• Nenhum resultado encontrado

Indicações sobre os impactos populacionais do Parque Nacional Vale do Peruaçu

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Indicações sobre os impactos populacionais do Parque Nacional Vale do Peruaçu"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

Indicações sobre os impactos populacionais do Parque Nacional Vale do Peruaçu

Autor: Vivian Mendes Hermano*

Resumo

Este estudo busca apresentar os resultados da investigação acerca da população e do meio ambiente no Fabião 1, comunidade próxima ao Parque Nacional Vale do Peruaçu (PNVP). O objetivo central é compreender quais as expectativas e as opiniões dos moradores do local em relação ao funcionamento dessa área de preservação, bem como a interação dessa comunidade com o surgimento do turismo e de outras atividades que modificam, pelo menos em parte, a realidade social. Essa população é e foi diretamente atingida pelo PNVP, convivendo com possíveis impactos positivos e negativos.A relevância da pesquisa resulta da ênfase na análise local da relação entre população e meio ambiente, em área que abrange o ambiente cárstico. O trabalho se divide nas etapas: teórica, prática e discussão dos resultados. No primeiro momento, desenvolveu-se o aprofundamento teórico e a caracterização geral da região, a partir do ambiente cárstico. Nessa primeira fase, busca-se apresentar as características mais gerais do PNVP, e investigou-se também qual abordagem populacional o projeto de conservação previa.Após o levantamento bibliográfico, na etapa dois, elaborou-se um questionário com 16 perguntas subdivididas em três níveis de abordagem: identificação, qualidade de vida e relação da população com o meio ambiente no PNVP.No terceiro momento, a discussão dos resultados, busca-se desenvolver uma caracterização demográfica,identificando diferentes realidades econômicas e sociais, bem como os distintos significados e representações do parque para a população. O objetivo é indicar condições sociais gerais e representar, em certa medida, os sentimentos, as opiniões e as expectativas da população. Os resultados indicam que, de forma geral, o principal benefício do parque para a população do Fabião 1 é a geração de renda, pelo fortalecimento da atividade turística; já os pontos negativos se referem à restrição do uso ambiental e às consequências típicas da atividade turística.

Palavras-chave: população, meio ambiente, Fabião 1.

Introdução

No Brasil, pela extensão e pelas especificidades de seu território, a questão ambiental e suas relações com a população têm lugar de destaque. Tais interações são evidentes e, certamente, tão antigas quanto essa associação, que se refere aos aparatos de poder capazes de estruturar sociedades simples ou complexas em suas múltiplas e conflituosas clivagens territoriais. Como totalidade complexa resultante da interação de dimensões físicas, bióticas e antrópicas, a realidade socioambiental *Professora Titular da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), hermanovivian@gmail.com

(2)

se coloca como desafio a todas as áreas que almejam compreendê-la, fato que não é diferente da Demografia.

Nesse contexto, este estudo busca apresentar os resultados da investigação acerca da população e do meio ambiente no Fabião, comunidade próxima ao Parque Nacional Vale do Peruaçu (PNVP). O objetivo central é compreender quais as expectativas e as opiniões dos moradores do local em relação ao funcionamento dessa área de preservação, bem como a interação dessa comunidade com o surgimento do turismo e de outras atividades que modificam, pelo menos em parte,a realidade social. Essa população é e foi diretamente atingida pelo PNVP, convivendo com possíveis impactos positivos e negativos.

A relevância da pesquisa resulta da ênfase na análise local da relação entre população e meio ambiente, em área que abrange oambiente cárstico (áreas de formação de cavernas), possibilitando evidenciar as opiniões e as expectativas das pessoas, fato constantementenegligenciado nos grandes projetos de preservação, em especial nos casos brasileiros. Outra contribuição se dá no desenvolvimento de estudos socioambientais no contexto da Demografia, ciência que pode contribuir de forma preponderante nessa discussão, tão relevante na atualidade.

O texto está organização em seções que se ordenam do aspecto mais abrangente ao mais específico,de forma a apresentar uma sequência investigativa que busque refletir sobre uma realidade local.

Contextualização teórica sobre a relação entre população e meio ambiente

Estarevisão tem como meta apresentar uma breve discussão acerca da evolução da temática população e meio ambiente. Uma pesquisa detalhada, do ponto de vista teórico, é o trabalho de Matos (2012),que destaca os problemas epistemológicos existentes na tarefa de refletir sobre a questão socioambiental, demandando campos de conhecimento como os da economia, da geografia, da sociologia e da cultura. Apesar de ser uma tarefa complexa, segundo esse autor, “algumas intercessões resultantes da observação direta e do exame da literatura podem trazer ganhos teóricospouco explorados”(Matos, 2012, p. 458).

De forma geral, ateia histórica da discussão entre população e o ambiente tem sido marcada pela abordagem que salienta a relação entre volume populacional

(3)

e a disponibilidade de recursos ambientais. Martine e Alves (2015, p. 435) destacam que um dos precursores na consideração da relação entre população, desenvolvimento e ambiente foi “John Stuart Mill (1806-1873), que publicou o livro Princípios de economia política, em 1848”. Para esses estudiosos, Mill foi inovador, ao ver, de maneira afirmativa, o fim do crescimento e da competição econômica desenfreada e ao defender a natureza.

Martine e Alves (2015)consideraram que, no século XX, o autor mais representativo foi Paul R. Ehrlich,que lançou o livro “A bomba populacional”, em 1968, um dos percussores da visão quantitativa da relação entre população e meio ambiente. O ecologista defendeu uma visão baseada nos seus conhecimentos sobre os limites de ecossistemas naturais, acreditando que qualquer espécie que se multiplicasse excessivamente seria fadada à miséria, ou mesmo à extinção. “O autor misturou propostas malthusianas, comoo controle por aumento das taxas de mortalidade, e neomalthusianas, comoocontrole por meio da redução das taxas de fecundidade”(Martine e Alves, 2015, p. 437).

Cavalcante (2012) afirma que, nesse período, o catastrofismo ganhou o mundo. Acreditava-se que, se o crescimento não fosse contido, a natureza incumbir-se-ia de fazê-lo por meio da escassez de terras, da insuficiência de alimentos, da fome, de enfermidades, mortes e guerras.Nesse cenário, o autor supracitado destaca que convulsões sociais, epidemias, violência e colapso dos serviços públicos são o que se espera das áreas de explosão demográfica.

Martine e Alves (2015) ressaltamque, no século XXl, o demógrafo e economista David Lam publicou um trabalho, em 2011, no qual fazia uma crítica ao pessimismo de Malthus e de Ehrlich,defendendo basicamente a ideia de que “o progresso extraordinário observado durante os últimos 50 anos demonstrava a capacidadehumana para lidar com os desafios futuros”(Martine e Alves, 2015, p. 439).Essa visão, que se contrapunha à anterior, abriu a possibilidade de se abordar a relação entre população e meio ambiente sob outro prisma, nesse caso, sob uma abordagem positivista.

Apesar da grande rivalidade entre o debate pessimista e o positivista, ainda bastante presente, os poucos estudiosos dessas áreas buscam apresentar relações atuais. Martine e Alves(2015) ressaltam que, em 2013,realizou-se a XXVII Conferência da International Union for the Scientific Study of Population(IUSSP), que teve como foco analisar o papel dos países em desenvolvimento na promoção

(4)

da sustentabilidade, posto que, no período atual, a pressão ambiental recai mais fortemente nessa categoria, já que os desenvolvidos ou modernizaram ou transferiram seus parques industriais, e os países pobres enfrentam questões estruturais mais profundas, desviando a atenção do tema socioambiental.

Martine e Alves (2015) ressaltam que, em uma das principais plenárias, debateu-se sobre esses pontos em relação aos países em desenvolvimento, cujocrescimento econômico precisa ser uma prioridade maior do que a proteção ao ambiente e a conservação dos recursos naturais. Martine e Alves (2015, p. 440) afirmam que “a comunidade demográfica internacional estava dividida entre uma perspectiva mais desenvolvimentista e outra mais ecológica, ao mesmo tempo que a pressão população recurso aumenta”.

Entretanto, o ritmo de depleção dos recursos naturais que sustentam esse crescimento, juntamente com o agravamento dos riscos ambientais, limita a possibilidade de extensão dos benefícios do desenvolvimento a toda a crescente população mundial; assim, essa é uma equação necessariamente inexata. Nesse contexto, o debate socioambiental, de certa forma, apresenta poucos avanços. Pautadas em visões tradicionalmente dualistas (os pessimistas e os positivistas), as ciências sociais, em especial a Demografia, têm amplo caminho a ser percorrido.

A dinâmica demográfica figura de maneira importante na acentuação e na resolução dodilema socioambiental. É justamente na interseção entre o crescimento do consumo e as limitações ambientais do crescimento econômico que está baseada aconstante e a crescente desigualdade.

Essa temática deve ser posicionada em relação a sua importância social e política; todavia, estudos que buscam vislumbrar pelo menos uma parte da questão possuem grandes dificuldades metodológicas, o que ressalta a relevância das pesquisas locais como possibilidade de ampliação de formação de conhecimento nessa área.

Para Hogan (2001, p. 457), um grande problema metodológico nos estudos de população e do ambiente refere-se à unidade de análise, pois raramente os dados populacionais são comparáveis a dados ambientais, em termos da unidade geográfica empregada. Matos (2012) destaca que os dados sobre a dinâmica demográfica estão relacionados a escalas espaciais e temporais circunscritas pela administração pública, obedecendo a limites político-administrativos, como municípios, estados, países.

(5)

Fica claro que os processos ambientais não obedecem a limites políticos e econômicos; são caracterizados por dinâmicas que interagem em escalas espaciais e temporais específicas. Nesse contexto, é mister destacar a relevância dos estudos de caso específicos e pontualmente localizados no desvelamento de diferentes possibilidades de interação entre a sociedade e os sistemas ambientais.

Metodologia

Desenvolver um estudo que busque compreender a relação entre população e meio ambiente não é tarefa fácil, isto porque esse tipo de análise envolve duas esferas da realidade que, embora estejam estreitamente interligadas, geralmente são abordadas de maneira estanque. Apesar dos desafios metodológicos intrínsecos,a pesquisa busca compreender esse tipo de interação.

O trabalho é divido em etapas: teórica, prática e discussão dos resultados.No primeiro momento,desenvolveu-se oaprofundamento teórico e a caracterização geral da região, a partir do ambiente cárstico, paisagem exuberante na qual está inserido o objeto de análise. Na primeira etapa, buscou-seapresentar as características mais gerais do PNVP, e investigou-se também qual abordagem populacional o projeto de conservação previa.

Após o levantamento bibliográfico, elaborou-se um questionário com 16 perguntas subdivididas em três níveis de abordagem: identificação, qualidade de vida e relação da população com omeio ambiente no PNVP.Naetapa seguinte, foi realizada pesquisa de campo para a aplicação de questionários, sendo entrevistadas nove famílias que residiam em pontos geográficos diferentes do Fabião 1. A equipe de trabalho foi composta por discentes do segundo semestre de 2017, da disciplina de Demografia, da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES).

Na discussão dos resultados buscou-se desenvolver uma caracterização demográfica identificando diferentes realidades econômicas e sociais, bem como distintos significados e representações do parque para a população.É importante destacar que os resultados apresentados buscam sintetizar, sob uma abordagem quantitativa e qualitativa, elementos sociaisde ampla complexidade (educação, saúde, comunicação) que não foram analisados em sua profundidade. O objetivo foi indicar condições sociais gerais e representar, em certa medida, os sentimentos, as opiniões e as expectativas da população.

(6)

Resultados e discussão

O PNVP, segundo Lima (2008, p. 208), devido à grande importância ambiental da região, “faz parte do mosaico de um Mosaico; localiza-se no noroeste do Estado de Minas Gerais, margem esquerda do rio São Francisco, e abrange cinco unidades de conservação”.Estas são: o Parque Estadual da Mata Seca, a Reserva Indígena Xacriabá,o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, aÁrea de Proteção Ambiental do Peruaçu eo Parque Estadual Veredas do Peruaçu.

O PNVP está localizado no domínio cárstico.Segundo Travassos (2013, p.4), “a geomorfologia cárstica é definida pela presença da dissolução rochosa e erosão mecânica, típico de ambientais tropicais”. Nesse domínio, a geomorfologia da superfície, da subsuperfície e a hidrologia são dominadas largamente pela dissolução do carbonato de cálcio.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2011), o sistema cárstico compreende, em linhas gerais, o ambiente externo, denominado por alguns como exocarste (ou simplesmente carste superficial), marcado por formas superficiais geradas primordialmente pelo ataque químico de águas meteóricas, e o domínio subterrâneo (endocarste ou carste subterrâneo), representado por cavidades subterrâneas geradas pela dissolução por águas subterrâneas de origem diversa. Essas feições podem ser descritas da seguinte forma:

Sumidouros e surgências marcam o local onde um rio superficial desaparece na rocha ou surge sob forma de nascente. Já as cavernas são apenas mais uma entre várias feições cársticas, um conduto subterrâneo que transporta a água que se infiltra através de dolinas ou sumidouros.Dolinas estão entre as formas cársticas mais comuns, consistem em depressões no terreno por vezes suaves, por vezes abruptas;podem ser formadas pela lenta dissolução de uma fratura, levando ao rebaixamento da superfície da rocha, ou mesmo pelo desmoronamento deuma caverna. (MMA, 2011, p.14).

Piló e Rubbioli (2002,p.454), em pesquisa realizada na região, destacam que os depósitos químicos das cavernas do PNVP“apresentam uma grande variedade e abundância. Destacam-se as gigantescas estalactites e estalagmites do Janelão,

(7)

além das pérolas de caverna”. Segundo esses autores, na gruta Bonita ocorrem helictites, cascatas e canudos de refresco. Represas de travertinos e colunas podem ser identificadas nas grutas Carlúcio, Índios e Desenhos. Capas estalagmíticas ocorrem, ocasionalmente, nas grutas Cavalos, Desenhos, Amores e Brechas.Enfim, para qualquer visitante, esse local apresenta belezas memoráveis.

A paisagem da região, por suas belezas e características especiais, nunca esteve isolada do contato populacional. Na pesquisa bibliográfica empreendida, diagnosticou-se que o aspecto populacional basicamente não é mencionado na maior parte dos trabalhos.

No que se refere a esse tema, em especial naquelas comunidades localizadas próximasàs áreas de preservação, expõe Lima (2008, p.215): “o mosaico Sertão Veredas-Peruaçu em sua implementação previa a estruturação de quatro eixos fundamentais de atuação populacional: mobilização, informação, organização e capacitação”. Fato que sugere que, no planejamento e na instauração do parque PNVP, houve a iniciativa dese considerar a questão socioambiental. A seguir mapa de localização da área de estudo.

(8)

O mapa destaca a área do PNVP e o local da pesquisa. Uma das investigações mais completas é a de Mungai (2008),que realizou um estudo detalhado sobre as potencialidades e os possíveis impactos das áreas de preservação para a população local, o objetivo da pesquisa foi tentar identificar a expectativados distintos grupos consultados. Segundo essa autora, as comunidades de Fabião 1 (Januária) e Fabião 2 (Itacarambi) são a porta de entrada do Parque e, por tal condição, já são alvos de projetos ligados à utilização turística da região.

Os moradores das duas comunidades possuem duas visões distintas relacionadas ao Parque e, a partir de suas declarações, é possível refletir sobre quais espaços estão sendo criados no seu imaginário. De um lado encontra-se um grupo que entende as unidades de conservação e suas normas como um atraso para a região, já que não podem mais investir na atividade de agricultura e pecuária. Outro grupo convive com a expectativa de abertura do Parque, acredita que o interesse pelo Peruaçu irá trazer um grande número de visitantes, a possibilidade de empregos (como guia do parque, por exemplo) e, consequentemente, melhorias na qualidade de vida, já que a renda dessas famílias é pequena pela falta de oportunidades. (Mungai, 2008, p. 138).

Segundo a pesquisadora, o PNVP atraiu muitos olhares, expectativas e interesses no momento de sua abertura e das transformações que dela decorreram. A seguir, destaca-se a opinião da comunidade no período de 2008, antes da abertura e do funcionamento pleno do parque.

Quadro 1: principais inquietações, segundo diferentes segmentos sociais, em relação ao que se configura como PNVP

SUJEITOS INTERESSES REPRESENTAÇÕES CONFLITOS Moradores do entorno do PNVP que detêm expectativas “positivas” em face à abertura do Parque. Alternativas de auferir rendas com outras

atividades. Lucrar com a possibilidade do turismo. Trabalhar

como guias locais.

Apesar de vislumbrarem o turismo, declaram mais

incertezas quanto às expectativas criadas com a

abertura.

Incompatibilidade de usos: proteger e viver em

um lugar que a maioria valoriza para outras finalidades que não necessariamente o

turismo. Moradores do

entorno do PNVP que não acreditam

na abertura do Parque. Permanecer como estão. Descrença em face à abertura real do PNVP. A

UC não representa nada além de promessas. A falta de entendimento do que é o Parque e a falta de diálogo, explicando a morosidade de sua abertura. Fonte: Mungai 2008, p.125.

(9)

O levantamento indicou que o maior conflito verificado em relação ao PNVP diz respeito à falta de entendimento do que a unidade de conservação representa, e quais as possibilidades essa mudança de gestãoterritorial iria refletir na vida das pessoas. Do ponto de vista positivo, a maior expectativa estava na geração de emprego e renda, que a atividade turística podia oferecer.

Após dez anos, e com o parque em pleno funcionamento, apresentam-se os resultados da pesquisa de campo realizada no mês de janeiro de 2018, indicando a realidade do quadro mais atual. No grupo entrevistado, 55% é do sexo feminino, e 45%, do masculino, sendo que a maior parte da população se ocupa com atividades ligadas ao serviço público, aposentaria e prestação de serviço de baixa qualificação.78% dos entrevistados são naturais do Fabião 1;intermediariamente, as famílias são compostas por cinco membros, com renda média de um a três salários mínimos.

No quadro dois,apresenta-se uma síntese daopinião dos entrevistados em relaçãoàqualidade de vida da população, após ofuncionamento da área de preservação.

Quadro 2: Opinião da população do Fabião 1 sobre a qualidade de vida após a implementação do PNVP

Estrutura social Sim (%)

Não (%) Acesso à saúde 78 22 Acesso à água e à fossa 100 Acessoà educação 100 Dificuldade com a educação 56 44 Acesso à energia elétrica 100 Acesso à comunicação 100 Acesso ao transporte 100 Acesso ao lazer 56 44 Existência de problemas sociais 22 78

Fonte: Dados da pesquisa.

Em geral, a população afirma possuir infraestrutura básica de saúde, educação e transporte. A comunicação e a acessibilidade, talvez por influência do parque, melhoraram. Em relação à violência social, típica de áreas pobres, onde ocorre oaumento do fluxo de pessoas, no caso do Fabião 1, ocorre devido ao turismo;os entrevistados (22%) que declaram a existência da violência afirmam que o “único problema que temos é o uso de drogas”.

No tocante à questão da relação da população com o meio ambiente antes do PNVP, essa interação éapresentada emtrês categorias ambientais:o rio, a vegetação

(10)

e a caverna (principal atrativo do parque); já a intensidade da interação é representada nos níveis forte,razoável e fraca. Os resultados são apresentados no gráfico um.

Gráfico1: Intensidade da relação da população do Fabião 1 com três categorias ambientais.

Fonte: Dados da pesquisa.

A pesquisa de opinião indicou que a população possuía relações mais intensas com o rio ecom a vegetação; de uma certa forma, as cavernas não eram elemento fortemente presente na vida social. Uma das possíveis causas desse fato é que a maior parte da comunidade tinha ou tem como meio de vida atividades rurais, e estas não estão ligadas diretamente à caverna; já o rio e a vegetação ofertavam maiores elementos de sustento.

Quando questionados sobre a relação das pessoas com essascategorias ambientais depois da implementação do PNVP,99,0 % dos entrevistados afirmaram que essa relação se manteve. Assim, a intensidade da relação da população do Fabião 1 com o meio ambiente (rio, vegetação e caverna) permanece estável.

A população entrevistada foi interrogada sobre os impactos positivos e negativos da implementação do PNVP, e a síntese das repostas é representada no quadro três.

Rio Vegetação Caverna

Forte Razoável Fraca

(11)

Quadro 3: Opinião da população sobre os pontos positivos e negativos da implementação do PNVP

Positivos Negativos

-Bom para os comerciantes, depois que estiver funcionando por completo.

-Ajuda muitoo lugar, porque os turistas comem e gastam.

-Porque preserva o parque, beneficiado economicamente.

-Contribui para a renda da comunidade.

-Tem muito conflito em relação a conquista do turista.

-A comunidade não tem livre acesso ao parque; antes, eram agricultores, e agora está tudo proibido.

-O parque ser fechado para a comunidade. -Difícil acesso ao trabalho; falta de oportunidades para as pessoas do lugar; chegada da violência.

Fonte: Dados da pesquisa.

Ao compararmos o levantamento atual com a pesquisa de Mungai (2008), observa-se que a expectativa da população local em relação ao parque, tanto as positivas quanto as negativas, materializou-se, já que, de um lado, o turismo realmente gerou novaspossibilidades de renda e de trabalho, mas, por outro,restringiu a acessibilidade das pessoas em usufruir os elementos ambientais da forma tradicional, além da geração de certotipo de violência.

Segundo as opiniões coletadas, de forma geral, o principal benefício do parque para a população do Fabião 1 é a geração de renda, pelo fortalecimento da atividade turística; os pontos negativos se referem à restrição do uso ambientale das consequências típicas da atividade turística.Em geral, o nível da intensidade da relação entre população e meio ambiente se mantém estável, mas aspectos culturais, econômicos e especialmente do mercado de trabalho sofrem constantes transformações, devido ao aumento do fluxo populacional, gerando impacto na vida social local.

Considerações finais

As discussões indicam quea sustentabilidade social é componente crítico da sustentabilidade global. Embora o crescimento econômico tenha melhorado as

(12)

condições de vida de bilhões de pessoas, seus frutos têm sido distribuídos de forma crescentemente desigual. A globalização massificou esse processo que se estendeu rapidamente.

Este estudo demográfico local permitiu compreender de forma razoável como a comunidade mais próxima a uma área de preservação foi impactada pelo processo de preservação. Os resultados apontam para uma dualidade de resultados que reporta à antiga dicotomia (positivista e negativista) dessa temática, reafirmando velhos problemas do sistema sócio ambiental.

Do ponto de vista do capital natural é indubitável a necessidade de restrição do uso de uma paisagem exuberante e singular. Todavia, sob ótica do capital humano, a gestão territorial gera impactos negativos, ao excluir ou pouco se esforçar, no processo de inclusão de toda população local.

Referências:

COHEN, B. Urbanization in developing countries: current trends, future projections, and keychallenges for sustainability.Elsevier, New York, v. 28, n. 1-2, 2006, p. 63-80.

HOGAN, D. J. Indicadores sócio-demográficos de sustentabilidade. In: HOGAN, D.; GAMA, R. G. Usos da água, gestão de recursos hídricos e complexidades

históricas no Brasil:estudo sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. 105f.

Dissertação (Mestrado), Escola Nacional deCiências Estatísticas, Rio de Janeiro.

2009. Disponível em:

http://www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/images/abook/pdf/. Acesso em: 04 jan. 2018.

MARTINE, G. O lugar do espaço na equação população/meio-ambiente. Revista

Brasileira de Estudos de População. Rio de Janeiro: ABEP,v.24, n.2, p. 181-190,

2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v24n2/01. Acesso em: 14 set. 2016.

(13)

MATOS, Rafos. População, recursos naturais e poder territorializado:uma perspectiva teórica supratemporal. Revista Brasileira de Estudos de População. Rio de Janeiro: ABEP, v. 29, n. 2, p. 451-476, 2012. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rbepop/v29n2/a13v29n2.pdf . Acesso em: 24 set. 2016.

MINISTÉRIO do Meio Ambiente. III Curso de espeleologia e licenciamento

ambiental. Disponível

em:http://www.icmbio.gov.br/cecav/images/stories/downloads/IV_Curso_de_Espeleol

ogia_e_Licenciamento_Ambiental.pdf. Acesso em: 25 ago. 2015.

TRAVASSOS, Luiz Eduardo Panisset.Noções de carstologia. Apresentação de Power point. s/d. Disponibilizado em 19 jun. 2013.

MARTINE, G. ALVES, J.E.D.Economia, sociedade e meio ambiente no século.Revista Brasileira de Estudos Populacionais. Rio de Janeiro, v.32, n.3, p.433-460, 2015. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rbepop/2015nahead/0102-3098-rbepop-S0102-3098201500000027P.pdf. Acesso em: 13 dez. 2017.

CAVALCANTI, C. Sustentabilidade: mantra ou escolha moral? Uma abordagem ecológico-econômica. Estudos Avançados, São Paulo, v. 26, n. 74, p. 35-50, 2012. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142012000100004. Acesso em: 04 out. 2017.

LIMA, Nilo. Conservação no Cerrado, território, política pública.2008. 316 f.Tese de Doutorado (Programa de Pós-graduação emGeografia Humana), Departamentode Geografia da Faculdade deFilosofia, Letras e Ciências Humanasda

Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-12112009-164018/pt-br.php.

Acesso em: 29 fev. 2018.

PILÓ,Luís B;RUBBIOLI, Ezio. Cavernas do Vale do Rio Peruaçu (Januária e Itacarambi), MG. Obra-prima de carste brasileiro. In: SCHOBBENHAUS, Campos D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. Sítios geológicos e

(14)

Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP). Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil.Brasília:

DNPM, 2002. 554 p. p 453- 460. Disponível em:

http://sigep.cprm.gov.br/sitio017/sitio017.pdf. Acesso em: 04 jan. 2018.

MUNGAI, MARIANA França. Mosaico de interesses, representações e conflitos: o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu – MG. 2008. 201 f. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Geografia), Instituto de Geociências da Universidade Federal

de Minas Gerais, Belo Horizonte. Disponível em:

file:///C:/Users/casa/Downloads/mariana_mungai_disserta_ao_final.pdf. Acesso em:

25 fev. 2018.

GARCIA, Yunaisi. Plano de intervenção para redução da hipertensão arterial na

área de abrangência da equipe de saúde da família Fabião 1 do município de Januária, Minas Gerais. 2016. 46 f.Trabalho de Conclusão (Curso de

Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família), Universidade Federal de

Minas Gerais, Januária, Minas Gerais. Disponível em:

https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/Plano_interven%C3%A7ao

_para_redu%C3%A7ao_da_hipertensao_arterial_area_ESF.Fabiao.pdf. Acesso em:

24 fev. 2018.

DIAS, J.; SANTOS, L. A paisagem e o geossistema como possibilidade de leitura da expressão do espaço sócio-ambiental rural. Confins, Paris, França, n. 1, 2º

semestre 2007,p 1-9. Disponível

em:http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema1/nathalia. Acesso em: 04 fev.

Referências

Documentos relacionados

A partir da junção da proposta teórica de Frank Esser (ESSER apud ZIPSER, 2002) e Christiane Nord (1991), passamos, então, a considerar o texto jornalístico como

Desta forma, é de grande importância a realização de testes verificando a segurança de extratos vegetais de plantas como Manjerona (Origanum majorana) e Romã

3 Caliente aceite en un wok o una sartén, ponga en él la carne y dórela a fuego vivo unos 2 minutos sin dejar de remover.Añada la pasta de curry y mézclela bien; incorpore luego

Tendo em consideração que os valores de temperatura mensal média têm vindo a diminuir entre o ano 2005 e o ano 2016 (conforme visível no gráfico anterior), será razoável e

Modeladora  –   Equipamento profissional para indústria alimentícia destinado à. modelar massas pela sua passagem entre

Os objetivos específicos são: discutir a construção do trabalho do psicanalista no campo da política socioassistencial; propor uma formalização teórico-prática para este trabalho

Para a elaboração do trabalho foram realizadas as etapas de revisão bibliográfica sobre a temática do patrimônio geológico e geomorfológico em âmbito

Este estudo foi conduzido na propriedade rural denominada Fazenda Lago Verde, município de Lagoa da Confusão-TO, e teve como objetivos caracterizar a composição florística e a