• Nenhum resultado encontrado

BIBlIOTECONOMIA COMPARADA UMA REVISAo CRfTlCA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "BIBlIOTECONOMIA COMPARADA UMA REVISAo CRfTlCA"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

BIBlIOTECONOMIA COMPARADA UMA REVISAo CRfTlCA

ANTONIO MIRANDA

Chefe do Departamento de EnsinoltPesquisa CNPq/IBICT Presidente da FIO/ClA (1981 -1984)

O que diferencia, na sua essência, a bibJiotecoIlornia brasileira da que se teoriza ou é praticada em outras latitudes? Existe - real. mente -, uma biblioteconomia brasileira ou seria mais correto deno-miná-la "biblioteconomia no Brasil"?

Nlio abundam, entre nós, estudos heurísticos ou filosóficos so-bre as características e os fundamentos de nossa profissão, tal como ela se desenvolveu no Brasil. A explicação dessa quase absoluta au-sência de estudos interpretativos e avaliativos talvez seja a de que os profissionais bibliotecários estão mais voltados para as tarefas or-dinárias e pouco interessados nas razões e explicações dos fenôme-nos. Estariam mais devotados à aprendizagem do "como fazer" do que ao "porquê" das técnicas e metodologias que aprenderam. As origens dessa aparente apatia pelas causas e hipóteses, razões e teo-rias, poderiam ser encontradas também no próprio ensino ministra-do nas escolas (que se limita à transmissão de "técnicas e normas processualísticas e de mecânicas operacionais" sem questionamen-to) e na "tradiçlio" que esse ensino imediatista criou. isto é. a falsa dicotomia entre arte e ciência.

Em verdade, só recentemente começam tais assuntos a moti-var os nossos pesquisadores e suscitar o interesse do público. A

exis-4

INTRODUÇÃO

(2)

tencia de cursos de pós·sraduaçlo nu Ú'ea

ele

Biblioteconomia e Ciancia da Informaçlo vem promovendo estudos mais avaliativos e críticos, embora muitas dessas teses produzidas ainda se restrin· jam ao nível descritivo, desde uma perspectiva meramente estatís· tica, fechada em si mesma.

Verdadeiras pesquisas, com a formulaçlo e comprovaçlo de hipóteses e teorias, com demonstraçlo ou refutaçlo de axiomu. diasnosticando situaçOes e descobrindo caulU e explicando os seus efeitos, nlo slo freqUentes e surgirlo apenu quando tivermos ver· dadeiru equipes interdisciplinares devotadas

à

pesquisa. ou quando a investigaçlo individual atingir o nível de doutorado.

Sem dl1vida, vários autores recentes vem questionando as bases de nossa profissloàluz de nossa própria realidade histórica e social.

O

Professor Antonio Agenor Briquet de Lemos pesquisa os funda· mentos sociais de biblioteconomia no Brasil, tal como ela se desen· volveu entre nós, e o Prêmio MEC de Biblioteconomia e Documenta· 910 de 1978 coube ao Professor Edson Nery da Fonseca pela sua obra "A Biblioteconomia Brasileira no Contexto Mundial".

A Biblioteconomia Comparada ingressa no País pelas suas ver· tentes mais conhecidas: pelos estudos históricos (o livro do Prof. Nery da Fonseca (12) é o melhor exemplo) e pelas análises de dados de um conjunto de bibliotecas, na tentativa de extrair as suas carac-terísticas comuns e diferenciais (a tese de Milton A. Nocetti (21) é um exemplo típico).

Caberia, a estas alturas, indagar se tais estudos se circunscre-vem ou não nos limites naturais do que se convenciQnou chamar,

mtomAeiooll1monto,

do

"bibUottoOnomill OomPUllàll", 01 IlUtOrtl

oitlldol (Ntl')'

di

PonMell

(I

NootUI), 1m nlnbum momtnto

Mpro-pUllrlm

A

rtllllllÇlo

do

'Itudol oompulldol, 01 rtlultlldol, pon1m

• mál pllu ooooluIl'Jt1 I qUI oDtlUIm do qUI ptlo tndtodo qUI

tmprtprlm - Morllntlm no .nUdo Iludido, qull Mljll,

ô

dt mtor·

prttu I nOl.. blbUotloonomllll oUllotlrll4-11llm I\IllldtnUdlldt

IX-olul1va.

Sm OUUOl

lltudol

fortemente, oomPUlltivoS Zandooade

(26)

F.mandes (10) onde o mdtodo foi 1I"lido mais de

perto,

os

rotul·

tldoa do

ele

natureza mais descritiva do que avaltativos, no relativo

l

interpretaçlo intercuitura!

das

realidades nacionais, embora

te·

nham

o mlfrito do pioneirismo.

Não existe um consenso, a nível internacional, quanto ao que é e o que não é um estudo comparado, assim como são discordantes as definições de diferentes autores quanto às funções e objetivos da Biblioteconomia Comparada.

Divergências à parte, o ensino de Biblioteconomia Comparada iniCIou-se no Brasil através dos cursos de mestrado da UFMG, da UnB e da PUC/Campinas e alguma literatura especializada começa a ser produzida e consumida.

O presente ensaio pretende levantar as principais questões quanto às definições, amplitude e utilidade da Biblioteconomia Com-parada assim como suscitar a discussão sobre a função que ela pode desempenhar no processo de.planejamento e administração de biblio-tecas e sistemas de informação em geral e no processo decisório de importação de tecnologia informacional em particular.

OS ESTUDOS COMPARADOS E A BIBLlOTECONOMIA COMPARADA

São freqüentes, desde o século passado, os estudos compara-dos em outras áreas do conhecimento (Anatomia Comparada, Direi. to Comparado, Sociologia Comparada, etc.), embora os seus funda-mentos sejam bem mais antigos, sobretudo nas disciplinas históricas, onde as origens remontam à era greco-Iatina.

Uma metodologia científica, no entanto, somente se desenvol-ve nos últimos duzentos anos, e só mais recentemente se cristalizam as denominadas disciplinas comparadas com o rigor metodológico próprio.

Poder-se-ia afirmar, um tanto arbitrariamente, que a compara-ção está na base de todo processo crítico e interpretativo mas que somente a existência de um método diferenciaria um trabalho me-ramente "comparativo" de outro especificamente "comparado". No primeiro caso ("comparativo"), com conotações objetivas, se caracterizariam os estudos menos sistemáticos, mais de natureza especulativa e intuitiva. No segundo caso ("comparado"), em seno tido substantivo, entrariam os estudos onde são aplicadas as técni-cas de justaposição/interpretação intercultural de dados. Na prá-tica, não é o método que garante (embora possibilite) o resultado de

(3)

1 I11

,II I!,I 1'1' II! I',II

1'1

I'

III' I!I: III , I II,

i:1

'" i,l: :1:

" I"

"

'""I "I ," 'Ii II':

I I

I

I I

I

I

uma pesquisa, haja vista os exemplos dos trabalhos de Nery da Fon-seca e Nocetti.

S.:ja como for, é a formulação do método que vem caracteri-zando as diferentes disciplinas.

De tal maneira assim é . como discutiremos mais adiante -, que alguns autores se perguntam se não seria mais correto chamar "Méto-do compara"Méto-do de biblioteconomia" em vez de biblioteconomia com-parada" como se pretende.

A Biblioteconomia Comparada, no tocante aos métodos de pesquisa, tem muito a dever às demais disciplinas comparadas, mas principalmente à Educação Comparada, razão por que discutiremos esta última mais detalhadamente, a seguir.

EDUCAÇÃO COMPARADA E AS ORIGENS E RAZÕES DA BI-BLlOTECONOMIA COMPARADA

Desde os pioneiros Matheus Arnold (Inglaterra) e Horace Mann (EUA), no final da primeira metade do século passado, até os mais recentes especialistas, subsistem duas aobrdagens básicas na Educa-ção Comparada, que podem ser aplicadas à Biblioteconomia Compa-rada.

A primeira, seria uma "abordagem filosófica", na tentativa de entender a Educação (leia.se, alternativamente, Biblioteca) como um processo dirigido, em qualquer lugar, em todos os tempos, pelos mes-mos princípios universais.

A segunda, seria a "abordagem empírica ou científica", na ten-tativa de observar como o processo da Educação funciona na prática. As duas abordagens são, em verdade, válidas conforme os pro-pósitos do estudo em questão e podem funcionar até de forma com· plementar, embora os adeptos da primeira nem sempre se ajustem à disciplina da segunda, e vice-versa.

Conseqüentemente, os estudos comparados parecem não es· capar ao conflito maniqueísta entre a corrente de pensamento "ra-cionalista/universalista" e a do "particularismo" de sistemas ou fe-nômenos isolados no tempo e no espaço.

Da mesma forma que a explosão da educação nos estados na-cionais provocou o desenvolvimento lógico de estudos comparados dos diferentes sistemas educacionais, a explosão da informação, com

a mesma variedade de soluções técnicas e teóricas das unidades de controle e disseminação da informação, deu lugar ànecessidade dos estudos comparados na área de biblioteconomia.

Modernamente, administradores, legisladores e profissionais em geral, estudam não somente a sua própria experiência mas tam-bém (possíveis) fatores comuns e gerais de outros países que possam facilitar o entendimento de sua própria realidade.

No caso específico dos países subdesenvolvidos (em geral ex--colônias e ainda dependentes de centros gravitacionais-cuIturais fora de suas fronteiras), os estudos comparados (na Educação em parti-cular e, mais recentemente, na BiblioteconOmia) são promovidos para favorecer o ecletismo e evitar o excessivo apego ao "sistema herdado" ou "importado", não apenas pelo eufemismo maior do desejo de "independência cultural" (pela falta de uma autên tica tradição local), mas sobretudo pelo desejo de superar as implica-ções econômicas que tal dependência suscita.

As razões do desenvolvimento da Educação Comparada pri-meiro, e da Biblioteconomia-Comparada na atualidade, além da idéia do ecletismo e da definição de um produto nacionalista e an-ti·imperialista, perseguem outros objetivos. Entre eles, o de desen-volver uma "compreensão internacional" em vista das pressões ten-dentes àinternacionalização, provocadas pelo extraordinário avanço das comunicações, aproximando os povos e as nações, conforme os ideiais da "aldeia global" preconizados por McLuhan. Pretende-se evitar o "unilateralismo", o nacionalismo xenófobo, o paroquialis-mo cultural exacerbado. Parte-se da premissa de que o internacio-nalismo facilita o conhecimento e a compreensão de outros povos e sistemas, para evitar preconceitos e simpatias extremadas e para ga-rantir ao processo decisório de importação de tecnologia uma base mais científica e menos subjetiva ou alienadora das realidades em estudo.

(4)

, mndo dos melhores estudos comparados, realizados na área ,(;ão, não está apenas a preocupação acadêmica e

epis-<a, mas sobretudo, a necessidade de estabelecer

compara-c'"~ resultados dos sistemas de educação e de como lograram

'e wrminados resultados. No caso da Biblioteconomia

Com-t:iseria a causa fundamental, qual seja a de determinar as

.ks e diferenças dos sistemas com os quais interagimos, '"" de decidir sabiamente nas ações da importação de

tec-J" 'u'''' Li implantação de novos serviços, etc., como para evitar

!"speidício, a dependência, a repetição de erros já superados 13titudes.

. .; ,;studos comparados possibilitam ao pesq~isador - e daí o

,,;Uéf"teleológico -'a ."antevisão" de sistemas em planejamento

,nálise de similàres bem sucedidos ou fracassados. Não sendo

.I,tldcio estéril de "futurologia", um estudo comparado pode

>,'

ao planejador uma visão de como deve funcionar o seu sistema

graçasàinterpretação de um ou mais similares, quando for o caso. Tais estudos começam a ser uma exigência dos governos nas justificativas na hora da implantação de um novo serviço ou de im-portação de experiência estrangeira, o que bem atesta o prestígio que a pesquisa científica vem ganhando na área do planejamento edaadministração de recursos.

Uma última razão do desenvolvimento da Educação Compa-rada. baseia-se no conceito fIlosófico e sociológico da origem român-tica.. na linha de Herden ou de Humboldt, que apregoa que cada cultura e cada nação, independentemente de seu estágio de desen-volvimento, é digna de estudo. Estudar a biblioteconomia do Pa-raguai pode resultar tão válido e útil quanto pesquisar e interpre-tar sistemas sofisticados e desenvolvidos, pois pode levar-nos a desco-bertas surpreendentes, Esse ideal da democratização e igualitarismo no pensamento contribui para os estudos comparados, como veremos mais adiante.

A conseqüência de todo esse processo de levantamento/aná-lise no planejamento/administração de sistemas educacionais parece ser a aceitação de uma sistematização uniforme e uma centralização da administração da educação a nível nacional, No caso dos siste-mas de informação - que estão menos estruturados, no Brasil, do que os de educação - a sistematização é ainda precária e a centrali-zação inexistente, mesmo a nível de coordenação.

Como, entro, atingir o objetivo supremo, qual seja o de aper. feiçoar a pmtica da biblioteconomia atrav's do aperfeiçoamento do .studo aiobal da própria biblioteconomia brasileira?

Sem dl1vida aIauma, as reforma na Educaçro em vários países se devem

às

análises internas, mas tamMm pelos estudos das

conquis-tas

de outras nações. O desenvolvimento da biblioteconomia

brasilei-ra

ou do Brasil • conforme o Ansulo -, vai depender mais de estudos interculturais do que pura e simplesmente da emulação cega de mo-delos estrangeiros ou de análises situacionais fechadas e intranscen. dentes.

Os resultados desses estudos podem ser quantificados, e as comparações interculturais podem facilitar a tarefa de distJnauir o que " universal e de permanente import4ncia daquilo que , ocasio-nal e circunstancial. Tal comparaçro nlo pode ser meramente quan-titativa, mas, sobretudo, qualitativa, o que implica em uma escalade

valores complexa, compreendida no enfoque intercultural, como será discutido oportunamente.

Uma abordagem comparada, conforme a experi6ncia da Edu· caçlo Comparada, compreende quatro elementos básicos: a descri· 910 do fenômeno em estudo, a sua explicaçlo, a previslo de um

~3tema pelo conhecimento de seu(s) similar(es) e a apUcaçlo dos

resultados da pesquisa no aperfeiçoamento do sistema em estudo. Aqui, chegamos às bases pragmáticas e utilitárias do método no pIa-nejamento e na administração.

Estudos comparados, no entanto, exigem requisitos de quem pesquisa e certas características mínimas no fenômeno a ser pesqui-sado, sob penadese chegar a resultados insatisfatórios. Os problemas

de

método ainda nfo estão plenamente equacionados,.nem na Edu-cação Comparada, muito menos na Biblioteconomia Comparada, que segue os seus passos.

Seja como for, uma aproximação é melhor do que a não-reali. Z&Çlo, se queremos evitar o atualmente longo e tortuoso caminho do progresso por "tentativa e erro"...

(5)

sensíveis e conseqüentemente mais críticos de nouos objetlvos e ideais." Em outras palavras, poderemos aquilatar e precisar a pOli-çlo de "biblioteconomia braslleira no contexto mundial", como preconiza Edson Nery da Fonseca.

DAS DEFINIÇOES E DAS QUESTOES DO INTERNACIONALISMO

Um exaustivo estudo comparativo das diferentes definições de Biblioteconomia Comparada foi empreendido por J. Periam Danton (8), na obra "The Oirnension of Comparative ubrarlanahip".

Em língua portuguesa, a primeira síntese de definiçl5es foi feita por André de Figueiredo (11), com anteced!ncia ao trabalho de J. Periam Oanton.

O especialista norte-americano coletou, em ordem cronol6-gica, todas as defmições publicadas desde 1954, quando o termo "biblioteconomia comparada" foi cunhado por Chase Oane, até 1972 (ano em que concluía a revislo de literatura), passando por Louis Shores, Anthony Thompson, Oorothy Anderson, Sylvia Sirnsova, O.J. Foskett, William Vernon Jakson e Lester

Asheim,

entre outros.

Em verdade, J. Periam Oanton compilou e classificou as

de-finições no afII de determinar a sua terminologia e a amplitude da própria Biblioteconomia Comparada. Tal estudo o levou a duas aparentes distorções: primeiro, ao dar um enfoque enfaticamente acadêmico à disciplina e, em segund~ lugar, ao ressaltar o

aspecto

necessariamente internacional da Biblioteconomia Comparada.

Segundo a compilação de Oanton, a Biblioteconomia Com-parada seria:

a "análise de bibliotecas, sistemas de biblioteCtls, alguns

aspectos da biblioteconomia, ou problemas

bibliot«d-rios em dois ou mais ambientes nacionais, cu1tumis e sociais, nOs termos de seus contextos a6cio-polfticos, econ6micos, cultumis, ideológicos e históricos, cuja análise visa entender as simi1luidades e as diferenças,

com o propósito principal de propor generalizllções

e princípios válidos':

<C"l

Infere·se, da defmição proposta por Danton (defmição que re. sultou na síntese das defmições de outros autores por ele escruti. nados), que a Biblioteconornia Comparada é basicamente inter. i nacional, e que ela, deixando de ser provinciana e tímida, poderia chegar a generalizações mais válidas que possibilitassem o surgi>-mento de leis e princípios necessários ao desenvolvisurgi>-mento de umà verdadeira "mosofia de Biblioteconornia".

Danton arrematou a sua defmição colocando em evidéncià "

l-a necessidl-ade de l-a novl-a stlbdisciplinl-a bl-asel-ar-se em dl-ados e do. cumentos, mediante o uso de métodos comparativos e sempre numa base "cross-societal", vale dizer, entre duas sociedades diferentes. D.J. Foskett - que fora muito criticado por Danton - aparece em li-vro posterior defendendo-se com fma ironia, aclarando que tais di-ferenciações "não devem ser tão diametralmente opostas como ra tornar a comparação impossível e nem tão semelhante como pa-ra que a compapa-ração seja inútil"...

O livro de Danton, embora seja até agora o mais extraordiná-rio intento de síntese, foi considerado por muitos como devastador e, infelizmente, chegou a algumas conclusões contraditórias e de di-fícil sustentação. Uma delas parece ter sido a incapacidade de Dan. ton de isolar plenamente a "Biblioteconomia Comparada" do que se convenciona identificar como "Biblioteconomia Internacional" pois o autor insiste na tecla de que a comparação só será válida quan. do exercitada sobre duas sociedades diferentes (embora admitindo pudesse ela ser feita, por exemplo, entre as comunicades de língua francesa e inglesa do Canadá). Praticamente, ele não reconhece a possibilidade de uma comparação de técnicas em diferentes institui. ções dentro de um mesmo país como parte da Biblioteconornia Com-parada, embora esse tipo de comparação seja prática normal em ou-tras disciplinas comparadas da área das demais ciéncias.

(6)

Um dos propósitos do livro é "identificar os aspectos objetivos e as características da Biblioteconomia Comparada justamente para distinguir esta da variedade internacional de estudo", precisamente para mostrar que "estudos comparados não são necessariamente· em verdade freqüentemente eles não são . comparativos". Pretende também demonstrar que, sendo o propósito de formular compara-ções chegar-se a conclusões sobre a natureza e o curso de eventos, os estudos comparativos são básicos para a prática da Bibliotecono-mia nos seus aspectos técnicos assim como também nos seus aspec-tos sociais e administrativos.

Em síntese, segundo Foskett, a Biblioteconomia Comparada é "aquele ramo da Biblioteconomia e da Ciência da Informação e do qual um número de sistemas sua estrutura, funções e técnicas -é examinado com o propósito de colocar tais aspectos dentro de um marco de referência aplicável para todos eles; o estudo do pa-pel que cada um desses aspectos desempenha no desenvolvimento do sistema, para julgar sua significação em relação tanto com os ou-tros aspectos do mesmo sistema como com ouou-tros sistemas; tendo como objetivo avaliar as causas e os efeitos e, a partir daí, formular hipóteses - quando apropriadas - como o melhor dos meios para o desenvolvimento posterior de um ou mais sistemas.

A novidade da defmição proposta por Foskett é não colocar o aspecto. internacional como conditio sine qua non, advogando

por um objetivo prático sem o qual torna-se um estéril exercício acadêmico, como o praticado por alguns cultores da bibliometria. Foskett não faz referência à interdisciplinaridade da Bibliotecono-mia Comparada, mas ele mesmo reconhece que uma disciplina cien-tífica, baseada na metodologia sistemática, dificilmente pode ser aprisionada numa defrnição global.

Uma terceira obra surge mais recentemente (1977), onde os termos "comparado" e "internacional" são analogados: "Compa-rative & International Library Science", compilada por John l<.

Harvey (14). A Babel restaurada. Não existe ainda - apesar do es-forço coordenador do editor do livro - um denominador comum entre os especialistas na questão das defmições.

O fato de o pesquisador ser um consultor internacional da UNESCO credita-o para que seu relatório seja enquadrado na cate-goria de internacional se o tema é um determinado país (por

exem-pIo, O relatório de Mr. Bell sobre a Venezuela)? Em caso positivo,

é então a nacionalidade ou a sua condição de consultor que deter-mina o caráter "internacional" de seu relatório? Um estudo dos hábitos de leitura da classe média comparados com os da classe operária pode ser feito no âmbito da Biblioteconomia Comparada? Há quem afirme que sim (Simsova), enquanto outros afirmam que não (Danton). Uma contribuição à confusão geral?

Danton afirma que a análise das bibliotecas públicas dos dife-rentes cantões da Suíça, devido às influências "externas" em seu

uni-verso ideológico e cultural, é um bom exemplo de estudo comparado "intercultural". Outros afIrmam que a comparação deve ser necessa. riamente entre nações e que o que defme é a explicação do porque das diferenças e similaridades, e não o seu como. Onde começa a Biblioteconomia Comparada e onde termina a Biblioteconomia In. ternacional? Se aceitamos a assertiva de que a Biblioteconomia Com. parada só é possível na base da comparação internacional, então a Biblioteconomia Comparada é uma parte menor da Biblioteconomia Internacional, justamente aquela parte onde o método comparado é empregado.

O livro organizado por Harvev não traz qualquer alusão a este aspecto. As dúvidas persistem, mas, felizmente, a utilidade da Biblio-teconomia Comparada parece despontar além destas questiúnculas semânticas e acadêmicas. Trata-se de um instrumento válido para comparar diferentes sistemas de bibliotecas ou de seus componentes, com vistas a determinar as causas e efeitos de suas diferenças e seme-lhanças, de modo a orientar planejadores e administradores na

toma-da de decisões pertinentes ao processo de desenvolvimento de seus próprios sistemas. Utilidade crucial num mundo como o nosso, on. de as técnicas e os nomes, assim como os serviços bibliotecários,ex-travasam fronteiras e são aceitos sem um julgamento consciente de suas conseqüências.

O leitor encontrará defmições do que é ou pretende ser a Bi. blioteconomia Comparada nos livros de Foskett e Danton. Cabe-ria aqui o exercício lúdico de oferecer a mais atualizada, concisa e "pura" defmiçlIo do que seja "Biblioteconomia Internacional".

(7)

biblio-tecários e documentários comuns, assim como a Biblioteconomia e a profissão do bibliotecário em geral, em qualquer lugar do mun-do". Danton considera esta defmição de J. Stephen Parker a mais "thoughtful and analytical", a "melhor até aqui proposta e a melhor citada até agora". Sem dúvida. Dizemos que caberia o "exercício lú-dico", porque destrinchar as fronteiras entre a "comparada" e a "in-ternacional" é ainda um quebra-cabeças. Se não, vejamos. Se aceita-mos a defmião de Parker do que se entende hodiernamente como "Biblioteconomia Comparada", tal como a louva e propala entusias-ticamente o cervantesco J. Periam Danton, caberia uma pequena dúvida. Ora, se a Biblioteconomia Internacional, segundo a citada de-fmição de Parker, pretende "avaliar", em bases internacionais, os serviços bibliotecários de duas ou mais nações, em que base se efe-tuaria a tal "avaliação"? Com métodos comparados? Se não, então a Biblioteconomia Internacional conforma-se com estudos "descri-tivos", sem "base científica", na sua tarefa comparativa? Seja como for, tudo indica que, de fato, cresceu bastante a literatura sobre Bi-blioteconomia Comparada mas, em contrapartida, os estudos com-parados continuam escassos, raros e insignificantes. Construir uma defmição - como pretendeu Danton~ a partir de artigos teóricos que expressam mais intenções do que realizações, é um terreno mo-vediço e sediço. Em contraposição, uma defmição a partir da análise e avaliação dos próprios estudos comparados já realizados nos leva-ria a uma defmição operacional e metodológica de maior consistên-cia, tarefa ainda não empreendida. Tanto uma defmição teórica (co-mo a de Danton) quanto outra operacional seriam válidas e até com-plementares conforme os objetivos, sejam acadêmicos, sejam práti-cos.

ABORDAGENS À PESQUISA

Vários autores já observaram que a Biblioteconomia é excessi-vamente dependente de normas e de regras práticas, razão porque se a considera mais como uma arte do que uma verdadeira ciência.

As tentativas de elevar a biblioteconomia ao nível científico vêm enfrentando difictPdades sobretudo por causa da falta de tra-dição de pesquisa entre profissionais e, também, pelos problemas inerentes às ciências sociais em geral. Estas, ao contrário das

ciên-cias puras e exatas, ainda não desenvolveram metodologias plena-mente confiáveis. Existe ainda uma proporção muito considerável de subjetividade na pesquisa social, ao contrário da margem de ob-servação, experimentação e demonstração que é mais sólida nas ciências puras e aplicadas.

A formulação de hipóteses, o processo de experimentação e o estabelecimento de leis e princípios só agora começam a ser tenta-dos e testatenta-dos na biblioteconomia desde os pioneirismos de Ran-ganathan, Zipf-Bradford, etc. Apesar desse esforço de cientificização da biblioteconomia e da ciência da informação, com o apelo às ma-temáticas e àcibernética, àteoria de conjunto, de fIla, de sistemas, ainda a nossa profissão se modela e se desenvolve pela camisa de força dos dogmas e das normas, deixando pouca margem para a criatividade e para uma metodologia "de laboratório". A observân-cia de códigos e processos, de "técnicas" consuetudinárias e de nor-mas ritualísticas é a regra enquanto que a aceitação de leis e princí-pios é ainda excessão.

As chamadas leis e princípios e os métodos estatísticos são mais apelações de ordem acadêmica do que uma constante na prá-tica bibliotecária. Raramente um bibliotecário apelaria para uma teoria da fIla para ordenar a demanda de seus usuários ou valer-se-ia da lei de Zipf·Bradford para racionalizar o processo de avaliação de material bibliográfico. Mas esse esforço de elevar o nível científico não é apenas uma perseguição a status mas fundamentalmente de

elevação de nível geral da profissão para torná-la mais útil e confiá-vel e - por que não admití-Io? . mais rentáconfiá-vel para os seus

pratican-tes.

Estudos mais científicos (o que não significa que sejam neces-sariamente sofisticados) podem conduzir-nos à sistematização de nossas observações, levando-nos a decisões menos arbitrárias por-quanto baseadas em hipóteses testadas em vez de em opiniões extem-porâneas e preconceituosas. Em outras palavras, devemos sair do

clu-be

do achismo ("eu acho isso e aquilo") e dar um cunho mais cientí-fico aos nossos métodos de estudo e trabalho, se queremos elevar a biblioteconomia ao nível técnico e científico.

(8)

de comparação eficaz e de reunir e interpretar dados realmente confiáveis. Aqui começa o maior dilema da Biblioteconomia Compa-rada.

Em primeiro lugar pela dificuldade para a obtenção de dados conforme já foi referido anteriormente, devido que as nossas esta-tísticas (não raras vezes) fictícias e ilusórias, inacessíveis para a maio-ria enquanto que uma observação direta nem sempre é possível.

Em segundo lugar, um método próprio a Biblioteconomia Comparada ainda não possui. Ao contfario, várias metodologias vêm sendo propostas, tomadas emprestadas de outras ciências, mais no-tadamente da Educação Comparada.

Conforme salienta André de Figueiredo (11), as comparações podem ser realizadas de diferentes maneiras, de conformidade com o assunto em questão e com os propósitos da pesquisa:

a. pesquisa retrospectiva de um problema específico para de-terminar as causas de um resultado fmal;

b. estudo e avaliação da teoria e prática de outros países; c. observar e estudar problemas sob o aspecto das influências

sociais-l].istóricas a fun de determinar como surgiram dife-rentes métodos;

d. podemos comparar entre si métodos diferentes sob o ponto de vista de sua eficiência em função de uma fmalidade espe-cífica;

e. estudar e comparar todos os tipos de trabalhos publicados; f. avaliar e interpretar sob o ponto de vista da experiência e

do conhecimento individual, histórico, de casos relativos a problemas nacionais e internacionais.

Pode-se deduzir das observações de Figueiredo, que da defmi-ção do problema em estudo depende a eleidefmi-ção do método mais ade-quado. A escolha de um método errado pode conduzir a resultados parciais ou insatisfatórios.

ETAPAS DE PESQUISA

Em primeiro lugar, conforme observam Simsova & Mackee (25), está a estapa da percepção, formação e formulação do

proble-ma a ser investigado, conforme o ritual clássico da metodologia da pesquisa.

Bm segundo lugar, já tendo isolado do conjunto o fenômeno do problema em estudo, procederá o pesquisador à tarefa da defIni-çio de conceitos e formulação de uma hip6tese de trabalho. Nessa etapa, o problema é dissecado e interpretado e são aventadas as pos-síveis causações e eventuais hipóteses, quando necessárias.

Em terceiro lugar, procede-se àobservação, registro e inter-pretação de dados, mediante o que a hipótese é testada e verificadã. Esta seria a fase crucial, pois o pesquisador deverá valer-se de técni-cas auxiliares, entre elas as da justaposição, conforme será explici-tada mais adíante. A propósito, observa Foskett, neste exame in-dividual de duas ou mais situações determinadas no espaço e no tempo, deve-se analisar as relações entre as várias partes, suas in-ter-relações. Deve-se, ainda, observar o resultado das diversas aná-lises de cada caso, colocando-as lado a lado, em justaposição, num modelo conceitual, para facilitar a comparação dos dados e a inter. pretaçlo dos fenômenos.

'Bereday (2) defme a justaposição como uma "combina-ção prellminar de dados de diterentes países, a f"un de prepará.los para comparação. Tal combinação deve incluir a sistematização de dados de tal forma que possam ser agrupados sob categorias idênti. cas ou comparáveis para cada país estudado".

A justaposição tem' por objetivo arrolar os dados sobre deter-minados países QU situações individualizadas para permitir a sua vi.

sualização e facultar a busca de um padrão de comparação.

Em quarto e último lugar, procede-se à generalização

(9)

Sumariando todo o processo, Burnett (4) enfIleira as etapas da seguinte maneira:

a. escolha e deftnição do tópico a ser comparado; b. estabelecimento e mostra da evidência; c. interpretação da evidência;

d. justaposição para revelar elementos semelhantes e diferen-ciais, e

e. avaliação e conclusão.

Fica evidente, pelo exposto, que a metodologia geral não difere das pesquisas em outras ciências sociais e, mais precisamente, da Educação Comparada.

PROPOSIÇOES METODOLÓGICAS

Como ftcou explicitado nas seções anteriores, a Biblioteco-nomia Comparada ainda não desenvolveu um conjunto de técnicas próprias, valendo-se de procedimentos metodológicos de outras disciplinas no campo das ciências sociais.

PROPOSIÇÃO DE BURNETI

A proposta de Bumett (4) é eclética e tem origem em meto-dologias diversas, dando muita ênfase aos fatores positivos e nega-tivos no processo da pesquisa.

Em primeiro lugar, destaca as características de personalidade do pesquisador, analisando os problemas da motivação, da proprie-dade e conveniência do lugar da pesquisa e do momento em que es-ta se realiza.

No caso brasileiro, ftca evidente que as condições ambien-tais para a pesquisa não são muito favoráveis e que um estudo envolvendo viagens ao Exterior exigirá um suporte económico difícil de ser assegurado, por falta não apenas de recursos mas do reconhecimento da necessidade de pesquisa dessa natureza. Ou-tros fatores inibidores seriam a literatura escassa; a necessária vi-vência do pesquisador no Exterior, anterioràpesquisa; as barreiras políticas e culturais que diftcultam não só os contatos mas o

enten-dimento; as crises internas dos países; o desinteresse pelos proble-mas de países menos desenvolvidos e a falta de criatividade do bi. bliotecário.

Temos que considerar também os fatores distorcidos, como os da omisslo de dados ou de juízos, seja por cortesia seja por insuft-ciência da evidência. Afmal, quando o pesquisador escreve o seu re-latório conclusivo, tende a suavizar as críticas, em consideração à atenção recebida do País visitado. Por outro lado, Burnett eviden-cia o problema (Provável) da incompetêneviden-cia do observador, seja por falta de conhecimentos técnicos e proftssionais, seja pela falta de experiência de vida proftssional compatível com a pesquisa seja pela falta de objetividade no estudo ou pelo exercício de preconceitos ge-neralizados (tanto quanto ao seu próprio ambiente o que distorce as evidências envolvidas).

Na descriçfo de seu método, Burnett se estende sobre os problemas da evidência, chamando a atençfo para uma provável inadeqUaçfo de dados devido àexistência de estatísticas parciais dos serviços, nfo raras vezes falsas, com excesso de detalhes, com ele-mentos imprecisos e confusos, com enfoques interpretativos muito locais, portanto difíceis de serem entendidos e generalizados. Tais problemas nos levam ao conflito maior dos estudos comparados: como mensurar e avaliar dados que não são, por sua natureza, men-suráveis e como comparar e confrontar dados que envolvem valores e atitudes diferenciados?

Problemas do~todo

(10)

iD-dependell1 do pesquisador, e cita o exemplo de que os astrônomos .,recisam de telescópio mas a sua compra e instalação não faz parte ,1a astnhlornía. Da mesma maneira, pode-se deduzir que o manejo das variáveis e de dados eventualmente implicariam no uso de com-putadores cuja existéncia independe de qualquer método.

A construção do modelo

A realização da pesquisa implica, necessariamente, a constru-ção de um modelo metodológico. Tal modelo consiste na determi-nação das classes genéricas envolvidas e na separação das classes específicas, para facilitar, na fase da justaposição e interpretação das evidénciais, o estabelecimento das inter-relações e dependén-cias. Não desce a maiores detalhes que explicitem, com absoluta segurança o processo de defmições das categorias genéricas e espe-cíficas. No entanto, chama a atenção para determinados perigos na elaboração do modelo, ,como sejam o de querer ajustar a realidade à nossa visão, o de correlacionar teorias com fatos ou o de corrigir os fatos através das teorias.

Na elaboração de um modelo, Burnett se refere à possibilidade de modelos simples ou unitários e aos modelos múltiplos, ainda não plenamente desenvolvidos, que permitem a implicação e interpreta-ção de um número maior de dados e de variáveis, ao mesmo tempo, de um mesmo fenômeno.

A etapa da justaposição é considerada como um processo mecânico no qual são colocados, lado a lado, para facilitar a com-paração, as identidades envolvidas no fenÔmeno em duas ou mais realidades. A concepção do modelo de justaposição surge da pró-pria interpretação da evidéncia, sendo que os elementos a serem isolados e colocados lado a lado dependerão da própria hipótese em discussão.

A etapa mais difícil é a da avaliação, ou da interpretação crítica. Existe sempre o perigo de se tentar explicar em vez de ena tender. Não basta apenas defmir o campo de estudo, selecionar a evidência relevante, dissecá-la e compará-la. O mais importante é estimar o seu valor. Para Burnett, avaliar é medir a eficiência, que é entendida como "a função de sucesso dos meios usados para alcançar um determinado fim ou objetivo". De fato, se se-guirmos a orientação de Foskett de que a pesquisa visa a

inter-pretaçlo e a eventual emulação de processos e métodos para im. pulsionar o desenvolvimento da administração de recursos, é a avalíaçlo dos resultados o objetivo fundamental. Trata-se de bus-car os elementos suscetíveis de quantificação, mediante a eleição de critérios de avaliaçllo que garantem um máximo de objetividade e um mínimo de julgamentos culturais e subjetivos. Essa avaliação inclui nllo apenas o julgamento da eficiéncia dos meios mas tam-bém da efetividade do sistema para medir o sucesso dos fins alcan. çados. Considera-se, no entanto, a otimização tática do' objetivo, isto é, o atingimento das metas como apenas um meio e não um fun em si mesmo, para evitar uma possível supervalorização. Tor-na·se evidente que, no processo de avaliaçãot o pesquisador deverá observar e isolar os objetivos do(s) sistema(s) estudado(s), sua ava-liação e determinar e julgar os meios empregados para atingí-Ios.

Caberá ainda separar os chamados "propósitos estabeleci-dos" - que se constituem mais em intenções do que em objetivos mensuráveis - dos intitulados "propósitos reais" que consubstan-ciam as metas estabelecidas pelas necessidades concretas e tangí. veis, em cuja análise as causas atuais e reais são detectadas e diag-nosticadas de acordo com cada situação em particular.

Problematicamente, a abordagem de valores requer indepen-dência ideológica do pesquisador, um espírito de objetividade acura-do e uma perspectiva ftlosófica e conceitual para inferir e extrair leis, princípios ou simples generalizações com a isenção e a amplio tude requeridas.

Burnett conclui chamando a atencão para possíveis dificul-dades na apreciação de valores que determinam objetivos que diver-gem de país para país; quando se deve levantá·los conforme a sua importância e debaté-Ios, plena e claramente, livre de preconceitos culturais, sociais, políticos ou religiosos. Por outro lado, quando os objetivos entrarem, eventualmente, em conflito com as necessi-dades, ou quando os objetivos se tomarem inviáveis com os recur-sos disponíveis, ou ainda quando os objetivos forem incoerentes com a prática profissional internacional, então faz·se necessário re-ver atitudes e objetivos como um todo.

(11)

Nfo bastará, para os efeitos daanálise, a identificaçlio desses "isolados" pois se faz neceSSário na etapa seguinte, estabelecer os ieladonament08 existemes entre os isolados identificados no fenô-meno em estudo.

e

quando Simsova apela para as teorias de Farra-dane, na área de classificaçã'o, no uso de operadores.

PAfS2- URSS

_ ... ESTADO

OsoperadoresdeFarradane

Originalmente propostos para facilitar a compreendodas inte-caçl'és entre unidades no sistema

de

classificação, na mesma linha da concepçã'o "facetada", daclassificação, os "operadores" de Far-radane (9) do propostos por Simsova para sirnl'lificar o estudodas relações entre "isolados".

Os principais ooeradores de Farradane do os seguintes:

I: Depend&1cia funcional 1- Reação

I; Associação I ( Pertinência

I"

Cooperaç!o ou Concordância

I.. Equivalência

Aplicando os supracitados operadores ao "problema do controle do dano do catálogo pelos cupins" descobrem.se as seguintes inter--relações:

CATÁLOGO I - DANO I. CUPIM I - DESTRUIÇÃO I:

PESTICIDA I; CATALOGADOR

Indo mais longe na aplicaçã'o do método exposto de análise, eladisseca o problemadasinter-relações "autor-editor-livreiro-biblio. teca-governo local e Estado" na Grã-Bretanha e na União Soviética.

ESTADO - . . GOVERNo

-'"""",""-AUTOR

mBU~

A~

'Wc

AL

'In>n~'/"

:R

~

\-TAJ>IRO oe .. EDITOR EDITOR LNREIRO

!Ptoblema: O relacionamento entre o autor e a biblioteca pública na " Grã-Bretanha e na Uniã'o Soviética.

PROPOSIÇÕES DE SIMSOVA

A tecnologia proposta por Sylvia Simsova (4) é mais com· plexa e sofisticada, com apelações à teoria de sistemas, à ecologia, à antropologia e a educação comparada. Ao contrário de Burnett, que enfoca o método de forma clássica dentro dos procedimentos lógicos da investigação científica tradicional, ela pretende desen· volver um instrumental mais preciso. Primeiramente, explicando o método da macro.sociologia baseada na generalização, por um pro-cesso indutivo. Salienta, no entanto, que uma generalização não poderá limitar·se a um único dado mas à manipulação de dados adicionais. Completa essa panorâmica citando a teoria de Foskett dos níveis integrados, que reza que tudo parte do mais simples chegando ao mais complexo pela acumulação de propriedades. in-versamente, todo fenômeno complexo pode ser decomposto em seus elementos mínimos para facilitar a identificação dos diferentes ele· mentos em jogo e suas inter-relações, tal como se entende na mo· 4erna engenharia de sistemas. Esse processo de análise de dados com-plexos através da sua decomposiçlio em unidades simples nada mais é do que a ...gunda lei do método de Descartes, revivida porBerta· lanffy (3) e adaptada por Foskett (13).

O ambiente dapesquisa

Nas suas considerações metodológicas, Simsova ressalta que os fatos sociais são de natureza complexa e múltipla, conseqüente-mente de difícil mensuraçlio, o que obriga o pesquisador a uma aná· lise do ambiente em que o fenômeno se desenvolveu. O ambiente compreende não tão somente o próprio contexto imediato (por exemplo: a biblioteca), como o marco maior, seja o institucional, ou como o social·geográfico quando intluenciador de suas

característi-cas.

Simsova cita um exemplo muito interessante mas nlio de todo elucidativo: "O PROBLEMA DO CONTROLE DO DANO DO CA· TÁLOGO POR CUPINS". A análise do fenômeno implica a identifi-cação do que ela, apelando para uma teoria de Farradane (9), cha-ma de isolados (6): CUPINS, CATALOGADOR, CATÁLOGO, PES-TICIDA (ENTIDADES) e DANO e DESTRUIÇÃO (ATNIDADES). inerentes às diversas etapas da pesquisa graças aos diversos

(12)

Graças ao uso dos operadores, ficou visualizada e simplificada ;; identificação de todas as variáveis envolvidas. Fica para o leitor a tarefa lucida de verificar as semelhanças e diferenças entre os dois sistemas em estudo (o britânico e o soviético) e de extrair as expli-cações das variáveis identificadas, por exemplo, porque existe um mais estreito relacionamento "autor - estado" na URSS do que na Inglaterra, etc., etc.).

Sem dúvida, pelo exposto, verifica-se que resulta mais claro, para os efeitos da análise, o uso dos operadores que possibilitam mostrar as relações entre as variáveis, assim como para ordenar a complexidade das relações entre as unidades. O método tanto fa· cilita a análise per se dos fenômenos quanto o processo de justapo·

sição e de interpretação. No entanto, a criação do esquema(prévia seleção dos "isolados") quanto à determinação dos "operadores" é uma tarefa onde o subjetivismo nem sempre é superado, podendo levar a distorções ou a conclusões ambíguas, o que não invalida o método.

CONCLUSOE~

Só recentemente intensificam-se os estudos e o ensino da Biblioteconornia Comparada, a nível internacional. Tais estudos se fazem necessários na medida em que uns. países aspiram a de-senvolver os seus sistemas bibliotecários a partir da emulação de programas coroados de êxito em outras latitudes, possibilitando que esta transferência de experiência se faça em bases mais cien· tíficas e menos predatórias para os interesses nacionais. Ao con· trário, estudos comparados facilitarão o processo de planejamen-to, facultando uma "antevisão" do novo sistema proposto pelo estudo do modelo já implantado, evitando o processo de "tenta· tiva e erro"

No caso do Brasil, onde a organização de sistemas de infor-mação por áreas de conhecimento começam a cristalizar-se com tecnologia própria, mas também com a ajuda internacional ou bila· teral, faz-se necessário e até urgente desenvolver tecnicas "compa. radas", para facilitar o diálogo com os consultores internacionais e para tomar-se deCIsões mais compatíveis com a dignidade e os inte· resses nacionais.

As constantes viagens de brasileiros para cursos de especia-lizaçlo, mestrado e pesquisas de doutorado ou estágios orientados, principalmente nos EUA e na Europa, mas também na própria América Latina, impõem uma perspectiva sistêmica e comparada para que os conhecimentos acaso adquiridos lá fora sejam trans-plantados com as diretrizes adequadas, ou para que o

profissio-nal

se situe nas duas realidades (a do Brasil e a do país que o aco-lheu) e, ao voltar, nlo se aliene e se transforme num "ovni" (ob-jeto voador nlo identificado) lamentando as desgraças tupiniquins e vangloriando as maravilhas de lá...

O ensino da Biblioteconomia Comparada desenvolveu-se prin-cipalmente nas universidades americanas e européias, por seu pró-prio cosmopolitismo, na tentativa de desenvolver um mecanismo que facilitasse a convivência e a troca de experiência com alunos de diferentes países. Por outro lado, nos EUA e na Europa são fre-qüentes os organismos internacionais e a demanda de consultores para viagens a países subdesenvolvidos ou missões a países de,sen-volvidos, requerendo uma técnica de abordagem a realidades com-plexas que supere o "eu.,acho" e o "eu penso" isso e aquilo. Ainda assim, erros escandaloS6$ são praticados

às

expensas dessas organi-zações internacionais, onde a "ajuda" resulta pior que sua ausência, em alguns casos.

Se bem seja verdade que muitos viajam (e alguns carregam con-sigo seus preconceitos, o que impossibilita "ver" com. isenção), outros· a maioria - não poderão fazê-lo, nem mesmo quando o dese. jem. O ideal, na realIzação dos estudos comparados, é a ida às fon-tes. Mas, não sendo isto possível, um estudo comparado, à distância das duas realidades ampliará o conhecimento dos fenômenos e, se nã'o chegar a substituir a experiência direta, será uma aproximação a ela.

(13)

7.

BIBLIOGRAFIA

,'vi, L Librarianship in the developing countries, Urbana Univ. of

illlDois pr., 1966.

l>l'!(tOA't, G.Z.F. Método comparado em educação. Trad. José de Sá

Porto, São Paulo, Companhia Cultura Nacional, 1972. 345p. .l BERTALANFFY, L. Teoria geral dos sistemas. Trad. de Francisco M.

Guimarães. 2.ed. Petrópolis, Vozes, 1975. 351p.

4. BURNETT, A.D.; GUPTA, R.K. & SIMSOVA, S. Studies in comparative

Iibrarianship: three essays presented for de sevensna prize 1971. London. The Library Assoeiation, 1973.

5. COLLINGS, D.G. "Comparative Iibrarianship". ln: ENCICLOP~DIA

LIBRARY AND INFORMATION SCIENCE, 5:492-502.

ó. DANE, C. The benefits oí comparative librarianship. The Australian

Library Journal, 3:89-91, July, 1954.

Comparative librarianship. The Librarian and Book World, 43-4, Aug. 1954.

8. DANTON, J.P. The dimensions of comparative librarianship. Chicago, American Library Association, 1973.

9. FARRADANE, J.E.L. A seientific theory oí c1assification and indexing and its practical applications. J. Doe. 6:83-99, 1950.

10. FERNANDES, M.C.D. Library school programmes offered at Master's levei in the United States, Canada and Brazil; a comparative. study. DalhOllsie (University Can.,) 1978. Dissertação de mestrado.

11. FIGUEIREDO, A. de. Uma introdução àBiblioteconomia Comparada.

Revista de Bibliotecários de Brasllia, 1(2):133-40, jul/dez. 1973. 12. FONSECA, E.N. da. A Biblioteconomia brasileira no contexto mundial.

Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro. Bra5I1ia, INL, 1979.

13. FOSKETT, D.J., ed. Reader in Comparative Librarianship. London,

Microcard Books, 1976.

14. HARVEY, J.F., Ed. Comparative & International Library Science.

Metu~hen, N.J., Scarecrow Press, 1977.

15. KOTTEY, S.LA. Some variables of comparison between developed and developing library systems. International Library Review, 9(3): 249, 1977.

16. LEMOS, A.A.B. de. The portrait of Iibrarianship in developing countries as sketched by the foreign observer. Loughborough University of Technology (UK), 1977. Dissertação de mestrado.

116

17. MIRANDA, A. Bibliotecas dos cursos de pós-graduação em educação no

Brasil: estudo comparado. ln: CONGRESSO BRASILEIRO DE

BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO, 9. Porto Alegre, 3-8 julho 1977. Anais, p.268-333.

18. . Análise conjuntural das bibliotecas das universidades

fede-rais do Nordeste do Brasil. Ciência (UFRN), Natal, 1(I):25-30 jul/

dez. 1978.

19. . "Recensão": /Danton x Foskett I. Rev. Bibliotecono.

miadeBrasllia,6(1):86-9,jan.ljun. 1978.

20. . Recensão: / Biblioteconomia comparada&/ou/X

Interna-cional/Rev. Biblioteconomia de Brasl1ia, 6(1): 89-91, jan.jun. 1978. 21. NOCETTI, M.A. Estudo analítico da informação agrícola no Brasil Rio

de Janeiro, IBICT, 1978. Dissertação de mestrado.

22. RAYWARD, W.B. A Biblioteconomia no velho e novo mundo: alguns pontos comuns. Library Trends; artigos selecionados II, 1976/1977, p.5·22.

23. SHORES, L. Comparative Iibrarianship: "a theoretical aproach". ln

comparative and international Iibnrianship, ed. by Milles M. Jaclc-sono Westport, Conn., Greewood, 1970. p.3-24.

24. . Why comparative Iibrarianship? Wilson Libnry BuBetin,

41 :200-6, oct., 1966.

25. SIMSOVA, S. & MACKEE, M.C. A handbook or comparative Iibrarian. ship. 2.ed., London, Bingley, 1977.

26. ZANDONADE, T. Library and informatiori science education in the

Referências

Documentos relacionados

O trânsito de veículos que exercem a atividade de fretamento no Município de São Paulo será dividido e organizado em 2 (duas) áreas distintas:.. Zona de

ramo de Direcção ; Engenharia do Ambiente ; Engenharia do Ambiente - Recursos Naturais; Engenharia Electrotécnica ; Engenharia Electrotécnica e de Computadores ;

Para simular e compreender o que ocorre quando uma determinada frequência luminosa incide em uma placa metálica, você pode utilizar o simulador disponível em:

Dissertação apresentada ao Mestrado Interinstitucional do Programa de Pós- Graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da Faculdade de Biblioteconomia da

It is based on coincidence detection, and its application leads to algorithms with three main attractive features: they are easy to use, can be employed without any a priori

Comunicação da UNIJUI.. sustentável e para atingir os objetivos, as empresas saem do romantismo e custos ambientais são gerados. A ideia central é que a contabilidade de custos,

Da Figura 5.4 podemos observar que a inclusão dos estados de ZnO tanto da mono como na duplacamada de ZnO não afeta os estados do grafeno logo abaixo do nível de Fermi, não alterando

- Se tiver quaisquer efeitos secundários, incluindo possíveis efeitos secundários não indicados neste folheto, fale com o seu médico, farmacêutico ou enfermeiro.. O que precisa