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Experiências diferenciadas em irmãos e violência entre irmãos: que relação?

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia

Experiências diferenciadas em irmãos e violência entre irmãos: Que

relação?

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Óscar Teixeira Vaz

Orientadora: Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes

Coorientadora: Professora Doutora Inês Carvalho Relva

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia

Experiências diferenciadas em irmãos e violência entre irmãos: Que

relação?

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Óscar Teixeira Vaz

Orientadora: Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes

Coorientadora: Professora Doutora Inês Carvalho Relva

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Departamento de Educação e Psicologia

Experiências diferenciadas em irmãos e violência entre irmãos: Que

relação?

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Óscar Teixeira Vaz

Orientadora: Profª. Doutora Otília Monteiro Fernandes Coorientadora: Profª. Doutora Inês Carvalho Relva

Composição do Júri:

Professor Doutor Francisco Costa Barros Professora Doutora Sónia Remondes Costa Professora Doutora Otília Monteiro Fernandes

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I

AGRADECIMENTOS

Começo por deixar um especial agradecimento à minha Mãe, um dos pilares da minha vida que por ter transmitido valores e conceitos de vida que me tornaram uma pessoa com força para lutar pelos meus objetivos. A ti o meu mais profundo OBRIGADO!

A concretização desta dissertação, surge também como uma nova etapa de vida, novas oportunidades, mas não consigo descurar que esta jornada não foi alcançada sozinho, as minhas etapas ao longo deste mestrado foram ultrapassadas e enriquecidas sempre na companhia de grandes pessoas e grandes amizades, os meus objetivos de vida não fariam tanto sentido nem teriam tanto sabor se não fossem estas pessoas amigas e pacientes que contribuíram, e ajudaram ao longo desta época para que o resultado final seja o melhor possível.

Agradeço à minha companheira e musa inspiradora, por toda a compreensão e ajuda que me proporcionou.

Quero fazer um mais profundo agradecimento à Professora Doutora Otília Fernandes e a Professora Doutora Inês Relva, por quem tenho o maior respeito e admiração, por todo o conhecimento que partilharam comigo como minhas orientadoras. Saliento o seu empenho, entrega, tolerância a erros ou falhas indesejadas persistência e recetividade para compartilhar e apoiar opiniões com o intuito de me ajudar a desempenhar um bom trabalho.

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II ÍNDICE

AGRADECIMENTOS ... I

ARTIGO 1: Experiências diferenciadas entre irmãos ... 1

Resumo ... 2

Abstract ... 3

Introdução ... 4

Relação entre irmãos ... 5

Experiências diferenciadas dos irmãos ... 7

Diferenças percebidas na relação entre irmãos ... 8

Metodologia ... 10

Amostra ... 10

Instrumentos ... 12

Procedimentos ... 14

Apresentação dos resultados ... 15

Análises descritivas ... 15

Análises inferenciais ... 18

Discussão ... 23

Conclusões ... 25

Implicações práticas do estudo ... 26

Referências bibliográficas... 27

ARTIGO 2: Violência e experiências diferenciadas entre irmãos ... 31

Resumo ... 32

Abstract ... 33

Introdução ... 34

Violência entre irmãos ... 35

Tipos de violência entre irmãos ... 36

Prevalência da violência entre irmãos ... 39

Tratamento Diferencial entre Irmãos ... 41

Objetivos da investigação ... 41

Metodologia ... 43

Participantes ... 43

Instrumentos ... 45

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III

Apresentação dos Resultados ... 51 Conclusões ... 62 Referências bibliográficas... 64

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2 Resumo

Os fatores ambientais, sobretudo os familiares, concorrem para aumentar as diferenças entre irmãos, no pressuposto que os traços genéticos os aproximem. O Inventário das Experiências Diferenciadas dos Irmãos (SIDE; Daniels & Plomin, 1985) foi construído para avaliar o quão diferente os irmãos percebem as suas experiências em três domínios: relações entre ambos, tratamento dos pais e relação com os pares. Atendendo apenas aos dois primeiros domínios, o presente estudo teve como objetivo principal verificar em que medida as variáveis ambientais e familiares determinam a existência de experiências diferenciadas entre irmãos. Foi estudada uma amostra de 221 jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 18 anos de idade; 62% dos participantes eram do sexo feminino e aproximadamente 88% referiu-se a um irmão de sangue. Os resultados indicam diferenças de género no comportamento entre irmãos e na ligação afetiva para com o pai. O SIDE revelou-se um instrumento útil para o estudo dos comportamentos diferenciados dos irmãos, no ambiente familiar.

Palavras-Chave: adolescentes, comportamentos diferenciados entre irmãos, tratamento diferenciado dos pais, relação entre irmãos

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3 Abstract

Environmental factors, especially the family, contribute to increase the differences between siblings, on the assumption that the closer the genetic traits. The Inventory of Differentiated Experiences of Brothers (SIDE; Daniels & Plomin, 1985) was designed to evaluate how different the brothers realize their experiences in three areas: relations between both treatment of parents and peer relations. Since only the first two areas, this study aimed to verify the extent to which environmental variables and family determine the existence of different experiences between brothers. A sample of 221 young people aged between 11 and 18 years of age was studied; 62% of participants were female and approximately 88% referred to a blood brother. The results indicate gender differences in behavior between brothers and emotional connection to his father. The SIDE proved to be a useful tool for the study of different behaviors of the brothers, the family environment.

Keywords: adolescents, different behavior between siblings, different treatment of parents, siblings relationship

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4 Introdução

As relações fraternas foram já descritas em tempos remotos, e de forma sucinta por alguns dos primeiros psicanalistas, como Adler (1984) e Freud (1913). Nessas primeiras descrições, os autores supracitados salientaram a importância que a família exercia sobre o desenvolvimento do ser humano, onde incluíam a influência dos irmãos no desenvolvimento do caráter individual.

Relvas (1996) considera que o subsistema fraternal tem início com a chegada do segundo filho numa família que até então era composta, de forma tradicional, pai, mãe e um filho. Segundo a mesma autora a família passa então a ser composta pelos subsistemas individual, parental, conjugal e fraternal sendo que a mesma se diferencia pelo estabelecimento de regras e fronteiras. Neste seguimento, segundo Pulakos (2001) assistimos a um sistema familiar mais complexo, não só pela necessidade iminente de se reajustar ao novo elemento recém-chegado, mas também porque esta nova chegada implica a redefinição dos papéis das funções que existiam certamente desde a chegada do primeiro filho. Para Fernandes, Alarcão e Raposo (2007), por norma, o segundo filho nasce poucos anos depois do primeiro e, por isso, a fratria torna-se um contexto precoce na vida, para a maioria dos indivíduos. É importante referir, que o subsistema fraternal é composto por pessoas que não possuíram a liberdade de escolher uma vida em comum, sendo a relação imposta (Pulakos, 2001).

Nesta linha de pensamento, Relvas (1996) considera que com o nascimento do segundo filho, dá-se início as partilhas, negociações e julgamentos, e desta forma o primeiro filho tende a reorganizar o seu espaço, a sua maneira de ser, estar e de pensar, tendo em consideração a chegada do novo irmão. Deste modo, a relação fraterna acaba por funcionar como um laboratório para a vida social (Minuchin, 1982), porque permite

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que as crianças aprendam novas competências, entre as quais podemos destacar: a cooperação, a liderança e a negociação.

A fratria constitui assim um contexto privilegiado para a aprendizagem, na medida em que permite que as crianças contatem com novas formas de ser e estar e, mais tarde, no contexto extra-familiar, as crianças podem sempre recorrer a essas aprendizagens adquiridas para se orientarem no estabelecimento de novas relações. Isto é, essas aprendizagens podem ser utilizadas não só no grupo de amigos, na escola, ou mais tarde na vida profissional de cada um, bem como nas futuras relações amorosas.

Neste sentido, para que possamos compreender a dinâmica existente no subsistema fraternal é necessário termos em consideração diversas variáveis relativas à estrutura familiar, tais como o género, a ordem de nascimento e as diferenças de idade entre os irmãos, bem como o tratamento diferenciado por parte dos progenitores. Estes fatores podem ser tidos como facilitadores ou como barreiras no relacionamento entre irmãos. Brito (2002), por exemplo, considera que os conflitos que se geram entre irmãos são caraterísticas do grupo fraternal e podem ter um caráter mais lúdico do que agressivo. Deste modo, a relação que se gera entre os irmãos tem importantes benefícios, ainda que durante algum período da vida possa não ser fulcral para o indivíduo (Gottman, 1997).

Relação entre irmãos

Na literatura científica, o relacionamento entre irmãos tem sido descrito como algo de positivo, no que concerne à vinculação e ao desenvolvimento do ser humano, com especial destaque para a fase da adolescência. Contudo, o papel dos irmãos do período da latência e da adolescência tem sido pouco estudado (Fernandes, 2002). O primeiro autor a dedicar-se a esta temática foi Adler (1984) que, embora não tenha produzido um estudo empírico neste âmbito, foi o primeiro a debruçar-se sobre os comportamentos que

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derivavam da relação entre irmãos e a abrir caminho sobre a importância dos irmãos. Adler (1984) descreveu o relacionamento entre irmãos como um microcosmo social, ou seja, é através deste relacionamento que as crianças conseguem estabelecer relações horizontais com os outros. Nesta perspetiva, o relacionamento entre irmãos promove o desenvolvimento de um comportamento mais cooperativo, no contexto social, sendo de extrema importância para a construção da personalidade. O mesmo autor enfatiza ainda a posição de cada irmão, o género e o número de irmãos, como sendo elementos cruciais, no que concerne à formação da personalidade.

Fernandes (2002) menciona que o relacionamento entre irmãos pode promover na criança competências a vários níveis, pois através da ligação afetiva estabelecida entre ambos vão aprendendo de forma gradual a negociar, manipular, a comprometer-se e a reconciliar-se com o outro.

Para Noller (2005) a relação que se estabelece entre irmãos é uma relação de maior durabilidade, podendo assim assumir um papel mais importante do que o relacionamento que se estabelece com os progenitores, visto que o tempo que os irmãos passam juntos, por norma, excede o tempo que passam com os seus progenitores.

Goldsmid e Carneiro (2007) consideram que os irmãos podem constituir uma fonte de prazer, visto que oferecem oportunidades para a criação de fantasias, promovendo a estimulação mútua. Assim, quando nos debruçamos sobre a importância do relacionamento entre irmãos compreendemos que os irmãos têm um conhecimento recíproco sobre o funcionamento um do outro, visto que juntos vivenciam as dinâmicas familiares. A relação entre irmãos oferece às crianças a oportunidade para aprender a interagir e a lidar com os outros. Deste modo, por desde muito cedo serem “parceiros” vão aprender a estabelecer relações distintas com os outros e assim desenvolver o sentimento de pertença a uma comunidade ou grupo (Sinclair, 2010).

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Como todas as relações, as relações entre irmãos também vão sofrendo alterações ao longo do ciclo vital. Fernandes (2002) considera que mesmo em adultos e depois de ambos terem saído da casa de onde viviam e terem percursos distintos, as memórias de infância permaneceram de forma inconsciente e acabam por funcionar como uma ponte de referência da sua identidade. Assim, o papel que a família exerce na construção da identidade de cada um pode ser um fator que nos permite compreender que a rivalidade entre irmãos não se deve somente ao desejo de atrair a atenção e o amor dos progenitores, mas pode ser vista como uma forma de diferenciação.

Para Goldsmid e Carneiro (2007) o vínculo que se estabelece entre irmãos tem caraterísticas próprias. Ainswoorth (1989) já havia mencionado os laços afetivos que se criam entre irmãos, enfatizado que muitas das vezes estes são de extrema importância e significativos, pois funcionam com base segura. Para Bowlby (1998) a vinculação segura nos irmãos promove um desenvolvimento social mais positivo, bem como uma adaptação mais saudável ao ambiente que os rodeia.

As relações entre os irmãos, caraterizadas por uma influência mútua na infância, tendem a prolongar-se na da adolescência, atuando como uma importante referência e, particularmente, como suporte afetivo (Fernandes, 2005).

Experiências diferenciadas dos irmãos

Daniels (1986) demonstrou que as diferenças de comportamento e de personalidade dos jovens estavam sobretudo relacionadas com fatores ambientais (e não genéticos). Pike, Manke, Reiss e Plomin (2000) observaram que os adolescentes tendem a percecionar menos diferenças na relação com os seus irmãos e na perceção do tratamento parental à medida que se tornam mais velhos.

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Apesar dos filhos tenderem a manter relações de vinculação (já anteriormente referido) concordantes com ambos os pais (Sullivan et al., 2006), há dados que apontam para o facto de o género poder influenciar a qualidade de vinculação dos filhos em relação aos pais (Van Ijzendoorn & Juffer, 2006). No estudo de Sullivan et al. (2006), o género dos filhos surgiu como significativamente associado à qualidade da vinculação aos pais, tendo sido observada concordância na qualidade de vinculação das raparigas a ambos os pais mas não dos rapazes – estes encontram-se mais vinculados aos pais do que as raparigas. Outros estudos já haviam apontado no mesmo sentido, indicando que as relações entre pais e filhos são únicas, quando comparadas com as relações entre os pais e as filhas, assim como entre as mães e as filhas, ou entre as mães e os filhos (e.g., Kiang & Furman, 2007). No entanto, o facto de outras investigações apontarem para “as relações de vinculação entre filhos e pais parecem ser de alguma forma congruentes” (Sullivan et al., 2006; Stocker & Youngblade, 1999) vem reforçar a necessidade de se conduzirem mais estudos que possam esclarecer o modo como as relações de vinculação se organizam no contexto da família.

Diferenças percebidas na relação entre irmãos

No que concerne à diferença entre irmãos, as atitudes que os pais tomam em relação aos filhos podem efetivamente contribuir para que estes ao longo do seu desenvolvimento percecionem diferenças entre si, acabando por este ser um fator que permite explicar os efeitos não compartilhados do desenvolvimento. Embora a posição que os elementos ocupam na família seja um elemento determinante para a perceção da diferença, podemos mencionar que para além desta variável é importante considerar a ordem de nascimento, o sexo, a idade e perdas significativas, que provocam não só

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perceção de diferenças como também influenciam a personalidade de cada um (Fernandes et al., 2007).

Perceber como os irmãos agem e percebem as diferenças entre si na relação fraternal, é algo bastante complexo e também desafiante. Como constatamos, o tratamento distinto ao nível parental, a coesão familiar, e a harmonia, têm sido dos aspetos mais referenciados na literatura científica, como sendo dos fatores que têm grande influência no que concerne à qualidade da relação entre irmãos (Brody, Stoneman, Mccoy, & Forehand, 1992). Segundo Boll, Ferring e Sigrun-Heide (2005) o comportamento dos pais para com os filhos, pode efetivamente ter consequências ao nível simbólico e material, ou seja, os resultados inerentes ao comportamento podem ser avaliados de forma positiva ou negativa pelos filhos, tendo em consideração o critério de justiça social de cada um. O diferente tratamento parental tem sido alvo de inúmeros estudos na área da Psicologia. As investigações mais recentes neste domínio demonstram que, em especial nas crianças e adolescentes, aspetos como a afeição e controlo, na maioria das vezes, se associam com os conflitos entre irmãos (Boll et al., 2005).

Deste modo o presente estudo pretende explorar as diferenças da interação entre irmãos e as diferenças percebidas na interação entre estes e ambos os progenitores. O estudo das diferenças de comportamento entre irmãos poderá permitir, assim, conhecer microambientes familiares como o da relação entre irmãos, numa abordagem comportamental que vai para além das diferenças genéticas entre ambos (Daniels, 1986). A relevância deste estudo reside também, portanto, na aplicação do SIDE ao contexto português numa amostra de jovens adolescentes. Assim foram quatro os objetivos do estudo: (a) avaliar a percentagem de irmãos que apontam para a existência de experiências diferenciadas em relação ao irmão mais próximo em idade; (b) avaliar a influência do

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género e (c) avaliar a faixa etária do participante na perceção das relações fraternas e (d) avaliar o tratamento diferencial.

Metodologia Amostra

A amostra recolhida foi constituía por 221 jovens, entre os 11 e os 18 anos de idade, que reportaram a existência de irmão(s). A maioria dos participantes era do sexo feminino (62%). A idade média observada foi de 13.53 anos e um desvio padrão de 1.13 anos. A idade dos jovens participantes no estudo prevalece, sobretudo, entre os 12 e os 14 anos.

Observou-se que 92.8% dos participantes nasceu em Portugal e apenas 7.2% nasceu noutro país. Em termos de escolaridade, observou-se que 46.4% dos participantes frequentava o 7º ano 39.1% frequentava o 8º ano e 14.5% frequentava o 9º ano no momento da realização do estudo.

Em relação à tipologia de irmãos, prevalecem os irmãos de sangue (87.3%; n=193); os casos de meio-irmão correspondem a 11.3% (n=25) e apenas 1.4% (n=3) dos participantes tem irmãos de parentesco.

A maioria dos participantes referiu-se a um irmão do sexo feminino (52.9%; n=110) enquanto 47.1% (n=98) referiu-se a um irmão do sexo masculino. Atendendo à composição da díade, prevalece a díade feminino/ masculino (34%), seguindo-se a díade feminino/feminino (30%); a díade masculino/masculino foi representada por 23.2% dos casos e a díade masculino/feminino por 12.8% dos casos válidos estudados (n=203). A idade do irmão variou entre 1 (mínimo) e 34 anos (máximo), sendo a média de 14.09 anos (com um desvio padrão de 7.21 anos, o que representa uma considerável dispersão de dados nesta variável de 51.17%) num total de 208 respostas válidas.

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11 Tabela 1

Caraterização da amostra

*Outra (n=16): veio para Portugal com menos de 7 anos (n=9); veio para Portugal com 7 anos ou mais (n=3); missing=4.

Atendendo às variáveis da constelação familiar, pretendeu-se observar a idade, o estatuto socioeconómico e o estado civil dos pais dos adolescentes.

Os pais registaram uma média de idade (M=44.61; DP=5.83) ligeiramente superior às mães (M=44.34; DP=5.76), havendo também uma maior dispersão de dados relativamente ao progenitor paterno. Verificou-se ainda que 61.4% dos pais tem entre

40-n % Média DP Min - Max

Género Feminino Masculino 137 84 62.0 38.0 Idade [11-14] anos [15-18] anos 188 33 38.0 85.1 13.53 1.13 11 - 18 Nacionalidade Portuguesa Outra* 205 16 92.8 7.2 Ano de escolaridade 7º ano 8º ano 9º ano 103 86 32 46.4 39.1 14.5

Nº irmãos por tipologia

Irmão de sangue Meio irmão Irmão de parentesco 193 25 3 87.3 11.3 1.4 1.14 .20 .02 .66 .72 .21 Sexo do irmão Feminino Masculino 110 98 52.9 47.1 Composição da díade masculino/masculino masculino/feminino feminino/feminino feminino/masculino 47 26 61 69 23.2 12.8 30.0 34.0 Idade do pai [34-39] anos [40-49] anos [50-59] anos [60-66] anos 39 136 32 2 20.6 61.4 16.9 1.1 44.61 5.83 34 - 66 Idade da mãe [30-39] anos [40-49] anos [50-55] anos 73 88 26 39.0 47.1 13.9 44.34 5.76 30 - 55 Estatuto socioeconómico Médio Médio-alto 85 18 82.5 17.5

Estado civil dos pais

Casados/ juntos

Não casados/ não juntos/ divorciados 181

16

91.9 8.1

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49 anos de idade, enquanto as mães da mesma faixa etária representam 47.1% da amostra e as que têm entre 30 e 39 anos correspondem a 39% dos casos. Por fim, em 91.9% dos casos os pais estão juntos/ casados (tabela 1).

Instrumentos

Questionário sociodemográfico (QSB):

O QSB é um questionário baseado no Social Environment Questionnaire (SEQ), de Toman (1993), adaptado por Fernandes e Relva (2013). O questionário aborda questões relacionadas com a condição do sujeito (género, idade, naturalidade, ano de escolaridade), bem como sobre a sua fratria (número de irmãos, tipo, género, idade) e dos seus pais (idade, estatuto socioeconómico e estado civil).

O Sibling Inventory of Differential Experience (SIDE):

O SIDE de Daniels e Plomin (1985), traduzido e adaptado por Fernandes e Relva (2013), trata-se de um instrumento que pretende identificar a perceção do participante em relação ao relacionamento com o seu irmão, ao tratamento parental para com os dois, à interação com o grupo de pares e a acontecimentos específicos quer do participante quer do irmão. Neste estudo não foi analisado o diferencial das caraterísticas dos pares por pretendermos determo-nos sobre as relações fraternas entre irmãos e o impacto das variáveis familiares nesta problemática.

Assim, na categoria diferencial da interação social o SIDE contém 24 itens que avaliam a interação diferenciada entre os irmãos em quatro dimensões: antagonismo, o cuidado/proteção, o ciúme e a proximidade. Em relação ao tratamento diferenciado parental, constituído por 9 itens, para ambos os progenitores em separado, avaliando duas dimensões: o afeto (5 itens) e o controlo (4 itens). Para cada uma destas duas dimensões, o participante regista se considera que é tratado de forma igual ao seu irmão, de forma

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pouco diferente, ou de forma muito diferente; o participante indica ainda se considera que essa diferença beneficia o irmão ou o próprio.

A subescala de antagonismo foi criada, primeiro, pela de inversão dos itens 13, 15 e 20, posteriormente, pelo cálculo da média dos itens 1, 7, 9, 11, 13, 15, 16, 18 e 20. Igual procedimento foi necessário nas restantes subescalas, conforme os itens que as constituem (cf. Tabela 4), sendo que também os itens 3, 4, 6 e 12 (da subescala cuidado) e os itens 23 e 24 (do diferencial de ciúme) foram invertidos (Daniels & Plomin, 1985).

Para tal, foi utilizada uma escala de respostas tipo likert de 5 pontos que contabilizou a pontuação relativa das experiências diferenciadas dos irmãos. Por outras palavras, o processo de escalonamento fornece informações sobre o grau de diferença diferenciada, entre (1) “o meu irmão/irmã muitas mais vezes do que eu”; (2) “o meu irmão/irmã ligeiramente mais vezes do que eu”; (3) “ eu e o meu irmão/irmã igual número de vezes”; (4) “ligeiramente mais vezes eu do que o meu irmão/irmão”; e (5) “muitas mais vezes eu do que o meu irmão/irmã”. Através da soma dos valores observados em cada item obtém-se o valor total do relacionamento entre irmãos, nas respetivas escalas do instrumento (Daniels & Plomin, 1985).

Assim, para qualquer uma das dimensões do SIDE, as interações entre irmãos e a perceção do tratamento dos pais podem variar de mútuo para não mútuo. Por exemplo, ambos os irmãos podem interagir cooperativamente e de forma solidária, proporcionando ambientes semelhantes para o outro. Por outro lado, um irmão poderá agir de forma mais gentil e compreensiva para com o outro, enquanto o outro irmão pode retribuir com um comportamento agressivo e ciumento, criando assim ambientes diferentes entre os dois irmãos.

Simultaneamente, o instrumento permite a análise das respetivas dimensões através de uma escala absoluta, através da qual a orientação da experiência diferencial é

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ignorada, considerando-se apenas a quantidade absoluta de experiência diferencial de irmãos. Ou seja, cada resposta relativa pode ser recodificada numa escala absoluta (tipo

likert) de 3 pontos que varia de 0 (nada diferentes) a 2 (muito diferentes) as relações entre

os irmãos. Assim, a pontuação relativa de 3 está codificada como 0 (“nada” diferentes nas experiências de irmãos); as pontuações relativas de 2 e 4 são codificadas como 1 ("um pouco" diferentes as experiências de irmãos); as pontuações relativas de 1 e 5 são codificadas como 2 (“muito” diferentes as experiências de irmãos) (Daniels & Plomin, 1985).

Procedimentos

Para proceder à administração dos instrumentos foi solicitado, por escrito, um pedido de autorização às instituições que aceitaram integrar o estudo.

Selecionados os participantes da amostra em estudo, foi entregue a todos um consentimento informado que contemplava os objetivos do estudo e sua finalidade, referindo a participação voluntária e confidencial.

Na execução das análises foi utilizado o Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 21).

Depois da análise da estatística descritiva (valores mínimos, máximos, média e desvio padrão) das subescalas das experiências diferenciadoras dos irmãos foram estudadas: as origens da experiência diferencial comparando os dados dos irmãos adotivos com os valores registados pelos irmãos biológicos e examinando; a influência das variáveis relacionadas com a constelação familiar do jovem. Foi estudada a influência do género, do estado adotivo e da idade na relação entre os irmãos e no tratamento parental conforme relatado no SIDE.

O teste t foi aplicado para comparar as médias das subescalas em grupos diferentes de sujeitos, considerando um intervalo de confiança de 95%. Uma vez que os grupos em

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estudo têm dimensão superior a 30 o teste t pressupõe a normalidade da amostra (Pestana & Gageiro, 2008).

Apresentação dos resultados Análises descritivas

A média das classificações relativas a todas as subescalas de interação igual a 3 revelou a existência de uma mútua perceção das relações entre os irmãos. Em relação ao afeto maternal, os adolescentes manifestaram pequenas diferenças que beneficiam o irmão (M=2.94). Os desvios padrões entre de .3 a .6 significam que em muitas famílias os irmãos percecionam as suas experiências de uma forma ligeiramente diferente; por outro lado, os limites da distribuição dos itens entre 1 e 2 (mínimo) e 4 e 5 (máximo) revelaram a existência de diferenças na relação entre irmãos que ora considera o irmão beneficiado, ora considera-se a si próprio favorecido (Tabela 2).

A tabela 2 apresenta os valores da estatística descritiva (da escala de valores relativos) para cada item que compõe as subescalas SIDE, relativas à interação entre os irmãos – a subescala de antagonismo (9 itens), a subescala de cuidado (6 itens), a subescala de ciúme (6 itens) e subescala de proximidade (3 itens) – e relativas ao tratamento parental (da mãe e do pai) – a subescala de afeto (5 itens) e a subescala de controlo (4 itens).Na subescala de antagonismo destacam-se os itens 7 (teimoso) e 18 (enganar) como sendo comportamentos mútuos entre os irmãos. Os restantes aspetos são apontados pelos participantes como sendo mais frequentes no irmão que no próprio.

Na subescala de cuidado, “sentir-se superior”, “controlar o outro” e “prestar apoio” foram comportamentos mútuos observados entre os irmãos; ao contrário, a “preocupação”, o “ajudar o outro” e o “assumir responsabilidade” revelaram-se comportamentos “ligeiramente mais frequentes” num dos irmãos. Em relação à subescala de ciúme, a média dos itens “admirar” e “sentir-se inferior” próxima de 3 indicou um

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comportamento semelhante entre os irmãos (como acontece em todos os restantes itens desta subescala) mas também próximo de “ligeiramente mais o meu irmão que eu”. Na subescala de proximidade o “ser confidente” revelou-se o item com o valor médio mais baixo (M=2.95) traduzindo um tratamento que oscila entre o mútuo e “ligeiramente mais frequente” no irmão.

Em relação ao tratamento parental, as diferenças de afeto da mãe registaram valores médios muito próximos, entre 2.91 (favoritismo) e 2.96 (orgulho e sensível aos sentimentos) o que demonstra também neste domínio um tratamento que oscila entre a existência de “ligeiras diferenças” e a ausência de diferenças. Na subescala de controlo da mãe registou valores entre 3.05 (item 29) e 3.21 (disciplina) o que sugere que neste domínio as diferenças são mais expressivas. Na subescala de afeto do pai, o “orgulho”, o “gostar de estar com” e o “favoritismo” foram os itens que registaram pequenas diferenças entre os irmãos (embora também os valores próximos das 3 unidades nos faça apontar para uma tendência quase mútua). Em relação à subescala de controlo paterno, todos os itens registaram valores médios de 3 o que remete para uma igual perceção do tratamento paterno. As mães, no entanto, são as que surgem associadas a diferenças de comportamento mais notório, numa relação que beneficia “ligeiramente mais o irmão” que o próprio.

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17 Tabela 2.

Estatística descritiva (da escala de valores relativos) para cada item das subescalas SIDE

Itens SIDE M DP Min. Max.

Subescala de antagonismo 1. Provocar conflitos 2.78 .91 1.00 5.00 7. Teimoso 3.08 1.15 1.00 5.00 9. Rancoroso 2.92 .78 1.00 5.00 11. Raiva 2.97 .95 1.00 5.00 13. Compreensivo 2.83 .96 1.00 5.00 15. Gentil 2.86 .81 1.00 5.00 16. Humilhar 2.81 .68 1.00 5.00 18. Enganar 3.09 .98 1.00 5.00 20. Chegar a um entendimento 2.85 .87 1.00 5.00 Subescala de cuidado 3. Mostrar preocupação 2.78 .87 1.00 5.00 4. Ajudar o outro 2.87 .96 1.00 5.00

6. Assumir responsabilidade pelo outro 2.93 1.20 1.00 5.00

12. Sentir-se superior 3.06 .97 1.00 5.00

19. Controlar o outro 3.05 1.12 1.00 5.00

21. Prestar apoio 3.36 .80 1.00 5.00

Subescala de ciúme

5. Gostar de estar com 3.13 .83 1.00 5.00

10. Comparar-se com 3.05 .87 1.00 5.00

14. Ciumento 3.04 .99 1.00 5.00

22. Tentar supercar o outro 3.04 .87 1.00 5.00

23. Admirar 2.90 .81 1.00 5.00 24. Sentir-se inferior 2.93 .77 1.00 5.00 Subescala de proximidade 2. Confiar 3.16 .92 1.00 5.00 8. Ser confidente 2.95 .80 1.00 5.00 17. Mostrar afeto 3.12 .69 1.00 5.00

Subescala de Afeto – Mãe

26. Orgulho 2.96 .67 1.00 5.00

27. Gostar de estar com 2.92 .61 1.00 5.00

28. Sensível aos sentimentos 2.96 .55 1.00 5.00

30. Mostrar interesse em 2.94 .57 1.00 5.00

32. Favoritismo 2.91 .70 1.00 5.00

Subescala de Controlo – Mãe

25. Severidade 3.10 .94 1.00 5.00

29. Castigo 3.05 .81 1.00 5.00

31. Culpa 3.16 .65 1.00 5.00

33. Disciplina 3.21 .67 1.00 5.00

Subescala de Afeto – Pai

26. Orgulho 2.98 .72 1.00 5.00

27. Gostar de estar com 2.95 .68 1.00 5.00

28. Sensível aos sentimentos 3.03 .60 1.00 5.00

30. Mostrar interesse em 3.06 .60 1.00 5.00

32. Favoritismo 2.97 .71 1.00 5.00

Subescala de Controlo – Pai

25. Severidade 3.04 .78 1.00 5.00

29. Castigo 3.13 .77 1.00 5.00

31. Culpa 3.02 .69 1.00 5.00

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18

O teste t (Tabela 3) indicou a existência de diferenças significativas nas subescalas de antagonismo (t=2.40; p=.02), sendo que as raparigas apresentam resultados mais elevados (M=3.07; DP=.29) do que os rapazes (M=2.93; DP=.45), e na subescala cuidado (t=3.61; p=.00), também mais elevada nas raparigas (M=3.25; DP=.58) do que nos rapazes (M=2.95; DP=.59). Assim, as raparigas apontaram a existência de igual relação ao irmão, enquanto os rapazes reportaram “pequenas diferenças” que beneficiam o irmão. Nas restantes subescalas não foram observadas diferenças significativas entre rapazes e raparigas (p≥.05).

Tabela 3.

Diferenças entre as dimensões do SIDE em função do género

Género Feminino (n=137)

Género Masculino

(n=84) t P

M DP M DP

Interação entre irmãos

Subescala de antagonismo 3.07 .29 2.93 .45 2.40 .02

Subescala de cuidado 3.25 .58 2.95 .59 3.61 .00

Subescala de ciúme 3.12 .52 3.02 .50 1.38 .17

Subescala de proximidade 3.10 .52 3.05 .60 .67 .51

Tratamento dos pais

Diferenças de afeto da mãe 2.90 .41 2.99 .36 -1.65 .10 Diferenças de afeto do pai 2.95 .58 3.08 .42 -1.75 .08 Diferenças de controlo da mãe 3.10 .53 3.18 .50 -.99 .33 Diferenças de controlo do pai 3.06 .52 3.07 .46 -.08 .94

Análises inferenciais

Associações entre as diferentes dimensões do SIDE

Colocar a magnitude da associação entre as quatro subescalas da interação entre os irmãos foram observadas correlações positivas e significativas, sugerindo que a perceção por parte dos irmãos de uma das escalas condiciona em igual sentido os resultados das restantes. Assim sendo verificaram-se associações significativas positivas entre a subescala cuidado e a subescala de antagonismo (r=.141; p≤.01). Também as

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19

subescalas de tratamento parental demonstraram correlações positivas e significativas: as diferenças de afeto da mãe revelaram-se correlacionadas de forma positiva e significativa com as diferenças de controlo da mãe (r=.137; p≤.05), assim como as diferenças de controlo dos dois progenitores (r=.434; p≤.01).

Tabela 4.

Correlações entre as subescalas do SIDE

SA SCd SCm SP DAM DAP DCM DCP

Interação entre irmãos

Subescala de Antagonismo (SA) -

Subescala de Cuidado (SCd) .141* -

Subescala de Ciúme (SCm) .448** -.156* -

Subescala de Proximidade .195** .214** .222** - Tratamento parental

Diferenças Afeto Mãe (DAM) .049 -.129 -.001 -.117 -

Diferenças Afeto Pai (DAP) .120 -.125 .101 -.120 .241** -

Diferenças Controlo Mãe (DCM) .027 .025 .069 -.040 .137* .278** -

Diferenças Controlo Pai (DCP) -.071 .174* -.053 -.067 .145* .272** .434** -

**p≤0.1 *p≤0.5

Da análise da tabela 5 relativamente à comparação por grupos etários, verificamos que apenas existem diferenças estatisticamente significativas na subescala afeto do pai (F=3.16; p=.04), sendo os resultados mais elevados nas crianças dos 11 aos 12 anos (M=3.08; DP=.29), em comparação com os adolescentes dos 13 aos 14 (M=3.02; DP=.54) e dos 15 aos 18 (M=2.78; DP=.62). Assim, os mais novos, na sua maioria, indicam que os pais demonstram afeto praticamente de forma igual e os mais velhos percecionam que os pais demonstram mais afeto pelos irmãos.

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20 Tabela 5.

Anova de comparação por faixa etária das classificações totais

Idade por Categorias

F p 11-12 (n=36) 13-14 (n=152) 15-18 (n=33) M DP M DP M DP

Interação entre irmãos

Subescala de antagonismo 2.89 .32 3.03 .38 3.11 .24 3.03 .05 Subescala de cuidado 3.14 .55 3.14 .61 3.13 .61 .00 1.00 Subescala de ciúme 3.08 .54 3.06 .52 3.17 .43 .52 .60 Subescala de proximidade 3.10 .56 3.05 .52 3.19 .67 .78 .56

Tratamento dos pais

Diferenças de afeto da mãe 2.97 .28 2.95 .30 2.85 .73 .97 .38 Diferenças de afeto do pai 3.08 .29 3.02 .54 2.78 .62 3.16 .04 Diferenças de controlo da mãe 3.06 .49 3.14 .48 3.17 .72 .38 .69 Diferenças de controlo do pai 3.09 .35 3.10 .48 2.89 .67 2.20 .11

No sentido de melhor descrever as relações fraternas entre os irmãos que participaram no estudo, atendeu-se à estatística descritiva da escala de valores absolutos que varia entre 0 (nenhuma diferença) e 2 (muita diferença) na relação e no tratamento parental, entre irmãos (Tabela 6). De acordo com a escala de valores absolutos registaram-se algumas diferenças na interação entre irmãos, sobretudo em termos da subescala de cuidado (M=1.86) e de antagonismo (M=1.00); nas subescalas de ciúme e de proximidade, os valores médios próximos de 1 permitem apontar também “algumas diferenças” entre os irmãos. Em relação ao tratamento parental, os valores médios próximos de 0 revelam que os jovens não consideram existência de diferenças no tratamento de afeto e de controlo por parte dos pais.

A subescala de cuidado registou 48.1% de observações com “bastante diferença” e 30,8% de participantes que reportaram “alguma diferença” entre os irmãos, sendo, portanto, a preocupação com o outro, a ajuda, o suporte e o controlo os traços que os irmãos experimentam de forma mais diferenciada. Na subescala de ciúme, além de 53.1% de observações que reportam ausência de diferenças, registou-se 28.5% de casos com “alguma diferença” e 18.4% de casos com “bastante diferença”. Na subescala de

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21

proximidade observou-se 82.5% de casos “sem diferenças”, enquanto 17.1% dos jovens apontaram “alguma diferença” face ao irmão.

Atendendo aos valores da percentagem válida de comportamentos diferenciados, registou-se 52% de ausência de diferenças na relação entre irmãos e 87% de casos sem diferenças no tratamento parental. A existência de “algumas diferenças” (29%) e de “bastantes diferenças” (19%) foi mais reportada na relação entre irmãos do que no tratamento dos pais (com 9% e 4% de “algumas” e “bastantes” diferenças, respetivamente).

Tabela 6.

Estatística Descritiva dos Valores Absolutos das Subescalas

Subescalas SIDE M DP Min. Max.

Interação entre irmãos

Diferencial de antagonismo 1.00 .72 .00 3.89

Diferencial de cuidado 1.86 1.07 .00 3.83

Diferencial de ciúme .94 .82 .00 2.83

Diferencial de proximidade .46 .44 .00 2.00

Tratamento diferencial dos pais

Afeto da mãe .26 .42 .00 2.00

Afeto do pai .31 .67 .00 6.60

Controlo da mãe .41 .50 .00 2.00

Controlo do pai .42 .94 .00 8.25

No sentido de estabelecer uma comparação entre género, comparámos os valores médios entre rapazes (n=137) e as raparigas (n=34) (Tabela 7).

Nos rapazes os valores médios da escala de valores absolutos no que diz respeito às subescalas de antagonismo, cuidado e ciúme foram superiores aos das raparigas, sobretudo na subescala de cuidado, cujo valor próximo de dois (M=1.87) revela por parte dos rapazes “bastantes diferenças” em relação ao seu irmão; também as raparigas evidenciaram neste domínio a existência de “algumas” ou “bastantes diferenças” (M=1.85). Na subescala de proximidade, tanto os rapazes (M=.43) como as raparigas (M=.47) registaram médias próximas de 0 revelando a ausência de diferenças em relação aos irmãos.

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22

Em relação ao tratamento dos pais, a média das classificações entre os rapazes e as raparigas foram muito semelhantes, situando-se entre .26 (média do afeto da mãe em ambos os géneros) e .48 (média do controlo do pai entre as raparigas).

Tabela 7.

Comparação, por Género, dos Valores Absolutos das Subescalas SIDE

Género Feminino (n=137)

Género Masculino (n=34)

Subescalas SIDE M DP M DP

Interação entre irmãos

Subescala de antagonismo .92 .66 1.14 .80

Subescala de cuidado 1.85 1.12 1.87 .99

Subescala de ciúme .88 .81 1.04 .84

Subescala de proximidade .47 .43 .43 .47

Tratamento dos pais

Afeto da mãe .26 .45 .26 .36

Afeto do pai .28 .56 .36 .83

Controlo da mãe .42 .51 .41 .48

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23 Discussão

A presente investigação partiu de resultados empíricos (Daniels & Plomin, 1985; Dunn, 1983; Lamb & Sutton-Smith, 1982) indicando que, apesar de irmãos biológicos partilharem um ambiente de crescimento comum e partilharem 50% dos seus genes em média, os irmãos da mesma família diferem, de facto, consideravelmente um do outro.

Os resultados indicaram que, apesar de reduzidas, as diferenças na relação entre irmãos foram significativas nas subescalas de antagonismo e de cuidado, em que os rapazes apontam uma relação que beneficia ligeiramente o irmão, enquanto as raparigas apontaram uma relação mútua. As relações entre irmãos surgem assim influenciadas pelo género, à semelhança das conclusões de estudos anteriores (Dunn, 1996).

No tratamento parental, foram as raparigas que reportaram pequenas diferenças no afeto do pai que beneficiavam ligeiramente o irmão, enquanto os rapazes identificaram neste domínio um tratamento igualitário. Foram assim observadas diferenças de género na relação parental entre irmãos, à semelhança do observado em estudos anteriores (Sullivan et al., 2006; Van Ijzendoorn et al., 2006), e que permitiram confirmar a primeira hipótese de investigação.

Verificou-se que as diferenças no tratamento de controlo do pai influenciam, na mesma direção, as diferenças de controlo da mãe e vice-versa. Isto é, o controlo por parte do pai influencia a um maior controlo por parte da mãe e vice-versa. Por outro lado, a perceção de um diferente controlo por parte da mãe surge associado à perceção de um afeto diferente por parte do pai, revelando que perante uma atitude de controlo de um dos progenitores, os adolescentes tendem a procurar o afeto no outro, apesar de tanto as diferenças de controlo (r=.434; p≤.01) como as diferenças de afeto (r=.241; p≤.01) revelarem uma correlação positiva e significativa (p≤.01). Apesar de terem sido observadas correlações significativas entre as subescalas SIDE, os valores dos

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24

coeficientes de correlação situaram-se entre r=.14 e r=.43, à semelhança do observado em estudos anteriores (Baker & Daniels, 1990; Daniels & Plomin, 1985), em que crianças relacionadas geneticamente, que crescem no mesmo ambiente familiar, apresentam correlações de r=.40 a r=.50 para habilidades cognitivas e r=.15 a r=.25 para traços de personalidade.

Relativamente à comparação por idade apenas foram verificadas diferenças significativas na subescala afeto do pais, sendo que os resultados indicam que os mais novos percecionam o afeto do seu progenitor como igual entre eles e os irmãos (M=3.08; DP=.29) e os mais velhos indicam que os pais sentem mais afeto pelos irmãos (M=2.78;

p=.62).

Os valores absolutos das subescalas de tratamento parental indicaram que entre os rapazes e as raparigas não existem diferenças de tratamento, relativamente ao afeto e controlo dos progenitores (p≤.05). No mesmo sentido, observou-se a ausência de diferenças nos valores médios das subescalas de controlo e de afeto parental, quer do ponto de vista da mãe, quer do ponto de vista do pai.

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25 Conclusões

O presente estudo avaliou as diferenças de comportamento e de tratamento parental relatadas por irmãos, no sentido de determinar quais as variáveis genéticas, nomeadamente o género, e as variáveis familiares que se encontravam associadas a cada uma das subescalas em estudo: antagónico, de cuidado, de proximidade e de ciúme (na relação entre irmãos) assim como as diferenças de tratamento parental (de afeto e controlo), através SIDE de Daniels e Plomin (1985). Os dados observados foram analisados no sentido de caraterizar cada uma das subescalas do SIDE e determinar se existiram diferentes perceções em termos de género e no que diz respeito à relação fraterna (irmão de sangue, meio-irmão e irmão de parentesco).

Os resultados indicaram que os rapazes apontam uma relação que beneficia ligeiramente o irmão, enquanto as raparigas apontam uma relação mútua nas subescalas de antagonismo e de cuidado. No tratamento parental, as raparigas reportaram pequenas diferenças no afeto do pai que beneficiavam ligeiramente o irmão, enquanto os rapazes identificaram um tratamento igualitário. No que diz respeito ao tratamento dos pais, há indícios de que os pais estão mais envolvidos com os filhos do que com as filhas, especialmente no momento em que os filhos chegam à adolescência (Pleck, 1997).

Apesar dos objetivos da análise terem sido alcançados, uma limitação do presente estudo foi a impossibilidade de analisar a relação entre irmãos do ponto de vista do outro irmão bem como a ordem de nascimento (Daniels & Plomin, 1985). Uma outra limitação do presente estudo pode ter residido na análise de uma amostra que em termos socioeconómicos se revelou homogénea. Resultados diferentes poderão ser obtidos se analisarmos uma população menos privilegiada, onde variáveis como a profissão dos pais, o número de irmãos e número de pessoas no agregado familiar, podem determinar as experiências diferenciadas entre os irmãos.

(35)

26 Implicações práticas do estudo

O presente estudo representou a possibilidade de estudar microambientes familiares como o da relação entre irmãos, numa abordagem comportamental que avaliou a influência de variáveis como o género e a idade, na perceção das experiências diferenciadas entre irmãos. A aplicação do SIDE numa amostra de adolescentes do norte do país permitiu identificar as dimensões em que as diferenças percecionadas entre irmãos são mais prevalecentes, além de ter permitido o conhecimento de um instrumento ainda pouco utilizado no estudo das relações fraternas. O facto de identificarmos perceções diferenciadas da relação entre irmãos permite que agora questionemos se diferentes comportamentos surgem associados e explicam as diferenças observadas na análise realizada. Por fim, estes resultados permitem definir intervenções cada vez mais direcionadas e eficazes nesta área de atuação.

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27

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32 Resumo

A violência entre irmãos é uma das formas mais comuns de violência familiar, pelo que pretendemos caraterizar este problema numa amostra de 221 jovens dos 11 aos 18 anos de idade. As táticas de negociação e de violência (física e psicológica) foram avaliadas através das CTS2-SP (Revised Conflict Tactics Scales – Sibling Version) (Straus, Hamby, Boney-McCoy, & Sugarman, 1996). Para além disso, foi utilizado o SIDE de forma a analisarmos a relação entre os comportamentos de violência e de negociação com a relação entre os irmãos e pais. Procedeu-se à análise descritiva das escalas e à aplicação de testes não-paramétricos para comparação dos valores médios. Os resultados demonstraram que a violência entre irmãos é altamente prevalente no início da adolescência, sendo sobretudo expressa em comportamentos de abuso psicológico e físico com sequelas. Observou-se que todos os participantes infligiram, pelo menos uma vez, nos últimos 12 meses, agressões psicológicas e 95.6% sofreram abusos psicológicos. Além disso, quanto mais velhos menos estão dispostos a negociar os conflitos (p<.05). A violência psicológica foi o tipo de abuso mais frequente entre irmãos, independentemente do género, à semelhança de resultados anteriores (Goodwin & Roscoe, 1990; Noland, Liller, McDermott, Coutler, & Seraphine, 2004; Relva, Fernandes, Alarcão, & Martins, 2014). Além disso, verifica-se que quanto mais cuidado os inquiridos demonstram pelos irmãos mais recorrem a técnicas de negociação e quanto mais os pais exercem controlo sobre os filhos menos violência física e psicológica se verifica entre os irmãos. O estudo alerta para a necessidade de atender às causas e consequências deste fenómeno durante a fase da adolescência e pré-adolescência.

Palavras-Chave: adolescência, família, violência entre irmãos, diferenças de género, tratamento diferencial

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33 Abstract

Violence between siblings is one of the most common forms of family violence, we want to characterize this problem in a sample of 221 young people from 11 to 18 years old. The tactics of negotiation and violence (physical and psychological) were evaluated through the CTS2-SP (Revised Conflict Tactics Scales - Sibling Version) (Straus, Hamby, Boney-McCoy, & Sugarman, 1996). In addition, we used the SIDE in order to analyze the relationship between the behaviors of violence and negotiation with the relationship between the brothers and parents. Proceeded to the descriptive analysis of the scales and the application of non-parametric tests for comparison of mean values. The results showed that violence between siblings is highly prevalent in early adolescence, especially being expressed in behaviors of psychological and physical abuse with injuries. It was observed that all participants inflicted, at least once in the last 12 months, psychological aggression and 95.6% suffered psychological abuse. In addition, the older less are willing to negotiate conflict (p<.05). Psychological violence was the most frequent type of abuse among siblings, regardless of gender, as in previous results (Goodwin & Roscoe, 1990; Noland, Liller, McDermott, Coulter, & Seraphine, 2004; Relva, Fernandes, Alarcão, & Martins, 2014 ). In addition, it appears that respondents demonstrate how much more care by the brothers more resort to negotiation techniques and the more parents exert control over their children less physical and psychological violence occurs between siblings. The study warned of the need to address the causes and consequences of this phenomenon during adolescence and preadolescence.

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34 Introdução

A violência entre irmãos constitui atualmente um fenómeno social invisível que tem recebido pouca atenção, apesar de originar maiores taxas de vitimização durante a infância e adolescência (Finkelhor, Turner, & Ormond, 2006). Isto acontece porque a agressão entre irmãos é ainda enquadrada, em parte e em geral pela sociedade, no ciclo “normal” do desenvolvimento esperado de uma criança. A presente investigação pretende, neste âmbito, contribuir para a análise do problema da violência entre irmãos, bem como a sua perceção junto dos jovens portugueses. A pertinência deste estudo reside na análise dos comportamentos violentos entre irmãos na fase da adolescência e pré-adolescência, fase privilegiada na maturação da personalidade e das competências relacionais, para as quais o contacto com o irmão representa o primeiro sub-sistema deste tipo de socialização (Noland et al., 2004). Por outro lado, são reconhecidas as consequências para a saúde física e mental da prevalência de abusos físicos e psicológicos, sobretudo para as vítimas e também porque são produzidas na fase em que, por norma, as relações de intimidade se iniciam (Echeburúa & Corral, 2008). Segundo Caridade e Machado (2006) a violência entre pessoas ligadas por laços de intimidade não é um fenómeno recente. Contudo, verifica-se desde as últimas décadas uma maior sensibilidade e intolerância para com este fenómeno. No entanto, a violência entre irmãos ainda recentemente começou a ser estudada no nosso país (destacando-se o trabalho de Relva, Fernandes, & Costa, 2013), pelo que os estudos científicos neste âmbito são sempre uma mais-valia na medida em que permitem conhecer melhor esta realidade. Neste sentido, acreditamos que conhecimento deste fenómeno e a identificação das suas dinâmicas propiciará uma intervenção mais adequada.

(44)

35 Violência entre irmãos

A violência entre irmãos constitui atualmente um fenómeno social invisível que, na prática, tem recebido pouca atenção. Isto acontece muito em parte porque a agressão entre irmãos é ainda considerada por muitos, em geral pela sociedade, como ciclo “normal” do desenvolvimento esperado de uma criança. Neste sentido considera que um dos principais problemas aquando da definição deste conceito prende-se essencialmente com a “confusão” na terminologia utilizada (Relva, Fernandes, & Alarcão, 2012).

O termo “violência”, do ponto de vista etimológico, deriva do latim violentia, que significa carácter bravio, força (Machado, 2010). Segundo Oliveira e Manita (2003), a violência é o “uso intencional da força, coação ou intimidação contra terceiros ou de toda a forma de ação intencional que, de qualquer modo, lese os direitos e as necessidades dessa pessoa” (p. 217).

A literatura descreve, em geral, a violência entre irmãos como um fenómeno que envolve as mesmas dinâmicas que outros tipos de violência (violência no namoro) e que partilha alguns dos seus fatores de risco, como por exemplo, presença de violência na família, isolamento social e o funcionamento familiar disfuncional (Kaura & Allen, 2003).

Trata-se de um tema complexo, como tal a Organização Mundial de Saúde (1996), dividiu-o em categorias dependendo da natureza e do tipo de agressão, bem como no tipo de relacionamento entre a vítima e o agressor. Neste sentido, Haskins (2003) considerou que a violência entre irmãos é tida como um abuso entre ambos que se pode revelar através do abuso físico, psicológico ou sexual e que é infligido por um irmão ao outro.

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36 Tipos de violência entre irmãos

A violência constitui atualmente um fenómeno complexo e multifacetado que afeta sobretudo crianças e jovens com consequências para a sua saúde, desenvolvimento e autonomia. Neste sentido, Benavente (2002) considera que a violência pode ter várias consequências destacando-se as dificuldades ao nível físico, emocional, cognitivo e desenvolvimento da linguagem, fundamentais para o seu desenvolvimento.

Embora existam inúmeras situações que possam estar aliadas à prática de violência, é possível aferir que o fenómeno pode ser dividido em diferentes tipos, nomeadamente violência psicológica, abuso sexual e violência física. Dos tipos de violência mencionados, a violência física é a que se encontra mais estudada e, por conseguinte, mais documenta e conhecido.

A violência entre irmãos reflete comportamentos abusivos e violentos, recorrendo a atos de agressão física, psicológica e sexual que podem ir desde intimidação ou coerção, ameaças, empurrões, estalos, espancamento e relações forçadas. Esse comportamento vai acabar por comprometer a integridade física, psicológica e sexual da vítima (Wolfe & Wekerle, 2003).

No que concerne à violência física esta é considerada como um problema que atinge todas as classes sociais e é definida como sendo um comportamento que tem como fim compelir o companheiro a uma interação sexual contra sua vontade, sendo os atos variáveis, vão desde a insistência a ameaça do uso de força física (Straus et al.,1996).

Por violência física entende-se a utilização de força física ou restrição levada a cabo no sentido de causar dor ou injúria a outrem (Sugarman & Hotaling, 1989). É geralmente praticada com recurso a murros, bofetadas, pontapés, empurrões, mordeduras, puxar de cabelos podendo também haver recurso a armas ou a objetos que sirvam como armas. O dano produzido resulta em equimoses, hematomas, queimaduras, fraturas ou

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lesões internas que podem implicar tratamento médico, em casos extremos pode levar à morte (Lourenço & Carvalho, 2001).

A violência física entre irmãos constitui um ato que se reflete na infração de danos físicos ao outro, sendo que os mesmos podem ser empurrões, pontapés, arranhadoras, puxar o cabelo, o simples ato de beliscar. As formas mais graves e severas de violência entre irmãos compreendem o uso de utensílios ou de instrumentos, como vassouras, mangueiras ou cabides, uso de cintos e laminas (Relva et al., 2012). Nas formas mais graves de violência entre irmãos, segundo a autora supracitada encontramos consequências mais graves a nível físico como: membros fraturados ou perturbações que muitas das vezes requerem cuidados de saúde.

Quanto ao abuso sexual, este ocorre quando a vítima é forçada a praticar os atos sem se conseguir aperceber do que se está a passar. As formas de abuso sexual passam pela cópula vaginal, oral ou anal que são as formas mais graves, de seguida segue-se a forma grave que inclui penetração digital ou a simulação do coito e por fim as menos graves que engloba beijos e carícias (Pires & Miyazaki, 2005). O abuso intrafamiliar é o mais habitual, o que significa que acontece no seio da família do menor, podendo ser o pai, o tio, o avô e até mesmo pessoas que a vítima considere ser da família (Magalhães, 2005).

Segundo o Manual de Procedimentos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (1998) a violência sexual pode não envolver contato físico, pois esta pode ser praticada através de assédio ou discriminação sexual. A violência sexual, para além dos possíveis danos físicos, gravidezes indesejadas, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, deixa também sequelas a nível psicológico devido às estratégias de coação psicológica e de uso de poder para com a vítima, sendo estas marcas permanentes como o stresse pós traumático, ansiedade, medo, baixa autoestima, entre outras.

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A violência física ocorre quando o agressor pretende causar danos, recorrendo à força física. A violência física é assim caracterizada por atos que resultam em lesão física. Este género de abuso é provocado de forma propositada pelos familiares das vítimas, que podem ou não deixar marcas visíveis (Souza & Kantorski, 2003). Marcas essas que podem passar por cortes, hematomas, equimoses, contusões, abrasões, escoriações, feridas no rosto, lábios ou boca em diferentes fases de cicatrização, queimaduras de cigarro, ferro, substâncias causticas ou venenosas, sinais de mordeduras e alopécia traumática, fraturas maxilomandibulares e traumas dentários são ainda outros indicadores de maus-tratos (Vieira, Katz, & Colares, 2008).

Para além destas duas formas de violência, existe também a violência sexual que se carateriza pelo agressor obrigar a vítima à realização de práticas sexuais contra a sua vontade (Silva, Coelho, & Caponi, 2007). Este tipo de agressão é associado à violação acompanhada de penetração na vagina, anal e/ou oral não consentida e é geralmente acompanhada por ameaças e agressões físicas (Koss,1993).

Historicamente, a violência sexual entre irmãos foi vista como inofensiva e aceite pela sociedade como uma experiência sexual para ambos (Caffaro, 2008). Atualmente, ainda e difícil recorrer indícios dos comportamentos abusivos entre irmãos. Contudo, segundo o autor supracitado como forma de distinguirmos a violência sexual entre irmãos passa por distinguir as referências sexuais não desejadas (pornografia, toque indesejado) ou ainda tentativa de exposição a um comportamento não desejado pelo outro, como: a penetração, as caricias.

Outra forma de violência mais difícil de ser identificada, por não haver “provas” visíveis que levem a tal conclusão, é a violência psicológica. As crianças ou adolescente são rejeitados, discriminados, humilhados tendo em conta, por vezes, o bom desempenho

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da vítima na escola, pois esta pode não ser apenas humilhada pelos pais, mas também pelos colegas da escola (Pires & Miyazaki, 2005).

Prevalência da violência entre irmãos

Como constatamos, após a revisão da literatura, a violência entre irmãos atualmente ainda consiste num fenómeno com pouca visibilidade e na nossa sociedade tal comportamento ainda não é encarado de forma tão séria como quando é perpetrado por um adulto.

Os estudos iniciais sobre a violência entre irmãos começam a ser levados a cabo com pequenas amostras clinicas, a partir das quais era possível obter registos de maus tratos, incesto e fratricídio (Relva, et al., 2013). Em meados da década de 70 surgem os primeiros estudos sistémicos sobre a temática e o intuito de tentar compreender a dimensão comunitária do fenómeno (Relva, Fernandes & Costa, 2013).

Segundo a autora supracitada, as evidências empíricas enfatizam que a violência entre irmãos é o tipo de violência mais prevalente no seio familiar. Straus, Gelles e Steinmetz (1980) levam a cabo um estudo com uma amostra constituída por 2143 famílias e os resultados obtidos indicam que oito em cada dez crianças mencionam ter cometido violência contra o irmão. Roscoe, Goodwin e Kennedy (1987) realizam um estudo com 244 estudantes do ensino básico, onde constatam que 88% dos irmãos (maioritariamente do sexo masculino) relatam exerce violência física e emocional sobre os irmãos. O mesmo estudo permitiu ainda verificar que 60% dos sujeitos que aceitaram integrar o estudo mencionam ter sido vítimas ou ter exercido violência contra o irmão.

Num estudo, mais recente de Kettrey e Ernery (2006), numa amostra de 200 estudantes universitários verificam que 70,5% dos participantes tinha sido vitima ou tinham perpetrado violência física de forma severa contra o irmão. No entanto, 83% dos

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