• Nenhum resultado encontrado

PEDOFILIA VIRTUAL: CRIME OU DOENÇA?

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PEDOFILIA VIRTUAL: CRIME OU DOENÇA?"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

PEDOFILIA VIRTUAL: CRIME OU DOENÇA?

FRASSETTO,Gheuren

*

RECANELLO, LaianaDelakis

**

1 INTRODUÇÃO

A internet é uma ferramenta utilizada por todas as classes sociais, por pessoas de todas as idades, bem como pelas instituições públicas e privadas, revolucionando os meios de comunicações e trazendo benefícios e tecnologias para o desenvolvimento do homem e seu convívio em sociedade. Entretanto, tornou-se campo de ações criminosas, os chamados crimes virtuais, dentre estes, se destaca a pedofilia.

Esta temática é complexa e polêmica e seu estudo imprescindível para sua compreensão e discussão, tanto no meio jurídico quanto na sociedade em geral.

Para tanto, busca-se desenvolver o presente trabalho sob as seguintes perspectivas: a pedofilia virtual, suas características e o modus operandi do agente que usa internet para abordar crianças e adolescentes, bem como delinear sobre tipificação do ato ilícito no Código Penal (CP) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

2 METODOLOGIA

O presente trabalho utiliza-se do método dedutivo, por meio de uma pesquisa bibliográfica, que visa identificar as dificuldades existentes no ordenamento jurídico brasileiro quanto à tipificação de crimes cibernéticos, bem como se busca realizar uma análise do crime virtual de pedofilia sob a égide do direito penal e legislação infanto-juvenil.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde, pedofilia é transtorno de preferência sexual de adultos por crianças, do mesmo sexo ou de sexo diferente, portanto, uma doença, sendo

*

Acadêmica de Direito do 6º semestre, turma “A”, da Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Monitora da disciplina Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). E-mail: gheurenmtaf@hotmail.com.

**

Professora orientadora do trabalho científico. Mestra em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte

do Paraná (UENP). Advogada, professora universitária e coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão

(NUPE) da FADAF. E-mail: laiana_delakis@hotmail.com.

(2)

inserida na Classificação Internacional de Doenças (CID) -10 com o código F654 e, segundo o manual elaborado pela Associação dos Psiquiatras Americanos, apresenta como características forte atração por crianças de até 13 anos por seis meses; os desejos causam estresse e afetam as relações intra e interpessoais, devendo possuir mais de 16 anos e ser cinco anos mais velha do que a criança. As pessoas entre 17 e 19 anos não estão fora desse critério, conforme mencionado por Nogueira (2009, p. 133) .

Nesse contexto, a pedofilia em si não se constitui crime, mas a relação sexual ou ato libidinoso praticado por adulto com criança ou adolescente menor de quatorze anos. O Código Penal e o artigo 241-B do ECA dispõem que: apresentar, produzir, vender, fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer meio de comunicação, inclusive rede mundial de computadores ou internet, fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente.Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

E ainda, o ato de “adquirir, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”. Portanto, a internet é o principal meio de propagação da pedofilia. Seus mecanismos são usados para difundir esta prática por meio de fotos, vídeos e outros registros que contemplam cenas e imagens de crianças e adolescentes, de cunho sexual.

No que se refere aos crimes relacionados à pedofilia, Landini (2007, p. 171-172) disserta que “a internet, e seu uso como mídia de massa, transformou o mercado da pornografia infantil, aumentando seu público e, conseqüentemente, transformando também o seu significado”.

Os pedófilos encontram na internet facilidade para localizar suas vítimas e dificuldade para serem reconhecidos, isso se dá nas redes sociais e nas salas de bate-papo, onde usam nomes e linguagens para atrair a atenção de crianças e adolescentes, e, ainda, imagens pornográficas de personagens de desenhos animados e filmes infantis.

Segundo Reinaldo Filho (2008, p. 11), as imagens, assemelhadas aos cartoons, são conceituadas como “dotadas de animações com intenções voltadas à pornografia infantil, mas que são facilmente distinguíveis de cenas reais”.

Assim, a internet possibilita a troca de informações no mundo, possibilitando o encontro de diversas formas de apologias criminosas, dentre elas a pedofilia.

Tendo em vista a pedofilia ser considerada uma doença, torna-se necessário conhecer

como esta se constitui crime. Esse procedimento se dá em quatro fases chamadas de iter

(3)

criminis: cogitação, preparação, execução e consumação. A cogitação e a preparação são impunes, por isso não interessam ao Direito Penal.

A intervenção penal só é cabível quando os atos preparatórios são executados. Assim, o que importa são as fases da execução e da consumação, momento em que o ato é conduzido diretamente à prática do crime.

Segundo Bitencourt (2006, p. 495), “[...] o momento culminante da conduta delituosa [...] quando, no crime, ‘se reúnem todos os elementos de sua definição legal, (art. 14, I, do CP).”

A Constituição Brasileira traz, em seu art. 227, o cuidado com a criança e o adolescente, sendo dever do Estado e da família assegurar que estes estarão a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Assim, Brutti (2008, p. 22) alude que,

[...] a legislação brasileira, sem gris algum, estabelece múltiplas hipóteses de enquadramento legal daquelas pessoas que incidem em atos desvaliosos consistentes no abuso sexual de menores, a despeito de não conter qualquer tipo específico relativo ao termo “pedofilia”.

Nesse contexto, torna-se necessária uma legislação específica para os crimes de pedofilia, haja vista que alguns tribunais adotam posições com base no art. 241 do ECA, conforme posição adotada pelo O Supremo Tribunal Federal no julgamento do HC 76.689/98, tendo como relator o Ministro Sepúlveda Pertence, in verbis:

Ementa: “habeas corpus. prisão preventiva. fundamentos. acusado que exercia as funções de cônsul de Israel no Rio de Janeiro. crime previsto no art. 241 do estatuto da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/90). pena de reclusão, cujo início deve se dar em estabelecimento de segurança máxima ou média (regime fechado).

circunstância que, somada ao disposto no art. 61, ii, h do código penal, enfatiza o caráter grave do crime, o que é realçado pela existência de diversos diplomas protetivas da infância subscritos pelo brasil: declaração universal dos direitos da criança (1959), convenção dos direitos da criança (1989), 45ª sessão da assembleia geral das nações unidas, declaração pelo direito da criança à sobrevivência, à proteção e ao desenvolvimento, Convenção de Nova York sobre os direitos da criança e Convenção interamericana sobre tráfico internacional de menores.

inexistência de obstáculo à prisão preventiva, nos termos do que dispõe o art. 41 da Convenção de Viena sobre relações consulares. Atos imputados ao paciente que não guardam pertinência com o desempenho de funções consulares. Necessidade da prisão preventiva para garantir a aplicação da lei penal. Ordem indeferida.

O mesmo entendimento tem o Tribunal Regional Federal da 1ª Região:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CONDENAÇÃO

PELOS DELITOS DOS ARTIGOS 241 DA LEI 8.069/1990 E 218 DO CÓDIGO PENAL. “HABEAS CORPUS”. TESE DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

FEDERAL. ARTIGO 109-V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

INCONSISTÊNCIA. 1 – Ao contrário do que afirma o impetrante, a denúncia

atribui ao paciente dolo direto na realização do tipo, sendo certo que, ao consumar o

crime, publicando, na Internet, fotografias, contendo cenas pornográficas de sexo

explícito, envolvendo crianças e adolescentes, deu causa ao resultado da publicação

legalmente vedada, dentro e fora dos limites do território nacional, justificando a

(4)

incidência do artigo 109-v, da Constituição Federal, sem espaço para, na espécie, cogitar-se de situação de mero exaurimento do delito, quando a que se tem é sua efetiva concretização, dentro e fora do País. 2 – Irrelevância de precedente do Colendo STF para balizar o deslinde da causa. 3 Ordem denegada. (TRF 1ª Região, 2001)

Embora não sendo a pedofilia considerada crime, aqueles que praticam determinadas condutas para satisfazer seus desejos sexuais cometem crimes sexuais contra menores previstos no Código Penal (CP) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Assim, a legislação de forma acertada não se limita ao termo pedofilia, pelo contrário, ela insere os crimes sexuais contra menores em vários tipos penais. (BRUTTI, 2008, p. 21).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A legislação se mostra insuficiente para um efetivo combate à pedofilia virtual, tornando-se necessária a busca de soluções urgentes no ordenamento jurídico penal para acompanhamento das transformações sociais e tecnológicas oriundas da Internet. Esta é uma realidade bastante difundida pela rede de computadores, mostrando a necessidade de lei específica. Assim, qualquer pessoa que reproduza imagens, fotos ou vídeos de crianças e adolescentes dever ser apenada, entretanto, devem-se discutir os efeitos que tais procedimentos causam nas vítimas, principalmente no que tange a sua estrutura emocional.

Nota-se, ainda, que a pedofilia virtual cresce muito rápido, fato que gera várias discussões sobre uma melhor adequação das leis para uma proteção mais efetiva às crianças e aos adolescentes. Assim, conclui-se que, para combater a pedofilia, como o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes na Internet, tanto o Poder Público como a iniciativa privada e a sociedade em geral devem unir esforços.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO DE PSIQUIATRIA NORTE-AMERICANA DSM-IV. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4 ed.rev.1994. Disponível

em:<http//virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.´h´?co=196>. Acesso em: 21 set. 2015;

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 10. ed. São Paulo:

Saraiva, 2006. v. 1;

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988;

(5)

_____. Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em <www.planalto.gov.br> Acesso em:

20 set. 2015;

BRUTTI, Roger Spode. Tópicos Cruciais sobre Pedofilia. Revista IOB de Direito Penal e Processo Penal, Porto Alegre, v. 8, n. 47, p. 18-25, dez/jan. 2008. Disponível em:

http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10082. Acesso em;

22 set. 2015.

LANDINI, Tatiana Savoia. A pornografia infantil na internet: uma perspectiva sociológica.

In: LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra; SOUSA, Sônia M. Gomes de (Org.). A exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil: reflexões teóricas, relatos de pesquisas e intervenções psicossociais. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007;

NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Crimes de Informática: 2. ed. Leme: BH, 2009;

REINALDO FILHO, Demócrito. A pornografia infantil virtual e as dificuldades para

combatê-la: o caso do “Second Life”. Revista IOB Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre, v. 8, n. 47, p. 7-15, dez/jan. 2008;

Supremo Tribunal Federal – RHC n. 76.689-0 – Pernambuco – Primeira Turma – Relator:

Ministro Sepúlveda Pertence, DJU de 6.11.1998;

Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Relator: Des. Hilton Queiroz. Habeas Corpus nº 2001.01.00.029296-8/GO. Julgado em 28.11.01. Disponível em: <http://www.trf1.gov.br>.

Acesso em 21 set. 2015.

Referências

Documentos relacionados

2001 No Campeonato Pan-Americano realizado em Havana, Cuba, o Brasil fica em 2º lugar na prova de revezamento, com os atletas Juliano Gonçalves, Daniel Vargas dos Santos e Niltom

Meta tags são linhas de código HTML, ou &#34;etiquetas&#34;, que, entre outras coisas, descrevem o conteúdo do seu site para os buscadores ou para o browser.. É nelas que você

A presente pesquisa teve como objetivo levantar a percepção de proprietários de cães domésticos em relação a zoonoses, profilaxia e responsabilidades sobre os animais de

Os dados descritos no presente estudo relacionados aos haplótipos ligados ao grupo de genes da globina β S demonstraram freqüência elevada do genótipo CAR/Ben, seguida

Ao fazer um levantamento sobre as particularidades desta organização, da realidade de cidades do interior e de processos comunicacionais em médias empresas, com ênfase no

O  contribuinte  A.  AZEVEDO  INDÚSTRIA  E  COMÉRCIO  DE  ÓLEOS 

Jayme Leão, 63 anos, nasceu em Recife, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda criança e, passados vinte e cinco anos, chegou a São Paulo, onde permanece até hoje.. Não

Unlike the Portuguese experience, the low knowledge of the Spanish market and the strategy of establishing stores in shopping malls, similarly to Portugal, did not contribute to