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Resumo C-524/21 1. Processo C-524/21

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Resumo C-524/21 – 1 Processo C-524/21

Resumo do pedido de decisão prejudicial em aplicação do artigo 98.°, n.° 1, do Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça

Data de entrada:

24 de agosto de 2021 Órgão jurisdicional de reenvio:

Curtea de Apel București (Tribunal de Recurso de Bucareste, Roménia)

Data da decisão de reenvio:

16 de abril de 2021 Demandante-recorrente:

I. G.

Demandada-recorrida:

Agenția Județeană de Ocupare a Forței de Muncă Ilfov (Centro de Emprego do Distrito de Ilfov, Roménia)

Objeto do processo principal

Recurso contencioso administrativo interposto pela demandante-recorrente I. G., que tem por objeto a anulação da Decisão de 31 de dezembro de 2019 da demandada-recorrida Agenția Județeană de Ocupare a Forței de Muncă Ilfov (Centro de Emprego do Distrito de Ilfov, Roménia; a seguir

«A. J. O. F. M. Ilfov»), pela qual a demandante-recorrente foi obrigada a restituir o montante de 1 308 RON (lei romenos), que constitui o crédito salarial suportado pelo Fondul de garantare pentru plata creanțelor salariale (Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais, Roménia), bem como a pagar juros e sanções pecuniárias compulsórias relativos a essa dívida.

Objeto e fundamento jurídico do pedido de decisão prejudicial

Questões relativas à interpretação do artigo 1.°, n.° 1, do artigo 2.°, n.° 1, do artigo 3.°, segundo parágrafo, do artigo 4.°, n.° 2, e do artigo 12.°, alínea a), da

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Diretiva 2008/94/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro de 2008, relativa à proteção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador (versão codificada)

Fundamento jurídico do pedido de decisão prejudicial: artigo 267.°, n.° 3, TFUE

Questões prejudiciais

1) As disposições do artigo 1.°, n.° 1, e do artigo 2.°, n.° 1, da Diretiva 2008/94, tendo em conta o conceito autónomo de «estado de insolvência», opõem-se a uma legislação nacional de transposição da diretiva – o artigo 15.°, n.os 1 e 2, da Legea nr. 200/2006 privind constituirea și utilizarea Fondului de garantare pentru plata creanțelor salariale (Lei n.° 200/2006, relativa à constituição e à utilização do Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais, Roménia), conjugado com o artigo 7.° das Normele metodologice de aplicare a Legii nr. 200/2006 (Normas Metodológica de Aplicação da Lei n.° 200/2006, Roménia) – conforme interpretada pela Înalta Curte de Casație și Justiție – Completul pentru dezlegarea unor chestiuni de drept (Tribunal Superior de Cassação e Justiça – Formação para a resolução de questões de direito, Roménia) na Decisão n.° 16/2018, segundo a qual o período de 3 meses relativamente ao qual o Fundo de Garantia pode tomar a cargo e pagar os créditos salariais devidos pelo empregador insolvente se refere exclusivamente à data de abertura do processo de insolvência?

2) As disposições do artigo 3.°, [segundo parágrafo], e do artigo 4.°, n.° 2, da Diretiva 2008/94 opõem-se ao artigo 15.°, n.os 1 e 2, da Lei n.° 200/2006, relativa à constituição e à utilização do Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais, conforme interpretado pela Înalta Curte de Casație și Justiție – Completul pentru dezlegarea unor chestiuni de drept (Tribunal Superior de Cassação e Justiça – Formação para a resolução de questões de direito) na Decisão n.° 16/2018, segundo o qual o período máximo de 3 meses relativamente ao qual o Fundo de Garantia pode tomar a cargo e pagar os créditos salariais devidos pelo empregador insolvente se situa no intervalo de referência compreendido entre os 3 meses imediatamente anteriores à abertura do processo de insolvência e os 3 meses imediatamente posteriores à abertura do processo de insolvência?

3) Uma prática administrativa nacional através da qual, com base numa decisão da Curtea de Conturi (Tribunal de Contas, Roménia) e na falta de uma legislação nacional específica que obrigue o trabalhador à restituição, se procede à recuperação, junto do trabalhador, dos montantes supostamente pagos relativamente a períodos não abrangidos pelo quadro normativo ou que foram pedidos após o prazo legal de prescrição é conforme com a finalidade social da Diretiva 2008/94 e com as disposições do artigo 12.°, alínea a), da mesma diretiva?

4) Ao interpretar o conceito de «abuso» na aceção do artigo 12.°, alínea a), da Diretiva 2008/94, o ato de proceder à recuperação junto do trabalhador, com a

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finalidade declarada de respeitar o prazo geral de prescrição, dos créditos salariais pagos pelo Fundo através do liquidatário judicial constitui uma justificação objetiva suficiente?

5) Uma interpretação e uma prática administrativa nacional através das quais os créditos salariais cuja restituição é pedida aos trabalhadores são equiparados a um crédito de imposto que dá lugar à cobrança de juros e de sanções pecuniárias compulsórias são compatíveis com as disposições e a finalidade da diretiva?

Disposições de direito da União invocadas

Diretiva 2008/94/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro de 2008, relativa à proteção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador, considerandos 3 e 7, artigo 1.°, n.° 1, artigo 2.°, n.° 1, artigo 3.°, artigo 4.° e artigo 12.°, alíneas a) e b)

Jurisprudência do Tribunal de Justiça invocada

Acórdão de 27 de março de 1963, Da Costa en Schaake NV e o., 28-30/62, EU:C:1963:6

Acórdão de 6 de outubro de 1982, Cilfit, 283/81, EU:C:1982:335

Acórdão de 15 de setembro de 2005, Intermodal Transports, C-495/03, EU:C:2005:552

Acórdão de 28 de novembro de 2013, Gomes Viana Novo e o., C-309/12, EU:C:2013:774

Acórdão de 10 de fevereiro de 2011, Andersson, C-30/10, EU:C:2011:66

Acórdão de 17 de novembro de 2011, van Ardennen, C-435/10, EU:C:2011:751 Acórdão de 18 de abril de 2013, Mustafa, C-247/12, EU:C:2013:256

Despacho de 10 de abril de 2014, Macedo Maia e o., C-511/12, EU:C:2014:268 Acórdão de 2 de março de 2017, Eschenbrenner, C-496/15, EU:C:2017:152 Acórdão de 25 de julho de 2018, Guigo, C-338/17, EU:C:2018:605

Disposições de direito nacional invocadas

Legea nr. 200/2006 privind constituirea și utilizarea Fondului de garantare pentru plata creanțelor salariale (Lei n.° 200/2006, relativa à constituição e à utilização do Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais)

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Artigo 2.°

«O Fundo de Garantia assegura o pagamento dos créditos salariais emergentes dos contratos individuais de trabalho e das convenções coletivas de trabalho celebradas pelos trabalhadores assalariados com os empregadores relativamente aos quais tenham sido proferidas decisões judiciais definitivas de abertura do processo de insolvência e relativamente aos quais foi ordenada a medida de revogação total ou parcial do poder de administração, a seguir denominados

«empregadores em estado de insolvência.»

O artigo 10.° prevê que a gestão do Fundo de Garantia é efetuada pela Agenția Națională pentru Ocuparea Forței de Muncă (Centro Nacional de Emprego, Roménia), através dos seus centros territoriais.

O artigo 11.°, alínea c), prevê que, entre as atribuições dos Centros Territoriais ligados à gestão do Fundo de Garantia, figura a cobrança das dívidas constituídas nas condições da presente lei, diferentes das resultantes das contribuições para o Fundo de Garantia.

O artigo 13.°, n.° 1, prevê que estão a cargo dos recursos do Fundo de Garantia várias categorias de créditos salariais, entre os quais os salários em atraso [alínea a)].

Artigo 15.°

«1) Os créditos salariais referidos no artigo 13.°, n.° 1, alíneas a), c), d) e e), serão tomados a cargo por um período de 3 meses civis.

2) O período referido no n.° 1 é o período anterior à data em que é pedida a concessão dos direitos e é anterior ou posterior à data de abertura do processo de insolvência.»

Norma metodologică de aplicare a Legii nr. 200/2006 privind constituirea și utilizarea Fondului de garantare pentru plata creanțelor salariale din 21 decembrie 2006 (Norma metodológica de aplicação da Lei n.° 200/2006 relativa à constituição e à utilização do Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais de 21 de dezembro de 2006)

Artigo 7.°

«1) No caso de os créditos dos trabalhadores assalariados do empregador em estado de insolvência serem anteriores ao mês da abertura do processo de insolvência, o período de 3 meses civis previsto no artigo 15.°, n.° 1, da lei é anterior à data de abertura do processo.

2) No caso de os créditos dos trabalhadores assalariados do empregador em estado de insolvência serem posteriores ao mês da abertura do processo de

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insolvência, o período referido no artigo 15.°, n.° 1, da lei é posterior à data de abertura do processo.»

Legea nr. 500/2002 din 11 iulie 2002 privind finanțele publice (Lei n.° 500/2002, de 11 de julho de 2002, sobre as finanças públicas)

O artigo 731.° prevê que a recuperação dos montantes que constituam danos/pagamentos ilegais através de fundos públicos, estabelecidos pelos órgãos de fiscalização competentes, dá lugar à cobrança de juros e de sanções pecuniárias compulsórias ou de majorações por mora.

Legea nr. 207/2015 din 20 iulie 2015 privind Codul de procedură fiscală (Lei n.° 207/2015, de 20 de julho de 2015, que aprova o Código de Processo Tributário)

O artigo 174.°, n.° 5, prevê que a taxa de juro calculada por cada dia de atraso é de 0,02%, enquanto o artigo 176.°, n.° 2, prevê que a taxa das sanções pecuniárias compulsórias sobre o montante devido é de 0,01% por cada dia de atraso.

Apresentação sucinta dos factos e do processo principal

1 A Lei n.° 200/2006, relativa à constituição e à utilização do Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais, transpõe para o direito nacional a Diretiva 2008/94/CE relativa à proteção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador.

2 Nos termos do artigo 15.° dessa lei, os recursos do Fundo de Garantia suportam o pagamento dos créditos salariais dos trabalhadores de um empregador que se encontra em estado de insolvência, por um período de três meses civis.

3 De acordo com o artigo 11.°, alínea b), conjugado com o artigo 10.° dessa lei, a fixação do montante dos créditos salariais devidos aos trabalhadores e o seu pagamento incumbe ao Centro Nacional de Emprego, por intermédio dos seus centros territoriais.

4 Por força dessa lei, com a Disposição de 13 de março de 2017, a demandada-recorrida A. J. O. F. M. Ilfov fixou o montante de 1 308 RON a título de crédito salarial devido à demandante-recorrente, I. G., na sequência do deferimento do pedido apresentado pelo liquidatário judicial designado no âmbito do processo de insolvência do empregador de I. G., a sociedade A. P. S. R. L. O crédito salarial assim estabelecido dizia respeito aos salários em atraso devidos a I. G. nos meses de maio, junho e julho de 2013.

5 Posteriormente, com a Decisão n.° 16/2018, a Înalta Curte de Casație și Justiție (Tribunal Superior de Cassação e Justiça; a seguir «Î.C.C.J.») interpretou o artigo 15.° da Lei n.° 200/2006 no sentido de que o período máximo de 3 meses,

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relativamente ao qual o Fundo de Garantia pode assumir e pagar os créditos salariais [devidos pelo] empregador insolvente, se situa no intervalo de referência compreendido entre os 3 meses imediatamente anteriores à abertura do processo de insolvência e os 3 meses imediatamente posteriores à abertura do processo de insolvência e que esse período de 3 meses se refere exclusivamente à data de abertura do processo de insolvência.

6 Com a Decisão de 6 de agosto de 2019, o Tribunal de Contas da Roménia ordenou ao Centro Nacional de Emprego que aplicasse medidas de recuperação desses pagamentos – efetuados pelo Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais – que não estão de acordo com o artigo 15.° da Lei n.° 200/2006, conforme interpretado pela Decisão n.° 16/2018 da Î.C.C.J.

7 Com a Decisão de 31 de dezembro de 2019, adotada pela demandada-recorrida A. J. O. F. M. Ilfov (a seguir «decisão impugnada»), foi ordenado à demandante-recorrente I. G. o pagamento do montante de 1 308 RON, que constitui o crédito salarial fixado pela Disposição inicial de 13 de março de 2017, ao qual acresceram os juros e as sanções pecuniárias compulsórias calculados para o período entre 13 de abril de 2017 e 31 de dezembro de 2019, a atualizar até à data do pagamento ou da extinção da totalidade da dívida fixada. A decisão impugnada baseou-se no facto de os meses relativamente aos quais o crédito salarial foi pago não estarem abrangidos pelo período de referência, como precisado pela Î.C.C.J. na sua decisão interpretativa do artigo 15.° da Lei n.° 200/2006. Assim, I. G. podia ter beneficiado do pagamento do crédito salarial, por intermédio do Fundo de Garantia, para os créditos salariais relativos ao período de +3/-3 meses a contar da data de abertura do processo de insolvência da sociedade empregadora, ou seja, 19 de março de 2010. Ora, no caso em apreço, o crédito salarial pago a I. G. dizia respeito aos meses de maio a julho de 2013.

8 O recurso de anulação da decisão impugnada interposto pela demandante-recorrente perante o Tribunalul București (Tribunal Regional de Bucareste, Roménia) foi julgado improcedente por Sentença de 25 de maio de 2020.

9 I. G. impugnou o referido acórdão perante o órgão jurisdicional de reenvio.

Argumentos essenciais das partes no processo principal

10 Em primeiro lugar, a demandante-recorrente alega que a decisão impugnada é ilegal devido à aplicação errada da Decisão n.° 16/2018 da Î.C.C.J. Com efeito, a autoridade administrativa pôs em causa créditos salariais adquiridos e concedidos anteriormente à demandante-recorrente através da Disposição de 13 de março de 2017, que constitui um ato administrativo legal, não anulado e que não pode ser revogado por quem o emitiu, uma vez que entrou no âmbito regulado pelo direito civil.

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11 Salienta que, de resto, as disposições do artigo 15.°, n.° 2, da Lei n.° 200/2006, conforme interpretado pela Decisão da Î.C.C.J. n.° 16/2018, foram declaradas inconstitucionais pela Curtea Constituțională (Tribunal Constitucional, Roménia), pelo que já não podem ser consideradas como fundamento jurídico do ato administrativo.

12 Em segundo lugar, a demandante-recorrente alega que o órgão jurisdicional de primeira instância considerou erradamente a demandada-recorrida competente para adotar a decisão impugnada nos termos da Lei n.° 200/2006, considerando que, no caso em apreço, são aplicáveis as disposições do Código de Processo Tributário que determinam a competência do órgão tributário central, através das suas estruturas especializadas com funções de gestão dos créditos de imposto.

13 Por último, a demandante-recorrente contesta igualmente o órgão jurisdicional de primeira instância por ter rejeitado os seus argumentos relativos à violação do artigo 1.° do Protocolo Adicional n.° 1 à Convenção Europeia dos Direitos do Homem, no sentido de que declarou erradamente que ela não goza de um bem nem de uma expectativa legítima sobre os montantes pecuniários recebidos a título do crédito salarial e que deve restituir.

Apresentação sucinta da fundamentação do pedido de decisão prejudicial 14 Em primeiro lugar, o órgão jurisdicional de reenvio salienta que uma das

disposições da Diretiva 2008/94 referida nas questões prejudiciais, a saber, o artigo 12.°, alínea a), desta última, ainda não foi objeto de interpretação pelo Tribunal de Justiça, pelo que esse órgão jurisdicional não está dispensado da obrigação de proceder a um reenvio prejudicial.

15 Em segundo lugar, o órgão jurisdicional de reenvio considera que a correta interpretação e aplicação, no caso em apreço, das disposições do artigo 1.°, n.° 1, do artigo 2.°, n.° 1, do artigo 3.°, segundo parágrafo, e do artigo 4.°, n.° 2, da Diretiva 2008/94, à luz da jurisprudência existente do Tribunal de Justiça, não se impõem com uma evidência tal que não deixem margem para qualquer dúvida razoável e, portanto, que permitam a esse órgão jurisdicional não submeter ao Tribunal de Justiça um reenvio prejudicial.

16 O órgão jurisdicional de reenvio refere-se mais precisamente ao Acórdão de 18 de abril de 2013, Mustafa (C-247/12, EU:C:2013:256), e ao Acórdão de 25 de julho de 2018, Guigo, C-338/17, EU:C:2018:605.

17 Com efeito, no já referido Acórdão Guigo, o Tribunal de Justiça recordou que, em conformidade com o artigo 1.°, n.° 1, da Diretiva 2008/94, esta se aplica aos créditos dos trabalhadores assalariados emergentes de contratos de trabalho ou de relações de trabalho celebrados com empregadores que se encontrem em estado de insolvência e que a finalidade social desta diretiva consiste em assegurar a todos os trabalhadores assalariados um mínimo de proteção ao nível da União Europeia em caso de insolvência do empregador através do pagamento dos créditos em

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dívida emergentes de contratos ou de relações de trabalho, respeitantes à remuneração relativa a um determinado período. É à luz deste objetivo que o artigo 3.º da referida diretiva impõe que os Estados-Membros tomem as medidas necessárias para que as instituições de garantia nacionais assegurem o pagamento dos créditos em dívida aos trabalhadores. Contudo, os Estados-Membros têm a faculdade de limitar essa obrigação de pagamento, sem prejuízo de, por força do artigo 4.°, n.° 2, da referida diretiva, ser necessário precisar o período de referência em relação ao qual os créditos em dívida devem ser pagos pela instituição de garantia.

18 Nesse processo, o Tribunal de Justiça pronunciou-se no sentido da compatibilidade com a Diretiva 2008/94 de uma legislação nacional que não garante os créditos salariais dos trabalhadores cuja relação de trabalho tenha cessado mais de três meses antes da inscrição no registo comercial da decisão judicial de abertura do processo de insolvência do empregador.

19 No já referido Acórdão Mustafa, o Tribunal de Justiça declarou que a Diretiva 2008/94 deve ser interpretada no sentido de que não obriga os Estados-Membros a prever garantias para os créditos dos trabalhadores em cada etapa do processo de insolvência do seu empregador. Nesse caso, o Tribunal de Justiça declarou que é compatível com a referida diretiva uma garantia prevista unicamente para os créditos dos trabalhadores constituídos antes da transcrição no registo comercial da decisão de dar início ao processo de insolvência, mesmo que essa decisão não ordene a cessação das atividades do empregador.

20 O órgão jurisdicional de reenvio considera que, diversamente dos processos que deram origem aos acórdãos acima referidos, as questões de interpretação do direito da União submetidas no presente processo não dizem tanto respeito à forma estrita de transposição das disposições da Diretiva 2008/94 em causa nas questões prejudiciais mas à compatibilidade com a finalidade social da referida diretiva de uma prática administrativa nacional que afeta direitos adquiridos, com base numa decisão vinculativa da Î.C.C.J. interpretativa das disposições nacionais de transposição da Diretiva 2008/94.

21 Mais especificamente, na falta de uma legislação nacional específica que obrigue o trabalhador a restituir os montantes recebidos anteriormente, procedeu-se à recuperação, junto do trabalhador, dos montantes supostamente pagos relativamente a um período não abrangido pelo período de referência ou que foram pedidos após o prazo legal de prescrição. O órgão jurisdicional de reenvio considera que esse ato posterior de proceder à recuperação junto do trabalhador dos créditos salariais pagos anteriormente pelo Fundo de Garantia para o Pagamento dos Créditos Salariais é problemático e importa determinar se, à luz da interpretação do conceito de «abuso» na aceção do artigo 12.°, alínea a), da Diretiva 2008/94, essa recuperação é objetivamente justificada.

22 Do mesmo modo, uma vez que, com a decisão impugnada, os créditos salariais cuja restituição é pedida foram equiparados a um crédito que dá lugar à cobrança

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de juros e de sanções pecuniárias compulsórias, é necessário determinar se essa prática é compatível com as disposições e a com a finalidade social da diretiva.

23 Em terceiro lugar, o acórdão a proferir no presente processo é definitivo no sistema das vias de recurso internas, pelo que, ao abrigo do artigo 267.°, terceiro parágrafo, TFUE, o órgão jurisdicional de reenvio é obrigado a dirigir-se ao Tribunal de Justiça para efeitos da interpretação do direito da União pertinente no caso em apreço.

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