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A percepção discente sobre o Serviço Social da Coordenadoria de Assistência Estudantil

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ROSICLEIA FERREIRA DA SILVA

A PERCEPÇÃO DISCENTE SOBRE O SERVIÇO SOCIAL DA COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Florianópolis 2019

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A PERCEPÇÃO DISCENTE SOBRE O SERVIÇO SOCIAL DA COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para a obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientador: Professor Hélder Boska de Moraes Sarmento, Dr.

Florianópolis 2019

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“Tudo parece impossível até que seja feito”. (Nelson Mandela)

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“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir”.

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Dedico este trabalho a todos que estiveram comigo nesses anos de graduação, me apoiando e incentivando, pois é sabido que começar é difícil, porém, continuar é muito mais. Pelas escolhas que fiz durante minha vida resolvi adiar o sonho de realizar o ensino superior, só tendo me arrependido de não retornar mais cedo. Dedico também aqueles que já partiram e estão, acredito eu, em um lugar melhor olhando por mim. Em especial, ao meu pai Douglas (em memória); sei que deve estar muito orgulhoso e feliz pela minha conquista, a menina dos teus olhos conseguiu, chegou lá. Igualmente, dedico à tia Matilde (em memória) que deve estar orgulhosa por eu ter escolhido a mesma profissão a qual ela dedicou mais de 40 anos de sua vida.

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Li em algum lugar que a gratidão é a memória do coração. Sou extremamente grata por situações, pessoas e momentos.

Começarei agradecendo ao Senhor de todas as coisas...Obrigada Deus, por estar sempre ao meu lado, sendo meu amigo, mesmo quando não estou uma boa pessoa, mesmo quando me acovardo e não tenho força para seguir em frente. Quando resolvo guardar os meus sonhos naquele cofre trancado a sete chaves e jogo a responsabilidade sobre Ti, dizendo: se não for para ser, é porque Deus não quis... sempre é cômodo rsrsrs. Então obrigada por ter permitido que eu chegasse até aqui, mesmo cheia de limitações, mas com responsabilidade, comprometimento e saúde.

Logo em seguida começo meus agradecimentos por eles: a equipe que colaborou diretamente para que eu buscasse esta formação acadêmica. Àqueles que dividiram comigo os cuidados com a minha mãe durante os quatro anos e meio de curso, e a quem devo tudo e muito mais.

Ao meu cônjuge, Dega, a pessoa que compartilhou comigo o melhor presente dessa vida: nossos filhos. Obrigada pela ajuda, pelo companheirismo de 32 anos, pelo carinho, compreensão, apoio, incentivo, enfim, sem a tua amizade e cumplicidade eu não teria conseguido. Sem teus cuidados para com a mãe todas as noites, nesses quatro anos e meio, eu não estaria tão tranquila e concentrada, principalmente nas aulas de método crítico dialético...oremos rsrsrs!!

Wellington e Monique (Mano e Mana), muito obrigada meus amados filhos. Vocês são a melhor parte de mim. Sem o apoio e ajuda de vocês com a vó nesses anos eu não chegaria a lugar algum. Obrigada pelo amor e respeito que dedicam a mim e ao pai.

À Dona Petronilha, por suas orações e pedidos a Deus para que eu tivesse força e coragem. Obrigada mãe e continue rezando os terços por mim.

Raissa, minha sobrinha/filha, obrigada pelas tardes de companhia e atenção com a vovó. Tu fosses parte importante desse time também. Sandra, igualmente muito obrigada por todos os cuidados com a Petro. Sei que o fizeste de coração e serei eternamente grata. À minha irmã Renata, pelo orgulho que demonstrou por minhas conquistas nesses anos de graduação. À Taiana, que sempre me encorajava dizendo que tudo isso iria passar.

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de TCC, vinha vez ou outra limpar a casa para mim. Obrigada meu amigo, que Deus retribua todo o teu carinho dispensado.

Ao professor Hélder por ter aceito esse desafio no final do semestre 2018-2. Costumo dizer aos meus colegas de curso que tirei a sorte grande, quando fosse designado como meu orientador, mas na alma e em meu coração, eu sei que foi Deus fazendo a melhor escolha para mim, naquele momento tão frágil de minha trajetória. A admiração que sinto por sua pessoa nasceu da minha percepção do seu comprometimento com a profissão, e isso eu levarei para a minha vida profissional com orgulho, e sempre buscarei seguir o seu exemplo.

Aos professores que passaram por minha história trazendo conhecimento, o meu muito obrigada. Sendo assim, não poderia deixar de citar alguns que de alguma maneira fizeram diferença nessa trajetória de aprendizado: Professores Eriberto Meurer, Eliete Vaz, Adriana Ito, Keli Dal Pra, Helenara Fagundes, e Andreia Fuchs vocês serão eternamente lembrados por mim.

Às minhas supervisoras de campo de estágio, Mayara Furtado e Nelize Marafon, obrigada pelo aprendizado e pela oportunidade de conhecer a realidade da assistência estudantil com equilíbrio, fazendo com que eu pudesse compreender que diante de algumas situações vivenciadas no campo profissional, a postura que o profissional mantém é o que determina o sucesso ou fracasso do atendimento a uma demanda. Aos técnicos administrativos e demais assistentes sociais do setor, que me receberam como parte da equipe, em especial à Valdeci, que me indicou para esse estágio, o meu muito obrigada.

Aos colegas de curso, foi muito bom conhecer cada um de vocês com suas especificidades, porém não poderia deixar de registrar aqueles que estiveram mais próximos a mim. Tatiana Lemos que chegou e se fez minha amiga, Hélio Rodak com suas ótimas colocações e seu discurso sempre impecável, Terezinha Silva aquela que poderia ser a outra metade da minha laranja, tamanho a nossa sintonia e concordância pelas situações postas nesses anos. Rimos, choramos, brigamos nos descabelamos, mas foi muito bom compartilhar esses momentos de cumplicidade contigo. Ana Ouriques, a nossa caçula e a mais doce das meninas, Gabriela Zanettini, aquela que me faz rir, mesmo nos nossos piores dias, com suas observações e seus ranços por metade da população universitária, mas, que mesmo

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assim, me acolhe e cuida, deixando-me em casa todas as noites desses últimos semestres, e que sempre diz que me ama. Sem vocês essa caminhada seria mais pesada.

À minha família e aos meus amigos queridos, que estavam sempre me encorajando e torcendo por mim, o meu agradecimento, vocês ocupam um lugar importante no meu coração.

Obrigada por me permitirem e sonharem esse sonho comigo, apesar de todas as dificuldades, e elas foram muitas, foi recompensador, pois foi um sonho de quatro anos e meio de noites de verão.

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. (William Shakespeare, Sonho de uma Noite de Verão).

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interior da política de assistência estudantil, presente neste Trabalho de Conclusão de Curso, vem da necessidade, por parte dessa acadêmica, de entender as contradições da relação dos atores presentes, profissionais do Serviço Social da Coordenadoria de Assistência Estudantil e discentes da Universidade Federal da Santa Catarina. O assunto em questão gera conflitos e contradições, só pelo simples fato de ser uma política pública. Neste trabalho são abordados os aspectos da relação entre os discentes do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, representados aqui, pelos discentes do Centro Acadêmico Livre de Serviço Social, com as profissionais da Coordenadoria de Assistência Estudantil-Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e, como são afetados esses atores diretamente na sua condição. Para esse primeiro momento, tendo em vista a dificuldade no relacionamento desses atores, avalio que os avanços foram relevantes para o sucesso do objetivo, pois conseguimos iniciar o diálogo entre estudantes e assistentes sociais, fazendo que a união desejada fortaleça, Coordenadoria de Assistência Estudantil-Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Centro Acadêmico Livre de Serviço Social para a luta na garantia da Assistência Estudantil.

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1 INTRODUÇÃO: MUDANÇAS NA VIDA UNIVERSITÁRIA ... 12

2 A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC) ... 19

2.1 COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL (CoAES): O PROCESSO DE TRABALHO DESENVOLVIDO ... 21

3 A RELAÇÃO ENTRE OS DISCENTES DA UFSC COM AS ASSISTENTES SOCIAIS DA COAES ... 25

3.1 APRESENTAÇÂO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO AOS DISCENTES DO CALISS ... 30

3.2 DEVOLUTIVA DOS DISCENTES ... 36

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 38

REFERÊNCIAS ... 45

ANEXO A - Folder sobre os benefícios e auxílios da Assistência Estudantil ... 47

ANEXO B – Ingressos de pessoas negras (autodeclaradas pardas ou pretas) nos cursos de graduação da UFSC de 2004 a 2017 ... 48

ANEXO C - Distribuição por raça/cor autodeclarada dos ingressantes nos cursos de graduação de cada um dos centros de ensino da UFSC entre nos anos de 2004 a 2017 ... 50

ANEXO D - Distribuição das matrículas ativas na graduação da UFSC por raça/cor (brancos e negros) segundo os centros de ensino ... 55

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1 INTRODUÇÃO: MUDANÇAS NA VIDA UNIVERSITÁRIA

Esta pesquisa aborda como os estudantes de graduação em Serviço Social interpretam o atendimento dos profissionais de Serviço Social da CoAEs-PRAE nas políticas de assistência estudantil.

A escolha do tema se deu devido a este assunto ser muito discutido entre discentes do Curso de Serviço Social e em eventos, como a “Semana Acadêmica de Serviço Social 2017”. A polêmica girou em torno das assistentes sociais da CoAEs, quando se fala de preconceito e racismo, sendo um dos assuntos mais discutidos pelos estudantes da UFSC.

Particularmente no tempo que estagiei no setor, não presenciei situações que corroborassem essas afirmações, pois mesmo em casos extremos de violência verbal por parte de alguns estudantes, tanto para com as assistentes sociais como para com os técnicos administrativos, as devolutivas desses profissionais sempre foram muito éticas e relacionadas com as normativas da instituição. Alguns estudantes pontuam aspectos como o racismo, o preconceito, a homofobia etc., que giram em torno da postura profissional das assistentes sociais no contexto da assistência estudantil.

Identificando divergências no campo de estágio, durante minha inserção nesse período, com duração de três semestres, resolvi elaborar meu Projeto de Intervenção (PI) e, posteriormente, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), para sanar minhas dúvidas e também para contribuir na compreensão e aprimoramento da relação dos estudantes com as profissionais da CoAEs.

A partir da minha vivência no campo de estágio obrigatório, observei tensionamentos existentes entre os discentes da UFSC, com as assistentes sociais da Coordenadoria de Assistência Estudantil(CoAEs), relevantes aos assuntos sobre Assistência Estudantil.

Como relevância, vale a pena ressaltar que o grupo escolhido para essa abordagem foram os discentes do curso de Serviço Social da UFSC, representados pelo Centro Acadêmico Livre de Serviço Social (Caliss) por serem um grupo de estudantes militantes, que estão sempre engajados nas relações de ordem políticas e sociais, e também por ser o curso do qual faço parte como acadêmica.

O principal objetivo do PI, foi esclarecer junto ao Caliss o trabalho das assistentes sociais da CoAEs na UFSC, visto que, o objetivo seria apresentar

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informação aos estudantes sobre o atendimento realizado pelos profissionais do setor, fortalecendo a relação entre os sujeitos. Identifiquei, portanto, a partir da minha vivência no campo de estágio obrigatório, as divergências existentes entre o ponto de vista dos estudantes e o que de fato é executado pela presente Coordenadoria, especialmente pelos profissionais de Serviço Social.

Entendo que o tema abrange questões de ordem teórica, prática e pessoal. Considerando o contexto histórico de má distribuição de renda e políticas públicas, no qual está inserida a população brasileira, considera-se que a realidade social dessa população, em que as injustiças sociais e a exclusão social são uma constante, diversos questionamentos são levantados pelos estudantes, em relação às políticas de assistência estudantil, de como e onde esses recursos são aplicados. Sabe-se que as universidades públicas estão sendo sucateadas, assim os questionamentos em relação à política estudantil e à atuação do profissional de Serviço Social são constantes.

Segundo Daniel Cara (2018), coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o processo de desgaste das universidades é passo importante para o projeto neoliberal em curso, já que elas seriam grandes instrumentos de resistência à política subalterna que, na denominação do autor, “o golpista” quis imprimir ao Brasil. “Sucatear a universidade é um aspecto estratégico dentro do plano de poder e projeto econômico do governo de Michel Temer” (GONÇALVEZ, 2017).

Desde 2016, quando Michel Temer ascendeu de forma ilegítima ao Palácio do Planalto, a vida no Brasil se tornou uma sucessão de golpes à democracia e aos direitos sociais. Entre todos os ataques, nenhuma área tem sido mais alvejada do que a educação. O motivo é simples, a educação é a maior política pública brasileira: em todo dia letivo, quase 40 milhões de estudantes vão às escolas públicas de educação básica em todo país e mais de 1 milhão de jovens estudam nas universidades administradas pelos governos. Além disso, quando chegam às suas escolas e faculdades, alunas e alunos são recebidos por, aproximadamente, 5 milhões de educadoras e educadores, que desempenham diferentes funções para a manutenção e desenvolvimento do ensino. No entanto, além do gigantismo – que demanda um custo, que jamais foi devidamente empenhado –, se a política educacional for bem-sucedida, ela tem a capacidade de impulsionar mudanças profundas nas estruturas sociais, políticas e econômicas do país. E é exatamente isso que o governo Temer quer evitar. Por isso, a educação é um alvo tão importante e prioritário. (CARA, 2018).

Com a afirmação de Cara (2018), é possível entender como se manifestam os questionamentos dos estudantes, já que eles são atingidos diretamente nesse processo de

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desgastes com danos relacionados a sua formação acadêmica. Sendo assim, fica claro que a economia afeta a realidade da permanência dos estudantes na Universidade, e como isso acentua as desigualdades sociais, trazendo provavelmente o agravamento de outros aspectos como violência, fome e a precarização da educação (GONÇALVEZ, 2017). Já na ordem prática, a falta de assistência estudantil gera transtornos para o estudante, como falta das políticas públicas de assistência estudantil, entre elas bolsa permanência, auxílio-moradia, moradia estudantil, auxílio-creche, entre outros.

Muitos estudantes necessitam desse benefício para a sua permanência na Universidade, tendo em vista a situação atual das políticas de assistência.

Olhando retrospectivamente para a trajetória da instituição universitária, vimos que o ensino superior no Brasil se deu com uma chegada tardia se comparado a outros países da América Latina. Sua implantação, entre outros fatos, foi absolutamente direcionada para atender a elite social abastada do País. Os jovens da alta sociedade tinham então as necessidades culturais e educacionais atendidas através dessa implantação. Os jovens vindos de famílias menos favorecidas só conseguiam frequentar cursos superiores com o apoio da Igreja através do ingresso na vida religiosa. Mesmo assim eram raras exceções. (APRILE; BARONE, 2009, p. 41).

Ainda, sobre o acesso ao ensino superior, o mesmo autor nos diz:

A questão do acesso ao ensino superior, no Brasil, pressupõe breve incursão na história da educação superior, no sentido de identificar e delimitar alguns marcos significativos de sua trajetória. Direta ou indiretamente, esses marcos concorreram para o delineamento da atual configuração das universidades brasileiras. De início, é importante destacar que o País nunca teve um modelo próprio de universidade, valendo-se sempre de exemplos e de experiências de Países centrais, podendo-se constatar, nos dias atuais, uma superposição de modelos entre as IES públicas e privadas. Desde o seu advento, a educação superior no País esteve voltada para os filhos das famílias da elite social e econômica. No Brasil Colônia, os jovens eram enviados para estudar nas universidades europeias, especialmente em Coimbra, Portugal. Com raras exceções, alguns jovens vindos de famílias menos favorecidas conseguiam frequentar cursos superiores por meio do ingresso na vida religiosa e, portanto, com o apoio da Igreja. Por volta de 1808, com a chegada da Corte Portuguesa, registra-se a criação das primeiras escolas isoladas de educação superior no País, concebidas à luz do “modelo napoleônico”, centrado em cursos e faculdades, estruturados de forma independente e não propriamente a partir da concepção de universidade. (APRILE; BARONE, 2009, p. 41).

Com esse fato, fica claro que estudantes da classe média baixa, para frequentar um curso superior, contavam com o assistencialismo, por parte da igreja. O assistencialismo, torna-se uma prática desprovida de teoria, sendo incapaz de

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transformar a realidade social, da qual a maioria desses jovens fazia parte, pois ela atendia somente uma necessidade individual, com caráter de ajuda e não de direitos.

Ainda nos dias atuais a educação superior continua sendo voltada para a minoria e, na atual conjuntura em que se encontra o país, pode-se entender que esse modelo de universidade que se conhece hoje, em que ainda se tem fatores que abarcam o interesse dos estudantes, podem vir a sofrer graves e severas alterações com as mudanças e cortes na educação pública anunciadas pelo governo atual.

Ao longo do tempo, observa-se que as políticas de acesso ao ensino superior não apresentaram mudanças significativas, até as políticas de ação afirmativas, em meados do ano 2000 inicialmente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, pois, nesse momento, a configuração nas universidades começou a se modificar, com a inclusão de negros e pessoas de classe média-baixa no âmbito acadêmico. Cunha (1980), Romanelli (1991) e Durhan (2005) registram em seus estudos esse resgate da educação superior desde o Brasil Colônia e mostraram como esse formato veio se aperfeiçoando com o passar das décadas, tendo como elementos centrais a modernização, expansão e privatização (MENEZES, 2012).

Dentre as políticas de ações afirmativas, vieram as cotas, cujo objetivo foi promover a igualdade e a garantia dos mesmos direitos a todos os cidadãos.

Primeiramente, entende-se por cotas um modelo de política de ações afirmativas a fim de garantir menores desigualdades socioeconômicas e educacionais entre os membros pertencentes a uma sociedade, principalmente no que se refere ao ingresso em instituições de ensino superior pública e empregos públicos. Em suma, o objetivo das cotas é tentar corrigir o que é considerado como “injustiça histórica”, herdada do período escravista e que resultou em um menor acesso ao ensino superior e, consequentemente, a menores oportunidades no mercado de trabalho para negros e índios. O sistema de cotas foi criado inicialmente nos Estados Unidos, mais precisamente em 1960, com o intuito de diminuir e amenizar as desigualdades sociais e econômicas entre negros e brancos. No Brasil, o sistema de cotas tornou-se conhecido em meados dos anos 2000, inicialmente pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que foi a primeira universidade do país a criar um sistema de cotas em vestibulares para cursos de graduação por meio de uma lei estadual que estabelecia 50% das vagas do processo seletivo para alunos egressos de escolas públicas cariocas. Depois da UERJ foi a vez da Universidade de Brasília (UnB) implantar uma política de ações afirmativas para negros em seu vestibular de 2004, em meio a muita discussão e dúvidas dos próprios vestibulandos (CAETANO, 2019).

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sistema de cotas, mesmo com todas as dificuldades que se apresentavam para essa nova modalidade. As cotas só começaram a ser aceitas depois de muitos debates, explicações e lutas, pois sem essa dinâmica as instituições não conseguiriam inserir o sistema em seu contexto. Logo após os negros começarem a utilizar esse sistema. As reservas das vagas começaram a ser indicadas também para quilombolas, indígenas e pardos. As pessoas com deficiência e estudantes de baixa renda, com origem de escolas públicas também foram inseridos nesse sistema.

Então pode-se entender que não só os negros foram auxiliados com o sistema das cotas. Nos dias atuais essa prática é comum em todas as instituições do Brasil nos seus processos seletivos e vestibulares. O funcionamento do sistema de cotas nas instituições pode ser definido de acordo com as suas próprias políticas e regulamentos, tendo hoje variados modelos pelo Brasil. O que se tem geralmente é a reserva de uma parcela das vagas para aqueles candidatos que estudaram no ensino médio da rede pública de ensino. Essa medida fortaleceu-se ainda mais com a aprovação da Lei nº 12.711, de agosto de 2012, conhecida também como Lei de

Cotas. Por meio dela, as instituições de ensino superior federais têm até

agosto de 2016 para destinarem metade de suas vagas nos processos seletivos para estudantes oriundos de escolas públicas. A distribuição dessas vagas também leva em conta critérios raciais e sociais. Regulamentada pelo Decreto nº 7.824/2012, essa Lei propõe 25% das vagas para estudantes oriundos da rede pública com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, 25% para candidatos que estudaram integralmente no ensino médio e que possuem renda igual ou superior a 1,5 salário mínimo e, ainda, um percentual para pretos, pardos e indígenas, conforme o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na região. Como citado no início do texto, o sistema ainda divide opiniões no país. Para muitos, as cotas ferem, de certa forma, a autonomia da instituição, partindo do princípio de igualdade. Além disso, faz com que seja desconsiderado qualquer investimento de melhoria na educação básica (CAETANO, 2019).

É preciso analisar que o sistema de cotas apresentou uma realidade diferente dentro das instituições, daquela que estávamos acostumados, pois nesse tempo houve, mesmo que muito timidamente, uma pequena e discreta melhora na desigualdade social e racial, e um aumento no ingresso de estudantes negros, indígenas e de classe média-baixa, na universidade, fazendo assim que esses estudantes pudessem também ter acesso ao ensino superior de qualidade. Nos ANEXOS B, C e D foram inseridas as tabelas e os gráficos da UFSC para a fundamentação dessa informação. Mesmo considerando estes avanços, os questionamentos dos estudantes repercutiram, e podem ser pela situação atual das políticas de assistência, onde houve o aumento das vagas na universidade pela implantação das políticas de cotas, mas, onde os repasses de verbas foram

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insuficientes para as demandas dessa população que cresceu.

Essas condições trouxeram também algumas perguntas para a minha trajetória do estágio e TCC: Como ele, estudante, observa a posição do profissional desse setor, no processo de atendimento as demandas relativas à questões da assistência estudantil? Seria esse o ponto de partida para compreender os tensionamentos que os estudantes da UFSC têm pelos profissionais da PRAE?

Estes questionamentos apresentaram-se de várias maneiras: nas relações interpessoais, tendo em vista as diversas dificuldades de relacionamento presenciadas por mim como estagiária da CoAEs-PRAE; nas relações de trabalho, pois como estudante da UFSC, percebi que as atuais condições de trabalho são inadequadas e nas quais as profissionais desenvolvem seu trabalho, com destaque para a equipe insuficiente para atender a demanda tão grande de estudantes, e até mesmo, o espaço de trabalho insalubre; estes fatores afetaram as mínimas condições de atendimento qualificado, isto é, as assistentes sociais fazem acolhimento da melhor maneira possível, para que o estudante procure estabelecer vínculo com o serviço e tenha acesso a assistência estudantil de forma qualificada.

Quanto aos aspectos metodológicos deste trabalho, tomei como referência Fonseca (2002), ao dizer que métodos significa organização, e logos, estudo sistemático, pesquisa, investigação; ou seja, metodologia é o estudo da organização, dos caminhos a serem percorridos, para se realizar uma pesquisa ou um estudo, ou para se fazer ciência. Etimologicamente, significa o estudo dos caminhos, dos instrumentos utilizados para fazer uma pesquisa científica (GERHARDT; SILVEIRA, p. 12).

Portanto, a pesquisa qualitativa permite que tenhamos retornos pessoais, em que o pesquisador tenha maior nível de compreensão da realidade em que está contido o seu objeto e suas relações entre os sujeitos. É a mais apropriada para realizar esse trabalho, pois através dela procurei compreender a totalidade das relações presentes no cotidiano da vida dos sujeitos envolvidos. “Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas”. (MINAYO, 2011, p. 16).

As pesquisas qualitativas, geralmente, são feitas com um número pequeno de pessoas, permitindo que o entrevistador consiga entender o conceito que o entrevistado tem sobre o assunto e a sua compreensão sobre o mesmo. Os

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entrevistados nessa modalidade de pesquisa, estão mais livres para apontar os seus pontos de vista sobre determinados assuntos que estejam relacionados com o objeto de estudo.

Para a coleta dos dados o instrumento escolhido foi a entrevista. A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais usadas no âmbito das ciências sociais. As entrevistas podem ser classificadas em entrevista informal, entrevista focalizada, entrevista estruturada, entrevista por pautas (GIL, 1999). Para este estudo é utilizada a entrevista informal.

Para a pesquisa utilizei o Projeto de Intervenção, Diário de Campo (ferramenta utilizada por mim no campo de estágio), roda de conversa e entrevista com os estudantes. Do diário de campo utilizei os registros, principalmente o registro das ações. Com as entrevistas consegui compilar dados em relação aos questionamentos que surgem na relação desses sujeitos. Com a exploração do assunto e das situações vividas por esses estudantes, meu objetivo foi atingir o nível de entendimento do problema em questão, dando aos entrevistados autonomia para suas respostas.

Conhecendo a cada dia um pouco mais do campo de estágio ao qual estava inserida, e os avanços com a pesquisa realizada, foi aflorando o desejo de conhecer as motivações e compreender as divergências dos estudantes sobre os profissionais desse setor; fatores que têm gerado os tensionamentos entre os estudantes e as assistentes sociais da PRAE, preocupação central deste trabalho.

Para responder a esta preocupação este trabalho está organizado em duas seções. A primeira aborda a UFSC, a política nacional de assistência estudantil e a Coordenadoria de Assistência Estudantil-CoAEs. A segunda, tem como atenção a relação entre os discentes da UFSC com as assistentes sociais da CoAEs, tendo como referência o projeto de intervenção realizado junto aos discentes do curso de Serviço Social da universidade.

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2 A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA (UFSC)

No ano de 1960 aconteceu a criação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), porém já em 1917, José Boiteux, personalidade cultural e política do estado, fundou o Instituto Politécnico com o apoio do governo estadual. A UFSC foi criada com o nome de Universidade de Santa Catarina, em dezembro de 1960. Originou-se de sete faculdades isoladas, que inicialmente a compuseram, com a adição de uma nova. Foram elas, em ordem de data de fundação: Direito, Ciências Econômicas, Farmácia, Odontologia, Filosofia, Serviço Social, Medicina e Engenharia Industrial. As faculdades de Farmácia, Odontologia, Direito e Ciências Econômicas tinham suas raízes no Instituto Politécnico, fundado em 1917 com apoio do governo estadual, e na Academia de Comércio, uma instituição privada subsidiada pelo governo estadual, que absorveu o Instituto nos anos 1930. Nos anos seguintes à sua fundação, o Instituto Politécnico ofereceu os primeiros cursos superiores em áreas técnicas do estado. Portanto, a UFSC representou uma mutação significativa na evolução do ensino superior catarinense (NECKEL, KUCHLER, 2010).

Segundo as mesmas autoras supracitadas, já naquele período era mencionado o interesse em criar uma universidade em Santa Catarina, conforme os movimentos nesta direção já realizados em outros estados do país.

Assim como outras universidades patrocinadas pela União, a UFSC recebeu a denominação de universidade federal pela Lei nº 4.759, de 20 de agosto de 1965. Com a reforma universitária de 1969 (Decreto nº 64.824, de 15 de julho de 1969), as faculdades deram lugar às unidades universitárias, com a denominação de centros, os quais agregaram os departamentos (NECKEL, KUCHLER, 2010).

Apesar dos registros da criação das Universidades, muito anteriormente, na década de 70 que se teve os primeiros registros sobre a assistência estudantil.

A década de 1970 influenciou o contexto político e social para as universidades, como resultado dessas influências ocorreu o episódio central chamado de “a Reforma Universitária, consequência do governo ditatorial, que também alterou o cenário da UFSC” (SANTOS, 2010, p. 39). Nessa reforma, as faculdades foram extintas e a instituição adquiriu formato semelhante ao que se conhece atualmente, com os departamentos.

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Orientação ao Estudante, tendo como primeira assistente social a professora Matilde Vieira e primeira estagiária Doroti Losso (BORGES, 2016, p. 39-40).

Em sua pesquisa, Borges (2016) descreve a entrevista com a assistente social Doroti Losso, na qual a entrevistada revela que nos primeiros anos de atuação quando se falava em Serviço Social na UFSC relacionava-se exclusivamente ao atendimento do segmento estudantil: “este sempre foi o carro-chefe” (Doroti).

Em 1979, havia um total de 4 (quatro) assistentes sociais, todas voltadas para o atendimento ao estudante no então Departamento de Assuntos Estudantis, porém,esporadicamente já começavam a surgir demandas do servidor, sendo (as assistentes sociais) requisitadas pelo Departamento do Pessoal em situações diversas, como por exemplo: alcoolismo, absenteísmo, relacionamento (interpessoal) entre chefia/servidor, comissões de sindicância, de realização de concursos públicos, de prevenção de acidentes (CIPA) etc. O Serviço Social, através da DAO/DEAE, passou a atender estudantes e servidores nos assuntos pertinentes “ao social”. (BORGES, 2016, p. 42).

Analisando os relatos de Borges (2016), é possível entender que as questões pertinentes ao trabalho do Serviço Social na UFSC foram trocando de configuração, conforme as demandas chegavam ao setor. Devido à ampliação desses atendimentos também para os servidores e diferentes demandas, o Serviço Social da UFSC precisou atribuir novas dimensões as questões da atuação do trabalho profissional do assistente social. Para isso, as profissionais precisaram ajustar o foco de suas atuações para que tanto estudantes como servidores fossem contemplados com suas atuações profissionais.

Criada em 2004, na UFSC, a PRAE, veio com o objetivo de executar programas e projetos voltados as políticas de ações estudantis, e tem como missão expandir as políticas estudantis, objetivando a interação do estudante no meio acadêmico, por meio de ações, articuladas com áreas afins.

A PRAE é composta pelo Departamento de Assuntos Estudantis (DeAE), o Restaurante Universitário (RU), Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAEs), Coordenadoria Administrativa (COAD), e a Moradia Estudantil (http://prae.ufsc.br/coss-coordenadoria-de-servico-social/).

São competências da PRAE, coordenar a execução de ações relacionadas à política de assistência estudantil, propor e acompanhar ações de política de assuntos estudantis, principalmente relacionadas ao acesso, à permanência e à conclusão da graduação presencial, nas seguintes áreas: alimentação, transporte,

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assistência à saúde, inclusão digital, cultura, esporte e lazer, apoio pedagógico, movimentos estudantis e política social estudantil.

Os objetivos da PRAE são oportunizar igualdade aos estudantes da UFSC, proporcionar condições básicas para a permanência desses estudantes, contribuindo para um melhor desempenho acadêmico e buscando diminuir a evasão dos estudantes com dificuldades sócio econômicas.

Tais práticas seguem o que preconiza o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), na direção de uma assistência estudantil inclusiva e comprometida com a diminuição das desigualdades sociais. Os recursos que vêm através de convênios e do Governo Federal por meio do PNAES, e atende aos cinco campi da UFSC, tem por objetivo “ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal” (PROGRAMA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL, 2010).

Para esclarecimento o PNAES é um programa que oferece suporte a estudantes de baixa renda, matriculados em cursos de graduação presencial, nas Instituições Federais de Ensino Superior (lFES) para sua manutenção e permanência nessas instituições. Tem como objeto oportunizar a igualdade de oportunidades entre todos os estudantes, buscando assim uma melhora no desempenho acadêmico e buscando prevenir as questões de evasão e repetência desses estudantes. Oferece ainda assistência à moradia estudantil, alimentação, transporte, à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico. As ações são executadas pela própria instituição de ensino, que deve acompanhar e avaliar o desenvolvimento do programa. Os critérios de seleção dos estudantes levam em conta o perfil socioeconômico dos alunos, além de critérios estabelecidos de acordo com a realidade de cada instituição. Criado em 2008, o programa recebeu, no seu primeiro ano, R$ 125,3 milhões em investimentos (http://portal.mec.gov.br/pnaes). Quem distribui e repassa as bolsas, auxílios e benefícios é a PRAE, via ranqueamento de renda dos estudantes − da menor para a maior renda.

2.1 COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL (CoAES).

A Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAES) é um dos braços da PRAE, com função precípua de executar os programas da assistência estudantil da

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UFSC.

O atual quadro técnico e profissional da CoAEs consiste em dez assistentes sociais, sendo uma coordenadora e quatro assistentes em administração, três psicólogas, uma contadora e duas administradoras. A articulação de equipe é constante. As ações desenvolvidas são pensadas pelo grupo de assistentes sociais do campus Florianópolis (ações específicas deste) e as questões globais da CoAEs são feitas por meio de reuniões entre os profissionais de serviço social dos demais campi (Florianópolis, Araranguá, Joinville, Blumenau e Curitibanos) para a programação e operação da assistência estudantil.

O processo de trabalho é avaliado constantemente pela equipe de assistentes sociais da CoAEs, em conjunto com os profissionais administrativos do setor. Além disso, quando necessário, conta com profissional do curso de Ciências Contábeis que presta assessoria as demandas relacionadas as questões financeiras do cadastro dos estudantes, reuniões com o pró-reitor e profissionais administrativos da PRAE, visando melhorar o trabalho.

Também cabe destacar que o Serviço Social tem clara a contradição que existe nos critérios de seleção que se apresentam na UFSC, “principalmente na atual conjuntura de contingenciamento de recursos para o financiamento da assistência estudantil para as instituições federais de educação” (RELATÓRIO DE GESTÃO, 2016) e busca ampliar com a comunidade acadêmica especialmente com os estudantes o debate sobre a política de assistência estudantil e as possíveis estratégias de enfrentamento dos desmontes rotineiros dos direitos sociais.

Fora da instituição a CoAEs se articula com a rede pública de saúde, Ministério Público, Secretária de Assistência Social dos municípios de referência dos estudantes, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), entre outros, nos encaminhamentos necessários dos estudantes. Pode ser destacada a articulação mais intensa junto aos departamentos de cursos dos estudantes em acompanhamento desta política, para tratativa de demandas acadêmicas, familiares, além do contato com a família e rede de apoio para garantir a permanência com qualidade.

A CoAEs possui a função de coordenar, executar e analisar os programas de assistência estudantil vinculados à PRAE. Tem como público-alvo os estudantes regularmente matriculados em cursos de graduação presencial da UFSC e oriundos

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de famílias com renda bruta familiar de até 1,5 salários mínimo per capita. Também executa os Programas de Auxílio Moradia, Bolsa Estudantil UFSC, que antigamente chamava-se Bolsa Permanência UFSC, mas foi alterada a nomenclatura, em virtude da criação da Bolsa Permanência MEC em 2013, Moradia Estudantil e Auxílio Creche.

A equipe de profissionais da CoAEs é composta por assistentes sociais e assistentes em administração, adicionando os profissionais mencionados acima, apesar de não estarem no mesmo espaço físico. Com uma demanda tão grande por parte dos estudantes é visível observar que a procura é maior que a oferta, gerando algumas vezes os tensionamentos que existem entre esses atores.

As abordagens das profissionais de Serviço Social na CoAEs são feitas de forma direta, em entrevista com os/as estudantes, em que há entrega de documentos por parte dos/as estudantes, contidos nos editais para a assistência ao qual o/a estudante se candidata.

Nesse primeiro contato o/a estudante fica conhecendo a assistente social que o acompanhará nesse processo de seleção, sendo seu cadastro deferido, ele terá um prazo de cinco anos de validade, onde o estudante só precisará fazer alterações se houver mudanças de grupo familiar, financeiras entre outros. Logo após receber a documentação a assistente social tem 15 dias para disponibilizar sua análise ao pedido do/a candidato/a. Estando os documentos corretos pelo que rege o edital ao qual o/a estudante se candidatou, a profissional conclui o Cadastro PRAE desse estudante, afirmando sua situação de vulnerabilidade. Caso haja alguma divergência ou o/a estudante não estiver no perfil adotado, o cadastro pode ser indeferido, tendo o estudante o prazo de cinco dias para contestações.

Importante ressaltar que todo início de semestre é feito um acolhimento para os/as estudantes, com o objetivo de apresentar as políticas de assistência estudantil, o “CoAEs Convida”. O público-alvo deste são os/as estudantes que ingressam na instituição, no semestre em vigor (calouros), mas não exclui alunos que já são parte da instituição (veteranos).

Nos dias que antecedem o evento, a CoAEs divulga com cartazes, por email, com convite pessoal aos estudantes que comparecem até o setor, entre outros. No dia, as assistentes sociais conversam e explicam explicitamente o que é e como é feito o acolhimento aos estudantes, explicando sobre editais e documentação. Fica aberto espaço para que as dúvidas dos estudantes sejam sanadas à medida que

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vão aparecendo. Nesse mesmo evento, é entregue aos estudantes um folder com explicações detalhadas sobre os benefícios e auxílios da Assistência Estudantil (ANEXO A).

No primeiro semestre de 2018 foram lançados dois editais de Bolsa estudantil. Os dados referentes a este se expressam da seguinte forma, a título de exemplificação: no edital 04/PRAE/2018 foram 959 estudantes inscritos em contrapartida 176 vagas para bolsas. Já no Edital 12/PRAE/2018 foram 763 inscrições e 201 vagas disponibilizadas.

Esta lacuna entre a quantidade de recursos e o volume de estudantes que solicitam geram os tensionamentos entre os estudantes e os profissionais do setor que, refletem-se diretamente nas relações interpessoais. Os estudantes que chegam à Instituição, vem ao encontro da CoAEs buscar programas que abarquem suas necessidades imediatas. A maior demanda é por moradia estudantil, pois muitos estudantes vêm de outras cidades sem uma rede de apoio (parentes, amigos ou conhecidos) para que possam iniciar sua jornada na vida acadêmica.

Outros programas muito procurados e concorridos são: auxílio moradia, no qual o estudante recebe um valor de R$ 250,00, com o objetivo de custear, parcialmente, o pagamento do aluguel de um imóvel, para que esse se organize e venha a ter condições de permanecer na Instituição e o programa Bolsa Estudantil, que viabiliza auxílio financeiro aos estudantes que estão em situação de vulnerabilidade econômica.

O Programa Bolsa Estudantil UFSC tem o objetivo de proporcionar auxílio financeiro para a permanência dos estudantes dos cursos de graduação presencial da Universidade Federal de Santa Catarina, oriundos de famílias com renda familiar bruta mensal de até 1,5 salário mínimo per capita (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2019, p. 1).

Esse programa foi instituído pela Resolução Normativa 32 CUn 2013 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2019, p. 1). É importante ressaltar que para concorrer ao programa os estudantes precisam ter sua situação comprovada pelo Cadastro PRAE e estar dentro de todos os requisitos das normativas do presente edital.

É preciso frisar que para concorrer ao edital o estudante deve apresentar o Cadastro PRAE com a análise concluída ou ter sua validação de renda deferida.

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3 A RELAÇÃO ENTRE OS DISCENTES DA UFSC COM AS ASSISTENTES SOCIAIS DA COAES

Analisar a relação entre indivíduos é uma questão muito complexa, pois exige que se tenha o conhecimento da questão. Como avaliar esta relação? Que aspectos envolvem estas relações? Isso seria possível, dentro da lógica da pesquisa qualitativa? A partir desta seção busca-se entender essa relação e responder essa questão. Segundo Padilha (1988):

Na Instituição, o profissional de Serviço Social desenvolve um duplo trabalho: dinamiza o aparato de controle institucional, no momento em que seleciona o cliente para participar dos programas, garante o emprego racional dos recursos disponíveis, centraliza e circula informações devido a sua aproximação com a clientela1; e difunde a concepção de mundo de classe dominante quando desenvolve uma ação voltada para mudanças na maneira de ser, sentir e agir da clientela, fazendo com que internalize normas e comportamentos legitimados socialmente . Define-se, portanto, o Serviço Social como prática social visando a modificação do conteúdo de conhecimento de realidade (objetos reais) e a conduta no sentido de levar à transformação desses objetos e, também, como prática política voltada para transformação das relações de poder e domínio de sociedade (PADILHA, 1988, p. 67).

Frente a essa realidade pode-se perceber que o assistente social desenvolve seu trabalho de maneira a contemplar o usuário. Ele desenvolve ações que promovam a realização das necessidades do indivíduo naquele momento, melhorando algumas vezes a situação daquela demanda, mesmo que algumas vezes as respostas não sejam tão imediatas.

A transformação da realidade ao qual esse indivíduo está inserido, muitas vezes, não acontece da maneira desejada e concebida pelo assistente social, porém é importante ressaltar que ele busca por meio dos recursos que dispõe, contemplar de maneira correta a transformação dessa relação.

No caso da assistência estudantil, o assistente social busca compreender e transformar a realidade do estudante que chega no setor em busca de assistência, para sua permanência na Instituição. A partir desse momento, o profissional desenvolve ações voltadas para essas demandas fazendo uso das competências ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativo que permitem a esse

1 Foi mantida a citação original, na qual a autora ainda utilizava a terminologia “cliente/clientela”, hoje,

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profissional realizar a análise da questão social, favorecendo que o indivíduo tenha direito a um estudo qualificado sobre a sua realidade naquele momento.

Tendo a composição deste espaço formado por interesses e relações tensas e com várias divergências em relação a pratica do Serviço Social no setor, por parte dos estudantes, ficou evidente a necessidade da apresentação para explicação da mesma, para que houvesse o entendimento de como esses recursos financeiros são aplicados e principalmente esclarecer sobre a ação profissional das assistentes sociais naquele setor.

Estas tensões, aparecerem com maior força, no evento Semana Acadêmica de Serviço Social 2017, quando o assunto que alcançou mais destaque foi o atendimento das assistentes sociais aos estudantes na CoAEs. Alguns grupos de estudantes relataram em suas falas questões sobre preconceito e racismo vividos por eles por parte das assistentes sociais da CoAEs.

Esta situação gerou desconforto não só nos profissionais da CoAEs, como também em alguns docentes do curso de Serviço Social, tendo em vista que uma das professoras procurou a coordenação da CoAEs para entender em que condições eram feitas esses acolhimentos, e como portadora das inquietações dos estudantes para com os profissionais do setor.

Como as falas dos estudantes foram direcionadas aos atendimentos realizados pelas assistentes sociais, nos dias que se seguiram a semana acadêmica de Serviço Social, e com o surgimento dessas questões da relação (interpessoais) entre assistentes sociais/estudantes, mas também como forma de entender as questões presentes nas falas desses estudantes, as assistentes sociais da CoAEs, agendaram reunião com a coordenadoria do Curso de Serviço Social e com a professora que procurou o setor com seus questionamentos sobre esse assunto.

Nesse encontro, da professora, coordenadora do curso e profissionais da CoAEs,questões relevantes evidenciadas mais adiante neste trabalho foram apresentadas e explicadas como, por exemplo, o orçamento para distribuição desses programas e as vagas existentes para tanto. Por afastamento de saúde, não estive presente no evento e as questões sobre o ocorrido foram sendo obtidas através do meu campo de estágio e por estudantes conhecidos do curso.

Alguns estudantes presentes no evento,Semana Acadêmica, levantaram questões sobre racismo e preconceitos que existiam, por parte da equipe da CoAEs, com os estudantes. Alguns pontos foram apresentados e reafirmados como, por

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exemplo, as assistentes sociais da CoAEs que decidiam quem deveria ou não ser selecionado para os programas de assistência.

Paralelamente, o assistente social é um trabalhador que também vende sua força de trabalho ao capital, com um projeto ético político de intervenção junto aos interesses e demandas dos usuários. Além de que como trabalhador nesta política, o assistente social, vivencia constantemente a precarização dos recursos na assistência estudantil. O desenvolvimento capitalista centralizou a riqueza, deixando políticas públicas sem os recursos necessários para sua manutenção e na assistência estudantil não é diferente, está entre elas.

No período de estágio e de acompanhamento das atividades desenvolvidas, foi observado aos estudantes que buscam a CoAEs para o atendimento às suas demandas, alguns tensionamentos, por parte dos estudantes com os profissionais do setor, por não aceitarem a negativa de solicitação dos auxílios assistenciais.

Essa informação é baseada a partir dos acolhimentos de que participei no período do estágio, pois sempre que a devolutiva era negativa havia muita resistência por parte dos estudantes, que questionavam, mesmo com as explicações das assistentes sociais sobre seus pedidos. Infelizmente, alguns estudantes chegam a usar de alternativas mais drásticas como ofensas, injurias e até ameaças.

Por conta desses eventos precisa ficar explícito que alguns estudantes reproduzem falas como: “é o assistente social quem define qual estudante vai ter bolsa”, “só alunos brancos conseguem benefícios”, “as assistentes sociais são racistas e homofóbicas”, entre outros. É difícil explicar por que essas falas aparecem e se reproduzem, mas entendo que muitas são apenas reproduzidas por estudantes que ouvem de outros e vão repassando sucessivamente até que essas tomem proporção e ganhem força, como aconteceu na semana acadêmica de 2017.

A partir dessas colocações, como estagiária, questionei-me: como o/a estudante da UFSC entende o papel do assistente social no contexto da instituição? A/O estudante tem ideia de como o profissional do Serviço Social exerce seu trabalho? Será que a autonomia que os estudantes imaginam que o assistente social possui realmente existe? Pode-se entender que esse seja um dos pontos fundamentais nos discursos dos estudantes. Sabe-se que para ele o problema não foi a expansão de vagas, e sim a da falta de recursos. No entanto, a questão financeira gera impasse entre os estudantes e as assistentes sociais, pois essas são vistas como mantenedoras dos recursos, quando na verdade esse recurso é

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transferido do Governo para o setor de orçamento da UFSC, sendo de competência da PRAE e definição sobre os programas e benefícios ofertados.

Com isso, é preciso entender que o assistente social participa na elaboração dos programas de assistência, mas não é o definido na aplicação desses recursos, pois ao realizar as entrevistas de acolhimento com os alunos para o cadastro PRAE, tem como função receber os documentos, conversar com os estudantes, analisar e inserir os dados no sistema.

Problematizando este assunto, pode-se afirmar que a autonomia relativa do assistente social também se destaca como um item que deve ser bastante ponderado no espaço da assistência estudantil, considerando que a inserção do profissional neste campo de trabalho é relativamente recente e que, na maioria das vezes, recai sobre este profissional grande parte do ônus de operacionalização da política, quando não, a responsabilidade de responder sozinho sobre situações de orçamento e gestão, as quais, algumas vezes, transcendem suas possibilidades de alcance e de responsabilidade(OLIVEIRA, 2017, p. 24).

A partir dessas reflexões e fazendo uso da observação, resolvi realizar o Projeto de Intervenção do estágio com a intenção de afinar a interlocução entre os sujeitos envolvidos, apresentando aos estudantes, informações sobre como é realizado o serviço dos profissionais do Serviço Social, desejando abolir os ruídos existentes nesta relação para favorecer o fortalecimento da Política de Assistência Estudantil na UFSC, primando pela transparência e reflexão crítica. Para tanto, realizamos uma roda de conversa, em que os estudantes e profissionais do setor puderam compartilhar anseios e principalmente pontos essenciais para o entendimento das questões predominantes para os dois lados.

Minha intenção ao propor esse Projeto de Intervenção (PI), foi estabelecer nesse primeiro momento o contato entre assistentes sociais e estudantes para que as diferenças entre eles fossem amenizadas e para que as questões sobre a assistência estudantil fossem explicadas pelas assistentes e entendidas pelos estudantes.

Programei esse encontro, construindo uma roda de conversa com a expectativa que esse primeiro contato levaria para o entendimento, por ambas as partes, das questões pertinentes a esses atores.

Das metodologias de aprendizado coletivo, as rodas de conversa têm sido adotadas por várias escolas como um instrumento pedagógico importante

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para estimular o aprender com o outro e a partir do outro. O desenvolvimento da oralidade é dado pela própria conversa e quanto mais conversa melhor! Essa metodologia é muito utilizada com as crianças que ainda estão aprendendo a se comunicar, mas continua sendo muito válida para a discussão de temas importantes com os adultos. Sábios são os povos tradicionais que desde a antiguidade já praticavam, e mantêm até hoje, o hábito de sentar-se em roda para que uma geração aprenda com a outra e para que sejam resolvidos conflitos importantes da comunidade. No formato de roda, eles entendem que todos podem se ver ao mesmo tempo, se conhecendo até mesmo pelo simples olhar. Com paciência e sabedoria, aprendem a respeitar a vez do outro: ao falar e escutar. Todos têm uma importante contribuição com as suas ideias e conhecimentos, ninguém fica de fora. E assim a história, ou melhor, a conversa vai ficando muito criativa e divertida… Quem não gosta de um bom papo? (VIEIRA, 2015).

As rodas de conversa possuem uma metodologia diferente de interação entre sujeitos. Por ser uma forma descontraída, portanto menos formal de comunicação, os envolvidos sentem-se mais tranquilos para suas pontuações, sem o peso da formalidade. Ela possibilita uma conversação mais fluida e dinâmica. No caso do meu PI foi um instrumento rico pois possibilitou a aproximação entre estudantes e assistentes sociais.

Foi proposto aos estudantes ações para a união deles com as assistentes sociais para que juntos pudessem fortalecer a luta pela continuação de uma educação gratuita e de qualidade. Para tanto articulei com as minhas supervisoras as técnicas que seriam utilizadas para que meu objetivo fosse alcançado. Contatei primeiramente o Caliss, pois tinha o desejo de ouvir alguns estudantes do curso, sobre o meu objeto de pesquisa.

Realizei a partir daí a produção do cronograma de execução do PI, propondo assim um tempo hábil para a produção, realização, execução e resultados finais com as devolutivas por parte desses estudantes. Este período compreendeu ações entre o primeiro semestre de 2018 (Sétima Fase) e segundo semestre de 2018 (Oitava Fase). Para a realização das tarefas, mantive monitoramento do cronograma a princípio de uma vez por semana, mas nas semanas que precederam a execução, optei pelo monitoramento diário das tarefas em questão. Com todas as demandas para a realização do PI estabelecidas e realizadas passei para a execução do Projeto.

Com a participação das assistentes sociais da CoAEs, estudantes e Coordenadoria do Curso de Serviço Social, iniciamos a roda de conversa debatendo os pontos fundamentais do meu objeto, sendo esse: levar até os estudantes a

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discussão sobre como eles interpretam o atendimento dos profissionais de Serviço Social da CoAEs-PRAE nas políticas de assistência estudantil.

Na próxima seção descrevo efetivamente como esse processo se estabeleceu, os assuntos cruciais que foram postos, as críticas, elogios, a devolutiva dos estudantes e os resultados esperados.

3.1 APRESENTAÇÂO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO AOS DISCENTES DO CALISS

Para expressar como é feito o trabalho no setor, foram utilizados slides para apresentar alguns pontos cruciais para o entendimento do andamento dessas políticas. Todas as referências utilizadas nesse documento estão presentes no apêndice (APÊNDICE A).

Nesse documento apresento o projeto de Intervenção com nome: “unir para fortalecer: CoAEs e Caliss na luta para garantir assistência estudantil”.

Iniciamos o projeto de Intervenção em agosto de 2018 e seu término deu-se em novembro do mesmo ano. O público ao qual destinamos o projeto foram os Estudantes de Serviço Social da UFSC, representados pelo Centro Acadêmico Livre de Serviço Social (Caliss).

O presente projeto de intervenção foi desenvolvido na Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAEs) − Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), localizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Como estagiária, identifiquei, a partir da vivência no campo de estágio obrigatório, as divergências existentes entre o ponto de vista dos estudantes e o que de fato é executado pelos profissionais de serviço social, dando origem às necessidades presente desta intervenção. Identifiquei essas divergências em pontuações feitas por estudantes em espaços como acolhimento de estudantes nas entrevistas no setor para validação do cadastro sócio econômico; Casos relatados em sala de aula e presenciados por mim; relatos de estudantes na Semana Acadêmica de Serviço Social 2017.

Dentre as principais divergências identificamos as seguintes:

a) Os estudantes são selecionados pela renda per capita não por sua raça, crença ou opção sexual.

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de processo de seleção, e o valor dos recursos seleciona os contemplados, portanto, podemos afirmar que não são as assistentes sociais que selecionam os estudantes dentro de seus próprios critérios.

c) O setor recebe demandas espontâneas diariamente, porém as demandas programadas se mantêm no cronograma e/ou agenda, fazendo assim que todos os estudantes recebam o atendimento.

Como objetivo geral busquei esclarecer junto aos estudantes do Curso de Serviço Social da UFSC representados pelo Centro Acadêmico Livre de Serviço Social (Caliss), o trabalho da(o) assistente social na CoAEs, para aproximação destes sujeitos e, consequentemente, o fortalecimento da Política de Assistência Estudantil na UFSC.

Quanto aos objetivos específicos, pretendi conhecer a percepção dos estudantes sobre o trabalho das assistentes sociais da CoAEs/PRAE; apresentar para os estudantes o atual orçamento da assistência estudantil na UFSC e como ele é utilizado; expor os desafios e ações do trabalho do Serviço Social na CoAEs.

Como metodologia utilizei a entrevista guiada por roteiro com estudantes do Caliss; observação participante sobre atuação profissional do Serviço Social na CoAEs; levantamento de dados sobre orçamento, número de atendidos na CoAEs, além de saber sobre a quantidade de inscritos e contemplados pelos auxílios e programas assistenciais da PRAE. Utilizei a observação participante dos semestres de supervisão de campo para elaborar a dinâmica de aplicação do questionário do PI. Pesquisei para o levantamento de dados nos editais referentes a assistência estudantil os números de pedidos, benefícios e de estudantes contemplados. Foram incluídas as questões mais pertinentes sobre as divergências que são sobre o atendimento no setor. Juntamente com as assistentes sociais da CoAEs, que foram minhas supervisoras de campo, elaboramos a entrevista priorizando as dúvidas e as divergências que foram observadas por mim nesses semestres em que estagiei na CoAEs. Para esclarecimento das questões as perguntas foram sobre como os estudantes entendiam a dinâmica e como eles observavam o atendimento dado pelas assistentes sociais nos acolhimentos do setor. Antes de aplicar esse questionário com os estudantes, a supervisora acadêmica também fez contribuições importantes para a dinâmica de aplicação do questionário, ressaltando que o sucesso da entrevista se daria através do interesse dispensado pelos estudantes no processo.

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Nesse convite aos colegas de curso, deixei claro os objetivos e pedi que eles entre si se reunissem e escolhessem aqueles que seriam entrevistados para a realização da pesquisa, visto que assim os que participassem estivessem à vontade com as devolutivas para as perguntas na entrevista, pois desejei que não parecesse imposição minha sobre quem participaria da entrevista em questão.

Resolvi não fazer escolhas sobre os participantes desse encontro, visto que o assunto em si já gerava conflito e poderia deixar alguns dos estudantes desconfortáveis.

Como resultado da pesquisa, dos três entrevistados, só um era usuário do serviço de assistência Estudantil da PRAE e as informações obtidas da entrevista com os estudantes, não manifestaram problemas no atendimento das profissionais. Relataram ainda que compreendem os problemas estruturais e financeiros (entrevistado 1). Não apontaram as dificuldades na relação com o setor e com as profissionais de Serviço Social.

O entrevistado 1 relatou que ao acompanhar um amigo no setor, pois ele frisou que não seria usuário dos programas de assistência, não observou nenhuma atitude que desabonasse o atendimento dispensado pela assistente social em questão. “Ela nos tratou superbem, foi comunicativa e solícita. Conferiu a documentação que o meu amigo entregou, explicou sobre a renda per capita e sobre os prazos para a devolutiva do pedido. Para mim foi tudo muito tranquilo e não observei nada das falas que ouço aqui fora, porque meu amigo é negro e não sofreu nenhum tipo de preconceito...então não sei...”

O entrevistado 2 esclareceu que não é usuário dos programas de assistência estudantil e, portanto, nunca compareceu ao setor, para alguma demanda, nem como acompanhante de alguém.

O entrevistado 3 fez relatos muito pontuais sobre as assistentes: “todos os problemas que enfrento aqui na UFSC, são as assistentes sociais da ‘PRAE’ que me ajudam a resolver. Como sou indígena tive muitos problemas de adaptação, tanto com colegas quanto com professores. Quando não estava conseguindo entender o conteúdo dado por um professor e pensei em desistir, a assistente social que me acompanha me orientou e marcou psicóloga para que eu conversasse e entendesse o que era melhor pra mim naquele momento. Sempre busco auxílio dela e sempre sou bem atendido. Para mim elas ali no setor são o ponto de referência com a UFSC. Sem elas eu acho que já teria desistido tamanha foram as provações que

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encontrei desde a minha chegada aqui. Então eu não sei nada dessa história de preconceito, racismo e isso tudo aí que falam sobre o atendimento delas. Reafirmo que sempre fui muito bem atendido e orientado”.

Como resultado da pesquisa sobre o profissional do Serviço Social ficou claro que nesse espaço sócio-ocupacional, o assistente social é um trabalhador cuja atuação esbarra nos princípios, normativas, editais e portarias que regem a administração pública (para garantir a isonomia e transparência nos processos de seleção); tem autonomia relativa quanto aos critérios de seleção, uma vez que é o valor dos recursos que seleciona os contemplados; equipe reduzida tendo como perspectiva a quantidade de estudantes que são público-alvo da política. Por tudo isso, o assistente social vivencia constantemente tensionamentos com os estudantes pela escassez dos recursos.

Foi esclarecido aos estudantes que no ano de 2018 os recursos advindos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) para a assistência estudantil da UFSC,( o recurso é da PRAE) – foram de R$22.015.000,00 (vinte e dois milhões e quinze mil reais), distribuídos em todos os programas. A quantidade de cadastros concluídos foi de 4.256 (dados de 3 de outubro de 2018).

Apresentamos também como dados de pesquisa alguns números de programas específicos da assistência estudantil para melhor entendimento de como se dá essa questão:

a) ISENÇÕES RU – 2018.2 (todos com cadastro PRAE concluído ou validação de renda deferida)

 4.890 (mais isentos que cadastro – validação de renda); b) BOLSA ESTUDANTIL 2018.2

 Inscritos: 1.099 – Contemplados: 300

 Renda de corte: R$592,86

 São pagas aproximadamente 2.000 bolsas • Auxílio Moradia 2018.2

c) Inscritos: 1.066 Contemplados: 760

 Renda de corte: R$857,44

 São pagos aproximadamente 1200 auxílios d) Moradia Estudantil 2018.2 (167 vagas ao todo)

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 4 Vagas – Renda De Corte 162,09 e) Inscritas vagas femininas: 67

 6 Vagas – renda de corte 234,25

A ideia principal para a realização desse projeto foi identificar as causas prováveis da relação conflituosa entre os/as estudantes da UFSC, representados pelo Caliss e as profissionais do Serviço Social da CoAEs.

Tendo em vista que os/as estudantes entrevistados não são usuários de programas da CoAEs, o objetivo principal deste estudo pode não ter sido atingido e para tanto pesou negativamente que as informações coletadas mostrassem a realidade dos tensionamentos existentes em relação ao atendimento dos profissionais do setor.

Após os estudantes entrevistados afirmarem que não eram usuários dos serviços, não tinham reclamações e as opiniões negativas relacionadas ao atendimento eram relatadas por terceiros, amigas/os, companheiras/os de residência, namoradas/os entre outros. Com isso, as dúvidas aumentavam relativamente, questionei como essas dúvidas seriam e se poderiam ser sanadas.

Iniciei as transcrições das entrevistas imaginando como relataria as informações obtidas e como essas me levariam ao cerne da questão principal: A percepção discente sobre o serviço social da Coordenadoria de Assistência Estudantil, pois o principal objetivo foi esclarecer junto ao Caliss o trabalho da assistente social da CoAEs na UFSC, visto que, o objetivo seria minimizar os ruídos sobre o atendimento feito pelos profissionais do setor, fortalecendo a relação entre os sujeitos. A ideia é que a partir da aproximação destes sujeitos, eles possam identificar uma maneira de iniciar algumas ideias propostas nesse primeiro contanto. Espera-se que essas considerações sejam avaliadas por ambos, para que as mudanças pactuadas visem à interação de força dos sujeitos, fazendo assim que conquistem relevantes mudanças e, consequentemente, o fortalecimento da Política de Assistência Estudantil na UFSC.

É importante ressaltar que os estudantes tinham e apresentaram resistência para o contato com as profissionais da CoAEs. Apesar de não apontarem dificuldades na relação com o setor e com as profissionais de Serviço Social (aqui faço referência aos estudantes que participaram da entrevista, e não àqueles que possuem algum questionamento, porém, não participaram da pesquisa), na

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