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Ensino médio: infrequência, reprovação e abandono escolar - Ribeirão das Neves, 2014

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ENSINO MÉDIO: INFREQUÊNCIA, REPROVAÇÃO E ABANDONO ESCOLAR – RIBEIRÃO DAS NEVES, 2014

Vanessa Lima Caldeira FranceschiniPaula Miranda-Ribeiro

Marília Miranda Forte Gomes

O objetivo deste artigo é relatar como os adolescentes e as coordenações das escolas em que estudam vêem as questões relativas às motivações para a infrequência escolar, reprovação e abandono escolar, bem como as maneiras de revertê-lo com base. Os dados qualitativos foram coletados em 2014, através de grupos focais com alunos(as) e de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com as coordenações das mesmas escolas. Foram entrevistados alunos(as) com idade entre 15 e 19 anos, matriculados na primeira série do Ensino Médio na Rede Estadual de Ensino do município de Ribeirão das Neves, MG. Os resultados qualitativos apontam que as visões dos alunos(as) e coordenações são parecidas, tanto quanto as causas como as possíveis formas de amenizar ou reverter os problemas.

Palavras-chave: Infrequência Escolar, Reprovação Escolar, Abandono Escolar, Ensino Médio, Adolescentes.

Doutora do em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG

como Bolsista CNPq Brasil. vanessalcf@ig.com.br.

Professora Associada do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG. Bolsista de Produtividade do CNPq. paula@cedeplar.ufmg.br.

Professora Substituta do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília – UnB. Pesquisadora

Colaboradora Júnior do Laboratório de População e Desenvolvimento – LPD/NEUR/CEAM/UnB. mariliamfg@unb.br .

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ENSINO MÉDIO: INFREQUÊNCIA, REPROVAÇÃO E ABANDONO ESCOLAR – RIBEIRÃO DAS NEVES, 2014

Vanessa Lima Caldeira FranceschiniPaula Miranda-Ribeiro

Marília Miranda Forte Gomes

O objetivo deste artigo é relatar como os adolescentes e as coordenações das escolas em que estudam vêem as questões relativas às motivações para a infrequência escolar, reprovação e abandono escolar, bem como as maneiras de revertê-lo com base. Os dados qualitativos foram coletados em 2014, através de grupos focais com alunos(as) e de entrevistas semi-estruturadas, realizadas com as coordenações das mesmas escolas. Foram entrevistados alunos(as) com idade entre 15 e 19 anos, matriculados na primeira série do Ensino Médio na Rede Estadual de Ensino do município de Ribeirão das Neves, MG. Os resultados qualitativos apontam que as visões dos alunos(as) e coordenações são parecidas, tanto quanto as causas como as possíveis formas de amenizar ou reverter os problemas.

Palavras-chave: Infrequência Escolar, Reprovação Escolar, Abandono Escolar, Ensino Médio, Adolescentes.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é entender a partir das visões dos alunos e alunas e também das coordenações das escolas pertencentes a rede estadual de ensino (REE) do município de Ribeirão das Neves (RN) quais são as motivações para a infrequência, reprovação e abandono escolar na primeira série do Ensino Médio.

No Brasil, a partir da década de 90 do século passado, quando o Ministério da Educação iniciou a política de democratização da educação. Em 2000, a cobertura do EF chegou a 97,0% e apesar do EM não ter atingido a universalização, houve uma expansão na taxa de escolarização líquida1 de 14,3% em 1980, para 32,6% em 2002 (Castro e Tiezzi, 2005). Em 2011 a taxa de freqüência à escola no EM chegou ter alcançado 83,7%, mas a taxa de escolarização líquida, que também apresentou um aumento, atingindo 51,6%, ainda ficou

Doutora do em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG como Bolsista CNPq Brasil. vanessalcf@ig.com.br.

Professora Associada do Departamento de Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Regional – CEDEPLAR/UFMG. Bolsista de Produtividade do CNPq. paula@cedeplar.ufmg.br.

Professora Substituta do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília – UnB. Pesquisadora Colaboradora Júnior do Laboratório de População e Desenvolvimento – LPD/NEUR/CEAM/UnB. mariliamfg@unb.br .

1 Taxa de Escolarização Líquida se refere à relação entre o número de matrículas na faixa etária adequada a

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bem abaixo do apresentado para o EF de 72,4%. Sem falar que entre os grupos sociais existe um abismo. A taxa de escolarização líquida, em 2011, era de 32,0% para os mais pobres e de 78,0% para os mais ricos (Ministério da Educação, 2013).

A partir da expansão da cobertura da educação, as turmas passaram a ser mais heterogenias, compostas por alunos com problemas de aprendizagem, o que de certo modo afeta os aspectos pedagógicos praticados em sala de aula, reduz o ritmo das aulas e consequentemente interfere no desempenho da turma. Além disso, as escolas que já apresentavam desempenho escolar mais baixo acabaram recebendo novatos com baixo

background familiar (Rodrigues, 2009).

No EM, a primeira série é considerada a “porta de saída da escola”, por ocorrerem os maiores percentuais de eventos como a reprovação, a distorção idade-série (quando o aluno cursa a série com idade acima da que seria correta) e o abandono escolar, determinando a continuidade ou não do aluno nesse ciclo. No Brasil em 2013, a taxa de reprovação na REE foi de 17,6% na primeira série e 7,1% na terceira série. Em Minas Gerais foram 8,9% e 6,6%, respectivamente. As taxas de abandono escolar no Brasil foram 11,5% na primeira série e 6,5% na terceira série e para Minas Gerais, 12,6% e 6,%, respectivamente com uma distorção idade-série de 35,8%, na primeira série, e 22,4%, na terceira série (Censo da Educação Básica, 2013). Acredita-se que, para as camadas mais pobres, a vulnerabilidade seja ainda maior, pelo fato dos alunos não possuírem características socioeconômicas consideradas importantes para o desempenho adequado (Luz, 2008).

O cenário de queda no rendimento médio ocorrida no Brasil e as prováveis repercussões na repetência com a distorção idade-série, o abandono e a evasão escolar dos alunos, levam às questões sobre o desempenho escolar. O marco dessa discussão foi o Relatório Coleman (1966), realizado em meados do século XX, que apontou a importância do

background familiar sobre as desigualdades de desempenho escolar dos alunos

norte-americanos.

O desempenho escolar está relacionado às variáveis demográficas e socioeconômicas e pode ser analisado de várias formas como a baixa proficiência em disciplinas, distorção idade-série, reprovação, repetência, a não frequência escolar, abandono escolar, evasão escolar dentre outros.

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As características individuais, o background familiar, o sistema escolar e a comunidade (Riani e Rios-Neto, 2008) são os níveis mais estudados. A grande maioria dos trabalhos são voltados para os alunos do EF e poucos analisam as questões relativas aos alunos do EM. De modo geral, estudos realizados no Brasil, apontam como características individuais que podem levar à problemas com no desempenho escolar o fato de ser do sexo masculino (Riani e Rios-Neto, 2008; Guimarães, 2010), ter idade mais avançada (Leon e Menezes-Filho, 2002; Riani e Rios-Neto, 2008), ser da raça/cor parda ou preta (Alves et al, 2007; Gonçalves, 2008; Guimarães, 2010), ter filhos, principalmente, no acaso das alunas (Abreu et al, 2000) e trabalhar (Leon e Menezes-Filho, 2002; Alves et al, 2007; Gonçalves, 2008).

Com relação ao background familiar, Coleman, (1988) aponta que o nível socioeconômico e a escolaridade dos pais só têm efeito sobre o desempenho escolar dos filhos se houver alto nível de relacionamento entre eles. Nesse sentido, não ter ambos os pais residindo dentro do domicílio (Coleman, 1988), quando os pais não participam da vida escolar dos seus filhos (Hoang, 2007), quando não existe adesão religiosa por parte da mãe ou do aluno (Cunha, 2012) pode contribuir para o baixo desempenho escolar.

Estudos que focam a escola e também a comunidade buscam verificar, de certa forma, características nesses dois níveis passíveis de intervenção no curto e médio prazo (Ferrão & Fernandes, 2003) atuando como efeito-substituição. Isto é, como as ações políticas não podem atuar diretamente sobre determinadas características individuais e familiares que podem prejudicar o desempenho escolar passam agem sobre os demais níveis (escola e comunidade), de modo a diminuir o efeito do background familiar sobre a estratificação social e nesse sentido a trajetória escolar (Riani, 2005).

As características, normalmente estudas, referentes às escolas se relacionam ao corpo docente (nível de escolaridade e dedicação), ao corpo administrativo/gestão da escola e à infraestrutura. Com relação à comunidade/variáveis de contexto, as características se referem ao estoque de capitais e recursos.

A importância dos diversos aspectos que estão dentro do universo da escola sobre o desempenho escolar dos alunos pode ser vista em estudos quantitativos e qualitativos. Através do método de entrevistas semi-estruturadas com professores, administrador e alunos, Ahuja (2007) percebeu a importância da forte liderança instrucional (empoderamento, decisão

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de fazer compartilhada e desenvolvimento da capacidade humana), eficácia coletiva (eficácia dos professores, abertura para comunicação, trabalho em equipe, flexibilidade, aprendizado organizacional) e foco na instrução diferenciada para o aluno (adaptação do currículo, constante monitoramento, e programas personalizados de orientação) como pontos importantes para se evitar o baixo desempenho escolar.

Resende (2005), utilizando entrevista em profundidade como os diretores, supervisores, professores de língua português e matemática, alunos da terceira série do EM e também a observação direta do ambiente escolar e das aulas de matemática e português conclui que a excelência institucional é atribuída mais as qualidades de seus alunos do que à prevalência da excelência na rotina da escola, nas suas estruturas pedagógicas e administrativas. Mas, mesmo assim apontou os aspectos importantes relativos à escola que contribuem para o desempenho dos alunos como entre outros: firmeza, objetividade e clareza da direção; ambiente favorável ao ensino/aprendizagem; corpo docente experiente e comprometido com os resultados dos alunos; clima interno favorável às inter-relações e estabilidade do quadro de pessoal.

Akbari & Allvar (2010), utilizaram a metodologia de Regressão Múltipla e verificaram que as características dos professores são importantes sobre o desempenho dos alunos, como a prática reflexiva e principalmente a eficácia nas estratégias de instrução. Já sob o aspecto do ambiente escolar, Riani (2005), a partir dos modelos hierárquicos e hierárquico espacial, observou que quando as escolas possuem infraestrutura adequada o efeito da escolaridade materna sobre a probabilidade do aluno freqüentar a escola na idade correta é reduzido. Desse modo, diminui o efeito da educação materna e com isso a desigualdade intergeracional.

A ausência de rotatividade dos professores durante o ano letivo, a experiência média dos professores com mais de dois anos em sala de aula, o uso do computador pelo professor para fins pedagógicos e a conexão com a internet apresentaram um efeito positivo sobre o resultado médio obtido pelos alunos em Matemática (Biondi & Felício (2007). Segundo Coleman (2008), as instalações e os currículos das escolas apresentam menor efeito sobre a variação do desempenho do aluno, mas a qualidade dos professores tem uma forte relação com o desempenho deles e uma tendência de aumento nas séries mais avançadas.

Também em RN a primeira série do EM é onde ocorrem as maiores taxas de reprovação (13,7%, 5,8% na primeira e terceira séries, respectivamente) e de abandono

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escolar (12,5%,6,8% na primeira série terceira séries, respectivamente), levando à uma taxa de distorção idade-série total de 32,3% (35,2% na primeira série e 25,5% na terceira série), o que mostra que ainda há um percentual elevado de alunos que não conseguem concluir o EM na idade correta (Censo da Educação Básica, 2013).

Nesse sentido, entender como as alunas, os alunos e as coordenações das escolas percebem as motivações para a infrequência, reprovação e abandono escolar, bem como as possíveis formas de reverter esse quadro, pode ser importante para ajudar nas formulações de políticas públicas voltadas para atenuar tais problemas.

RIBEIRÃO DAS NEVES – BREVE PANORAMA

O município de RN está localizado na mesoregião Metropolitana de Belo Horizonte com uma população mensurada de 296.317 mil habitantes (IBGEcidades@, 2014) e uma taxa de urbanização de 99,3% (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013). É caracterizado por uma forte homogeneidade social, sendo um território de pobreza, sem tradição industrial (Andrade e Mendonça, 2010).

Segundo informações do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2013), em 2010, a maior parcela da população de RN apresentava baixa escolaridade (quase 60,0% EF incompleto, cerca de 20,0% EM incompleto), uma pequena parcela com EM completo (em torno de 20,0%) e uma ínfima proporção com ES completo (cerca de 2,0%). Para a população com 18 anos ou mais de idade, cerca 46,0% havia completado o EF e 27,0% o EM.e para a população de 25 anos ou mais de idade, que indica o acesso ao conhecimento, ainda havia 8,0% de analfabetos.

O percentual de alunos cursando a escola em idade correta aumentou, mas em 2010, o atraso escolar ainda era uma realidade. Cerca de 60,0% dos que cursavam o EF, entre 6 e 14 anos, estavam na idade correta, mas 13,8% estavam com 2 anos de atraso; cerca de 19,0% com um ano de atraso e 3,5% não freqüentavam a escola. Para os alunos com idade entre 15 e 17 anos, cerca de 30,0% cursavam o EF; 3,3% cursavam o EM com dois anos de atraso e cerca de 9,0% com 1 anos de atraso e 15,3% não estavam a escola. Para os jovens com idades ente 18 e 24 anos quase 80,0% não freqüentavam o ES e somente 5,7% estavam fazendo faculdade (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013).

No aspecto econômico, a população de RN apresenta baixo rendimento mensal. Em 2010, quase 38,0% das pessoas com 10 anos ou mais de idade não possuíam rendimento

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mensal e cerca de 30% possuíam rendimento abaixo de dois salários mínimos. Dos ocupados em 2013, com idade de 18 anos ou mais, 80,6% apresentava até 2 salários mínimos, sendo que o nível educacional dos mesmos era composta por 52,7% com EF completo e 32,3% com EM completo e somente 3,0% possuía ES (Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013).

DADOS E METODOLOGIA

Método Qualitativo

A análise qualitativa é uma técnica que permite ao pesquisador obter informações que não estão presentes na pesquisa quantitativa. Mesmo as pesquisas qualitativas tendo dados confiáveis e válidos (Fazito, 2009), o uso dela é recente na demografia que foi empregada por Caldwell, em etnografias na África, na década de 1970, e Knodel, na década de 1980 comgrupos focais. No Brasil, ela vem num processo de crescimento através dos demógrafos que não se contentam só em saber “quantos”, mas querem entender “como” e “porque” (Miranda-Ribeiro e Simão, 2013). A Revista Brasileira de Estudos Populacionais (REBEP), entre 2001 e 2011, publicou 190 artigos, dos quais 20 se basearam em dados qualitativos e 5 combinaram dados quantitativos e qualitativos (Miranda-Ribeiro e Simão, 2012).

Ao se utilizar a técnica de GFs, que é uma das pertencentes ao método qualitativo, o interesse do pesquisador está além de saber o que as pessoas pensam e expressam, mas sim como elas pensam e porque pensam daquela forma. Na metade da década de 80 do século passado, os GFs passaram a ser amplamente utilizados (Gatti, 2005). O GF consiste numa reunião entre pessoas que discutem sobre um assunto sob a condução de um moderador, que tem o papel de conduzir a discussão (Morgan, 1996; Fallon e Brown, 2002; Gatti, 2005), tornam-se, portanto, uma fonte de dados (Morgan, 1996) passível de ações políticas (Fallon e Brown, 2002).

Alguns aspectos importantes devem ser levados em conta no momento de realização do GF como a informação ao grupo acerca dos papéis do moderador e do relator, a gravação da discussão ser gravada e a confidencialidade das informações de forma a garantir aos participantes o anonimato (Morgan, 1996). Todas estas informações são dadas quando da leitura do TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Para selecionar os integrantes dos GFs as características comuns entre eles devem ser levadas em conta (Morgan, 1996; Fallon e Brown, 2002; Gatti, 2005), de modo que seja o

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mais homogêneo possível (Morgan, 1996; Fallon e Brown, 2002). O número de grupos necessários segundo Morgan (1996), deve ser embasado na concepção de que grupos menores são indicados para temas que envolvem o emocional dos participantes e gerem maior nível de participação dos mesmos. Grupos maiores para temas mais neutros que demandam menor nível de envolvimento dos participantes. Já o número de participantes de acordo com Fallon e Brown (2002), deve estar entre quatro e oito membros, sendo oito o número ótimo de participantes.

A prática

A população alvo dessa pesquisa são os alunos da primeira série do EM matriculados em escolas da REE, com idades entre 15 e 19 anos. Os GFs foram conduzidos em horário de aula, no município de RN, no período de entre 16 e 25 de julho no ano de 2014.

A pesquisa qualitativa “Conciliando Trabalho e Escola? Lições de uma coorte de

alunos do 1º ano do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino do município de Ribeirão das Neves” foi realizada em 2014 com a aprovação Comitê de Ética e Pesquisa (COEP) (Parecer

Consubstanciado Nº 198.526) da UFMG. A coleta de dados foi autorizada pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais – Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação Básica Comissão de Ética.

As escolas escolhidas estavam entre as que haviam participado da Pesquisa Jovem (PJ). A amostragem dessas escolas foi feita por conglomerados em um estágio, com estratificação geográfica. O número de escolas em cada um dos estratos geográficos foi proporcional ao número de escolas que pertencia a cada uma das regiões (Amostragem Sequencial de Poisson) igual ao número de alunos matriculados na primeira série do EM. Para selecionar as escolas foi utilizada a amostragem proporcional ao tamanho da escola (Vieira, 2009).

Previamente foram feitos contatos com as escolas (diretores, supervisores ou coordenadores) através do telefone para a marcação dos dias em que os GFs iriam acontecer. Foi suficiente a realização de 8 GFs, sendo quatro grupos compostos por alunas e quatro por alunos com idades entre 15 e 19 anos que haviam ou não passado pela reprovação prévia. Foram visitadas 3 escolas nas regiões de Justinópolis e Centro de RN e realizados 8 GFs. Os GFs foram compostos em sua maioria por 8 alunos(as). Durante a realização dos GFs a pesquisadora/moderadora seguiu um roteiro já testado previamente.

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Durante a realização do primeiro GF, percebeu-se a necessidade de ouvir, também, a direção da escola, cujos coordenadores nos concedeu entrevistas semi-estruturadas. Esse tipo de entrevista tem como característica teorias e hipóteses para os questionamentos centrais e também utiliza um roteiro com perguntas consideradas como padrão mas ao mesmo tempo possibilita que informações surjam de forma mais livres (Mazzini, 2004).

Para a análise das informações obtidas foi utilizada a nálise de Conteúdo (AC), que . surgiu no século XX, nos Estados Unidos (Caregnato e Mutti, 2006) e constiti num conjunto de procedimentos e técnicas para extrair sentido dos textos por meio de unidades de análises (Silva et al, 2005).

O material transcrito foi lido, grifado e codificado, considerando primeiramente os grandes temas, e em cada um deles os respectivos subtemas. A identificação de cada fala foi por meio da codificação dos participantes iniciados com a letra P, seguindo a posição que o mesmo ocupava na mesa do GF, que gerou 64 códigos para as falas de P1 a P64. Para não se perder o conteúdo das falas que não foram possíveis de ser identificadas, foi feita codificação utilizando P?, sendo P, que significa o participante e ? aquele cuja fala não foi identificada. Quando ocorria menção a pessoas que não integravam o GF, foi utilizada a primeira letra do nome da pessoa. Para os coordenadores a codificação utilizada foi a letra C, seguida do número que se seguiram as ordens das entrevistas. Sendo assim, na escola 1, foram entrevistados os coordenadores do turno da manhã (C1), e o do turno da noite (C2). Na escola 2 foi somente o coordenador(a) do turno da manhã (C3) e o mesmo ocorreu na escola 3 com o coordenador(a) (C4).

Visões dos grupos focais e coordenações

Motivações para se faltar às aulas, ser reprovado e abandonar a escola

Os problemas relativos ao desempenho escolar considerados na literatura são vários e dentre eles estão a infrequencia, a reprovação e o abandono escolar. Normalmente, os alunos do sexo masculino possuem desempenho escolar mais baixos que as alunas, principalmente por serem eles os que apresentam maior participação no mercado de trabalho.

M: E como é que é a frequência dos meninos aqui na escola? Faltam muito?

C2: Faltam. A gente tem um problema no regular (...). A gente tem problemas de infrequência com os meninos.A questão do trabalho acaba sempre influenciando, às vezes por necessidade mesmo. Ás vezes por aquela coisa dele começar a trabalhar e ganhar um dinheiro, de repente; “Ah, não, agora eu vou priorizar o trabalho, não vou estudar”. (...).

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M: Quais são os motivos que vocês acham que o aluno tem para faltar à aula? P29: Depende. Talvez cansado do serviço.

M: Cansado? Você falou...

P29: Eu ia falar isso, às vezes a pessoa trabalha e fica cansada. (...)

G4, alunas, noite

Questões familiares como a gravidez na adolescência, a necessidade de olhar os irmãos para que a mãe possa trabalhar ou a própria opção do aluno de trabalhar, devido ao retorno imediato para sobreviver, são situações comuns. A continuidade dos estudos após o nascimento do bebê, normalmente, só é possível através do apoio familiar.

M: E quais são os motivos que levam o aluno a faltar á aula?

P58: (...) E a maioria das pessoas faltam por causa de irmão, a mãe vai trabalhar e fica olhando o irmão. Tem uma menina na minha sala, duas, uma olha o irmão para a mãe trabalhar e a outra trabalha e mora com o marido também, então não vem à aula.

G8, alunas, manhã

M: E para abandonar a escola. Quais são os motivos que leva o aluno a sair da escola? P47: Ou, vai começar a fazer um trabalho para ele próprio não ficar dependendo da mãe. P42: Tem aluno que larga a escola por causa do trabalho

G6, alunas, manhã

M: E as meninas, quais são os motivos que elas abandonam? P52: Ah, não, aí é safadeza.

P54: Gravidez.

P53: É falta de vergonha na cara.

M: A maioria abandonava ou tinha algumas que continuavam? P56: Algumas voltavam depois da gravidez.

M: E as que voltavam, como elas continuavam a estudar? Como que elas conseguiam? Como é que ficava o filho?

(...)P?: Ficava com a parentela dela.

P54: Com a mãe dela. G7,alunos, manhã

M: Quais são os motivos que você acha que são maiores para reprovação aqui?

C2: Primeiro, infrequência, essa questão que eu não sei nem como falar especificamente o que que é, que eles vem para escola, não valorizam o estudo, chega no final e querem correr atrás. (...) A menina às vezes engravidou, processo de licença maternidade, algum menino que se posicionou na questão do trabalho, estava trabalhando e não deu, mas a gente viu que esteve aí e procurou esforçar em alguma coisa. (...)

M:Você tem observado se essas que tem engravidado, elas tem tentado se manter na escola? C2: Tem. Elas vêm até o momento que elas conseguem vir, depois saem e retornam. Até que elas não estão evadindo pós-gravidez não. Acho que o pai ajuda, a mãe ajuda e elas crescem.

A dificuldade de custear o transporte até a escola é uma questão importante que afeta a freqüência escolar. Principalmente para os alunos e alunas de municípios com alta

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vulnerabilidade social o “Passe Livre” facilitaria muito a vida daqueles que dependem de do transporte público para irem à escola.

P62: Quem morasse longe, tipo, desse um cartão para a gente poder pegar o ônibus. P58: Por isso que a gente falta. Você viu como é que a escola está vazia?

G8, alunas, manhã

M: E os outros que não estão nessa situação, quais são os motivos que eles alegam para faltar?

C4: Desses 85 que eu falei para você, eu tenho uns cinco nessa situação. Eu tenho aluno que falta por causa de transporte, porque nem todo dia ele tem condições de pagar o transporte, não tem condições de pagar o especial. (...)

Como em muitas cidades brasileiras a violência também é um dos motivos de se faltar às aulas.

M: E vocês acham essa violência interfere alguma coisa no aluno aqui dentro da escola? P47: Interfere muito

P48: A pessoa vai ficar com medo de vir à escola porque ameaçou ele, falou assim: “Vou te pegar na saída”.

P46: Ás vezes pode está tendo guerra ali, lá, aí aqui acabam as aulas.

P48: Muitas pessoas que moram lá embaixo podem estar dando tiroteio, aí muitos ficam com medo de sair porque pode morrer de bala perdida (...)

G6, alunas, manhã

Com relação aos motivos que levam à reprovação, a falta de interesse do próprio aluno é crucial porque além de faltarem às aulas e perderem os conteúdos ministrados ainda não se esforçam mesmo diante da postura das escolas entrevistadas de viabilizarem de todas as maneiras a aprovação dos alunos.

M: E quais são os motivos que vocês acham que leva um aluno a ser reprovado? P32: É muito difícil ser reprovado.

P29: Porque os professores que ajudam muito. M: Ajudam como?

P28: Ficam insistindo, dando trabalho, atividade com ponto. P27: Tem mesmo. O aluno não faz nada, mas...

P29: (...) Eu mesmo, ano passado eu tomei bomba mais por conta disso, eu faltava muito, eu ficava muito cansada e eu preferia dormir do que ir pra escola. Teve bagunça também. Eu não fazia nada na escola, eu ia na escola só para conversar, só para zoar. Tenho vários motivos.

G4, alunas, noite

M: Quais são as razões para tomar bomba? P11: Não estudar, não prestar atenção na aula. P9: Falta

P?: Eu tomei bomba por causa de falta, matar aula.

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O empenho dos alunos para estudar está muito relacionada a figura do professor. A relação estabelecida dentro da sala de aula depende da empática com o professor e da sua didática.

M: Me fala, quais são os motivos que um aluno tem para faltar à aula? P23: Aulas ruins.

P21: Preguiça. P22: Professor chato. P19: Alunos folgados.

G3, alunos, manhã

M: Qual outro motivo que vocês acham da reprovação?

P39: Ah, tem vez que o aluno não aguenta o professor e acaba discutindo com o professor. Depois disso aí o professor começa a pegar no pé, tipo, vai fazendo as coisas para reprovar o aluno.

M: Tem mais um motivo que vocês acham que leva o aluno a ser reprovado?

P37: Professor que não passa atividade e só fica falando. Que nem o professor lá de Geografia, só fala, fala e fala, no final da prova ninguém sabe.

G5, alunos, manhã

Quanto aos motivos que levam alunas e alunos a abandonarem a escola, muitos são similares aos relativos à faltar à aula e serem reprovados como já discutidos. Mas, também, o vício, as drogas, as más companhias, a experiência de já ter sido reprovado, que acaba sendo uma das razões para sofrer de bullying e a falta da presença familiar são importantes.

M: E os motivos para abandonar a escola, quais vocês acham que poderiam ser? P?: Vício.

P?: Drogas.

P8: Falta de interesse.

P?: Não conseguem entender a matéria, acham muito difícil e resolvem desistir de vez. P?: Eu não acho isso não. Acho que é má influências.

G1, alunas, manhã

M: E para abandonar a escola, quais são os motivos eu vocês acham? P34: Tomar duas bombas

P40: Desanima.

P39: Começa a desanimar. Porque „vai‟ vindo aí os alunos pequenos e vai ficar na sala deles?

P40: Aí os meninos sofrem bullying e falam que é nós.

G5, alunos, manhã

M: E no seu ver com relação à família, você acha que tem diferenciação em termos da família do aluno que é reprovado, a característica desse aluno?

C2: Porque, na verdade, eu ainda sim acredito que aquelas famílias que não acompanham, que não são um suporte ali, a incidência dos meninos reprovados ainda é maior, mas também acontece de famílias que dão um suporte, que dão estrutura e não obtém a resposta. Ainda sim, no geral, os alunos que são reprovados são aqueles alunos que de repente tem uma estrutura familiar mais frágil.

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Como reverter essa situação?

Para reverter tal situação todos os níveis têm papel importante. Na esfera do Estado, a necessidade de iniciativas do governo para incentivar um melhor desempenho escolar do(a) aluno(a) como, por exemplo, o programa Poupança Jovem e um programa de acompanhamento diário nas escolas do que acontece com os alunos e alunas. Além disso, o investimento em escolas que possam oferecer melhores oportunidades de aprendizado aos(as) alunos(as), assim como, uma maior atenção aos professores.

M: Acabar com a bomba. Ninguém mais vai tomar bomba, mas vamos fazer um Programa que faça com que os alunos tenham um bom desempenho. Então o que que gente vai fazer? P?: Acho que já tem o Poupança Jovem.

G1, alunas, manhã

M: E se você fosse elaborar um programa (...) que o aluno tivesse um bom desempenho e fosse uma coisa natural nas escolas, o que você acha?

C2: Um projeto de acompanhamento de um profissional específico para acompanhar isso. No dia a dia, ou (...)estar acompanhando ele e observando quais são os problemas. (...) Não estou falando só da questão da nota, mas o resgate dos problemas que ele vem sofrendo, a avalanche de coisas que acontecem na vida dele nesse período de pré-adolescência, adolescência. (...).

M: E se você fosse fazer um programa que você fosse eliminar o baixo desempenho, não vou falar bomba porque no caso do Estado evita-se o máximo ter bomba, o que você faria?

C3: Escola Integral. (...) Porque quando você faz uma coisa diferente com eles, quando você sai para uma excursão com eles, (...) dentro da escola, ou um sarau, uma festa, uma feira de cultura, eles adoram. Uma aula diferenciada eles adoram.

M: E o que você sugeria para mudar que você acha que iria funcionar?

C3: Reprovação, maior empenho do Estado, mais verba, mais comprometimento, escolas mais planejadas, um monte de coisas.

M: E em termos dos professores, você acha que deveria ter alguma mudança? Como é que seria isso?

C3: Na realidade, e isso aqui é opinião pessoal (...). O salário é tão baixo que eles trabalham dois, três turnos. Eu tenho professor que trabalha em quatro escolas. Como é que você faz? Me explica como que o professor entra na sala, qual tempo que ele vai arrumar para planejar uma aula (palavras incompreensíveis)?

A importância da postura da escola é notória. Inicialmente o melhor acompanhamento do dia-a-dia dos alunos e alunas, impondo mais disciplina aos alunos(as) e participando de forma mais ativa na vida deles. A necessidade de se ter um membro do Estado que ministre aulas para aqueles alunos(as), que normalmente, se envolvem em conflitos e perturbam muito as aulas, dificultando aqueles que querem aprender seria benéfico.

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P27: Eu acho que tinha que ter mais gente olhando nas salas se o aluno está interessado mesmo, se não tiver, tirar da escola.

P30: Ter coisas novas.

P32: Eu acho que esses alunos que não estão na escola específica, mas uma sala que tivesse alguém importante do Estado que desse aulas para eles para não atrapalhar os outros alunos. Eu acho isso errado, não ter bomba, porque se os alunos já são assim, já sabem que não dá bomba, se não tem bomba, acabou o estudo.

G4, alunas, noite

M: Gente, o que vocês acham quais são os motivos para o sucesso escolar, ter um bom desempenho escolar?

P20: Diretoria escutar mais o aluno. P22: Disciplina.

P18: Ser mais severa.

G3, alunos, manhã

M: Só uma última pergunta agora. (...) Mas você acha que tem alguma coisa que poderia ser feito ou você acha que o que está sendo feito aqui já é o bastante?

C1: Eu acho que incentivar mais e a gente tentar mais. Eu acho que a gente ainda pode tentar mais um pouco mostrar para a família. (...). Então eu acho que você tem que fazer tudo, mas dar de mão beijada também não pode acontecer, porque senão ele não vai crescer nunca, (...).

A necessidade das escolas promoverem atividades como excursões e palestras, como uma forma mais prazerosa de aprendizado são muito desejadas pelas alunas e alunos. Como se trata de uma população de alta vulnerabilidade a viabilização dessas atividades deveriam passar pelo custeio do governo. Os temas mais interessantes para as palestras são aqueles que os adolescentes vivenciam no seu dia a dia como sexualidade/gravidez, mercado de trabalho.

M: O que mais teria que ter nessa escola? P60: Professores menos ficarem faltando. P58: Menos grossos.

P61: Fazer o aluno ficar com vontade de ter aula. P64: Palestras.

P60: Excursões. Eu acho que deveria ter muitas excursões.

P61: O Governo devia cobrir também porque é caro. Eu não tenho condição de ficar pagando caro não.

G8, alunas, manhã

P9: Ter umas aulas com vídeo também.

P10: Tem que ter mais palestras na escola também. M: Que tipo de palestra, P10?

P?: Ter aula ao ar livre.

P11: Para mim tinha que ter a palestra de sexo porque as meninas estão engravidando rápido demais.

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Como já mencionado o papel dos professores em sala de aula é decisivo no processo de aprendizagem. Alunos e alunas querem aulas mais dinâmicas e interativas, com a utilização de outros meios, que não somente o quadro como, por exemplo, aulas com vídeo e aulas em salas de informática. Sem falar na necessidade de se ter material didático para todos os alunos, pois caso contrário, o acompanhamento das aulas através da cópia se torna monótona e cansativo.

M: (...) E o professor, como ele deveria ser? P54: Os professores tem que ter paciência. P56: Ter aulas mais interativas, mais divertidas. P56: Menos escrita e mais prática.

P52: Mais informática.

P54: Nós „aprenderia‟ melhor se fosse do jeito que nós „está‟ aqui. Nós „aprenderia‟ mais se fosse desse jeito aqui que copiando. Copiando nós não „aprende‟ nada não.

P56: Se já mudasse basicamente igual a gente está falando, os alunos todos seriam interessados mais na escola.

G7, alunos, manhã

M: Então vocês me falaram o motivo para poder ter um sucesso bacana na escola (...).Tem mais alguma coisa que faz o aluno ter um bom desempenho escolar?

P58: Se tivesse material direito, né? Porque livro é emprestado. Eles vêm aqui e pegam o livro, você tem 50 minutos para copiar o que você quer.(...) Quando os professores passam filme relacionado à matéria, História mesmo, eu fala dos caras lá...

G8, alunas, manhã

É importante lembrar que para que o professor possa promover aulas mais dinâmicas e interativas as escolas precisam oferecer meios para que isso possa ocorrer. E com relação à infraestrutura das escolas é necessário uma atenção maior tanto na qualidade quanto na forma de utilização do que se tem nas escolas. Em todas as escolas os adolescentes reclamaram da falta e mau uso das salas de informática, biblioteca e laboratório. Mesmo assim, em uma das coordenações a posição é de que a sala de informática é funcional.

M: E em termos do que a escola tem, o que vocês gostam na escola? P35: Só a quadra

M: É boa a quadra? P39: Não tão boa.

P37: A quadra tem buraco uns buracos desse tamanho assim. P39: A sala de vídeo acabou.

M: Porque que acabou?

P36: Porque agora é sala normal.

M: Biblioteca, vocês gostam da biblioteca. P?: Não.

P?: É o lugar que nós menos „entra‟. P?: Não devia nem ter.

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P40: Tem a sala de informática, mas lá não tem mouse.

G5, alunos manhã

P53: Olha as cadeiras, as janelas quebradas.

P54: Na minha sala consertou a luz foi hoje. Não estava funcionando. P53: Na minha nem tem.

M: Aqui tem biblioteca. Tem mais alguma coisa que vocês gostariam que tivesse? P54: Podia ter sala para informática.

P?: É, não tem.

P54: Se nem, nós não „usa‟.

P54: Tinha uns computadores aqui, mas nem tem mais. M: Laboratório tem?

P?: Tem.

P?: Eu não uso não.

P?: Tem, mas nós não „usa‟. Pelo menos eu não uso.

G7, alunos, manhã

M: E com relação à escola especificamente, questão de infraestrutura, de professores, tem alguma coisa que você gostaria de fazer?

C2: Isso aí eu confesso que a escola não deixa nada a desejar „a nível de‟ estrutura e a nível de profissionais.

C2: A sala de informática para a escola, ela funciona. Se o professor quiser fazer uma atividade na sala de informática ela funciona, mas ainda é pouco pela demanda do número de alunos que tem. (...)

M: Especificamente na sua escola você acha que deveria mudar alguma coisa para poder ajudar esses meninos a ter um bom desempenho?

C4: Uma adequação visando maior participação deles(...)

M: De infraestrutura você acha que teria alguma coisa que poderia melhorar? C4: A questão mesmo da adequação dessa tecnologia que eu estou falando. M: Então seria ter a sala de informática? Vocês tem sala de informática aqui?

C4: Tem, mas eu nem sei quantos computadores tem funcionando. A professora de Tecnologia da Informação, ela já foi lá, já olhou, e ela falou: “C4, eu tenho condições de atender, acho que quatro meninos ou cinco de cada vez”. É pouco.

Para reverter o quadro que leva os(as) alunos(as) a faltarem às aulas, a reprovação e o abandono escolar precisa também das famílias e dos próprios alunos. A educação iniciada no ceio familiar desde a primeira infância, o acompanhamento, dando apoio, incentivando, cobrando, participando de reuniões, apesar dessa fase escolar ter menor impacto quando comparado ao EF, ainda sim, é importante, pois quando priorizada na fase inicial escolar os resultados tendem a permanecer nos ciclos futuros.

M: E o quê que vocês acham que uma família pode ajudar para ter um estímulo maior para o seu filho ter sucesso escolar?

P7: Educar desde pequeno. Agora eu acho que não adianta mais não. P8: Não deixar jogado.

P?: Tem que estar participando da vida escolar do filho.

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P2: Reunião de pais.

P3: Ela faz muita reunião, só que os que precisam mesmo vir não vem.

G1, alunas, manhã

M: Como que a família deve ser para o aluno ter um bom desempenho e acabar com esse negócio de bomba?

P56: Deve ser presente, tem que pegar no pé mesmo. P52: Tem que ficar no pé.

P50: Todo dia pedi o caderno para ver. P?: Tem que estar ali todo dia pai e mãe.

G7, alunos, manhã

M: E tem relação a presença dos pais com os alunos que são mais produtivos ou não?

C2: (...) Vamos usar um termômetro a reunião de pais. (...) os pais que estão na reunião, são dos alunos bons. Aqueles que realmente a gente precisa que venha para a gente conversar, para a gente pontuar alguma coisa, eles acabam não vindo. Só vem quando solicitado, quando o filho acaba sendo reprovado ou alguma situação específica na escola.

M: E para você qual que seria o perfil ideal para o aluno ter um sucesso escolar, um desempenho escolar?

C2: Empenho. Porque, como eu falei, o professor está aí, ajuda, facilita, instrui, mais do que facilitar, ele mostra o caminho, está lá para mostrar todo aquilo que ele tem. (...) Então o aluno que busca, que empenha, que valoriza a questão do estudo é o aluno que vai obter sucesso.

M: E a família desse aluno, como é que você acha que deveria se portar?

C2: Elas ainda acompanham, mas eu acho que elas poderiam acompanhar mais. (...). Seria na questão tanto da escola específica quanto da questão de mostrar também em casa, fora de casa a questão da valorização do estudo, que é um bom caminho, conversar e perguntar da questão da vontade de fazer uma faculdade, de crescer; (...) Unir a questão do trabalho e do estudo, não deixar só um ou outro. Acho que os dois são saudáveis. Em primeiro lugar o estudo: “Vamos estudar, você vai ter a vida inteira para trabalhar”.

O aluno não é apenas o agente passivo nesse processo é também ator ativo, pois o “querer” ter sucesso na vida escolar é o que irá motivá-lo a se dedicar aos estudos.

M: E o quê que precisa para ser um bom aluno? P15: Dedicação. Muita dedicação.

P13: Calar a boca dentro de sala e prestar atenção.

G2, alunos, noite

M: Quais são os estímulos ou quais são os motivos que levam o aluno a ter sucesso na escola, a ter um bom desempenho, tirar nota boa?

P35: Família, né.

P39: A família apoia o menino a estudar. (...) M: E o aluno?

P39: Tem que estudar, fazer as coisas aí.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Infrequência, reprovação e abandono escolar são problemas vivenciados dentro das escolas e quando em escolas públicas da REE de municípios como o de RN, cuja população apresenta alta vulnerabilidade social a situação é ainda mais complicada.

Os motivos para os problemas com infrequência escolar, reprovação e abandono da escolar são vistos tanto pelas alunas e alunos, quanto pelas coordenações das escolas de forma parecida e passam pela falta de interesse dos alunos, falta de participação das famílias, trabalho, gravidez e dificuldade de transporte, bullying, o cansaço, aulas chatas e ruins, professores chatos e a violência.

Para a reversão desse quadro as visões de ambos atores alunas/alunos e coordenações também são similares e apontam para a necessidade de atitudes das várias esferas que fazem parte do universo escolar, ou seja, o Estado, as escolas, os professores, as famílias e os próprios alunos. Sendo uma população com vulnerabilidade social, na qual o aporte das famílias costuma ser menor, como é o caso de tantos outros municípios mineiros e brasileiros, o Estado e a escola têm que reforçar sua atuação, a fim de que o desempenho escolar não seja prejudicado. Sem que a escola seja, de fato, uma prioridade para o Estado, dificilmente ela será prioridade para alunos, alunas e suas famílias. Sem que a escola seja, de fato, uma prioridade para o Estado, dificilmente ela será prioridade para alunos, alunas e suas famílias.

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