• Nenhum resultado encontrado

História Empresarial e a Formalização Social do Passado nas Organizações: um Estudo do Memória PETROBRAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "História Empresarial e a Formalização Social do Passado nas Organizações: um Estudo do Memória PETROBRAS"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

1 História Empresarial e a Formalização Social do Passado nas Organizações: um

Estudo do Memória PETROBRAS Aluno: Carolina Martins Sauma

Orientadora: Profa. Alessandra de Sá Mello da Costa.

1. Introdução

Este relatório tem por objetivo sistematizar o que foi desenvolvido no período 2011/2012 no âmbito do Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica História Empresarial e a Formalização Social do Passado nas Organizações: um estudo do Memória PETROBRAS.

O interesse pela temática da memória - e pela memória das organizações em particular - vem crescendo a cada dia (Rowlinson et. al 2010), o que nos permite identificar a ascensão, também no dia a dia organizacional, do que Huyssen (2000; 2004) denomina de uma contemporânea cultura da memória. No que diz respeito às organizações, a sua memória vem sendo formalizada de várias formas. Uma das mais significativas, e que escolhemos para foco de estudo desta pesquisa é a criação de Centros de Memória e Documentação Empresariais.

De uma forma mais ampla, estes centros são espaços com função cultural, educativa e – principalmente – estratégica onde a história da empresa (e sua trajetória) é resgatada do passado, legitimada e tornada pública. De forma menos recorrente, os Centros de Memória também abrigam o histórico do ramo e da área de atuação da empresa, as histórias dos seus funcionários e da própria sociedade na qual está inserida a empresa. Ao mesmo tempo, memória empresarial pode ser entendida como uma facilitadora de relacionamentos, estreitando laços estratégicos da organização buscando: (a) aproximar a empresa de funcionários, colaboradores e parceiros; (b) fortalecer a marca e a identidade da empresa no mercado; (c) contribuir para a gestão de pessoas e para uma melhor comunicação interna e externa; (d) desenvolver mecanismos que viabilizem o autoconhecimento da organização por meio do resgate de processos, princípios e valores empresariais; (e) atender a pesquisadores, oferecendo informações históricas da organização; e (f) viabilizar uma integração de diferentes culturas empresariais provenientes de fusões, aquisições e reestruturações.

De acordo com Figueiredo (2009), vários centros de memória foram criados até hoje, por exemplo, o Núcleo de Memória Odebrecht, o Centro de Memória Bunge, o Memória Globo, o Memória Votorantim, o Projeto Memória Bosch, o Espaço Memória Pão de Açúcar e o Centro de Memória Natura. Ainda conforme esta autora, “as memórias das empresas se tornam (...) ferramentas de gestão empresarial (...) [e] buscam fundamentarem tomadas de decisão e o estabelecimento de uma comunicação mais direcionada com objetivos ligados ao fortalecimento da empresa junto aos seus públicos de interesse na sociedade” (Figueiredo, 2009, p.4).

2. Objetivo

Assumindo a premissa de que a memória formalizada pelas empresas pode ser entendida como estratégia organizacional, a pesquisa teve por objetivo: (1) investigar historicamente a criação do Memória PETROBRAS; e (2) identificar e analisar quais foram as estratégias atreladas a esta criação. Assim, buscou-se identificar como uma grande organização brasileira constrói a sua trajetória histórica a partir da sistematização e enquadramento das memórias individuais de seus trabalhadores no

(2)

2

Programa Memória dos Trabalhadores Petrobras. De forma a atingir tal objetivo, foram coletados e depois analisados 575 depoimentos concedidos a esta organização durante os anos de 2002 a 2012 e disponibilizados no sítio eletrônico do próprio Programa.

3. Referencial teórico

O referencial teórico foi construído junto com a profa. orientadora e contemplou as seguintes temáticas: (a) Memória e Memória Empresarial; e (b) Memória Petrobras.

3.1 Memória e Memória Empresarial

Nesta pesquisa assume-se a definição de memória como a condição daquilo que se tem no presente e que pertence ao passado (Le Goff, 2008). Segundo Pollak (1989; 1992), a memória é um fenômeno construído socialmente e são duas as suas funções essenciais: a) manter a coesão interna; e b) defender as fronteiras daquilo que um grupo tem em comum. Em função dessa condição, transforma-se tanto em um quadro de referência quanto em pontos de referência por meio da identificação e do compartilhamento de significados, ou seja, em “uma memória estruturada com suas hierarquias e classificações, uma memória (...) ao definir o que é comum a um grupo e o que o diferencia dos outros, fundamenta e reforça os sentimentos de pertencimento e as fronteiras sócio-culturais” (Pollak, 1989, p. 3).

De acordo com Neves (2009, p.22), “em seu incessante artesanato, a memória entrecruza, necessariamente, pólos aparentemente antitéticos tais como o tempo lembrado e o tempo da lembrança; o individual e o coletivo; o registro e a invenção; o material e o simbólico; a rememoração e o esquecimento; as paixões e os interesses; a informação e o ocultamento; a razão e a emoção”. É neste sentido que, como argumenta Laborie (2009), as memórias: (1) são plurais; (2) podem ser utilizadas e empregadas de várias formas; (3) colocam em evidência eventos selecionados e com significação particular; (4) são encenações do passado; (5) congelam o tempo e a ‘verdade’; e (6) possuem uma função militante.

Assim, pensar o tema memória permite refletir sobre a ideia de que nenhum diálogo acerca do passado e do presente é neutro, uma vez que exprime um sistema de atribuições de valores. Tal como ocorre na história, a memória pode ser entendida como uma construção provisória e mutável (Neves, 2009). Por possuir uma condição modificadora - uma vez que vincula o conhecimento do passado com as perspectivas do presente - a memória, quando formalizada, torna possível uma (re)elaboração do mundo, transformando e sustentando realidades existentes (Ricoeur, 2007).

Toda essa discussão pode ser transferida para a análise da gestão das memórias nas organizações: a memória empresarial - recorrentemente (re)construída, (re)enquadrada e disseminada - está presente no dia a dia da organização e pode ser identificada nas várias expressões da memória coletiva da empresa. De acordo com Gourvish (2006), é inegável o foco instrumental das empresas. Focos tradicionais empresariais, como conseguir maior confiança do mercado, levar a cabo ações de relações públicas que melhorem a imagem da empresa, ou que proporcionem a adoção de modelos bem sucedidos no passado são alguns dos objetivos da história empresarial.

Assim, de acordo com Costa e Saraiva (2011), as memórias podem ser classificadas de diferentes maneiras, como memórias esquecidas (que não valem a pena serem lembradas); as memórias subterrâneas (desenvolvidas a partir de uma historia não oficial); memórias clandestinas (são ilegítimas do ponto de vista oficial); memórias silenciadas (verdadeiras mas que não há desejo da organização em divulgá-las); memórias vergonhosas (que demonstram muitas vezes decisões que falharam, causaram

(3)

3

problemas a organização) e as memórias proibidas (onde não há nenhuma possibilidade de serem resgatadas). É neste sentido que, por um lado, as histórias empresariais buscam engrandecer os seus feitos do passado, a narrar de forma épica dificuldades dos anos iniciais, a romantizar a atuação dos líderes em períodos-chave, enfim, a contar a história da empresa como se tratasse de um relato oficial e único de fatos – e não de uma versão, entre as várias possíveis (Leblebici e Shah, 2004).

3.2 Memória Petrobras

Sociedade anônima de capital aberto e economia mista, a Petrobras é a maior empresa do Brasil, a oitava do mundo em valor de mercado e a terceira maior companhia de energia do mundo (Petrobras, 2012). Fundada em 1953, desenvolve atividades em vinte e oito países atuando nas áreas de exploração e produção, refino, comercialização, transporte e petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica (Petrobras 2012). Ainda de acordo com o site oficial possui mais de cem plataformas de produção, dezesseis refinarias, trinta mil quilômetros em dutos e mais de seis mil postos de combustíveis. Suas reservas provadas estão em torno de 14 bilhões de barris de petróleo, mas a perspectiva é de que esse número, no mínimo, dobre nos próximos anos. De forma a destacar a importância desta empresa no contexto brasileiro, além das informações já mencionadas, cabe ressaltar que com a descoberta de petróleo e gás na região do pré-sal existe a previsão de que o Brasil possa ser o quarto maior produtor de petróleo do mundo em 2030 (Petrobras, 2011; 2012).

Consta em seu Relatório de Sustentabilidade 2010 a informação de que a empresa tem por objetivo criar um bom relacionamento com seus públicos de interesse assim como proporcionar um ambiente transparente em torno de sua imagem e reputação (Petrobras, 2011). De acordo com este relatório, são considerados públicos de interesse os grupos de indivíduos ou organizações com questões e necessidades comuns de caráter social, político, econômico, ambiental e cultural, que estabelecem ou podem estabelecer relações com a empresa são capazes de influenciar ou ser influenciados por atividades, negócios e pela reputação da companhia. Ainda no que diz respeito às suas práticas de governança corporativa e responsabilidade socioambiental, a empresa está entre as mais sustentáveis do mundo e desde 2006 faz parte do Índice Dow Jones de Sustentabilidade (Petrobras 2011; 2012).

De acordo com a empresa, todas as suas práticas de gestão são fundamentadas e orientadas pelos seus valores organizacionais. O Projeto Memória dos Trabalhadores da Petrobras foi criado oficialmente em 2002 com o objetivo de ser um projeto de registro histórico, conservação de documentos e coleta de depoimentos dos empregados da companhia (Petrobras 2012).

Em 2004, o Projeto Memória dos Trabalhadores se transformou em um programa permanente de memória, o Programa Memória Petrobras. Conforme expresso no livro editado pela empresa – Energia da Memória: As lições da Petrobras (Petrobras, 2010, p. 168), esta transformação ocorreu “por conta da percepção do tema como importante ferramenta estratégica da companhia”. O então novo programa incorporou o Projeto Memória dos Trabalhadores como uma de suas quatro linhas de pesquisa, que também passaram a incluir a memória do conhecimento, que retrata como a Petrobras contribuiu na tecnologia do país, nessa linha, recolheram muitos depoimentos dos trabalhadores das áreas de explosão e Produção, Engenharia, do Centro de Pesquisa e refinarias; a memória do patrocínio onde mostra em quais eventos que a Petrobras foi patrocinadora, nas áreas de cultura, esportiva e sócio-cultural, contrinuindo assim para a formação de uma memória social coletiva e de uma identidade brasileira ; e a memória

(4)

4

das comunidades, na qual vários depoentes falaram da importância dos projetos sociais preocupados com a responsabilidade social, pois com a chegada da Petrobras em alguns lugares, desenvolveu determinados impactos para as áreas e comunidades.

Pelo que podemos observar até o momento, os depoimentos tem muitos valores em comum com a empresa, os seus colaboradores, são chamados de Petroleiros, o que nos permite afirmar que há uma enorme interação entre eles e a organização; mostrando o orgulho de trabalhar na Petrobras, da grande oportunidade de trabalhar em uma empresa como essa. Muitos depoimentos relatam também de grandes amizades que foram formadas a partir do dia a dia deles dentro da empresa, o respeito de uns com os outros. Até mesmo quando eles citam de alguns acidentes que aconteceram, eles relatam da colaboração de pessoas que não eram do setor em questão.

4. Metodologia

Para que os objetivos desta pesquisa fossem alcançados, desenvolvemos uma pesquisa historico-institucional que, para a construção do corpo de dados, utilizou como fonte documentos institucionais e depoimentos dados à empresa pelos seus trabalhadores. disponíveis no sitio eletrônico. Assim, além dos Relatórios de Sustentabilidade e Relatórios Anuais, foram coletados 575 depoimentos concedidos à empresa por seus trabalhadores na ativa e já aposentados. Os depoimentos foram salvos em formato digital e possuem em torno de uma a oito páginas transcritas, totalizando uma média de 2700 páginas de material bruto. Cabe a ressalva de que não foi possível obter as entrevistas pretendidas anteriormente com os criadores e gestores do projeto e com demais funcionários da empresa.

De forma a embasar e conduzir os protocolos metodológicos requeridos, os dados foram analisados segundo análise do discurso. Assume-se nesta pesquisa que a análise do discurso é o estudo sistemático de um conjunto de textos que tem por objetivo desvendar a forma como os discursos adquirem significado por meio de atividades que incluem a produção, a distribuição e o consumo destes mesmos textos. Mais do que interpretar a realidade social como ela existe, a análise do discurso busca compreender como a realidade social é produzida. Como desdobramento, por meio da análise de um conjunto de discursos pode-se encontrar as motivações de um dado grupo, o que desvendaria os interesses estratégicos existentes em um contexto específico.

As seguintes atividades foram desenvolvidas nesse processo: (1) revisão de bibliografia (junto com a profa. orientadora) sobre o tema história e memória empresarial; (2) início do processo de coleta de dados acerca do Memória PETROBRAS; (3) finalização do processo de coleta de dados acerca do Memória PETROBRAS; e (4) início da análise dos dados coletados.

5. Análise

No que diz respeito à análise dos dados coletados, 1/3 dos depoimentos já foram lidos e, a partir deste procedimento, separados e categorizados em quatro grandes categorias, quais sejam: (1) a natureza do trabalho da empresa; (2) a importância da empresa para o Brasil e o mundo; (3) a importância da empresa para o indivíduo; e (4) O Programa Memória Petrobras. No Quadro I abaixo, podemos entender melhor a relação entre cada categoria e sua descrição:

Quadro I: Categorias criadas a partir da coleta e análise dos dados

(5)

5

1. A natureza do trabalho da empresa. Esta categoria descreve o que a empresa faz na visão do trabalhador.

2. A importância da empresa para o Brasil e o Mundo.

Benefícios das atividades da empresa para a economia do país, para a sociedade e para a vida de cada um dos seus trabalhadores.

3. A importância da empresa para o individuo. Esta categoria descreve a importância da contribuição da empresa com vários aspectos positivos, para o sucesso de cada trabalhador.

4. O Programa Memoria Petrobras. Essa categoria descreve o projeto de registro histórico, conservação de documentos e coleta de depoimentos dos colaboradores da companhia.

5.1 Categoria “A natureza do trabalho da empresa”.

A primeira categoria, “A natureza do trabalho da empresa”, diz respeito às percepções relatadas pelos trabalhadores acerca do próprio negócio da empresa e de quais são as suas práticas de gestão. Nesta categoria os principais temas identificados foram os discursos sobre a responsabilidade sócio-ambiental da empresa e sobre as relações de trabalho propriamente dita.

O meio ambiente e a responsabilidade socioambiental fala sobre as relações da empresa com o contexto sócio-ambiental no qual ela está inserida. O valor organizacional identificado nesse conjunto de narrativas foi desenvolvimento sustentável que diz respeito ao sucesso dos negócios com uma perspectiva de longo prazo, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social e para um meio ambiente saudável nas comunidades onde atua. Um exemplo é o depoimento de Adão Expedito Santos:

”Em função de normas, certificado de qualificação, começamos a observar mais, a se preocupar bem mais com o meio ambiente dentro da Refinaria. Desde 1975, a Refinaria já tinha essa área verde. É um cartão postal da Refinaria, que é conhecida como a “Refinaria Verde”. Todo mundo tem orgulho dessa área, dessa preservação aqui na Refap”. Um outro depoimento significativo foi o da Ana Cristina Gomez Cabaleiro Torretta, relatando sobre a preocupação com portadores de deficiência:

”A nossa contratação está incluída na parte de responsabilidade social, a parte de trabalho para pessoas portadoras de deficiência física, a

(6)

6 parte ambiental, que a Refinaria também tem, junto com a Acadef. Então, todo esse trabalho de ação social também é repassado para a nossa empresa e a gente trabalha em conjunto”.

Retratando agora sobre o tema relações de trabalho, podemos perceber que os discursos relatam o dia a dia dos colaboradores, as condições de trabalho e suas tecnologias com orgulho, como no caso do depoimento de Aloisio Pellon de Miranda:

“A Petrobras não tem nada a dever a nenhuma outra empresa de grande porte que existe no mundo. Em termos técnicos, principalmente devido ao esforço – estou falando mais da área de exploração – de ter feito nos anos 70 e início dos anos 80, um programa maciço de envio de geólogos, geofísicos para mestrado, doutorado no exterior, quando se criou uma capacitação. (...) a Petrobras foi levada a desenvolver todo um programa de exploração, de engenharia de perfuração e produção para atuar em lâminas d’água em água profunda. Poucas empresas têm esse ciclo completo.

Cabe destacar que muitos outros depoimentos revelam também o prazer e a alegria de fazer parte da empresa, mostrando a felicidade de se trabalhar em uma empresa como a Petrobras. Em especial quando falam sobre a atuação da empresa no mundo e de suas experiências de trabalho no exterior. Para os depoimentos analisados, a internacionalização da empresa já é realidade e motivo de orgulho e satisfação. Este é o caso do depoimento de Álvaro Alves Teixeira:

Para uma empresa ser grande, ela tem que ser mundial. Ela não pode ser do tamanho da reserva do Brasil, ela tem que ser realmente grande. (...) tem que estar num mercado globalizado até para maximizar os seus resultados”.

5.2 Categoria “A importância da empresa para o Brasil e o Mundo”.

A segunda categoria selecionada, “A importância da empresa para o Brasil e o Mundo”, relata exatamente os benefícios que a empresa gerou não só para o Brasil, como para sua sociedade e também para o mundo. Nesta categoria os principais temas identificados foram os discursos sobre a cultura e a imagem da Petrobras.

No que diz respeito à cultura Petrobras, muitos depoentes revelam com orgulho o trabalho realizado na organização. Abelardo Figueiredo conta a sua experiência:

“Tenho orgulho em trabalhar na Petrobras. Pelo que me conheço hoje, com essa maturidade que adquiri, acredito que se eu não tivesse orgulho de trabalhar na Petrobras, estaria fazendo qualquer outra coisa. A vida já me deu várias oportunidades de sair da Petrobras. No entanto, tenho orgulho de trabalhar e contribuir para o progresso nacional, de participar dessa grande família que é a Petrobras. Na verdade, somos um complexo de inúmeros profissionais. Viemos de lugares muito diferentes. Então nós aqui somos um retrato, um extrato bastante significativo do Brasil. E isso me dá muito orgulho. Trabalhar em uma empresa que é a cara do Brasil e que dá certo“.

(7)

7

Outro entrevistado, Aécio Guimarães Meneses, também fala sobre com orgulho sobre a imagem que a empresa tem no imaginário da população brasileira:

“Já trabalhei em diversas áreas. Adentrei na Petrobras, como já disse, através de um concurso público. Acho, que todas as pessoas têm um sonho. O símbolo Petrobras é muito vivo na mente da população, isso há anos, pelo respeito que o povo tem por essa empresa, que pertence a ele”.

Esta mesma imagem aparece nos depoimentos quando o tema é a relação da Petrobras com outras empresas no mundo e também com empresas nacionais. Segundo Antônio Kydelmir Dantas de Oliveira:

“Infelizmente eu não tenho 50 anos dentro da Petrobras, mas eu gostaria de ficar até 100, 200 anos se me fosse possível. Quando entrei, a Petrobras era a 33ª no ranking mundial. Hoje, ela está bem mais acima disso, me sinto orgulhoso por isso e acho que é bastante marcante a competência que essa Empresa tem. Poucas no mundo têm. A Petrobras está superando muitas empresas de países de Primeiro Mundo”.

Também identificamos nos discursos depoimentos que contam do sonho de trabalhar em uma empresa como a Petrobras, do desejo de anos em participar dos concursos e ser aprovado, de ajudar junto com a empresa a fazer o país crescer. Alex de Souza Barcelos é um representante deste grupo e conta:

”Era um sonho porque significava uma empresa de crescimento, uma garantia de emprego, uma posição de crescimento profissional, de respeito social. Porque a pessoa ser funcionário da Petrobras é um respeito. Antigamente era e hoje ainda continua sendo. Eu vou completar agora 13 anos de empresa, então é uma conquista, você ter uma estabilidade de emprego, uma empresa boa que te dá coisas que são direito do trabalhador; muitas empresas aí não dão. Realmente é uma prazer trabalhar na Petrobras e é um motivo de orgulho prá mim”. 5.3 Categoria “A importância da empresa para o indivíduo”.

A terceira categoria, “A importância da empresa para o individuo” descreve a importância da contribuição da empresa com vários aspectos positivos, para o sucesso de cada trabalhador. Os depoimentos desta categoria são muitas vezes expressos de forma emotiva e envolve temas como, por exemplo, ser Petroleiro, como no caso de Adão Expedito Santos:

“Ser petroleiro é ter responsabilidade e seriedade. As pessoas chegam aqui e ficam impressionadas com a Unidade, com o tamanho do processo. Quem está trabalhando aqui tem esse sentimento de passar a responsabilidade do serviço, sempre preocupado. O que se faz aqui, embora o pessoal de fora não tenha a dimensão, afeta a vida das pessoas. É um produto que circula, diariamente está chegando a um

(8)

8 posto de gasolina e se faz ao natural. Quando se conhece a área, o local onde é produzido o produto e a maneira como é produzido, as pessoas ficam admiradas. Então, é importante passar para as pessoas a responsabilidade e a seriedade de se trabalhar aqui.”

Na verdade, o que é ser petroleiro? Para quem trabalhou lá, essa expressão engloba valores, sonhos, desejos, contribuições, erros e acertos. Eles se consideram uma grande família, pois todos colaboram quando há um problema maior, se respeitam e convivem durante muitos anos juntos. Na empresa eles construíram uma vida juntos, criaram uma Nação chamada Petrobras, como expresso no depoimento de Alberto Severo:

“Uma vez petroleiro, sempre petroleiro. O que é ser petroleiro? Primeiro, ser petroleiro é ser Petrobras, porque existem outras petroleiras. Aqui mesmo, no Rio Grande do Sul, existe a primeira refinaria do Brasil, que foi a Argos, em Uruguaiana. A segunda foi a Ipiranga, em Rio Grande. Então, quando digo petroleiro, digo petroleiro Petrobras. Ser petroleiro significa ter trabalhado, vivido e sentido a Petrobras. Sentir-se como participante, coadjuvante e ator dentro desse cenário Petrobras. Eu me considero assim. Acho que eu contribuí bastante no começo. A Petrobras contribuiu muito comigo também. Crescemos juntos, isso é ser petroleiro”.

O desenvolvimento pessoal esta atrelado ao desenvolvimento da empresa, é com essa visão que eles falam do trabalho, não é um qualquer e simples emprego. As narrativas analisadas expressam sentimentos de pertencimento a uma espécie de comunidade como uma nação. Por isso, também foi identificado nos relatos a avaliação de que existe um grande respeito por parte da empresa para com todos que trabalham nela e, por isso, busca fazer das pessoas e de seu desenvolvimento um diferencial de seu desempenho, como relata Benedito Augusto do Rosário Torres:

“Eu só tenho a dizer que tudo o que eu tenho, tudo o que eu possuo, eu agradeço a Petrobras. E tenho a Petrobras como uma mãezona. Continuo e continuarei vestindo a camisa Petrobras (...) Eu fui Petrobras, sou Petrobras e vou morrer sendo Petrobras.”

A quarta e última categoria ainda está em processo de análise.

Considerações Finais

A ideia de fazer essa pesquisa iniciou-se, primeiramente, a partir da percepção do crescimento dos estudos sobre Memória Empresarial. Mas por trás de grandiosos projetos de reconstituição de trajetórias históricas, existem muitos interesses, e acreditamos que o primordial é o estratégico. Neste sentido, a criação de Centros de Memória e Documentação de Empresas tem uma função importante: relatar de forma positiva fatos importantes que aconteceram no passado das organizações e que ainda influenciam seu dia a dia.

Até o momento, a pesquisa nos permitiu identificar alguns indícios de como uma grande organização brasileira constrói a sua trajetória histórica a partir da sistematização e enquadramento das memórias individuais de seus trabalhadores no Programa Memória dos Trabalhadores Petrobras. A análise dos discursos dos

(9)

9

trabalhadores – materializadas nos depoimentos coletados - nos permitiu iniciar a identificação de como a constituição deste Programa parece contribuir para o alcance do objetivo estratégico de promover um maior entendimento do que a empresa é hoje e de quais são os seus principais valores.

Os discursos individuais podem ter múltiplas interpretações acerca dos eventos passados e das antigas práticas de gestão, no entanto, quando estas memórias individuais transformam-se em memória coletiva empresarial torna-se possível a identificação de nuances de produção e reprodução de interpretações dominantes do passado. No caso desta pesquisa, as escolhas empresariais selecionam e enquadram as suas fontes buscando definir e legitimar uma determinada trajetória histórica.

Para que este objetivo alcance toda a sua potencialidade cabe dar continuidade ao processo buscando relacionar os depoimentos coletados e analisados aos valores organizacionais presentes nos documentos oficiais públicos. Esta será a etapa a ser desenvolvida no período de 2012/2013.

No nosso entender, este processo precisa ser problematizado, o que nos leva a sugerir a necessidade de continuação da presente pesquisa e da constituição de pesquisas futuras acerca da memória e seu lugar nos estudos de Administração. A referência ao passado, bem como a apropriação de interpretações acerca desse passado, torna possível a coesão e a definição do papel da empresa na sociedade. Mais do que a mera ilustração cronológica de acontecimentos anteriores, a construção da trajetória histórica de uma empresa diz respeito, em última instância, à legitimidade que possuem os empresários e seus representantes de definir o que deve ser lembrado naquele contexto organizacional específico.

Referências:

Costa, Alessandra Mello; Saraiva, Luiz Alex Silva. (2011) Memória e Formalização Social do Passado nas Organizações. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro 45(6): 1629-2043, nov/dez.

Figueiredo, Miriam. (2009) ‘Da Memória dos Trabalhadores à Memória Petrobras: história de um projeto’. Dissertação de Mestrado. CPDOC – FGV, Rio de Janeiro. Gourvish, T. (2006) ‘What Can Business History Tell us About Business Performance?’ Competition & Change, 10(4): 375-392.

Huyssen, Andreas. (2000) Seduzidos pela Memória: Arquitetura, Monumentos, Mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano.

Huyssen, Andreas. (2004) ‘Mídia e Discursos da Memória’. Revista Brasileira Ciência da Comunicação. São Paulo, 27(1).

Laborie, Pierre. (2009) ‘Memória e Opinião’, in C. Azevedo; D. Rollemberg; M. F. Bicalho; P. Knauss. Cultura Política, memória e historiografia. Rio de Janeiro, FGV: 79-97.

Leblebici, H. and Shah, N. (2004) ‘Birth, Transformation and Regeneration of Business Incubators as New Organizational Forms: Understanding the Interplay Between Organizational History and Organizational Theory’. Business History, 46 (3): 353-380. Le Goff, Jacques. (2008) História e Memória. Campinas: Unicamp.

Neves, Margarida (2009) ‘Memória e Historiografia’, in R. Soihet; M. Almeida, C. Azevedo, R. Gontijo. Mitos, Projetos e Práticas Políticas: Memória e Historiografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 21-34.

Petrobras (2003) Almanaque Memória dos Trabalhadores Petrobras. Rio de Janeiro: Petrobras. São Paulo: Museu da Pessoa.

(10)

10

Petrobras (2012a) Relatório Petrobras de Sustentabilidade 2010. Disponível em: http://www.petrobras.com/pt/quem-somos. Acessado em março de 2012

Petrobras (2012c) Código de Ética. Disponível em: http://www.petrobras.com/pt/quem-somos/governanca. Acessado em fevereiro de 2012.

Pollak, Michael. (1989) ‘Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 2(3): 3-15.

Pollak, Michael. (1992) Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 5(10): 200-212.

Ricouer, Paul. (2007). A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Editora Unicamp.

Rowlinson, Michael, Booth, Charles, Clark, Peter, Delahaye, Agnes and Procter, Stephen. (2010) ‘Social Remembering and Organizational Memory. Organization studies, 31(1): 69-87.

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Este era um estágio para o qual tinha grandes expetativas, não só pelo interesse que desenvolvi ao longo do curso pelas especialidades cirúrgicas por onde

There a case in Brazil, in an appeal judged by the 36ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (São Paulo’s Civil Tribunal, 36th Chamber), recognized

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Entre as atividades, parte dos alunos é também conduzida a concertos entoados pela Orquestra Sinfônica de Santo André e OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São

E, quando se trata de saúde, a falta de informação, a informação incompleta e, em especial, a informação falsa (fake news) pode gerar danos irreparáveis. A informação é

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados