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Comunicar para o género feminino: estudo comparativo entre os conteúdos selecionados por revistas direcionadas para o género feminino e as expectativas dos seus consumidores

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Comunicar para o género feminino:

Estudo comparativo entre os conteúdos selecionados por revistas direcionadas

para o género feminino e as expectativas dos seus consumidores

Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação

Autora:

Daniela da Pinha Pereira

Orientadores:

Prof. Doutora Marlene Vasques Loureiro

Prof. Doutor Galvão dos Santos Meirinhos

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-Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Comunicar para o género feminino:

Estudo comparativo entre os conteúdos selecionados por revistas direcionadas

para o género feminino e as expectativas dos seus consumidores

Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação

Autora:

Daniela da Pinha Pereira

Orientadores:

Prof. Doutora Marlene Vasques Loureiro

Prof. Doutor Galvão dos Santos Meirinhos

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Sei bem que nunca serei ninguém

Sim, sei bem Que nunca serei alguém. Sei de sobra Que nunca terei uma obra. Sei, enfim, Que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, Enquanto dura esta hora, Este luar, estes ramos, Esta paz em que estamos, Deixem-me crer O que nunca poderei ser. Ricardo Reis

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Para o Pedro, por tudo.

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Agradecimentos

Aos meus pais. Por tudo. Sempre. À minha irmã. Por caminhar a meu lado, ininterruptamente, incondicionalmente, incessantemente. Aos meus amigos. Por o serem. À Professora Marlene Loureiro. Pela orientação, pelo trabalho publicado na área,

pela compreensão. Ao Professor Galvão dos Santos Meirinhos, pelas ideias, pela motivação, pelo exemplo. À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em particular aos docentes do Departamento de Letras, Artes e Comunicação. Muniram-me de conhecimentos, de dúvidas e de certezas renovadas. Aos professores e colegas do Colégio de São Gonçalo, da Escola Superior de Educação de Coimbra, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao Brasil e às pessoas que lá conheci. Aos mentores que tive o privilégio de encontrar na UTADTv. Ao Professor Nicolau, à Daniela e à Mara do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Amarante. À Sofia, ao Nelson, à Catarina, à Maria, ao Luís, à Joana, ao André, à Carina e à Ana Rita da SIC. A todos os autores dos livros que me inspiram. A todos os jornalistas que me fazem acreditar nesta profissão. A todos, sem exceção, que cruzaram o meu caminho. Contribuindo para tudo o que eu sou, para todos os sonhos que tenho, para todas as conquistas que contei e para todas as que ainda vou contar. Muito obrigada!

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Índice

1. Introdução 1

2. Capítulo I – Fundamentação teórica 4

2.1. Breve referência à comunicação na sociedade atual 4

2.2. O género e a comunicação 9

2.2.1 Diferenças comunicativas entre homens e mulheres 11

2.2.1.1. Diferenças biológicas – o sexo 14

2.2.1.2. Diferenças socioculturais – o conceito de género 22 2.2.1.2.1. Desenvolvimento psicossocial e o género 24 2.2.1.2.2. Influência sociocultural na construção do género 26

2.3. Os meios de comunicação social e o género 29

2.3.1. As revistas 34

3. Capítulo II – Componente Empírica 38

3.1. Processo de investigação nas ciências sociais e humanas 39 3.2. Problema de investigação, hipóteses e metodologia 40

3.3. Análise das capas das revistas 42

3.4. Análise do inquérito 45

3.5. Discussão dos resultados 76

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5. Referências bibliográficas 82 Anexos

Anexo 1. Capa da revista Saber Viver edição de agosto de 2014 Anexo 2. Capa da revista Saber Viver edição de setembro de 2014 Anexo 3. Capa da revista Saber Viver edição de outubro de 2014 Anexo 4. Capa da revista Saber Viver edição de novembro de 2014 Anexo 5. Capa da revista Cosmopolitan edição de agosto de 2014 Anexo 6. Capa da revista Cosmopolitan edição de setembro de 2014 Anexo 7. Capa da revista Cosmopolitan edição de outubro de 2014 Anexo 8. Capa da revista Cosmopolitan edição de novembro de 2014 Anexo 9. Capa da revista Happy edição de agosto de 2014

Anexo 10. Capa da revista Happy edição de setembro de 2014 Anexo 11. Capa da revista Happy edição de outubro de 2014 Anexo 12. Capa da revista Happy edição de novembro de 2014 Anexo 13. Capa da revista Vogue edição de agosto de 2014 Anexo 14. Capa da revista Vogue edição de setembro de 2014 Anexo 15. Capa da revista Vogue edição de outubro de 2014 Anexo 16. Capa da revista Vogue edição de novembro de 2014 Anexo 17. Capa da revista Elle edição de agosto de 2014 Anexo 18. Capa da revista Elle edição de setembro de 2014 Anexo 19. Capa da revista Elle edição de outubro de 2014 Anexo 20. Capa da revista Elle edição de novembro de 2014

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Anexo 21. Capa da revista Activa edição de agosto de 2014 Anexo 22. Capa da revista Activa edição de setembro de 2014 Anexo 23. Capa da revista Activa edição de outubro de 2014 Anexo 24. Capa da revista Activa edição de novembro de 2014 Anexo 25. Capa da revista LuxWoman edição de agosto de 2014 Anexo 26. Capa da revista LuxWoman edição de setembro de 2014 Anexo 27. Capa da revista LuxWoman edição de outubro de 2014 Anexo 28. Capa da revista LuxWoman edição de novembro de 2014 Anexo 29. Capa da revista Máxima edição de agosto de 2014

Anexo 30. Capa da revista Máxima edição de setembro de 2014 Anexo 31. Capa da revista Máxima edição de outubro de 2014 Anexo 32. Capa da revista Máxima edição de novembro de 2014 Anexo 33. Relatório do inquérito on-line no programa Survio Apêndices

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Lista de gráficos

Gráfico 1.Temas e assuntos abordados nas capas das revistas 43 Gráfico 2. Interesse dos temas abordados nas revistas femininas nacionais 46

Gráfico 3. Interesse das revistas nacionais 46

Gráfico 4. Diversidade nas revistas femininas 47

Gráfico 5. Expectativas em relação às revistas 47

Gráfico 6. Consumidores das revistas 48

Gráfico 7. Diversidade de sugestões 48

Gráfico 8. Identificação por parte dos consumidores 49

Gráfico 9. Periodicidade mensal 50

Gráfico 10. Periodicidade semanal 50

Gráfico 11. Periodicidade quinzenal 51

Gráfico 12. Preponderância das ofertas 52

Gráfico 13. Leveza e descontração na apresentação 52

Gráfico 14. Carácter refinado nas publicações 53

Gráfico 15. Formalidade na apresentação 53

Gráfico 16. Manipulação das fotografias 54

Gráfico 17. Presenças femininas nas capas 55

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Gráfico 19. Presença de manequins profissionais nas capas 56

Gráfico 20. Presença de homens nas capas 56

Gráfico 21. Presença partilhada de homens nas capas 57

Gráfico 22. Presença de corpos volumosos nestas publicações 57 Gráfico 23. Presença de pessoas desconhecidas nas capas 58 Gráfico 24. Omnipresença de pessoas magras nestas publicações 58

Gráfico 25. Importância do assunto: moda 59

Gráfico 26. Importância de roteiros turísticos 60

Gráfico 27. Importância do tema: filhos 60

Gráfico 28. Importância do tema: carreira 61

Gráfico 29. Importância da vida privada de figuras públicas 61

Gráfico 30. Relevância da decoração 62

Gráfico 31. Importância do tema: histórias da vida real 62

Gráfico 32. Relevância do tema: solidariedade 63

Gráfico 33. Relevância das sugestões culturais 63

Gráfico 34. Importância da divulgação de novos artistas 64 Gráfico 35. Importância dos conselhos para uma vida saudável 65 Gráfico 36. Relevância de temas relacionados com artes em geral 65 Gráfico 37. Relevância da divulgação de novas tendências 66 Gráfico 38. Importância de roteiros turísticos com boa relação qualidade-preço 66 Gráfico 39. Importância de roteiros turísticos no geral 67

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Gráfico 41. Importância do tema: sexo 68 Gráfico 42. Pertinência dos assuntos relacionados com vícios/dependências 68 Gráfico 43. Importância da discussão sobre relacionamentos 69 Gráfico 44. Importância da instrução acerca de regras de etiqueta 70

Gráfico 45. Importância das relações sociais 70

Gráfico 46. Pertinência das revistas assumirem o papel de conselheiras

comportamentais 71

Gráfico 47. Importância do assunto: viagens e destinos 71 Gráfico 48. A informação nacional nas revistas femininas 72 Gráfico 49. A informação internacional nas revistas femininas 73 Gráfico 50. A preferência sobre a moda nacional em detrimento da internacional 73 Gráfico 51. As marcas “low cost” como forma de atrair consumidores 74

Gráfico 52. A presença acentuada de marcas de luxo 75

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Lista de tabelas

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Lista de figuras

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Lista de abreviaturas

MCS – Meios de Comunicação Social

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Resumo

O presente documento reflete sobre a comunicação e o género, na sociedade atual, já que, apesar da sociedade contemporânea acreditar na igualdade entre homens e mulheres, têm surgido evidências de que estes são completamente diferentes, nomeadamente na forma e no modo como comunicam. Assim, começamos por apresentar uma breve reflexão sobre os processos de comunicação, a sua evolução e o seu papel no presente. Em seguida, percorremos algumas das particularidades do género, no que à comunicação concerne. Dissertamos sobre a origem do tema, sobre a sua pertinência na contemporaneidade e sobre os principais estudiosos desta área.

Procuramos, ainda, refletir sobre as razões que podem estar na génese destas diferenças comunicativas. Ainda que não existam respostas definitivas, podemos afirmar que essas diferenças são consequência de diversas variáveis, desde biológicas, ambientais, psicológicas, sociais e culturais.

Finalmente, e depois de sintetizarmos as particularidades associadas ao género, investigamos de que forma a imprensa direcionada para as mulheres, nomeadamente as revistas, vai ao encontro das expectativas do seu público-alvo.

Os resultados deixam perceber que, de um modo geral, os consumidores fazem um balanço positivo destas publicações. A diversidade de temáticas parece ser muito importante para os inquiridos. As maiores disparidades residem na importância que é atribuída à vida das figuras públicas e aos protagonistas das capas. Já que as revistas elegem maioritariamente mulheres, figuras públicas e manequins profissionais e os inquéritos revelam uma preferência oposta.

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Abstract

This paper reflects on communication and gender in today's society, since that, despite the contemporary society believe in equality between men and women, there is new evidence that they are completely different, especially in the form and manner that they communicate. Therefore, we begin by presenting a brief reflection on the processes of communication, its evolution and its role in this. Then we go through some of the particularities of gender, in relation to communication. Than, we talk about the beginning of the subject, about their relevance in the contemporary world and about major researchers in this area.

We seek to further reflect on the reasons that might be the genesis of these communicative differences. Although there are no definitive answers, we can say that these differences are the result of many variables, such as biological, environmental, psychological, social and cultural.

Finally, and after synthesize the particularities associated with gender, we investigate how the media targeted to women, including magazines, will meet the expectations of their audience.

The results suggest that, in general, consumers make a positive balance of these publications. The diversity of thematic seems to be very important to the respondents. The biggest differences lie in the importance attributed to the lives of public figures and protagonists of the covers. Since the magazines elect mostly women, public figures and models and surveys show the opposite preference.

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1. Introdução

A sociedade está “viva” e isso significa que está em constante transformação. Uma transformação alucinante, como muitos lhe chamam. Assim, estudar um fator inerente à sociedade, tal como é a comunicação, implica admitir que este também se altera a cada momento. Tendo por base esta premissa, propomo-nos a refletir, ao longo desta dissertação, sobre a comunicação e o género na sociedade atual.

O começo de qualquer análise implica a sua contextualização espacial e temporal. Como tal, iniciamos o nosso trabalho com uma breve reflexão sobre os processos de comunicação, a sua evolução e o seu papel na sociedade contemporânea. Não podemos, contudo, falar de comunicação na atualidade sem mencionar termos como: meios de comunicação social, mass media, sociedade de informação, sociedade do conhecimento, aldeia global, desenvolvimento tecnológico, internet, redes sociais, entre tantos outros.

Afigura-se uma tarefa demasiado vasta tentar refletir sobre a diversidade da experiência global, como tal, decidimos focar a nossa atenção nos países mais “desenvolvidos”, uma vez que a relação entre a sociedade e os meios de comunicação social depende de circunstâncias como o desenvolvimento económico e cultural do país em questão. Interessa-nos particularmente o caso português.

Ao longo desta dissertação procuramos, também, percorrer algumas das particularidades do género, no que à comunicação concerne. Dissertamos sobre a origem do tema, sobre a sua pertinência na contemporaneidade e sobre os principais estudiosos desta área.

Uma vez que, apesar de, atualmente, a sociedade acreditar na igualdade entre Homem e Mulher, existem evidências de que eles são completamente diferentes, nomeadamente no que à forma e ao modo como comunicam concerne (Loureiro 2012: 1). Aliás, os seres humanos, de um modo geral, comunicam de forma diferente, mas essa disparidade acentua-se quando comparamos homens e mulheres. Consequentemente, afigura-se pertinente apresentar algumas das razões que poderão estar na génese dessas mesmas diferenças.

Alguns autores defendem que essas diferenças são fruto das caraterísticas psicológicas do homem e da mulher, outros acreditam que são fatores sociais que estão na base dessas

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disparidades, e existem, ainda, autores que responsabilizam os fatores culturais. “Não obstante, estas abordagens não são, obviamente, mutuamente exclusivas” (Loureiro 2012: 2).

Assim, e apesar de não possuirmos, ainda, respostas definitivas, existe uma anuência de que as diferenças comunicativas são consequência de diversas variáveis, desde biológicas, ambientais, psicológicas, sociais e culturais.

A ideia de que homens e mulheres são diferentes é, já, bastante aceite e disseminada entre o senso comum, ainda assim, continuam a existir certos constrangimentos associados ao estudo deste tema, talvez por se tratar de um campo bastante controverso, como afirma Deborah Tannen, o que sublinha a pertinência deste estudo (Tannen 1990: 14).

Autores como Key (1996) defendem que as origens das diferenças de género dos estilos em interação remontam aos primórdios da história humana, tendo em conta os diferentes papéis do homem e da mulher no que concerne ao acompanhamento das crianças (Key 1996: 1). Papéis estes que relegavam a mulher para o domínio doméstico e o homem para o mundo exterior.

Segundo Ann Bodine (1975), as primeiras reflexões sobre as diferenças comunicativas e o género remontam já aos séculos XVII e XVIII. Estes estudos continuam no século XIX em sociedades mais primitivas, recém-colonizadas (Bodine 1975: 130). Mais tarde, ao longo do século XX, começam a surgir as primeiras investigações nos E.U.A e em alguns países da Europa (Loureiro 2012: 32-33).

Apesar de, como verificamos, este não ser um assunto propriamente recente, continuam a existir certos constrangimentos associados ao estudo do mesmo, já que os resultados, quando mal interpretados, podem originar controvérsias em diversas esferas sociais e servir como justificação para a existência de desigualdade no tratamento e nas oportunidades entre homens e mulheres.

Depois de compreendermos que o género apresenta certas singularidades na forma como comunica, procuramos representar de que modo a imprensa se molda a estas mesmas singularidades. Disto pretendemos falar nesta dissertação, que dividimos em quatro partes:

- A primeira parte trata de introduzir o tema, contextualizando-o e apresentado a sua pertinência.

- Na segunda parte, passamos em revista o estado da arte, ou seja, analisamos em que medida existem diferenças entre homens e mulheres e resumimos as razões que podem explicar as mesmas.

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- Na terceira parte, procuramos perceber até que ponto as revistas, que têm como público-alvo as mulheres, vão ou não ao encontro das espectativas dos consumidores. Para isso recorremos a um inquérito, aplicado a uma amostra por conveniência de 130 pessoas. A par deste questionário, realizamos a análise de 4 capas (edições de agosto, setembro, outubro e novembro de 2014) das revistas urbanas nacionais, direcionadas para o público feminino. - Terminamos a nossa dissertação apresentando as principais conclusões a que

chegamos.

Mulheres e homens têm comportamentos diferentes? Quais as razões para a existência de diferenças entre os sexos? As mulheres têm interesses diferentes dos homens? Estas são algumas das questões necessárias para se chegar ao ponto principal desta investigação que é tentar perceber se os conteúdos selecionados pela imprensa direcionada para o género feminino vão ao encontro das especificidades que o género apresenta.

Impera salientar que não temos a presunção de esgotar o tema. Pretendemos, sim, despertar o interesse para o mesmo, contribuir para lhe dar visibilidade e promover a sua difusão. Com o desígnio de que o nosso ensaio possa servir de fundamento para futuras pesquisas na área do género e da comunicação.

Mesmo porque, como disse o filósofo britânico, Karl Popper, cada solução de um problema ergue novos problemas a solucionar; e será tanto mais assim quando maiores forem a complexidade do problema original e a audácia da sua solução. Ou seja, quanto mais aprendemos sobre o mundo, e quanto mais profunda essa aprendizagem for, mais consciente, específico e articulado será o nosso conhecimento daquilo que desconhecemos.

Em suma, quanto mais alargamos o nosso conhecimento, mais ignorantes nos admitimos. Queremos com isto deixar claro que existe ainda muito por explorar e que muitos são os desafios que nos esperam neste domínio. Com esta dissertação esperamos apenas contribuir para o aprofundamento da reflexão em torno deste aliciante assunto.

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2. Capítulo I – Fundamentação teórica

2.1. Breve referência à comunicação na sociedade atual

A comunicação é, pois, uma condição sine qua non da vida social (Rego 2007: 25).

Parafita (2012: 4) refere que a comunicação pressupõe uma passagem do individual ao comum. Como, aliás, nos sugere a palavra latina que lhe deu origem, communis (que significa “comum”). Para este autor só há comunicação quando a informação tem o mesmo significado para ambos os polos do processo comunicacional: emissor e recetor. E, de forma a dar um significado comum a um determinado facto, é essencial apresentá-lo em termos compreensíveis, apelando a códigos facilmente interpretáveis.

No processo comunicacional intervêm diversos fatores que podem perverter o significado da mensagem. “Por isso, entre a intenção de comunicar algo e o respetivo destinatário deve haver uma codificação e descodificação da mensagem, sendo que a eficácia da comunicação será tanto maior quanto o for a capacidade partilhada de decifração dos códigos respetivos” (Parafita 2012: 4).

Ao longo do tempo, o homem procurou, sempre, conceber e aprimorar os mais diversos meios e utensílios de comunicação, ciente de que esta constitui a base da (co)existência humana (Parafita 2012: 4). É , de fato, perceptível a constante preocupação do ser humano em facilitar os processos de comunicação, desde a utilização de gestos, passado pela criação da linguagem verbal, até à criação de todos os meios tecnológico de que hoje dispomos.

Através do aprimoramento de instrumentos que suportam a comunicação (os media), o homem vai ficando ciente de elementos informativos para compreender e avaliar o mundo que o envolve (Parafita 2012: 5). Deixando no passado os tambores e os sinais de fumo, o ser humano deixou, também, de estar limitado à sua pessoa física e aos processos primários de linguagem, que restringiam a informação em tempo e em espaço (Parafita 2012: 5). Ou seja,

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comunicação, mesmo que inconscientemente.

Atualmente, a comunicação está em todo o lado, aparecendo assim, intimamente ligada aos conceitos de sociedade e cultura (Ferin 2002: 25). O que significa que o ser humano se encontra constantemente a comunicar, mesmo que de forma involuntária, e é através da comunicação que este interage com o mundo que o rodeia, procedendo, desta forma, à socialização e à criação da sua própria cultura.

Loureiro (2012: 7) refere que o ser humano é, por natureza, um ser social e, como tal, tem necessidade de comunicar. Também Rego (2007: 25) afirma que a comunicação é “condição sine qua non da vida social”. Estes e muitos outros autores sublinham a importância da comunicação, dos processos comunicacionais e da sua omnipresença na sociedade ao longo dos tempos.

Para Beaudichon (2011: 14), a comunicação é uma palavra-chave na sociedade atual, não só na vida social e pública, como na vida económica.

Sousa (2006: 21) acredita que o conceito de comunicação é difícil de restringir e, por consequência, de definir, uma vez que, “de um determinado ponto de vista, todos os comportamentos e atitudes humanas e mesmo não humanas, intencionais ou não intencionais, podem ser entendidos como comunicação” (Sousa 2006: 21).

Griffin (1997: 1) concorda que a comunicação é um termo difícil de definir, acrescentado que a maior parte das definições dizem mais sobre os seus autores do que propriamente sobre a natureza da comunicação.

Griffin (1997: 1) cita ainda o exemplo de dois teóricos, que apesar de não apresentarem definições contraditórias, não expõem o mesmo ponto de vista. Claude Shannon adota uma vertente mais científica, definindo a comunicação como: “a transmissão e receção de informação” (Shannon cit. in Griffin 1997: 1). Por sua vez, I.A. Richards segue uma perspetiva mais humanista e afirma que “a comunicação é a geração de significado” (Richards cit. in Griffin 1997: 1).

Após a invenção de Gutenberg, a difusão e a busca da eficiência cresceram exponencialmente. Séculos mais tarde, com o aparecimento da rádio, a informação passou a percorrer, rapidamente, o planeta. Em seguida, com o surgimento da televisão, notou-se um progresso ainda mais acentuado neste campo. Todavia, atualmente, a celeridade da informação tem ganho uma dimensão ainda maior, através dos novos meios de comunicação associados aos serviços da Internet e não só no quadro de uma comunicação unidimensional. Uma vez que, em função da revolução da “Web 2.0”, que introduziu as chamadas “redes

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sociais”, mais do que divulgar, partilhamos (Parafita 2012: 5).

Fruto dos avanços tecnológicos, sucederam mudanças radicais na vida do homem, que segundo Parafita (2012: 5), experimenta, atualmente, a noção de não estar isolado onde quer que se encontre. O mesmo autor defende que a sociedade contemporânea vive uma era (da informação e da comunicação) em que, para além de se tentar unir espaços físicos, rapidamente, através de meios de transporte, tenta-se, também, unir espaços conceptuais através da tecnologia.

Como produto do acelerado desenvolvimento tecnológico, que se viveu ao longo do século XX, a diversidade do conhecimento aumentou exponencialmente. Esse aumento acarreta uma necessidade acrescida de especialização (Ramírez e Moral 1999: 7). Ou seja, facilmente compreendemos que na era tecnológica existe uma grande necessidade de fragmentar as áreas do saber, de modo a que seja possível uma maior exatidão, um maior rigor no tratamento de cada uma (Ramírez e Moral 1999: 7).

Na sociedade e consequentemente nos media, ou talvez pela ordem inversa, novos papéis e perfis vêm sendo definidos (Januário 2009: 2). Em parte, fruto do avanço tecnológico e, consequentemente, das alterações sociais e culturais que experimentamos. Assim, conseguimos perceber que a mulher conquistou espaço na sociedade em geral, e nos media em particular, e como tal o espaço do homem sofreu algumas alterações.

Para Cazaneuve (1976), o progresso dos meios de comunicação, determinado pelo avanço tecnológico, tende a diluir, nitidamente, o estigma “massificador” tradicionalmente associado aos mesmos. Atualmente, os meios de comunicação social, muito embora continuem a tentar obter o maior nível de audiências possível, procuram, também, moldar e personalizar os seus produtos, orientando-os para segmentos de público mais discriminados.

Os benefícios para os cidadãos destas transformações em curso acelerado são incalculáveis. Os riscos de utilização maliciosa ou abusiva estão na mesmo escala (Coelho 2007: 21). Estamos, assim, na presença de um enorme desafio, rico de oportunidades e de ameaças (Coelho 2007: 21). Ou seja, apesar de todas as vantagens que são evidentes, existem também enormes riscos associados à utilização errónea destas plataformas. Como tal, torna-se extremamente pertinente o estudo dos possível efeitos que as transformações aceleradas, que experimentamos, podem causar na sociedade em geral e nos meios de comunicação social, em particular.

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Rei (1998: 152) assegura que atualmente é um lugar-comum referir que vivemos numa sociedade de comunicação e identifica alguns fatores que foram determinantes no desenvolvimento da comunicação:

1) O crescimento exponencial das aglomerações urbanas, que distanciou as pessoas, levando-as a apelar a meios artificiais para estabelecerem relações.

2) A mudança da atividade produtiva do setor primário (agricultura e pescas) para o setor secundário (indústrias e transformação de matérias-primas) e para o terciário (serviços) e quaternário (ligado à produção e distribuição de informação).

3) O aperfeiçoamento da tecnologia que trouxe consigo os meios de comunicação de massas.

4) A disponibilidade e a acessibilidade do indivíduo para a informação, pois tem mais tempo livre e está mais despegado da religião;

5) A homogeneidade de condições sociais alcançada, que elimina as grandes desigualdades, permitindo a satisfação das necessidades mais urgentes e uma margem económica para aceder ao progresso tecnológico e aos bens de informação.

6) Por último, o aumento do nível de educação proporcionou também o desenvolvimento da circulação de informação (Rei 1998: 152-153).

Lempen (1980), na tentativa de ser mais conciso, sintetiza os fatores que permitiram o desenvolvimento da comunicação em três pressupostos: o desenvolvimento das trocas, desde bens e serviços a ideias; a generalização do saber, que ocasionou o progresso tecnológico; e a evolução das mentalidades, que permitiu uma maior abertura e disponibilidade para receção de informação (Lempen 1980: 18-21).

Todos estes fatores contribuíram para que atualmente a comunicação se encontre em todo o lado, podemos assim falar da era da “comunicação global”, que é “[...] alicerçada nas Tecnologias da Informação e da Comunicação, na expansão dos mercados e dos consumos, na burocratização maciça do quotidiano e na homogeneidade dos estilos de vida” (Ferin 2002: 25). Por consequência, experimentamos também a era da globalização, a “aldeia global” como refere McLuhan (1964), em que a comunicação é de massas e global (Mcquail 2003: 241).Para tal, existem condições propícias, tais como a:

[...] existência de um mercado livre para os produtos mediáticos; existência e respeito para um efectivo “direito à informação”, portanto liberdade política e liberdade de expressão; tecnologias que possam oferecer canais de transmissão rápidos, com capacidade e baixo custo, ultrapassando fronteiras e grandes distâncias (McQuail 2003: 241)

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“Por conseguinte, tendo em conta a existência destas condições, vivemos numa sociedade em que a comunicação é dominante, onde prevalece a comunicação de massas global” (Loureiro 2012: 8). Temos assistido à crescente valorização dos processos de comunicação. Estes são, atualmente, considerados elementos essenciais à vida em sociedade. Por isso é tão importante o estudo e a compreensão dos mesmos.

Todavia, tal como referimos anteriormente, a comunicação é um processo que envolve variáveis e, por isso mesmo, nem sempre ocorre com sucesso. “Existem numerosos obstáculos e condicionantes que impedem que uma dada mensagem atravesse ‘intacta’ o canal que liga o emissor e o recetor” (Rego 2007: 51). Assim, a comunicação eficaz, ou seja, a correspondência exata entre os pensamentos do emissor e a interpretação do recetor, é bastante difícil de atingir (Loureiro 2012: 8). Uma vez que existe uma série de obstáculos que podem perturbar o processo comunicacional e interferir na transmissão e receção das mensagens, impedindo a comunicação eficaz (Loureiro 2012: 8).

Como obstáculos à comunicação eficaz, Arménio Rego (2007) salienta: 1) Diferentes quadros de referência do emissor e do recetor;

2) Juízos de valor , estereótipos e preconceitos;

3) A avaliação que o recetor faz da fonte, ou seja, do próprio emissor ou de quem forneceu a informação ao emissor;

4) A credibilidade que o recetor vê no emissor/fonte;

5) Percepção seletiva do recetor, tal como “ouvir apenas o que espera ouvir”; 6) Dificuldades ou incompetência em escutar;

7) Ausência de confiança para comunicar; 8) Problemas semânticos;

9) Diferenças culturais entre emissor e recetor; 10) Barreiras físicas e arranjos espaciais;

11) Problemas de expressão do emissor ou falta de preparação e conhecimentos; 12) Estilos pessoais de comunicação diferentes;

13) Filtragem; 14) Falta de tempo;

15) Excesso de informação e sobrecarga de comunicação; 16) Primeiras impressões;

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18) Caraterísticas do meio ou canal por onde se comunica; 19) Emoções e sentimentos;

20) Género (Rego 2007).

Estes são alguns aspetos que estão presentes no processo comunicacional e que, por vezes, se transformam em barreiras à comunicação eficaz.Ao longo desta dissertação, iremos centrar-nos no último ponto, ou seja, a questão do género na comunicação. O género, que segundo Rego (2007), Pease e Pease (2005), Robbins (2005), entre outros autores, é entendido como uma barreira à comunicação eficaz, condicionando a comunicação interpessoal entre homens e mulheres, dificultando a interpretação da mensagem e a comunicação.

Neste sentido, nós acreditamos que essas diferenças devem ser tomadas em consideração pelos media que têm como público-alvo o género. Interessa-nos particularmente os que têm como público-alvo o género feminino.

2.2. O género e a comunicação

Apesar de, atualmente, a sociedade acreditar na igualdade entre Homem e Mulher, têm surgido evidências de que eles são completamente diferentes, nomeadamente no que à forma e ao modo como comunicam concerne (Loureiro 2012: 1).

Segundo Loureiro (2012: 1), o homem e a mulher não, ou nem sempre, interpretam a linguagem da mesma forma. “Efetivamente, mesmo quando não parece haver lugar para qualquer mal-entendido, o homem e a mulher podem interpretar a mesma conversação de forma díspar” (Loureiro 2012: 1). Ou seja, mesmo que, atualmente, a sociedade em geral apregoe uma igualdade de género, essa não existe, já que por diversas razões o homem e a mulher são diferentes um do outro.

Segundo Key (1996: 1) as diferenças de género têm origem nos primórdios da história humana, já que, desde então os papéis do homem e da mulher eram diferente. Papéis estes que relegam a mulher para o domínio doméstico e o homem para o mundo exterior.

Muito embora estes papéis se estejam a alterar, na sociedade atual, a verdade é que as normas sociais e as normas de interação que lhe estavam associadas ainda se mantêm e

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impedem a mudança. Na verdade, ainda hoje existem sociedades onde o homem surge como sexo dominante e superior (Loureiro 2012: 1).

Neste contexto, podemos também dizer que estamos perante um ciclo vicioso, na medida em que a linguagem é a maior influência no que e no como as crianças aprendem sobre o género. Por outro lado, o género é a maior influência no modo como as crianças usam a linguagem no dia a dia (Loureiro 2012: 2).

Na realização deste trabalho, importa ter em consideração que o ser humano no geral comunica de forma distinta, mas esta diferença de discurso torna-se ainda mais evidente quando comparamos homens e mulheres. Esta é uma ideia bastante aceite e difundida entre o senso comum, ainda assim, existe pouca literatura sobre o assunto, possivelmente por se tratar de um campo bastante controverso, como atesta Deborah Tannen, o que reforça a pertinência deste estudo (Tannen 1990: 14).

Os constrangimentos associados a este tema levaram a que muitos investigadores evitassem explorá-lo, uma vez que, os resultados, frequentemente mal interpretados, provocam sérias discussões em diversas esferas sociais e já que as diferenças entre homens e mulheres podem ser usadas para justificar desigualdade de tratamento e oportunidades.

Para Ann Bodine (1975), as primeiras reflexões sobre as diferenças comunicativas e o género datam, já, dos séculos XVII e XVIII. Estas investigações tiveram continuação ao longo do século XIX em sociedades mais primitivas, recém-colonizadas (Bodine 1975: 130). Posteriormente, durante o século XX, começam a despontar as primeiras investigações nos E.U.A e em alguns países da Europa (Loureiro 2012: 2).

Para Loureiro (2012: 2), 1975 foi o ano de lançamento dos estudos linguísticos sobre a ligação entre a linguagem e o sexo/ género, destacando as publicações de Language and Women’s Place, de Robin Lakoff; Male / Female Language, de Marie Ritchie Key; e Language and Sex: Difference and Dominance, de Barrie Thorne e Nancy Henley. Segundo a mesma autora, estes livros “vieram lançar as bases de investigação sobre as diferenças no modo como homens e mulheres usam a linguagem e interagem. A partir daqui, a relação entre a linguagem e o género tem vindo a ser estudada resultando numa literatura multidisciplinar” (Loureiro 2012: 2).

Consequentemente, emergiram várias explicações para as diferenças de género no uso da linguagem. Alguns autores defendem que essas diferenças são fruto das caraterísticas psicológicas do homem e da mulher, outros acreditam que são fatores sociais que estão na

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2012: 2). Por outras palavras, apesar de não estarmos no domínio de respostas concretas ou definitivas, os estudos levados a cabo nesta área levam-nos a acreditar que não é apenas uma variável que influencia esta diferenciação entre os géneros, mas antes um conjunto de variáveis.

Recentemente, como refere Loureiro (2012: 2), têm surgido duas correntes nos estudos sobre o género e a linguagem:

(...) por um lado, surge o “dominance approach” e, por outro, o “cultural approach”. O primeiro está associado ao trabalho de investigadores como Robin Lakoff, que postulam que a mulher e o homem comunicam de modo diferente porque é o homem que domina a linguagem. O segundo aparece ligado a investigadores como Deborah Tannen, que defendem que existem diferenças comunicativas entre homens e mulheres porque realmente eles são diferentes, seja por razões biológicas e psicológicas, seja por razões sociais e/ou culturais (Loureiro 2012: 2).

Apesar de não se chegar a respostas definitivas, existe um consenso de que as diferenças comunicativas são resultado de diversas variáveis, desde biológicas, ambientais, psicológicas, sociais e culturais (Loureiro 2012: 2).

2.2.1. Diferenças comunicativas entre homens e mulheres

So although it is readily demonstrable that both sexes use the language, this cannot be taken as sufficient evidence that both sexes stand in the same relationship to that language (Spender 2001: 12).

Parece-nos claro que qualquer estudo ou investigação sobre a comunicação e as diferenças comunicativas entre homens e mulheres deve começar por explicar as possíveis razões para a existência dessas diferenças. Tal como referimos anteriormente, não existem ainda respostas definitivas. Porém, parece haver um consenso, entre os investigadores, de que as diferenças comunicativas são resultado de diversas variáveis, desde biológicas, ambientais, psicológicas, sociais e culturais (Loureiro 2012: 2).

Por conseguinte, começamos por explorar as diferenças biológicas que podem estar na génese desses disparidades comunicativas. Em seguida, abordamos as diferenças socioculturais e, por fim, as diferenças psicológicas.

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Apesar desta ser uma área pouco explorada e bastante controversa, existe uma anuência, entre os estudiosos, quanto ao carácter multidisciplinar da mesma, solicitando, desta forma, o recurso ao conhecimento de várias ciências e áreas do saber, nomeadamente a Comunicação, a Pragmática, a Sociolinguística e a Psicolinguística, entre outras (Loureiro 2012: 2).

Atualmente é recorrente encontrarmos livros de psicologia e antropologia, entre outros, que incidem sobre esta temática, como são os livros You Just Don’t Understand (1992), de Deborah Tannen, e He Says, She Says (1993), de Lillian Glass (Loureiro 2012: 32). O livro He Says, She Says (1993) de Lillian Glass enumera 105 diferenças comunicativas entre homens e mulheres, agrupadas em 5 categorias: (1) linguagem corporal; (2) linguagem facial; (3) padrões do discurso e da voz; (4) conteúdos linguísticos; e (5) padrões comportamentais (Glass 1993 cit. in Loureiro 2014: 32).

Eakins e Eakins (1978), por sua vez, explicam, de forma sucinta, as diferenças comunicativas entre homens e mulheres apresentando seis grandes razões que as justificam:

1) Diferenças inatas, ou seja, estas diferenças nascem com o indivíduo, já que homens e mulheres têm estruturas anatómicas e reprodutivas diferentes. Esta explicação reserva-se primordialmente a diferenças não-verbais, nomeadamente formas de movimento, posturas, gestos, etc.

2) Personalidade, uma vez que homens e mulheres têm personalidades diferentes, já que os sexos diferem em termos hormonais e químicos. Por outro lado, esta personalidade é também moldada por valores culturais e sociais herdados pelo meio onde o indivíduo se encontra integrado.

3) Elaboração cultural, ou seja, as diferenças comunicativas entre os géneros advêm de valores e ideologias culturais que o indivíduo assimila.

4) Divisão sexual do trabalho, uma vez que a sociedade relega certos trabalhos, atividades, responsabilidades e privilégios às pessoas em função do género a que pertencem. Deste modo, as diferenças comunicativas decorrem do tipo de linguagem que se utiliza nas diferentes ocupações.

5) Domínio masculino, ou por outras palavras, o controlo masculino da sociedade. De acordo com esta teoria, a comunicação ocorre numa conjuntura controlada pelo homem, que, consequente, domina e controla também a linguagem. Por sua vez, a mulher é subjugada a uma posição de submissão e subordinação.

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6) Sistemas de valores diferentes, isto é, de acordo com o género, os indivíduos aprendem valores distintos. Estes valores estão relacionados não só a valores e ideologias culturais, mas também a um domínio masculino, cujo sistema de valores é dominante e superior, influenciando, dessa forma, as condutas dos homens e das mulheres (Eakins e Eakins 1978: 16-19).

De um modo geral, conseguimos concluir que vários são os fatores que concorrem para as diferenças comunicativas entre homens e mulheres.

Muito embora os fatores sociológicos e culturais contribuam e expliquem as diferenças de género, conhecer os fatores biológicos inerentes a essas mesmas diferenças revela-se crucial. Uma vez que, apesar da emancipação da mulher a nível social e cultural, as diferenças de género mantêm-se. Podemos tomar por exemplo, a chegada das mulheres a determinadas profissões, como a magistratura, a medicina ou a advocacia, que só se tem vindo a acentuar desde o final dos anos 70. Até essa data, a presença feminina era escassa, e o mundo laboral era maioritariamente dominado pelo sexo oposto (Subtil 1995: 1).

“Atualmente, as mulheres deixaram de estar confinadas ao espaço doméstico constituindo um efetivo considerável que disputa com os homens espaços de intervenção na esfera profissional” (Subtil 1995: 4). No entanto, tal como referem Moir e Jessel (1992) no percurso dos tempos e na maior parte das sociedades, o homem sempre conquistou um papel de superioridade em relação à mulher (Moir e Jessel 1992: 10). Desta forma, torna-se pertinente explorar as diferenças entre homens e mulher e compreender de que forma essas diferenças concorreram e/ou concorrem para os diferentes papéis que estes têm assumido ao longo dos tempos.

Parece-nos relevante salientar que a sociedade se está a alterar, possivelmente devido aos avanços tecnológicos que facilmente compreendemos, como tal a situação da mulher e do homem também tem vindo a sofrer transformações. Como nos revelam pesquisas recentes, que apontam que “à medida que a mulher se foi emancipando, foi adquirindo “características masculinas”” (Ghilardi-Lucena 2005 :1024). O inverso também parece ter acontecido com o homem, já que este tem adquirido “característica femininas”. Podemos, como tal, falar numa inversão de papéis (Ghilardi-Lucena 2005 :1024).

Apesar do foco do nosso trabalho ser o género feminino, no seu decorrer iremos analisar inúmeras vezes o género masculino, já que a compreensão integral de um género implica a sua comparação ao género oposto.

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Para falarmos sobre diferenças entre homens e mulheres, parece-nos imperativo começar por esclarecer os conceitos de: sexo e género. O conceito de sexo pertence ao domínio da biologia e exprime o conjunto de características biológicas e fisiológicas que distinguem os homens e as mulheres. O género, por outro lado, é um conceito social que remete para as diferenças existentes entre homens e mulheres, diferenças essas não de carácter biológico, mas derivadas do processo de socialização. Ou seja, tal como enuncia McLeod (2014: 1), o sexo refere-se às diferenças biológicas entre homens e mulheres, como por exemplo ao nível dos cromossomas (uma vez que as mulheres apresentam dois cromossomas X e os homens um X e um Y) e das hormonas. E o género refere-se às diferentes expectativas (sociais e culturais) a que homens e mulheres estão sujeitos de acordo com o seu sexo. Como tal, “a person’s sex does not change from birth, but their gender can” (McLeod 2014: 1).

A concepção de género descreve assim o conjunto de qualidades e de comportamentos que as sociedades aguardam dos homens e das mulheres, formando a sua identidade social. Deste modo, “embora o género possa ser relacionado com a biologia, ele não imana diretamente do nosso corpo” (Loureiro 2012: 20). Uma vez que, tal como pronunciou Julia T. Wood, o ser humano só adquire género no processo de interação social (Wood 1996: 6). Também Moshe (2014: 1) salienta que “it is important to point out that, despite the obvious connection, sex and gender are separate from one another” (Moshe 2014: 1).

É essencial realçar que as atitudes expectadas por parte do género podem ser diferentes de cultura para cultura, de religião para religião, ou de uma sociedade para outra e podem também ser influenciadas por diferentes factores, tais como: a etnia, a classe social, a condição e a circunstância das mulheres.

2.2.1.1. Diferenças biológicas – o sexo

Biologicamente é possível diferenciar um homem de uma mulher pelas suas características associadas ao sexo, mesmo que a nível hormonal os sexos não sejam opostos, já que todos os seres humanos partilham das mesmas hormonas sexuais (Loureiro 2012: 10).

Eakins e Eakins (1978) acreditam que as características associadas ao sexo, responsáveis pela distinção entre o homem e a mulher, se diferenciam em três níveis: a nível

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1 primary sex characteristics, which have to do with reproduction hormonic differences, and the production of spermozoa or ova;

2 secondary sex characteristics, which are anatomical in nature and include distribution of body hair, differential bone structure, and size;

3 sexual characteristics, which are social-behavioral in nature, are related to culture, and include learned, patterned communication behaviors such as posture, facial expression, leg position, and the like (Eakins e Eakins 1978: 4).

A partir destas caraterísticas, emerge a diferenciação entre sexo e género. Assim, como referimos anteriormente (ponto 2.2.1.), o sexo refere-se às diferenças biológicas entre homens e mulheres, e o género é um termo de cunho cultural, que diferencia socialmente o masculino e o feminino (Loureiro 2012: 10). Por outras palavras, “sex refers to the biological and physiological characteristics, while gender refers to behaviors, roles, expectations, and activities in society” (Medical News Today 2013 cit in. Moshe 2014: 1).

Por outro lado, vários autores defendem que o género não é construído unicamente pela interação social, mas resulta, em parte, de processos biológicos. As diferenças entre o género são, assim, influenciadas pelas diferenças entre os sexos. Ou seja, homens e mulheres atuam, pensam e sentem de forma distinta porque os seus cérebros funcionam de forma diferente. Essas diferenças cerebrais podem resultar de diferenças a nível dos cromossomas e/ou a nível hormonal (Sammons 2010: 1).

Assim, entre as razões que justificam as diferenças comunicativas entre homens e mulheres aparece o cérebro e o seu desenvolvimento. Investigadores descobriram a existência de hormonas responsáveis por “masculinizar” ou “feminizar” o desenvolvimento do cérebro ainda no período intrauterino (Glass 1993: 4). Segundo Sammons (2010: 1), o fato de homens e mulheres serem diferentes ao nível dos cromossomas faz com que estes tenham diferenças a nível hormonal, o que consequentemente provoca diferenças no desenvolvimento físico e também no desenvolvimento cerebral destes:

Women and men are chromosomally different. Women have two X chromosomes (XX), whereas men have an X and a Y chromosome (XY). In the period following conception, female and male embryos are indistinguishable apart from their chromosomes. However, the Y chromosome in males starts to promote the production of testosterone and other androgens (male sex hormones). These androgens cause the male to develop testes and a penis instead of ovaries and a uterus. The androgens also cause the male brain to develop differently from the female. A biopsychologist would argue that it is these differences in brain development, and the differences in brain activity caused by the secretion of androgens in adulthood, that cause men to behave differently from women (e.g. acting more aggressively) (Sammons 2010: 1).

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Como tal, para compreender as diferenças na organização do cérebro humano o sexo aparece como uma variável a ser considerada (MaKeever 1987: 277). Como referem Anne Moir e David Jessel (1992: 5):

The sexes are different because their brains are different. The brain, the chief administrative and emotional organ of life, is differently constructed in men and women; it processes information in a different way, which results in different perceptions, priorities and behaviour (Moir e Jessel 1992: 5)

Assim, parece haver uma concordância no que à diferenciação cerebral entre homens e mulheres concerne. Essa diferenciação inicia-se ainda durante o período de gestação e faz com que a nível celular o homem e a mulher sejam diferentes:

In every microscopic cell of our bodies, men and women are different from each other; because every fibre of our being has a different set of chromosomes within it, depending on whether we are male or female (Moir e Jessel 1992: 21).

Hilary M. Lips e Nina Lee Colwill (1978) concordam com a anterior afirmação, referindo que “[...] early investigators saw sex differences in temperament or behavior as logical consequences of obvious (and not so obvious) anatomical differences” (Lips e Colwill 1978: ix). Todavia, “devido ao ímpeto do movimento feminista, houve uma sobrevalorização da análise das diferenças de género tendo em conta o contexto social, em detrimento da componente biológica e psicológica” (Loureiro 2012: 11).

Segundo Flores-Mendoza (2000), a investigação de possíveis diferenças de desempenho intelectual relacionadas com o sexo do indivíduo remonta aos primórdios da psicometria (Flores-Mendoza 2000: 26). Apesar de não ser uma novidade, ainda existem certos constrangimentos associados a este estudo. Uma vez que, os resultados, quando mal interpretados, podem provocar sérias discussões em diversas esferas sociais.

Para esta autora, dizer que existem fortes evidências sobre a existência de diferenças nas aptidões ou habilidades cognitivas, entre os sexos, não significa que os homens sejam superiores às mulheres, ou vice-versa (Flores-Mendoza 2000: 26). Ainda assim, a sociedade, em geral, assimila com facilidade a informação de que existem diferenças de desenvolvimento biológico entre os sexos, possivelmente pela sua constatação óbvia. Por outro lado, o mesmo não se verifica em relação à informação de que podem existir algumas diferenças no que diz respeito ao desempenho cognitivo. Essa reacção social demonstra a valorização atribuída à inteligência (Flores-Mendoza 2000: 26).

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As primeiras evidências sobre diferenças intelectuais entre homens e mulheres datam do início do século XX, quando se principia o estudo da inteligência. Nesta época, marcada pelo preconceito existente, surgem publicações como o livro “A inferioridade mental da mulher” do fisiologista alemão Moebius (Andrés-Pueyo e Zaro 1998: 63-77). Também se tinha naquele período como fato (até hoje incontestado) uma maior variabilidade intelectual no grupo dos homens. Ou seja, haveria um número superior de deficientes mentais e de superdotados do sexo masculino do que do sexo feminino (Jensen 1998: 193-198). Estudos mais recentes, como o de Feingold (1988: 95-103), demonstram que, na zona média da distribuição normal da inteligência, os QIs entre homens e mulheres não apresentam diferenças significativas.

Para além dos cromossomas X e Y, responsáveis por determinar se o feto é rapaz ou rapariga, também as hormonas são relevantes na determinação do sexo e na construção do cérebro masculino ou feminino (Moir e Jessel 1992: 22-25). O cérebro humano é, assim, organizado e estruturado por hormonas. Como a estrutura do cérebro e as hormonas são diferentes no homem e na mulher é natural que o homem e a mulher tenham um comportamento diferente (Moir e Jessel 1992: 38). Como refere McLeod (2014: 1), “Hormones are chemical substances secreted by glands throughout the body and carried in the bloodstream. The same sex hormones occur in both men and women, but differ in amounts and in the effect that they have upon different parts of the body” (McLeod 2014: 1). Assim sendo, torna-se pertinente perceber a relação que se estabelece entre as hormonas, o cérebro e o comportamento (Moir e Jessel 1992: 38). No entanto, é importante salvaguardar que as diferenças cognitivas não impedem que homens e mulheres participem com o mesmo grau de responsabilidade no desenvolvimento sociocultural das suas comunidades, uma vez que, no que à inteligência geral concerne, os sexos não diferem significativamente (Flores-Mendoza 2000: 26).

Normalmente, o cérebro humano está dividido em duas partes: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. O lado esquerdo controla predominantemente a capacidade verbal e o processamento detalhado de informação, assim como os processos de pensamento lógico e sequenciais. O lado direito, por sua vez, é responsável pelos sentidos visual e de espaço. Este controla, ainda, os processos de pensamento abstrato e algumas das nossas respostas emocionais (Loureiro 2012: 11). Shaywitz et al (1995 cit. in McLeod 2014: 1) utilizaram exames de ressonância magnética para analisarem o cérebro masculino e feminino e descobriram que as mulheres utilizam os dois hemisférios cerebrais no desempenho de tarefas

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relacionadas com a linguagem e os homens utilizam apenas o hemisfério esquerdo. “It appears that in males brain hemispheres work more independently than in females, and testosterone influences this lateralization” (McLeod 2014: 1).

Lado direito do cérebro Lado esquerdo do cérebro

Visual Verbal

Espacial Linguístico

Imagens Detalhes

Emoções Prático

Abstrato Concreto

Formas e padrões Sequências ordenadas

Tabela 1. Controlos do lado direito e do lado esquerdo do cérebro humano (Moir e Jessel 1992: 40 cit. in Loureiro 2012: 12-13).

Ainda relativamente à diferenças cerebrais entre homens e mulheres, Anne Moir e David Jessel apontam diferenças ao nível da organização do cérebro:

1) No cérebro feminino, a linguagem e os sentidos de espaço são controlados por centros em ambos os lados, já no cérebro masculino essas capacidades encontram-se localizadas de um modo mais específico – as capacidades verbais são controladas pelo lado esquerdo e sentidos de espaço pelo lado direito (Moir e Jessel 1992: 42). Assim, podemos depreender que na mulher “a divisão funcional dos lados direito e esquerdo do cérebro não está tão claramente definida como no homem, já que ambos os lados estão envolvidos nas capacidades verbal e visual” (Loureiro 2012: 12).

2) O lado esquerdo do cérebro humano está estruturado de forma diferente no homem e na mulher. Exemplo disso são as funções cerebrais relacionadas com os mecanismos de linguagem, como a pronúncia, a gramática e a produção discursiva, que no homem estão localizadas nas áreas da frente e detrás do lado esquerdo e nas mulheres encontram-se mais centradas na área da frente do lado esquerdo do cérebro (Moir e Jessel 1992: 44). As respostas emocionais também têm uma localização diferente no cérebro feminino e masculino. No cérebro feminino encontram-se em ambos os lados e no cérebro masculino encontram-se concentradas no lado direito (Moir e Jessel 1992: 46).

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3) O cérebro dos homens tem menos ligações entre os dois lados do que o das mulheres. Ou seja, existe uma maior troca de informação entre o lado esquerdo e o lado direito no cérebro das mulheres (Moir e Jessel 1992: 47).

Podemos concluir que haverá vantagens e desvantagens associadas à organização do cérebro de ambos os sexos, uma vez que homens e mulheres serão melhores em determinadas capacidades, que são controladas por áreas específicas do cérebro (Moir e Jessel 1992: 47).

Autores como Eysenck & Kamin (1982), Eleanor Maccoby & Carol Jacklin (1974) e Anastasi (1968) acreditam que os homens são superiores em tarefas de informação geral, em tarefas de raciocínio aritmético e aptidão espacial, enquanto as mulheres obtêm melhores pontuações em funções verbais como tarefas de soletração, uso gramatical da linguagem, em tarefas de memória e de percepção de detalhes (Flores-Mendoza 2000: 26).

Anne Moir e David Jessel (1992: 47) concordam com a superioridade masculina no que diz respeito à orientação espacial e acrescentam que os homens não são tão facilmente distraídos por informação supérflua, uma vez que apresentam um padrão com mais funções específicas organizadas (Moir e Jessel 1992: 47).

Também a superioridade verbal da mulher pode ser explanada pela diferente organização cerebral, já que as capacidades de linguagem estão todas especificamente situadas no lado esquerdo do cérebro feminino. Pelo contrário, no homem estas encontram-se espalhadas na parte da frente e detrás, obrigando-o a esforçar-se mais do que a mulher para apurar estas capacidades (Moir e Jessel 1992: 45). “Também por isso, as meninas aprendem a falar mais rapidamente que os meninos, tal como aprendem a ler mais rapidamente” (Loureiro 2012: 13). Os homens, por sua vez, apresentam quatro vezes mais probabilidade de sofrer de autismo infantil e de dislexia (Chambers 1992: 200).

O fato de as mulheres conseguirem relacionar informação verbal e visual melhor do que os homens e de estas serem mais fluentes nas línguas deve-se, segundo Anne Moir e David Jessel (1992: 48), ao maior número de conexões que se estabelecem entre os dois hemisférios do cérebro, o que as torna pessoas mais fluentes e articuladas (Moir e Jessel 1992: 48).

A nível emocional, a organização do cérebro também é responsável pela existência de diferenças entre homens e mulheres. Já que o homem estabelece menos relações entre a parte verbal e emocional, o que explica a maior dificuldade sentida por estes em expressar as suas emoções (Moir e Jessel 1992: 48 cit. in Loureiro 2012: 13).

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Estas diferenças são inatas e vão sendo acentuadas ao longo do crescimento e desenvolvimento do indivíduo pelo desenvolvimento do próprio cérebro, mas também pelos valores sociais e culturais que rodeiam o indivíduo (Moir e Jessel 1992: 53).

[...], it is important not to ignore the fact that there are considerable differences between some cultures in their gender behaviour. When different cultures behave in different ways this supports a role of learning. Mead (1935), for example, documented how three tribal societies living in close proximity to each other in Papua New Guinea had very different gender roles. Findings like this suggest that even though biological factors influence gender behaviour, they are heavily modified by learning (Sammons 2010: 2).

Ao longo do desenvolvimento do ser humanos podemos apontar um outro momento em que as hormonas modelam novamente o cérebro – a puberdade (Moir e Jessel 1992: 68).

Nas raparigas, a puberdade pode iniciar-se aos 8 anos de idade e as principais hormonas femininas implicadas no processo são o estrogénio e a progesterona. Nos rapazes a puberdade tende a iniciar-se cerca de dois anos mais tarde e a principal hormona envolvida é a testosterona. “A puberdade, e respetivo aumento dos níveis de hormonas, implica alterações fisiológicas e psicológicas em ambos os sexos” (Loureiro 2012: 13). Segundo Sammons (2010: 2), as diferenças hormonais entre homens e mulheres estão diretamente relacionadas com as suas diferenças comportamentais:

Women and men produce different sex hormones in varying quantities. Besides affecting the functioning of various bodily organs (e.g. causing the menstrual cycle in women) these sex hormones appear to have an effect on behaviour. Testosterone, which is produced in greater quantities by men, affects several types of behaviour, some of which are regarded as ‘typically male’. For example, Dabbs et al (1995) found that violent offenders had higher testosterone levels than non-violent offenders and Coates et al (2008) found that financial traders with higher testosterone levels took greater risks. Women have higher levels of oxytocin than men. Some researchers have linked this to increased sociability. Oxytocin seems to affect the formation of bonds and attachments between people and Klaver et al (2009) found that higher levels of oxytocin are linked to improved memory for faces (Sammons 2010: 2).

Na mulher é possível identificar flutuações hormonais regulares, associadas ao seu ciclo menstrual. Já no homem as hormonas não se apresentam com a mesma previsibilidade (Lips 1978: 82-83). O ciclo menstrual da mulher foi, durante séculos, um dos motivos pelos quais a mulher era considerada instável e logo incapaz de ocupar posições de responsabilidade social (Lips 1978: 82-83). No entanto, à semelhança da mulher, também o homem apresenta variações de “humor” de modo cíclico, em períodos intercalados entre 4 a 8 semanas (Lips 1978: 94).

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A nível hormonal, a diferença mais evidente entre o homem e a mulher é a agressividade masculina, que se relaciona com as hormonas características do homem1. “Testosterone is a sex hormone, which is more present in males than females, and affects development and behavior both before and after birth” (McLeod 2014: 1). Consequentemente, também na personalidade podemos encontrar disparidades entre os sexos, essas disparidades são afetadas pela sociedade em que vivemos. Mas a sociedade apenas reforça as nossas diferenças naturais:

Anger and placidity, aggression and appeasement, sociability and individuality, dominance and compliance, obedience and assertiveness – taken together, these make up a fair amount of what we can call personality. And in each of these aspects of personality, marked measurable differences have been observed between girls and boys, men and women, which we know have an underlay in the wiring of the brain.

Men and women are different; the society we grow up in does affect us, but essentially in reinforcing our natural differences (Moir e Jessel 1992: 86-87).

As hormonas podem também explicar diferenças de género nos comportamento e atitudes sociais, sejam interesses, gostos, preferências ou mesmo os próprios papéis sociais (Loureiro 2012: 14).

O argumento, segundo o qual as diferenças de género têm por base diferenças biológicas, foi extremamente refutado pelo movimento feminista e outros estudiosos da área, que viam nesta teoria um inconveniente à proteção da igualdade entre homens e mulheres.

Todavia, como salientam Bing e Bergvall (1996), não podemos contestar que: “[...] there are some biological differences between most women and most men” (Bing e Bergvall 1996: 15). Por outro lado, importa referir que: “the evolutionary approach argues that gender role division appears as an adaptation to the challenges faced by the ancestral humans in the EEA (the environment of evolutionary adaptation)” (McLeod 2014: 1). No entanto, “the evolutionary approach is a biological one, it suggests that aspects of human behavior have been coded by our genes because they were or are adaptive” (McLeod 2014: 1).

Apesar deste ser ainda um campo pouco explorado e existir uma grande necessidade de investigar a natureza entre a linguagem e o sexo, Susan U. Philips atesta que existem diferenças biológicas associadas ao sexo, na localização e processamento da linguagem no

                                                                                                               

1 A agressividade, considerada superior no sexo masculino, não é apenas resultado de diferenças a nível hormonal e fisiológico. Segundo Wendy L. Josephson e Nina Lee Colwill (1978), a agressividade associada ao homem pode ser explicada pela evolução histórica e social do mesmo. Já que este se viu obrigado a assumir trabalhos relacionados com a caça e luta, enquanto as mulheres estavam ocupadas a parir e a criar os filhos (Josephson e Colwill 1978: 201 cit. in Loureiro 2012: 14).

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cérebro humano (Philips 1897: 6). Também Julia T. Wood (1996) acredita na existência de diferenças entre homens e mulheres ao nível das funções cerebrais:

In general, females are more adept in using the right brain lobe, which controls creative abilities and intuitive, holistic thinking. Males are generally more skilled in left brain functions, which govern linear thinking and abstract, analytic thought. [...] Thus, females may have advantage in crossing from one side of the brain to the other and in using both brain hemispheres (Wood 1996: 5).

Por outro lado, existe a possibilidade de ser o modo como homens e mulheres interagem socialmente que os levou a desenvolver certas habilidades cerebrais (Wood 1996: 5).

It is clear from a range of studies involving humans and other animals that chromosomal and hormonal differences between males and females affect a range of masculine and feminine behaviours, which supports the biological view. However, much of this research is correlational. Consequently, whist it indicates a relationship between, for example, testosterone levels and risk taking, it does not indicate the direction of causality. Whilst higher testosterone might cause people to make riskier decisions, it might also be that the process of taking risks causes testosterone levels to rise (Sammons 2010: 2).

Rosaldo e Lamphere (1974) acreditam que as diferenças, anteriormente mencionadas, entre homens e mulheres são resultado da interação entre as características biológicas e os padrões da vida social. Assim, os autores afirmam que a biologia contribui mas não determina o comportamento dos sexos (Rosaldo e Lamphere 1974: 5).

Em suma, homens e mulheres são diferentes e existem várias razões que podem explicar essas diferenças: razões biológicas, psicológicas, sociais, culturais. Todas interligadas e interdependentes contribuem para a formação da identidade de género (Loureiro 2012: 16). As razões biológicas que suportam as diferenças entre os sexos encontram validação em pesquisas como a descrita por Sammons (2010: 2):

The biological view of gender is supported by those cross-cultural studies that have found universal features of gender. For example, in all cultures studied, men are found to be more aggressive than women, which suggests an innate, biological difference (Sammons 2010: 2).

2.2.1.2. Diferenças socioculturais e psicossociais – o conceito de género

Imagem

Figura 1. Percurso de um processo de investigação, segundo Sousa e Baptista (2011: 4)
Gráfico 1. Temas e assuntos abordados nas capas das revistas.
Gráfico 2. Interesse dos temas abordados nas revistas femininas nacionais.
Gráfico 11. Periodicidade quinzenal
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Referências

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