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A PNAD: notas para uma avaliação

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Academic year: 2021

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A PNAD: NOTAS PARA UMA AVALIAÇÃO

George Martine∗ Ana Amélia Camarano∗∗ Philip R. Fletcher* Ricardo Neupert**

1 . I NTRODUÇÃO

O propósito desse trabalho é de fazer uma avaliação global da PNAD como instrumento de coleta de dados. Essa avaliação se situa no contexto de uma preocupação mais ampla com as necessidades de informação para a área sócio-econômico-demográfica e do universo de instrumentos de coleta já disponíveis e/ou potenciais. Trata-se de uma primeira aproximação parcial, cuja finalidade principal se realizaria no despertar de um debate mais abrangente e contínuo sobre o sistema de informações sócio-econômicas existente no Brasil.

A premissa central norteando essas reflexões é de que, na atual conjuntura, o próprio sistema de informações básicas para a área sócio-econômica-demográfica mereceria ser repensado no seu conjunto. As peças básicas desse sistema já têm uns 20 anos de uso e precisariam ser re-analisadas, tanto à luz da evolução na necessidade e na prioridade de distintos tipos de informação, como também das experiências já realizadas e das mudanças ocorridas na tecnologia de geração e processamento de informações.

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1. A ORIGEM E EVOLUÇÃO DAS PNADs

Para situar o lugar da PNADs no sistema brasileiro de informações sócio-econômicas, é preciso recordar que ela foi inicialmente gestada e desenvolvida dentro da concepção de pesquisas contínuas domiciliares proposta para as Américas pelo U.S. Bureau of the Census. (1)

"Durante a década de 60, a United States Agency for International Development (USAID) e o Inter-American Statistical Institute (IASI) se empenharam em levar os países latino-americanos a implantar e desenvolver um sistema de inquéritos contínuos domiciliares visando, não somente proporcionar informações de interesse de cada país, mas também a prover o continente de estatísticas populacionais que fossem comparáveis. 0 Brasil, com ajuda da USAID, consistiu em uma destas experiências de implantação, havendo-se adaptado às idéias contidas no documento de treinamento inicial, que serviu como ponto de partida para a elaboração da pesquisa, o Plano Atlântida: “(2)

A idéia original era de

"criar um sistema relativamente fácil de manter, que investigasse algumas dezenas de milhares de domicílios de cada vez, permitindo, a níveis agregado,....um acompanhamento sistemático do quadro sócio-econômico do País." (3)

Para tanto, a proposta inicial, chamada "Atlantida: Un estudio de caso

en encuestas de hogares por muestra", preparada pelo U. S. Bureau of the

Census, com o apoio financeiro da USAID, desenvolvia detalhadamente todos os aspectos de uma pesquisa contínua em base domiciliar: objetivos, conteúdo e desenho dos questionários, plano de amostragem, princípios de expansão da amostra, organização do trabalho de campo, manuais para entrevistadores, distribuição e recolhimento do material de pesquisa, crítica e codificação, plano tabular, análise dos dados e, ainda, um suplemento sobre a preparação de estimativas contínuas de população. Os documentos do Plano Atlântida (em 14 folhetos) eram baseados na própria experiência do U. S. Bureau of the Census, mas incorporavam explicitamente as recomendações da ONU, citando também os acordos interamericanos celebrados na véspera dos Recenseamentos de 1960.

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Em princípio, o Plano Atlântida se destinava a pesquisar as condições e as necessidades sociais e econômicas de um país, de modo geral. Entretanto, apenas o tema de emprego receberia atenção contínua; embora não seja explicitado no Plano, é possível inferir que este seguia à risca os procedimentos delineados pelo U. S. Department of Commerce para acompanhar os índices de desemprego nos Estados Unidos. Os outros campos de investigação prioritária - características demográficas, renda, saúde, consumo de alimentos, condições habitacionais, educação e cultura, nível econômico do domicílio, estatísticas vitais e migração - seriam abordados com menor freqüência em questionários suplementares. Considerava-se, no projeto original, que a abordagem de temas como nutrição e despesas familiares era tão complicada que exigia inquéritos especiais próprios.

0 Plano Atlântida oferecia sugestões muito específicas sobre a periodicidade e o cronograma de abordagem dos diferentes temas e até sobre o questionário e a forma de entrevista. Sugeria-se, por exemplo, que a duração das entrevistas não deveria exceder 30 minutos, ocupando, na média, entre 15 e 20 minutos. Isto, evidentemente, limitava o grau de detalhe possível no levantamento das informações.

E interessante observar que a periodicidade contemplada previa a realização de quatro pesquisas por ano, uma em cada trimestre. As en-trevistas se estenderiam durante todo o período de referência. Consistente com a freqüência trimestral, a amostra seria dividida em 13 subamostras semanais. 0 trabalho do ano inteiro envolveria 52 subamostras semanais. Isto permitiria estimativas sazonais para qualquer período do ano. Permitiria, também, certa economia no deslocamento das equipes de campo, com um menor número de entrevistadores bem treinados e experientes, deslocando-se durante o ano todo. Esdeslocando-se dedeslocando-senho deslocando-se asdeslocando-semelha àquele adotado recentemente pelo Banco Mundial em pesquisas realizadas na Costa do Marfim e no Peru.(4)

Calcadas nas sugestões do Plano Atlântida, as PNADs foram implan-tadas no segundo trimestre de 1967 com periodicidade trimestral e cobertura geográfica parcial, i.e., restrita às primeiras cinco regiões. Interrompido em 1970 por causa do VllI Recenseamento Geral, o levantamento foi reiniciado no quarto trimestre de 1971 para os Estados do Rio de Janeiro (atual), São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A partir daí, a pesquisa prosseguiu até o final de 1973, ano em que foi implantada a área urbana das Regiões Norte e Centro-Oeste. Foi novamente interrompida nos dois anos seguintes, quando se

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realizou o ENDEF. Em 1976, a série foi mais uma vez reiniciada, estendendo-se até 1979, em baestendendo-se anual. A partir de 1982, a área rural do Centro-Oeste tornou-se um âmbito de pesquisa, criando-se um novo estrato de amostragem para assegurar a representação desta região.(5)

Fiel à orientação do Plano Atlântida, a PNAD privilegiava as questões de emprego e renda, sendo outros temas pesquisados nos suplementos.

"Inerente à idéia das pesquisas contínuas domiciliares está o fato de que, em cada período do inquérito, à parte a estrutura básica de informações sócio-econômicas, aprofunda-se o detalhamento de um determinado tema".(6)

O questionário de Mão-de-Obra (PNAD 1.01) foi padronizado apenas em 1976, tendo sido experimentados diversos formulários de mão-de-obra e rendimentos até aquela data. Os outros temas investigados incluem:

Ano Tema 1972 Fecundidade Rendimento (PNAD-2) Bens de Consumo 1973 Fecundidade Migração 1974/75 Orçamento familiar Nutrição (ENDEF) 1976 Migração Cor Religião Fecundidade

1977 Bens de consumo duráveis

Características das habitações (PM) Fecundidade

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1978 Fecundidade 1979 Consumo de energia 1981 Saúde 1982 Educação 1983 Previdência 1984 Fecundidade e nupcialidade 1985 Situação do menor

1986 Acesso a serviços de saúde

Suplementação alimentar Associativismo

Anticoncepção

1987 Cor (1 quesito)

1988 Participação político-social

Vistas no seu conjunto, as recomendações do Plano Atlântida, que muito influenciaram a PNAD, particularmente nos seus primeiros anos de vida, estavam claramente dirigidas a países cujas informações básicas na área sócio-econômica eram muito deficientes ou mesmo inexistentes. No Brasil, isto era exatamente o caso. As fontes de informações básicas se limitavam aos censos decenais e a alguma que outra fonte mais ou menos confiável. 0 próprio Censo de 1960 havia afundado num marasmo de dificuldades operacionais e ninguém previa se ou quando estas informações poderiam aparecer.

Por outro lado, é necessário recordar o contexto sócio-político daquele momento. Iniciava-se a era de ouro do planejamento no Brasil. 0 aparente êxito da tecnocracia em definir um novo estilo de desenvolvimento para o Brasil e em deslanchar o incipiente milagre econômico gerava uma fé enorme no planejamento como instrumento de racionalização das atividades do País. A ausência de informações confiáveis em setores básicos, a nível nacional, desde 1950, constituía-se numa

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aberração nessa tentativa de diagnosticar problemas e resolvê-los pela racional idade tecnocrática.

Outro fator importante para contextualizar o período em que foram iniciadas as PNADs é a abundância dos recursos destinados à realização dos projetos da tecnocracia naquela época. A facilidade de tomada de empréstimos externos, a generosidade dos programas de assistência técnica bilaterais ou multilaterais, a expansão da poupança interna, assim como o novo sistema administrativo e tributário do Estado, dotavam a tecnocracia de um volume invejável de recursos para implementar seus projetos.

No atual momento, porém, a questão central que o sistema de in-formações precisa colocar é a seguinte: será que o contexto histórico que justificou a criação de um determinado instrumento de coleta de dados continua validando o instrumental neste momento? Em princípio, pareceria que os determinantes mais importantes da legitimidade da PNAD nos seus inícios teriam sido alterados de forma significativa. Senão, vejamos.

Primeiro, o exame da gama de informações disponíveis na atual conjuntura demonstra claramente que o panorama tem se alterado ra-dicalmente, entre 1967 e 1988. Ainda existem muitas deficiências quanto à precisão, periodicidade, cobertura, abrangência e atualidade das informações básicas mas, comparado com a situação de 1967, onde as últimas informações censitárias datavam de 17 anos antes - a situação agora é privilegiadíssima. Não somente existem Censos Demográficos decenais e Censos Econômicos qüinqüenais publicados (na maioria das vezes) em tempo hábil, mas também, muitas outras fontes de informação complementares têm aparecido no ínterim. No caso específico do tema emprego e renda - motus principal das PNADs até hoje - várias outras fontes complementares de diferentes tipos surgiram (RAIS, PME etc.), validando uma reavaliação do conjunto de informações para essa área.

Quanto à situação do planejamento, é permissível observar que a fé na tecnocracia sofreu abalos profundos a partir da crise econômica dessa década. Independentemente disso, é necessário indagar quem faz uso efetivo das informações existentes, seja para fins de pesquisa ou de planejamento, seja de curto, médio ou longo prazo? E claro que as atividades de pesquisa não pararam e que o desenvolvimento científico embora desigual por setores -continua precisando de informações atualizadas. Mas é preciso perguntar, de vez em quanto, e com toda seriedade,

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se as informações que continuam sendo produzidas correspondem ~s necessidades específicas da comunidade científica e dos planejadores. Nesse sentido, é claro que a retração na disponibilidade de recursos, decorrente da atual crise prolongada, também argumenta a favor de uma reavaliação global do sistema de informações como um todo, visando a sua maior racionalização e eficiência. Essa discussão deveria ser realizada no contexto das inovações tecnológicas que permitem entreter a possibilidade de instrumentos alternativos em determinadas áreas.

Em resumo, sugere-se que o atual sistema de informações para a área sócio-econômico-demográfica mereceria ser avaliado à luz das mudanças no contexto histórico do , País. Embora os mesmos questionamentos teriam que ser feitos com relação a outras fontes, no que concerne à PNAD, especificamente, as perguntas mais cruciais para orientar uma reavaliação incluem as seguintes:

1) Quem faz uso das informações das PNADs? Em que sentido e até que ponto as informações produzidas pelas PNADs sobre emprego e renda - repetimos, motivo central da realização das PNADs ano a ano - são imprescindíveis, face ao uso real feito dessas informações, face às suas limitações, face à existência concreta de fontes alternativas ou complementares, e face ao desenvolvimento de outras fontes e instrumentos, não existentes na atualidade, que poderiam suplementar ou substituir as atuais?

2) Qual é a relação custo-benefício da geração, processamento e utilização dos dados das PNADs? Quanto custa a realização de uma PNAD e a manutenção da estrutura PNAD? Quantas pessoas, grupos ou instituições utilizam, efetivamente, os dados das PNADs e para que finalidades? O grau de utilização das informações das PNADs é, em termos globais, comensurável com o gasto efetuado no levantamento?

3) Como se comporta tecnicamente a PNAD, por exemplo, no que diz respeito a itens como a qualidade e dimensão da amostra, coerência, fidedignidade, confiabilidade e utilidade das perguntas sobre emprego e renda ou sobre os temas objeto de suplementos?

4) Quais são as principais deficiências e necessidades de informações contínuas não-preenchidas pela PNAD? Ou seja, que tipos de dados os pesquisadores e planejadores necessitariam com maior urgência e como se compara a prioridade dos dados produzidos com essas lacunas?

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5) Qual será o papel da PNAD dentro do sistema de informações sóci-econômica demográficas que o País precisará na década de 90? Como a composição desse novo sistema poderá ser afetada pelo desenvolvimento tecnológico em curso na informática, na pesquisa por sensoriamento remoto ou em outras áreas?

Nas próximas páginas, procuramos avançar na discussão de alguns desses pontos. Evidentemente, não temos a pretensão de responder a todas essas indagações nem responder a nenhuma delas de forma definitiva. O objetivo central desse exercício vai mais no sentido de suscitar um debate mais amplo, que reputamos essencial, do que na direção de uma solução, e muito menos de uma crítica cabal às PNADs ou qualquer outro instrumento da área de informação.

2. O USO DAS INFORMAÇÕES DA PNAD

Conforme mencionado acima, a geração de informações contínuas sobre emprego e renda constitui o principal estímulo à criação e manutenção da PNAD. É legítimo afirmar que, até meados da década de 70, a PNAD, com todas as suas Iimitações, constituía praticamente a única fonte confiável, abrangente e contínua de dados sobre esse tema. As dificuldades e avanços nessa área já foram exaustivamente discutidos em outros trabalhos apresentados nesse Seminário(7) e não nos cabe retomar essa discussão aqui. Cabe, porém, estimular a realização de um outro trabalho, igualmente urgente, referente à complementaridade e/ou superposição das várias fontes de informação que surgiram - particularmente nessa última década - referente a essa temática. O próprio trabalho de Rodriguez Arias (8) apresenta uma comparação sumária dos dados da PNAD com os da PME para o período 1982-86, mostrando discrepâncias significativas entre as duas fontes quanto a taxas de participação nas seis maiores Regiões Metropolitanas. Seria útil estender essas análises para compor um quadro atualizado das diferentes fontes de informações correntes sobre emprego e renda e assim poder avaliar os objetivos, a cobertura, a utilidade e qualidade relativa das diversas fontes e as lacunas que persistem.

Outro critério fundamental para a avaliação global do instrumento PNAD é a utilização das informações produzidas. A geração e manutenção de um sistema de informações contínuas implica conforme será visto mais adiante -em custos elevados; esse se justifica, implícita ou explicitamente, pelo fato de que as informações produzidas serão usadas com certa intensidade nas atividades de acompanhamento, avaliação e planejamento, tanto do setor público como do setor privado.

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Entretanto, há uma questão empírica que precisa ser respondida com certa periodicidade: quem, concretamente, está fazendo uso das informações produzidas?

Infelizmente, a concepção de um fluxo constante de intercâmbio entre produtor e usuário de dados é ainda pouco desenvolvida no Brasil. 0 IBGE é, sem dúvida alguma, o principal produtor de informações e, em determinados períodos ou setores, é também o seu principal usuário. Talvez esta relação "incestuosa" tenha prejudicado o estreitamento da relação entre produtor e usuário (externo). Seja como for, o fato é que não se tem no Brasil uma noção, por mais imprecisa que seja, de quem faz uso das informações produzidas em qualquer área.

Numa tentativa de dimensionar e qualificar o uso de informações da PNAD, foi feito um esforço, durante a preparação deste trabalho, de aproximação em três sentidos.(9) Primeiro, uma pesquisa junto aos sócios da ABEP que, por definição, reúne grande parte da comunidade científica interessada no tipo de informação produzida pela PNAD e junto a várias instituições de planejamento global e setorial, tanto a nível federal quanto estadual. Segundo, um levantamento junto aos sistemas de informações bibliográficas DOCPOP e BIB/IPLAN para descobrir quem havia utilizado a PNAD como fonte de informações nos trabalhos listados. Finalmente, um levantamento, junto ao IBGE, dos usuários que solicitaram cópias dos arquivos de dados das PNADs ao longo dos anos.

Reconhece-se que esta avaliação não é completa, pois existem outras formas de utilização destes dados por empresas privadas, publicações em jornais ou usuários estrangeiros, que são difíceis de captar. Apesar disso, pode-se falar numa baixa (baixíssima) utilização destas informações. Dos 9.000 trabalhos existentes no DOCPOP, apenas 94 se baseiam nas informações das PNADs. De 331 textos produzidos pelos sócios da ABEP nos seus dez anos de existência, 25 usaram as informações da referida pesquisa..(10) Entre 1987, o IBGE recebeu um total de apenas 39 pedidos de tabulações especiais das PNADs. Muito embora o número de trabalhos produzidos com os Censos Demográficos e captados por essas fontes também não seja muito grande, apenas o total existente no DOCPOP, que se baseou no Censo de 1980, supera o número produzido e registrado nesta base de dados que usaram dados de quaisquer das PNADs(11). Esta constatação deixa claro a preferência pelos dados censitários aos da referida pesquisa.

Analisando os temas cobertos pelos trabalhos pesquisados, baseados na PNAD, observa-se que a maioria enfoca: a) a questão do mercado de trabalho; e b) os aspectos relativos a crescimento populacional, distribuição espacial da população, urbanização, distribuição etária

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e projeções populacionais, privilegiando o enfoque geográfico nacional. Resultado semelhante foi encontrado na enquete dirigida aos sócios da ABEP.(12) A utilização preferencial dos dados sobre emprego e renda era esperada, mas a concentração nos outros temas é preocupante. De fato, embora a PNAD publique informações que permitam inferências sobre crescimento e distribuição da população, essas não são baseadas em dados apurados senão em projeções. Como os critérios e as hipóteses utilizadas nessas projeções têm variado de um ano a outro, as confrontações entre diferentes PNADs sobre crescimento e distribuição da população chegam a ser incorretos pois produzem distorções irreconciliáveis. Este (mau) uso pode resultar de uma não-explicitação recente dos problemas metodológicos aos usuários, conforme, na década de setenta, havia sido feito através da publicação da metodologia da PNAD.

A análise dos temas cobertos pelos trabalhos pesquisados que utilizam o Censo Demográfico de 1980 mostra que mais da metade deles trata de aspectos gerais do comportamento populacional. Neste caso, o enfoque geográfico varia desde o território nacional até o município. São estes trabalhos que explicam o diferencial no número de títulos que usam a PNAD e o Censo. Do exposto, parece que se pode falar da existência de uma demanda por tais tipos de informações que não está sendo bem atendida pelo sistema atual.

Já as questões mais demográficas (fecundidade, mortalidade e mi-gração) têm sido menos estudadas na década de 80; isto pode ser resultado da não-inclusão de quesitos demográficos nas pesquisas da década de 80, com exceção da de 1984. Por outro lado, os resultados definitivos desta pesquisa ainda não foram divulgados. Os suplementos especiais, que constituem um aprofundamento de tópicos específicos, tampouco parecem estar sendo bem utilizados.

As razões alegadas para o não-uso destas informações têm sido a demora na divulgação dos resultados, as flutuações amostrais, as variações dos conceitos das variáveis utilizadas entre uma pesquisa e outra e, também, as incompatibilidades do plano tabular com as necessidades de informação dos pesquisadores. Além disto, lamentou-se a forma de agregação dos dados, tanto a nível das variáveis quanto das unidades espaciais. Cumpre perguntar, portanto, se a investigação desses tópicos específicos corresponde efetivamente a uma necessidade.

Quanto aos usuários respondentes, a metade deles provém de ins-tituições acadêmicas. As insins-tituições de planejamento estadual foram responsáveis por apenas 18% da utilização registrada. Este baixo uso por parte das instituições estaduais pode sugerir a falta de reconhecimento e/ou acesso delas às informações da PNAD, bem como a não-adequação destas às necessidades dos estados. É importante salientar que,

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embora a amostra da PNAD tenha passado a ser representativa a nível de estado para todas as variáveis, o uso destes dados vem diminuindo desde 1982.

Em suma, existem vários indícios de um desequilíbrio crescente entre a ampliação e expansão da PNAD e a utilização destas informações. Simultaneamente, os pesquisadores e planejadores estão lamentando a falta de informações adequadas para o seu trabalho. Isto obriga a perguntar, em primeiro lugar, se as informações que estão sendo oferecidas pela PNAD estão sendo melhor supridas por outras fontes. Pergunta-se, em seguida, se as informações oferecidas correspondem a demandas reais. Estas questões remetem a uma melhor avaliação da utilização destes dados; esta, por sua vez, passa necessariamente por um mapeamento do tipo de informações que são realmente exigidas por planejadores e pesquisadores. A avaliação, por sua vez, não pode ser desvinculada de uma reflexão mais global sobre o sistema de produção de informações nacionais, buscando minimizar as duplicações de esforços efetuados para cada tipo de dado levantado.

3. CUSTOS E BENEFICIOS DOS DADOS DAS PNADs

O empreendimento PNAD é, sem dúvida alguma, bastante custoso para a nação. Antes de tentar dimensionar esse custo, porém, é preciso esclarecer que os autores desse trabalho partem do princípio de que as informações geradas, particularmente na área social, não podem ser avaliadas por equações simplificadoras de custos e benefícios quantificáveis. Já sabemos que o uso notório e explícito das informações, tais como levantadas nas sessões anteriores, representa apenas uma parte do universo social beneficiado. Uma informação gerada e publicada (ou, de alguma outra forma, resgatável), no ano de 1969, poderá perfeitamente ser utilizada por pesquisadores no ano 2000 ou no ano 2030. Existem muitos pesquisadores interessados nos resultados das PNADs que não publicam seus trabalhos ou que não estão no Brasil e que, portanto, podem não aparecer nas listagens de usuários locais. Por outro lado, existem mil usos de dados - por empresas privadas, por alunos, por professores, por planejadores etc. - que não aparecem em nenhuma lista de usuários formais.

Mesmo reconhecendo tudo isso, uma avaliação global não pode simplesmente prescindir de algum tipo de análise dos custos envolvidos no levantamento PNAD. Nesse ponto, o pesquisador esbarra de imediato contra a muralha compacta da impenetrabilidade dos orçamentos públicos. Independentemente do setor ou do órgão, é sempre uma tarefa ingrata tentar descobrir o quanto custa um determinado serviço no setor público. No caso específico da PNAD, não tivemos acesso a

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dados concretos que permitissem fazer uma avaliação de quanto custa o levantamento anual, nem no seu conjunto, nem nos seus diversos componentes - preparação, trabalho de campo, processamento, divulgação etc. A dificuldade de descobrir o quanto custa uma PNAD é multiplicada pelo fato de que a estrutura PNAD é mantida durante o ano todo e tem uma utilização diferenciada de um período a outro e de um ano a outro.

Na ausência de informações mais exatas, procuramos fazer apro-ximações globais para estabelecer uma ordem de grandeza que poderá, posteriormente, ser validada ou não. 0 importante a destacar nesse exercício é a necessidade, de vez em quando, de fazer um esforço para avaliar os custos de serviços como o Censo ou a PNAD, primeiro para dar maior transparência às atividades do setor público e, segundo, para facilitar as decisões sobre a continuidade, substituição ou alteração dos instrumentos existentes.

Apenas para dar uma ordem de magnitude, estimamos que o custo real da pesquisa realizada pela PNAD deve encontrar-se entre o limite mínimo de US$50,00 e o limite máximo de US$150.00 por entrevista a domicílio. Isto significa que uma PNAD média, com 110 mil domicílios, custaria entre 5,5 e 16,5 milhões de dólares.

Por que os parâmetros US$50.00 e US$150.00 por domicílio en-trevistado? O primeiro é o custo médio unitário orçado para a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição atualmente sendo executada pelo INAN/IPLAN/IBGE, com a estrutura da PNAD. Na realidade, é evidente que esse limite inferior está muito abaixo da realidade, pois grande parte dos custos reais dessa pesquisa está sendo absorvida pelo IBGE e não aparece na contabilidade do orçamento. 0 limite máximo de US$150.00 por domicílio entrevistado pretende refletir o fato de que a manutenção de uma estrutura e pessoal permanente costuma ser a parte mais cara de qualquer programa, projeto ou ação governamental.

Supondo que o custo real de uma PNAD se encontre entre 5,5 e 16,5 milhões de dólares, a pergunta que se coloca é - isso é muito ou pouco caro? Face ao uso. explícito da PNAD detectado no trabalho de Camarano, (13) pareceria muito caro, à primeira vista. Se o custo total de uma PNAD fosse entre US$5,5 e 16,5 milhões, cada pedido de tabulações especiais já feito ao IBGE até hoje, teria custado entre 128 e 423 mil dólares. Se todos os trabalhos realizados com a PNAD tivessem sido captados, ou pelo DOCPOP ou pela BIPLAN (i.e, um total de 119 trabalhos), cada trabalho teria custado entre 42 e 139 mil dólares.

As cifras citadas acima são grosseiras, sem significado real, tendo em vista a restrições das informações já colocadas. Mas, de qualquer forma, ajudam a realizar que são grandes os números e, portanto, as

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responsabilidades, nessa área de informação. Qualquer que seja o custo real do levantamento e o seu grau de utilização, fica caracterizado que não seria absurdo colocar uns 5 ou 10% dos recursos na avaliação correta dos seus custos reais, dos usos feitos da informação, da sua qualidade e das formas de melhorar as características do produto.

3. EFICIENCIA TÉCNICA DA PNAD

A análise da eficiência técnica da PNAD passa por pelo menos dois caminhos:

1) a avaliação da qualidade da informação substantiva, tanto sobre a questão de emprego e, renda, como das outras questões pesquisadas nos suplementos;

2) a avaliação do desenho da amostra, sua eficiência, sua qualidade e sua adequação aos propósitos da PNAD. A primeira parte dessa avaliação já foi tratada detalhadamente em cada um dos trabalhos setoriais apresentados neste livro, referentes às diferentes áreas substantivas. Por isso, nos limitaremos aqui a tecer algumas considerações gerais a respeito da amostra.

Na pesquisa feita junto a diversos usuários potenciais sobre a utilização da PNAD, vários entrevistados expressaram uma certa reticência na utilização dessa fonte por causa de dúvidas quanto à expansão e flutuações da amostra, seja para o total do Brasil, seja para sua área de interesse em particular. Uma análise mais aprofundada dessa questão parece sugerir que essas dúvidas têm certo fundamento.

Conforme observado anteriormente, a idéia original da PNAD era de criar um sistema relativamente simples de pesquisa domiciliar para acompanhar a situação sócio-econômica do País. No entanto, devido às pressões oriundas de diversos setores e regiões, a amostra foi ampliada para ser representativa de quase todo o País.

De início, calculava-se que para assegurar o nível de precisão desejada, uma amostra nacional deveria ter 10.000 observações (domicílios):

"As frações de amostra estabelecidas para as visavam obter estimativas do total de pessoas na força de trabalho com coeficientes de variação e em torno de 1 %. Estudos conduzidos pelo CJ.S. Bureau of the Census haviam concluído que, para pesquisas domiciliares deste tipo, um tamanho absoluto de amostra de 10.000 unidades seria suficiente". (14)

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Porém,

"outros estudos foram conduzidos pela equipe do Grupo Executivo de Pesquisas Domiciliares, assistida por assessores da USAID, tendo como conclusão que uma amostra de 4.000 domicílios por região seria adequada para os objetivos brasileiros de obter uma amostra nacional regionalizada".(15)

Portanto, uma amostra nacional regionalizada, no Brasil, com as quatro grandes regiões sócio-econômicas (NE, SE, SUL e NO-CO), teria um total de 16.000 domicílios. No entanto, sete grandes regiões, mais nove regiões metropolitanas, levaria este total para 64.000 domicílios, sem permitir necessariamente o mesmo grau de precisão nas diversas Unidades da Federação mencionadas acima. Com o acréscimo de unidades de representação chegamos, em meados da década de 80, com uma amostra de quase 150 mil domicílios (depois reduzida novamente para 110 mil).

Com relação ao plano de amostragem, afirma-se que este

"não foge ao esquema clássico de desenhos autoponderados em estágios múltiplos, popularizados na década de 60 para uso em pesquisas domiciliares. 0 uso da seleção com probabilidades pro-porcionais a tamanho permite... um processo de expansão ex-tremamente simples. No entanto, esta vantagem não é utilizada devido ao particular método de expansão da amostragem que a PNAD emprega".(16)

Entretanto, afirma-se também que:

"A expansão dos resultados da pesquisa não é feita mediante o uso dos estimadores naturais, resultantes do plano amostral, mas sim através de informações complementares, advindas da operação de listagem dos domicílios e das projeções de população elaboradas pelo Departamento de Estudos de População do IBGE. Ainda assim, o processo de expansão tem variado, em determinadas nuanças, ao longo dos anos".(17)

"Conforme detalhado no Capítulo 3 da PARTE 1 (da MPNAD), o processo de expansão dos dados da PNAD, nos anos 70, utiliza 22 fatores de expansão, relativos a 11 grupos de idade para cada sexo. Fatores estes que empregam as projeções populacionais baseadas nos resultados do Censo Demográfico de 60 e 70".(18)

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Em resumo, parece ter sido proposto o uso de um "esquema clássico de desenhos autoponderados" para as PNADs e, logo em seguida, dispensados os potenciais benefícios deste desenho, possibilitando a mistura de: i) erros amostrais com ii) erros de listagem com iii) erros de recenseamentos anteriores com iv) erros de um modelo de crescimento demográfico elaborado a partir dos recenseamentos. Nestas circunstâncias, fica difícil saber quais seriam os erros padrões das expansões das amostras das PNADs (i.e. os erros padrões das estimativas dos parâmetros populacionais).

O MPNAD reflete uma preocupação com os erros advindos i) da seleção e treinamento de pessoal, ii) da operação da listagem dos do-micílios nos setores censitários selecionados para pesquisa, iii) da má identificação dos limites dos setores, iv) da cobertura falha do setor, v) da declaração de idade incorreta (usada para definir categorias de expansão) e vi) erros de resposta (fidedignidade). Mas não comenta os erros ainda mais graves que podem advir dos próprios censos ou os do modelo de crescimento demográfico elaborado a partir dele.

Nesse particular, é necessário ressaltar que é perfeitamente possível um censo apresentar erros maiores do que uma pesquisa baseada em amostragem se ele for mal administrado ou mal conduzido pelo habitual "exército" de entrevistadores recrutados na véspera da sua realização. Na área de administração de censos, existe uma tendência a pagar os entrevistadores por unidade pesquisada. Neste caso, existe um incentivo financeiro para criar domicílios e pessoas fantasmas, levando ~ superestimação da população de domicílios e pessoas existentes.

Nesse particular, qualquer reflexão sobre a fidedignidade das informações, seja das PNADs ou dos próprios Censos, provoca certa ansiedade no pesquisador devido à falta de tradição de pesquisas do tipo teste-reteste. Duas pesquisas diferentes, separadas por um intervalo de tempo, deveriam produzir contagens' idênticas, assim como as mesmas respostas aos mesmos quesitos. Inclusive, é possível estimar coeficientes de fidedignidade com base ao procedimento teste-reteste.

Nesse sentido, a metodologia da PNAD parece deficiente:

"em 1978 foi aplicada uma reentrevista a uma submostra dos domicílios investigados, a fim de se obter uma idéia da variabilidade das respostas. Entretanto, este material até agora (1979) não foi analisado de modo a fornecer subsídios sobre o assunto".(19)

No próprio Censo, parece não existir uma preocupação de reteste e essa ausência pode ser desastrosa para o sistema de informações

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brasileiras. Uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro é assustadora nesse particular.

"Em 1978, a PUC-RJ realizou um censo escolar da região metropolitana do Rio de Janeiro, fora dos limites do município do Rio. Na Baixada Fluminense -uma das regiões que mais cresce no País - em 2000 dos 3000 setores censitários pesquisados, os entrevistadores encontraram menos domicílios existentes em 1978 que em 1970, quando da ocasião do VII Recenseamento Geral. Quer dizer, na vasta maioria dos casos, o número de domicílios em 1978 não correspondia ao número acusado no cadastro do setor preenchido na ocasião do Censo Demográfico de 1970.

Examinando o trabalho de campo realizado em apenas 12 setores censitários (uma subamostra pequena demais para ser conclusiva, é claro) a PUC verificou que o número de domicílios realmente existente em 1978 era inferior ao número constatado no cadastro do setor. Num destes setores, onde o Censo acusava 300 domicílios existentes em 1970, a PUC verificou a inexistência de fundações ou construções abandonadas que pudessem explicar a diferença."(20)

Além disso, sabemos muito pouco sobre o que acontece dentro dos domicílios entrevistados pelo Censo. Pode existir um incentivo implícito para os entrevistadores ignorarem membros do domicílio para diminuir o trabalho da entrevista. Por outro lado, os domicílios fantasmas podem ser recheados de um número considerável de pessoas igualmente fantasmas. Os recrutas inexperientes dos Censos estão descomprometidos com os resultados porque, geralmente, seu emprego é apenas transitório e não necessariamente relacionado com suas ambições profissionais. Em suma, existe uma forte possibilidade de que os dados do Censo contenham erros sistemáticos de dimensão apreciável.

A esse respeito, vale mencionar o exercício de conciliação demográfica, realizado como parte do trabalho de projeções populacionais por IBGE/CELADE, destinado a compatibilizar as estimativas de mortalidade e fecundidade com as populações enumeradas nos Censos de 1940 a 1980, e a corrigir os dados censitários. Embora possam existir uma série de dúvidas metodológicas a respeito da validade desse tipo de exercício, uma conciliação demográfica não deixa de proporcionar uma idéia aproximada das distorções de um censo. Os resultados desse trabalho, que revelam distorções importantes nos censos, praticamente não foram divulgados no Brasil. O exercício, feito com dados preliminares, não voltou a ser duplicado com os dados definitivos.

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Por outro lado, a literatura fornece vários métodos de avaliação de distorções nos recenseamentos mas, infelizmente, esse tema parece ter sido pouco trabalhado e os resultados pouco divulgados.

No contexto da atual discussão, porém, o que mais preocupa é o fato de que, a partir de dados provavelmente imperfeitos dos censos, prossegue-se a elaborar um modelo de crescimento demográfico que, inevitavelmente, contém seus próprios erros. Como estes modelos não podem ser desenvolvidos a nível de setor censitário, é inevitável que se cometa erros de agregação. 0 viés e a variância das projeções do modelo são acrescidos ao erro amostral das PNADs quando se faz a expansão. Constata-se, no caso das PNADs, ainda outros erros, além daqueles mencionados, "introduzidos por fatores que não dizem respeito ao desenho da amostra em si". O resultado de tais idas e vindas aparece claramente na Tabela 2 de Rodríguez Arias onde se vê que a taxa de crescimento total da população, segundo a PNAD, oscila de ano para ano, para baixo e para cima entre 1981-86 (i.e. de 2.35 para 2.19 para 2.45 e, novamente 2.19). (21) Portanto, as PNADs parecem misturar, de fato, erros amostrais e erros de modelagem, com resultados imprevisíveis.

Para efeitos de divulgação das PNADs existem atualmente oito grandes regiões sócio-econômicas. Cada âmbito da pesquisa é representado por um conjunto de subamostras independentes, selecionadas a nível de UF.(22) Dentro de cada UF, seleciona-se, numa primeira etapa, municípios como as unidades primárias de amostragem. Estes municípios são ordenados segundo a micro-região homogênea a que pertencem e selecionados sistematicamente com probabilidades proporcionais à população total constatada no censo anterior.

Nos municípios selecionados, numa segunda etapa, arrola-se, pri-meiro,

"Os setores urbanos em ordem crescente de numeração e poste-riormente, os setores rurais ...O motivo de se listar setores em ordem (numérica) crescente, prende-se ao fato de que a numeração dos mesmos foi feita em forma de caracol, partindo do centro da sede municipal para a periferia".(23)

Prossegue-se à seleção sistemática dos setores censitários com pro-babilidades proporcionais ao número total de domicílios em cada setor.

A ordenação e a seleção sistemática das unidades da amostra as-seguram uma boa representação geográfica mas deixam a representação de outros fatores ao acaso. Estranha-se o fato que indicadores de nível sócio-econômico não sejam considerados para efeitos de estratificação. Isto aumenta as chances de uma má representação do nível sócio-econômico, e torna precária a comparabilidade das PNADs de um

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ano para outro. Já que as PNADs sempre incorporam uma estrutura básica de informações sobre mão-de-obra, estas são variáveis que deveriam ser aproveitadas na estratificação da amostra.

6. PRIORIDADES DO PLANEJAMENTO E LACUNAS DE DADOS: AS PROJEÇÕES

Nesta seção, abstraímos um pouco do contexto específico da PNAD para reflexionarmos a respeito das necessidades mais gerais de informações na área sócio-econômica-demográfica. As discussões específicas sobre as necessidades mais prementes de dados para cada uma das áreas substantivas nesse Seminário já cobriram as áreas mais tradicionais de forma detalhada. Aqui pretendemos fazer considerações mais gerais, de forma ainda muito preliminar; sobre as grandes lacunas de informações que permanecem no atual momento histórico e como elas afetam o desenvolvimento científico nessa área. As lacunas discutidas se referem particularmente a questões mais demográficas mas essas têm implicações para a maioria dos outros campos sócio-econômicos, já que a estrutura demográfica e sua projeção constitui a base da maioria das análises empíricas nesses outros campos.

Numa visão panorâmica dos momentos de avanço, recuo e estagnação na análise da questão sócio-demográfica, surge uma constatação um tanto quanto desanimadora. Apesar dos milhões de dólares gastos em censos, pesquisas contínuas e outros tipos de surveys, é permissível afirmar que, hoje em dia, nosso grau de informação concreta e comprovada sobre os três processos demográficos básicos - fecundidade, mortalidade e migração - é ainda muito precário. Dos três, os pesquisadores da área talvez se sintam mais à vontade discutindo tendências de fecundidade porque várias fontes recentes se complementam na descoberta de uma queda continuada e acelerada dessa variável. Mesmo aqui, porém, existe certa cautela e uma ansiedade crescente para que fontes definidoras - como as PNADs de 84 e 86 - venham a ser publicadas logo podendo, assim, corroborar mais ainda o declínio sendo apontado.

Nas outras áreas centrais, porém, não resta dúvida que a situação das informações continua muito precária. Com relação à mortalidade, pode se dizer que ainda há uma gama de variância de vários anos em torno da esperança devida real da população brasileira. A nível de determinadas sub-regiões, a situação é ainda mais indefinida. O grau de confiabilidade das estimativas de mortalidade infantil tampouco se apresenta como muito elevado. Na área de migrações internas, não se pode nem especular a respeito das tendências recentes. As últimas informações disponíveis, mesmo que fossem presumidas corretas e adequadas, datam

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de 1980 e, fora algumas especulações e inferências baseadas no Censo Agropecuário de 1985, nenhuma fonte empírica pode ser aproveitada para o período pós-censitário.

Parte dessas lacunas se deriva da ausência de indicadores confiáveis intercensitários e parte se origina nas deficiências dos próprios recenseamentos decenais e das estatísticas vitais. Tais problemas dificultam a pesquisa sócio-econômica e a inserção de variáveis demográficas no planejamento; dificultam sobremaneira a elaboração de projeções, seja para a população total, a força de trabalho ou a demanda por serviços e infra-estrutura.

As deficiências das Informações básicas têm propiciado o desen-volvimento de métodos indiretos, que procuram corrigir as estimativas existentes, particularmente de mortalidade e fecundidade. A maioria dessas são aplicáveis a dados censitários. As mais destacadas são aquelas desenvolvidas por Wïlliam Brass para estimar a fecundidade, a mortalidade infanto-juvenil e a mortalidade adulta. Seu uso supõe incluir no Censo algumas perguntas relativamente simples.

Um dos problemas principais na utilização dos métodos indiretos é que eles podem ser utilizados apenas para corrigir dados com erros "razoáveis". Se forem aplicados a dados mais problemáticos, os resultados podem induzir erros de interpretação ou mesmo "razoáveis". Se forem aplicados a dados mais problemáticos, os resultados podem induzir erros de interpretação ou mesmo resultados absurdos. Os métodos indiretos se baseiam em supostos nem sempre realistas a respeito da mortalidade, fecundidade e migração. Os ajustes feitos com base á estes supostos podem, ou não, melhorar a qualidade da informação. No estágio atual, a importância da violação de tais supostos ainda é objeto de discussão. As próprias técnicas novas, desenhadas para diminuir a importância dos supostos, por sua vez, exigem as vezes dados adicionais nem sempre disponíveis. Outra dificuldade deriva do fato de que as técnicas indiretas, particularmente na área de mortalidade, fa-zem uso de sistemas ou famílias de tabelas de sobrevivência pouco apro-priadas para as condições específicas do País, região ou localidade estudada.

Em localidades ou regiões pequenas, já prejudicadas por erros amostrais, a existência de migrações também afeta as estimativas de mortalidade e fecundidade.

Em suma, sem querer desmerecer os avanços enormes propiciados pelos métodos indiretos, parece que está havendo uma inversão de valores que prefere a correção do dado à correção da fonte. Entretanto, não é provável que se possa progredir muito nas técnicas indiretas sem uma melhoria substancial nas informações básicas. Ao insistir naquela direção, corremos o risco de começar a criar dados na

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mesa de trabalho. Nesse sentido, pareceria conveniente dedicar maiores esforços na melhoria do sistema de informações básicas visando, não corrigir dados deficientes, senão gerar dados mais confiáveis. Isto significa aplicar uma parcela maior dos recursos existentes na melhoria dos dados, via pré-teste, teste e reteste.

Concretamente, sugere-se que deveriam ser dedicados maiores esforços no sentido de elaborar, testar e validar baterias de perguntas destinadas a obter respostas mais confiáveis e alocar mais recursos ao treinamento e supervisão de entrevistadores - mesmo para a obtenção de informações básicas que já se coletam há muito tempo. 0 cálculo de estimativas confiáveis de mortalidade e fecundidade e, portanto, a qualidade das projeções futuras, dependerá mais de uma maior aplicação no trabalho de campo do que do desenvolvimento de programas sofisticados de computadores.

Esse esforço fundamental de melhoria e solidificação das informações básicas dificilmente pode ser empreendido junto com o Censo pois isto tornaria toda a operação financeiramente inviável. Pesquisas de pequeno porte e, posteriormente, pesquisas intercensitárias de maior porte, seriam a oportunidade ideal para testar novos instrumentos que, ao mesmo tempo de estarem testando metodologias aplicáveis no próprio Censo, gerariam estimativas mais confiáveis para o período intercensitário. Não se pretende a montagem de um aparato complicado para fazer pesquisas detalhadíssimas senão um esforço concentrado para medir, com precisão e com certa periodicidade, alguns fenômenos básicos. Até aqui, as perguntas incluídas nas PNADs, por exemplo sobre fecundidade e mortalidade, não parecem ter produzido resultados muito mais confiáveis que as dos Censos. Uma melhoria dessas informações seria de enorme valor para o esforço de projeção e poderia ajudar a reorientar o próprio trabalho dos Censos.

7. A PNAD E O FUTURO

Os resultados desse Seminário, na medida em que provocarem uma discussão mais aprofundada e contínua - não somente a respeito do futuro da PNAD, mas do próprio sistema de informações básicas para a área sócio-econômica-demográfica - poderão servir de guia para a eventual reorientação de surveys a nível nacional . Não teremos a presunção de antecipar tais reorientações aqui senão discutir, de forma bastante genérica, alguns dos elementos que pontuarão o contexto futuro nessa área. Evidentemente, as ponderações feitas nos segmentos anteriores influenciarão nossa discussão.

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O primeiro ponto a ser discutido diz respeito à necessidade relativa de um tipo de levantamento periódico de representatividade nacional. E preciso perguntar explicitamente - face às alterações na necessidade de informações básicas e no contexto sócioeconômicopoIíticodemográfico da nação -continua sendo necessário um levantamento anual com as características da PNAD atual? Os custos e os benefícios, o uso concreto e potencial dos dados da PNAD justificam sua perpetuação ad infinitum?

Sem pretender responder a essa pergunta central, alguns aspectos gerais podem ser discutidos. Inicialmente, a interrupção de um levantamento iniciado há mais de 20 anos esbarra contra a inércia de uma estrutura montada, com equipes permanentes em todo o Brasil e com interesses próprios. Entretanto, se olharmos a questão de forma objetiva, é preciso centrar a atenção nos aspectos técnico-substantivos. Haveria uma perda irreparável de informação nessa interrupção? Em princípio, seria extremamente traumatizante descontinuar a PNAD se: a) as estatísticas produzidas por esse levantamento fossem claramente comparáveis entre si, constituindo uma série estatística ininterrupta; b) não existisse outra fonte de informação capaz de substituir aquela produzida pelo levantamento em questão.

Quanto ao primeiro aspecto, não há dúvidas de que a interrupção de uma pesquisa que vem se desenvolvendo há décadas, seja nos Censos ou em outros tipos de levantamento, tem que ser muito bem pensada haja visto a gravidade da omissão do quesito sobre cor no Censo Demográfico de 1970. Entretanto, no caso da PNAD, uma das principais dificuldades para o usuário reside justamente na comparação dos dados centrais desse levantamento (i.e. emprego e renda) de um ano para outro. As variações de conceito, de amostra, de metodologia e de perguntas constituem sérios empecilhos à utilização desses dados numa pesquisa comparativa. O trabalho de Rodríguez Arias demonstra bem as ciladas desse tipo de esforço.(24) Quanto ao segundo aspecto, não há dúvida que um ponto central a ser discutido no futuro próximo é a racionalização dos diversos sistemas de informação sobre o mercado de trabalho. Na pauta dessa discussão estão questões como a complementariedade entre os diversos levantamentos, assim como a periodicidade, abrangência e cobertura dos mesmos e, sobretudo, adequação às necessidades de pesquisadores. Sem entrar no mérito, parece claro, a priori, que muito poderia ser feito no sentido de uma maior racionalização dos esforços sendo desprendidos nessa área.

Em suma, portanto, pareceria que a interrupção do levantamento não resultaria necessariamente numa perda irreparável de uma série histórica de dados essenciais. Quanto aos outros temas Ievantados pelos suplementos, com maior ou menor êxito, a descontinuidade do levanta

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mento tampouco implicaria numa perda irreparável já que elas não constituem (e nunca pretenderam constituir) uma série histórica e já que esse mesmo tipo de informação pode ser obtido, a nível nacional, de outra forma.

A necessidade e a continuidade de um levantamento periódico nacional, porém, se justifica por outras razões quando se considera o sistema de informações como um todo. O fato central é que uma nação grande, heterogênea e dinâmica como o Brasil não pode simplesmente prescindir de um instrumento de balizamento periódico das principais tendências sócio-econômicas durante todo o longo período intercensitário. Quanto a isso, não acreditamos necessário discutir. A questão central que sim precisa ser discutida é se um instrumento como a PNAD responde melhor a essa necessidade. Em grandes ,linhas, os trabalhos apresentados nesse seminário sugerem que, no seu atual formato, a PNAD não responde exatamente às necessidades dos pesquisadores e planejadores. Senão vejamos (mesmo que seja de forma simplificada).

Primeiro, é óbvio que a experiência, a estrutura, o pessoal e a informação já acumulada na PNAD fazem com que esse sistema tenha maior capacidade para assumir a direção e a condução de qualquer tipo de levantamento contínuo que vier a ser elaborado. Por outro lado, é preciso definir os contornos desse instrumento futuro em função de considerações substantivas a respeito da experiência já realizada na PNAD. Na área de força de trabalho, as críticas e limitações dos dados já ficaram bastante explícitas. Na área de fecundidade e mortalidade, os dados da PNAD, embora tenham tido um papel importante na detecção de uma tendência histórica não prevista pelos pesquisadores, não têm sido considerados satisfatórios - tanto pela impossibilidade de um acompanhamento sempre atualizado, como pela ausência de uma maior precisão nas informações do que àquela obtida pelo Censo. Em termos de migração, a amostra, por enorme que seja, é insuficiente para permitir analisar tendências significativas no que se refere ~ direção, características ou inserção dos fluxos. Quanto aos temas tratados em suplementos, os resultados podem ter sido mais ou menos satisfatórios, mas o essencial é que não se precisaria desse instrumento específico para obter informações convenientes. Talvez, e isso é uma questão a ser discutida abertamente, uma outra estrutura poderia até ser mais eficiente.

Outro aspecto a ser analisado diz respeito à representatividade da amostra para diversas sub-regiões ou segmentos da população. A principal razão da expansão do desenho inicial - previsto para 10 mil domici1ios - para os quase 150 mil domicílios pesquisados em meados da década de 80, foi a tentativa de fazer com que a pesquisa pudesse ter representatividade para unidades geográficas menores. Mas esse tipo

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de aumento da amostra nacional para dar conta de realidades locais corre dois tipos de perigo: a) de produzir informações, a um custo elevadíssimo, que poucos vão utilizar efetivamente, ou; b) de produzir informações que, apesar de ter um custo elevadíssimo, não satisfazem as necessidades dos usuários que se habilitem, porque os dados não permitem o nível de desagregação que eles precisariam.

Nesse sentido, seria válido refletir sobre as vantagens de um ins-trumento de pesquisa periódica, com uma amostra bem menor - o que permitiria até uma periodicidade maior - que não seria necessariamente representativa, em todas as instâncias, de todas as subunidades passíveis de serem contempladas Isto permitiria que, na medida em que houvesse demandas específicas justificáveis, poderiam ser feitos levantamentos mais detalhadas ou a utilização de amostras maiores em determinadas localidades ou regiões. 0 levantamento sobre o uso da PNAD, até o momento, nos diz relativamente pouco a respeito da demanda real por informações, já que não se tem uma idéia clara do universo potencial de usuários e de suas necessidades. ~ evidente que um maior diálogo com os usuários seria o ponto de partida para isso mas, por outro lado, é evidente que a abordagem tipo shotgun (i.e. a tentativa de abranger, com um só desenho amostral e em todas as pesquisas, o maior número possível de áreas) utilizado até agora, corre o risco de não satisfazer muitas das necessidades. potenciais.

No decorrer de um aumento - sempre saudável - da interação entre produtor e usuário de informações, deveria ser discutido não somente o conteúdo, a periodicidade e a representatividade de pesquisa contínua mas também a agilização do acesso às informações. Um dos grandes bloqueios que persiste e que estorva o desenvolvimento científico e a utilização de dados no processo de planejamento é a morosidade na divulgação e a dificuldade no acesso às informações. Esse bloqueio precisa ser analisado e sanado, inclusive, à luz dos desenvolvimentos na área de informática, com a multiplicação de terminais e as possibilidades oferecidas pelo maior uso de computadores de médio porte assim como de microcomputadores. Por exemplo, poderiam ser preparados, a partir dos dados da pesquisa contínua, pacotes de informações para serem usadas em micros (em disketes, por exemplo), incluindo o soft-ware relativo para facilitar seu uso. Essa informação poderia limitar-se a subamostras e a um número limitado de variáveis, a exemplo das amostras de 1 e 3% elaboradas a partir do Censo. Não temos condições de fazer mais do que destacar esse aspecto aqui mas é uma questão sine qua non para a viabilização do sistema de surveys, mesmo que persistisse o atual formato das PNADs.

Paralelamente, poderia ser explorada mais diretamente, pelo IBGE -talvez em convênio com instituições como o INPE - a possibilidade de

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complementar as metodologias e instrumentos de pesquisas existentes com pesquisas por satélite, sensoriamento remoto e aerofotometria. As questões de crescimento demográfico, particularmente em áreas urbanas, de localização da expansão industrial, de ocupação de áreas novas, de habitação e urbanismo, de desmatamento, ecologia e poluição, são nitidamente talhadas para experimentar com esse tipo de instrumental. Com os equipamentos e software sofisticados existentes no exterior, seria possível até fazer análises mais específicas como, por exemplo, a expansão residencial de populações de baixa renda.

A aerofotometria poderia ser útil também na organização dos censos e pesquisas baseadas em amostras, para identificar áreas de maior crescimento demográfico, onde os cadastros de setores censitários precisam ser atualizados.

Mesmo com equipamentos e software mais sofisticados, o estudo da aerofotometria precisaria ser complementado por trabalhos de campo realizados em locais selecionados por amostragem, a exemplo da metodologia do Projeto RADAM. Por exemplo, uma vez observada a expansão da ocupação territorial em determinada área, seria preciso verificar o número de habitantes por domicílio, tipo de habitação, nível sócio-econômico etc. É possível até que a sempre lamentada falta de informações sobre migrações internas no período intercensitário pudesse ser parcialmente suprida por essa via. São apenas alguns tipos de aplicação das novas tecnologias que precisariam ser contemplados para o futuro.

8. COMENTARIO FINAL

A avaliação dos usos e da utilidade da PNAD precisa ser enquadrada no contexto do sistema de informações para a área sócio-econômico-demográfica como um todo. Esta discussão, por sua vez, é balizada pelas variações na necessidade de dados em diferentes momentos históricos. Nesse particular, não há dúvida de que o panorama mudou muito desde o tempo em que foi idealizada a PNAD inicial. De uma situação de deficiência quase absoluta de dados sociais, o Brasil passou a ser u m gerador de informações múltiplas e, muitas vezes, subutiIizadas.

Essas constatações não se traduzem num demérito para o sistema PNAD, que já prestou, e continua prestando; uma valiosa contribuição para o desenvolvimento do País, senão constituem um argumento a favor da necessidade de analisar cuidadosamente o sistema de informações como um todo. Nessa revisão geral, a relação produtor-usuário precisa ser intensificada para que o usuário aprenda a fazer uma explicitação

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das suas necessidades reais e uma utilização mais adequada das infor-mações geradas e também para que os produtores de dados passem a gerar informações cada vez mais úteis e utilizadas. Atualmente, qualquer análise rigorosa de custo-benefícios das informações geradas na área social mostrará um custo elevadíssimo. Mas essa conclusão deve motivar, não uma retração na produção, senão um aperfeiçoamento progressivo do sistema, via intensificação da relação produtor-usuário.

Nessa re-avaliação e reformulação progressiva do sistema de in-formações adequado às necessidades atuais e futuras, é preciso ter presente que os avanços tecnológicos permitirão uma maior flexibilidade e economia tanto na geração de informações como na divulgação das mesmas.

NOTAS

1. Ver Fundação IBGE, Metodologia Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí7ios na Década de70, Rio de Janeiro, IBGE, 1981, 2vols. (Doravante, MPNAD).p. 23.

2. Cf. U.S. Bureau of the Census -Arlanrida: Un Estudio de Caso en Encuestas de Hogares por Muestra, Series ISPOL, Washington, DC. 1969.

3. Ibid,

4. Cf. World BankS. 5. MPNAD, p. 6. lbid

7. Ver Alfonso Rodriguez Arias - "Revisando a PNAD - Força de Trabalho à Luz dos Resultados Divulgados na Década dos 80", Seminário de Avaliação das PNADs na Década de 80, ABEP, Nova Friburgo, 1988; André César Médici - "A mensuração da subjetividade: no-tas sobre a variável renda nas PNADs, ibid.

8.lbid, p. 7-9.

9.Ver Ana Amélia Camarano - "PNAD: notas sobre sua utilização", CES/IPLAN/IPEA, Brasília, junho de 1988.

10. Elza Berquó (Coord.) ABEP, Primeira Década: Avanços, Lacunas e Perspectivas, ABEP, Belo Horizonte, 1988.

11. O número de trabalhos baseado nos Censos Demográficos constantes na base de dados do DOCPOP também é pequeno: 137 utilizaram o Censo de 1980.

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14. MPNAD, p. 72. 15.Ibid. p. 72 . 16. lbid. p. 67. 17. lbid. p. 76. 18. lbid, p. 121. 19. lbid. p. 114.

20. Depoimento particular de um pesquisador. Anonimato preservado a pedido dele. 21. Rodrfguez Arias (op. cit.) p. 4.

22. MPNAD p. 69-70. 23. lbid p. 70-71.

24 Rodríguez Arias lop.cit.l.

***

COMENTÁRIO

Luiz Armando de Medeiros Frias

A inicial leitura do texto e a posterior apresentação de Martine permitiram que alguns comentários fossem realizados. 0 tempo disponível para a devida compreensão das questões levantadas foi bastante exíguo e a superficialidade das observações deve ser a isto atribuída e não à qualidade do polêmico documento.

Os autores estruturaram o trabalho em uma parte histórica bem detalhada e uma segunda parte onde avaliam o papel da PNAD, ao longo de sua existência, e levantam questões sobre suas perspectivas futuras como fonte de dados sócio-econômicos e demográficas, colocando uma série de cinco itens que resumidamente comentamos a seguir:

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1. O USO DAS INFORMAÇÕES

Os principais pontos levantados pelos autores foram:

- A geração de informações sobre emprego e renda foram a origem e a motivação para manter a PNAD; o importante papel da pesquisa durante a década de 70; e, a atual existência de novas fontes de dados de mesma natureza e a possível superposição de informações.

- A produção de dados pela PNAD e o uso concreto das informações; o intercâmbio entre produtor e usuário e o duplo papel do IBGE no tocante ao levantamento.

- Avaliação de algumas fontes de referência bibliográfica e a pequena contribuição da PNAD no acervo destes estudos, quer no que tange ao questionário básico, quer no que diz respeito aos diversos suplementos.

- O baixo uso das informações da PNAD por instituições estaduais e municipais parece não ter compensado o esforço de torná-la representativa ao nível de Unidades da Federação.

Ao nosso ver a pequena utilização dos dados da PNAD, principalmente dos suplementos, reside em alguns aspectos ligados ao planejamento da pesquisa e ao processo de disseminação das informações.

Por outro lado, a fragilidade dos sistemas de registros administrativos, e o pouco conhecimento dos mesmos por parte dos usuários, têm provocado um uso exacerbado das PNADs como resposta a múltiplos e complexos temas. A ausência de uma programação antecipada dos temas, objeto dos questionários suplementares e, até uma avaliação mais criteriosa do básico, não têm permitido congregar diversos segmentos de usuários na elaboração dos instrumentos de coleta e conseqüentes planos de divulgação de resultados. O âmbito nacional da pesquisa é um limitante quando se pensa na investigação de temas de interesse regional que poderiam ampliar os níveis de disseminação das informações. 0 papel do IBGE como produtor/usuário pode efetivamente "internalizar" a pesquisa e, associado a este fato, o "marketing" pouco agressivo da instituição na difusão da sua produção de dados estatísticos, têm limitado possivelmente o uso das informações.

2. CUSTO E BENEFÍCIOS

A menção pelos autores de que o projeto PNAD seja oneroso, considera a multiplicidade de usos de informação que não podem ser computados em_ cálculos desse tipo. Contudo, elaboraram algumas hipóteses sobre os possíveis valores envolvidos, como da ordem de 5 a 25 milhões de dólares para o custo da pesquisa e, com base nas informações

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sobre o uso dos dados, encontram um preço de 51 a 234 mil dólares por trabalho elaborado a partir de seus dados. Paralelamente, sugerem a colocação de recursos para uma avaliação mais real dos custos e da melhoria da qualidade do produto.

A característica de algumas sociedades repousa na má aplicação de seus recursos e não na escassez dos mesmos. Particularmente, a razão de custo/benefício é extremamente descurada em grande parte das ações institucionais. Acreditamos que o papel do IBGE como efetivo Coordenador do Sistema Estatístico Nacional deva ser mais atuante, exatamente no sentido de eliminar a superposição de esforços e de redução dos custos da produção de dados. 0 Sistema Estatístico Nacional para cumprir efetivamente o seu papel deve ser melhor monitorado, objetivando alimentar a real demanda de informações por parte de todos os segmentos sociais envolvidos.

3. EFICIÊNCIA TËCNICA DA PNAD

Como tema central o trabalho enfoca nesta parte o desenho amostral da pesquisa e o processo de expansão de dados. Tece comentários sobre a precisão das estimativas e sobre o controle do levantamento através de procedimento teste-reteste.

O desenho da amostra da PNAD é consagrado como bastante apropriado para pesquisas de múltiplos objetivos. 0 tamanho da amostra, que pode crescer fruto do próprio processo de seleção, não apresenta problemas com relação à precisão e significância das estimativas. Contudo, nos erros alheios à amostragem é efetivamente onde reside a maioria das imprecisões que porventura apresentem os resultados. Na complexidade dos conceitos e no numeroso elenco de itens dos questionários, básico ou suplementar, é de onde podem advir numerosas questões de confiabilidade dos dados.

o processo de expansão por estimativas de razão, que usa estatísticas populacionais independentes, poderia acarretar distorções nos quantitativos absolutos expandidos sem obrigatoriamente alterar as estruturas relativas da amostra nas diferentes características investigadas.

Com referência à menção feita pelos autores aos problemas de invenção de domicílios e pessoas fantasmas, pelos entrevistadores censitários, nos parecem mal dimensionados na medida que a figura do supervisor de coleta existe teoricamente para acompanhar os trabalhos no que concerne tanto à cobertura como à qualidade do preenchimento dos questionários. Na medida que existem trabalhos prévios de listagem dos domicílios, presença de supervisão na coleta e

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mecanismos de controle sobre os recenseadores, os mesmos não são tão falhos a ponto de termos uma fábrica de informações de tal monta, conforme o dizer dos autores.

As pesquisas de avaliação realizadas nos Censos de 1970 e 1980 revelaram que na realidade houve omissão de domicílios e que os erros de cobertura foram da ordem de 5% em média. 0 pesquisador anônimo, da pesquisa da PUC, fez afirmações pouco prováveis quanto à qualidade e à direção da cobertura censitária ao observar, posteriormente ao Censo, um número elevado de domicílios inexistentes em alguns setores censitários do Rio de Janeiro e que tinham sido registrados nos documentos de coleta. Flagrantemente estas constatações vão ao encontro do que universalmente se observa nos censos mundiais, ou seja, presença freqüente de subenumeração censitária.

4. PRIORIDADES DO PLANEJAMENTO E LACUNAS DE DADOS: AS PROJEÇÕES

Os comentários realizados nesta parte do texto levantam as questões sobre o uso indiscriminado dos métodos indiretos para obtenção de medidas demográficas. Críticas a possíveis violações dos supostos implícitos nas técnicas e a qualidade dos dados básicos parecem poder levar a uma inconsciente manipulação de dados. Prescrevem os autores maiores investimentos na melhoria da coleta de dados como forma de efetivamente conseguir boas estimativas da mortalidade, fecundidade e migrações.

Ao nosso ver retornamos à discussão da melhoria das fontes alternativas de dados, como os registros de fatos vitais, por exemplo. A tendência de criação e constante modificação dos métodos e técnicas indiretas poderá estar desviando a atenção dos pesquisadores para o problema da produção de boas informações. A sofisticação dos estudos objetivando avaliar os determinantes da mortalidade e da fecundidade não responde à simples questão de quantos nascem e morrem anualmente no Brasil.

5. A PNAD E 0 FUTURO

Os autores objetivamente questionam a validade do papel da PNAD, em seus moldes atuais, como fonte de informações sócio-econômicas e demográficas. Algumas sugestões visando incorporar os avanços tecnológicos na área da informática, da aerofotogrametria e do sensoriamento remoto, são também apresentados como capazes de contribuir para a melhoria da qualidade dos dados.

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Refletindo sobre as colocações, consideramos que o projeto PNAD realmente merece uma profunda reflexão após 20 anos de trabalho ininterrupto. As diferentes equipes que se sucederam na condução das pesquisas domiciliares, no IBGE, trouxeram efetivas contribuições e reconhecidos erros. A descontinuidade administrativa tem sido, em alguns casos, bastante nefasta ao trabalho técnico da Instituição ao longo de sua existência.

Quando se fala da decadência da tecnocracia, burra e insensível, não se quer dizer que necessariamente o fato deva conduzir a um processo de politização de cunho imediatista. O trabalho de produção de dados é essencialmente técnico e tem seus avanços calcados na experiência adquirida ao longo do tempo por suas equipes. O IBGE deve abrir as suas portas a um maior intercâmbio com os usuários, quer institucionais ou não, procurando ir ao encontro das reais demandas da informação. Contudo, não se deve misturar esta abertura com ingerências no trabalho técnico da Instituição que abriga o maior e melhor acervo material e humano no processo de produção de estatísticas no Brasil.

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