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COMPREENSÃO DE PROCESSOS PROTETIVOS NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR

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Academic year: 2021

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COMPREENSÃO DE PROCESSOS PROTETIVOS NO DESENVOLVIMENTO

DE ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR

Elizangela da Rocha Fernandes1; Leila Rute Oliveira Gurgel do Amaral2.

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Aluna do Curso de Letras; Campus de Porto Nacional; e-mail: elizan_gbi@hotmail.com “PIVIC/UFT”.

2

Orientador(a) do Curso de Curso de medicina; Campus de Palmas; e-mail: leila.gurgel@uft.edu.br.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo expor o desenvolvimento e resultados de uma pesquisa realizada a partir de um estudo qualitativo que aponta fatores relacionados à resiliência e seu impacto em adolescentes vítimas de violência intrafamiliar. A pesquisa recebeu financiamento da Secretária Estadual de Ciência e Tecnologia (SECT) em parceria com o CNPQ. A pesquisa foi desenvolvida por meio do diálogo entre três instituições de ensino superior: UNESP - Assis, através do grupo de pesquisa NEVIRG (Núcleo de Estudos sobre Violência e Relações de Gênero); UNESP – Presidente Prudente, através da Profª Drª Renata Maria Coimbra Libório e UFT- TO, através da Profª Drª. Leila Rute Oliveira Gurgel do Amaral. Por meio de leituras teóricas, entrevistas, filmagens e discussões entre as pesquisandas de diferentes áreas: medicina, educação e psicologia; a pesquisa teve por objetivo encontrar e compreender processos protetivos no desenvolvimento de quatro adolescentes de 13 – 15 anos residentes em uma casa abrigo da cidade de Porto Nacional, município de Luzimangues.

Palavras-chave: Violência intrafamiliar; Vulnerabilidade; Fatores protetivos; Saúde; Educação; Resiliência.

INTRODUÇÃO

Alguns estudos apontam para a necessidade de rever o conceito de saúde e, por conseguinte, o de doença. Faz-se necessário entender a importância do processo saúde-doença, dentro de um continuum que englobe aspectos históricos, culturais, psicológicos, sociais e biológicos dos indivíduos.

Em se tratando da violência intrafamiliar, (AZEVEDO & GUERRA, 2001; ANTONI & KOLLER, 2000) têm apontado para a necessidade de compreender esta questão, não de forma isolada, como doença do agressor, ou patologia da família, mas dentro de um contexto que envolva

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aspectos históricos, culturais e sociais, proporcionando assim não apenas maior visibilidade ao fenômeno, mas também a possibilidade de novas construções que visem diferentes formas de superação.

A literatura estudada na pesquisa mostra a importância de processos interativos e protetivos; e, da resiliência na promoção da saúde, na qualidade de vida e no desenvolvimento positivo da pessoa humana. A pesquisa se constituiu em verificar a veracidade da teoria estudada em adolescentes vítimas de violência intrafamiliar residentes em uma casa abrigo diferente, ou seja, os adolescentes realmente são abrigados e não lotados na instituição.

MATERIAL E MÉTODOS

A execução da pesquisa foi organizada a partir de três planos de trabalhos, tendo como colaboradores uma aluna bolsista (PIBIC) e duas alunas voluntárias (PIVIC). A presente pesquisa configurou-se como descritiva, de abordagem qualitativa, tendo como referência o paradigma interpretativo proposto por Myers (2000).

Material utilizado: gravador de voz, computador, filmadora. Para a execução geral da pesquisa, a metodologia utilizada foi:

• Identificação dos participantes e obtenção dos consentimentos. Os participantes foram indicados por profissionais, vinculados à Instituição. Após a seleção dos adolescentes, providenciamos o preenchimento dos Termos de Consentimento Livre Esclarecido que foram apresentados tanto aos adolescentes como aos cuidadores para lerem e assinarem.

• Pré-filmagem e preparação das famílias. Foi realizada visita aos adolescentes que aceitaram participar da pesquisa. Estabelecemos um contato mais próximo; coletamos informações básicas sobre dados demográficos, saúde e estilo de vida. Realizamos uma entrevista semi-estruturada com os adolescentes, com o objetivo de entender um pouco sobre suas experiências de vida.

• Contextualização da vida dos participantes usando fotografias. Visando contextualizar as sessões de gravação de vídeo, e possibilitar aos adolescentes que representem suas vidas a partir do seu ponto de vista, utilizamos uma técnica de coleta de dados chamada “evocação fotográfica” (“photo elicitation”, Harper, 2002). Os adolescentes participantes receberam uma câmera fotográfica descartável. Por um período de sete dias eles tiveram a oportunidade de documentar suas vidas. Esta técnica possibilitou escolher situações que demonstravam recursos e suportes disponíveis em seu ambiente para superar desafios.

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• Filmagem “um dia de sua vida”. A Pesquisadora e seus colaboradores estiveram na casa de cada adolescente fazendo anotações de campo e filmagem. Assim que o adolescente acordava, iniciava o processo de filmagem ficando o maior tempo que pudessem.

• Seleção dos vídeos/clipes. Os vídeos “um dia de sua vida” foram inicialmente assistidos pelos colaboradores e pesquisadora e em seguida foram assistidos novamente pelas professoras Leila Gurgel e Renata Libório (UNESP), que juntas selecionaram os trechos que julgaram mais significativos.

• Criação/compilação dos vídeos. Junção dos trechos dos vídeos selecionados, totalizando aproximadamente meia hora de filmagem.

• Momento interativo: Pesquisadores, colaboradores e adolescentes assistiram aos clipes selecionados e discutiram as cenas, a partir de um roteiro de tópicos.

• Análise dos dados sistematizados e do material compilado. Primeiramente analisou-se cada caso e posteriormente o conjunto, buscando compreender fatores vinculados ao grupo específico da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos realizados sobre violência intrafamiliar evidenciam a necessidade de buscar alternativas de superação e enfrentamento, identificando aspectos responsáveis para a promoção do desenvolvimento psicológico saudável. Dentro dessa linhagem de pensamento, uma temática relativamente recente nesta linha de discussão envolve os conceitos de vulnerabilidade e resiliência diante de condições adversas, denominadas aqui como fatores de risco.

Sobre fatores de risco Graziela Sapienza e Márcia Regina Marcondes Pedrômonico ressaltam:

Individualmente, muitas variáveis podem ser consideradas riscos na infância e na adolescência: síndrome pós-trauma, depressão, ansiedade, estresse, distúrbios de conduta ou de personalidade, evasão escolar, gestação precoce, violência familiar, desagregação familiar, violência física, abandono, maus-tratos, entre outras. (SAPIENZA; PEDRÔMONICO, 2005, p.210)

Diante das adversidades o que faz a diferença é a condição para o enfrentamento, adquirida por meio dos processos de resiliência apropriados pelos indivíduos. “Nos domínios das ciências humanas e da saúde, o conceito de resiliência faz referência à capacidade do ser humano de

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responder de forma positiva as situações adversas que enfrenta, mesmo quando essas comportam risco potencial para a sua saúde e/ou seu desenvolvimento” (SANTOS; ELSEN & LACHARITÉ 2003, p. 147).

A resiliência é adquirida por meio de fatores protetivos, os quais podem ser um pai, uma mãe, um irmão, um professor, um cuidador, um amigo, a religiosidade e até mesmo a leitura de um livro, dentre outros. Fatores de proteção são “recursos pessoais ou sociais que atenuam ou neutralizam o impacto do risco” (EISENSTEIN & SOUZA, 1993, p.19).

Constatamos na pesquisa que os adolescentes demonstraram forte aderência cultural demonstrando capacidade para aceitar as normas de sua comunidade e realizar negociações com seus pares. Notamos também uma preocupação dos gestores em viabilizar estratégias para o desenvolvimento do valor pessoal, bem como da responsabilidade diante da vida, uma vez que ao atingirem dezoito anos, deverão sair da instituição.

O abrigo é uma instituição filantrópica - evangélica, a qual não possui ajuda financeira do poder público, apenas de particulares. Contudo, acolhe crianças e adolescentes em situações de riscos com muito amor e carinho, uma das adolescentes em entrevista evidenciou: “aqui recebo mais amor do que recebia da minha mãe”, disse ela chorando.

Um dos adolescentes participante da pesquisa se batia nas paredes, se machucava, era agressivo com os outros adolescentes, com o passar dos dias superou seus traumas, mudou suas atitudes e tornou-se um adolescente normal, que brinca e sorri com os colegas.

Verificamos nos adolescentes pesquisados inúmeros fatores promotores de resiliência, dentre eles, autoestima, religiosidade (fé), preocupação com os estudos, com a saúde, com o outro; e, a determinação por parte de alguns adolescentes para saírem da condição de vítimas de violência intrafamiliar antes mesmo de residirem no abrigo, como fugir de casa e procurar ajuda de pessoas conhecidas.

A partir das filmagens, fotos e entrevistas foi possível compreender o universo de cada adolescente e propor novas ações que visem à melhoria da qualidade de vida e o equilíbrio emocional. Com tal mapeamento foram realizadas oficinas na instituição sobre promoção da saúde, educação e projeto de vida. Embora esta ação não estivesse contemplada no plano de trabalho da pesquisa.

O presente trabalho evidenciou que é possível a construção de novos sonhos e a certeza de que as histórias de adolescentes vítimas de violência intrafamiliar podem ser re-significadas. Isto

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posto, ressaltamos a necessidade de trabalhos que ampliem os conceitos teóricos e a aplicabilidade da resiliência, promovendo uma visão mais ampla do fenômeno em questão.

LITERATURA CITADA

ANTONI, C & Koller, S. Vulnerabilidade e resiliência familiar: um estudo com adolescentes que sofreram maus tratos intrafamiliares. Revista psicologia: 2000, p. 39-66.

AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. Mania de bater: a punição corporal doméstica de crianças e adolescentes no Brasil. São Paulo: Iglu, 2001.

CYRULNIK, B. Resiliência. Trad. Ana Rabaça. Paris: Odile Jacob, 2001.

EISENSTEIN, E., & SOUZA, R. P. Situações de risco à saúde de crianças e adolescentes. Petropolis: Vozes, 1993.

LIBÓRIO, R.M.C.; CASTRO, B.M. & COELHO, A.E.L. Desafios metodológicos para a pesquisa em resiliência: conceitos e reflexões críticas. In: DELL’AGLIO, D.D.; KOLLER, S.H. & YUNES, M.A.M. Resiliência e Psicologia Positiva: interfaces do risco à proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo, ISBN 85-7396-441-3, 2006, p89-117.

ROGOFF, Barbara. A natureza cultural do desenvolvimento humano. Trad. CATALDO, Roberto. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SANTOS, Mara Regina; ELSEN & LACHARITÉ, Carl. Resiliência: concepções, fatores associados e problemas relativos à construção do conhecimento na área. Paidéia: Ribeirão Preto, Dez 2003, vol.13, no.26, p.147-156. ISSN 0103-863X.

SAPIENZA, Graziela; PEDRÔMONICO, Maria Regina. Risco, proteção e resiliência no desenvolvimento da criança e do adolescente. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 2, p. 209-216, 2005.

TAVARES, J. Resiliência e educação. São Paulo: Cortez, 2001.

AGRADECIMENTOS

Expressamos nossos sinceros agradecimentos a: cada adolescente que se propôs a socializar seu cotidiano com os pesquisadores; à Instituição que viabilizou a pesquisa; à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Tocantins e CNPQ pelo apoio financeiro e incentivo à pesquisas; à professora Drª Renata Maria Coimbra Libório, por permitir a execução da pesquisa no Estado do Tocantins.

Referências

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