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A natureza do padrão de reprodução do capital no Brasil entre os anos de 1990 e 2010

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA MESTRADO E DOUTORADO EM ECONOMIA

MAURÍCIO BEIRÃO DA ROCHA OLIVEIRA

A NATUREZA DO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 1990 E 2010

SALVADOR 2017

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MAURÍCIO BEIRÃO DA ROCHA OLIVEIRA

A NATUREZA DO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 1990 E 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia.

Área de concentração: Desenvolvimento Econômico Orientação: Prof. Dr. Paulo Antonio de Freitas Balanco

SALVADOR 2017

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O148 Oliveira, Maurício Beirão da Rocha

A natureza do padrão de reprodução do capital no Brasil entre os anos de 1990 e 2010/ Maurício Beirão da Rocha Oliveira. – Salvador, 2017.

149 f.; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Economia. Orientador: Prof. Dr. Paulo Antônio de Freitas Balanco.

1. Economia - Brasil. 2. Capitalismo. 3. Teoria da dependência. 4. Capital – reprodução. I. Universidade Federal da Bahia. II. Balanco, Paulo Antônio de Freitas. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

À Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia. Ao meu orientador Prof. Paulo Antonio de Freitas Balanco pelo nosso trabalho conjunto. Ao Prof. João Damásio de Oliveira Filho, que me acompanhou em minhas atividades de tirocínio docente. Aos Professores Luis Antonio Mattos Filgueiras e Gilca Garcia de Oliveira. Aos servidores técnico-administrativos do Programa de Pós-Graduação em Economia, especialmente Max Nogueira e Marina Ribeiro Jacobina. Aos funcionários terceirizados da FCE. Aos companheiros de estudo e vivência. Ao povo da Bahia.

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RESUMO

Este estudo tem por objetivo analisar o padrão de reprodução da economia brasileira no período 1990-2010. Apoiado no conceito de padrão de reprodução do capital, um componente do processo histórico de desenvolvimento do modo de produção capitalista, a partir de uma visão de totalidade, que inclui a conjuntura da luta de classes e o conceito de bloco no poder, visa identificar e interpretar as transformações experimentadas pela economia brasileira no período acima mencionado. Conclui-se que as transformações estruturais ocorridas acirraram as contradições que são próprias das economias dependentes, as quais se manifestam por meio de insuficiências e deformações que romperam com a tendência iniciada com o processo de industrialização, o que pode ser exemplificado nas tendências à crise do setor industrial, na nova reorganização do bloco no poder, nas mudanças na pauta exportadora, na persistência do desemprego e no acirramento da questão social nesses anos.

Palavras-chave: Dependência. Economia Brasileira. Padrão de reprodução do capital. Capitalismo contemporâneo.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the reproduction pattern of the Brazilian economy in the period 1990-2010. It is based on the concept of the pattern of reproduction of capital, a component of the historical process of development of the capitalist mode of production, from a vision of totality. This includes the conjuncture of the class struggle and the concept of a bloc in power. Thus, the study aims to identify and interpret the transformations experienced by the Brazilian economy in the period mentioned above. It is concluded that the structural transformations that have occurred have intensified the contradictions that are characteristic of the dependent economies, which are manifested through insufficiencies and deformations that have broken with the trend that begun with the industrialization process, which can be exemplified in the tendencies to the crisis, of the new reorganization of the bloc in power, the changes in the export agenda, the persistence of unemployment and the intensification of the social question in those years.

Key words: Dependence. Brazilian Economy. Pattern of reproduction of capital. Contemporary capitalism.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9 2 A TEORIA DO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA AMÉRICA LATINA 17 2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO E CONJUNTURAL DE ONDE SURGIU A TEORIA DA DEPENDÊNCIA 17 2.2 A TEORIA DE RUY MAURO MARINI 23 2.3 A NOÇÃO DE PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA AMÉRICA LATINA NA TEORIA MARXISTA DA DEPENDÊNCIA 28 3 AS CONTRIBUIÇÕES DE JAIME OSÓRIO AOS ESTUDOS MARXISTAS SOBRE A DEPENDÊNCIA 31 3.1 PADRÃO EXPORTADOR DE ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA: A ANÁLISE MARXISTA DA DEPENDÊNCIA LATINO-AMERICANA 33 4 NOVO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA AMÉRICA LATINA: UMA ANÁLISE CONCEITUAL E METODOLÓGICA 43 5 A REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA ECONOMIA BRASILEIRA (1990-2010): UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 77 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O NOVO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NO BRASIL 113 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 134 REFERÊNCIAS 139

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1 INTRODUÇÃO1

A expansão do capital é determinada pelo processo histórico de desenvolvimento do modo de produção capitalista em sua totalidade, o que na concretude corresponde ao processo de rompimento com formações socioeconômicas tradicionais. Essa expansão do centro a periferia correspondeu a um processo particular de reprodução do capital, visto que as economias latino-americanas, em especial a economia brasileira, se inseriram dentro desta dinâmica em nível internacional como economias agrárias, ou seja, o desenvolvimento capitalista destas economias dependentes se deu a partir da sua subordinação à acumulação capitalista do centro. A economia agroexportadora funde-se como o fundamento modernizador desta periferia, mesmo que isto seja reafirmação do passado colonial. É a dupla face do capitalismo dependente, pois a constituição da dependência econômica está em uma relação direta com o fluxo de capitais do centro em direção à periferia. Visto que a divisão internacional do trabalho coloca-se historicamente como o determinante do desenvolvimento, a formação da economia dependente relaciona-se com o processo de acumulação capitalista em escala global.

Marini (2005) define a economia dependente como o produto de uma economia internacional especializada, sendo “(...) uma formação social baseada no modo capitalista de produção, que acentua até o limite as contradições que lhe são próprias” (MARINI, 2005, p.164). O mercado na qual se opera a expansão do capital industrial constitui-se objetivado na especialização dos países independentes subordinados a uma hegemonia determinada historicamente. Constituindo-se como uma economia intimamente relacionada com o movimento de expansão das relações de produção capitalistas, as economias latino-americanas adquiriram o papel de garantir a apropriação de uma massa cada vez maior de mais-valia pelo capital internacional, em uma economia global em amplo processo de expansão, intimamente ligada a financeirização e a abertura/desregulamentação de mercados.

Através do processo de industrialização de determinadas regiões agrárias da periferia, onde a gênese e o desenvolvimento da indústria periférica no Brasil é apenas uma manifestação, e em virtude do processo de generalização dos aumentos da produtividade

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Esta pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

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social do trabalho em nível internacional, em uma combinação superexploração da força de trabalho e aumento da produtividade, a tendência histórica apresentada pela nova economia industrial em escala mundial torna-se uma mostra da crise latente do capital, ligada à tendência a queda da taxa de lucro, que se objetiva no pós 1970, como a demonstração da não retomada dos níveis de lucratividade do período posterior a 1945, e como uma resposta histórica do capital a esta conjuntura. Nos anos 2000, uma fase de grande crescimento internacional, impulsionada pelas economias americana e chinesa, deu um novo impulso para o capitalismo em sua totalidade, ao mesmo tempo em que acirrou suas contradições inerentes, visto os dez anos de crise que se seguiram, iniciados em 2008 e que ainda hoje se fazem presentes, mesmo com as expectativas de recuperação.

Jaime Osório resgatou as categorias da Teoria Marxista da Dependência, como formuladas nos anos 1960 e 1970, e avançou em sua teorização, ao entender que com o processo histórico de acumulação na América Latina e com o seu ciclo e reprodução particulares se deu a formação de um grande capital, especialmente desde os anos 1990, como consequência da abertura e das privatizações. Contudo, a tendência passou a ser a de constituição de um novo padrão exportador, baseado no aumento da produção primária na pauta exportadora, o que poderia corresponder a uma crise no setor industrial dessas economias dependentes. Porém, trata-se de um fenômeno específico a um processo mais abrangente que corresponderia, segundo Osório, na formação de um novo padrão de reprodução do capital na América Latina, como expressão de um momento de crise estrutural do capital, visto que se instaura como uma resposta do capital a essa crise, pois é estabelecido a partir de um projeto de classe e de um modelo específico de desenvolvimento.

Ao estudar o processo histórico da acumulação de capital na América Latina e partindo das ideias de Marini, Jaime Osório identificou diferentes padrões de reprodução do capital no decorrer da vida econômica regional desde o processo de descolonização dessas nações: o padrão agro-mineiro exportador (do século XIX até as primeiras três décadas do século passado); o padrão industrial (entre meados dos anos 1940 até os anos 1980) e o novo padrão exportador de especialização produtiva (a partir do final dos anos 1980 até os dias atuais). Este último momento descreveria a conjuntura contemporânea da economia latino-americana e é produto das transformações do modo de produção capitalista a partir das crises dos anos 1970 que se caracterizou pela

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redução da taxa de lucro a partir de então em nível global, acarretando a constituição de grandes mudanças e reorganizações no sistema em sua totalidade, além da intensificação da contraofensiva da burguesia em nível internacional, o que levou a derrota da classe trabalhadora em muitos países, que por outro lado, permitiu a restruturação e o inchaço do mercado de trabalho em um grau elevado, além da progressiva incorporação de novos territórios à ótica de valorização do capital.

Trata-se de um período de revolução tecnológica que promoveu o fracionamento do processo produtivo, a partir da formação de grandes conglomerados e cadeias globais de produção, em virtude do alto grau de centralização e concentração de capital. Uma produção que tende a subcontratação de mão de obra barata na periferia, dentro de um quadro caracterizado pela precarização das condições de trabalho, favorecido pelo avanço neoliberal, como ideário dominante.

A partir do estudo a respeito das particularidades do capitalismo periférico e ao esclarecer a natureza da acumulação de capital no Brasil para o período 1990 a 2010, algumas questões se fazem centrais: se pode afirmar que há uma tendência à consolidação de um novo padrão exportador de especialização produtiva, que reflete a constituição de um novo padrão de reprodução do capital no Brasil para esse período em específico, como sugere Jaime Osório para a América Latina em sua totalidade? E quais são as mediações necessárias para que esta teoria possa ser aplicada a diferentes níveis de abstração e quais são as implicações desta análise em particular para a realidade brasileira?

A hipótese levantada é a de que a noção de novo padrão de reprodução do capital, ou padrão exportador de especialização produtiva, como desenvolvido por Jaime Osório, possui grande poder de explicação da realidade latino-americana em sua totalidade, porque este autor parte de um determinado nível de abstração e, ao se constituir como um expoente contemporâneo da tradição marxista dos estudos da dependência, avançou em determinados conceitos e direções. O respeito dado à teoria de Osório é devido a sua grande capacidade de dar respostas aos problemas que apresentam a economia latino-americana na contemporaneidade, buscando a essência das relações entre o capital e o trabalho que são específicas nas economias dependentes, devido o caráter da superexploração. Porém, o objetivo de Osório foi discutir a realidade econômica em um

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grau de concretude que seria próprio a uma visão de totalidade da acumulação de capital no subcontinente, mas somente esta vista como um todo.

A economia dependente só pode ser compreendida dentro de um quadro historicamente determinado pelo modo de produção capitalista em nível internacional, visto que a economia latino-americana é um produto da expansão do capital, sendo este comercial no primeiro momento e depois do capital propriamente dito (industrial); é uma parte integrante do todo, pois somente a partir de uma visão da totalidade, que podem ser apreendidas as forças e as condições históricas que dão o dinamismo para a acumulação de capital na periferia.

A tendência de autoexpansão do capital se revela historicamente pela incorporação de novos territórios geográficos à ótica de produção e acumulação, que leva ao processo de crise e destruição de antigas formações socioeconômicas até então ali existentes, dando lugar a possibilidade de constituição de relações de produção tipicamente capitalistas na periferia e que reproduzem o todo, a partir das particularidades e singularidades dessas regiões. Está claro que um subconjunto da totalidade também reproduz o todo. É partindo do concreto para chegar ao abstrato e percorrendo o caminho de volta, que fica claro o fato de que a acumulação tipicamente capitalista, que instaurou o modo de produção capitalista no que concebemos hoje como economias centrais, criou a periférica do capitalismo, a partir do processo histórico de expansão do capital industrial, fomentando economias acessórias à economia central e subordinadas a esta.

Todas as mutações que historicamente ocorreram na estrutura periférica precisam ser compreendidas como elementos de transformações maiores que ocorreram no todo capitalista, mas sob a luz de conceituações e categorias próprias do capitalismo dependente e da maneira particular como a luta de classes se dá na formação socioeconômica fundada na superexploração da força de trabalho.

A tradição marxista entende a realidade em sua totalidade, sendo que “(…) as determinações recíprocas entre o todo e as partes constituem a essência do seu método dialético” (CORAZZA, 1996, p.36). Nessa realidade, que é social, histórica, complexa e contraditória, as formas de conhecimento são analisadas separando-se suas partes constituintes para a compreensão das articulações entre elas e depois as reconstituindo na sua forma concreta pelo pensamento humano, ou seja, “ir além do mero conhecimento abstrato das partes, superando-se também um conhecer apenas dedutivo a

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partir das leis gerais abstratas, para se atingir um conhecimento abrangente e real do todo concreto” (CORAZZA, 1996, p.36), pois para Marx, o mundo real existe somente como um pressuposto, é somente depois que ele se efetiva como uma realidade do pensamento, que é possível encontrar as leis que regem os fenômenos, leis de caráter histórico e de validade definida, visto que cada momento histórico possui suas próprias leis sociais e econômicas.

De acordo com Jaime Osório (2004), na teoria de Marx, os conceitos aparecem de forma aberta, como pontes que possibilitam a compreensão total dos fenômenos e as transformações destes em relação ao desenvolvimento histórico do modo de produção capitalista, porque a sociedade ao determinar o indivíduo, visto que o antecede, não é uma reunião de partes isoladas. Aqui está explícita a ideia de totalidade na tradição marxista, onde o todo é compreendido como uma unidade complexa e contraditória, uma realidade em constante transformação, pois todas as categorias explicativas possuem um caráter transitivo e histórico.

Pode-se dizer que existem diferentes níveis de abstração e concretude, quando maior a abstração, menor é a concretude, sendo esta última uma síntese de múltiplas determinações para Marx. Osório entende que um padrão de reprodução do capital contém um nível de abstração menor do que aquele utilizado por Marx nos livros I e II de O Capital, pois “(…) el estudio del patrón requiere explicar la reproducción del

capital en un nível de mediaciones y de síntesis más específicas” (OSÓRIO, 2013, p.2),

porque se trata de analisar um recorte da totalidade do capitalismo, que no caso da obra de Jaime Osório, se expressa no estudo sobre as particularidades do capitalismo dependente latino-americano. O ponto central é compreender que o conceito de capital se define como uma totalidade de muitos capitais e a possibilidade histórica de um padrão de reprodução pressupõe o poder concentrado em uma determinada classe ou fração de classe, que consegue impor seu projeto de desenvolvimento, a partir da dominação do Estado e das demais instituições que compõem a superestrutura do modo de produção capitalista, visto que para Osório essa imposição se dá em condições peculiares da luta de classes.

Essa hegemonia impõe socialmente um caminho específico para reprodução do capital, o que Jaime Osório chama de rotas específicas nas esferas da produção e da circulação,

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em termos de valores de uso, nos formatos especiais da exploração do trabalho e nas condições históricas de subordinação econômica, porque

El estudio de los patrones de reproducción de capital desde las economías dependientes no puede perder de vista que aquellos se desarrollan en el seno de un sistema mundial en donde operan mecanismos de transferencias de valor, tendencialmente en desmedro de las economías dependientes

(OSÓRIO, 2013, p.13).

Contudo, se entende que um padrão de reprodução é historicamente determinado, ou seja, possui período vitalício, de surgimento, expansão, consolidação e declínio, “(…)

abriendo periodos de tránsito, en donde previven rasgos del patrón anterior y se proyectan los atisbos de un nuevo patrón” (OSÓRIO, 2013, p.15). Porém, não se trata

de um processo evolutivo, já que “el despliegue de un patrón de reproducción implica

una reconfiguración espacial y territorial específica” (OSÓRIO, 2013, p.16) e reproduz

formas específicas de relação capital-trabalho.

Entender o processo histórico da luta de classes perpassa a noção de sujeito, não como difundida pela ideia de indivíduo, mas “(…) implica una unidad social con voluntad

histórica y con voluntad soberana” (OSÓRIO, 2014, p.3), mas é claro que nem todas as

classes se constituem nesses parâmetros. Como elementos diferenciados, Osório (2014) concebe essa diferenciação com bases nos distintos lugares ocupados no sistema produtivo e na divisão do trabalho, como também nos vínculos de propriedade e na maneira como se dá a apropriação do valor produzido. Este como uma relação social, que “(…) sólo tiene consistencia social (...)” (OSÓRIO, 2013, p.13). Desta maneira, o sujeito também se expressa como um ser em movimento, onde o valor encarna sua própria negação, visto que “(…) los particulares, por su relación diferenciada en la

acumulación del capital a nivel mundial, generan a su vez formas internas particulares de reproducción del capital” (OSÓRIO, 2013, p.21).

Para Corazza (1996), o indivíduo isolado é uma abstração, pois este é produto das relações sociais que estão estabelecidas em cada momento histórico, desta maneira a análise do todo permite entender a natureza dessas relações e o papel do indivíduo nesse processo, já que “no capitalismo, os homens não são os verdadeiros sujeitos, mas apenas suportes de suas relações sociais” (CORAZZA, 1996, p.44), pois “a natureza da relação indivíduo-sociedade só pode ser entendida, dialeticamente, como relação do todo com suas partes, como relação de fenômeno e essência” (CORAZZA, 1996, p.45).

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Por fim, Jaime Osório aponta que o capital sintetiza em si mesmo relações de exploração e domínio, sendo uma unidade diferenciada, determinada historicamente, em uma sociedade marcada pela diferenciação e pelo desenvolvimento dos fatores produtivos, visto que “el capital es una relación social que no sólo permite la

producción de valores excedentes en condiciones de explotación y dominio, sino que genera a sua vez las condiciones para que dicha relación se reproduzca en forma cotidiana” (OSÓRIO, 2013, p.3). O capital como o sujeito e uma abstração, não é

meramente a união de todos os capitais individuais, trata-se de uma relação social e historicamente determinada, já que para Marx a ideia do concreto aparece como uma unidade da realidade que é diversa, ao mesmo tempo que é síntese do pensamento, depois de reconstituído de maneira lógica e histórica a partir de suas leis próprias, pois “(…) é pela vigência das leis objetivas do capital que os indivíduos se transformam em capitalistas e coisas assumem a forma de capitais concretos; fora disto, as coisas não seriam capital, nem seus possuidores, capitalistas” (CORAZZA, 1996, p.49). Para Osório (2004), o capital é a expressão de uma sociedade baseada em proprietários e não proprietários, relação social específica a uma formação histórico-social particular.

Após esses apontamentos metodológicos e baseado na leitura da obra de Jaime Osório, o objetivo desta dissertação é compreender a dinâmica histórica da economia brasileira entre os anos de 1990 e 2010, na tentativa de compreender as tendências da acumulação capitalista, a partir do conceito de novo padrão de reprodução do capital, com o intuito de demonstrar as transformações que ocorreram na economia brasileira desde o final dos anos 1980, com o avanço do ideário neoliberal. Ou seja, trata-se de caracterizar esse suposto novo padrão para o caso brasileiro e refletir a respeito das categorias usadas por Osório na sua tentativa de entender a América Latina contemporânea.

A dissertação encontra-se dividida em sete capítulos, contando com esta Introdução e com as Considerações Finais. No primeiro capítulo, o objetivo é o de entender a teoria do novo padrão de reprodução do capital na América Latina nos estudos da TMD, com foco nos escritos de Ruy Mauro Marini. No segundo capítulo é apresentada a teoria de Jaime Osório, apontando como ela é um desdobramento contemporâneo dos estudos da TMD. No terceiro capítulo, pretende-se apresentar as principais categorias e conceitos usados por Osório, discutindo as questões de método e os processos históricos que essas noções expressam. O quarto capítulo se dedica a uma revisão bibliográfica com a finalidade de entender as principais ideias e teses sobre as supostas transformações

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estruturais que ocorreram na economia brasileira nos anos 1990 e 2000, sobretudo a partir da leitura de estudos críticos sobre o neoliberalismo e a sua implementação. Por fim, no quinto capítulo se busca fazer uma reflexão crítica do conceito de dependência na contemporaneidade, com o foco na economia brasileira para o período de 1990-2010, que na obra de Osório se apresenta em sua teoria do novo padrão de reprodução do capital na América Latina.

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2 A TEORIA DO PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA AMÉRICA LATINA

Com o intuito de entender as relações de dependência e o padrão de reprodução do capital na economia brasileira entre os anos de 1990 e 2010, se faz necessário recuperar alguns conceitos e categorias próprias do capitalismo dependente, tal qual elaborada por Osório, ao entender que sua abordagem é um desenvolvimento das concepções da Teoria Marxista da Dependência, visto os novos fenômenos e dinâmicas do capitalismo contemporâneo, especialmente se o caso é compreender a economia brasileira no pós 1990.

O objetivo deste capítulo é entender a noção de padrão de reprodução do capital, a partir dos estudos sobre a dependência, em suas tentativas de entender a economia latino-americana no pós-guerra, especialmente a partir da constituição de um padrão industrial, como reflexo da consolidação do processo histórico de industrialização de algumas dessas economias latino-americanas. É um caminho necessário para compreender como a teoria de Jaime Osório surge a partir de seus estudos sobre a dependência e como representam historicamente o desenvolvimento das concepções clássicas não só da TMD, mas também do imperialismo, em particular no avanço das categorias criadas e apropriadas por Ruy Mauro Marini, em seu intuito de apreender as especificidades das relações capitalistas na periferia latino-americana.

2.1 O CONTEXTO HISTÓRICO E CONJUNTURAL DE ONDE SURGIU A TEORIA DA DEPENDÊNCIA

As ideias desenvolvimentistas que imperaram durante os quinze anos posteriores à 2ª Guerra Mundial começaram a entrar em declínio a partir dos anos 1960, em paralelo com a própria crise hegemônica que levou a múltiplos golpes de Estado em vários países latino-americanos. A Teoria da Dependência é produto desse momento histórico. Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra, Theotônio dos Santos, André Gunder Frank, Fernando Henrique Cardoso, dentre outros intelectuais, teorizaram novas maneiras de pensar a dependência e as particularidades da América Latina. Para Luiz Filgueiras (2001), desde os anos 1930, grandes transformações estruturais se passaram na economia dependente. É necessário distinguir o que é apenas conjuntural, ou seja,

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particular a um determinado momento histórico, articulando-o com o processo na sua forma mais geral, entendendo a dialética entre os diferentes conceitos e os elementos históricos que criam as condições para um determinado continuísmo de ideias e da implementação de políticas específicas, que analisadas na sua totalidade, constituem um princípio e um paradigma que se mantém através de um padrão comum de desenvolvimento, como o experimentado a partir da década de 1930. Para Bambirra (1978), os estudos sobre a dependência reuniram intelectuais de diferentes formações e com concepções metodológicas distintas, ligados especialmente ao estruturalismo, ao funcionalismo, ao marxismo e a outras correntes heterodoxas.

Como uma teoria consolidada, a Teoria da Dependência se opôs ao pensamento ortodoxo dominante, ao ideário cepalino, à concepção desenvolvimentista em geral e ao posicionamento da esquerda a respeito do caráter pré-capitalista da formação socioeconômica da América Latina. Por outro lado, foram influenciados por diversas correntes dentro do marxismo e do estruturalismo. De acordo com Amaral (2012), algumas visões da TD podem ser entendidas como um complemento à teoria do imperialismo, ao compreender a maneira como se dão as relações de dependência entre os diversos países a partir de uma visão da totalidade do modo de produção capitalista. Para a autora, a TD surge como um produto da crise do modelo de substituição de importações, que se inicia com a tendência ao acirramento da desnacionalização desde os anos 1950, em uma relação direta com o avanço do poder hegemônico estadunidense sobre a América Latina desde os anos 1960, que refletiu a constituição de uma nova integração internacional (AMARAL, 2012).

A crítica dependentista à visão tradicional se centra na rejeição ao conceito de subdesenvolvimento como inexistência de capitalismo e aos cepalinos, especificamente, por estes não terem percebido a complementariedade entre os conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento (AMARAL, 2012). Ao rejeitarem o ideário evolucionista, os dependentistas puderam entender o caráter estruturante da dependência. As primeiras ideias da TD se expressam como uma ruptura com a noção de sociedade dualista, pilar das teorias cepalinas e de algumas correntes ortodoxas, especificamente a visão de J. Lambert (1970) em seu livro Os Dois Brasis.

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dos países latino-americanos, na busca de apontar supostas especificidades do continente, ao aplicar as noções básicas do que ficou conhecido como método histórico-estrutural, que rompe com toda uma tradição teórica dominante no pensamento latino-americano até então (BIELSCHOWSKY, 2009). Desta maneira, as ideias cepalinas se constituem como um arcabouço teórico próprio que não pode ser entendido fora da conjuntura latino-americana daquele momento histórico, pois a noção de industrialização foi compreendida como a saída para a insuficiência estrutural do subcontinente, que era percebida como necessariamente ligada ao fato dessas economias nacionais estarem especializadas na produção primária e condicionadas a um processo de vulnerabilidade externa estrutural. Por isso, a noção de substituição de importações expressaria um fio condutor para um processo histórico de industrialização, porque a CEPAL entendeu que o subdesenvolvimento só poderia ser superado a partir de mudanças na estrutura das economias latino-americanas e isso somente poderia ser permitido a partir de uma nova inserção na divisão internacional do trabalho, que a industrialização possibilitaria, juntamente a uma maior participação do Estado nesse processo. A CEPAL não somente definiu subdesenvolvimento como uma etapa possível de superação, como também as relações entre subdesenvolvimento e desenvolvimento como uma estrutura dual, organismos que coexistem e se contrapõem.

O dualismo metodológico foi uma concepção dominante no pós-guerra, especialmente a visão de J. Lampert (1970). A base de sua argumentação se configura na noção de sociedade dualista e, a partir desse modelo, o autor buscou entender os fenômenos da aparência das relações sociais no Brasil e as suas contradições. Lampert (1970) compreendeu que o processo de industrialização iniciado no centro-sul desencadeou uma disparidade socioeconômica entre as regiões brasileiras, constituindo-se o que o autor chama de um país novo que floresceu ao lado de um país velho e indiferente às mudanças, um atraso relacionado ao isolamento, mas que desencadeia certos tipos de contradição, visto que “mantendo por toda parte estreito contato, os dois Brasis, tão diferentes, estão unidos pelo mesmo sentimento nacional e por muitos valores comuns; não constituem duas civilizações diversas, mas sim, uma em face da outra, duas épocas de uma mesma civilização (LAMPERT, 1970, p.103). Aqui está nítida a noção etapista do desenvolvimento, pois ao entender que esse processo acarreta irregularidades de abrangência e expansão, a cidade e a indústria se constituíram como o centro dinâmico desse boom. Desta maneira, o subdesenvolvimento nacional seria a expressão da

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estrutura arcaica do campo brasileiro, especificamente caracterizada pelo tipo fazenda, de caráter feudal e hierarquizado.

Uma interpretação não tão diferente da apresentada pela ortodoxia no pós 2ª Guerra, com o objetivo de implementar uma nova direção para a luta organizada da esquerda no país, a Declaração sobre a Política do Partido Comunista do Brasil, de março de 1958, apresentou uma nova maneira de encarar a luta de classes pela esquerda no país, ao explicitar que o foco da luta seria contra dois inimigos: o imperialismo estadunidense e o latifúndio. Desta maneira, a noção de desenvolvimento foi compreendida como o caminho no qual seriam superadas estas questões, pois não haveria conflitos de interesses entre a burguesia interna e a classe trabalhadora, já que “nas condições presentes de nosso país, o desenvolvimento capitalista corresponde aos interesses do proletariado e de todo o povo” (PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL, 1958, p.226). Disso deriva o caráter da revolução no Brasil: antiimperialista e antifeudal. Ou seja, o país ainda não havia atingido o desenvolvimento capitalista capaz de destruir antigos modos de produção pré-capitalistas ainda imperantes, o que impossibilitaria a revolução atingir um caráter socialista, porque o Brasil deveria ser capitalista antes disso. Na América Latina desse período, o grande difusor desse ideário foi o militante Rodiney Arismendi (2006). Esse reconhecimento do suposto caráter feudal da economia latino-americana se torna um pressuposto que dominou a maior parte das análises sociológicas sobre o subcontinente até os anos 1960. Como um produto da economia colonial, as relações feudais ainda se apresentariam naquele momento devido à especificidade da subordinação aos centros dominantes após o processo de emancipação política e a forma histórica em que a propriedade privada se desenvolveu no subcontinente.

Desta maneira, as teorias que compõem a Teoria da Dependência não podem ser analisadas fora de seu contexto histórico, porque foram construídas em uma conjuntura latino-americana dos anos 1960 e 1970, refletindo o processo de desenvolvimento do capitalismo dependente deste período em específico. O objetivo comum foi compreender as relações capitalistas na América Latina, a partir da consideração desta economia particular como produto das transformações na acumulação capitalista central. Caracterizada por uma diversidade de correntes teóricas e metodológicas, a distinção entre essas teorias pode ser localizada em termos do uso de diferentes níveis de abstração por parte desses intelectuais, por suas distintas influências teóricas e seus

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diferentes objetos de estudo dentro da mesma problemática. As noções de desenvolvimento, dependência, subdesenvolvimento, etc., são bastante complexas e amplas, permitindo dentro de si diferentes objetos de estudo e direcionamentos distintos.

Ao se apropriar do conceito de divisão internacional do trabalho, os dependentistas compreenderam o papel cumprido pelas economias latino-americanas, ao passo que permitiu a eles perceberem a maneira como a industrialização do subcontinente acarretou o acirramento das contradições oriundas da própria dependência já existente, porque a indústria na periferia reproduz essas condições, ao acirrar as formas anteriores e ao criar formas de dependência econômica inéditas. O capital estrangeiro, de forma geral, foi entendido como o responsável pela dinâmica do ciclo de capital na periferia, ao mesmo tempo que lhe causa deformações e insuficiências, pois para a Teoria da Dependência, nos anos 1970, as raízes da dependência deveriam ser explicadas por fatores de ordem tanto interna, quanto externa. A descrença quanto à expectativa da industrialização em resolver os problemas estruturais dessas economias dependentes estava obviamente clara, a partir do estudo das particularidades das relações sociais de produção, próprias do capitalismo.

Para esses intelectuais, a questão social é o produto essencialmente histórico desta formação socioeconômica, que se intensificou com o processo de industrialização dessas economias, já que foi uma unanimidade afirmar que a indústria acirrou a dependência na periferia latino-americana. Porque nos anos 1970, quarenta anos depois do início do processo de industrialização, as contradições de ordem socioeconômica ainda se faziam presentes e em intensidade mais impetuosa. Porém, o fato importante é apontar que a suposta substituição orientada das importações, que possibilitou a industrialização, vista como um modelo, alterou totalmente a dinâmica do sistema dependente, em virtude de que a dinâmica periférica passou a centrar-se na produção industrial, fundada em capitais nacionais (privado e estatal) e em capitais estrangeiros.

Outro aspecto importante da TD foi a teorização sobre o Estado na reprodução da estrutura dependente, especialmente, como a expressão de uma classe com poder hegemônico, visto que o Estado, nesta abordagem, é entendido como um árbitro em meio ao conflito de classes. Esses autores viveram períodos ditatoriais na América

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Latina e a radicalização da dominação via coerção. Para Filgueiras (2001), no processo de industrialização dessas economias dependentes, o Estado exerceu funções de caráter histórico, relacionadas ao planejamento e financiamento, à criação de infraestrutura, à reserva de mercado, à regulação do mercado laboral, etc., que tiveram como consequências a redução do diferencial produtivo entre o centro e a periferia.

Em meio a tanta diversidade teórica, um debate que marcou o desenvolvimento das ideias da TD foi o travado calorosamente por Cardoso e Marini nos anos 1970. Para Prado (2011), na verdade ocorreu um não-debate, “(…) em seu lugar existiu uma leitura unilateral em relação às contribuições vinculadas ao marxismo e à luta revolucionária latino-americana” (PRADO, 2011, p.69). Os diferentes alcances de cada uma dessas duas teorias foram determinados pela conjuntura política e acadêmica, que favoreceu a hegemonia da visão de Cardoso, enquanto a teoria de Marini permaneceu esquecida no Brasil. Perseguida pela ditadura, a Teoria Marxista da Dependência teria passado por uma deturpação teórica nos anos 1970 e paralelo a esse processo, foi se constituindo o avanço do ideário neoliberal entre os intelectuais, acompanhado do sucateamento das universidades, como fatores que poderiam explicar esse desconhecimento da academia pelas obras da TMD (MARTINS, 2013).

A grande novidade da TMD foi teorizar a respeito da relação dialética entre o centro e a periferia do sistema capitalista, definindo dependência a partir dessa relação. Para Amaral (2012), a visão marxista, tal como desenvolvida por Marini, Santos e Bambirra, entendeu o conceito de dependência como uma relação entre países independentes, onde alguns têm o seu processo de desenvolvimento condicionado a expansão econômica de outros. Desta maneira, para esses autores as possibilidades históricas colocadas para as economias dependentes seriam a expressão da expansão dos países que exercem hegemonia na divisão internacional do trabalho.

De acordo com Jaime Osório (2004), a categoria dependência não foi incorporada pelo marxismo de forma rápida e fácil, mesmo se constituindo como uma categoria de essência heterodoxa. Os debates em torno deste tema foram fortemente influenciados pela experiência cubana de 1959, pelo acelerado processo de desnacionalização como consequência da intensa penetração de capitais estrangeiros nas economias latino-americanas, em uma relação direta com o acirramento da questão social nesses países. A

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TMD não partiu do nada. Em virtude de negarem o caráter pré-capitalista da América Latina, esses intelectuais resgataram, avançaram e superaram as concepções até então criadas nas tentativas de entender a particularidade do capitalismo periférico. Pode-se afirmar que a TD, como um todo, é a expressão da crise da teoria do desenvolvimento, sua crítica e superação, que na América Latina teve como protagonista a CEPAL. Superar a CEPAL foi a grande inovação teórica dos dependentistas.

Para esses autores, o conceito de dependência descreve relações desiguais de produção, porque se baseia em relações de dominação e subordinação em nível internacional, visto que historicamente desenvolvimento e subdesenvolvimento são o produto de um mesmo processo, porque o condicionamento de certas economias se dá em um processo de imposição a partir do controle de mercados pelos centros hegemônicos, sendo que a particularidade da dependência é a existência de alto grau de exploração da força de trabalho, como elemento central para entender as especificidades dessa formação socioeconômica particular.

Segundo Osório (2004), em Marini há o arcabouço definitivo dessa corrente teórica e finalmente o conceito de dependência é incorporado pelo marxismo, pois alcançou “(…)

su punto más alto en tanto formulación de las leyes y tendencias que engendran y mueven al capitalismo sui generis llamado dependiente” (OSÓRIO, 2004, p.138),

porque se pode afirmar que a TMD é uma interpretação da realidade latino-americana a partir da leitura da obra de Marx sobre o capital e do resgate da literatura marxista sobre as relações centro e periferia no capitalismo em sua fase imperialista.

2.2 A TEORIA DE RUY MAURO MARINI

A principal obra de Marini é a Dialética da Dependência (1973), onde estão contidos os principais elementos explicativos que caracterizaram o conjunto de suas teses sobre a dependência, sendo que os seus demais textos se constituem como tentativas de avançar na exposição dos conceitos expostos na Dialética. Com ela, Marini resgata todo o pensamento de uma geração de intelectuais que se debruçaram sobre as questões impostas pelo desenvolvimento capitalista na América Latina, rompendo com a escola cepalina, por um lado, e com as concepções que defendiam algum grau de pré-capitalismo no subcontinente, por outro. Por isso, o nível de abstração encontrado na

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Dialética é menor do que em O Capital de Marx, porque o intuito de Marini não foi o de criar uma teoria para o capitalismo em sua totalidade. Seu foco foi a análise sócio-histórica do subcontinente, vista como um todo e em relação com o centro sistêmico, já que Marini não fez um recorte atemporal do subcontinente e a partir daí empenhou tentativas de compreendê-lo em separado. Pelo contrário, o autor analisa a particularidade do capitalismo latino-americano, de suas relações sociais de produção e luta de classes internas, dentro de um todo que reproduz relações sociais de produção capitalistas e, consequentemente a dependência, onde a dinâmica interna é um dos elementos estruturais que se inserem dentro da dinâmica sistêmica, porque expressa um processo dinâmico e histórico.

Marini (1973) apontou que muitos dos erros cometidos em estudos sobre a dependência econômica se centram no fato de que há certo descolamento dessas análises com relação à realidade propriamente dita das economias latino-americanas, que muitas vezes se expressam como adulteração de conceitos e de categorias analíticas em virtude da forçosa adaptação da realidade aos modelos determinísticos. Por isso, essas abordagens perceberam somente as especificidades que eram fenômenos da aparência dessas relações de dependência, especialmente a partir de suas explicações dentro de concepções que ignoram a noção de um capitalismo sui generis na América Latina. A crítica de Marini (1973) a essas concepções se pauta dentro de uma visão de totalidade, onde as categorias marxistas aparecem como ferramentas importantes de análise, no sentido de que supostamente permitem entender a essência das relações capitalistas.

De acordo com Marini (1973), a compreensão da particularidade do capitalismo latino-americano perpassa a dinâmica de reprodução do capital em nível internacional, com a consolidação de um mercado mundial capitalista a partir da divisão internacional do trabalho, constituída desde a Revolução Industrial. Ao passo que as economias latino-americanas se inseriram nesse mercado mundial, o capital tendeu a penetração dessas formações socioeconômicas, transformando-as em estruturas capitalistas dependentes. É a partir da constituição da DIT que se configura a noção de dependência (MARINI, 1973). Do ponto de vista dos países centrais, o advento da grande indústria se expressou na elevação da demanda por meios de subsistência e matérias primas, devido ao crescimento do proletariado e em virtude da aceleração do processo de acumulação de capital, o que permitiu durante o século XIX a formação de um mercado de bens

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agroextrativistas, tendo como base a indústria na Europa Ocidental e determinada historicamente pela expansão desta. A novidade de Marini (1973) é entender que há uma forte relação entre as transformações que estavam ocorrendo no capitalismo internacional, sobretudo dos países que já haviam iniciado seus processos de industrialização (Europa Ocidental), com o desenvolvimento histórico de uma economia dependente latino-americana de caráter agroexportador.

Essas transformações nos países centrais se baseiam na redução do valor da força de trabalho, que pode ser compreendido a partir da transição histórica entre a produção de mais-valia absoluta para a produção de mais-valia relativa, que só foi possível devido a uma elevação da oferta internacional de matérias-primas e meios de subsistência. Para Marini (1973), a América Latina teve um papel importante nesse processo, porém à custa de seu atraso, o que justifica suas insuficiências. Historicamente, essa elevação da oferta proporcionou uma redução dos preços das commodities e representou a deterioração dos termos de troca entre as economias latino-americanas e as centrais, visto que os preços dos produtos industriais permaneceram constantes. A DIT possibilita e alimenta esse diferencial de preços, o que impõe o aumento da exploração da força de trabalho como a medida compensatória e a resposta capaz de garantir a acumulação de capital na economia periférica e o consumo improdutivo da classe proprietária frente aos impasses impostos pela transferência de valores.

Desta maneira, o conceito de superexploração da força de trabalho abarca a particularidade do modo de produção capitalista na periferia latino-americana, porque ele se baseia em relações de maior exploração, sem o desenvolvimento da capacidade produtiva que lhe seria correspondente (MARINI, 1973). O ponto central é entender a superexploração como a qualidade em que são negadas ao trabalhador as condições mínimas para a sua reprodução, porque ele é remunerado abaixo de seu valor, pois essas relações de produção se pautam na tendência à intensificação do trabalho, ao prolongamento da jornada laboral e à expropriação de parte do trabalho necessário para o fundo de acumulação (MARINI, 1973). O que criou um modo de circulação específico, porque se baseia na acumulação de capital definida pela superexploração, já que essa produção não necessita de um mercado local para se realizar, porque se trata da expressão do processo histórico de estratificação do mercado interno, que é própria das economias dependentes, síntese da contradição permanente entre produção e consumo

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(MARINI, 1973).

Assim sendo, na América Latina, a industrialização periférica jamais transformou essa formação socioeconômica em uma economia essencialmente industrial, pois as bases na qual nasceu a indústria latino-americana foram constituídas pela economia agroexportadora (MARINI, 1973). O que imprimiu características próprias para essa indústria periférica, onde o seu caráter dependente é determinado pela sua gênese, em virtude da centralidade do capital estrangeiro, que refletiu as mudanças tecnológicas nas economias centrais, o que permitiu historicamente a formação de uma nova DIT, no pós 2ª Guerra, que se pautou em uma nova hierarquização das economias capitalistas no mercado mundial e permitiu novas formas de dependência econômica. Por se tratar de uma produção industrial que se baseia na superexploração do trabalho, os problemas de realização aparecem como inevitáveis devido à condição insuficiente do mercado interno, gerado em condições de superexploração. As exportações aparecem como a saída para a indústria periférica e representam o sentido econômico da economia latino-americana em sua inserção à DIT do pós-guerra.

No texto O Ciclo de Capital na Economia Dependente (2012), Marini parte da concepção de ciclo do capital do ponto de vista de Marx, em O Capital, com o objetivo de fazer as mediações necessárias para implementar esse modelo à compreensão da particularidade do processo de acumulação de capital na América Latina. Essa tarefa é muito difícil, porque Marini precisou trazer esse modelo marxiano para um nível de abstração menor do que o usado originalmente por Marx. Esse ciclo é constituído por três fases indispensáveis e estritamente correlacionadas. Se inicia com a primeira fase de circulação, onde o capitalista (como possuidor de capital monetário), adquire meios produção e força de trabalho para a implementação da produção na segunda fase do ciclo. De acordo com Marini (2012), nas economias dependentes três são as fontes deste capital monetário: de origem privada local, do Estado e estrangeira. O capital nacional privado representa a maneira própria da acumulação interna de capital como se dá na América Latina. O Estado, a partir do empreendimento de empresas próprias, passa a incrementar os investimentos públicos para a possibilidade de manter a reprodução do capital na economia dependente. Já o capital estrangeiro, que passa a dominar essas economias, se expressa nos investimentos que lhe conferem direitos sobre a mais-valia produzida, o que configura esta primeira fase como um momento de internalização do

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capital estrangeiro, na forma de capital monetário, de meios de produção e de tecnologia, o que a torna essencialmente carente do capital externo para criar a dinâmica que possibilite iniciar o ciclo de capital internamente (MARINI, 2012).

Para Marini (2012), a segunda fase do ciclo de capital é o momento da produção, que é inseparável da primeira fase, já que as especificidades desta imprimiria na produção características próprias, determinadas pelo processo histórico de concentração de capital. Na produção, o capital empregado perde a sua origem, visto que a produção de mais-valia é o objetivo do modo de produção capitalista em sua totalidade. Na terceira fase, onde as mercadorias produzidas retornam à esfera da circulação para a sua realização, o ponto central é entender que, no mercado, não interessa a origem dessas mercadorias (nem a do capital que as produziu). O essencial é entender que como uma parte do capital que entrou no ciclo da economia dependente é de origem estrangeira, uma parte dessa mais-valia produzida localmente é transferida ao exterior, como um direito adquirido pelos proprietários deste capital, não participando da acumulação interna, tendo como consequência a tendência a redução do mercado interno (MARINI, 2012). Por outro lado, pelo próprio caráter da superexploração da força de trabalho, que acirra as insuficiências desse mercado local, esta terceira fase acirra a separação entre produção e necessidades de massa, visto que as especificidades do ciclo de capital na economia dependente só podem ser explicadas a partir das particularidades da formação socioeconômica dependente latino-americana, porque são as categorias do capitalismo dependente que torna clara a essência das relações sociais de produção no subcontinente, em condições de dependência econômica, esta que é determinada pela superexploração, em uma conjuntura caracterizada pelo intercâmbio desigual.

Porque para Marini (1978) a superexploração somente pode ser compreendida como consequência do intercâmbio desigual, visto que se trata de uma categoria específica a uma estrutura determinada, indiferente da conjuntura estabelecida. Dessa forma, haveria intercâmbio desigual por estarem ali existindo relações de superexploração da força de trabalho, pois historicamente foi a sua base produtiva que determinou a inserção dessas economias periféricas ao mercado internacional.

A superexploração impõe obstáculos ao processo de realização da produção local, que para Marini estava claro ao perceber a tendência à redução do salário-mínimo, a

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concentração de renda e a disparidade salarial nos anos 1970. São estes problemas de realização na economia dependente latino-americana, quando esta atinge um determinado grau de desenvolvimento industrial dos fatores produtivos locais, que criaram as condições históricas para a possibilidade do subimperialismo, como um conceito próprio do capitalismo dependente. Não se trata de uma oposição ao imperialismo, porque subimperialismo é uma expressão contrarrevolucionária da burguesia latino-americana em aliança com a burguesia internacional em uma etapa histórica específica do desenvolvimento do capitalismo dependente e em sua relação com o centro sistêmico.

Para Marini (2012), no caso brasileiro, o subimperialismo foi uma saída para os problemas de realização no mercado interno, tendo um caráter expansionista, e representa o processo histórico de monopolização da economia nacional, pois o subimperialismo é produto de uma nova DIT e sua definição articula as transformações no capitalismo internacional no pós-guerra e as leis específicas do capitalismo periférico, pois o conceito de subimperialismo se relaciona diretamente com a maneira pela qual se dá o ciclo de capital na economia dependente, em condições de superexploração.

2.3 A NOÇÃO DE PADRÃO DE REPRODUÇÃO DO CAPITAL NA AMÉRICA LATINA NA TEORIA MARXISTA DA DEPENDÊNCIA

A noção de padrão de reprodução do capital já havia sido incorporada à TMD nos anos 1970, sendo a partir desta formulação original que Jaime Osório construirá seu modelo analítico, ao entender como o padrão de caráter industrial tendeu a crise em suas bases estruturais, com o surgimento de um novo padrão no limiar dos anos 1990. Se faz necessário pontuar esses direcionamentos presentes em Marini, para caracterizar essas mudanças e os seus desdobramentos históricos.

Em primeiro lugar, Marini (1981) compreendeu que a industrialização periférica criou as condições para o padrão industrial experimentado pela economia dependente, após as transformações que se deram no pós 2ª Guerra, visto o impulso que tomaram as inovações tecnológicas desde então; em um processo que modificou tanto internamente, como no conjunto do sistema, a base da reprodução do capital, porque se constituiu

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historicamente como um desdobramento da monopolização, quanto uma característica do capitalismo maduro, onde a indústria passou a ser o centro dinâmico da expansão do capital nessas economias dependentes.

Sendo assim, Marini (1981) acreditou que a situação de dependência cria nas economias periféricas um padrão de reprodução do capital que lhe é própria. Trata-se de um paradigma, porque daria conta de explicar um tipo especial de acumulação, circulação e distribuição, que seriam específicas ao capitalismo dependente. Pois a industrialização apenas deu atributos mais acentuados a este processo histórico, dadas pela singularidade da superexploração. Desse modo, seria este padrão particular de reprodução do capital, que é determinado por um ciclo de capital que também é particular, o responsável pela tendência de distanciamento entre a dinâmica da produção industrial periférica e o consumo das massas. Neste sentido, a industrialização periférica intensificou as contradições próprias da dependência.

Em segundo lugar, Marini (1986) compreendeu que o processo de industrialização foi lento e limitado, mas criou possibilidades de investimento, ao atrair tanto o capital interno quanto o externo, o que garantiu uma nova reprodução econômica do país, sem interferir na estrutura agrária, o que consolidou um sistema econômico com dois núcleos: um subsistema agroexportador (direcionado ao mercado externo) e outro de caráter industrial (supostamente dedicado ao mercado interno). Contudo, o ponto principal é entender como o subsistema industrial nasceu subordinado ao primeiro e de alguma forma nutrido por ele, através do mercado já existente, do quadro criado pelas transferências de valor ao exterior e da constituição de um mercado de trabalho local, ao mesmo tempo em que a superexploração da força de trabalho criou os limites desse processo.

Em terceiro lugar, historicamente o processo de industrialização levou a uma reorganização do poder, com o a consolidação da hegemonia do capital industrial-bancário, o que levou a uma crise política, em virtude do surgimento de novos atores, o que se expressou nos diversos governos ditatoriais nos anos 1960 e 1970 (MARINI, 1978). Nestas bases se deu a consolidação do padrão industrial, o que na América Latina correspondeu a uma integração capitalista, entre a burguesia interna e o imperialismo, por isso representou um novo poder burguês (MARINI, 1978).

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Em quarto lugar, o processo de redemocratização se pautou em um projeto de classe, o que lhe acarretou sentido autoritário. Para Marini (1985), a reorganização política e econômica se deu através da reconstrução da democracia, firmada em um projeto liberal, mesmo que as disputas internas dentro do capital tenham criado obstáculos para a implementação de um novo modelo de desenvolvimento na primeira metade dos anos 1980. O essencial é apontar que Marini (1985) já compreendia que as crises dos anos 1980 possuíam caráter estrutural, pois não se tratava somente do produto de uma dinâmica cíclica dentro de um padrão de reprodução do capital em particular, que no caso brasileiro, tratava-se de um padrão industrial. De acordo com Marini (1985) isso já se anunciava como o processo histórico de gestação de um novo padrão de reprodução do capital, que essencialmente romperia com as tendências apresentadas anteriormente.

Ao teorizar sobre a conjuntura chilena do início dos anos 1980, Marini (1982) apontou caminhos para se entender as transformações que supostamente ocorreram no padrão de reprodução do capital na América Latina. Ao compreender que as condições históricas da acumulação de capital se modificaram no pós anos 1960, o que possibilitou uma etapa de profundas transformações, que naquele momento apresentava-se como tendências à especialização produtiva, Marini (1982) percebeu que a demanda externa se instaurava como um campo de realização, ou seja, como resultado e suposto da acumulação de capital. Desta maneira, ele entendeu o padrão de reprodução como a relação entre as estruturas de acumulação, produção, circulação e distribuição de bens que se apresentam historicamente com certa orientação, que se constitui dentro do quadro estabelecido pela imposição de um projeto de classe, por parte de uma fração hegemônica do capital.

Após essa exposição, o próximo capítulo tem como objetivo resgatar a teoria de Jaime Osório sobre o novo padrão de reprodução do capital, ao entender que esta teoria é um desdobramento da Teoria Marxista da Dependência, como foi exposta neste capítulo, para posteriormente serem analisadas algumas categorias em particular, ao compreender como elas se modificaram em virtude da própria transformação do capitalismo em seu conjunto nos últimos cinquenta anos. Esse caminho metodológico se faz necessário para entender as especificidades das relações capitalistas no Brasil contemporâneo, em especial para o período 1990-2010.

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3 AS CONTRIBUIÇÕES DE JAIME OSÓRIO AOS ESTUDOS MARXISTAS SOBRE A DEPENDÊNCIA

A teoria de Jaime Osório é uma releitura contemporânea da análise da dependência, sintetizada a partir das noções de padrão de reprodução do capital na América Latina e de novo padrão exportador de especialização produtiva que seriam a expressão das transformações experimentadas por esta economia dependente a partir do final dos anos 1980. Pertencente a uma nova geração de pensadores que se debruçaram sobre a dependência, esses novos dependentistas buscam “ (…) resgatar a tradição marxista para a interpretação da nova etapa do imperialismo e para a transformação da realidade do capitalismo dependente” (PRADO; CASTELO, 2013, p.2). Sua obra em particular dá prosseguimento e busca desenvolver as concepções elaboradas pela Teoria Marxista da Dependência em seu momento clássico. Fortemente influenciado por Ruy Mauro Marini, buscou dialogar com as categorias do capitalismo dependente, por um lado, e estruturar a definição de método a partir do materialismo histórico dialético aplicado à realidade latino-americana, por outro.

Seu objetivo seria o de compreender o novo padrão de reprodução do capital vigente na América Latina, a partir da crise estrutural dos anos 1970. Para Carcanholo (2008, p.249), “é impossível entender a lógica contemporânea da acumulação de capital em escala mundial sem observar a crise do capitalismo nos últimos 40 anos, assim como as respostas encontradas por ele na tentativa de recompor as condições de uma acumulação ampliada”, pois “as respostas do capitalismo para tentar recuperar-se da crise nos últimos 40 anos impuseram aos países da periferia da economia mundial um acirramento da dependência” (CARCANHOLO, 2008, p.266).

O ponto central que se faz necessário entender é que essa transformação estrutural no modo de produção capitalista se traduz, por um lado, como um elemento da reorganização de forças que se centram no final dos anos 1970 na hegemonia estadunidense (PINTO; BALANCO, 2013), e, por outro, em meio a uma conjuntura de crise, “(…) os novos elementos institucionais abriram espaços para o reflorescimento daquela fração da classe dominante do sistema capitalista, os rentistas, que fora mantida sob controle relativo durante os anos dourados (...)” (PINTO; BALANCO, 2013, p.5).

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Os escritos de Jaime Osório não podem ser descolados de seu momento histórico de lutas. O final do século XX, em consequência do acirramento da questão social, como a consequência histórica da consolidação das políticas neoliberais no subcontinente, assistiu a intensificação da luta da classe trabalhadora em todos os países latino-americanos, o que “(…) abriu uma fresta histórica para a (re)construção de teorias revolucionárias, impulsionando uma nova geração de intelectuais (orgânicos e tradicionais) a construir o processo de retomada da teoria marxista da dependência” (PRADO; CASTELO, 2013, p.6).

A principal contribuição de Osório ao marxismo latino-americano foi o de resgatar os conceitos do capitalismo dependente, presentes na literatura da TMD: superexploração do trabalho, troca desigual, subimperialismo, economia dependente, industrialização periférica, transferência de valor, Estado, agroexportação, mercado interno deficiente, luta de classes. É através desse resgate que ele atualiza esses conceitos a partir do estudo sobre as transformações dos últimos quarenta anos e os seus impactos sobre a estrutura dependente. Para Prado e Castelo (2013), na atualidade a categoria dependência busca romper com as concepções novo-desenvolvimentistas frente às transformações recentes na inserção dos países latino-americanos na DIT, especificamente dentro de um quadro criado com a inserção da economia chinesa, o que levou alguns autores à constatação de que “as múltiplas determinações da etapa contemporânea do capitalismo dependente latino-americano não cabem nas citações das formulações clássicas da Teoria Marxista da Dependência” (PRADO; CASTELO, 2013, p.15).

Por outro lado, em virtude destas mesmas transformações, novos conceitos são incorporados com o intuito de permitir essa atualização, pois teriam que dar conta de novos processos que surgiram no subcontinente com a suposta mudança no padrão de reprodução do capital vigente até os anos 1970. Se pode citar, entre outros, o processo de desindustrialização, a reprimarização das exportações latino-americanas, a noção de bloco no poder, o caráter histórico do neoliberalismo, doença holandesa, dívida externa, pressão inflacionária, a questão social, etc.

Por fim, se pode também aceitar que a teoria de Jaime Osório representa um avanço teórico dentro do marxismo latino-americano, pois ao resgatar e ao incorporar conceitos essenciais para a explicação da contemporaneidade, conseguiu sintetizar as concepções

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marinistas e dependentistas em conceitos mais abrangentes, como o padrão de reprodução do capital na América Latina, ao apontar um novo padrão exportador de especialização produtiva, como decisivo para caracterizar a estrutura dependente entre os anos de 1990 e 2010, porque além de resgatar o conceito de superexploração, Osório definiu um método marxista de análise das categorias próprias do capitalismo dependente e compreendeu a magnitude dos impactos socioeconômicos das políticas neoliberais.

A partir da leitura de Jaime Osório, o padrão de reprodução do capital seria um paradigma histórico, no qual o capital descreve um caminho de valorização e acumulação específico, que em determinados momentos históricos adquire um caráter de princípio e referência, a partir da conjuntura dada pela relação entre os distintos capitais individuais. As mudanças em um padrão seriam a expressão das transformações no próprio modo de produção, onde a consolidação de um poder hegemônico é um dos pilares decisivos para dar realidade a um padrão em particular, porque se pressupõe que a luta de classes esteja condicionada a uma determinada conjuntura histórica.

3.1 PADRÃO EXPORTADOR DE ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA: A ANÁLISE MARXISTA DA DEPENDÊNCIA LATINO-AMERICANA

A noção de novo padrão exportador de especialização produtiva de Jaime Osório se constitui a partir das transformações ocorridas no modo de produção capitalista internacional desde os anos 1970 e como estas produziram modificações importantes nas economias latino-americanas a partir de então (OSÓRIO, 2012). As mudanças que ocorreram são de caráter estrutural, pois de um lado representam o surgimento de uma nova divisão internacional do trabalho, como “(…) una rearticulación de la economia

mundial” (OSÓRIO, 2012, p.32), que na América Latina correspondeu ao processo

histórico de industrialização, dando lugar a um novo padrão de reprodução do capital na periferia, de caráter exportador e baseado na especialização, visto que “(…) lo que

tenemos en América Latina son nuevas formas de organización reproductiva que reeditan, bajo nuevas condiciones, los viejos signos de la dependencia y del subdesarrollo” (OSÓRIO, 2012, p.32).

Referências

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