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Você é o que você come? Dieta, personalidade e percepção ambiental

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME? DIETA, PERSONALIDADE E PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Samile Laura Dias Barros

NATAL, RN Novembro/2019

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SAMILE LAURA DIAS BARROS

VOCÊ É O QUE VOCÊ COME? DIETA, PERSONALIDADE E PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ecologia, do Centro de Biociências.

Orientadora: Fívia de Araújo Lopes

NATAL, RN Novembro/2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB

Barros, Samile Laura Dias.

Você é o que você come? Dieta, personalidade e percepção ambiental / Samile Laura Dias Barros. - Natal, 2019.

98 f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Graduação em Ecologia.

Orientadora: Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes.

1. Comportamento alimentar humano - Monografia. 2. Escolhas alimentares - Monografia. 3. Motivações - Monografia. 4. Big Five - Monografia. 5. Preocupação ambiental - Monografia. I. Lopes, Fívia de Araújo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE-CB CDU 612.3

Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351

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SAMILE LAURA DIAS BARROS

Você o que você come? Dieta, personalidade e percepção ambiental

Trabalho de conclusão de curso apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como pré-requisito para a conclusão obtenção do título de Bacharel em Ecologia, do Centro de Biociências.

Natal, 25 de novembro de 2019 BANCA AVALIADORA

_______________________________________ Profa. Dra. Fívia de Araújo Lopes

Deparamento de Fisiologia e Comportamento

_______________________________________ Prof. Dra. Diana Quitéria Cabral Ferreira

Departamento de Nutrição

_______________________________________ Prof. Mestra Fernanda da Fonseca Freitas FACISA – Faculdade de Ciências do Trairi

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por proporcionarem o melhor estudo, sendo fruto de muito trabalho, perseverança e empenho. A minha mãe, Sônia, por ser essa mulher guerreira e determinada em ajudar aos filhos. A minha eterna gratidão ao meu pai, Francisco de Assis, por ter me acompanhado do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental, novamente, só para me ensinar todas as máterias, sem isso, não teria chegado até aqui. Aos meus irmãos, Sâmia e Andrey, vocês foram fundamentais para o meu crescimento, sem vocês não faria sentido a minha infância, adolescência e maioridade. Tivemos muitas aventuras, viagens, risadas e aprendizados que vou carregar pelo resto da vida. Muito obrigada, por toda força que depositaram em mim durante minha caminhada para estar aqui. O mundo é pequeno para nós.

Ao meu amigo, companheiro, Vinícius Oliveira, que foi o meu presente da ecologia. Muita obrigada pela cumplicidade, paciência, amor e momentos eternizados na minha memória. Sou muito grata por toda sua ajuda quando precisei e por acreditar em mim quando meus pensamentos pessimistas vinham para me derrubar.

À minha orientadora que esteve comigo desde o segundo semestre de curso, me acolheu e acreditou em mim sem julgamento. Muito obrigada, Fívia, por todos esses anos de paciência, aprendizados, vitórias e alegrias, sou eternamente grata. Obrigada, por apoiar minha pesquisa e ser a luz que eu precisava.

Obrigada Felipe Nalon, pela disponibilidade, paciência em responder todas as dúvidas em estatística. Obrigada, também, ao meu amigo José Paulo pelas dicas na tabulação dos meus dados. Obrigada, Renan Menezes, pela paciência e ajuda com as estruturas do questionário na plataforma online. Obrigada Matheus Moura, por todas as dicas na minha pesquisa e construção da minha apresentação.

A Coordenadora, Luciana Carneiro, por toda a disponibilidade e paciência nos últimos detalhes para a minha apresentação. Sou muito grata pela sua ajuda nos momentos mais crusciais para minha defesa.

A minha psicóloga, Milena, obrigada por todas as terapias e infinidades de conversas durante esses cinco anos. Sou eternamente grata pela sua colaboração no meu enriquecimento emocional e profissional.

Ao meu quarteto fantástico, Maria Lúcia, Igleymiller e José Paulo, por toda a companhia durante esses 4 anos de muita luta, aperreios, estresses, alegrias, cumplicidade, as boas gargalhadas durante as nossas conversas sem fim. Vocês me ajudaram a tornar o curso uma verdadeira aventura.

Ao meu grupo “Da facex para a vida”, Bianca Paris, Úrsula Martin, Iohara Quirino, Pedro Pinheiro e Rodrigo Henrique. São 7 anos de amizade com grandes aventuras e aprendizados que irei levar para vida toda. Sou grata pelas diversas risadas, apoio e cumplicidade. Nós estaremos ligados em qualquer lugar que estejamos.

Ao Laboratório de Evolução do Comportamento Humano, LECH. Nada estaria sendo possível sem a sua estrutura e as pessoas que compõe essa base de pesquisa maravilhosa, minha eterna gratidão. Ao Libre Café Vegano pelo apoio, divulgação e aos momentos mais gostosos com as comidinhas deliciosas. Aos membros do Laboratório Horta Comunitária Nutrir que me ajudaram a divulgar com muita alegria.

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RESUMO

Nossos ancestrais sofreram vários tipos de pressões seletivas que moldaram a alimentação dos humanos modernos. Diante disso, em nossa história alimentar, passamos por diversificações na dieta, culminando com uma dieta onívora. Para além da onivoria, outros aspectos importantes na composição de nossa dieta envolvem questões mais atuais, como, por exemplo, dietas baseadas em conceitos éticos, tais como o vegetarianismo e o veganismo. Nesse âmbito, o presente estudo teve por objetivo compreender como se constituem as escolhas alimentares para a composição da dieta e a sua relação com a preocupação ambiental. Para esse propósito, participaram 242 voluntários, dos quais, 118 eram onívoros, 73 vegetarianos e 51 veganos de ambos os sexos, maiores de 18 anos. A coleta de dados foi feita através de questionários online, a partir dos quais investigou-se a motivação para a composição da dieta (através do Questionário de escolhas alimentares), a personalidade (utilizando o Big Five) e dados sociodemográficos. Os dados foram analisados através de estatística não-paramétrica. Verificou-se que os participantes com dieta vegetariana ou vegana, assinalaram significativamente mais motivações como “Preocupação com bem-estar dos animas” e “Preocupações com o impacto ambiental na alimentação”, do que os onívoros. Por outro lado, os onívoros apresentaram dentre suas motivações principais “sabor da carne”, “hábito”, “foi assim que fui educado”, “É mais saudável”. Em relação à preocupação ambiental, “Alterações climáticas”, “Extinção de espécies animais”, “Impacto ambiental da pecuária”, “Regimes

alimentares não sustentáveis, por consumo excessivo de carne”, “Escassez de água” foram assinaladas significativamente mais por veganos e vegetarianos. Ademais, os veganos apresentaram mais preocupação na “Introdução de organismos geneticamente modificados na cadeia alimentar”

do que vegetarianos e onívoros. Quanto à personalidade e as decisões alimentares, houve diferença para os traços de extroversão e abertura, com a média dos veganos significativamente superior aos onívoros. A partir dos resultados observados, pode-se concluir que as diferenças individuais são um componente importante na compreensão das decisões quanto às dietas na atualidade.

Palavras-chave: Comportamento alimentar humano, escolhas alimentares, motivações, Big Five,

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ABSTRACT

Our ancestors suffered various kinds of selective pressures that shaped the diet of modern humans. Given this, in our dietary history, we have gone through dietary diversification, culminating in an omnivorous diet. In addition to omnivory, other important aspects of our dietary composition involve more current issues, such as diets based on ethical concepts such as vegetarianism and veganism. In this context, the present study aimed to understand how food choices are constituted for diet composition and its relationship with environmental concern. For this purpose, 242 volunteers participated, of which 118 were omnivores, 73 vegetarians and 51 vegans of both sexes, over 18 years old. Data collection was done through online questionnaires, from which we investigated the motivation for diet composition (through the Food Choice Questionnaire), personality (using the Big Five) and sociodemographic data. Data were analyzed using nonparametric statistics. Participants on a vegetarian or vegan diet were found to have significantly more motivations such as "Animal welfare concerns" and "Environmental impact on food" than omnivores. On the other hand, the omnivores had among their main motivations “meat flavor”, “habit”, “that's how I was brought up”, “It's healthier”. Regarding environmental concerns, “Climate Change”, “Extinction of Animal Species”, “Environmental Impact of Livestock”, “Unsustainable Diet, Excessive Meat Consumption”, “Water Shortage” were marked significantly more by vegans and vegetarians. In addition, vegans were more concerned with introducing genetically modified organisms into the food chain than vegetarians and omnivores. Regarding personality and eating decisions, there was a difference for extroversion and openness traits, with the average of vegans significantly higher than omnivores. From the observed results, it can be concluded that individual differences are an important component in understanding diet decisions today.

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Sumário INTRODUÇÃO ... 9 OBJETIVOS ... 15 Objetivo geral ... 15 Objetivos específicos ... 15 HIPÓTESES E PREDIÇÕES ... 16 MATERIAL E MÉTODOS ... 17 Aspectos éticos ... 17 Participantes ... 17 Instrumentos ... 18 Análises estatísticas ... 18 RESULTADOS ...19 DISCUSSÃO ... 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 31 ANEXOS ... 35 APÊNDICES ... 51

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Introdução

Evolução da alimentação humana

A espécie humana apresenta hoje características bastante peculiares, entre as quais destacamos a postura bípede, o cérebro de tamanho avantajado e o fato da espécie humana estar em vários lugare do planeta. Todas as características apontam para um resultado de seleção natural, atuando na maximização da sobrevivência e o sucesso reprodutivo dos indivíduos que as apresentavam. Além disso, podem também refletir a qualidade dietética e eficiência na obtenção de alimentos (Leonard, 2003).

Em nossa história alimentar, a dieta estava inicialmente concentrada em frutos, folhas, grãos e tubérculos sugeridos pela dimensão do território e pelo desgaste nos dentes dos fósseis, sobretudo Australopithecus (Perlès, 1996). Nos fósseis dos dentes havia a presença de estrias horizontais, típicas de um desgaste de itens vegetais, diferente dos fósseis de dentes com a alimentação de carne nos quais apresentava estrias verticais (Constanzo, 2001).

No entanto, nossos ancestrais sofreram vários tipos de pressões seletivas que moldaram a dieta dos humanos modernos. A primeira revolução nos hábitos alimentares foi com a descoberta do fogo pelos ancestrais (Homo erectus) da espécie humana (Rose, 2006; Wrangham, 2009). O fogo permitiu, além de ser a fonte de luz e calor, o desenvolvimento do hábito de cozinhar. Os alimentos difíceis de ingerir na forma natural, como o trigo, arroz e batata, tornaram-se essenciais à dieta através do cozimento. O ato de cozinhar eliminava parte dos contaminates, como microrganismos nos alimentos. Uma outra consequência foi que o alimento passou a ser muito mais fácil de ser mastigado e digerido (Harari, 2012). O hábito de cozinhar possibilitou, portanto, uma ampliação na variabilidade de alimentos, associada a uma redução no tempo de alimentação e a manutenção de características como dentes menores e o intestino mais curto (Harari, 2012).

A segunda revolução dos hábitos alimentares aconteceu por volta de 12 mil anos atrás com advento da agricultura no sudoeste asiático. Nesse fato, foi possível a introdução dos grãos na alimentação humana, como aveia, cevada, centeio, trigo, etc. Também possibilitou que as populações humanas se estabelecessem em locais definitivos. Quando eram ainda caçadores-coletores, as populações permaneciam em determinado local até o momento de migrar em busca de alimentos. Com a agricultura, os seres humanos não precisavam ser nômades e poderiam cultivar em outros locais perto de suas casas. O fato de se manterem em locais fixos acabou, também, por favorecer a criação de espécies animais (Diamond, 2001).

Essa diversificação da dieta, nossa onivoria, associada ao pré-processamento dos alimentos, se reflete em características morfológicas. Nossos dentes hoje são típicos de animais onívoros: incisivos e caninos na parte da frente, capazes de cortar vários itens, como a carne, e na parte posterior pré-molares e molares, capazes de moer as fibras de alimentos de origem vegetal (Barash

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& Barash, 1999). Essa característica pode ser associada à diminuição no tamanho dos molares e à diminuição da robustez mandibular e craniana (Eaton, Eaton III, & Cordain, 2002).

Atualmente, para além de pressões evolutivas e acontecimentos históricos, caracterizar nossa dieta “apenas” como onívora pode deixar de fora outros elementos importantes (Bogin, 1998). Os humanos contemporâneos podem basear também sua dieta a partir de conceitos éticos. O vegetarianismo e o veganismo.

Tipos de dieta

Onivoria (ou onivorismo)

A onivoria é composta por alimentos de origem animal e de vegetais e é o tipo de alimentação mais frequentemente observada nos seres humanos, estando presente em várias culturas do planeta. No entanto, um aspecto ainda não muito claro é de que forma as pessoas com dietas onívoras compreendem o impacto de sua escolha alimentar sobre o meio ambiente.

Um dos aspectos relacionados a esse tipo de dieta é o “dilema do onívoro”: se por um lado as pessoas têm uma atração por experimentar alimentos novos o que poderia ampliar a quantidade de itens em sua dieta, por outro lado, têm-se o conservadorismo de preferir alimentos mais familiares para evitar o risco de consumo de alimentos tóxicos (Rozin, 2005). A cultura vai exercer um importante papel nas escolhas alimentares, tendo em vista que irá estabelecer regras sobre quais alimentos são comestíveis, como eles devem ser adquiridos e preparados com segurança e como eles devem ser consumidos, estabelecendo uma estrutura que reduz a ansiedade produzida pelo desejo de experimentar novos sabores (Kittler et al., 2012).

Vegetarianismo

A alimentação vegetariana é um estilo de dieta que está cada vez mais sendo praticada por todo mundo, englobando práticas alimentares diversificadas. De uma forma geral, refere-se à opção da privação de produtos de origem animal, com utilização de alimentos do reino vegetal, podendo incluir ou não ovos, leite e seus derivados na alimentação (Cramer et al., 2017). Esse estilo tem como princípio não comer produtos que impliquem na morte de qualquer animal (Slywitch, 2010).

Segundo Rauw (2015), o vegetarianismo não pode ser considerado um fenômeno contemporâneo no mundo ocidental, uma vez que os filósofos e cientistas da antiguidade estabeleceram precedentes de consideração éticas do vegetarianismo ou das escolhas alimentares na população atual.

O crescente interesse pelo vegetarianismo está de encontro com o uso dominante da carne animal como o centro das refeições. As motivações que levam as pessoas a adotarem um estilo de vida com o não consumo de carne pode envolver questões religiosas, de saúde, morais e ambientais

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(Rauw, 2015; Ruby, 2012; Slywitch, 2015). No entanto, a ideia principal das motivações para o não consumo de carne incluem a saúde humana, preocupações com o bem-estar animal e preocupações com os impactos ambientais que a pecuária pode causar (Krech et al., 2004).

Um ponto preocupante para a alimentação vegetariana é quanto ao consumo de vitamina B12 (presente em alimentos de origem animal, incluindo leite, queijo e ovos e alimentos fortificados artificialmente) que está ligada à sobrevivência humana; a deficiência dessa vitamina pode causar anemia e desencadear outras doenças mais graves (Castañé & Antón, 2017; Moll & Davis, 2017). Tal fator é contornado pelos vegetarianos a partir de suplementação ou alimentos fortificados com B12 (Rothgerber, 2017).

É importante destacar que, além de não consumir carne, algumas dietas vegetarianas deixam de consumir também outros tipos de alimentos, derivando subtipos dentro deste sistema (Turner-Mcgrievy et al., 2015). As dietas são:

Ovolactovegetariana: Não consome carne bovina, aves, peixe ou frutos do mar, como o marisco, camarão, polvo, etc., mas inclui leite, ovos e derivados;

Lactovegetariana: Exclui carne bovina, aves, peixe ou frutos do mar, como o marisco, camarão, polvo, etc., e ovos, mas incluem os laticínios;

Ovovegetariana: Exclui carne bovina, aves, peixe ou frutos do mar, como o marisco, camarão, polvo, etc., leite e seus derivados e inclui os ovos;

Vegetariana estrita: Exclui qualquer produto de origem animal, ou seja, carnes, aves, peixes, frutos do mar, ovos, leite e derivados;

Pescetarianos/pesco-vegetarianos: Consomem peixes, mariscos, ovos e laticínios, além de plantas como frutas, legumes, grãos integrais e legumes / feijão. Mas não contém carne ou aves. Semi-vegetariana: Contém todos os alimentos, incluindo carne bovina, aves, peixes e mariscos, ovos, e laticínios, além de alimentos à base de plantas, como frutas, legumes, grãos integrais e legumes / feijão. Contudo, carne vermelha é limitada a uma vez por semana e aves domésticas é limitado a 5 vezes por semana.

Crudivorismo: Apenas alimentos de origem agrícolas e crus; Frugívoros: Alimentam-se exclusivamente de frutas.

Veganismo

No veganismo é adotado um novo estilo de vida, estabelecendo uma profunda mudança de respeito ao que é vivo e nas práticas de consumo, seja de alimentos ou demais produtos de origem animal. O termo foi criado na década de 1940 (Watson & Shrigley, 1944), no movimento vegetariano britânico, para distinguir as pessoas além do vegetarianismo estrito, sendo assim, no veganismo adotavam uma filosofia de vida de não agressão e violência, abolindo do seu estilo de

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vida produtos com ingredientes de origem animal e derivados da morte animal. Sendo assim, o (a) vegano (a) não utiliza produtos testados em animais e produtos que, em seus componentes sejam oriundos de animais, como couro, lã, mel, seda, pele, entre outros.

O consumo vegano exige dos indivíduos que haja uma dedicação a esse estilo de vida, com constante monitoramento de suas ações práticas, sobretudo quando se trata de consumo alimentar, roupas e demais produtos. Devido a isso, é exigido um alto grau de reflexão e de atenção por parte dos veganos com relação ao modo de interação no mundo. Esse tipo de consumo é considerado reflexivo, pois são analisados os interesses e ações que o produzem (Trigueiro, 2013).

É importante frisar que o veganismo apresenta uma filosofia de vida com um posicionamento contra qualquer tipo de exploração animal, como por exemplo, formas de trabalho forçado, consumo alimentar, e também como componentes de processos e produtos manufaturados, sendo eles: roupas, material de limpeza, cosméticos, dentre outros. São grupos contra também ao uso dos animais a favor do progresso da ciência e do uso de animais em laboratórios. Os veganos são intolerantes a qualquer forma de uso, exposição e maus-tratos de animais, como por exemplo, nos zoológicos, rodeios, touradas, etc. (Trigueiro, 2013).

Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira - SVB (2017), em 2012, 16 milhões de pessoas se declararam veganas nos Estados Unidos e, no Brasil, esse número chegava aos 5 milhões de veganos. Além disso, em 2015, de todos os produtos lançados no mercado europeu, 14% estavam voltados ao mercado vegano ou vegetariano. Conforme pesquisa do Instituto Ipsos (2018), 28% dos brasileiros têm se preocupado em comer menos carne. O estilo de vida a base de vegetais vem crescendo e se mostrando cada vez mais nas redes sociais, trazendo como consequência uma ascensão quanto à demanda dos produtos veganos.

Conservação do meio ambiente

A conservação dos regimes naturais de perturbação será fundamental para a preservação dos ecossistemas em funcionamento e para a biodiversidade nativa no qual requer a perturbação para sua existência continuada, embora essas situações possam se tornar mais limitadas ao longo do tempo (Newman, 2019).

Essa perturbação é definida por qualquer evento que seja relativamente discreto no tempo e no espaço que perturbe a estrutura de um ecossistema, comunidade ou população e mude a disponibilidade de recursos ou o ambiente físico (White & Pickett, 1985). As perturbações naturais causam a mortalidade de alguns dos organismos biológicos que compõem as comunidades em um ecossistema, mas não em todos ou da maior metacomunidade (Newman, 2019).

As perturbações na ecologia foram desenvolvidas na era do Antropoceno (Waters et al., 2016), uma época marcada por mudanças no meio ambiente na qual as atividades humanas

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passaram a ter impacto no Planeta Terra. Hoje, mais de 70% da superfície terrestre é marcada pelas ações dos seres humanos (Luyssaert, 2014). Há alteração nas florestas, savanas, solos, rios, oceanos e até a atmosfera do planeta. Esses impactos ambientais da atividade humana estão intimamente relacionados com os hábitos de consumo, principalmente hábitos alimentares.

Alguns consumidores subestimam os impactos que o consumo de carne causa no meio ambiente e em particular nas alterações climáticas (De Boer et al., 2016). Como princípio, a carne se constitui como um alimento saudável, mas uma alimentação à base de carnes também implica em uso maior de fertilizantes, agrotóxicos e outros aditivos agrícolas, água, energia, também com maior emissão de dejetos no ambiente e gases de efeito estufa, quando comparada à alimentação à base de vegetais. Por exemplo, um estudo de 2012 estimou que, na cidade de São Paulo, a adoção do vegetarianismo poderia reduzir em até 35% a pegada ecológica do cidadão (WWF, 2012).

Personalidade e decisões relacionadas à dieta

A personalidade é um constructo da psicologia na área de Avaliação psicológica, sendo motivo de muitas pesquisas, debates teóricos e metodológicos (Silva, 2011). O estudo de personalidade avançou a partir do estabelecimento na sua estrutura, por meio do modelo fatorial da personalidade baseado nos cinco fatores (Big Five) (Prinzie, Dekovic, Reijntjes, Stams e Belsky, 2009). Sendo assim, a personalidade pode ser compreendida como padrões de comportamento e atitudes que são típicas de um determinado indivíduo, de forma a diferir os traços de personalidade de um indivíduo para o outro (Rebollo & Harris, 2006).

Segundo Erder & Pureur (2016), o Big Five é composto por abertura à experiência que são consideradas imaginativas e criativas. Eles estão dispostos a experimentar coisas novas e estão abertas a idéias. A consienciosidade são consideradas focadas e organizadas em objetivos e têm autodisciplina. Eles seguem regras e planejam suas ações. A extroversão são consideradas extrovertidas e enérgicas. Eles obtêm sua energia da companhia de outras pessoas e são definidos como assertivos e entusiasmados. Agradabilidade são consideradas compassivas, gentis e confiáveis. Eles valorizam o convívio com outras pessoas e são tolerantes. Neuroticismo são consideradas ansiosas, autoconscientes, impulsivas e pessimistas. Eles experimentam emoções negativas com relativa facilidade.

Em relação a estudos com os traços de personalidade, o Big Five (abertura, conscienciosidade, agradabilidade, extroversão e neuroticismo) (Digman, 1990) e a associação às pessoas que se alimentam de dietas saudáveis e não saudáveis (Brummett et al., 2008; Goldberg & Strycker; Keller & Siegrist, 2015) revelam que a conscienciosidade apresenta uma relação negativa com a alimentação não saudável (Bogg & Roberts, 2004), enquanto a extroversão e a abertura demonstraram ter relações positivas com uma alimentação saudável (Brummett et al., 2008, Keller

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& Siegrist, 2015). Steptoe, Pollard e Wardle (1995) também relataram que a disposição para experimentar novos alimentos está relacionada à abertura. Por fim, Conner et al. (2017) constataram que a abertura e a extroversão estavam relacionadas ao maior consumo de frutas e vegetais em adultos jovens.

No que se refere à associação dos traços de personalidade e uma dieta vegetariana, os estudos são relativamente escassos. Keller e Siegrist (2015), com uma amostra de suíços, descobriram que a agradabilidade e conscienciosidade estão negativamente associadas ao consumo de carne, enquanto a extroversão, o neuroticismo e a abertura não estavam associados à dieta. Goldberg e Strycker (2002) relataram que evitar as gorduras da carne estava positivamente relacionado à abertura em uma amostra da comunidade norte-americana. Em uma amostra de estonianos, Mõttus et al. (2012) utilizando o consumo de carne como uma dieta tradicional, observaram que a extroversão e abertura tiveram uma associação negativa para com esta dieta.

Em outro estudo com adultos na Escócia, Mõttus et al. (2013) relataram que a abertura, conscienciosidade e agradabilidade estavam associados a uma dieta saudável que incluía menos carne. Kessler et al. (2016) investigaram traços de personalidade em uma pesquisa online com membros da Sociedade Vegetariana Alemã; nesse estudo, os vegetarianos mostraram significativamente menos extroversão, juntamente com maior abertura, agradabilidade e conscienciosidade em comparação aos que comem carne. Além disso, os veganos relataram menos neuroticismo e extroversão, tendo maior abertura, agradabilidade e conscienciosidade em comparação aos que comem carne (Kessler et al., 2016).

Em decorrência de poucos estudos das diferenças individuais de cada dieta alimentar (onívora, vegetariana e vegana) e sua relação com a preocupação ambiental, faz-se necessária uma ampliação dos estudos das motivações para as escolhas alimentares, verificando a influência dos traços de personalidade (Big Five) sobre as decisões relacionadas com a dieta alimentar.

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Objetivo geral

Compreender como se constituem as escolhas alimentares para a composição da dieta e a sua relação com a preocupação ambiental, bem como a influência de características individuais nas decisões alimentares.

Objetivos específicos

● Identificar as motivações dos participantes para a decisão por seu estilo alimentar (vegetariano vegano e onívoro).

● Relacionar a dieta com a percepção ambiental.

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Hipóteses e predições

H1: Há diferenças nas motivações de cada dieta alimentar.

P1: Vegetarianos e veganos têm suas motivações mais voltadas para preocupações em saúde humana, preocupações com o bem-estar animal e preocupações com os impactos ambientais do que os onívoros.

H2: Existe uma relação entre a preocupação ambiental e as dietas vegetarianas e veganas. P2: Vegetarianos e veganos apresentam uma maior preocupação ambiental do que os onívoros.

H3: Há relação entre traços de personalidade e a dieta alimentar.

P3: Pessoas com dieta vegetariana/vegana apresentarão maior pontuação no traço conscienciosidade, pois são mais focadas e seguem as regras para a manutenção de sua dieta.

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Materiais e Métodos

Aspectos éticos

O presente estudo foi submetido e aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da UFRN (parecer nº 3.441.520). Para a participação efetiva na pesquisa, todos os participantes aceitaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo A) antes de ter acesso aos questionários, conforme as orientações da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde - CNS e Manual Operacional para Comitês de Ética - CONEP. Nesse termo, houve o convite para a participação voluntária na pesquisa e a elucidação e que as informações seriam tratadas de forma anônima, confidencial e profissional. Além disso, que seriam usadas apenas para fins de pesquisa, sendo divulgadas somente como parte de um todo através de médias e resultados estatísticos. Por fim, o texto menciona que o participante poderia desistir da pesquisa a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem nenhum prejuízo.

Participantes

Amostra. O tamanho amostral inicial foi calculado com auxílio do software G*Power 3.1.9.2 (Faul, Erdfelder, Lang, & Buchner, 2007), assumindo α = 0,05, Poder = 0,80 e medida de tamanho de efeito (f) = 0,25. A indicação, a partir de tais critérios, foi de uma amostra mínima de 159 participantes, divididos em três grupos de 53 participantes cada (a saber, vegetarianos, veganos e onívoros). Nossa amostra foi composta por indivíduos de ambos os sexos, maiores de 18 anos, com início no dia 1 de agosto até 16 de setembro. O tamanho amostral foi de 242 participantes, divididos em três grupos 118 onívoros, 73 vegetarianos e 51 veganos. Apenas como ressalva, para o grupo do veganos, tivemos que excluir dois participantes por problemas de preenchimento dos questionários. Recrutamento dos participantes. Todos os participantes foram recrutados por meio de cartazes divulgados tanto nas dependências do Centro de Biociências da UFRN quanto nas redes sociais. Participação na pesquisa. A coleta de dados foi realizada através de questionários online, por exemplo o inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade, sociodemográfico e escolhas alimentares, em que cada participante teve acesso ao TCLE e, apenas após concordar com o mesmo, respondeu ao questionário. O link para o questionário foi disponibilizado no site do Laboratório de Evolução do Comportamento Humano (LECH - https://www.lechufrn.com/participar). A duração aproximada da participação foi de 20 minutos.

Instrumentos

The Big Five Inventory (Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade - IGFP-5) (Anexo B). Este instrumento se propõe a avaliar as dimensões da personalidade do indivíduo em cinco

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grandes traços. Contém 44 itens que podem ser respondidos em uma escala likert indo de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), sendo dez questões relacionadas à Abertura (9, 11, 13, 24, 25, 33, 35, 39, 43 e 44), nove a Agradabilidade (2, 3, 8, 15, 18, 27, 28, 30 e 40), nove a Conscienciosidade (4, 6, 17, 19, 20, 22, 31, 32 e 38), oito a Extroversão (1, 5, 12, 16, 26, 29, 37 e 42), e oito a Neuroticismo (7, 10, 14, 21, 23, 34, 36 e 41) foi validado para o Brasil por Andrade (2008). Para avaliação, cada traço possui entre duas e quatro questões que pontuam inversamente e, após realizada a inversão (as questões invertidas são 2, 3, 12, 14, 16, 17, 19, 21, 22, 23, 24, 28, 30, 38, 42 e 43.) são somadas as pontuações das questões de cada traço, de modo que quanto maior a pontuação, mais o indivíduo expressa esse traço de personalidade (Andrade, 2008).

Questionário sociodemográfico (Anexo C). Elaborado seguindo as recomendações da Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas (ABEP), o questionário aborda informações de caráter demográfico, tais como idade, gênero e nível de instrução. Além disso, também inclui questões exploratórias sobre hábitos alimentares da família.

Questionário de Identificação das várias motivações relacionadas com as escolhas alimentares (adaptado de Fontes, 2018) (Anexo D). Nele teve um enquadramento para saber a percepção ambiental relacionado à preocupação ambiental do participante, também possui perguntas abordando as escolhas alimentares, tendo como última pergunta a opção da dieta alimentar que o participante se encontra atualmente e em seguida são feitas perguntas específicas para cada dieta alimentar (onívoro, vegetariano e vegano).

Análise estatística

Após realização da avaliação de normalidade dos dados a partir do teste de Kolmogorov-Smirnov, os dados foram avaliados da seguinte forma: para testar a primeira hipótese quanto a possíveis diferenças nas motivações de cada dieta alimentar, foi identificada a presença de cada tipo de motivação (de acordo com os itens assinalados no questionário), e os três grupos (vegetarianos, veganos e onívoros) tiveram os percentuais de escolha dos itens comparados através do teste de qui quadrado. Para testar a relação entre os tipos de dietas e a preocupação ambiental (segunda hipótese) foram realizados testes de Kruskall-Wallis. Por fim, para testar a terceira hipótese, foi aplicado um teste de ANOVA para medidas independentes para analisar as diferenças quanto aos traços de personalidade de acordo com o tipo de dieta adotada pelos participantes. Para todas as análises, foi adotado o nível de significância de 5% (p < 0,05). Os dados foram analisados através do programa de estatística IBM SPSS Statistics 25.

(20)

Resultados

Caracterização da amostra

A caracterização da amostra foi realizada através de análises descritivas, com o objetivo de elaborar um perfil dos participantes envolvidos na pesquisa. Tiveram 242 participantes, dos quais, 118 eram onívoros, 73 vegetarianos e 51 veganos. No que se refere ao sexo, constatou-se uma representatividade de 71,78% (n = 173) de mulheres, 28,21% (n = 68) de homens e um participante (0,4%) que não informou o sexo (Tabela 1). Não se observou diferença quanto à representatividade de homens e mulheres em nenhuma das dietas (X2: 1,343; gl = 2; p = 0,511).

Tabela 1 - Caracterização dos participantes da pesquisa.

Variáveis N = 242 % Sexo Feminino 173 71,78 Masculino 68 28,21 Não identificado 1 0,4

Faixa etária (anos)

18-29 169 69,83 30-39 55 22,72 40-49 11 4,54 Acima de 50 7 2,88 Escolaridade Analfabeto/Fundamental incompleto 0 0 Fundamental completo 1 0

Ensino médio completo 92 38

Superior completo 149 62 Poder econômico Classe A 30 5,37 Classe B 146 65,16 Classe C 61 27,25 Classe D-E 5 2,21 Tipo de dieta entre as mulheres

Onívoras 81 46,82

Vegetarianas 55 31,79

Veganas 37 15

Tipo de dieta entre os homens

Onívoros 37 54,41

Vegetarianos 17 25

Veganos 14 20,59

Tipo de dieta entre os familiares

Nenhum membro vegetariano ou vegano 127 52

Um membro vegetariano ou vegano 69 29

Dois ou três membros vegetarianos ou veganos 37 15 Mais de trêsmembros vegetarianos ou veganos 9 4

(21)

Tipo de dieta entre os familiares de acordo com a dieta do(a) participante

Onívoros

Nenhum membro vegetariano ou vegano 107

Um membro vegetariano ou vegano 8

Dois ou três membros vegetarianos ou veganos 2 Mais de trêsmembros vegetarianos ou veganos 1

Vegetarianos

Nenhum membro vegetariano ou vegano 12

Um membro vegetariano ou vegano 38

Dois ou três membros vegetarianos ou veganos 17 Mais de trêsmembros vegetarianos ou veganos 6

Veganos

Nenhum membro vegetariano ou vegano 7

Um membro vegetariano ou vegano 24

Dois ou três membros vegetarianos ou veganos 18 Mais de trêsmembros vegetarianos ou veganos 2

A idade média dos participantes foi de 27,51 anos (± 8,07). Adicionalmente, conforme as respostas aos itens de critérios ABEP (2018) ressalta-se que cerca de 43,80% (n = 106) dos participantes são da classe socioeconômica B2. A maioria indicou ter nível superior completo [n = 149 (62%)]. Por fim, em termos de membros vegetarianos e veganos na família, 127 participantes (52%) informaram que nenhum membro da família tinha esses tipos de dieta.

Diferenças nas motivações de cada dieta alimentar

A motivação por trás da decisão quanto a cada tipo de dieta, foi investigada a partir de duas questões: a primeira (questão 14), “Quais os motivos que explicam que faça uma escolha alimentar vegetariana/vegana” (Tabela 2), e a segunda (questão 15), “Quais os motivos que explicam que faça uma escolha alimentar que inclui carne” (Tabela 3).

Ao investigar as frequências das motivações específicas para uma dieta vegetariana/vegana (Tabela 2), foi notada uma diferença entre nove das dezesseis categorias utilizadas no questionário. As categorias “Economizo em termos de custos” (X2 = 16,621; gl 2; p < 0,001), “Não gostar de carne” (X2 = 15,812; gl 2; p < 0,001), e “Preocupações com a própria saúde” (X2 = 17,378; gl 2; p < 0,001) foram significativamente mais assinaladas para os vegetarianos. Os vegetarianos e veganos tiveram um perfil semelhante entre si, mas diferentes dos onívoros, assinalando significativamente mais as seguintes categorias: “Preocupações com o bem-estar dos animais” (X2 = 85,573; gl 2; p < 0,001), “Motivos políticos” (X2 = 55,768; gl 2; p < 0,001) e “Preocupações com impacto ambiental da alimentação” (X2 = 85,578; gl 2; p < 0,001). Por fim, os onívoros assinalaram significativamente mais as

(22)

afirmações “Para descobrir novos gostos” (X2 = 17,678; gl 2; p < 0,001), “Curiosidade” (X2 = 13,420; gl 2; p = 0,001) e “Nunca escolho uma refeição vegetariana/vegana” (X2 = 44,096; gl 2; p < 0,001).

Quanto às diferenças para uma dieta com carne (Tabela 3), os onívoros assinalaram significativamente mais que os vegetarianos e veganos as seguintes afirmações: “Sabor da carne” (X2 =112,762; gl 2; p = 0,001), “Hábito” (X2 = 112, 611; gl 2; p = 0,001), “Foi assim que fui educado/a” (X2 = 63,515; gl 2; p = 0,001), “Devemos comer carne para ter uma alimentação equilibrada” (X2 = 35,592; gl 2; p = 0,001), e “Onde faço minhas refeições habitualmente, não há alternativas” (X2 = 26,144; gl 2; p = 0,001). Ainda, somente os onívoros assinalaram as afirmações: “É mais saudável” (X2 = 14,437; gl 2; p < 0,001), “Enquadra-se com a minha imagem pessoal” (X2 = 8,694; gl 2; p < 0,013), e “É mais barato que

outro tipo de refeição” (X2 = 18,004; gl 2; p = 0,001). Apenas a afirmação “Nunca compro ou consumo

carne” (X2 = 222,605; gl 2; p = 0,001) foi significativamente menos assinalada pelos onívoros.

Tabela 2 – Resultado dos testes estatísticos referentes à questão 14 do questionário, “Quais os

motivos que explicam que faça uma escolha alimentar vegetariana/vegana”.

Afirmativa Resultado do teste Interpretação do resultado Nunca escolho uma refeição

vegetariana/vegana* X

2

= 44,096; gl 2; p < 0,001 Mais onívoros afirmaram que não escolhem estes

tipos de dietas Economizo em termos de

custos* X

2

= 16,621; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos têm uma maior preocupação

quanto aos custos do que os onívoros Paladar apelativo dos alimentos

vegetarianos X

2

= 3,149; gl 2; p = 0,207 Não houve diferença entre os grupos

Não gostar de carne* X2 = 15,812; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos têm uma maior preocupação

quanto a esse item do que os onívoros e veganos Perda de peso X2 = 3,562; gl 2; p = 0,168 Não houve diferença entre os grupos

Preocupações com a própria

saúde* X

2

= 17,378; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos têm uma maior preocupação

quanto a esse item do que os onívoros Preocupações com o bem-estar

dos animais* X

2

= 85,573; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos e veganos têm esta preocupação

mais forte do que os onívoros. Restrições religiosas X2 = 3,176; gl 2; p = 0,204 Não houve diferença entre os grupos

Motivos políticos* X2 = 55,768; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos e veganos têm esta preocupação

mais forte do que os onívoros

Para descobrir novos gostos* X2 = 17,678; gl 2; p < 0,001 Os onívoros indicaram essa motivação mais do

que os veganos

Curiosidade* X2 = 13,420; gl 2; p = 0,001 Os onívoros indicaram essa motivação mais do

que os veganos O/A meu/minha companheiro/a é

vegetariano X

2

= 4,973; gl 2; p = 0,83 Não houve diferença entre os grupos Existirem atualmente alternativas

vegetarianas suficientes X 2

= 3,047; gl 2; p = 0,218 Não houve diferença entre os grupos

Pressão social** - Nenhum participante assinalou essa preocupação

Influência da educação de

familiares ou de amigos X

2

= 1,626; gl 2; p = 0,444 Não houve diferença entre os grupos Preocupações com impacto

ambiental da alimentação* X 2

= 85,578; gl 2; p < 0,001 Mais vegetarianos e veganos apresentaram tal

preocupação

*resultado significativo. O detalhamento das análises pode ser verificado no Apêndice 1; **Nenhuma estatística foi calculada porque a afirmação é uma constante.

(23)

Tabela 3 – Resultado dos testes estatísticos referentes à questão 15 do questionário, “Quais os

motivos que explicam que faça uma escolha alimentar que inclui carne”.

Afirmativa Resultado do teste Interpretação do resultado Nunca compro ou consumo

carne* X

2

= 222,605; gl 2; p = 0,001 Menos onívoros assinalaram este item Sabor da carne* X2 =112,762; gl 2; p = 0,001 Mais onívoros escolhem este item Hábito* X2 = 112, 611; gl 2; p = 0,001 Mais onívoros escolhem este item Foi assim que fui educado/a* X2 = 63,515; gl 2; p = 0,001 Mais onívoros escolhem este item É mais saudável* X2 = 14,437; gl 2; p < 0,001 Somente onívoros escolhem este item Restrições da saúde obrigam a

comer carne X

2

= 2,119; gl 2; p > 0,347 Não houve diferença entre os grupos Não é prejudicial ao meio

ambiente** - Nenhum participante assinalou essa preocupação

Devemos comer carne para ter uma alimentação equilibrada* X

2

= 35,592; gl 2; p = 0,001 Mais onívoros escolhem este item Enquadra-se com a minha

imagem pessoal* X

2

= 8,694; gl 2; p < 0,013 Somente onívoros marcaram este item

Crenças espirituais/religiosas - Nenhum participante assinalou essa preocupação

É mais barato que outro tipo de

refeição* X

2

= 18,004; gl 2; p = 0,001 Somente onívoros marcaram este item Pressão social X2 = 0,943; gl 2; p > 0,624 Não houve diferença entre os grupos Onde faço minhas refeições

habitualmente, não há alternativas*

X2 = 26,144; gl 2; p = 0,001 Mais onívoros marcaram este item

*resultado significativo. O detalhamento das análises pode ser verificado no Apêndice 1; **Nenhuma estatística foi calculada porque a afirmação é uma constante.

Preocupação ambiental e as dietas vegetarianas e veganas

A preocupação ambiental com relação às dietas foi investigada a partir de duas questões: a primeira (questão 1) “Como você classifica a sua preocupação em relação aos seguintes problemas ambientais?” (Tabela 4) e a segunda (questão 2), “Por favor, leia atentamente as seguintes afirmações e assinale o seu grau de concordância.” (Tabela 5).

Em relação à preocupação ambiental e a dieta alimentar (Tabela 4), os vegetarianos e veganos apresentaram preocupação significativamente maior para os itens, “Alterações climáticas” (H = 15,797; gl 2; p < 0,001) “Extinção de espécies animais” (H = 12,031; gl 2; p = 0,002), “Impacto ambiental da pecuária” (H = 81,394; gl 2; p = 0,001), “Regimes alimentares não sustentáveis, por

consumo excessivo de carne” (H = 6,711; gl 2; p < 0,035), e “Escassez de água” (H = 6,711; gl 2; p < 0,035). Quanto ao item “Introdução de organismos geneticamente modificados na cadeia alimentar” (H = 12,072; gl 2; p < 0,002) os veganos apresentaram significativamente mais preocupação do que os onívoros e vegetarianos. Para as demais comparações não houve diferença significativa.

Quanto ao grau de concordância sobre os problemas ambientais (Tabela 5), os veganos concordaram com os seguintes itens “Considero-me uma pessoa preocupada e consciente com o estado da minha saúde” (H = 12,141; gl 2; p = 0,002), “É importante que cada indivíduo tenha acesso à

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informação sobre alimentação saudável” (H = 11,688; gl 2; p = 0,003), “É importante comer de forma

saudável” (H = 9,092; gl 2; p = 0,011), “Estou disposto a pagar mais por alimentos saudáveis” (H = 14,151; gl 2; p = 0,001), “Considero-me atento/a aos rótulos e aos ingredientes” (H = 62,214; gl 2; p = 0,001), “Tento reduzir o consumo de alimentos processados” (H = 18,579; gl 2; p = 0,001), “Procuro

alimentar-me com produtos cultivados pela minha família ou produzidos localmente” (H = 12,461; gl 2; p = 0,002), “Um regime alimentar vegetariano/vegano tem menor impacto que um não

vegetariano/vegano” (H = 70,767; gl 2; p = 0,001), “Na pecuária, os animais nunca são tratados de forma digna” (H = 42,815; gl 2; p = 0,001), “Todos os animais deviam ter direito a uma morte natural” (H = 97,394; gl 2; p = 0,001), “Nas escolhas diárias que um indivíduo faz a opção de regime alimentar

pode ser maior impacto negativo no ambiente do que a escolha de um meio de transporte não sustentável” (H = 25,802; gl 2; p = 0,001), “No futuro a maioria das pessoas adotarão dietas

vegetarianas/veganas” (H = 58,358; gl 2; p = 0,001). Por outro lado, os onívoros concordaram significativamente mais com as afirmações: “A manutenção dos atuais padrões de consumo alimentar são sustentáveis a longo prazo” (H = 6,383; gl 2; p = 0,041), “As pessoas apenas deviam

poder consumir produtos de origem animal” (H = 22,321; gl 2; p = 0,001), “Os produtores pecuários

tratariam melhor os seus animais se recebessem preços altos para produtos de origem animal” (H = 13,004; gl 2; p = 0,002), “Eu compraria/consumiria produtos de providência animal se estivesse

absolutamente certo/a de que os animais são bem tratados” (H = 127,623; gl 2; p = 0,001).

Tabela 4 - Resultado dos testes estatísticos referentes à questão 1 do questionário, “Como você

classifica a sua preocupação em relação aos seguintes problemas ambientais?”.

Afirmativa Resultado do teste Interpretação do resultado

Alterações climáticas* H = 15,797; gl 2; p < 0,001 Os vegetarianos e veganos tiveram maior preocupação do que onívoros

Poluição associada aos

combustíveis fósseis. H = 4,463; gl 2; p = 0,107 Não houve diferença entre os grupos Escassez dos recursos naturais H = 4,675; gl 2; p = 0,097 Não houve diferença entre os grupos

Extinção de espécies animais* H = 12,031; gl 2; p = 0,002 Os vegetarianos e veganos tiveram maior preocupação do que onívoros

Extinção de espécies vegetais H = 5,765; gl 2; p = 0,056 Não houve diferença entre os grupos

Impacto ambiental da pecuária* H = 46,497; gl 2; p = 0,001 Os vegetarianos e veganos tiveram maior

preocupação do que onívoros Regimes alimentares não

sustentáveis, por consumo excessivo de carne*

H = 81,394; gl 2; p = 0,001 Os vegetarianos e veganos tiveram maior

preocupação do que onívoros

Escassez de água* H = 6,711; gl 2; p < 0,035 Os vegetarianos e veganos tiveram maior preocupação do que onívoros

Introdução de organismos geneticamente modificados na cadeia alimentar*

H = 10,996; gl 2; p < 0,004 Os veganos tiveram maior preocupação do que

vegetarianos e onívoros *resultado significativo. O detalhamento das análises pode ser verificado no Apêndice 1.

(25)

Tabela 5 - Resultado dos testes estatísticos referentes à questão 2 do questionário, na qual foi

solicitado ao participante que assinalasse o seu grau de concordância em relação às afirmativas sobre problemas ambientais.

Afirmativa Resultado do teste Interpretação do resultado Considero-me uma pessoa preocupada e

consciente com o estado da minha saúde* H = 12,141; gl 2; p = 0,002

Os veganos concordaram mais com este item

É importante que cada indivíduo tenha acesso a informação sobre alimentação saudável*

H = 11,688; gl 2; p = 0,003 Os veganos concordaram mais com

este item

É importante comer de forma saudável* H = 9,092; gl 2; p = 0,011 Os veganos concordaram mais com

este item Estou disposto a pagar mais por alimentos

saudáveis* H = 14,151; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

Considero-me atento/a aos rótulos e aos

ingredientes* H = 62,214; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

Tento reduzir o consumo de alimentos

processados* H = 18,579; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

Procuro alimentar-me com produtos cultivados pela minha família ou produzidos localmente*

H = 12,461; gl 2; p = 0,002 Os veganos concordaram mais com

este item Um regime alimentar vegetariano/vegano

tem menor impacto que um não vegetariano/vegano*

H = 70,767; gl 2; p = 0,001 Os veganos concordaram mais com

este item A manutenção dos atuais padrões de

consumo alimentar são sustentáveis a longo prazo*

H = 6,383; gl 2; p = 0,041 Os onívoros concordaram mais com

este item Na pecuária, os animais nunca são tratados

de forma digna* H = 42,815; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

As pessoas apenas deviam poder consumir

produtos de origem animal* H = 22,321; gl 2; p = 0,001

Os onívoros concordaram mais este item

Todos os animais deviam ter direito a uma

morte natural* H = 97,394; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

Os produtores pecuários tratariam melhor os seus animais se recebessem preços altos para produtos de origem animal*

H = 13,004; gl 2; p = 0,002 Os onívoros concordaram mais com

este item Eu compraria/consumiria produtos de

providência animal se estivesse absolutamente certo/a de que os animais são bem tratados*

H = 127,623; gl 2; p = 0,001 Os onívoros concordaram mais com

este item Nas escolhas diárias que um indivíduo faz

a opção de regime alimentar pode ser maior impacto negativo no ambiente do que a escolha de um meio de transporte não sustentável*

H = 25,802; gl 2; p = 0,001 Os veganos concordaram mais com

este item

No futuro a maioria das pessoas adotarão

dietas vegetarianas/veganas* H = 58,358; gl 2; p = 0,001

Os veganos concordaram mais com este item

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Personalidade e a dieta alimentar

No que se refere aos traços de personalidade de acordo com as dietas, percebeu-se diferenças nos traços Extroversão (F(2, 272) = 338,793; p = 0,02) e Abertura (F(2, 272) = 344,282; p = 0,015). Ainda, foi encontrada uma diferença marginalmente significativa para o traço Agradabilidade (F(2, 272) = 128,647; p = 0,057).

Comparando os grupos através do teste de Bonferroni, constatou-se que para o traço Extroversão, os Veganos apresentaram média significativamente superior aos Onívoros (p = 0,017), do mesmo modo que em relação ao traço Abertura, cuja média dos Veganos também foi superior à dos onívoros (p = 0,040) (Figura 1; Apêndice 2).

Figura 1 - Médias dos traços de personalidade para cada tipo de dieta alimentar. *Média

significativamente superior quando comparada à média do grupo onívoro para o traço (p < 0,05). *

(27)

Discussão

No contexto de diferentes culturas e acontecimentos históricos, as pessoas indicam várias motivações para uma dieta vegetariana e vegana, dentre elas as principais são preocupação com a saúde, preocupação com os impactos ambientais e preocupação com o bem-estar animal (Fontes, 2018). Conforme os resultados obtidos no nosso estudo, essas motivações corroboraram a nossa hipótese 1. Primeiro, a saúde é um importante motivador, tanto em termos de redução dos sintomas de doença ou desconforto e como medida preventiva para evitar uma variedade de doenças (Fox & Ward, 2008). Em um estudo mostraram que as pessoas com um padrão alimentar vegetariano apresentaram menor níveis plasmáticos de leptina (tecido adiposo) quando comparados aos consumidores de carne (Gogga et al., 2019). De acordo com Satija e Hu (2018) numerosos estudos descobriram que dietas à base de plantas, especialmente quando ricas em alimentos vegetais de alta qualidade, como grãos integrais, frutas, vegetais e nozes, estão associadas a menor risco cardiovasculares e fatores de risco intermediário. Além disso, em segundo lugar, as razões éticas no que diz respeito ao bem-estar animal, motivam uma proporção adicional vegetarianos a adotarem este tipo de dieta, baseados tanto em afetos quanto razões filosóficas. Mesmo para algumas pessoas o ambientalismo se apresenta como motivação primária, uma consequência de uma decisão de evitar carne, em vez de causa dessa escolha alimentar (Fox & Ward, 2008). De acordo com Pfeiler e Egloff (2018) poderia argumentar que os vegetarianos apresentam ter mais interesses políticos, pois estão mais interessados em questões politicamente relevantes como proteção ambiental, ética animal ou sustentabilidade.

Em relação aos onívoros e semi-vegetarianos (encontra-se dentro da dieta vegetariana no nosso estudo), segundo Mullee et al. (2017) a razão mais comum para terem uma dieta mais vegetariana no futuro é “minha saúde”, em seguida por o “o gosto é bom” e questões ligada ao meio ambiente/clima; ainda para os onívoros a “descoberta de novos sabores” e “redução de peso”, podem ser apontadas como motivações na direção de uma dieta com redução ou extinção do consumo de carne. Em nosso estudo, os onívoros apontam para as seguintes motivações: “descobrir novos gostos” e “curiosidade”. Por outro lado, a partir do estudo de Mullee et al. (2017), foi observado que os onívoros relatam que o gosto pessoal, as habilidades insuficientes de culinárias e nunca pensar nisso estão entre as cinco razões mais comuns para não comer uma dieta vegetariana, em contrapartida, o gosto bom e a descoberta de novos sabores foram relatados como os motivos mais comuns para considerar comer vegetariano.

Considerando a manutenção da carne na dieta, segundo Mullee et al. (2017) os motivos mais comuns apontados foram “gosto bom”, seguido de “hábito” e “foi assim que fui educado”. Em nosso estudo as principais razões para os onívoros foram “sabor da carne”, “hábito”, “foi assim que

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fui educado”, “é mais saudável”, “devemos comer carne para ter uma alimentação equilibrada”, “enquadra-se com a minha imagem pessoal”, “é mais barato que outro tipo de refeição” e “onde faço minhas refeições habitualmente, não há alternativas”, mostrando que os resultados obtidos em nosso trabalho refletem registros obtidos anteriormente.

As diferenças entre os indivíduos emergem, como discutido por Mullee et al. (2017) quando comparamos preocupações tais como “o consumo de carne não é saudável”, para a qual os vegetarianos preocupam-se com essa afirmação, enquanto a maioria dos onívoros discorda (Mullee et al., 2017). De acordo com o estudo de Ruby (2012 citado por Mullee et al., 2017), os onívoros associam a carne a boa saúde, enquanto para os vegetarianos o consumo de carne traz problemas de saúde.

Em referência à preocupação ambiental e a dieta alimentar confirma-se uma relação positiva dos vegetarianos e veganos com as preocupações ambientais, corroborando com a hipótese 2. As preocupações voltadas para questões ambientais e impactos da pecuária sobre o ambiente, por exemplo, foram itens de preocupação mais presentes para os vegetarianos e veganos do que para os onívoros. Além do mais, verificou-se a sensibilização ambiental por parte dos veganos com hábitos de consumo, alimentares e as preocupações com os problemas do meio ambiente. Já os onívoros, por outro lado, relacionaram seu estilo de dieta como sustentáveis e menor impacto ambiental. De acordo com Mullee et al. (2017), mais de 50% dos onívoros discordaram que a produção de carne é ruim para o meio ambiente e a maioria dos vegetarianos acreditava que a produção de carne é ruim para o meio ambiente, sendo mais preocupados com as conseqüências ecológicas e de saúde.

Sendo assim, segundo Rothgerber (2013), conforme citado por Neves (2018), “a preocupação ambiental é um motivo importante para os consumidores adotarem uma dieta baseada em produtos veganos”. Além disso, uma dieta vegana traz um impacto positivo graças à preocupação ambiental na atitude e intenção de compra de produtos ecológicos/verdes (Neves, 2018). Desse modo, os consumidores de produtos veganos, possuem uma forte preocupação ambiental, aumentando a sua atitude para o consumo de forma consciente.

No que se refere aos traços de personalidade, diferente do que era esperado, de que as pessoas veganas apresentariam maior pontuação no traço conscienciosidade, foi encontrado em nossa pesquisa que a abertura e extroversão são os traços significativamente mais elevados para os veganos. Assim, pode ser dito que os veganos apresentam uma abertura à experiência caracterizada pela inteligência, imaginação e engajamento em empreendimentos relacionados a ideias (Milfont & Sibley, 2012). As pessoas que pontuam alto nessa dimensão tendem a abraçar atitudes universalistas com tolerância para todas as pessoas e possui três itens relacionados a questões ambientais (proteger o ambiente, unidade com a natureza e um mundo de beleza) (Milfont & Sibley, 2012). Sendo assim, o vínculo entre abertura e engajamento ambiental sugere indivíduos curiosos, apreciadores de arte e

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sensíveis a beleza, com crenças não convencionais como o movimento ambiental e proteção ambiental. Em um estudo de Pfeiler e Egloff (2018), os vegetarianos eram mais abertos, mais confiantes, menos conscienciosos, menos conservadores e mais interessados em política; eles também relataram melhor saúde autorreferida em comparação indivíduos que consomem carne. Uma explicação, no estudo de Steptoe et al. (1995, citado por Pfeiler e Egloff, 2018), é que a maioria das pessoas nas sociedades ocidentais são criadas como consumidores de carne, apenas experimentando alimentos vegetarianos ou veganos. A mudança para uma dieta vegetariana deve, portanto, está relacionada à abertura a novas experiências e a novos alimentos.

Por sua vez, os indivíduos com alta pontuação a extroversão tendem a ser mais extrovertidos, enérgicos e assertivos. Esses indivíduos também tendem a maximizar os ganhos das relações sociais, mas isso pode vir com o custo de maior tempo e energia resultante do aumento do envolvimento com outras pessoas. Também, estão ligados à sustentabilidade ambiental e proteção ambiental, indicando uma relação entre extroversão e engajamento ambiental (Milfont & Sibley, 2012). Essa associação pode estar ligada ao fato de que o mundo está se tornando pós-industrial e pós-materialista, consequentemente com o aumento da preocupação e a proteção ambiental. (Milfont & Sibley, 2012). Outro ponto, é a relação da extroversão com o engajamento ambiental em nível nacional, com a ênfase em valores de autoexpressão, elevado bem-estar subjetivo e descrença em o papel do destino (Milfont & Sibley, 2012). No trabalho de Milfont e Sibley (2012), a nível nacional, obteve-se uma relação da extroversão e dieta vegana, que está relacionada com valores de autoexpressão, alto bem-estar subjetivo e proteção ambiental.

Os resultados obtidos apresentam uma importância para a pratica do profissional nutricionista que elabora planos alimentares para os indivíduos veganos e vegetarianos. Também, para os gastrólogos que elaboram cardápios com a temática em vegetais. Uma vez que, foram elencadas várias motivações dos vegetarianos e veganos para uma dieta vegetariana e vegana, além de mostrar as razões pela qual os onívoros incluem a carne e suas possíveis motivações para uma dieta de origem vegetal. Dessa forma, os profissionais da nutrição e culinária podem utilizar a pesquisa para incluir mais pratos vegetarianos/veganos na rotina de um onívoro e melhorar a alimentação as pessoas vegetarianas e veganas.

Limitações

Apesar de nossa pesquisa ter trazido resultados interessantes e ampliado alguns achados da literatura relacionados às nossas decisões alimentares, o alcance da pesquisa foi relativamente limitado, uma vez que houve uma predominância de participantes do Nordeste brasileiro. Nesse sentido, ampliar a coleta de informações para outras regiões de nosso país poderia fornecer um panorama bastante rico dos tipos de dietas utilizadas pelos brasileiros e a sua relação com as motivações e preocupação ambiental de acordo com os traços de personalidade.

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Outro ponto é com relação a influência externa que pode ocorrer quando os participantes respondem ao questionário online. Nesse sentido, não temos a exatidão de que o participante respondeu sem utilizar nenhuma ferramenta online ou outra pessoa para procurar possíveis dúvidas encontradas no decorrer do questionário.

Além disso, ainda há poucos estudos para discussão das motivações e as diferenças individuais para cada tipo de dieta. Dessa forma, houve dificuldade em discutir alguns pontos da nossa pesquisa.

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Considerações finais

Os resultados mostraram que as motivações podem ser associadas a cada tipo de dieta, sendo relacionadas com o nível da preocupação ambiental. Ainda, vimos que as diferenças individuais são um componente importante para a compreensão das decisões das escolhas alimentares na atualidade. Portanto, os veganos e vegetarianos apresentam como princípios para suas escolhas alimentares a preocupação na saúde, preocupação com o bem-estar animal e a preocupação com o impacto ambiental. Além disso, os veganos são mais sensíveis as qustões envolvendo o impacto no meio ambiente. Por fim, os traços de personalidade de abertura e extroversão são os que mais estão relacionados com uma dieta vegana, sendo correlacionados com o engajamento ambiental e proteção ambiental.

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