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A FILHA DA MÃE Antônio Roberto Gerin

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Academic year: 2022

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Texto

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TEATRO

A FILHA DA MÃE

Antônio Roberto Gerin

(2)

Personagens

Celeste (Mãe) Maria (Filha)

(Sala de uma casa de interior de cidade de grande porte.

Há uma expectativa de sofisticação do ambiente, retratada principalmente no escuro piano ao canto, o amplo sofá de quatro lugares, acompanhado de outro, de três lugares, a cor sóbria e forte do estofado tentando dar uma elegância social que é descompensada pelos bibelôs de certo mau gosto, dois deles de cunho religioso, espalhados sobre a mesa de centro. Dois quadros, com molduras clássicas, dão o acabamento final a esta pretensiosa imponência socioeconômica. Ao fundo, no lado esquerdo, uma varanda que se pode antever através de pares de janelas envidraçadas que percorrem toda a parede que dá para o jardim. Mais ao longe, percebe-se uma piscina, acanhada. Um coqueiro anão derramando suas sombras sobre a água azul anuncia o entardecer.)

ATO I

CELESTE (Batendo à porta do quarto da filha.) - Maria! Abre essa porta, agora! (Pausa.) Vou te dar dez segundos. (Pausa.

Soca a porta.) Você acha que eu não sou capaz de arrebentar essa porcaria?

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MARIA (Grita.) - Eu estou no meu quarto!

CELESTE Esse quarto não é seu. Nunca foi. Abre essa porta!

(Pausa.) Maria! (Pausa.) Que idiotice é essa de querer terminar o namoro. Depois de tudo que eu fiz por você!

Quanto dinheiro eu não gastei pra te fazer uma moça decente. Apresentável!

MARIA Eu vou devolver seu dinheiro, não se preocupe.

CELESTE (Irrita-se.) - Você não vai terminar esse namoro! Está me ouvindo? Pega o telefone e liga pra ele! (Pausa.) Até aula de piano eu te paguei. Você sabe o que é dó-ré-mi graças a mim. Ao meu dinheiro! (Chuta a porta. Estrondo.) Abre essa porcaria de porta!

MARIA (Abrindo a porta.) - Está aqui o seu quarto. Pode vomitar suas merdas nele!

CELESTE Repete o que você disse.

MARIA Me deixa em paz!

CELESTE Sua malcriada! Eu te sento a mão na cara!

MARIA (Afrontando.) - Vai, bate! Pode bater!

CELESTE (Pausa. Desconcerta-se.) - Sua mãe passou a vida trabalhando pra você. Pra te dar um futuro digno. Um casamento à altura da sua beleza. E o que é que você quer fazer? Terminar o namoro. Você já parou pra pensar na besteira que você está querendo fazer? Que menina, aos dezenove anos, consegue se casar com um homem rico?

E a burra teimosa está querendo jogar tudo fora! Da próxima vez que ele te ligar, você vai atender. Ou eu não respondo pelos meus atos! (Nervosa.) Cadê o telefone...?

Você vai ligar pra ele agora...!

MARIA Eu não quero falar com ele.

CELESTE Você não tem que querer nada.

MARIA Vai me obrigar?

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CELESTE Você vai fazer o que eu mandar.

MARIA Só se for pra terminar o namoro.

CELESTE Ficou maluca!

MARIA Eu não quero mais essa merda de vida, mãe! Chega!

CELESTE Você está querendo o quê com isso?

MARIA Cuidar de mim! Da minha vida!

CELESTE Vida de mulher é casar! Essa é a vida. Já que você tem que se casar, case com um homem rico! Podem pensar o que quiserem, mas mulher ainda é feita pra casar. Mulher casada é mulher estabelecida. Casada com homem rico, então, nem se fala. Ah, Meu Deus, Nossa Senhor da Abadia...! Que ideia essa agora de achar que pode ser independente.

MARIA Por que não?

CELESTE Por que não existe mulher independente.

MARIA Lógico que existe!

CELESTE Quem foi que botou essa ideia maluca na sua cabeça...?

Só pode ser gente desocupada! Nunca que mulher é igual a homem! Onde? Em lugar nenhum. Isso é conversa de mulher que não consegue segurar homem. Ou você acha que é fácil segurar homem?

MARIA (Irônica.) - Esse é o papel da mulher.

CELESTE É, sim senhora!

MARIA Ficar pensando em homem.

CELESTE Vai pensar em quê?

MARIA Tem coisa muito mais interessante pra se pensar.

CELESTE Coisa inútil, você quer dizer. Coisa que não presta pra nada. Que não vai te dar futuro nenhum. Você quer

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mesmo saber por que mulher tem, sim, que ficar pensando em homem? Por que mulher sem homem não é mulher. E eu te criei pra ser mulher!

MARIA Pra abrir as pernas.

CELESTE Exatamente! Essa é a obrigação da mulher. A principal.

MARIA E me parece que a senhora sabe fazer isto muito bem.

CELESTE Sei! E me orgulho disso.

MARIA Parabéns!

CELESTE Eu não preciso da sua ironia.

MARIA Por que é que eu tenho que fazer o que você quer?

CELESTE Você não tem outra escolha.

MARIA (Descontrola-se.) - A vida é minha, faço com ela o que eu quiser!

CELESTE Não faz. Não enquanto eu for viva! Casar! Essa é a sua única escolha. Por isso que você namora esse rapaz.

Rico! Pra abrir as pernas. Pra ele! E esse é o seu grande problema. Você não abre as pernas pro seu namorado.

Não como devia! Fica aí, de cu doce, e depois reclama que ele vive te traindo.

MARIA Eu abro as minhas pernas quando eu quiser, e homem que viver comigo vai ter que aceitar isso. A boceta, que você tanto presa, é minha, e ela só vai ser comida quando eu quiser.

CELESTE Com essas ideias ultrapassadas você não vai a lugar nenhum. O relacionamento começa no namoro. Começou a namorar, a boceta é do homem.

MARIA Ela é minha!

CELESTE Do seu namorado!

MARIA Não aceito, não aceito, não aceito! Namoro não é isso!

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CELESTE Como é que você vai se casar? Sem namorar? Homem, hoje em dia, só se segura pela boceta. Isso começa no namoro. Você acha que casamento é só papel?

Casamento é sexo. Sexo e dinheiro. Ou dinheiro e sexo, sei lá qual vem primeiro.

MARIA Casamento é amor.

CELESTE Se é amor, minha filha, nem precisa casar. Amor é de graça.

MARIA Exatamente, mãe! Amor não se compra. Não o verdadeiro amor!

CELESTE Nossa Senhora da Abadia! Quanta besteira eu sou obrigada a ouvir...? (Agita-se.) Quer se casar por amor?

Atravessa a rua e vai se casar com o Amadeu, o balconista da farmácia. Ele está ali, bem na sua frente. É doidinho por você. Baba quando você passa, nem se dá ao trabalho de disfarçar. O pobretão quer pegar a moça mais bonita da cidade, sem fazer esforço nenhum. Isso eu não vou aceitar! Ouviu? Não vou dar minha filha pra um aproveitador.

MARIA Ele não é aproveitador.

CELESTE Pobre, feio, balconista, isso é o quê? Quer se casar com ele? Vai lá. Casa. Agora, quando nascer a criança, quero ver o dinheiro pra comprar fralda.

MARIA Eu vou trabalhar.

CELESTE Vai ser balconista também? É o que te espera. Já que você nunca se deu ao trabalho de abrir um livro. Aí eu quero ver quando você quiser ir à praia. Viajar pra Europa. Comprar carro. E olha que eu nem estou falando de carro novo. O Amadeu não vai te dar um milésimo do que o João Guilherme, com certeza, te dará.

MARIA Quem está me casando com o Amadeu é você.

CELESTE Você disse que quer se casar por amor.

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MARIA (Pausa.) - Eu amo o João Guilherme.

CELESTE Aleluia! Aleluia, minha senhora da Abadia! Amor, sexo e dinheiro. Era isso que eu queria ouvir de você! (Pausa.

Em tom firme, seco.) Qual é o problema, então? Por que é que você não atende ao telefone? Só porque ele te traiu?

Isso é besteira. Contanto que ele coloque a aliança no seu dedo, o resto a gente suporta.

MARIA Eu não sou mulher pra ser trocada por outra.

CELESTE Você é fresca. Ninguém pode tocar em você sem permissão. Isso é frescura. Cu doce. Homem gosta de fazer com a mulher o que ele bem entende. Esse é o verdadeiro macho. Quando ele joga a mulher na cama, ele quer que ela já caia de pernas abertas! (Irrita-se.) Isso é receita de bolo!

MARIA A senhora quer que eu seja uma coisa que eu não consigo ser.

CELESTE Eu te criei pra isso. Qual a dificuldade?

MARIA Eu não consigo ser máquina de fazer sexo. Joga a moedinha, e pluft! Minhas pernas não abrem automaticamente. Não funciona comigo!

CELESTE Então, esquece. Você nunca vai segurar homem. Vai ter vocação pra corna. Pobre da minha filha...! Tão bonita, e tão inútil!

MARIA (Silêncio.) - Eu não estou dizendo que eu não acho sexo importante.

CELESTE Imagina se não achasse! Seria uma porta. Lacrada.

(Contemporiza, quase acolhedora.) Minha filha...!

Macho é bicho arisco. Se você pensar demais, ele foge.

Ele vai procurar quem dá mais! Isso é tão óbvio quanto a matemática do um mais um. Você por acaso sabe do que o João Guilherme gosta?

MARIA Fricassê de frango.

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CELESTE (Desespera-se.) - Não é de comida que eu estou falando, sua sonsa! Eu estou falando de sexo! Eu estou falando do que o seu namorado gosta na cama. Não na mesa! Quem faz a comida que se põe na mesa é a cozinheira! Agora quero ver na cama! Cada homem tem um jeito de gostar de sexo. De ter prazer. Tem quem goste de sexo em pé.

No banheiro do avião. Na praia. Nós vivemos de fantasia.

Senão como é que nós vamos suportar a vida. Você já perguntou pro João Guilherme do que é que ele gosta?

(Conclusiva.) Não perguntou.

MARIA Não.

CELESTE Está vendo? Não tem iniciativa.

MARIA Eu não vou perguntar essas coisas pra ele.

CELESTE Então, como é que você vai satisfazer o seu namorado.

MARIA Ele também não me pergunta nada.

CELESTE E por que é que ele tem que perguntar?

MARIA Eu prefiro que seja natural.

CELESTE Natural o quê?

MARIA Espontâneo!

CELESTE Senhora da Abadia, em que época você está vivendo...

Natural... Ninguém mais sabe o que é isso. O tempo hoje em dia é corrido. Ninguém mais tem tempo pra descobrir nada. Pra saber onde colocar o dedo tem que perguntar! E não estamos falando aqui só de sexo. Estamos falando de segurar homem rico. Você, nessa passividade de vaca sonsa, tem mesmo é que levar chifre. Ainda corre o risco de perder o casamento. Não espere homem dizer do que ele gosta, ele não vai dizer. (Pausa.) Você é que tem que tomar a iniciativa. (Pausa.) Passa a mão e pergunta.

MARIA O quê?

CELESTE Passar a língua. (Faz o gesto.) Apertar. Beijar! Chupar!

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MARIA Isso é ridículo, mãe!

CELESTE Ridículo é ser pobre.

MARIA Eu não vou me prestar a isso.

CELESTE Não quer perguntar? Tem vergonha? Então apalpa. É!

Vai apalpando, mudando de posição, de ritmo. Acaricia, de cima pra baixo, de baixo pra cima... Sei lá! Quando ele gemer, quando ele arrepiar, ficar com a boca aberta, com aquela cara de quem está no paraíso, é porque ele está gostando. É só prestar atenção! Deixa de ser boba!

MARIA Mãe, você está parecendo professora do sexo.

CELESTE Eu rodei muito pra chegar aonde eu cheguei. Não me envergonho. Eu era uma desgraçada. Passei fome. Pai bêbado! Eu não tinha nada! O bonitão do seu pai pode procurar mulher lá fora. Não me importo. Mas ele vai chegar em casa e vai me querer. Por que ninguém faz com ele o que eu faço. Eu sou a gostosa do pedaço!...

Isso é ser mulher!

MARIA Vou ficar parecendo uma piranha.

CELESTE Piranha? O que é isso? Não seja atrasada. Essa palavra mudou de significado faz tempo. Puta hoje é sinônimo de mulher independente. Óbvio que você tem que ter um certo recato. Não pode sair por aí abanando a perereca.

Não é disso que eu estou falando. Nós estamos falando do que a mulher tem que fazer entre quatro paredes. Ali não tem moral. Ali ela manda!

MARIA Mesmo ela não querendo?

CELESTE Maria, será que nós vamos ter que voltar pra mesma conversa? Eu estou ficando cansada...!

MARIA Eu não vou fingir.

CELESTE Ninguém está pedindo pra você fingir.

MARIA Se eu não consigo...!

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MARIA Então finge. Se é em nome do casamento, finge! Mas finja bem! Com propriedade. Homem não gosta de ser enganado.

MARIA Tudo em nome do dinheiro!

CELESTE Em nome do dinheiro, sim! Mas ninguém precisa saber disso. Garantir o futuro é um direito seu. Você tem beleza pra isso. De sobra. A sua beleza vai te render muito dinheiro, minha filha. Isso é que importa.

MARIA Minhas amigas não pensam assim.

CELESTE Quantas amigas você tem? (Pausa.) Hein? Duas?

MARIA É o suficiente.

CELESTE Se você tivesse mil, nenhuma delas seria mais bonita que você, muito menos nenhuma delas namoraria um rapaz rico como o João Guilherme. Portanto, esqueça as amigas. Elas não são exemplo pra nada. Quem tem que garantir casamento com homem rico é você, não elas.

MARIA Felizes são elas! Não precisam procurar homem rico.

CELESTE Quem disse? Você acha mesmo que elas não procuram?

Lógico que procuram! Todas, sem exceção. (Tom de sarcasmo.) Só que elas não conseguem. Você acha que eu ia perder o meu tempo com o pobretão do Amadeu? O Amadeu não merece mais que quarenta e cinco graus de abertura de pernas. Eu estou falando do João Guilherme, Maria! Herdeiro de cinco fábricas! Dono de BMW! Ele, sim, merece uma abertura de cento e oitenta graus! Tem mulher que consegue abrir a duzentos e vinte graus, você sabe o que é isso? Treina, que você também consegue. Aí eu quero ver o seu namorado olhar pra outra mulher.

MARIA Você consegue?

CELESTE O que é que você acha?

MARIA Eu estou perguntando.

CELESTE O que eu faço na cama com o seu pai não é da sua conta.

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MARIA O que eu faço com o João Guilherme é!

CELESTE Eu sou sua mãe.

MARIA (Revolta-se.) - Mas não é minha dona!

CELESTE Quem disse? Eu te pari, eu te criei. Eu mando em você, sim. Você está na minha casa. Você não tem onde cair morta. Eu estou te garantindo um futuro de mulher rica.

Eu tenho o direito, sim, de mandar em você. Não me vem com essa linguagem de vaca sonsa que acha que pode escolher o capim! Vaca que escolhe capim morre de fome. (Aproxima-se. Tom duro.) Você não vai terminar com o João Guilherme. Não, sem antes passar por cima do meu cadáver. Ou eu não me chamo Celeste! (Pausa.) Quanto eu não lutei por esse namoro...! Ele é seu noivo graças a mim. E vocês vão se casar daqui a seis meses.

Eu te jogo aqui, agora, a praga divina. Sem João Guilherme, te restará o balconista. Em outras palavras, o inferno. Porque não tem coisa mais infernal que a pobreza!

MARIA (Pausa.) - Eu posso ser balconista e não achar que isto seja o inferno.

CELESTE (Explosiva.) - Burra! Mil vezes burra!

MARIA Prefiro ser burra. Não me incomodo. Eu sempre fui. Por que é que eu não posso ser agora?

MARIA Mais que burra, você quer ser uma bostinha! Um cocô! A sorte só cai uma vez no nosso colo. Rapaz rico e gostoso igual ao João Guilherme nunca mais. Eu prefiro te ver morta. Enterrada no meio de cascalho. Pros vermes preferirem comer as pedras a te comer!

MARIA Mãe, você está ouvindo o absurdo que você está falando?

Me dá medo só de olhar pra você.

CELESTE Mas é pra ter medo de mim, sim! Depois de tudo o que eu fiz para segurar o seu pai dentro de casa, você acha mesmo que eu não sei do que eu estou falando? Você acha mesmo que eu não sei como é que é a vida lá fora?

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MARIA (Silêncio.) - Mãe, eu não posso... Não é que eu não queira. É que eu não posso!

CELESTE Não pode o quê?

MARIA Continuar esse namoro.

CELESTE Você vai continuar.

MARIA (Nervosa.) - Eu não consigo!

CELESTE É só atender ao telefone.

MARIA E depois?

CELESTE Ele já ligou umas dez vezes, eu não sei mais o que dizer pra ele. Eu já estou ficando com vergonha de tanto mentir.

MARIA Será que a senhora podia parar de falar e me ouvir!

CELESTE Ouvir asneiras? De uma mosca morta? Me poupe. Não tenho paciência pra isso.

MARIA Eu sou um mosca morta? É isso que a senhora pensa de mim?

CELESTE É assim que você se comporta. Você não luta pelos seus interesses. Isso é ser mosca morta. Deixar que as pessoas mandem em você. Minha vontade é te dar uma paulada no meio da testa, pra ver se você acorda e vê a besteira que você está querendo fazer. Que mulher vai jogar no lixo um casamento rico? Só se for uma mosca morta.

MARIA Vamos supor que eu seja uma mosca morta.

CELESTE Você não precisa ser.

MARIA (Altera-se.) - Mas eu sou! É assim que eu me sinto! Uma mosca! (Pausa.) Talvez seja essa a saída. Ser uma mosca morta. Assim ninguém vai me ver, ninguém vai me notar, já que eu não posso fazer o que eu quero, não vou precisar fazer o que eu não quero. Talvez eu consiga ser feliz, mesmo que pra isso eu tenha que ser um inseto. A

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única coisa que eu peço, mãe, é poder cuidar da minha vida.

CELESTE Você não tem vida.

MARIA Tenho!

CELESTE Me mostra.

MARIA (Silêncio.) - Eu quero ir embora dessa casa.

CELESTE Pra onde?

MARIA Eu já vou fazer vinte anos.

CELESTE Quem vai te sustentar?

MARIA Eu vou trabalhar.

CELESTE Você acha que arranjar emprego é fácil?

MARIA Meu pai me ajuda.

CELESTE Ele não vai te ajudar. Porque eu não vou deixar ele te ajudar.

MARIA Eu me viro sozinha.

CELESTE Você não sabe fazer nada. (Vendo que Maria se retira.) Aonde é que você vai?

MARIA (Confusa.) - Pro meu quarto.

CELESTE Você só vai sair daqui depois que você ligar pra ele.

MARIA Não, mãe, isso não...! Nunca!

CELESTE Mas ele está te ligando!

MARIA (Volta-se.) - Eu não nasci pra casar. Será que você não consegue entender isso...?

CELESTE Como não nasceu pra casar...?! Você é mulher!

MARIA Você ouviu o que eu disse? Eu não quero me casar.

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CELESTE Até semana passada você queria. Se não me falha a memória, até o vestido de noiva você já escolheu.

MARIA Você escolheu.

CELESTE Eu te ajudei.

MARIA Acontece que eu mudei de ideia. Não quero mais me casar.

CELESTE E você vai fazer o que com toda essa beleza que Deus te deu?

MARIA Sexo é que segura casamento.

CELESTE Mas a beleza é o caminho mais curto pra se chegar até uma cama rica, com lençóis de seda!

MARIA Infelizmente, eu ainda não passei no teste da cama.

CELESTE Porque não se esforça! Não é por falta de eu te ensinar.

Você não leva a sério o seu futuro. Escuta bem o que a tua mãe vai te dizer. Que mulher não sonharia ter o que você tem? Você tem boceta e beleza, do que mais você precisa? Ele entra com o pinto e com o dinheiro. Quer casamento mais perfeito que esse?

MARIA A senhora esqueceu o principal.

CELESTE O quê?

MARIA A dignidade.

CELESTE Do que é que você está falando?

MARIA Eu estou falando de respeito. As pessoas te respeitarem...

CELESTE Só porque ele te trai de vez em quando?

MARIA Não é só isso!

CELESTE É o quê, então?

MARIA (Irrita-se.) - Esquece!

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CELESTE Está ficando irritada por quê? Não sabe conversar? Pelo menos se você fosse inteligente...!

MARIA Está de novo me chamando de burra.

CELESTE Eu nunca te chamei de burra.

MARIA Desde que eu me conheço por gente.

CELESTE Você está querendo fazer uma burrice. Isso é o quê? Falta de inteligência.

MARIA A senhora vai ter que aceitar a minha decisão. Eu não vou me casar com o João Guilherme.

CELESTE Por que é que um homem não pode pegar uma vagabunda de vez em quando? Faz parte.

MARIA O João Guilherme não pegou uma vagabunda. Ele pegou a Mariana!

CELESTE (Surpresa.) - O quê...! A Mariana! Como assim a Mariana?! Você não pode estar falando sério...!

MARIA Ela não é vagabunda.

CELESTE Ela é sua melhor amiga! Isso é o quê?

MARIA Ela é filha da dona Jussara, que vive dizendo pra todo mundo que a filha dela só não é mais inteligente que o Einstein, que só não é mais bonita que a Gisele Bündchen, que só não é mais gostosa que a Sofia Loren, que só não é mais santa que Tereza D’Ávila...

(Revoltada.) Você conhece a Tereza, aquela que queria dar a boceta pra Jesus? (Dramaticamente irônica.) Ela deu pro João Guilherme...!

CELESTE A mãe dela é mentirosa.

MARIA Não, mãe. A mãe dela, a dona Jussara, sabe a filha que tem.

CELESTE O João Guilherme não faria uma coisa dessas...

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MARIA Mas fez!

CELESTE Com tantas qualidades, não passa de uma vagabunda.

MARIA (Grita.) - O vagabundo é ele!

CELESTE Ele é homem!

MARIA Então a vagabunda nessa história sou eu.

CELESTE Pior que é!

MARIA (Pausa.) - É sério o que você está falando...? Será, mãe, que não existe nada de interessante pra você me dizer...?

Que seja uma palavra simples... Bonita.

CELESTE Olho pra você e não consigo achar uma palavra que preste pra te dizer.

MARIA Isso prova que eu não mereço me casar com o João Guilherme. Ele é rico. Ele precisa de uma mulher que mereça ouvir uma palavra bonita. E essa mulher não sou eu.

CELESTE Para de fazer drama...! Você só está com raiva. Por isso fica aí, se afogando em copo d’água. É normal. Só que raiva é coisa que passa. Quer chutar o balde? Manda umas mensagens desaforadas pra sua amiga. Chama ela de vagabunda, de piranha, manda ela pros quintos dos infernos! Cadê o telefone? Liga pra ela. Se você quiser, eu mesma faço o serviço. Eu sou boa nisso. Aí depois você pega o telefone e liga pro João Guilherme e faz uma abertura de duzentos e vinte graus...! Pronto!

MARIA A Mariana não tem nada a ver com isso.

CELESTE Ela seduziu o seu namorado.

MARIA Ele!

CELESTE Você não vai dizer uma palavra pro João Guilherme sobre esse assunto. É como se nada tivesse acontecido.

Comeu, fodeu, pronto! Eu te proíbo! Ouviu? A vagabunda nessa história é a Mariana. E não se fala mais

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nisso.

MARIA E ele é o quê?

CELESTE O seu namorado rico! (Pausa. Caminha.) Ah, meu Deus, quanto sufoco...! Quanta miséria humana!

MARIA Eu sou pobre, mãe. Não vai dar certo eu me casar com ele.

CELESTE Só tem uma forma de acabar com a pobreza. Ficar rica!

(Acalma-se.) Até semana passada as coisas iam bem. O que foi que aconteceu?

MARIA As coisas nunca foram bem.

CELESTE Foram! Você que não quer admitir. Tudo está muito lindo. Eu vejo as coisas com tanta clareza, com tanta certeza, não é possível que minha filha não enxergue o que ela está querendo fazer. (Para Maria.) Eu ouvi muito bem a voz dele no telefone. Agoniado. Sofrido! No telefone é mais fácil a gente perceber quando uma pessoa não está bem. A gente ouve a respiração. Aí você deduz que a pessoa não está nada bem. E ele não está nada bem!

MARIA Lógico! Está se sentindo culpado.

CELESTE E agora está arrependido. Isso é fantástico! Percebe como as coisas estão correndo bem? Eu sei que elas estão bem.

Agora só falta você ir lá e atender ao telefone. Não! Você vai ligar. Ele já ligou demais. Agora é a sua vez.

MARIA Eu ligo, ele atende... E daí? Até a próxima vez, né, mãe?

CELESTE Vai ter próxima vez. Eu não tenho dúvida disso. Você acha que seu pai me trai quantas vezes? A Mariana foi apenas uma diversão por João Guilherme. Homem nenhum vai recusar uma diversão.

MARIA Eu posso atravessar a rua e convidar o Amadeu pra uma diversão...

CELESTE Se você fizer isso, eu atiro nas suas costas daqui da janela. O João Guilherme pode se divertir com quem ele

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quiser. Mas é com você que ele vai se casar.

MARIA Mãe, ele vai se casar com quem ele quiser.

CELESTE Eu mesma vou dar um jeito nessa Mariana.

MARIA Vai atirar nas costas dela?

CELESTE Não precisa. Inseto a gente esmaga!

MARIA É por isso que a senhora vive me esmagando.

CELESTE Você não é inseto!

MARIA Sou eu que estou fazendo o papel de inseto! Não percebe não? Entende por que eu quero sumir? Entende por que eu nunca queria ter existido? Porque eu não sou nada. Eu não existo!

CELESTE Infelizmente, você existe. Tanto existe, que está aí, querendo colocar tudo a perder.

MARIA O que eu tinha que perder eu já perdi.

CELESTE Você não perdeu nada até agora. A BMW ainda está lá na garagem, te esperando.

MARIA Eu estou falando da minha vida. Dessa merda de vida.

Pra onde eu olho não vejo saída. Aí eu tenho que me levantar, e a única coisa que me resta fazer é esperar pelo João Guilherme. Esperar que ele olhe pra mim e me ache a mulher mais fantástica do mundo. É disso que eu estou falando. De viver a vida! De ser importante pra alguém!

Eu preciso que alguém me enxergue!

CELESTE BMW na garagem. Isto é viver a vida. É disto que temos que falar. Viagens à Paris! Você está querendo perder a sua estabilidade pra vida toda. Casou, você vai ter filho, ouviu? Não vai ficar esperando não. Tem que ter filho logo, se a coisa estourar, tem pensão, e polpuda. Pronto!

É isso que importa. Escuta sua mãe, ela é macaca velha, experiente. Depois disso, você pode até se casar com o balconista, que não fede e nunca vai cheirar. Eu tenho certeza absoluta de que tudo isso que você está falando é

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invenção da sua cabeça. Você está com medo. Medo de ser mulher. Medo de segurar o macho dentro da sua boceta. Porque isso é ser mulher. Pode girar o mundo e filosofar, ir a Paris, mergulhar no Mar Morto, o escambau! Pra onde você for, tudo acaba naquilo que o homem mais precisa. De poder ter seu esperma quente e feliz dentro de uma boceta eficiente. E de preferência também feliz! Porque boceta triste é a pior coisa que pode existir pra um homem. (Pausa.) Será que é tão difícil entender?! (Silêncio. Muda o tom, investigativo.) Como é que você sabe que o João Guilherme saiu com a Mariana?

MARIA A Bete me contou.

CELESTE Que Bete?

MARIA A senhora não conhece.

CELESTE Deve ser alguma invejosa.

MARIA Mãe, ela viu o João Guilherme entrando com a Mariana no Virgilius.

CELESTE (Admirada.) - Ele levou a Mariana pro Virgilius!?

MARIA Levou.

CELESTE (Pausa. Pensativa.) - Qual o problema?

MARIA O Virgilius é um lugar pra se divertir.

CELESTE O Virgilius é um lugar para ostentar riqueza.

MARIA Ostentar o pinto.

CELESTE O pinto faz parte da riqueza.

MARIA O que nos faz concluir que levar uma moça para jantar no Virgilius é convidá-la pra ir pra cama.

CELESTE A conclusão é sua.

MARIA Não, mãe. É do João Guilherme.

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CELESTE Isso já é ciúme doentio.

MARIA Isso é respeito!

CELESTE Você está levando a coisa a ferro e fogo.

MARIA Primeiro o restaurante, depois a cama. Se for direto pra cama, provável o João Guilherme não conseguiria comer.

(Irônica.) Então, tem que passar primeiro no restaurante.

CELESTE Você está agredindo a moral do João Guilherme.

MARIA A moral ou o pinto?

CELESTE Os dois!

MARIA (Grita.) - Mãe! Ele é que me agrediu!

CELESTE (Pausa. Muito inquieta, caminha enquanto pensa.) - Essa Mariana já está ficando espertinha demais pro meu gosto.

MARIA Está na hora de dar o tiro nas costas dela.

CELESTE Malcriada! Sem ironias! Eu conheço o João Guilherme, não é de hoje. Ele sempre foi muito atencioso com a gente. Vocês praticamente cresceram juntos. Isso é que conta. Não tem Mariana que vai destruir essa história linda.

MARIA Eu e o João Guilherme juntos... Onde? Na cozinha da casa dele?

CELESTE Que cozinha, Maria? Você está maluca!

MARIA Na cozinha é o lugar que eu me sinto bem.

CELESTE Você sempre entrou na casa dele a hora que quis.

MARIA Principalmente no quarto dele.

CELESTE O quarto faz parte da casa.

MARIA Não, mãe, a senhora não pode achar que eu não enxergo as coisas.

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CELESTE Que coisas? As que você quer enxergar...?

MARIA O principal não aconteceu.

CELESTE Que principal?

MARIA Eu não estudei na mesma escola que ele.

CELESTE Isso não é o principal.

MARIA (Ressentida.) - Eu tinha que ter estudado!

CELESTE Você não gostava de estudar.

MARIA Quem disse que eu não gostava de estudar?

CELESTE Você nem pegava em livros.

MARIA Mãe, eu não tinha livros! Você não comprava livros pra mim! Nunca comprou. Eu ia na casa do João Guilherme, eu via aquele monte de livros, eu sentia vergonha.

CELESTE Você só pode estar brincando. Sentir vergonha de livros!

MARIA De ser burra.

CELESTE Por que é que eu ia gastar dinheiro com livros? Uma menina linda como você não precisa de livros.

MARIA Nem de escola.

CELESTE Você foi pra escola.

MARIA Escola pública. Onde os meninos só queriam passar a mão em mim!

CELESTE Foi uma boa experiência.

MARIA Você acha mesmo?

CELESTE Escola particular é cara.

MARIA Meu pai podia pagar.

CELESTE E a aula de piano?

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MARIA Eu não queria estudar piano.

CELESTE Mas você precisava estudar.

MARIA Pra quê?

CELESTE Porque na casa do João Guilherme tem piano, sua burra!

(Pausa.) Pensa que sua mãe também é burra? Lá tem um piano. Sua mãe imaginou tudo. Você chegando na casa dos Cavalcanti, um jantar, e você indo ao piano tocar.

Uma linda menina tocando piano. Que homem resistiria?

Nem o João Guilherme, muito menos a dona Rosa, a mãe dele.

MARIA Eu nunca toquei piano naquela casa.

CELESTE Esse é o problema!

MARIA Ninguém liga praquele piano.

CELESTE A dona Rosa toca.

MARIA Quem disse?

CELESTE (Pausa.) - Um dia eu e seu pai fomos convidados pro jantar de final de ano da fábrica. Na casa dos Cavalcanti.

Foi uma honra ter ido lá. Você tinha quatro anos de idade. Na festa tinha um pianista famoso, desses que gente rica conhece. Aí ele sentou ao piano e começou a tocar uma música muito linda. Depois chamou a dona Rosa e os dois sentaram lado a lado e começaram a tocar.

Aí, naquele momento, eu disse pra mim mesma. A minha filha um dia vai tocar piano. Nesse piano! E vai tocar com a dona Rosa!

MARIA Foi pra isso que você me obrigou a ficar oito anos enfiada num piano!?

CELESTE Oito anos! Pra você fazer o que, sua burra? Pra não tocar na casa dos Cavalcanti! Como é que se tem uma filha dessas?!

MARIA Eu queria ter estudado.

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CELESTE Você foi pra escola, por que é que não estudou?

MARIA Por que você não queria que eu estudasse.

CELESTE A culpa é minha.

MARIA Eu tinha que estudar piano.

CELESTE Você não precisa de estudo.

MARIA O que é que eu sou hoje?

CELESTE Noiva do João Guilherme! Acha isso pouco?

MARIA (Silêncio.) - Eu era burra, né, mãe? Não valia a pena investir em mim.

CELESTE Tudo é uma questão de prioridade.

MARIA Eu nunca tive talento pra tocar piano.

CELESTE Você podia ter-se esforçado mais.

MARIA Eu me esforçava.

CELESTE Eu consegui pra você um homem rico!

MARIA Eu vou fazer uma faculdade.

CELESTE Você vai se casar com o João Guilherme e vai ter filhos com ele.

MARIA Eu sou inteligente!

CELESTE Você é bonita! (Breve pausa.) Você só precisa ter as coxas um pouco mais grossas. Qualquer ginástica resolve. Mas nem isso você faz! Por que é teimosa. Podia ter as coxas mais torneadas. Grossas, firmes. Homem adora coxas firmes. Eu já me ofereci pra pagar academia.

Toda vez que o João Guilherme enfiar a cabeça dentro das suas coxas, eu quero ver quanto custa uma escola.

Escola é a vida! E da vida eu entendo. E não adianta ficar achando que estamos aqui, de favor. Morando nesta casa!

Não é favor nenhum você se casar com o João

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Guilherme. Eles, os Cavalcanti, é que têm que agradecer.

O que seria da fábrica sem o seu pai? Eles, sim, é que têm que dar graças a Deus!

MARIA O dia que o papai não lamber as botas dos Cavalcanti, pluft! (Grita.) Rua! O papai não pode parar de lamber as botas deles, nunca! E foi assim que eu cresci. Vendo meu pai lambendo as botas dos Cavalcanti!

CELESTE Olha como você fala do seu pai, sua vaca malcriada!

Ingrata! Seu pai é inteligente, é ele quem comanda aquilo tudo, ele não precisa lamber as botas de ninguém.

MARIA Mas lambe. Sabe por quê? Porque o papai é inteligente.

Ele sabe que se ele não lamber, botam ele pro olho da rua. Ainda bem que o voto é secreto. O velho Cavalcanti não tem como saber em quem o papai vota. Papai sabe que têm outros que são até melhores do que ele. Mas que não se submetem ao que ele se submete.

CELESTE Ótimo que você pensa assim do seu pai. Um motivo a mais pra você querer se casar com o João Guilherme. O mais rápido possível. Pro seu pai não ter mais que lamber botas! (Silêncio.) A insegurança, minha filha, faz parte da espécie do macho. Ele sempre precisa provar que dá conta. De outra. Você não é risco pro João Guilherme.

Ele te come, simplesmente. A outra, enquanto ele não comer, ele não vai ter certeza de que é realmente macho.

Isso é complicado, é confuso... Às vezes, é difícil de entender os homens. Mas é assim que eles funcionam.

Querendo ou não. Não adianta ficar dando murros em ponta de faca. Você foi preparada pra se casar com o João Guilherme. A vida não lhe reserva outra alternativa.

MARIA O João Guilherme não é o único homem.

CELESTE O Amadeu!? Você acha que o Amadeu é diferente? Pinto de macho é tudo a mesma coisa. A diferença está no bolso. É isso que eu tento enfiar nessa sua cabeça dura faz pelo menos vinte anos!

MARIA O Amadeu pode ter outros valores.

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CELESTE Você quer mesmo que eu dê uma gargalhada.

MARIA As pessoas são diferentes.

CELESTE Concordo. Ele é pobre. Se é pra ser corna, seja corna de homem rico.

MARIA Quem disse que eu quero ser corna?

CELESTE Mas você vai ter que ser corna. Tem alguma dúvida?

Maria! O João Guilherme é rico. Mas ele não é bonito.

Uma certa beleza, e só! É isso que você tem que entender. Ele precisa se casar com uma mulher linda.

Você! Quer estudar? Você pode até satisfazer esse capricho. Depois que se casar. Mas eu garanto. Depois que você conhecer o mundo da riqueza, você não vai mais querer olhar pra livro. Livro, pra você, vai ser coisa tão inútil quanto ser corna!

MARIA Mãe, eu não aguento isso tudo que você está falando...

Você me desculpa.

CELESTE Não aguenta o quê?

MARIA Você acha que é vida a gente viver sofrendo? E eu sei que eu vou sofrer. Está na cara!

CELESTE É lógico que você vai sofrer. Você está nesse mundo pra quê? Sofrimento não faz mal a ninguém. Mas vai sofrer lá em Paris! Como é que chama... aquela avenida importante? Champis alguma coisa...! Compre suas bolsas caríssimas! (Pausa. Tenta ser maternal.) Mariia!

Minha filha... Eu te conheço. Você tem imaginação demais. É isso que te atrapalha. Pra você, o mundo vive desabando a cada passo que você dá. A cada passo, um abismo! Pra que ser tão trágica? Pé no chão, Maria!

(Respira fundo.) Você está colocando a Mariana na cama do João Guilherme!

MARIA Você acha que eu estou inventando.

CELESTE (Enfática.) - Acho!

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MARIA Eu não estou inventando...!

CELESTE Só porque foram jantar no Virgilius?

MARIA Eu sei o que acontece depois do Virgilius...

CELESTE Ótimo! Pronto! Você sabe.

MARIA (Pausa. Está insegura) - O que é que as outras mulheres têm que eu não tenho?

CELESTE O que é que você tem que elas não têm, essa é a pergunta.

MARIA Eu não estou brincando!

CELESTE O que foi? Bateu o complexo de inferioridade? Se dependesse de você, todas as lojas de cosméticos estariam falidas. Você não precisa de cosméticos pra ficar linda. E isso não é brincadeira. Você só precisa largar dessa mania de querer ser quem você não é.

MARIA E o que é que eu sou?

CELESTE Noiva do João Guilherme.

MARIA Eu perdi a minha vida estudando piano!

CELESTE Foi uma escolha.

MARIA Sua, não minha!

CELESTE Você ainda vai me agradecer.

MARIA Por ser uma pianista burra?

CELESTE Antes fosse burra! Aliás, você é. Mas só que o seu tipo de burrice é outro. Muito mais grave. Negar o óbvio. Essa é a pior burrice que existe. Quem é capaz de ganhar na loteria com tanta facilidade? Nem Jesus Cristo! E está aí, fazendo essa confusão toda. Por causa de quê? De uma escapadinha. Que está saindo da sua imaginação. Por que até agora você não me provou que o João Guilherme saiu mesmo com a Mariana.

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MARIA Eu até posso ser o que você acha que eu tenho que ser.

Mas se tem uma coisa que eu não tenho é sangue da barata.

CELESTE Tem sangue de pobre.

MARIA Quem tem mania de pobreza é você.

CELESTE Você já foi pra Europa?

MARIA Nem quero ir.

CELESTE Duvido. Poucos, os felizardos, vão pra Paris. A maioria fica em casa, fazendo churrasco no quintal. Você quer o quê? Ficar lambuzando o vestido de gordura? (Vendo que Maria está saindo.) Aonde é que você pensa que vai?

MARIA Decidir a minha vida.

CELESTE Quem decide aqui nessa casa sou eu! (Grita.) Não saia!

Fica aí, parada! Me perdoe, Senhora da Abadia, é hoje que eu vou espancar a milha filha. Eu não mereço tanta injustiça. Tanto desaforo! Eu que fiz tudo por ela, eu que sempre fui uma mãe carinhosa, dedicada pro lar, mandei essa menina estudar piano, oito anos de sacrifício, com muito custo coloquei um piano dentro de casa, ela sabe o que é dó-ré-mi graças a mim, e o que é que ela me dá?

Desgosto! Sofrimento! Se recusa a tocar piano na casa do noivo. Com a dona Rosa! E agora vem me falar que acha que foi traída! (Vira-se para Maria.) Eu não confio nessa Bete. Eu preciso conhecer essa lacraia.

MARIA Eu estava com a Bete quando ele entrou no Virgilius com a Mariana!

CELESTE Então não foi ela que te contou...

MARIA Eu vi com os meus próprios olhos.

CELESTE Então, por que essa Bete?

MARIA Por que ela estava comigo.

CELESTE Quando é que foi isso?

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MARIA Ontem à noite!

CELESTE Você não saiu de casa ontem à noite. Estava emburrada no quarto.

MARIA Não foi ontem.

CELESTE Você está mentindo.

MARIA (Pega o celular, mostra a foto para a mãe.) - Quer ver?

CELESTE (Aproxima-se.) - Minha nossa senhora da Abadia! É a Mariana!

MARIA Está contente, agora? Posso ir?

CELESTE Me dá aqui esse celular. Deixa eu ver essa foto direito.

(Pega o celular com estupidez das mãos de Maria.

Analisa.) Olha a cara de nojo dele...! (Reage.) Espera um pouco! Quem é essa aqui, refletida no vidro? É você, Maria? (Olha com mais atenção.) É você.

MARIA (Aproxima-se para ver.) - Onde?

CELESTE (Afasta-se.) - Foi você que tirou essa foto. Você está mentindo pra mim. O João Guilherme está olhando pra você.

MARIA Com cara de nojo.

CELESTE (Avaliando a foto.) - Ele está com nojo da Mariana. (Olha para Maria, depois para a foto, volta para Maria.) Você está gorda.

MARIA Gorda, eu?

CELESTE Pode olhar.

MARIA O espelho aumenta, mãe!

CELESTE (Agitada.) - A coisa está pior do que eu pensava. Uma namorada gorda! Você nunca me viu com um grama a mais de gordura no corpo. Nem quando eu fiquei grávida de você. E olha que eu acho que grávida até pode

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engordar, é direito dela. Afinal, filho também segura casamento. (Observa.) Olha só a Mariana!

MARIA (Abalada.) - Me dá aqui o meu celular.

CELESTE (Agressiva, dá um safanão em Maria.) - Seu, vírgula!

Quem comprou esse celular pra você fui eu, com o meu dinheiro. Fica aí, quieta, e me ouve! (Observando a foto.) Olha como a Mariana está magrinha. Olha as covinhas nas bochechas dela. Isso é magreza. Olha só os brincos que ela está usando! Meu Deus, parecem feitos de brilhantes! Por que é que você não usa aqueles brincos que eu te dei?

MARIA Eu não gosto de usar brinco.

CELESTE E se o João Guilherme gostar de mulher que usa brincos que brilham? O que é que você vai fazer?

MARIA Ele vai ter que gostar de mim como eu sou.

CELESTE Depois reclama se ele te trai com a Mariana. O João Guilherme não está te traindo, tenho certeza. Mas vai trair. Sabe por quê? Por que você é uma mulher xucra, que nem brinco usa. Seu pai é o gerente da fábrica, o pai da Mariana é o quê? Ninguém nunca soube como é que ele traz dinheiro pra casa. Mas a filha dele está aí, usando brincos de brilhantes e indo com você e o João Guilherme no Virgilius! Olha a ascensão social que ela conseguiu! Graças a você! Aposto que ela está usando perfume francês. Chanel! Quer apostar? (Nervosa.) O que é que você usa? Sabonete! Aonde é que você está querendo chegar com esse desleixo?!

MARIA Minhas orelhas inflamam, você sabe disso.

CELESTE Até nisso você é inútil!

MARIA Eu não tenho culpa.

CELESTE Tem culpa, sim.

MARIA Eu nasci da sua barriga.

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CELESTE E hoje eu me arrependo de não ter feito coisa melhor!

MARIA (Pausa. Esforça para se manter calma, controlar a agitação interna.) ) - Você quer mesmo saber a verdade?

CELESTE Então você está mentindo.

MARIA Se é assim que você acha, então eu sou mentirosa. E eu vou contar pra você uma mentira. Eu saí com o Amadeu.

CELESTE O balconista?

MARIA O João Guilherme ficou sabendo.

CELESTE Então é isso...! Agora eu estou entendendo tudo...! Minha Senhora da Abadia! Aonde foi que nós chegamos...? Puta rameira! É assim que você me trata? Depois de tudo o que eu fiz por você? Santo Deus! Parece o inferno!

(Pausa. Para. Preocupada.) O que foi que o João Guilherme fez quando ficou sabendo?

MARIA (Enfática.) - Eu terminei com ele.

CELESTE O corno é ele, não você!

MARIA Por isso mesmo.

CELESTE E por que é que ele está te ligando?

MARIA Não sei.

CELESTE Como não sabe?

MARIA Não falei mais com ele.

CELESTE Ele já te ligou umas dez vezes! (Consulta o celular.) Olha quantas! Uma, duas, cinco... sete vezes! Mais umas cinco no fixo, que eu atendi!

MARIA Ele pode ligar quantas vezes ele quiser. Foda-se!

CELESTE Que termos são esses, Maria!

MARIA Foda-se, sim!

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CELESTE Eu ainda vou te esfolar viva. Não brinque comigo. Eu investi toda a minha vida em você. Nesse casamento. Não brinque comigo. Não vai sobrar pele sobre pele nesse seu corpo inútil. Não tem mãe que aguenta tanto desaforo de uma filha. Só eu. A única! Por que é que ele está te ligando?

MARIA Não sei.

CELESTE A mulher sempre sabe por que o homem está ligando. Se ele está te ligando, é porque ele não quer terminar o namoro.

MARIA Não é por isso que ele está ligando, mãe.

CELESTE Então você sabe por quê...

MARIA (Descontrola-se.) - É lógico que ele não quer mais me namorar!

CELESTE Por que você foi sair com aquele pobretão?

MARIA Ele me convidou.

CELESTE Por que é que você não me falou nada?

MARIA E por que é que eu tinha que te falar?

CELESTE Porque quem investiu em você fui eu! Eu sou sua mãe!

MARIA Desde quando?

CELESTE Cala essa boca se você quiser conservar os dentes...

MARIA Eu quis sair com o Amadeu e pronto!

CELESTE Então é assim. O capeta convida, você sai com o diabo!

MARIA Eu gosto dele.

CELESTE Meu Deus! Como é que eu vou conseguir ficar em pé... É o fim! Minha vida vai perder todo sentido...! O que é que eu vou fazer agora? (Para. Aproxima-se de Maria.) O João Guilherme... Eu quero saber o que foi que ele

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disse...! Palavra por palavra. Eu vou ligar pra ele.

MARIA (Desespera-se.) - Não!

CELESTE O que foi que ele te disse?

MARIA Nada.

CELESTE Você está achando que eu sou idiota.

MARIA Ele não falou nada.

CELESTE Nem te deu um tapa na cara?

MARIA (Ameaçadora.) - Se ele me desse um tapa na cara, ele iria se arrepender pro resto da vida dele.

CELESTE Agora deu pra ficar valente.

MARIA Você não me conhece...

CELESTE De fato, é muito difícil saber o que uma ameba pensa!

MARIA Vaca!

CELESTE (Aproxima-se e senta a mão na cara de Maria.) - Me respeita, sua vagabunda! Se você estragar tudo, eu te mato!

MARIA Pode me matar. Me faz esse favor!

CELESTE Ainda não é a hora. Ele está te ligando. Isso significa que nem tudo está perdido. Ainda resta uma esperança de você ficar viva. (Feliz, reage.) Isso prova que o João Guilherme não é desses homens machistas. Você trai o rapaz, termina com ele, e ele vem se arrastando a seus pés. Porque quem liga dez vezes num dia é porque está se arrastando.

MARIA Pelo jeito, o Amadeu não foi suficiente.

CELESTE O que é que você quer dizer com isso?

MARIA Talvez o João Guilherme precisasse de uma dose cavalar.

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Uma alta traição. Com um amigo. Sim! O Júlio! Penso no Júlio. Ah, como seria bom! O Júlio me comendo no banheiro da academia de tênis, e o João Guilherme aparecendo bem na hora...

CELESTE (Assustada.) - Maria, eu não estou te reconhecendo...!

MARIA O Júlio é amigo do João Guilherme. Jogam tênis juntos.

Eu já saquei esse Júlio faz tempo. Ele está doido pra me comer.

CELESTE Você não vai a boceta pra ele! Eu te proíbo!

MARIA Ela é minha!

CELESTE Fui eu que te pari! Portanto, fui eu que te dei essa boceta.

E ela vai ter uma utilidade pra sua vida.

MARIA Então, eu acho que você pariu a boceta errada.

CELESTE Cala essa boca suja!

MARIA Em vez de um bebezinho, saiu um cocozinho!

CELESTE Quem pare cocô é cu, sua desbocada! (Pausa. Está agitada, perambula, às vezes para e olha fixo para Maria, como se não a conhecesse.) Eu nunca imaginei isso pra mim. Nunca...! Parece que nada mais existe. Não tem mais razão de você ser minha filha. Pra quê? Quem é você...?

MARIA (Triste.) - Pra que insistir? Não adianta a gente ficar aqui brigando. Acabou.

CELESTE Você ama esse rapaz...!

MARIA Eu ainda amaria.

CELESTE Você ama!

MARIA Por favor! Não me obrigue a sofrer mais do que eu já sofro. Você tem razão. Essa foto do João Guilherme com a Mariana fui eu que tirei. (Ri.) Nem reparei que eu tinha saído no reflexo do vidro. Tínhamos saído juntos, ido ao

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Virgilius pra comemorar o emprego novo da Mariana.

Semana passada. A Mariana conseguiu um belo de um emprego, mãe. Ela vai pra Londres! Contratada. Como repórter. Só isso. Não é fantástico!

CELESTE Ela precisa trabalhar, você não.

MARIA (Pausa.) - Eu não saí com o Amadeu.

CELESTE Não?

MARIA Não, mãe.

CELESTE Por que é que você disse que saiu?

MARIA Raiva. Despeito! Não sei. Acho que o João Guilherme também tinha que sofrer.

CELESTE Então, vocês não brigaram.

MARIA Não.

CELESTE Senhora da Abadia duas vezes! Que mentiras ótimas!

(Começa a caminhar, nervosa.) Ufa! Eu já estava ficando com febre... Então, está tudo certinho. Foi só um descontrole da sua cabeça. Você sempre foi meio descontrolada. Essa sua mania de dar um passo e querer cair no abismo tem que acabar! A vida não é tragédia.

Ufa! Senhora da Abadia, obrigada. Foi só um descontrole da minha filha. Pode ficar aí, tranqüila. Deixa que aqui na terra eu cuido do resto!

MARIA Eu odeio o João Guilherme. Eu odeio aquela gente podre e safada. Eu odeio a Bete, a priminha safadinha do João Guilherme.

CELESTE A Bete é a Elizabeth... a prima dele! Lógico que eu conheço! Eu nem me toquei! Menina ótima, eu gosto dela. Fala tão bem, não comete um erro de português. É tão perspicaz. Sabe aquelas línguas que vão bem no ponto da verdade? Ah, se você falasse tão bem quanto ela...!

MARIA Ela também é podre, mãe.

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CELESTE Você é a santa!

MARIA É tudo muito podre! Não é essa vida que eu quero pra mim. Eu quero uma vida simples, mas com decência. E podemos ser decentes sem dinheiro. Sem ter que machucar o outro.

CELESTE E lá dinheiro machuca alguém?

MARIA Machuca. E muito! Muito mais do que você pode imaginar.

CELESTE Mais uma das suas tragédias!

MARIA Eu fui almoçar na casa dele domingo, você sabe. Eu estava na piscina. Eu senti falta do João. Fui procurar no quarto dele. Ele tinha bebido, achei que estivesse dormindo. (Pausa.) Eu abri a porta e ele estava lá com a Bete, os dois, pelados, na cama! Quando eu vi aquela cena, fiquei paralisada, olhando com cara de bosta. Eu não tive reação. Sabe quando você imagina mil desgraças, mas não a mil e uma? Eu me senti o pior dos seres humanos. Eu devia entrar e bater e morder, fazer um escândalo. Mas não. Não tive coragem. Eu achei que eu não era digna de reagir. Que o meu papel ali, naquele instante, era baixar a cabeça e me retirar. Afinal, eles são os ricos! Eu só queria enfiar a cara debaixo da terra. Eu só queria me esconder. Feito um verme! Sabe o que a priminha pelada falou, rindo? Pro João Guilherme? Se esfregando nele? Com aquela coisa na mão? Você tem razão, Guigui!, sua namorada parece mesmo um inseto!

(Desesperada.) Mãe, eu sou um inseto! O João Guilherme tem razão. Eu sou um inseto. É isso que eu sou! É assim que as pessoas me veem! O que é que eu estava fazendo ali, naquele lugar estranho? Que sempre foi estranho pra mim! Que não era meu, mas que eu queria acreditar que fosse! Você me fez acreditar que fosse... (Pausa.) O João Guilherme riu. De mim! Na minha cara. Os dois riram! Do inseto! Não se ri de inseto, mãe! Inseto se esmaga! (Saindo.)

CELESTE (Indo atrás.) - Vem cá. Espera aí. Também não é assim.

O que foi que você fez?

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MARIA O inseto fugiu, saiu voando. Desapareceu! Pra sempre!

(Grita.) Eu quero morrer!

CELESTE Ele te ama. Por que é que você acha que ele está ligando pra você?

MARIA Então, ele também é um inseto. Se ele me ama, ele também é inseto! Eu não vou abrir as pernas pra ele, porque inseto não abre as pernas. (Sai e bate a porta do quarto.)

CELESTE (Junto à porta, força a maçaneta, enquanto, com a outra mão, bate.) - Abre essa porta! (Pausa.) Maria! Escuta o que eu vou te dizer. Você vai engolir essa humilhação e vai sim se casar com ele. Ouviu? Aliás, não é nem humilhação. Essa Bete pode ser o que for, mas ela é feia!

Ouviu! Ela é feia! Nenhuma mulher suporta isso! O João Guilherme é só um menino bobo! Não se joga a vida fora por causa de uma traiçãozinha besta. Ainda mais com uma prima. Melhor que seja a prima. Já que não se casa com prima. Ainda mais uma prima feia! Está me ouvindo, Maria? Melhor a prima. Pra que fazer drama?

Se é pra ser um inseto, pelo menos seja um inseto rico!

Maria! (Tenta arrombar a porta, com força. Pausa.) Mariia! Sua desgraçada! Eu não te dei a minha vida pra você de graça não! (Ouve-se o estrondo de uma porta sendo arrombada.) Quem disse que eu não sou capaz de arrombar essa porta...? (Entra no quarto.) Agora você vai pegar esse telefone e vai ligar pra ele. Ou eu não me chamo Celeste! (Blecaute.)

FIM

Unaí / MG (Fazenda Camisa), 28 de dezembro de 2016.

Brasília/DF, 25 de fevereiro de 2019

Referências

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