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Organizações e articulações dos afro-descendentes da América Latina e do Caribe. Versão preliminar (Pendente de revisão final pelo autor) Marta Ragel

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Academic year: 2021

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Comissão Econômica para a América Latina

Comissão Européia

e o Caribe (CEPAL)

Organizações e articulações dos afro-descendentes da

América Latina e do Caribe

Versão preliminar

(Pendente de revisão final pelo autor)

Marta Ragel

Santiago do Chile, fevereiro de 2008

Projeto CEPAL-Comissão Européia: “Valorização dos programas

regionais de cooperação da União Européia,

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Organizações e articulações dos afro-descendentes

da América Latina e do Caribe

Marta Ragel1

Resumo

Atualmente, os afro-descendentes latino-americanos constituem uma fração muito significativa da população regional. Vivem em situações diversas que se refletem no heterogêneo nível organizativo com que podem ser distinguidos. Há as nações caribenhas de fala inglesa nas quais os afro-descendentes constituem a maioria da população e participam ativamente na política com um alto grau de auto-determinação, autonomia e controle do território. Em outros países existem tanto grupos com escassa consciência étnica, como minorias com identidade bem definida e direitos observados. Essa situação relaciona-se não só com o grau de desenvolvimento e desigualdade do país, mas também com o melhor aproveitamento das oportunidades que o país oferece aos afro-descendentes e do nível de organização da sociedade civil e das organizações de afro-descendentes.

Atualmente, as organizações afro-descendentes latino-americanas lutam contra o racismo, a exclusão social e a pobreza. Atuam coletivamente exigindo do Estado o cumprimento dos compromissos assumidos na III Cúpula Mundial das Nações Unidas contra o racismo e a discriminação que obriga aos Estados a reduzir a exclusão, a discriminação e a pobreza em que os seus povos vivem como conseqüência da escravidão e do racismo.

Dada esta efervescência política e social que se reflete nas suas organizações, torna-se necessário estudar o estado atual das organizações afro-descendentes latino-americanas, que foi o que nos impulsionou a realizar este estudo que constitui uma pequena contribuição para preencher esse vazio. Este documento possui um caráter exploratório, com base em fontes secundárias, em dados publicados na internet e informações obtidas através de informantes qualificados. Com o material obtido analisaram-se as organizações e as articulações da população afro-descendente da América Latina, desenhando uma visão bastante panorâmica e sintética desta realidade. Trata-se, ao fim e ao cabo, de uma análise das organizações e as articulações de organizações afro-descendentes que possuem páginas web, que aparecem em

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Consultora da Divisão de População-CELADE da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). A autora agradece a Luiz Cláudio Barcelos pelas sugestões e os comentários realizados durante a elaboração do trabalho; a Daniela Escalona pelo apoio na pesquisa de informações na web; e a todos os informantes chave nos países,

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outros locais que são próprios ou que foram mencionadas pelos informantes chave e que, além disso, se preocupam em tornar transparente a sua missão, seus objetivos, as atividades que realizam, sua estrutura, suas fontes de financiamento e a quantidade de afiliados, entre outros dados.

Através do estudo foi possível observar que existe hoje em dia na região uma pluralidade de organizações e articulações nos níveis regional, nacional e local que representam interesses muito diversificados, entre os quais destacam-se os camponeses, os jovens, os acadêmicos e as mulheres. Estão também presentes legislações nacionais que reconheceram a diversidade étnica e cultural de seus países e os governos que criaram instituições encarregadas de canalizar as demandas dos afro-descendentes.

Os dados mostraram uma importante presença de articulações regionais que coordenam mais de uma centena de organizações na região e de articulações nacionais que, por sua vez, têm sob sua responsabilidade a coordenação de cerca de duas centenas de organizações. Sua missão é impulsionar projetos articulados nos níveis regionais e nacionais para fazer pressão quanto à visibilidade dos afro-descendentes e lutar pelos seus direitos. No tocante às organizações nacionais, constatou-se que elas têm como missão temas gerais como cultura, desenvolvimento, direitos, exclusão, luta contra o racismo, defesa das mulheres, liderança e empoderamento; também preocupações mais específicas tais como recuperar terras e exigir do governo o cumprimento do programa de ação da III Conferência contra a Discriminação Racial. Relativamente à estrutura das organizações, observou-se que as mesmas estão formadas, em geral, por uma diretoria executiva, normalmente eleita a cada ano. No que diz respeito ao financiamento, os recursos provêm das contribuições de seus membros, do governo nacional, de países europeus e de organismos internacionais.

Não obstante, o movimento afro-descendente ainda sofre em alguns países debilidades tais como a falta de quadros políticos, de bases ideológicas (claros em outros) e de unidade, especialmente nacional. Houve, também, proliferação de organizações muitas vezes carentes de estruturas, com pouca agilidade política, que são sustentadas artificialmente e que necessitam superar o distanciamento e a falta de identificação com a população afro-descendente que nem sempre se vê representada por elas.

Torna-se indispensável e urgente que o processo organizativo latino-americano se consolide mais ainda e que avance na constituição de uma agenda que lhes permita conduzir o processo com liderança e aproximação às bases. Para isso é necessário potenciar as organizações e articulações em todos os níveis (locais, nacionais e regionais). Este é o caminho seguro para vencer um dos seus desafios mais importantes que é o de enfrentar uma sociedade racista que os exclui e procura torná-los invisíveis.

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Conclusões e considerações finais

Neste estudo foi possível observar que atualmente existe na região um importante movimento afro-descendente e que foram consolidadas organizações de base e ONGs com presença regional, nacional e local. Como conseqüência das lutas do movimento afro-descendente pela sua visibilidade e seu reconhecimento, existe hoje em dia na região uma pluralidade de organizações e articulações nos níveis regional, nacional e local que representam interesses muito diversificados, entre os quais destacam-se os camponeses, os juvenis, os acadêmicos e de gênero. Estão também presentes legislações nacionais que reconheceram a diversidade étnica e cultural de seus países e os governos que criaram instituições encarregadas de canalizar as demandas dos afro-descendentes.

É inegável que o movimento afro-descendente latino-americano organizado obteve

um grande êxito, especialmente nos últimos anos, conseguindo mostrar o racismo e a

desigualdade racial existentes.

Os dados colhidos e analisados neste estudo demonstraram uma importante presença de articulações regionais que coordenam mais de uma centena de organizações na região e de articulações nacionais que, por sua vez, têm sob sua responsabilidade a coordenação de cerca de duas centenas de organizações. Sua missão é impulsionar projetos articulados em nível regional e nacional para fazer pressão quanto à visibilidade dos afro-descendentes e lutar pelos seus direitos. No tocante às

organizações nacionais, constatou-se que elas têm como missão temas gerais como

cultura, desenvolvimento, direitos, exclusão, luta contra o racismo, defesa das mulheres, liderança e empoderamento; também preocupações mais específicas tais como recuperar terras e exigir do governo o cumprimento da declaração e do programa de ação contra o racismo aprovado na III Conferência contra a Discriminação Racial. Relativamente à estrutura das organizações, observou-se que as mesmas estão formadas, em geral, por uma diretoria executiva, normalmente eleita por um ano. No que diz respeito ao financiamento, as fontes são, principalmente, as contribuições de seus membros, do governo nacional, de países europeus e de organismos

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Foi possível observar que o movimento organizado dos afro-descendentes na região avançou muito, especialmente a partir dos preparativos para a III Conferência contra o Racismo. Este evento possibilitou a articulação de interesses comuns em vários níveis (local, nacional e regional) com o objetivo de levá-los à mencionada conferência. Não obstante, o movimento ainda sofre algumas debilidades, como a falta de quadros políticos em alguns países, falta de bases ideológicas (claros em outros) e também de unidade, especialmente nacional. Naturalmente, não é fácil gerar consensos e esta dificuldade não é um privilégio do movimento dos afro-descendentes. Custa chegar a acordos entre líderes, organizações de base e organizações não-governamentais superando os interesses particulares (partidários e corporativistas, entre outros) com o objetivo de criar uma agenda política unitária e uma estrutura de coordenação centralizada.

Não podemos deixar de mencionar que houve, em alguns países, uma proliferação de organizações muitas vezes carentes de estruturas, com pouca agilidade política e que são sustentadas artificialmente. Uma grande problemática existente especialmente no Peru e Equador, por exemplo, é a necessidade de superar o distanciamento e a falta de identificação política das próprias organizações com a população afro-descendente que nem sempre se sente representada pelos seus líderes e organizações.

Torna-se indispensável e urgente que o processo organizativo latino-americano se consolide mais ainda e que avance na constituição de uma agenda que lhes

permita conduzir o processo com liderança e aproximação às bases. Para isso é necessário potenciar as articulações e organizações em todos os níveis (local, nacional e regional). Este é o caminho seguro para vencer um dos seus desafios mais importantes que é o de enfrentar uma sociedade racista que os exclui e procura torná-los invisíveis.

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