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Resumo C-752/21 1. Processo C-752/21

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Resumo C-752/21 – 1 Processo C-752/21

Resumo do pedido de decisão prejudicial em aplicação do artigo 98.°, n.° 1, do Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça

Data de entrada:

7 de dezembro de 2021 Órgão jurisdicional de reenvio:

Administrativen sad – Haskovo (Tribunal Administrativo de Haskovo, Bulgária)

Data da decisão de reenvio:

17 de novembro de 2021 Recorrente:

JP EOOD Recorrido:

Otdel «Mitnichesko razsledvane i razuznavane» v Teritorialna direktsia «Mitnitsa Burgas» (Departamento «Inspeções e Investigações Aduaneiras» da Direção Territorial do Serviço Aduaneiro de Burgas da Agência Aduaneira)

Objeto do processo principal

Recurso de cassação de uma decisão do órgão jurisdicional de primeira instância que julgou liminarmente inadmissível um recurso contra uma decisão da Administração Aduaneira de aplicação de uma sanção pecuniária, mediante a qual um veículo pesado de mercadorias que tinha sido utilizado para transportar mercadorias objeto de contrabando foi declarado perdido a favor do Estado.

Objeto e fundamento jurídico do pedido de decisão prejudicial

Interpretação das disposições de direito da União aplicáveis ao litígio; artigo 267.° TFUE

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Questões prejudiciais

1. Deve o artigo 44.°, n.° 1, do Regulamento n.° 952/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 9 de outubro de 2013, em conjugação com o artigo 13.° da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais e o artigo 47.° da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, ser interpretado no sentido de que é inadmissível uma disposição nacional como o artigo 59.°, n.° 2, da Zakon za administrativnite narushenia i nakazania (Lei relativa às infrações e sanções administrativas, a seguir «ZANN») nos termos da qual o círculo de pessoas com legitimidade para recorrer de uma decisão de aplicação de uma sanção pecuniária não inclui o proprietário dos bens declarados perdidos por essa mesma decisão se este não tiver praticado o ato punido?

2. Devem as disposições do artigo 22.°, n.° 7, em conjugação com os artigos 29.° e 44.° do Regulamento n.° 952/2013, o artigo 13.° da CEDH e o artigo 47.°

da Carta, ser interpretadas no sentido de que se opõem a uma disposição nacional como o artigo 232.°, n.° 1, do Zakon za mitnitsite (Código Aduaneiro, a seguir

«ZM»), que exclui a possibilidade de interpor recurso de uma decisão de aplicação de uma sanção pecuniária contra um infrator desconhecido, se, nos termos do direito nacional, puderem ser declarados perdidos a favor do Estado bens pertencentes a um terceiro que não seja parte no processo de contraordenação?

3. Deve o artigo 4.° da Decisão-Quadro 2005/212/JAI do Conselho, de 24 de fevereiro de 2005, em conjugação com o artigo 47.° da Carta, ser interpretado, per argumentum a fortiori, no sentido de que também é aplicável quando o ato não constitua uma infração penal, e no sentido de que se opõe a disposições nacionais que, como o artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, excluem o proprietário dos bens declarados perdidos do círculo de pessoas com legitimidade para interpor recurso ou, tal como o artigo 232.° do ZM, preveem expressamente que não cabe recurso de uma decisão mediante a qual, nos termos do direito nacional, possam ser declarados perdidos bens de um terceiro que não seja parte no processo de contraordenação?

Disposições de direito da União invocadas

Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, artigo 13.°

Protocolo Adicional à Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais – artigo 1.°

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia – artigos 17.° e 47.°

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Regulamento (UE) n.° 952/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 9 de outubro de 2013, que estabelece o Código Aduaneiro da União – artigos 1.°, n.° 1, 22.°, n.° 7, 29.°, 42.°, n.os 1 e 2 e 44.°, n.os 1 e 4

Decisão-Quadro 2005/212/JAI do Conselho, de 24 de fevereiro de 2005, relativa à perda de produtos, instrumentos e bens relacionados com o crime – artigos 2.°, n.° 1 e 4.°

Acórdão do Tribunal de Justiça de 14 de janeiro de 2021, Okrazhna prokuratura

— Haskovo e Apelativna prokuratura — Plovdiv, C-393/19 (EU:C:2021:8) Disposições de direito nacional invocadas

Zadon za mitnisite (Código Aduaneiro, a seguir «ZM»)

Nos termos do artigo 230.°, desta lei, em caso de infrações contra um processo aduaneiro, os serviços aduaneiros devem emitir uma decisão (decisão de aplicação de uma sanção pecuniária). Se o infrator for desconhecido é proferida, nos termos do artigo 232.°, n.° 1, uma decisão de aplicação de uma sanção pecuniária que se torna definitiva com a sua adoção. O artigo 233.° diz respeito à contraordenação administrativa «contrabando». Nos termos do artigo 233.°, n.° 1, é aplicada uma sanção pecuniária a uma pessoa que tenha a bordo ou transporte ou tente ter a bordo ou transportar mercadorias através da fronteira sem o conhecimento e a autorização dos serviços aduaneiros, na medida em que o ato não constitua uma infração penal. O artigo 233.°, n.° 8 estabelece que os meios de transporte utilizados para o transporte das mercadorias contrabandeadas são perdidos a favor do Estado, independentemente dos direitos de propriedade, a menos que o seu valor não corresponda manifestamente ao valor das mercadorias contrabandeadas.

Zakon za administrativnite narushenia i nakazania (Lei relativa às infrações e sanções administrativas, a seguir «ZANN»)

Nos termos do artigo 59.° desta lei, com a redação em vigor até 23 de dezembro de 2021, as decisões de aplicação de uma sanção pecuniária podem ser impugnadas no respetivo Rayonen sad (Tribunal Regional) pelo infrator e pela pessoa que reclama indemnização. Além disso, a Procuradoria pode interpor recurso das referidas decisões.

Segundo o artigo 59.° da mesma lei, com a redação em vigor a partir de 23 de dezembro de 2021, as decisões de aplicação de uma sanção pecuniária também podem ser impugnadas pelo proprietário dos bens perdidos a favor do Estado, quando este não é o infrator.

Zakon za normativnite aktove (Lei dos atos normativos)

O artigo 11.°, n.° 2, prevê que uma lei especial possa estabelecer exceções ao regime geral de um bem.

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Apresentação sucinta dos factos e do processo principal

1. Em 11 de julho de 2020, a Okrazhna procuratura Haskovo (Procuradoria regional de Haskovo) abriu um inquérito uma vez que, naquela data, na estância aduaneira

«Kapitan Andreevo», à entrada na República da Bulgária a partir da República da Turquia, ocorreu uma tentativa de transporte através da fronteira, conhecimento e a autorização dos serviços aduaneiros, de 3 840 injetores para veículos automóveis que tinham sido carregados num veículo pesado de mercadorias, o que constitui um crime previsto no artigo 242.°, n.° 1, alínea d), do Nakazatelen kodeks (Código Penal, a seguir «NK»).

2. Este inquérito penal foi arquivado pela Procuradoria em 15 de dezembro de 2020, uma vez que não puderam ser recolhidas provas da prática do referido crime. Os documentos apresentados no processo foram transmitidos à Administração Aduaneira a fim de apurar a existência de fundamentos para uma responsabilidade contraordenacional. Importa referir que o critério para a distinção entre o crime de

«contrabando qualificado» nos termos do artigo 242.°, n.° 1, alínea d), do NK e a contraordenação administrativa «contrabando» nos termos do artigo 233.°, do ZM reside no valor do bem objeto de contrabando.

3. O Nachalnik na otdel «Mitnichesko razuznavane i razsledvane Yuzhna morska», [Diretor do Departamento «Inspeções e Investigações Aduaneiras Yzhna morska», atual otdel «Mitnichesko razsledvane i razuznavane» v Teritorialna direktsia

«Mitnisa Burgas» (Departamento «Inspeções e Investigações Aduaneiras» da Direção territorial do Serviço Aduaneiro de Burgas»)] da Agentsia «Mitnitsi»

(Agência Aduaneira) (a seguir «Diretor dos serviços aduaneiros competentes») analisou as provas recolhidas e concluiu pela inexistência de provas em relação à pessoa do infrator. Por conseguinte, emitiu ao abrigo do artigo 232.°, n.° 1, do ZM a decisão relativa à aplicação da sanção pecuniária n.° 233/20.02.2021 contra infrator desconhecido e ordenou, pela mesma decisão, nos termos do artigo 233.°, n.° 6, em conjugação com o n.° 1, do ZM, a perda a favor do Estado de 3 840 injetores para veículos automóveis com o valor aduaneiro de 479 813,05 leva búlgaros (a seguir «BGN») pertencentes a um infrator desconhecido.

4. Pela referida decisão de aplicação da sanção pecuniária foi declarado perdido a favor do Estado, nos termos do artigo 233.°, n.° 8, do ZM, o veículo no qual foram transportados os bens objeto do contrabando, nomeadamente, um veículo articulado composto por um semirreboque da marca «Mercedes» e um atrelado.

5. No decurso do processo de contraordenação foi apresentado um parecer de avaliação segundo o qual o valor do veículo articulado declarado perdido a favor do Estado ascendia, à data da infração (11 de julho de 2020), a 111 604,20 BGN.

6. Segundo os respetivos certificados de matrícula, a JP EOOD é a proprietária do veículo articulado declarado perdido a favor do Estado.

7. A JP EOOD interpôs recurso da referida decisão de aplicação da sanção

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8. Por Decisão de 20 de abril de 2021, o Rayonen sad Svilengrad (Tribunal Regional de Svilengrad) negou liminarmente provimento ao recurso da JP EOOD. Por um lado, o órgão jurisdicional considerou que o recurso era inadmissível por falta de interesse em agir e declarou que, nos termos do artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, o infrator e a pessoa que exige a indemnização podem impugnar a decisão que aplica a sanção pecuniária, ao passo que a Procuradoria pode interpor recurso. Por outro lado, o órgão jurisdicional fez referência ao artigo 64.°, alínea a), da ZANN, segundo o qual as decisões não impugnáveis que aplicam uma sanção pecuniária se tornam definitivas com a sua adoção, tendo ainda observado que a decisão de aplicação da sanção pecuniária controvertida se tornou definitiva por ter sido proferida contra um infrator desconhecido ao abrigo do artigo 232.°, n.° 1, do ZM e que não era impugnável. Pelos motivos acima expostos, o Rayonen sad Svilengrad considerou que a decisão de aplicação da sanção pecuniária impugnada pela JP EOOD não admitia, pela sua natureza, um processo judicial de fiscalização da sua legalidade. Neste contexto, o órgão jurisdicional afirmou que não assistia à JP EOOD um direito de conformação através de recurso, apesar te ter sido praticada uma injustiça contra esta pessoa [coletiva] cujo meio de transporte foi perdido a favor do Estado. Foram salientados o caráter imperativo do artigo 232.°, do ZM e a obrigação do órgão jurisdicional de ter em conta esta norma, reconhecendo a decisão de aplicação da sanção pecuniária controvertida como definitiva e incontestável.

9. A JP EOOD interpôs recurso de cassação desta decisão no órgão jurisdicional de reenvio, o Administrativen sad – Haskovo (Tribunal Administrativo de Haskovo).

Argumentos essenciais das partes no processo principal

10. A JP EOOD alega que a perda a favor do Estado do bem patrimonial que lhe pertence, designadamente, um veículo atrelado com um reboque «Mercedes» e um atrelado, no valor de cerca de 50 000 euros, ordenada pela decisão recorrida, lhe causou um prejuízo financeiro. Apesar de ser um terceiro não interveniente no processo de contraordenação, a mesma sofreu um prejuízo patrimonial sem que, de facto, lhe tenha sido possível proteger os seus direitos e interesses legítimos.

Por conseguinte, tem interesse em agir no que diz respeito ao recurso contra a decisão controvertida de aplicação da sanção pecuniária.

11. O mandatário da recorrente em cassação apresentou declarações em articulados separados que defendem que a decisão de arquivamento recorrida, proferida pelo Rayonen sad Svilengrad (Tribunal Regional de Svilengrad), é ilegal por violação do artigo 4.° da Decisão-Quadro 2005/212/JAI em conjugação com o artigo 47.°, da Carta e que as referidas disposições podem ser diretamente aplicadas pelo órgão jurisdicional.

12. O mandatário da recorrente em cassação faz referência ao artigo 2.°, n.° 1 e ao artigo 4.° da Decisão-Quadro 2005/212/JAI bem como ao Acórdão do Tribunal de Justiça de 24 de janeiro de 2021, Okrazhna procuratura – Haskovo e Apelativna

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procuratura – Plovdiv, C-393/19 (a seguir «Acórdão do Tribunal de Justiça no processo C-393/19»). Neste processo foi declarado que não é permitida a perda de um meio de transporte utilizado para a prática de uma infração de contrabando qualificada nos termos do artigo 242.° do NK, quando este pertence a um terceiro de boa-fé. Foi ainda declarada inadmissível a perda em detrimento de uma pessoa que não teve a oportunidade de defender de modo eficaz os seus direitos afetados.

O mandatário alega que esta interpretação também é aplicável a uma situação como a presente, uma vez que a recorrente em cassação é um terceiro de boa-fé no processo de contraordenação e a perda dos seus bens constitui uma interferência desproporcionada e intolerável que atenta contra a própria essência do direito de propriedade.

13. Uma vez que o direito processual búlgaro não prevê normas relativas ao exercício do direito do proprietário lesado de acesso aos tribunais e a um processo equitativo, pede-se que seja declarado que a adoção da decisão de aplicação da sanção pecuniária contra um infrator desconhecido que se torna definitiva com a sua adoção e não admite recurso e mediante a qual são perdidos bens a favor do Estado que não são propriedade do infrator, viola diretamente o direito do proprietário de usufruir da sua propriedade sem perturbações e, além disso, de se defender perante um tribunal independente e parcial.

14. No caso de a formação de julgamento não concordar com os argumentos acima expostos a favor da revogação da decisão recorrida, o mandatário da recorrente em cassação pede que seja apresentado um pedido de decisão prejudicial nos termos do artigo 267.°, terceiro parágrafo, TFUE para interpretação das disposições acima referidas da Decisão-Quadro 2005/212/JAI em conjugação com o artigo 47.° da Carta.

15. O recorrido em cassação e a Procuradoria consideram que o recurso de cassação é inadmissível. Além disso, o recorrido em cassação alega que uma parte dos pedidos da recorrente em cassação também não tem fundamento.

Apresentação sucinta da fundamentação do pedido de decisão prejudicial 16. O presente processo tem natureza de cassação e é dirigido contra a decisão de

arquivamento de um órgão jurisdicional de primeira instância que impede a recorrente em cassação de impugnar a decisão de aplicação da sanção pecuniária controvertida.

17. O órgão jurisdicional de reenvio verificou que pela decisão de aplicação da sanção pecuniária n.° 233/22.02.2021 do Diretor dos serviços aduaneiros competentes foram efetivamente declarados perdidos a favor do Estado bens de propriedade da JP EOOD. Tal justifica a conclusão de que a decisão de aplicação da sanção pecuniária controvertida afeta o direito de propriedade da recorrente em cassação.

Esta última é um terceiro que não interveio no processo de contraordenação e, nos termos do artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, não pertence ao círculo de pessoas para as

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pecuniária controvertida, nem sequer na parte que diz respeito aos seus bens declarados perdidos. Esta disposição legal foi alterada e, de acordo com a nova redação que entrou em vigor em 23 de dezembro de 2021, o proprietário de bens que tenham sido declarados perdidos a favor do Estado pode recorrer das decisões de aplicação da sanção pecuniária no prazo de 14 dias a contar da notificação da mesma, se não for o infrator.

18. No entanto, numa situação como a presente, dirigida contra um infrator desconhecido por uma infração contraordenacional nos termos do artigo 233.° do ZM, esta possibilidade não pode ser aproveitada, ainda que o meio de transporte utilizado para o transporte dos bens contrabandeados tenha sido declarado perdido a favor do Estado ao abrigo do artigo 233.°, n.° 8, do ZM, sem que tenha sido tido em conta o facto de o mesmo não pertencer ao infrator ou de este não poder ser identificado. Isto resulta do regime consagrado no artigo 232.°, n.° 1, do ZM que prevê expressamente que uma decisão que aplica uma sanção pecuniária proferida contra um infrator desconhecido (tal como no presente caso) se torna imediatamente definitiva.

19. O Zakon za mitnitsite (Código Aduaneiro) é uma lei especial relativamente à Zakon za administrativnite narushenia i nakazania (Lei relativa às infrações e sanções administrativas), pelo que o artigo 232.° do ZM é uma norma especial em relação à norma geral do artigo 59.°, n.° 2, da ZANN e, consequentemente, deve ser aplicada prioritariamente. Por conseguinte, mesmo após a entrada em vigor da versão alterada do artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, segundo o qual o proprietário de bens declarados perdidos a favor do Estado pode impugnar a decisão que aplica a sanção pecuniária quanto àquela parte, os proprietários de bens declarados perdidos nos termos do artigo 233.°, n.° 8, do ZM, num caso como o presente, no qual a decisão de aplicação da sanção pecuniária é adotada contra um infrator desconhecido, não podem usufruir do direito de defesa contra a declaração de perda do bem. Tal resulta da aplicação prioritária da norma especial consagrada no artigo 232.°, n.° 1, do ZM que prevê expressamente que esta decisão de aplicação de uma sanção não admite recurso.

20. Pelas razões acima expostas, coloca-se ao órgão jurisdicional de reenvio a questão de saber se o artigo 44.°, n.° 1, do Regulamento n.° 952/2013, em conjugação com o artigo 13.° da CEDH e com o artigo 47.° da Carta, deve ser interpretado no sentido de que é inadmissível uma disposição nacional como a do artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, nos termos da qual o círculo de pessoas com legitimidade para interpor recurso de uma decisão de aplicação de uma sanção pecuniária não inclui o proprietário dos bens declarados perdidos pela mesma decisão se o mesmo não tiver cometido a infração.

21. A questão que a seguir se coloca ao órgão jurisdicional de reenvio é a de saber se o artigo 22.°, n.° 7, em conjugação com os artigos 29.° e 44.° do Regulamento n.° 952/2013, com o artigo 13.° da CEDH e com o artigo 47.° da Carta, deve ser interpretado no sentido de que é inadmissível uma disposição nacional como a do artigo 232.°, n.° 1, do ZM, que não admite recurso de uma decisão de aplicação de

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uma sanção pecuniária que tenha sido proferida contra um infrator desconhecido se, nos termos do direito nacional, com esta decisão puderem ser declarados perdidos a favor do Estado bens pertencentes a um terceiro não interveniente no processo de contraordenação.

22. O órgão jurisdicional de reenvio faz referência ao Acórdão do Tribunal de Justiça no processo C-393/19, relativo à prática de «contrabando qualificado» que, nos termos do artigo 242.°, do NK constitui um crime e só se distingue da infração contraordenacional em causa no presente caso, sob a forma de contrabando nos termos do artigo 233.° do ZM, quanto ao valor do bem objeto do contrabando.

Tendo este acórdão em consideração, o órgão jurisdicional de reenvio entende relevante para efeitos do presente processo a questão do mandatário da recorrente em cassação de saber se o artigo 4.° da Decisão-Quadro 2005/212/JAI em conjugação com o artigo 47.° da Carta pode ser, per argumentum a fortiori, interpretado no sentido de que estas disposições também são aplicáveis se o ato não constituir uma infração, bem como no sentido de que são inadmissíveis disposições nacionais que, tal como o artigo 59.°, n.° 2, da ZANN, excluem o proprietário dos bens declarados perdidos do círculo de pessoas com legitimidade para interpor recurso ou que, tal como o artigo 232.° do ZM, preveem expressamente que não pode ser interposto recurso de uma decisão mediante a qual possam, nos termos do direito nacional, ser declarados perdidos bens de um terceiro não interveniente num processo de contraordenação.

23. O órgão jurisdicional de reenvio considera que não devem ser submetidas ao Tribunal de Justiça as questões do mandatário relativas à interpretação da Decisão-Quadro 2005/212/JAI, uma vez que esta disposição poderia ser aplicável à decisão sobre a legalidade da decisão de aplicação da sanção pecuniária, ao passo que, no presente caso, o órgão jurisdicional foi chamado a apreciar um recurso de cassação da decisão que julgou inadmissível o recurso [contra a decisão de aplicação da sanção pecuniária].

24. Em face do exposto, o órgão jurisdicional de reenvio considera que para a correta resolução do litígio nele pendente é necessário submeter ao Tribunal de Justiça as questões acima formuladas, nos termos do artigo 267.°, terceiro parágrafo, TFUE, em conjugação com o seu primeiro parágrafo, alíneas a) e b).

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