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Resumo C-548/21 1. Processo C-548/21

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Resumo C-548/21 – 1 Processo C-548/21

Resumo do pedido de decisão prejudicial em aplicação do artigo 98.°, n.° 1, do Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça

Data de entrada:

6 de setembro de 2021 Órgão jurisdicional de reenvio:

Landesverwaltungsgericht Tirol (Tribunal Administrativo Regional do Tirol, Áustria)

Data da decisão de reenvio:

1 de setembro de 2021 Recorrente:

C.G.

Autoridade recorrida:

Bezirkshauptmannschaft Landeck (Autoridade Administrativa do Distrito de Landeck)

Objeto do processo principal

Recurso que tem por objeto a apreensão de um telemóvel e a subsequente tentativa de análise do mesmo por órgãos policiais.

Objeto e fundamento jurídico do pedido de decisão prejudicial Interpretação do direito da União; artigo 267.° TFUE

Questões prejudiciais

1) Deve o artigo 15.°, n.° 1 (eventualmente em conjugação com o artigo 5.°), da Diretiva 2002/58, conforme alterada pela Diretiva 2009/136/CE, lido à luz dos artigos 7.° e 8.° da Carta dos Direitos Fundamentais, ser interpretado no sentido de que o acesso das autoridades públicas a dados armazenados em telemóveis constitui uma ingerência nos direitos fundamentais consagrados nestes artigos da

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Carta de tal modo grave que, no domínio da prevenção, investigação, deteção e repressão de infrações penais, esse acesso deve ser limitado à luta contra a criminalidade grave?

2) Deve o artigo 15.°, n.° 1, da Diretiva 2002/58, conforme alterada pela Diretiva 2009/136, lido à luz dos artigos 7.°, 8.° e 11.°, bem como do artigo 52.°, n.° 1, da Carta dos Direitos Fundamentais, ser interpretado no sentido de que se opõe a uma regulamentação nacional como o § 18, em conjugação com o § 99, n.° 1, do Strafprozessordnung (Código de Processo Penal), que permite às autoridades de segurança obterem por si próprias, durante um inquérito penal e sem autorização de um tribunal ou de uma autoridade administrativa independente, um acesso total e não controlado a todos os dados digitais armazenados num telemóvel?

3) Deve o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais, em conjugação com o artigo 41.° e com o artigo 52.° da mesma Carta, na perspetiva do princípio da igualdade de armas e do direito a uma tutela jurisdicional efetiva, ser interpretado no sentido de que se opõe a uma regulamentação de um Estado-Membro que, como o § 18, em conjugação com o § 99, n.° 1, do Strafprozessordnung (Código de Processo Penal), permite que um telemóvel seja analisado digitalmente, sem que o interessado seja informado previamente ou, pelo menos, depois de a medida ter sido tomada?

Disposições de direito da União invocadas

Diretiva 2002/58/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de julho de 2002, relativa ao tratamento de dados pessoais e à proteção da privacidade no setor das comunicações eletrónicas, conforme alterada pela Diretiva 2009/136/CE, especificamente os artigos 5.° e 15.°

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, especificamente os artigos 7.°, 8.°, 15.°, 41.°, 47.° e 52.°

Disposições de direito nacional invocadas

Strafprozessordnung 1975 (Código de Processo Penal de 1975, a seguir «StPO»), na versão em vigor na altura da infração, BGBl I, n.° 24/2020, especificamente os

§§ 17, 18, 91, 99, 99, 109 – 111 e 113

Bundesgesetz über Suchtgifte, psychotrope Stoffe und Drogenausgangsstoffe (Lei Federal Relativa aos Estupefacientes, às Substâncias Psicotrópicas e aos Precursores de Drogas; Lei Relativa aos Estupefacientes – a seguir «SMG»), na versão em vigor na altura da infração, BGBl I, n.° 23/2016, especificamente o

§ 27

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Apresentação sucinta dos factos e do processo

O recorrente é um cidadão alemão. Trabalha numa empresa austríaca e vive em St. Anton am Arlberg.

Em 23 de fevereiro de 2021, os funcionários da alfândega de Innsbruck apreenderam uma encomenda dirigida ao recorrente durante um controlo de estupefacientes. Continha 85 gramas de erva de canábis.

Em 6 de março de 2021, dois agentes da polícia da esquadra de St. Anton am Arlberg interrogaram o recorrente sobre o remetente da encomenda da droga e revistaram a sua residência.

O recorrente foi convidado a dar acesso aos dados de ligação do seu telemóvel.

Recusou expressamente e recusou-se também a revelar o código de acesso. O telemóvel foi apreendido.

No que se refere às medidas tomadas, não havia ordem do Ministério Público nem uma decisão judicial.

Na sede da polícia distrital em Landeck, não foi possível desbloquear o telemóvel, razão pela qual foi transferido para Viena para o Bundeskriminalamt (Departamento Federal de Polícia Criminal). Tentaram novamente desbloquear o telemóvel e aceder aos dados aí armazenados.

Por articulado de 31 de março de 2021, o recorrente apresentou uma reclamação contra a apreensão.

O telemóvel foi devolvido ao recorrente em 20 de abril de 2021.

O recorrente não foi informado, em momento algum, sobre a tentativa de análise ou acesso ao conteúdo do telemóvel; este facto só se tornou conhecido quando o agente da polícia que efetuou a apreensão e subsequentemente iniciou a análise digital foi interrogado como testemunha sob juramento. A tentativa de análise também não foi documentada no processo de investigação criminal.

Apresentação sucinta da fundamentação do pedido de decisão prejudicial O § 110, n.° 2, do StPO estabelece que as apreensões devem geralmente ser ordenadas pelo Ministério Público e realizadas pela polícia judiciária, mas no caso do § 110, n.° 3, do StPO, também podem ser realizadas por agentes da polícia por sua própria iniciativa.

No caso em apreço, a tentativa de analisar o telemóvel apreendido pela polícia judiciária – sem a existência de uma ordem do Ministério Público ou do tribunal – está prevista na lei.

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O Strafprozessordnung (Código de Processo Penal) contém regras claras sobre os casos em que os objetos podem ser apreendidos, e por quem, sobre a cópia de segurança das informações armazenadas nos suportes de dados e sobre a guarda dos objetos apreendidos. Já a análise dos objetos apreendidos, especialmente das informações armazenadas em suportes de dados, não está regulamentada de modo conclusivo.

a.) Quanto à primeira questão prejudicial:

A jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia até à data refere-se principalmente ao acesso das autoridades públicas aos dados pessoais (dados de tráfego e de localização) armazenados pelos fornecedores de serviços de comunicações. No entanto, na opinião do órgão jurisdicional de reenvio, pode ser encontrado algum termo de comparação entre esta jurisprudência e as questões jurídicas aqui em causa.

No processo Ministerio Fiscal, Acórdão de 2 de outubro de 2018, C-207/16, n.os 52 e seguintes, o Tribunal de Justiça já se pronunciou sobre a questão da especial exigência de proteção dos dados de comunicação (neste caso, porém, sob a forma de dados de tráfego e de localização) e respondeu à questão sobre os elementos a ter em conta para apreciar se as infrações em relação às quais as autoridades policiais podem ser autorizadas, para efeitos da investigação, a aceder a dados pessoais conservados pelos fornecedores de serviços de comunicações eletrónicas são de gravidade suficiente para justificar a ingerência que esse acesso implica nos direitos fundamentais garantidos nos artigos 7.° e 8.° da Carta, conforme interpretados pelo Tribunal de Justiça nos seus Acórdãos de 8 de abril de 2014, Digital Rights Ireland e o., e Tele2 Sverige e Watson e o. (Acórdãos de 21 de dezembro de 2016, C-203/15 e C-698/15).

A este respeito, o Tribunal de Justiça declarou que, em matéria de prevenção, de investigação, de deteção e de repressão de infrações penais, apenas a luta contra a criminalidade grave é suscetível de justificar um acesso das autoridades públicas a dados pessoais conservados pelos fornecedores de serviços de comunicações que, considerados no seu conjunto, permitem tirar conclusões precisas sobre a vida privada das pessoas cujos dados estão em causa (n.° 54).

No entanto, o Tribunal de Justiça precisa que fundamentou esta interpretação com o facto de que o objetivo prosseguido por esta regulamentação deve estar relacionado com a gravidade da ingerência nos direitos fundamentais que esse acesso gera (n.° 55), dado que, em conformidade com o princípio da proporcionalidade, uma ingerência grave só pode ser justificada, em matéria de prevenção, de investigação, de deteção e de repressão de infrações penais, por um objetivo de luta contra a criminalidade, devendo também esta ser qualificada de

«grave» (n.° 56).

Em contrapartida, quando a ingerência que esse acesso implica não for grave, a referida ingerência é suscetível de ser justificada por um objetivo de prevenção, de

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investigação, de deteção e de repressão de «infrações penais» em geral (n.° 57).

Por conseguinte, antes de mais, há que determinar se, no presente processo, em função das circunstâncias do caso concreto, a ingerência nos direitos fundamentais consagrados nos artigos 7.° e 8.° da Carta que um acesso da Polícia Judiciária aos dados em causa no processo principal implica deve ser considerada como sendo

«grave» (n.° 58).

O Tribunal de Justiça declarou subsequentemente que a análise dos dados pessoais armazenados pelos prestadores de serviços de comunicações eletrónicas com o único objetivo de estabelecer a identidade dos titulares dos cartões SIM ativados durante um período de doze dias com o IMEI (Identificação Internacional de Equipamento Móvel) de um telemóvel roubado, cuja análise se referia apenas ao acesso aos números de telefone correspondentes a esses cartões SIM e aos dados relativos à identidade dos titulares dos cartões, tais como o apelido, o nome próprio e, sendo caso disso, o endereço, não constituía uma ingerência «grave»

nos direitos fundamentais dos indivíduos (n.° 61).

Contudo, essa classificação como ingerência não grave baseou-se no pressuposto de que esses dados não permitem conhecer a data, a hora, a duração e os destinatários das comunicações efetuadas com o ou os cartões SIM em causa, nem os locais onde essas comunicações tiveram lugar ou a frequência destas com determinadas pessoas durante um dado período. Os referidos dados não permitem, assim, tirar conclusões precisas a respeito da vida privada das pessoas cujos dados estão em causa (n.° 60).

No entanto, no caso em apreço, uma análise de um telemóvel significa um acesso totalmente descontrolado a toda a comunicação digital da pessoa em questão. Com as informações assim obtidas, é possível reconstruir uma imagem muito detalhada e aprofundada de quase todas as áreas da vida privada (no que se refere aos dados de ligação, o conteúdo de quase todos os contactos, de acordo com a frequência, o tempo e a duração da comunicação, no que se refere à comunicação efetuada através de SMS e outros serviços de mensagens, também pode ser reconstruído;

através da análise de fotografias armazenadas e histórico de navegação, é fornecida igualmente uma visão muito íntima da vida privada da pessoa em questão).

Além disso, é importante referir que o crime imputado ao recorrente no inquérito penal prevê, nos termos do § 27, n.° 1, da SMG, uma moldura penal até um ano de prisão e, de acordo com a classificação do § 17 do Strafgesetzbuch (Código Penal), constitui apenas um delito («Vergehen»).

b) Quanto à segunda questão prejudicial:

Como o Tribunal de Justiça (Grande Secção) já declarou no seu Acórdão de 2 de março de 2021, no processo C-746/18, é verdade que cabe ao direito nacional determinar as condições em que os prestadores de serviços de comunicações eletrónicas devem conceder às autoridades nacionais competentes o acesso aos

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dados de que dispõem. Para cumprir a exigência de proporcionalidade, tal regulamentação deve prever regras claras e precisas que regulem o alcance e a aplicação da medida em causa e que imponham exigências mínimas, de modo que as pessoas cujos dados pessoais foram conservados disponham de garantias suficientes que permitam proteger eficazmente esses dados contra os riscos de abuso. Essa regulamentação deve ser legalmente vinculativa em direito interno e indicar em que circunstâncias e sob que condições uma medida que preveja o tratamento desses dados pode ser tomada, garantindo, assim, que a ingerência seja limitada ao estritamente necessário (n.° 48).

Em especial, uma regulamentação nacional que regula o acesso das autoridades competentes a dados de tráfego e a dados de localização conservados, adotada ao abrigo do artigo 15.°, n.° 1, da Diretiva 2002/58, não se pode limitar a exigir que o acesso das autoridades aos dados responda à finalidade prosseguida por essa regulamentação, mas deve igualmente prever as condições materiais e processuais que regem essa utilização (n.° 49).

Assim, e uma vez que um acesso geral a todos os dados conservados, independentemente de qualquer ligação, no mínimo indireta, com o objetivo prosseguido, não pode ser considerado limitado ao estritamente necessário, a regulamentação nacional em causa deve basear-se em critérios objetivos para definir as circunstâncias e as condições em que o acesso aos dados em causa deve ser concedido às autoridades nacionais competentes. A este respeito, tal acesso só poderá, em princípio, ser concedido, em relação com o objetivo de luta contra a criminalidade, aos dados de pessoas que se suspeita estarem a planear, irem cometer ou terem cometido uma infração grave ou, ainda, estarem envolvidas de uma maneira ou de outra nessa infração. Todavia, em situações específicas, como aquelas em que os interesses vitais da segurança nacional, da defesa ou da segurança pública estejam ameaçados por atividades terroristas, pode também ser concedido acesso aos dados de outras pessoas quando elementos objetivos permitam considerar que esses dados podem, num caso concreto, trazer uma contribuição efetiva para a luta contra essas atividades (n.° 50).

A fim de garantir, na prática, o pleno respeito destes requisitos, é essencial que o acesso das autoridades nacionais competentes aos dados conservados esteja, em princípio, sujeito a uma fiscalização prévia efetuada por um órgão jurisdicional ou por uma entidade administrativa independente e que a decisão desse órgão jurisdicional ou dessa entidade seja tomada na sequência de um pedido fundamentado dessas autoridades apresentado, nomeadamente, no âmbito de processos de prevenção, de deteção ou de perseguição penal. Em caso de urgência devidamente justificada, a fiscalização deve ser efetuada em prazos curtos (n.° 51).

Essa fiscalização prévia exige, designadamente, como salientou, em substância, o advogado-geral no n.° 105 das suas conclusões no processo C-746/18, que o órgão jurisdicional ou a entidade encarregada de efetuar a referida fiscalização prévia

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vista a assegurar uma conciliação dos diferentes interesses e direitos em causa.

Quanto, mais especificamente, a um inquérito penal, tal fiscalização exige que esse órgão jurisdicional ou essa entidade possa assegurar um justo equilíbrio entre, por um lado, os interesses ligados às necessidades do inquérito no âmbito da luta contra a criminalidade e, por outro, os direitos fundamentais ao respeito da vida privada e à proteção dos dados pessoais das pessoas às quais o acesso diz respeito (n.° 52).

Quando essa fiscalização não é efetuada por um órgão jurisdicional, mas por uma entidade administrativa independente, esta deve gozar de um estatuto que lhe permita agir, quando desempenha as suas missões, de maneira objetiva e imparcial e, para esse efeito, deve estar ao abrigo de qualquer influência externa (n.° 53).

Resulta das considerações precedentes que a exigência de independência que a autoridade encarregada de exercer a fiscalização prévia, recordada no n.° 51 do Acórdão no processo C-746/18, deve satisfazer impõe que essa autoridade tenha a qualidade de terceiro em relação à autoridade que pede o acesso aos dados, de modo que a primeira esteja em condições de exercer essa fiscalização de maneira objetiva e imparcial, ao abrigo de qualquer influência externa. Em especial, no domínio penal, a exigência de independência implica, como salientou o advogado-geral, em substância, no n.° 126 das suas conclusões, que a autoridade encarregada dessa fiscalização prévia, por um lado, não esteja envolvida na condução do inquérito penal em causa e, por outro, tenha uma posição de neutralidade relativamente às partes no processo penal (n.° 54).

Esta jurisprudência do Tribunal de Justiça relativa aos dados de tráfego e de localização conduz, no que se refere aos dados pessoais armazenados num telemóvel, à seguinte questão:

c.) Quanto à terceira questão prejudicial:

No que se refere aos atos policiais praticados pela polícia judiciária, o StPO não prevê uma obrigação por parte das autoridades de documentar por escrito a medida da análise digital de um telemóvel, ou de emitir uma confirmação do ato administrativo, ou ainda de dar ao interessado a oportunidade, por exemplo, através da consulta dos atos judiciais, de saber que o seu telemóvel foi sujeito a uma análise de dados. Devido à falta de notificação, os interessados ficam privados dos seus direitos como partes no processo. Por conseguinte, não é possível impedir através de um recurso preventivo uma análise pretendida. Além disso, os interessados também não têm a oportunidade de recorrer a nenhum tipo de proteção legal posterior.

No decurso do processo judicial aqui pendente, a Bezirkshauptmannschaft Landeck (Autoridade Administrativa do Distrito de Landeck), na qualidade de autoridade recorrida, foi instruída por ordem processual de 1 de abril de 2021 a submeter todo o processo e toda a respetiva documentação ao Landesverwaltungsgericht Tirol (Tribunal Administrativo Regional do Tirol,

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Áustria). Embora a Bezirkshauptmannschaft Landeck (Autoridade Administrativa do Distrito de Landeck) tenha cumprido esta ordem, a (tentativa de) análise digital do telemóvel do recorrente nunca foi documentada. Por último, o recorrente, tal como o órgão jurisdicional chamado a pronunciar-se, só tomou conhecimento deste facto através das declarações de um agente da polícia, ouvido como testemunha sob juramento, na audiência pública do Landesverwaltungsgericht.

Assim, suscitam-se sérias dúvidas quanto à disposição do § 18, em conjugação com o § 99, n.° 1, do StPO, sobretudo na perspetiva da garantia de um processo equitativo, orientado pelo princípio da igualdade de armas, no sentido do artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais. Devido ao facto de o ato administrativo não ter sido registado nem documentado de qualquer outro modo, não há nenhum facto estabelecido em que se possa basear o recurso legal de um interessado. Ora, tal não parece ser compatível com o princípio da igualdade de armas.

Além disso, nos termos do artigo 52.°, n.° 1, da Carta dos Direitos Fundamentais, qualquer restrição ao exercício dos direitos e liberdades reconhecidos por esta Carta deve ser prevista por lei e respeitar o conteúdo essencial desses direitos e liberdades. Na observância do princípio da proporcionalidade, essas restrições só podem ser introduzidas se forem necessárias e corresponderem efetivamente a objetivos de interesse geral reconhecidos pela União, ou à necessidade de proteção dos direitos e liberdades de terceiros. Segundo a jurisprudência do Tribunal de Justiça, incumbe aos órgãos jurisdicionais nacionais efetuar uma apreciação global das circunstâncias que rodeiam a adoção e a aplicação de uma regulamentação restritiva com base em elementos de prova fornecidos pelas autoridades competentes do Estado-Membro, destinada a demonstrar a existência de objetivos adequados para legitimar um entrave a uma liberdade fundamental garantida pelo Tratado sobre o funcionamento da União Europeia e a sua proporcionalidade (Acórdão do Tribunal de Justiça de 28 de fevereiro de 2018, C-3/17, Sporting Odds Ltd n.° 53, que remete para o Acórdão do Tribunal de Justiça de 14 de junho de 2017, Online Games e o., C-685/15, n.° 65).

O caráter questionável desta abordagem resulta da jurisprudência constante do Tribunal de Justiça, segundo a qual as exigências que decorrem da proteção dos princípios gerais reconhecidos no ordenamento jurídico comunitário também vinculam os Estados-Membros aquando da implementação das regulamentações comunitárias e que, por conseguinte, estes são obrigados a, na medida do possível, aplicar estas regulamentações em condições que respeitem as referidas exigências (v. Acórdão do Tribunal de Justiça de 27 de junho de 2006, C-540/03, e de 24 de março de 1994 C-2/92, Bostock, n.° 16, e de 18 de maio de 2000, C-107/97, Rombi e Arkopharma, n.° 65; neste sentido, igualmente, Acórdão ERT, n.° 43).

Segundo o artigo 47.° da Carta, que tem por epígrafe «Direito à ação e a um tribunal imparcial», toda a pessoa cujos direitos e liberdades garantidos pelo direito da União tenham sido violados tem direito a uma ação perante um tribunal.

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artigo 19.°, n.° 1, segundo parágrafo, TUE de estabelecerem as vias de recurso necessárias para assegurar uma tutela jurisdicional efetiva nos domínios abrangidos pelo direito da União (Acórdão do Tribunal de Justiça de 16 de maio de 2017, C-682/15, Berlioz Investment Fund, n.° 44).

A restrição a este direito é possível, nos termos do artigo 52.°, n.° 1, da Carta, mas só pode ser justificada se estiver prevista por lei e respeitar o conteúdo essencial desses direitos e liberdades. Na observância do princípio da proporcionalidade, essas restrições só podem ser introduzidas se forem necessárias e corresponderem efetivamente a objetivos de interesse geral reconhecidos pela União, ou à necessidade de proteção dos direitos e liberdades de terceiros (v. Acórdão do Tribunal de Justiça de 20 de setembro de 2017, C-664/15, Protect Natur-, Arten- und Landschaftsschutz Umweltorganisation, n.° 90 com remissão para o Acórdão do Tribunal de Justiça de 27 de setembro de 2017, Puskar, n.os 61 a 71).

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