de volume, com uma gradativa reduc¸˜ao de espac¸os vazios entre as mol´eculas do cristal, levando ap´os 14 GPa a uma perda do ordenamento da cristalinidade de longo alcance deste material. A descompress˜ao mostrou que o efeto foi revers´ıvel com o reestabelecimento da fase cristalina em 1,59 GPa.

2.3

Espalhamento Raman

Considere que o campo el´etrico da luz monocrom´atica de freq¨uˆenciaωie vetor de onda

− →

ki

e descrito por uma onda plana [72]:

~

E(~r,t) =~E0cos(~ki·~r−ωit) , (2.1)

incide sobre um cristal. Esse campo faz com que os el´etrons do s´olido se desloquem em relac¸˜ao aos n´ucleos dos s´ıtios da rede cristalina, ocorrendo uma polarizac¸˜ao induzida no meio:

~

P(~r,t) =←→χ (~kii)~E(~r,t) , (2.2)

onde←→χ ´e o tensor de susceptibilidade el´etrica. Se o meio cristalino est´a a uma temperatura finita, ocorrer˜ao flutuac¸˜oes em ←→χ devido `as vibrac¸˜oes atˆomicas termicamente excitadas da rede, sendo que os deslocamentos dos ´atomos associados `a essas vibrac¸˜oes, em coordenadas normais s˜ao dados por:

~

Q(~r,t) =~Q(~q,ω0)cos(~q·~r−ω0t) , (2.3)

com o vetor de onda~q e freq¨uˆencia de oscilac¸˜ao ω0. Vamos considerar que as freq¨uˆencias

eletrˆonicas caracter´ısticas, as quais determinam←→χ s˜ao muito maiores3queω0, assim←→χ pode

ser considerada como uma func¸˜ao de Q. Como as amplitudes das vibrac¸˜oes em torno das~

posic¸˜oes de equil´ıbrio s˜ao muito pequenas em comparac¸˜ao com as constantes de rede,

(28)

2.3 Espalhamento Raman 27

mos expandir as componentes do tensor de susceptibilidade em s´erie de Taylor com relac¸˜ao `as coordenadas normaisQ.~

←→χ (~k

ii, ~Q) =←→χ (~kii)0+ (∂

←→χ

∂~Q )0Q~(~r,t) +. . . , (2.4)

onde←→χ 0 representa a susceptibilidade el´etrica do meio sem flutuac¸˜oes. J´a o segundo termo em (2.4) ´e a representac¸˜ao da susceptibilidade oscilat´oria induzida pelas vibrac¸˜oes da rede com coordenadas normais~Q. Inserindo (2.4) em (2.2), o vetor de polarizac¸˜ao agora pode ser reescrito

como:

~

P(~r,t) = ←→χ (~kii)0~E0cos(~ki·~r−ωit) +

1 2(

∂←→χ

Q~ )0~Q(~r,t)~E0

× ncosh(~ki+~q)·~r−(ωi+ω0)t

i

+cosh(~ki−~q)·~r−(ωi−ω0)t

io

+ . . . (2.5)

O primeiro termo em (2.5), descreve uma onda de polarizac¸˜ao vibrando com a mesma freq¨uˆenciaωi da radiac¸˜ao incidente. Em outras palavras, a radiac¸˜ao produzida por esta onda

de polarizac¸˜ao ´e a mesma da radiac¸˜ao incidente, descrevendo portanto um processo de espalha-mento el´astico da luz, conhecido como espalhaespalha-mento Rayleigh. O segundo termo consiste de duas ondas de polarizac¸˜ao, uma com deslocamento de freq¨uˆencia: ωs = (ωi−ω0)e de vetor

de onda:~ks= (~ki−~q)(deslocamentos Stokes) e outra com deslocamentos: ωas= (ωi+ω0)e

~kas= (~ki+~q)(deslocamentos anStokes). Assim, a luz espalhada, produzida por estes dois

ti-pos de onda de polarizac¸˜ao descreve um espalhamento Raman de primeira ordem do tipo Stokes e anti-Stokes, respectivamente. Em (2.5), foi considerado apenas o termo da derivada primeira da susceptibilidade em relac¸˜ao a~Q. Justificando-se a terminologia de espalhamento Raman de

primeira ordem. Termos de ordem superior em (2.5) se referem aos processos de espalhamento Raman de segunda, terceira ordem, etc.

O espalhamento Raman de primeira ordem, do ponto de vista quˆantico, pode ser entendido da seguinte forma: tem-se um processo de destruic¸˜ao (absorc¸˜ao) ou criac¸˜ao (emiss˜ao) de um fˆonon ´optico (modo de vibrac¸˜ao quantizado, correspontente aos ramos ´opticos da primeira zona de Brillouin) da rede cristalina. No processo anti-Stokes, ωas= (ωi+ω0), um quantum de

radiac¸˜ao (f´oton) absorve a energia de um fˆonon ´optico da rede (aniquilac¸˜ao do fˆonon). Para o processo Stokes,ωs = (ωi−ω0), ocorre a emiss˜ao de fˆonon da rede (criac¸˜ao de um fˆonon)

(29)

2.3 Espalhamento Raman 28

pode ocorrer a criac¸˜ao de dois fˆonons, a absorc¸˜ao de dois fˆonons ou a criac¸˜ao de um fˆonon e absorc¸˜ao de outro fˆonon [73]. Somas ou diferenc¸as entre freq¨uˆencias de dois ou mais fˆonons s˜ao conhecidos como “modos de combinac¸˜ao”. J´a os termos que s˜ao m´ultiplos inteiros das freq¨uˆencias de fˆonons ω0, s˜ao denominados de sobretons [72]. A Figura 2.2 representa os

processos Stokes e anti-Stokes do espalhamento inel´astico da luz.

Figura 2.2: Ilustrac¸˜ao esquem´atica dos processos Raman Stokes e Raman anti-Stokes

Do que foi exposto at´e agora, observa-se que as freq¨uˆencias (e portanto a energia), os ve-tores de onda (e portanto, o momento) dos f´otons incidentes, f´otons espalhados e dos fˆonons criados ou aniquilados s˜ao conservados durante os processos Stokes e anti-Stokes. Um aspecto importante ´e que pela conservac¸˜ao dos vetores de onda~k(a)S=~ki±~q,~q tamb´em deve ter

magni-tude da ordem de vetores de onda dos f´otons. Os limites da primeira zona de Brillouin, regi˜ao na qual os vetores de onda dos fˆonons est˜ao situados, tem magnitude de 2π/a, sendo a o parˆametro

de rede, tipicamente em torno de 5 ˚A. J´a os vetores de onda dos f´otons de um laser usado em um experimento de espalhamento tem magnitude de 2π/λ, comλ tipicamente em torno de 5000 ˚A [74], como o vetor~q possui a mesma magnitude dos vetores de onda dos f´otons, esta magnitude

´e, portanto, da ordem de 1/1000 do tamanho da primeira zona de Brillouin. Ent˜ao considera-se que|~q|≃0, isto ´e, nos processos Raman de primeira ordem apenas os fˆonons situados no centro da primeira zona de Brillouin est˜ao envolvidos no espalhamento.

(30)

2.3 Espalhamento Raman 29

dσs

ddω =

ωs4V

(4π)2c4

eˆi·

∂←→χ

′ ∂~Q

0

ˆ

Q(ω0)·eˆs

2

(n+1)δ(ω−ω0)

¯h 2ω0

, (2.6)

onde ˆei e ˆes s˜ao os vetores unit´arios de polarizac¸˜ao da luz incidente e espalhada,

respectiva-mente, n= 1

exp(¯hω kBT)−1

´e o fator t´ermica de ocupac¸˜ao de fˆonons de freq¨uˆenciaω0, ∂

←→χ

Q~ =V

1 2∂

←→χ

∂~Q,

onde ∂←→χ~

Q ´e o “tensor de susceptibilidade Raman”.

O termo ∂←→χ

∂~Q

0

ˆ

Q(ω0) em (2.6) ´e designado como “tensor Raman” e o produto interno

eˆi·

←→χ

Q~

0

ˆ

Q(ω0)·eˆs

permite selecionar as componetes do tensor Raman para determinadas polarizac¸˜oes da luz incidente e espalhada [76, 77]. Isto ocorre da seguinte forma, as componen-tes do tensor Raman transformam-se como as representac¸˜oes irredut´ıveis de um dos 32 grupos pontuais cristalogr´aficos. Para que haja atividade Raman associada a um determinado modo de vibrac¸˜ao, este deve pertencer a uma representac¸˜ao que contenha pelo menos um componte do tensor Raman [78]. Isto ´e, apenas as vibrac¸˜oes que pertencem `a mesma representac¸˜ao que uma (ou mais) das componentes do tensor Raman ser˜ao ativas. Durante um experimento, s˜ao as direc¸˜oes de luz incidente e espalhada que determinar˜ao quais as vibrac¸˜oes (atrav´es de suas respectivas componentes de seu tensor Raman) ser˜ao observadas.

Transic¸˜oes de fase induzidas pela aplicac¸˜ao de press˜ao (ou temperatura) podem portanto, ser observadas em um experimento de espalhamento quando alguns efeitos espectrais podem ser observados, tais como a separac¸˜ao (“splitting”), o surgimento e/ou desaparecimento de ban-das, por exemplo. Tais efeitos s˜ao resultantes de mudanc¸as de simetria do cristal geralmente acompanhados de descontinuidades nas curvas de n´umero de onda versus press˜ao em torno da press˜ao (ou temperatura) cr´ıtica.

Em relac¸˜ao aos cristais moleculares estes possuem uma estrutura mantida por uma hierar-quia de ligac¸˜oes intermoleculares4 mais fracas que as ligac¸˜oes intramoleculares (covalentes). Esta hierarquia de forc¸as de ligac¸˜oes produz uma separac¸˜ao dos modos de vibrac¸˜ao em mo-dos externos (ou momo-dos da rede) e momo-dos internos (ou moleculares), sendo estes ´ultimos de freq¨uˆencias mais altas que os primeiros [61, 76]. Como os cristais moleculares s˜ao altamente compress´ıveis, a aplicac¸˜ao de press˜ao ressalta a diferenc¸a entre as forc¸as das ligac¸˜oes no sentido que as freq¨uˆencias dos modos externos (associados `as ligac¸˜oes intermoleculares) aumentam ra-pidamente em func¸˜ao da press˜ao, enquanto o efeito da press˜ao sobre os modos internos ´e muito mais fraco [50].

4no caso dos cristais orgˆanicos de amino´acidos, estas ligac¸˜oes s˜ao essencialmente as chamadas ligac¸˜oes de

(31)

2.4 Outros efeitos de altas press˜oes nos espectros Raman 30

2.4

Outros efeitos de altas press˜oes nos espectros Raman

Em termos gerais, al´em das mudanc¸as espectrais observadas em decorrˆencia de transic¸˜oes de fase, a aplicac¸˜ao de press˜ao em s´olidos induz diversos efeitos nos espectros Raman. Um efeito imediato ´e o deslocamento de freq¨uˆencias com a aplicac¸˜ao da press˜ao ou de temperatura. Um fator determinante para isso ´e a anarmonicidade existente nos potenciais interatˆomicos.

Quando um material ´e submetido `a variac¸˜oes de press˜ao e/ou temperatura, tem as suas distˆancias interatˆomicas alteradas. Em uma analogia cl´assica, considerando-se um modelo de rede, no qual os ´atomos est˜ao interagindo com potenciais harmˆonicos, suas freq¨uˆencias de oscilac¸˜ao s˜ao independentes das distˆancias interatˆomicas. O perfil de linha de um pico Ra-man em (2.6) - representado porδ(ω−ω0)- ´e v´alido para um aproximac¸˜ao harmˆonica. O que,

em geral, se observa ´e na realidade, um perfil de uma func¸˜ao lorentziana [76]:

f(ω) = Γ/2π

(Ω−ω)2+ (Γ/2)2 , (2.7)

ondeΩ ´e o centro do pico Raman observado, com Ω=ω0+∆ corresponde a freq¨uˆencia do

fˆononω0 cujo deslocamento devido a anarmonicidade na interac¸˜ao entre fˆonons no cristal ´e∆.

Γ´e a meia largura (FWHM) do pico.

A interac¸˜ao anarmˆonica entre os fˆonons de um cristal se manisfeta no mecanismo de de-caimento de um fˆonon em outros fˆonons seguindo a conservac¸˜ao do momento e da energia. Pode-se mostrar [79, 80] que∆ e Γ, al´em da dependˆencia de fatores t´ermicos populacionais, dependem de termos anarmˆonicos da expans˜ao em s´erie de Taylor da energia total da rede. No caso de∆, a contribuic¸˜ao se d´a por termos de terceira e quarta ordem (al´em da contribuic¸˜ao de-vido ao coeficiente de expans˜ao t´ermica), enquantoΓpossui dependˆencia do termo de terceira ordem, estando associado a densidade de estados dos fˆonons produzidos no decaimento [80, 81]. Portanto, enquanto a dependˆencia deΓcom a temperatura ´e regida por mudanc¸as nos n´umeros de ocupac¸˜ao de fˆonons, a dependˆencia de Γem func¸˜ao press˜ao se d´a, fundamentalmente,por meio da contribuic¸˜ao do termo anarmˆonico de terceira ordem. Al´em dos deslocamentos de freq¨uˆencias, em geral, para valores mais altos, observa-se um alargamento das bandas Raman em func¸˜ao do aumento da press˜ao aplicada [82]. Um aspecto interessante ´e que atr´aves da me-dida5deΓ, pode ser estimado o tempo de vidaτ do fˆonon que sofre decaimento. Isto pode ser feito atrav´es da relac¸˜ao de incerteza [84]:

5Descontando-se os fatores de erros e ru´ıdos instrumentais,cuja contribuic¸˜ao gera um alargamento de perfil

(32)

2.4 Outros efeitos de altas press˜oes nos espectros Raman 31

Γ

¯h ∝ 1

τ , (2.8)

(33)

32

3

Procedimentos Experimentais

3.1

Crescimento dos cristais

Para o crescimento dos cristais de DL-leucina foi preparada, atrav´es de um agitador, uma soluc¸˜ao composta por ´agua milli-Q mais o soluto em p´o de DL-leucina proveniente do fabri-cante Sigma-Aldrich (pureza de 99 %). A soluc¸˜ao foi preparada at´e que o ponto de saturac¸˜ao fosse atingido. A soluc¸˜ao foi em seguida, filtrada, posta em um b´equer de 50 ml. Esse b´equer foi selado com filme de PVC e perfurado v´arias vezes, sendo lacrado com el´astico de borra-cha. Rapidamente foi posto em outro b´equer de 200 ml, com cerca de 40 ml de ´alcool et´ıtlico. Finalmente o b´equer maior foi fechado com uma sobreposic¸˜ao de v´arias camadas de filme de PVC, sendo tamb´em lacrado com o el´astico de borracha. Este sistema foi posto em uma mesa preparada para minimizar as vibrac¸˜oes. A mesa foi posta em uma sala mantida `a temperatura constante de 17 ◦C. Dessa forma os cristais de DL-leucina foram crescidos atrav´es de uma atmosfera de vapor de ´alcool et´ılico e vapor de ´agua, sob uma press˜ao maior que a press˜ao ambiente. Ap´os uma semana e meia foram colhidos diversos pequenos cristais com cerca de 7x3 mm2. Os cristais crescidos apresentaram diversos formatos, muitos formados de v´arias sobreposic¸˜oes de lˆaminas de cristais com diferentes orientac¸˜oes, como mostra a Figura 3.1.

Foram escolhidos com a ajuda de um microsc´opio de luz polarizada da marca leica DM 2500 P, os cristais com a aparˆencia mais homogˆenea, que possuiam um h´abito caracter´ıstico com o formato de lˆamina aproximadamente retangular (sendo ainda observada uma sobreposic¸˜ao). Com o aux´ılio do mesmo microsc´opio, foram definidos os eixos de polarizac¸˜ao atrav´es da rotac¸˜ao dos cristais, at´e se alcanc¸ar a extinc¸˜ao da luz polarizada atrav´es do cristal. Observou-se que o efeito ocorria, aproximadamente, com uma rotac¸˜ao de 90◦em relac¸˜ao ao eixo de maior di-mens˜ao do cristal. Assim, convencionou-se definir o eixo Y, como coincidente ao lado de maior dimens˜ao da lˆamina cristalina. O eixo Z foi definido como perpendicular ao plano cristalino e o eixo X foi definido como perpendicular aos eixos Y e Z, conforme a Figura 3.2.

(34)

fo-3.2 Identificac¸ ˜ao dos cristais de DL-leucina e de L-prolina monohidratada por difrac¸ ˜ao de raios-X 33

Figura 3.1: Sobreposic¸˜ao de lˆaminas cristalinas de DL-leucina com difrerentes orientac¸˜oes visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.

ram preparadas soluc¸˜oes saturadas de solvente composto por uma mistura de 98 % de ´alcool et´ılico e 2 % ´agua milli-Q, de acordo com o artigo [85]. O soluto empregado em tais soluc¸˜oes foi proveniente do fabricante Sigma-Aldrich com pureza maior ou igual a 99 %. Ap´os cerca de 20 dias os cristais com comprimento em torno de 9 mm e com formato prism´atico, conforme a Figura 3.3, foram colhidos e devido a alta deliquescˆencia1caracter´ıstica dos cristais de prolina, estes foram mergulhados em tubos contendo ´oleo mineral com o objetivo de preserv´a-los da humidade e evitar, assim, sua decomposic¸˜ao.

3.2

Identificac¸˜ao dos cristais de DL-leucina e de L-prolina

monohidratada por difrac¸˜ao de raios-X

Os difratogramas dos cristais de DL-leucina e L-prolina monohidratada foram obtidos atrav´es de um difratˆometro modelo Rigaku DMAXB operando com a linha de radiac¸˜ao Kα do cobre cuja configurac¸˜ao do tipo Bragg- Brentano com 2θ variando no intervalo de 5◦ a 50◦,

(35)

3.2 Identificac¸ ˜ao dos cristais de DL-leucina e de L-prolina monohidratada por difrac¸ ˜ao de raios-X 34

Figura 3.2: Eixos X, Y e Z para o cristal de DL-leucina visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.

a uma taxa de varredura de 0,5◦/min.

Para a identificac¸˜ao do padr˜ao da medida de difrac¸˜ao de raios-X dos cristais de DL-leucina, foi realizada uma comparac¸˜ao de difratogramas de Raios-X a a partir do arquivo cif da estrutura da referˆencia [86]. De acordo com a figura 3.4, O difratograma assinalado pela letra A ´e de po-licristais provenientes diretamente do fabricante Sigma-Aldrich sem nenhuma recristalizac¸˜ao. Em B, tem-se o difratograma calculado, atrav´es do software Mercury, por meio de arquivo cif de DL-leucina. Finalmente, C se refere ao difratograma de cristais crescidos com press˜ao de vapor de etanol e ´agua, os quais foram usados no presente trabalho.

A figura 3.4 mostra claramente, que os cristais de DL-leucina crescidos em uma atmosfera de vapor de ´alcool e ´agua apresentam excelente concordˆancia com o difratograma calculado. Confirmando-se que os cristais de DL-leucina pertencem ao grupo espacial tricl´ınico P¯1 com duas f´ormulas por c´elula unit´aria, cujas dimens˜oes s˜ao: a=14,12 ˚A; b=5039 ˚A; c=5,19 ˚A;

α=111,1◦;β =97,0◦;γ =86,4◦[86].

(36)

3.3 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes ambientes 35

Figura 3.3: Monocristal de L-prolina monohidratada visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.

Figura 3.5 mostra essa comparac¸˜ao. Atrav´es da concordˆancia das riscas escuras da referˆencia com o difratograma da L-prolina em vermelho,observa-se claramente que o o cristal hidratado de L-prolina, pertence ao grupo espacial monocl´ınico C2(C32) com quatro f´ormulas por c´elula unit´aria, cujas dimens˜oes s˜ao a=20,553(5)A, b˚ =6,304(2)A, c˚ =5,164(2)A com ˆangulo˚

β =93,61(3)°[85].

3.3

Medidas de espalhamento Raman em condic¸˜oes

ambien-tes

Os espectros Raman foram obtidos em uma geometria de retro-espalhamento (backscatte-ring) utilizando-se um espectrˆometro triplo, usado em uma configurac¸˜ao de dupla subtrac¸˜ao, modelo T64000 da Jobin-Yvon equipado com um sistema de detecc¸˜ao CCD (Charge Coupled Device), para detectar a luz espalhada, refrigerado a nitrogˆenio (N2) l´ıquido, Figura 3.6. Para a

(37)

3.3 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes ambientes 36

Figura 3.4: Comparac¸˜ao de difratogramas de Raios-X de cristais de DL-leucina. A- difra-tograma de policristais provenientes diretamente do fabricante Sigma-Aldrich sem nenhuma recristalizac¸˜ao. B- difratograma calculado, atrav´es do software Mercury, por meio de arquivo cif constru´ıdo a partir da referˆencia [86]. C- Difratograma de cristais crescidos com press˜ao de vapor de etanol e ´agua, os quais foram usados no presente trabalho.

J´a as letras B e C entre parentˆeses representam as polarizac¸˜oes da radiac¸˜ao incidente e espa-lhada, respectivamente (o que corresponde genericamente, a componente de polarizabilidade

αBC). Como j´a relatado na sec¸˜ao anterior, o eixo Y foi definido como paralelo ao lado de maior

dimens˜ao da lˆamina cristalina.

(38)

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes de altas press˜oes 37

Figura 3.5: Identificac¸˜ao dos picos de difrac¸˜ao do cristal de L prolina monohidaratada. Em vermelho, padr˜ao de difrac¸˜ao medido e em preto, riscas do padr˜ao de referˆencia da Capes cujo c´odigo ´e 32-1869.

3.4

Medidas de espalhamento Raman em condic¸˜oes de altas

press˜oes

As medidas sob altas press˜oes em ambos cristais foram realizadas com o ´oleo mineral (nujol). Os espectros Raman nas medidas de altas press˜oes foram excitados com um laser de argˆonio trabalhando na linha 514,5 nm,usado nas medidas de altas press˜oes realizadas nos cristais de DL-leucina e L-prolina monohidratada em ´oleo mineral. A potˆencia do feixe na sa´ıda do laser foi tipicamente de 280 mW. O feixe do laser foi focalizado utilizando-se um microsc´opio OLYMPUS equipado com uma lente objetiva Nikon 20X de distˆancia focal f = 20,5 mm e abertura num´erica de 0,35, utilizada para focalizar o feixe de laser sobre a superf´ıcie da amostra no interior da c´elula de press˜ao.

(39)

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes de altas press˜oes 38

Figura 3.6: Espectrˆometro modelo T6400 da Jobin-Yvon equipado com CCD.

Cr3+preenchidos por um l´ıquido, que funciona como fluido transmissor de press˜ao, Figura 3.8. O rubi serve como sensor de press˜ao permitindo que as medidas dos valores de press˜ao durante o experimento possam ser realizadas atrav´es do m´etodo do deslocamento das linhas de luminescˆencia R1 e R2 do rubi. Sabe-se da literatura [88] que as energias destas linhas s˜ao func¸˜oes lineares da press˜ao at´e o limite aproximado de 10 GPa. Em unidades de GPa, as press˜oes sobre a amostra podem ser calculadas pela relac¸˜ao emp´ırica [51]:

P= wRiw

0

Ri

7,53 , (3.1)

onde wRi pode ser a energia da linha R1 ou R2 (em unidades de cm

−1) `a press˜ao P e w0

Ri ´e a

energia da respectiva linha a press˜ao ambiente.

Finalmente, discute-se sobre a hidrostaticidade do ambiente das amostras de DL-leucina e L-prolina monohidratada durante os experimentos de altas press˜oes. Sabe-se que diferentes meios compressores exigem diferentes condic¸˜oes de hidrostaticidade quando da realizac¸˜ao de experimentos de altas press˜oes. Por exemplo, a mistura de etanol-metanol na raz˜ao de 1 : 4 mant´em o ambiente hidrost´atico at´e cerca de 10 GPa [46]. No caso do ´oleo mineral2utilizado

(40)

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes de altas press˜oes 39

Figura 3.7: Ilustrac¸˜ao de uma cˆamara de bigornas de diamante usada neste trabalho. Retirada de [41]. (1) Parafuso onde se aplica a forc¸a; (5) alavanca que transmite a forc¸a at´e um pist˜ao m´ovel no outro extremo [41].

Figura 3.8: representac¸˜ao esquem´atica de uma amostra e sensor de press˜ao (rubi - Al2O3: Cr3+)

preechidos por um meio compressor hidrost´atico, comportados em uma gaxeta met´alica entre duas bigornas de diamante com acesso ´optico.

(41)

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes de altas press˜oes 40

espectros de luminescˆencia do rubi Al2O3:Cr3+ no in´ıcio e no final dos respectivos

experimen-tos. Sabe-se que quando o rubi est´a num ambiente n˜ao hidrost´atico, a forma das linhas R1e R2

do cromo fica deformada [89]. Das Figuras 3.9 e 3.10, tanto no in´ıcio como no fim de ambos os experimentos, as linhas de emiss˜ao do rubi est˜ao com a mesma forma, o que implica na boa hidrostaticidade do ambiente de press˜ao durante os experimentos.

(42)

3.4 Medidas de espalhamento Raman em condic¸ ˜oes de altas press˜oes 41

(43)

42

4

Propriedades Estruturais e

Vibracionais do Cristal de

DL-leucina

Neste cap´ıtulo, apresentamos os dados estruturais do cristal de DL-leucina assim como os resultados obtidos por medidas de espectroscopia Raman polarizada `a temperatura e press˜ao ambientes, com a classificac¸˜ao tentativa das bandas Raman, atrav´es da comparac¸˜ao com os resultados j´a publicados sobre outros amino´acidos.

4.1

Estrutura do cristal de DL-leucina

Em condic¸˜oes de temperatura e press˜ao ambientes, os cristais de DL-leucina pertencem ao grupo espacial tricl´ınico P¯1 com duas f´ormulas por c´elula unit´aria, cujas dimens˜oes s˜ao: a=

14,12 ˚A; b=5039 ˚A; c=5,19 ˚A;α =111,1◦;β =97,0◦;γ =86,4◦ [86]. No estado s´olido, assim como outros amino´acidos, as mol´eculas de leucina apresentam a forma de ´ıon dipolar (“zwitterion”)- NH+3-CH(R)-COO−, onde R ´e o radical caracter´ıstico de cada amino´acido. Esse radical na leucina ´e um grupo isobutil -(CH3)2CH(CH2), que ´e apolar, o que enquadra a leucina

no grupo dos chamados amino´acidos hidrof´obicos.

As estruturas cristalinas de amino´acidos hidrof´obicos (leucina, valina, isoleucina, por exem-plo) possuem uma configurac¸˜ao caracter´ıstica, com a presenc¸a de duas regi˜oes distintas, uma denominada de regi˜ao hidrof´obica e outra chamada de regi˜ao hidrof´ılica. Essas regi˜oes est˜ao in-tercaladas, no sentido que a regi˜ao hidrof´obica est´a situada entre duas regi˜oes hidrof´ılicas, onde cada regi˜ao ´e, na realidade, uma bicamada. As bicamadas hidrof´ılicas s˜ao formadas por ligac¸˜oes de hidrogˆenio entre as mol´eculas dos amino´acidos, enquanto que nas bicamadas hidrof´obicas n˜ao h´a ligac¸˜oes de hidrogˆenio, apenas forc¸as de Van der Waals [90, 91].

(44)

4.1 Estrutura do cristal de DL-leucina 43

Figura 4.1: Representac¸˜ao das regi˜oes hidrof´ılicas intercaldas por regi˜oes hidrof´ılicas em cris-tais de amino´acidos hidrof´obicos. Adaptado de [92].

duas monocamadas, ver figura (4.1). Em cada monocamada est˜ao os grupos carbox´ılicos e amino, propiciando a formac¸˜ao das ligac¸˜oes de hidrogˆenio. Existem ligac¸˜oes de hidrogˆenio dentro de uma monocamada e entre duas monocamadas adjacentes de forma que, as ligac¸˜oes de hidrogˆenio dentro de uma monocamada usam dois dos ´atomos de hidrogˆenio do grupo amino, enquanto que o terceiro serve como um conector dessas monocamadas [92], de acordo com a figura a seguir:

Figura 4.2: Vis˜ao detalhada das ligac¸˜oes de hidrogˆenio entre as monocamadas da rei˜ao hi-drof´ılica, apresentada na figura (4.1). Retirado de [92].

(45)

4.1 Estrutura do cristal de DL-leucina 44

´

E interessante observar que os cristais enantiˆomeros de L-leucina, L-valina e L-isoleucina apre-sentam o mesmo grupo espacial (P21) com quatro f´ormulas por c´elula unit´aria, sendo que duas

mol´eculas est˜ao na conformac¸˜ao gauche I e as outras duas na conformac¸˜ao trans [90] e apresen-tam a bicamada hidrof´ılica com uma disposic¸˜ao classificada como L2-L2 , conforme a Figura 4.3:

Figura 4.3: Disposic¸˜ao L2-L2. Retirado de [92].

J´a os cristais racˆemicos de DL-leucina, DL-valina, DL-isoleucina, apresentam grupo es-pacial (P ¯1) com duas f´ormulas por c´elula unit´aria [90]. Nestes cristais as mol´eculas diferem apenas por serem a reflex˜ao especular da outra. Esses trˆes cristais apresentam a bicamada hi-drof´ılica classificada como L1-D1 [92] de acordo com a Figura 4.4:

Figura 4.4: Disposic¸˜ao L1-D1. Retirado de [92].

Imagem

Figura 3.1: Sobreposic¸˜ao de lˆaminas cristalinas de DL-leucina com difrerentes orientac¸˜oes visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.
Figura 3.2: Eixos X, Y e Z para o cristal de DL-leucina visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.
Figura 3.3: Monocristal de L-prolina monohidratada visto por um microsc´opio Leica DM 2500 P.
Figura 3.6: Espectrˆometro modelo T6400 da Jobin-Yvon equipado com CCD.
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Referências

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