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TÍTULO: ERA UMA VEZ O CINEMA BRASILEIRO: DESIGUALDADES SOCIAIS E O CINEMA CONTEMPORÂNEO

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Academic year: 2022

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Realização: IES parceiras:

TÍTULO: “ERA UMA VEZ” O CINEMA BRASILEIRO: DESIGUALDADES SOCIAIS E O CINEMA CONTEMPORÂNEO

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS SUBÁREA: Comunicação Social

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI - UAM AUTOR(ES): MARIANA PEIXOTO ALVES

ORIENTADOR(ES): SHEILA SCHVARZMAN

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“Era Uma Vez” o cinema brasileiro: desigualdades sociais e o cinema contemporâneo

1) Resumo

Nosso trabalho se propõe a estudar as desigualdades sociais pelos olhos do diretor Breno Silveira, em seu filme de 2008, “Era Uma Vez...”, enxergando essas diferenças pelo que elas são: conflitos de duas classes sociais diferentes. Isso por meio de uma análise da mise-en-scène e as escolhas narrativas do longa em questão, e sua aproximação com estudos sobre a maneira de representação dessas questões no cinema e o audiovisual, em especial os texto de Ivana Bentes “Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo: estética e cosmética da fome” e “O Copyright da miséria e os discursos sobre a exclusão”.

Palavras-chave: Cinema brasileiro. Desigualdade social. Cinema contemporâneo.

Preconceitos de classe. Breno Silveira.

2) Introdução

O Rio de Janeiro é centro de duas realidades conflitantes que, historicamente, foram objeto de estudo e causa de embates dentro da “cidade maravilhosa”. No âmbito do cinema, a representação dessas duas realidades já se deu de quase todas as maneiras possíveis, e já foi também alvo de estudos muito completos sobre o tema.

O filme Era uma vez (2008), de Breno Silveira, aborda essa dicotomia através das suas personagens principais, que funcionam como a personificação dos dois estereótipos: Dé, morador da favela do Cantagalo, e Nina, que vive num apartamento de frente para a praia de Ipanema. Os dois se apaixonam e, tal qual em Romeu e Julieta, peça a qual o enredo faz alusão, têm um final trágico.

3) Objetivos

O objetivo geral do trabalho é, a partir de uma análise dos filmes de grande bilheteria, demonstrar a coexistência de duas imagens estereotipadas de Brasil representadas pelo cinema brasileiro: um Brasil de miséria, favela, pessoas negras e criminalidade, e um Brasil que tem a cara do “Rio - Cidade Maravilhosa”, calçadão de Ipanema, pessoas ricas e brancas na praia, se divertindo. Para além de estereótipos nacionais perpetuados pelo audiovisual, essas imagens são a expressão dos contrastes que estão ligados a história mesma do Brasil.

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Mais especificamente, propomos encontrar essas duas imagens dentro do contexto do Rio de Janeiro, palco de grande número das produções do audiovisual brasileiro, na dicotomia Cantagalo-Ipanema. Para isso realizaremos uma análise do filme de 2008, “Era Uma Vez” (Breno Silveira), que explora justamente esse contraste numa releitura de Romeu e Julieta.

4) Metodologia

A metodologia se baseia em um levantamento bibliográfico sobre o Cinema Contemporâneo Brasileiro, em especial os trabalhos de Ivana Bentes, e na análise fílmica da obra “Era Uma Vez”, de Breno Silveira. Dessa forma, será possível observar de que forma o diretor constrói a narrativa e os sentidos que cria.

5) Desenvolvimento

O longa-metragem Era Uma Vez, de Breno Silveira, se passa em duas locações principais: a praia de Ipanema e o Morro do Cantagalo. Apesar de uma maneira de filmar homogênea, ou como Ivana Bentes (2007, p. 245) diria “a câmera que surfa sobre a realidade, signo de um discurso que valoriza o “belo” e a “qualidade” da imagem”, ainda é possível observar discursos diferentes sobre a relação entre as duas realidades muito distintas que se dão nesses locais. Por meio de “um cinema

“internacional popular” ou “globalizado” cuja fórmula seria um tema local, histórico ou tradicional, e uma estética “internacional” (BENTES, 2007, p. 245) o filme nos faz pensar sobre esses discursos e as desigualdades sociais que eles procuram denunciar.

A cena de abertura já nos anuncia uma delas com a fala de Dé, o protagonista, em um voz over: “Eu moro no lugar mais bonito do mundo: o morro do Cantagalo”, assim começa o filme, uma panorâmica do morro, com uma imagem conhecida de quase qualquer espectador, com as casas de alvenaria sem acabamento, uma em cima da outra. Dé continua: “Uma favela no bairro mais rico do Rio de Janeiro”, logo ao lado das casas mal acabadas, a câmera mostra a praia de Ipanema, um dos símbolos da riqueza do Rio, visitada por turistas do mundo inteiro e com um dos metros quadrados mais caros da cidade. Parece até uma ironia chamar o morro do Cantagalo de lugar mais bonito do mundo, e logo após mostrar um dos lugares tido como um dos mais bonitos do mundo, as praias de Ipanema. Em seguida, o personagem de Thiago Martins e protagonista do longa, continua seu discurso: “Gari,

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babá, ambulante, flanelinha, motorista, garçom, boy, é muita gente. Faço parte dessa multidão invisível que trabalha todos os dias nas ruas de Ipanema”, enquanto isso imagens do morro em primeiro plano, com pessoas subindo e descendo para o

“asfalto” - no sentido atribuído por Zuenir Ventura em seu livro “Cidade Partida”- e ao fundo a praia de Ipanema, com seus prédios imponentes e caros. É como se o “asfalto”

fosse uma presença constante dentro da favela, sempre no imaginário e à vista de todos os que ali habitam, todos os dias essas pessoas descem o morro e fazem os trabalhos que quem está na “cidade” não faz.

Mas a favela não figura no imaginário de quem mora de frente para a praia. E quando a favela adentra o imaginário dos moradores de Ipanema é enquanto o “outro”

- “lugar da miséria, do misticismo, dos deserdados, não-lugares e simultaneamente espécies de cartão-postal perverso” (BENTES, 2007, p. 242). O filme vai nos apresentar essa relação entre os dois lados da cidade por meio da relação amorosa entre Nina e Dê, num primeiro momento. Numa trama tipicamente melodramática, Dé é o herói, que vem da favela, mas supera a condição de “favelado bandido” por meio do trabalho “honesto” na barraquinha de cachorro quente na praia, buscando uma melhora de vida. Ele é apaixonado por Nina, a princesa que mora no prédio em frente a barraca onde ele trabalha, inalcançável porque ele ainda faz parte da “multidão invisível” que trabalha para aqueles que têm dinheiro, que é o caso de sua amada, como ele mesmo fala na cena de abertura do filme: “rico é rico, e pobre é pobre, cada um vive pro seu lado. Mas quando eu via ela, eu esquecia disso”. Está desenhado o cenário de conto de fadas, um plebeu apaixonado pela princesa e que vai fazer de tudo para conquistar seu coração.

A junção do “morro” ao “asfalto” é vista como uma questão problemática, e o filme se insere no discurso corrente sobre essa relação, mas com um “twist”, que é tratar a desigualdade social por meio de um relacionamento amoroso. Uma questão absolutamente contemporânea, e que poderia gerar uma boa discussão.

Os filmes brasileiros contemporâneos que falam da favela refletem um momento de fascínio por esse “outro social”, em que os discursos dos marginalizados começam a ganhar um lugar no mercado: na literatura, na música (funk, hip-hop), discursos que refletem o cotidiano de favelados, desempregados, presidiários, subempregados, drogados, uma marginalidade

“difusa” que ascendeu à mídia e aparece nessa mesma mídia de forma ambígua. Pobreza e violência que conquistaram um lugar no mercado como temas de um presente urgente. (BENTES, 2007, p. 248)

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A questão da desigualdade social e os preconceitos causados por ela estão presentes em todas as etapas do relacionamento do casal de protagonistas: não parece haver razão para que pessoas de realidades tão distintas se relacionem. Todo a parte do filme que, mais detidamente, trata do casal vai trazer essa reflexão do quanto eles são diferentes, não por quem eles são, mas sim pelas suas posição social.

Parece uma discussão do quanto o espaço molda a subjetividade das pessoas de maneira que o trânsito entre a favela e a classe média se tornaria incongruente, e um relacionamento entre um par morro-asfalto se tornaria impossível. Mas o filme escolhe não se aprofundar nessas questões, apenas apresentando-os, mais uma vez se inserindo na linha dos filmes aos quais Bentes (2003, p. 89) se refere: “filmes que quase nunca se pretendem "explicativos" de qualquer contexto, não se arriscam a julgar, narrativas perplexas, e se apresentam como "espelho" e "constatação" de um estado de coisas”.

O filme é uma espécie de Romeu e Julieta, mas ao invés de duas famílias de um mesmo estrato social que se odeiam, são duas realidades objetivas que se opõem entre si, e que vivem em conflito. O romance dialoga com a tragédia shakespeariana até o final: ambos morrem. Há de se pensar que esse final, tal como o final de Romeu e Julieta, levaria a uma conciliação entre as “famílias”. Mas na realidade o que fica do relacionamento entre Nina e Dé é que a conciliação de classes é nociva, e leva os dois lados a destruição. Mesmo quando “a favela” se porta exatamente como

“deveria”, obedecendo os mais ricos, trabalhando para eles, fazendo o papel da multidão invisível, ela é mal vista, e não serve para se relacionar com eles, entrar em suas casas como “igual”.

6) Resultados Preliminares

O filme é notadamente sobre a realidade da favela, só que essa realidade é contada através da ótica de um diretor branco e que não veio da favela. Isso impacta a forma de contar a história de pelo menos duas maneiras (não necessariamente boas e nem ruins): os personagens estereotipados e a relação que a classe média-rica tem com a favela.

Com relação, referimo-nos aqui principalmente a relação amorosa entre Nina e Dê. Esse é o polo de ação da primeira metade do filme. Debruçarmo-nos sobre essa questão, demonstrando como o filme pauta questões tão intrínsecas a forma como a nossa sociedade enxerga a pobreza e a favela, em relação aos espaços “que não as

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pertence”, o que em última instância representa a luta de classes e a divisão social.

Tudo isso a fim de demonstrar como o cinema nacional contemporâneo, em sua maioria os filmes com a “estética Globo Filmes”, sempre acabam por cair em estereótipos, e esse filme em específico retrata a dicotomia dialética estrutural do Brasil (pobres e ricos, uma mantendo a outra em pé, tudo isso associado ao racismo) e a maneira cruel como as classes mais altas enxergam tudo isso, e como disse Ivana Bentes (2003, p.93): “A questão é que não estamos mais lutando contra o olhar exótico estrangeiro sobre a miséria e o Brasil que transformava tudo “num estranho surrealismo tropical”, como dizia Glauber em 1965. Somos capazes de produzir e fazer circular nossos próprios clichês [...]”.

7) Fontes Consultadas

Referências Bibliográficas

BENTES, I. Sertões e favelas no cinema brasileiro contemporâneo: estética e cosmética da fome. In: Revista Alceu, v.8, n.15, p. 242 a 255, jul./dez. 2007.

BENTES, I. O copyright da miséria e os discursos sobre a exclusão. In: Cinemais - Revista de Cinema e outras questões audiovisuais, Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, n. 33, p. 188-201, jan/mar. 2003.

Bibliografia

EDUARDO, C. Continuidade expandida e o novo cinema autoral (2005-2016). In:

RAMOS, F. SCHVARZMAN, S. (Org.). Nova história do cinema brasileira II. São Paulo: Edições Sesc, 2018

RAMOS, F. SCHVARZMAN, S. (Org.). Nova história do cinema brasileira II. São Paulo: Edições Sesc, 2018

SCHVARZMAN, S. Cinema Brasileiro Contemporâneo de Grande Bilheteria (2000-2016). In: RAMOS, F. SCHVARZMAN, S. (Org.). Nova história do cinema brasileira II. São Paulo: Edições Sesc, 2018

VENTURA, Z. Cidade Partida. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Filmografia

Era uma vez. Breno Silveira. Rio de Janeiro: Conspiração Filmes, 2008

Referências

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