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ÁREAS DE RISCO A VOÇOROCAMENTO DISTRITO INDUSTRIAL II (MANAUS/AM)

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ÁREAS DE RISCO A VOÇOROCAMENTO – DISTRITO INDUSTRIAL II

(MANAUS/AM)

Amarílis Rodrigues Donald

Graduanda em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas – Manaus (AM) ard.geo@uea.com.br

Raimundo Saturnino de Andrade

Graduando em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas – Manaus (AM) satur.rsa@ig.com.br

Deivison Carvalho Molinari

Doutorando em Geografia (USP) Professor da Universidade do Estado do Amazonas – Manaus (AM) dcmolinari@uea.edu.br

Anne Carolina Marinho Dirane

Graduanda em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas – Manaus (AM) annedirane@ig.com.br

RESUMO

Este artigo é resultado do trabalho de campo da disciplina geomorfologia ministrada no curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas e tem como objetivo caracterizar as áreas de risco a processos erosivos (voçorocamento). Para isso, foram identificadas as características da: a) encosta (comprimento, declividade e forma); b) voçorocas (área de contribuição, tipo, forma e dimensões); e, c) a distância entre as incisões e as residências. A declividade e forma das vertentes, assim como a orientação das voçorocas foram obtidas através da bússola nos segmentos (médio, inferior e superior) da vertente e/ou da voçoroca. As voçorocas foram classificadas baseando-se nos modelos de tipo (OLIVEIRA, 2006) e forma (BIGARELLA e MAZUCHOWISKI, 1985), enquanto que, a área de contribuição e as dimensões foram identificadas através da trena. Os resultados mostraram que as dimensões das 2 voçorocas (A e B) são respectivamente, comprimento (59,80m e 34m), largura (8,80m e 18,40m) e profundidade (9m e 14,20m). As incisões localizam-se a 1,90m e 6,4m de duas casas respectivamente (voçoroca A) e 4,6m e 6,2m de outras duas casas (voçoroca B). Verificaram-se no interior da voçoroca A, do tipo integrada e forma retangular, e na voçoroca B, integrada e forma bulbiforme, diversos depósitos tecnogênicos gárbicos (lixo orgânico e inorgânico), espólico (material escavado) e úrbicos (detritos de construção) na tentativa de conter e/ou reduzir o ritmo de crescimento das incisões. Além disso, constatou-se a presença de tubulações domésticas que se direcionam para as bordas das voçorocas ocasionando o constante despejo e acúmulo de água no fundo da incisão reduzindo gradativamente a coesão do solo. Destarte, as características identificadas mostram que as incisões apresentam expressivas dimensões e que tendem a evoluir seja por sua dinâmica natural favorecida pela ausência de vegetação ou por ações das populações lançando lixo e águas domésticas, agravando, portanto, o risco ambiental.

Palavras – chave: Área de risco – Voçorocamento - Distrito Industrial II (Manaus – AM)

ABSTRACT

This article is a result of the work of field of the discipline geomorphology taught in the geography course of the University of State Amazonas and its has objective is to characterize the areas of risk to erosive processes (gully) For that, the characteristics of: a) pulls in (length, declivity and shape); b) gullies (area of contribution, type, shape and dimensions); and, c) the distance between the incisions and the residences; were identified. The declivity and the shape of the slopes, as well as the direction of

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the gullies were discovered through the compass in the segments (middle, inferior and superior) of the slope and / or gully. The gullies were classified being based on the models of type (OLIVEIRA, 2006) and shape (BIGARELLA and MAZUCHOWISKI, 1985), while, the area of contribution and the dimensions were identified through the tape measure. The results showed that the dimensions of the 2 gullies (A and B) are respectively, length (59,80m and 34m), a width (8,80m and 18,40m) and depth (9m and 14,20m). The incisions are located to 1,90m and 6,4m of two houses respectively (gully A) and 4,6m and 6,2m of another two houses (gully B). They happened to found in the interior of the gully A, of the type integrated and rectangular form, and in the gully B, integrated and it forms bulbiforme, several deposits of tecnogênicos gárbicos (organic and inorganic garbage), espólico (excavated material) and úrbicos (debris of construction) in the attempt of containing and / or reducing the rhythm of growth of the incisions. Besides, it was noted the presence of domestic pipings that leads to the edges of the gullies causing the constant eviction and accumulation of water in the bottom of the incision reducing gradually the cohesion of the ground. After all, the identified characteristics show that the incisions present expressive dimensions and that they have a tendency to evolve, either for his dynamic native favored by the absence of vegetation or by the actions of the population launching garbage and domestic waters, aggravating, so, the environmental risk.

Key-words: Area of risk, Voçorocamento, Industrial District II

INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado do trabalho de campo realizado no Distrito Industrial II (zona Leste da cidade de Manaus) (figura 1) pela disciplina de Geomorfologia ministrada no curso de Geografia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A escolha desta área deve-se pela quantidade de incisões erosivas, do tipo voçorocas, que contribuem para a formação de extensas áreas de risco ambiental.

Figura 1: Área de estudo: a) cidade de Manaus; b) bairro Nova Vitória e, c) as duas voçorocas do estudo ( A e B).

Fonte: Imagem capturada pelo software Google Earth Janeiro de 2009: satélite Ikonos (2002). (A) (B) a) b) c) (A) (B)

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Antes de descrever as características gerais da área faz-se necessário realizar um recorte conceitual sobre que se entende por voçorocamento e área de risco. Voçoroca constitui–se em uma incisão erosiva que apresenta parede verticalizada ou subvertical, fundo plano, formando uma calha em U. Seu sentido de crescimento ocorre de modo regressivo, ou seja, expansão no sentido contrário ao escoamento superficial (contra a gravidade) (MOLINARI, 2009). Os fatores que condicionam a expansão estão relacionados ao uso e ocupação irregular do solo, que por meio da retirada da cobertura vegetal favorece as ações intempéricas (graduais) e/ou erosivas (rápidas), proporcionando uma instabilidade do relevo local.

Desta forma, conforme há o crescimento dessas incisões aumenta-se a probabilidade de acontecer um evento adverso (desastre) podendo causar danos à saúde, propriedade ou ambiente , entendido por risco ambiental (CASTRO et al, 2005).

Isto posto, no que concerne à descrição da área, o local foi adquirido pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) em 1978 para a instalação de novas empresas, já que primeira área (Distrito Industrial I) destinada a este fim, tornou-se insuficiente devido a grande demanda de investimentos ao Pólo Industrial de Manaus (PIM) (MUNIZ et al, 2004). É dentro do Distrito II (local deste estudo) que se encontra a comunidade Nova Vitória, em área de propriedade federal (SUFRAMA) em 2003. Atualmente, esta invasão é considerada como bairro-medida provisória 334/06, na qual houve a doação ao governo estadual de uma área de aproximadamente 1,5 milhões de metros quadrados, a fim de permitir a intervenção em melhorias urbanísticas na área (PIOVESSAN, 2007).

Este bairro é composto basicamente, por dois tipos de padrões habitacionais: o primeiro é identificado por casas de alvenaria, que em suma, estão situadas próximas ao sistema viário (figura 2); e o segundo, por moradias de madeira/compensado (figura 3) assentadas à jusante (parte inferior) das incisões e/ou nas vertentes, constituíndo-se em locais mais propícios às conseqüências de processos exógenos denudantes, como erosão e movimento de massa.

Figura 2: Casa de alvenaria próxima à pista. Figura 3: Moradias de madeira no fundo de vale. Fonte: Amarílis Donald, 2008 Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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Do ponto de vista geológico, o bairro está inserido na Formação Alter do Chão, que se configura como a unidade mais jovem que recobre a bacia Sedimentar do Amazonas, com idade Cretácea superior a Terciária (DAEMON, 1975 apud GEISSLER, 1999). Apresenta afloramento do Arenito Manaus (quartzo arenito – vulgarmente denominada de brita), de coloração rósea, com mosqueados, textura maciça e composta de concreções lateríticas imaturas. Os minerais encontrados são arenitos feldspáticos/cauliníticos, quartzo-arenitos e conglomerados (seixos de quartzo, pelito e arenito) (KISTLER, 1954 apud NOGUEIRA, 1999, VIEIRA e MOLINARI, 2005, REIS, 2006).

Sobre esta formação geológica assenta-se o latossolo amarelo (figura 4), que apresenta dezenas de metros de espessura (FERNANDES FILHO, 1996 apud GEISSLER, 1999), coloração amarelada, devido à presença de alumínio e textura argilosa ou muito argilosa, que teoricamente dificultaria a ação erosiva (CURI, 1993, PRADO, 1995).

Segundo Vieira e Molinari (2006), a geomorfologia da região encontra-se na Porção do Planalto da Amazônia Oriental. Localmente, podem-se observar platôs que variam 200m a 1200m de comprimento bastante dissecado, devido ao alto grau de erosividade das chuvas que denudem a superfície rochosa de modo mais intenso e rápido do que os demais processos exogenéticos. As encostas são predominantemente convexas com grande declividade entre o platô e os vales encaixados, sob os quais se desenvolvem uma rede de canais fluviais, que em quase sua totalidade encontram-se colmatados.

Segundo Nimer (1989), o clima está classificado como Equatorial Quente Úmido. O índice pluviométrico médio anual varia entre 2250 e 2750 mm, com o mês de março o mais chuvoso e agosto o de menor precipitação. A temperatura máxima fica em torno de 38°C e a mínima próxima ao 16°C, com médias anuais variando entre 25,6°C a 27°C, enquanto que a umidade relativa do ar fica entorno de 80%.

Figura 4: Transformação da área por terraplanagem e desmatamento. Exposição de latosssolo amarelo. Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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A vegetação é do tipo Floresta Ombrófila Densa, no entanto, encontra-se bastante alterada, devido à forma de ocupação realizada, cuja predominância é de vegetação secundária e algumas espécies remanescentes da floresta primária. No interior das incisões pode-se observar a presença de vegetação sucessivamente classificadas como pioneiras, com predominância de gramíneas, embaúba (Cecropia spp) e lacre (Vismia spp). Por outro lado, no entorno e no interior da floresta verificou-se a presença de fragmentos florestais, isto é, pequenas “ilhas verdes” – áreas que não sofreram desmatamento e mantêm características originais.

Desta forma, o objetivo deste artigo é analisar a dinâmica erosiva em duas voçorocas circunscritas em área de risco ambiental. Esta análise será feita pela identificação: a) dos tipos e formas das vertentes; b) das feições de retrabalhamento no interior das voçorocas; c) da orientação, declividade, morfometria (comprimento, largura, profundidade) das voçorocas; d) das dimensões das áreas de contribuição das incisões; e, e) da distância entre as incisões às moradias, a fim de avaliar o risco ambiental.

Portanto, para uma melhor apreensão sobre como os dados foram obtidos em campo a seguir expõem-se os Materiais e Métodos utilizados.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os parâmetros identificados/mensurados foram: a) o sentido de crescimento das incisões por meio da mensuração das dimensões como: o comprimento, a largura e a profundidade das incisões erosivas e das áreas de contribuição e as distâncias entre as casas e as voçorocas; b) tipos e formas das feições erosivas; c) feições de retrabalhamento e movimentos de massa; d) tipos de moradia; e) presença de tubulação de esgoto doméstico e vegetação nas voçorocas; f) depósitos tecnogênicos *.

Para a identificação do sentido de evolução, isto é, a orientação (N, S, W, E) das voçorocas utilizou-se bússola de Bruton e um clinômetro para mensuração do grau de declividade na parte superior das vertentes. No que se refere às dimensões, mediu-se com uma trena (50 metros) comprimento, largura e profundidade das voçorocas, e, as distâncias entre as moradias e as incisões. Já a área de contribuição, área a montante da voçoroca que possibilita o escoamento de água a jusante para dentro da voçoroca, levou-se em consideração a declividade e o comprimento.

Quanto ao tipo de voçoroca foi utilizado o sistema classificatório elaborado por Oliveira e Meis (1985), que descreve três tipos (figura 5): a) conectadas – associada ao escoamento hipodérmico e/ou subterrâneo nas partes baixas da encosta, podendo ser considerada um canal de primeira ordem; b) desconectadas – encontram-se na parte superior da encosta, estaria ligada ao escoamento superficial e não poderia ainda ser considerado um canal de primeira ordem em virtude de não estarem ligadas à rede de drenagem; c) integradas - junção das duas formas anteriores (voçorocas conectadas e

*Segundo Peloggia (1998), são processos correlativos às ações decorrentes das formas humanas de apropriação do relevo, no qual podem representar três tipos - gárbicos, espólicos e/ou úrbicos.

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voçorocas desconectadas), formando uma só incisão erosiva. No que tange as formas das incisões, empregou-se a proposta organizada por Bigarella e Mazuchowski (1985) que descrevem seis formas:linear, bulbiforme, dendrítica, entreliça, paralela, composta, e uma sétima, a retangular, acrescida por Vieira (1998) (figura 6).

Para identificação das feições de retrabalhamento (alcovas, canelura, fissuras e movimento de massa) foi desempenhada in situ a prática de observação destacando: a) morfologia da feição; b) localização na parede da voçoroca; c) influência para o crescimento (estabilidade e instabilidade) da voçoroca.

Além disso, o registro fotográfico serviu para verificar a influência antrópica na dinâmica erosiva nas áreas de risco, via presença de canos de esgoto, aos depósitos tecnogênicos, e aos tipos de moradias, a fim de caracterizar o risco ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A morfometria da voçoroca (A) (figura 7) possui 59,80m de comprimento, largura de 8,80m no segmento médio, profundidade de 7,70m na cabeceira e 9m na base da incisão (figura 8). A voçoroca (B) (figura 10) apresenta 31,90m (reentrância direita) e 34m (reentrância esquerda) de comprimento. A largura total das duas reentrâncias é 35 m (18,40m lado direito e 16,60m lado esquerdo), enquanto que a profundidade é de 14,20m (figura 11). Nas cabeceiras vale ressaltar a presença de depósitos tecnogênicos do tipo espólico (aterro) que fora utilizada para “conter” o crescimento da incisão, mas não se obteve êxito, já que é possível identificar planos de ruptura (fissuras) no solo depositado (figura 12) representando o prenúncio de movimento de massa.

No que tange ao tipo, ambas as incisões são integradas (figura 5). A forma da voçoroca (A) (figura 8) é classificada como retangular, o estágio de alto grau evolutivo (expansão) alcançado pela incisão, no qual houve a união de ramificações pré-existentes. Já no caso da voçoroca (B), apresenta a

Figura 5: Tipos de voçorocas Figura 6: Formas das voçorocas.

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forma bulbiforme (figura 11), que possui duas reentrâncias que convergem água para seu interior, por meio de canos de esgoto doméstico (figura 13) e ao fluxo superficial pluvial.

O sentido de crescimento da voçoroca (A) é SW-NE e da (B) SW-NE (lado direito) e SE-NW (lado esquerdo) (figura 8 e 11), com os graus de declividade: 14° (A) e 4° (B) (lado direito) e 0° (lado esquerdo) respectivamente.

Fig. 8

Fig. 9

Fig. 7

Figura 7: Morfometria da voçoroca (A). / Fonte: Amarílis Donald, 2008; Figura 8: Croqui voçoroca (A) / Fonte: Raimundo Saturnino, 2008; Figura 9: Casas próximas à incisão (A) / Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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Fig. 11

Fig.10

Fig. 12

Fig.13

Figura 10: Voçoroca (B)..Fonte: Amarílis Donald, 2008.

Figura 11: Croqui voçoroca (B) / Fonte: Raimundo Saturnino, 2008.

Figura 12: Planos de ruptura na área de contribuição/ Fonte: Amarílis Donald, 2008. Figura 13: Cano de esgoto doméstico na incisão (B) / Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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Ao que se refere à dimensão da área de contribuição, a incisão (A) possui 33m e a (B) 55 m na reentrância do lado direito e 27,30m a do lado esquerdo (figura 8 e 11). Nestas áreas estão presentes casas que em suma encontra-se perto das bordas, podendo destacar que na voçoroca (A) (figura 9) existem quatro habitações: a primeira localiza-se no lado esquerdo com distância de 6,40m; a segunda à cabeceira da voçoroca a 1,90m; a terceira no lado direito a 7m, e, uma quarta no mesmo lado a 4,30m (figura 8). E a incisão (B) possui quatro moradias (figura 10), sendo que uma fica na borda direita com19 m, outra no lado esquerdo com 18,10m, a terceira, entre as duas reentrâncias com 3,70 m, e a quarta na borda esquerda a menos de 2m de distância. Estes dados sugerem que, conforme há o aumento das dimensões das incisões mais haverá diminuição da distância entre estas casas e as voçorocas (relação inversamente proporcional).

Dentro destas incisões encontram-se feições de retrabalhamento erosivo, que em termos geomorfológicos, são formas resultantes dos processos de denudação através do destacamento e transporte de sedimentos. Nas duas voçorocas pode-se destacar a existência de quatro tipos de feições (figura 8 e 11): alcovas, fissuras, caneluras, e movimento de massa.

A alcova (figura 14) está localizada na borda direita da voçoroca (B) (figura 11). Segundo Oliveira (1999), é uma feição que pode ser observada por diferentes condições litológicas e climáticas, surge tanto pelo escoamento superficial quanto pela exfiltração do lençol freático, ou até mesmo pela combinação dos dois mecanismos. Essa feição indica a diferenciação textural do solo, ou seja, demonstra que na vertente podem-se observar camadas de solo menos resistentes à erosão, assim ocorrendo o descalçamento da base e o solapamento da parte superior por movimento de massa (desmoronamento), portanto, instabilizando a parte superficial da voçoroca.

Figura 14: Alcova em destaque (vermelho) na voçoroca (B). Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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As fissuras (figura 15) podem ser observadas nas duas voçorocas, mas há predominância nas bordas da incisão (A) (figura 08), surgem pelo entalhamento das paredes das vertentes com materiais pouco coesivos. O principal condicionante é a presença de fendas de tração na superfície do solo produzidas pelo encrostamento superficial que ao mesmo tempo, impede/dificulta a infiltração de água, gerando escoamento superficial concentrado para dentro das incisões, que cria caminhos preferenciais da água nas linhas de fraturas de entalhamento vertical. Desta forma, estas fissuras proporcionam movimento de massa de forma que instabiliza as bordas das incisões, portanto, contribuindo a expansão da voçoroca.

A canelura (figura 16) observada na voçoroca (B) (figura 11) de acordo com Oliveira (1999) indica as características mecânicas das coberturas superficiais, na qual se origina pelos fluxos superficiais que convergem para o interior de fendas ou macroporos biogênicos. Sua característica peculiar é a presença de sedimento em sua parte interna. Essa feição é resultado da interação entre a erosão por quedas de água na base dos taludes ou de degraus da parte interna das voçorocas. Sua expansão está relacionada à capacidade de transportar grande quantidade de material, no que gera uma instabilidade do terreno acima (GUERRA, 1994, OLIVEIRA e CAMARGO, 1996 apud VIEIRA, 2008).

Figura 15: Fissura vertical (vertical) e fendas de tração

(horizontal).

Fonte: Amarílis Donald, 2008.

Fendas

Fissuras Fendas

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Os movimentos de massa (figura 17) constituem em movimento rápido pela ação da gravidade de matéria orgânica, solo, lixo e rocha. Sua ação ocorre por tombamentos, escorregamento e fluxo de lama. A identificação é dada pelas marcas nas paredes e pela presença de sedimento na base das voçorocas. Um fato interessante a ser pontuado é que nesta feição de retrabalhamento já há o reafeiçoamento erosivo por meio de sulcos (figura 18 - 1) e desmoronamento sobre a massa movimentada de escorregamento (figura 18 - 2). A presença de quedas em bloco (figura 19) tem como condicionante as fraturas localizadas nas bordas das voçorocas (MOLINARI, 2009). Isto mostra o alto grau de atividade dos processos erosivos atuantes tanto na incisão quanto nas feições de retrabalhamento.

Figura 16: Canelura localizada próximo da

alcova na voçoroca (B).

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Estas feições de retrabalhamento indicam a instabilidade das paredes/superfície das voçorocas apresentadas, já que foi observada in situ a presença de material depositado (sedimentos) no sopé das voçorocas e fendas transversais no material carreado, devido à morfodinâmica acelerada e intensa na incisão erosiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução das duas voçorocas (A e B) ocorre de modo progressivo, pois é possível identificar dentro dessas incisões grande reafeiçoamento tanto por feições de

Figura 19: Queda em bloco na voçoroca (A). Fonte: Amarílis Donald, 2008.

Figura 17: Movimento de massa na voçoroca (A). Fonte: Amarílis Donald, 2008.

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Figura 18: Movimento de massa na voçoroca (A),

(1) sulcos e (2) massa movimentada.

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retrabalhamento, quanto por planos de ruptura que denunciam possíveis movimentos de massa.

O crescimento das voçorocas está relacionado à interação de fatores de ordem natural (pluviosidade, grau de cobertura vegetal, declividade) e, antrópica, que ao retirar do solo a cobertura vegetal desequilibra a dinâmica natural, assim como, pela instalação de canos de esgoto nas bordas das incisões.

O estágio de desenvolvimento destas incisões pode ser avaliado por meio de sua forma. No caso, a voçoroca (B) possui forma bulbiforme, pois apresenta duas reentrâncias, que indicam canais preferenciais de escoamento de água, no caso, pluviais e/ou esgoto doméstico. Ao passo que, a voçoroca (A) é retangular, considerada como o estágio posterior ao bulbiforme, que alcançou alto grau de crescimento, na qual ramificações pré-existentes possivelmente foram integradas, formando apenas um único entalhe erosivo.

O risco ambiental ficou evidente, devido existir sete moradias distribuídas no entorno das duas incisões erosivas, em destaque uma casa que fica a menos de dois metros à montante da voçoroca (A), e outra a vinte metros na área de contribuição da incisão (B), isto é, por mais que haja uma diferença nos valores de distância entre casa-voçoroca, ambos as voçorocas encontram-se em áreas perigosas a locação humana, já que a primeira está sobre fendas de tração e fissuras, e a segunda, próxima aos planos de ruptura identificados na área de contribuição.

Destarte, a evolução das voçorocas contribui significativamente para o aumento da susceptibilidade a desastres, sejam de cunho econômico e/ou de vidas.

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