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Do discurso político ao discurso jornalístico: a construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos nos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

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Academic year: 2021

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Liziane Nathália Vicenzi

DO DISCURSO POLÍTICO AO DISCURSO JORNALÍSTICO:

A construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos nos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de mestre em Jornalismo.

Orientadora: Prof. Dra. Daiane Bertasso

Florianópolis 2019

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Liziane Nathália Vicenzi

DO DISCURSO POLÍTICO AO DISCURSO JORNALÍSTICO:

A construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos nos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo

O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof.(a) Carlos Locatelli Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Prof.(a) Samuel Pantoja Lima Dr.

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Prof.(a) Luciana Panke Dr(a). Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de mestre em Jornalismo.

____________________________ Prof. Dr.(a) Cárlida Emerim Coordenador(a) do Programa

____________________________ Prof. Dr.(a) Daiane Bertasso

Orientador(a)

Florianópolis, 2019

Assinado de forma digital por Daiane Bertasso Ribeiro:99652935034 Dados: 2019.10.14 14:29:11 -03'00' Carlida

Emerim:5237173500 0

Assinado de forma digital por Carlida Emerim:52371735000 Dados: 2019.10.14 18:04:20 -03'00'

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AGRADECIMENTOS

Eu tenho absoluta convicção que Deus preparou tudo isso. Desde a seleção até o fim do mestrado. Então, agradeço primeiramente a Ele por ter sido tão bom e por ter me sustentado, surpreendido e cuidado em todo o tempo e nos mínimos detalhes. Agradeço à Maritânia e Leopoldo por serem pais tão espetaculares, por todo amor, apoio, confiança e incentivo. Sem vocês nada teria sentido ou sequer seria possível. Obrigada à Eulália e Anderson por me ajudarem tanto e serem tão maravilhosos desde sempre. Igualmente agradeço a todos da minha família por todo o suporte e motivação nesses dois anos.

Obrigada à Ana Bourscheid por toda a contribuição na elaboração do projeto e apoio durante o processo seletivo. Igualmente, agradeço ao Professor Vagner Dalbosco, que não mediu esforços para me ajudar com o projeto, com as decisões profissionais e que certamente é um dos meus referenciais como professor e pesquisador.

Agradeço a todos os amigos do PPGJOR, em especial aos mestrandos e doutorandos da turma incrível de 2017/2. Muito obrigada aos amigos do Xadrez da UFSC, do Clube de Xadrez de Florianópolis (CXF), de todo o estado e do Brasil. Vocês são fundamentais na minha vida. Também agradeço aos amigos e líderes da Florianópolis House Of Prayer (Fhop) por cuidarem tão bem de mim nesses dois anos e por me confrontarem em amor para que eu pudesse ser uma pessoa melhor. Agradeço a todos os meus amigos de Xaxim (em especial, Patrícia, Caroline, Letícia, Juliane e Gabriel) por me apoiarem nessa jornada e por serem tão especiais na minha vida.

Muito obrigada a todos os Professores e demais colaboradores do PPGJOR por todos os ensinamentos, apoio e por demonstrarem tanto amor e dedicação ao Jornalismo. Agradeço, em especial, aos integrantes da minha banca: Muito Obrigada Luciana Panke, Carlos Locatelli, Samuel Lima, Jorge Ijuim e Valentina Nunes. Sinto-me honrada e grata por ter a oportunidade de ser avaliada por vocês.

Agradeço imensamente a minha orientadora, Professora Daiane por ter sido tão presente, atenciosa, dedicada, compreensiva e por compartilhar tanto conhecimento em todos os momentos. Obrigada também a Professora Maria Terezinha pela atenção e comprometimento em me orientar por um semestre.

Por fim, agradeço a CAPES pela bolsa concedida que permitiu a dedicação exclusiva para o mestrado.

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RESUMO

Esta dissertação se insere nas reflexões a respeito da conjuntura política brasileira delimitada no governo do ex-presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer, em decorrência do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O objeto de estudo do trabalho é a construção da imagem de si (ethos discursivo) nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referente aos pronunciamentos presidenciais no período de 12 de maio de 2016 a 31 de dezembro de 2018. O objetivo geral é justamente compreender as possíveis mudanças desse discurso político para o discurso jornalístico e, especificamente, analisar a construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer, questionar “se” e “como” os portais problematizaram esses pronunciamentos a partir da produção de sentidos no discurso jornalístico e refletir a respeito das possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses da imagem de si e do discurso jornalístico. O eixo interpretativo aciona o aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso de linha francesa (AD) em um corpus de 13 pronunciamentos do ex-presidente e de 64 notícias referentes a esses pronunciamentos em G1/O

Globo e Uol/Folha de S. Paulo. A análise da imagem de si conta com 195 sequências discursivas que

compõem as formações discursivas: “Sou reformista e confio no progresso”, “Sou conservador e confio na Constituição”, “Sou crente na união e no diálogo”, “Sou corajoso e salvei o país”, “Sou totalmente honesto e vítima”. Na produção de sentidos nos portais jornalísticos constituem o corpus 247 sequências discursivas em G1/O Globo e 171 sequências discursivas em Uol/Folha de S. Paulo englobadas nas formações discursivas: “Temer é alvo da oposição e de denúncias”, “Temer é um presidente polêmico em suas declarações”, “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”, “Temer quer união e prega o diálogo”, “Temer vai gerar emprego e crescimento” e “Temer é reformista”. Diante disso, os resultados possibilitam a conclusão de que o discurso político de Michel Temer foi direcionado para sua base aliada e não para a população. A abordagem dos portais se limitou a categoria do “jornalismo declaratório”, a considerar Temer “polêmico” e amenizar as denúncias e índices de rejeição do presidente a partir dos resultados das pesquisas de opinião divulgadas ao decorrer do mandato. A semelhança nos sentidos das formações discursivas da imagem de si e nas formações discursivas dos portais demonstra ser um fator preocupante acerca da atuação do jornalismo dentro do sistema político-midiático configurado no Brasil.

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ABSTRACT

This paper submerges itself on the reflections about Brazil’s political climate during the government of now former president, Michel Temer, who came to power after his predecessor Dilma Rousseff was impeached. The object of study is the construction of a self-image (discursive ethos) in his discourses and the creation of meanings by the news portals G1/O Globo and Uol/Folha de S. Paulo in the period of 12th of may, 2016 till december 31st, 2018. The general objective is to understand the possible changes from his politic discourses to the journalistic discourses and, more specifically, analyze the construction of a self-image in Michel Temer’s discourses, to question “if” and “how” the news portals problematized his discourses from the production of meanings in journalistic discourse and to reflect on the possible analogies in the effects of meanings, relationships and interests of self image and journalistic discourse. We use theoretical-methodological French Discourse Analysis in a corpus of 13 of the former president’s discourses and 64 news articles about this particular speeches published by G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo. The analysis of his self-image counts on 195 discursive sequences that make up the discursive formations: “I am a reformer and I believe in progress”, “I am a conservative and I trust the Constitution”, “I am a believer in union and dialogue”, “I am brave and I saved the country”, “I am absolutely honest and a victim”. The production of meanings in the news portals constitute a corpus of 247 discursive sequences at G1/O Globo and 171 discursive sequences at Uol/Folha de S. Paulo comprising of: “Temer is a target of accusations and the opposition”, “Temer is a polemic in his declarations”, “Temer stands by the impeachment and the institutions”, “Temer wants union and dialogue”, “Temer will create jobs and growth” and “Temer is a reformist”. From this, the conclusion is that Michel Temer’s political discourse was directed at his own base and not the population as a whole. The news outlets limited themselves to “declaratory journalism”, by considering Temer “polemic” and phasing his accusations and rejection rates polled during his term. The resemblance in meaning in the discursive formations of his self-image and the discursive formation of the news portals represent a worrying factor surrounding journalism in the midiatic-political system set about in Brazil.

Keywords: Journalism. Journalistic discourse. Political discourse. Self-image. Michel Temer.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mensagem de Temer em sua conta no Twitter ... 33

Figura 2 - Mensagem de Temer em 01/01/2019 na cerimônia de posse de transmissão de faixa presidencial...68

Figura 3 – Michel Temer de 1925 a 1975...69

Figura 4 – Michel Temer de 1981 a 1985...70

Figura 5 – Michel Temer de 1986 a 1998...71

Figura 6 – Michel Temer de 1998 a 2014...72

Figura 7 – Michel Temer em 2015...73

Figura 8 – Michel Temer em 2016...74

Figura 9 – Michel Temer em 2017...75

Figura 10 – Michel Temer em 2018...76

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Trâmites resumidos do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional ... ...38 Quadro 2 – Denúncias e Inquéritos de Michel Temer...53 Quadro 3 – A Esplanada de Temer: 1º nome indicado para cada ministério...65

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Síntese das formações discursivas acerca da Imagem de Si de Michel Temer em seus pronunciamentos ... 115 Tabela 2 – Síntese das formações discursivas acerca das notícias dos pronunciamentos de Michel Temer nos portais G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo...147

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...12

2. A TRAJETÓRIA POLÍTICA E O GOVERNO DO EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO BRASIL MICHEL TEMER (2016-2018)...23

2.1 O político Michel Temer, impeachment e presidência em 2016...23

2.2 Denúncias e inquéritos ...45

2.3 Medidas econômicas e sociais...56

2.4 Linha do Tempo...69

3. DISCURSO E PRODUÇÃO DE SENTIDOS...78

3.1 A produção de sentidos no discurso jornalístico...78

3.1.1 Perspectivas construcionistas do discurso jornalístico...84

3.1.2 O Discurso Político na configuração midiática...88

3.2 O aporte teórico-metodológico da análise de discurso (AD) francesa para a compreensão dos discursos...92

3.2.1 Ideologia, interdiscurso, formações discursivas e ethos discursivo (imagem de si)...96

3.2.2 As condições de produção e a identificação dos sentidos...104

4. IMAGEM DE SI DE MICHEL TEMER E SENTIDOS PRODUZIDOS PELO DISCURSO JORNALÍSTICO DE O GLOBO/G1 E FOLHA DE S. PAULO/UOL...109

4.1 A relevância do estudo de mídias hegemônicas e procedimentos para a análise...109

4.2 A imagem de si do ex-presidente Michel Temer a partir dos pronunciamentos oficiais...115

4.2.1 FD1: “Sou conservador e confio na Constituição”...116

4.2.2 FD2: “Sou reformista e confio no progresso”...124

4.2.3 FD3: “Sou corajoso e salvei o país”...130

4.2.4 FD4: “Sou crente na união e no diálogo”...137

4.2.5 FD5: “Sou totalmente honesto e vítima”...141

4.3 O discurso jornalístico em O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol...147

4.3.1 FD1: “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”...148

4.3.2 FD2: “Temer quer união e prega o diálogo”...152

4.3.3 FD3: “Temer é um presidente polêmico em suas declarações”...154

4.3.4 FD4: “Temer vai gerar emprego e crescimento”...158

4.3.5 FD5: “Temer é reformista”...160

4.3.6 FD6: “Temer é alvo da oposição e de denúncias”...162

4.4 Do discurso político ao discurso jornalístico: possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses...167

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...169

REFERÊNCIAS...178

APÊNDICE A...202

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1. INTRODUÇÃO

Quando John Kennedy discursou em sua posse como presidente dos Estados Unidos em 1961 certamente não imaginou a repercussão que a frase “Não perguntes o que o vosso país pode fazer por vós e sim o que podes fazer por vosso país” alcançaria por tantas décadas. Ou quando Sócrates, séculos antes, recebeu o anúncio de condenação de morte por envenenamento do tribunal ateniense e demonstrou em um discurso que nem mesmo a morte o faria abrir mão de defender suas ideias. Da mesma forma, o estadista venezuelano Simon Bolívar conhecido como “Libertador” discursou em 1821 como representante da luta pela independência da América Espanhola. Ou o discurso do ex-presidente dos Estados Unidos, George Bush, após o ataque terrorista do World Trade Center em 11 de setembro de 2001, ao lamentar as vidas perdidas, proferiu palavras de esperança que diziam que as fundações dos maiores edifícios estavam abaladas, mas apesar dos atos terroristas terem destruído “aço”, não poderiam sequer arranhar a “determinação de aço” do povo estadunidense (FIGUEIREDO, 2002).

Os discursos políticos, especialmente os proferidos por lideranças com projeção nacional e até mundial como de um presidente quando reverberados pelas mídias jornalísticas provocam marcas na história política de um país. No Brasil, o discurso do ex-presidente Getúlio Vargas por meio da Carta Testamento ainda é lembrado pelas palavras de quem disse “sair da vida para entrar na história”. O pronunciamento de Tancredo Neves em 1985 também representou um novo começo para o Brasil que contava com o primeiro presidente eleito após o período militar. Um dos discursos1 que também perdura na história política brasileira foi do ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, que em 13 de agosto de 19922 convocou o povo brasileiro para que fosse às ruas vestindo verde e amarelo como forma de apoiá-lo. O discurso, no entanto, tomou proporções inversas às desejadas pelo presidente. Como maneira de apoiar o impeachment do então presidente, o povo saía às ruas vestindo roupas pretas.

O discurso carrega um potencial de perpetuar-se e com palavras que permanecem para sempre na história como traço de um ato de comunicação sócio historicamente determinado. Chama-se discurso um conjunto de enunciados que provêm da mesma formação discursiva,

1 Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/collor-fez-convocacao-em-1992-impulsionou-impeachment-17399532> Acesso em 25 set. 2018.

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de um tipo de discurso (“discurso jornalístico”, “discurso político”, “discurso administrativo”), das produções verbais específicas de uma categoria de locutores (o “discurso das enfermeiras”, o “discurso das mães de família”), de uma função da linguagem (“o discurso polêmico”, “o discurso prescritivo”) (FOUCAULT, 1969). O discurso supõe uma organização transfrástica, é orientado, é uma forma de ação, interativo, contextualizado, assumido, regido por normas e assumido no bojo do interdiscurso (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2006). É pertinente compreender como um discurso revela muito do próprio orador. As palavras vêm carregadas de intencionalidades e carregam marcas do contexto histórico no qual são proferidas. Os vários tipos de discursos, as condições de produção e as posições ocupadas por aqueles que discursam jamais são ditas de forma arbitrária, mas com ideologia implícita e carregada de motivações e intenções.

Neste sentido, esse trabalho se torna relevante para discutir a importância dos discursos políticos e dos discursos jornalísticos. O primeiro deles busca o convencimento, a persuasão, certamente carrega aspectos informativos, mas pelo viés do potencial de convencer, da empatia, da aceitação do público, do fazer sentir e do pertencimento. Já o discurso jornalístico é delineado por normas. Ele não pode ser uma invenção, não pode ser uma história contada conforme a própria percepção, ou pelo que for mais belo, atraente ou leve. O discurso jornalístico é o que possui índices de que é real, de que é a verdade dos fatos como realmente ocorreram. É fazer saber e ser entendido. É um discurso perpassado pela credibilidade. Ambos os discursos coexistem, são dependentes um do outro e se confrontam ou se conectam em muitas situações.

O discurso político e o discurso jornalístico alternam interdependências, entretanto o discurso político pode ser ressignificado conforme a interpretação (produção de sentidos) do jornalismo (CHARAUDEAU, 2008; 2009), que exerce papel importante na construção da imagem de agentes políticos (GOMES, 2004). Os discursos que serão analisados nesta pesquisa, por meio dos portais jornalísticos, são do ex-presidente da República Federativa do Brasil, Michel Temer, com o objetivo de entender as relações e idiossincrasias tanto do discurso jornalístico quanto do discurso político presidencial. Um dos pronunciamentos que motivou a pesquisa foi o discurso proferido no dia 8 de março de 2017, em uma cerimônia no Palácio do Planalto, na qual Temer discursou com o objetivo de homenagear as mulheres. No entanto, as declarações geraram repercussão negativa na imprensa nacional e até internacional. O discurso recebeu críticas nas redes sociais e inúmeros sites de notícias

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repercutiram negativamente o pronunciamento. O site Pragmatismo Político3 destacou que vários veículos internacionais de comunicação como CNN, The New York Times, The

Independent repercutiram negativamente o discurso do presidente, com o título da matéria

“Discurso de Temer no Dia da Mulher vira vergonha nacional”. O portal ressaltou ainda que o jornal britânico Telegraph fez duras críticas ao governante e destacou a impopularidade de Temer entre as mulheres pela atuação no impeachment, por ter iniciado o governo com um Ministério completamente masculino e por ter abolido o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O portal G14 intitulou a matéria com: “Temer diz que só mulher é capaz de indicar ‘desajustes’ no preço do supermercado”. A Folha de S. Paulo5 também

destacou o discurso do presidente com a matéria: “‘Tenho convicção do que a mulher faz pela casa’, diz Temer no Dia da Mulher”. Ou seja, o pronunciamento alcançou, além de destaque na mídia jornalística brasileira, alcance internacional.

Além das correlações entre discurso político e o discurso jornalístico, a pesquisa também se justifica por um interesse pessoal acerca da relação dos agentes políticos e do jornalismo a partir de estudos realizados em iniciação científica e na monografia de conclusão de curso que motivaram esse estudo aprofundado sobre o discurso político e o jornalístico. Especificamente, analisar o discurso jornalístico acerca de uma figura com projeção política nacional auxilia na própria compreensão do perfil do agente político e de como a conjuntura política brasileira se configura. São motivações que permitem preencher lacunas nos estudos sobre discursos jornalísticos que se referem a agentes políticos. O estudo também avança na busca da compreensão do próprio contexto político que atravessa o Brasil e os desdobramentos da atuação jornalística do ex-presidente da república estudado que atingiu a mais alta taxa de reprovação da história desde a redemocratização do Brasil, com reprovação de 82% dos eleitores em pesquisa divulgada pelo Instituto de pesquisa Datafolha6 em 10 de

junho de 2018.

Com o objetivo de identificar os trabalhos que dialogam com o objeto de estudo aqui proposto, “A construção da imagem de si nos pronunciamentos de Michel Temer e a produção

3 Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/03/discurso-de-temer-no-dia-da-mulher-vira-piada-internacional.html>Acesso em 15 jun. 2018.

4 Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/mulher-ainda-e-tratada-como-figura-de-segundo-grau-no-brasil-diz-temer.ghtm>Acesso em 15 de jun. 2018.

5 Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/03/1864708-tenho-conviccao-do-que-a-mulher-faz-pela-casa-diz-temer-no-dia-da-mulher.shtml>Acesso em 15 de jun. 2018.

6 Segundo o Datafolha, a pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7 de junho em 174 municípios. Foram entrevistadas 2.824 pessoas. A margem de erro apontada é de dois pontos percentuais.

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de sentidos realizada pelos portais jornalísticos G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo, referentes aos pronunciamentos presidenciais no período de 12 de maio de 2016 a 31 de dezembro de 2018 foram identificadas7 as contribuições de diversas áreas que auxiliam na compreensão dos conceitos que perpassam o discurso jornalístico e político a partir dos pronunciamentos de Michel Temer. A busca contou com as seguintes palavras-chave: Discurso jornalístico; Discurso Político; Michel Temer; Pronunciamentos e Imagem de si. Os percursos teórico-metodológicos identificados incluíram trabalhos com análise de conteúdo, de enquadramento, etnografia digital, análise de discurso de linha francesa (AD), análise crítica do discurso (ACD), análise lexicográfica, análise de representações, entre outros. As produções abordaram os pronunciamentos de posse em 12 de maio de 2016, como presidente interino e em 31 de agosto de 2016 como presidente efetivo; discursos após denúncias de corrupção que acentuaram a crise no governo; durante posse de ministros do estado. O discurso referente ao Dia da Mulher em 8 de março de 2017 também foi objeto de estudo recorrente dos trabalhos elencados a seguir.

A dissertação de Motta de Campos (2019) apresentou uma investigação das estratégias de comunicação do governo federal na gestão Dilma Rousseff (PT) e no governo Michel Temer (MDB), nos momentos em que Temer assumiu como presidente interino, como efetivo e nas crises do governo após as denúncias de corrupção. A metodologia utilizada no estudo foi a Análise de Conteúdo e de Enquadramento a partir do estudo dos pronunciamentos realizados por Dilma e por Temer. A pesquisa também objetivou analisar o enquadramento noticioso realizado pelo jornal Folha de S. Paulo como representação da cobertura midiática. A análise de enquadramento a partir do jornal Folha de S. Paulo demonstrou que ambos os governos ganharam enquadramentos negativos em momentos de crise. No entanto, ao tratar das temáticas econômicas, o veículo noticioso enquadrou o governo Temer de forma mais positiva se comparado ao governo petista. Na análise de conteúdo aplicada aos pronunciamentos, a autora concluiu que os pronunciamentos de Temer utilizaram uma estratégia de união, colocando no centro das falas a sua equipe de governo, o Legislativo, o Judiciário e até mesmo a população como forma de atrair aprovações necessárias para conseguir governar e aprovar as reformas intencionadas. As conclusões apontaram que Temer

7A pesquisa foi realizada no Banco de Teses e Dissertações da Capes <http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/Teses.do>, nas bibliotecas digitais de Teses e Dissertações de Instituições de Ensino Superior e no acervo digital de pesquisas dos programas de Pós-Graduação em Comunicação e Jornalismo.

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adotou a estratégia de superação da crise econômica nos pronunciamentos e após as polêmicas como o vazamento dos áudios, Temer reforçou o personalismo e afirmou idoneidade perante as experiências na trajetória política percorrida.

Em artigo publicado na revista Compolítica, Iacomini Junior et al (2018), analisaram os dois primeiros discursos proferidos pelo presidente em 12 de maio de 2016, na posse como presidente interino e em 31 de agosto na posse como presidente efetivo. Segundo os autores é pertinente compreender que os discursos não são apresentados como “discursos oficiais de posse”, mas em um contexto de informalidade. Os textos dos pronunciamentos foram analisados com base no software Iramuteq de análise lexicográfica que reúne palavras de acordo com a afinidade que demonstram nos discursos. Na comparação entre os dois discursos, os resultados apontaram ênfase na área econômica, disposição de governar com o apoio de uma elite parlamentar, que segundo os autores, é expressa pelo uso frequente do pronome “nós”, que caracterizaria oposição a um governo popular.

Com o objetivo de analisar o processo de desconstrução de ethos de Michel Temer e refletir sobre os recursos linguísticos do processo, a pesquisa de Araújo (2018) também analisou o pronunciamento de Temer ao assumir a presidência da República efetivamente, em 31 de agosto de 2016. A partir da análise de discurso de linha francesa e do acionamento do conceito de ethos discursivo, os resultados da monografia apontaram que ocorreu um processo de desconstrução do ethos de Michel Temer, ou seja, ele precisou se desfazer de uma imagem supostamente negativa para construir outra que fosse aceita pelos brasileiros. Essa desconstrução ocorreu por meio de estratégias empregadas pelo sujeito discursivo (Michel Temer), no intuito de desfazer uma imagem de golpista, usurpador e construir a imagem de um homem honesto e digno de confiança (ARAÚJO, 2018).

Silva e Correio (2018) também interpretaram o pronunciamento de Temer em 31 de agosto de 2016. Baseado na Gramática Sistêmico–Funcional e na Análise Crítica do Discurso (ACD), o objetivo do artigo foi entender como Temer representou linguisticamente a si mesmo e ao governo no primeiro pronunciamento à nação. Os resultados demonstraram que Temer caracterizou o governo como moderno, dinâmico, progressista e sinalizou o governo anterior como retrógrado e inoperante (SILVA; CORREIO, 2018).

Os discursos de Temer em 12 de maio de 2016, como presidente interino e em 31 de agosto de 2016, como presidente efetivo foram o corpus utilizado por Santos (2017) em um artigo com o objetivo de avaliar a clareza nas propostas apresentadas aos cidadãos à luz da

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Análise Crítica do Discurso (ACD). Os apontamentos da autora concluíram que Temer seguiu as orientações do Manual da Presidência da República8 ao proferir os discursos. No entanto, os pronunciamentos tiveram destinatários diferentes e não somente a população, já que Temer teria falado em tom mais rebuscado e técnico, o que dificultaria o claro entendimento por parte do cidadão. As conclusões apontaram ainda que os discursos contaram com o uso de estratégias de padronização, racionalização, simbolização da unidade e narrativização (THOMPSON, 1995), utilizadas para conclamar união, enfatizar argumentações, e mascarar o sentido de colocações importantes.

Outro artigo que permitiu reflexões pertinentes para contribuir com a pesquisa consistiu em uma análise do áudio de WhatsApp de Michel Temer vazado à imprensa em 11 de abril de 2016, data da aprovação do parecer pela abertura do processo de afastamento de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Os autores Pimentel et al (2017) compararam esse áudio com o discurso proferido na posse de Temer como presidente interino, em 12 de maio de 2016. Por meio de uma metodologia que consistiu na mescla entre Análise de Conteúdo e Análise do Discurso, proposta por Panke e Cervi9 (2011) e com a Análise do Discurso por meio da Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), o resultado do estudo apontou que ocorreu um padrão temático de 71,4% entre ambos os discursos, o que confirmou a hipótese inicial dos autores de que o áudio vazado pode ser interpretado como uma prévia do discurso de posse proferido por Michel Temer, não de forma proposital, mas que se transformou em estratégia de marketing político ao ressaltar temas e argumentos que seriam posteriormente recorrentes no discurso de posse (PIMENTEL et al, 2017).

Com o objetivo de compreender as abordagens e representações sociais utilizadas nos discursos presidenciais em contextos de crise política por meio da análise de conteúdo, Albernaz (2016) estudou o pronunciamento de Michel Temer em 31 de agosto de 2016. Os resultados do estudo apontaram que as palavras mais proferidas pelo presidente no discurso foram “governo”, no sentido de autoafirmação e legitimação de posição enquanto líder do país e deslegitimação do argumento de golpe político. Em relação à imagem pública ou ethos político, os resultados da pesquisa apontaram ainda que foram utilizadas estratégias persuasivas da “palavra de decisão”, que promete soluções para problemas conhecidos e a

8

Documento que rege todas as comunicações redigidas pelo Poder Público e que instrui a necessidade de um texto impessoal, uso do padrão culto da linguagem com clareza e concisão.

9 PANKE, L.; CERVI, E. U. Análise da Comunicação Eleitoral: uma proposta metodológica para os estudos de HGPE. Revista Contemporânea. V. 9. N. 3. 2011 (p. 390 a 403).

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“simplicidade” relacionada ao raciocínio pragmático e ausência de aprofundamento nos temas tratados. As conclusões demonstraram ainda que Temer proferiu um discurso superficial, que se comparou positivamente a outros governos, se colocou como “diferente” e buscou transmitir uma imagem de credibilidade e legitimação pública ao assumir a presidência do país.

Os pronunciamentos após as denúncias que acentuaram a crise no governo Temer também foram objeto de pesquisas. Pereira et al (2018) tiveram como objetivo identificar as operações ideológicas presentes no pronunciamento do ex-presidente Michel Temer proferido em 27 de junho de 2017, após denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por crime de corrupção passiva. O artigo contemplou dez trechos do pronunciamento para identificar as estratégias ideológicas que sustentaram e legitimaram as relações de poder. A análise foi fundamentada nos conceitos de hegemonia de Gramsci (1995; 2001), de discurso de Fairclough (2001) e de ideologia de Thompson (2011). Os resultados apontaram a existência de modos de operação de ideologia como legitimação, unificação, fragmentação e dissimulação com o propósito de convencimento/adesão das pessoas frente aos argumentos do presidente. Os sentidos mobilizados no pronunciamento serviram como sustentação das relações de dominação e busca pela manutenção da hegemonia como presidente e como grupo político (PEREIRA et al., 2018).

Com o objetivo de refletir sobre relações entre mídia e política, Campos e Coimbra (2018) analisaram como o jornal Folha de S. Paulo enquadrou os pronunciamentos de Michel Temer diante de momentos de crise no governo10. Por meio da perspectiva do enquadramento e da análise de conteúdo de quatro matérias, a conclusão do artigo apontou que o ex-presidente Michel Temer foi citado 14 vezes, sendo 10 de forma negativa (71%) e quatro de forma positiva (29%). Os resultados demonstraram ainda que a imagem do governo foi enquadrada de forma mais negativa nos momentos de crise e as temáticas mais recorrentes nas matérias foram as reformas e a possibilidade de recuperação econômica. Nas matérias analisadas, constatou-se também o destaque dado a falas polêmicas e a necessidade de mostrar os bastidores da crise política no governo emedebista, reforçando a ideia da espetacularização midiática (CAMPOS; COIMBRA, 2018).

10

Os momentos de crise selecionados para o estudo foram: 1) Após a divulgação das delações da JBS, que citaram Temer; 2) Após manifestações contra o governo depois da divulgação das delações; 3) Após Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, apresentar denúncia de corrupção passiva contra Temer, 4) Após a votação na Câmara dos Deputados que decidiu pelo arquivamento do processo contra Temer.

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O pronunciamento de Michel Temer no Dia Internacional da Mulher em 8 de março de 2017 gerou polêmica no Brasil e internacionalmente, nos veículos de mídia jornalística e nas redes sociais. Neves e Barcellos (2017) em um artigo baseado na etnografia digital, por meio do mapeamento de publicações nas redes sociais e do pronunciamento de Temer interpretaram o discurso11 como machista, sem exposição de dados e que tornou evidente a ética do cuidado para definir papéis às mulheres em espaços determinados na sociedade, fator agravado por ter sido proferido por um homem em posição de poder e privilégio (NEVES; BARCELLOS, 2017). Canci e Pereira (2018) também analisaram o pronunciamento de Temer no Dia da Mulher de 2017 em um artigo sob a ótica da Análise do Discurso que obteve como conclusão que Temer limita o papel social da mulher aos cuidados do lar e dos filhos, sem potencial para ocupar espaços tradicionalmente tidos como masculinos, como a própria presidência da República e os ministérios, e que a fala de Temer contribuiu para a permanência de dizeres enraizados na sociedade, provenientes do discurso machista e patriarcal (CANCI; PEREIRA, 2018).

Em uma dissertação sobre a representação discursiva no discurso de Michel Temer proferido também acerca do Dia da Mulher de 2017, Matoso (2018), a partir do aporte teórico-metodológico da Linguística Textual, dimensão semântica do texto e da Análise Textual dos Discursos (ATD) concluiu que Temer a partir das escolhas linguísticas, designou às mulheres papéis passivos além de reduzir a responsabilidade social das mulheres à formação de bons cidadãos brasileiros (MATOSO, 2018). Auatt da Silva e Azevedo (2017) em um artigo a partir da Análise de Discurso (AD) de linha francesa concluiu que Temer não teve a intenção de ofender as mulheres em seu pronunciamento, mas que acentuou o papel da mulher por meio de uma visão tradicional que não representa a luta das mulheres ao longo dos anos. A conclusão apontou também que o discurso foi direcionado para pessoas de formação discursiva semelhante que valorizam e reverberam essa visão “tradicional” e “superficial” da mulher.

Com base no que foi explanado até aqui, a questão norteadora da pesquisa é: Quais as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico? A partir dessa questão, o estudo também levanta outras questões, como compreender qual a imagem de si produzida por Michel Temer em seus pronunciamentos oficiais? Os veículos jornalísticos problematizam o

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conteúdo desses pronunciamentos do ex-presidente? A partir do que foi publicado sobre os pronunciamentos presidenciais, quais foram os sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso jornalístico do G1/O Globo e Uol/Folha de S. Paulo?

O objetivo geral da dissertação é justamente compreender as mudanças do discurso político para o discurso jornalístico e os objetivos específicos contemplam: a) analisar a construção da imagem de si (ethos discursivo) nos pronunciamentos de Michel Temer; b) questionar “se” e “como” os portais problematizaram esses pronunciamentos a partir da produção de sentidos no discurso jornalístico e c) refletir a respeito das possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses da imagem de si e do discurso jornalístico.

Para responder aos objetivos dispostos, estruturou-se essa dissertação em introdução e mais três capítulos. O segundo capítulo intitulado “A trajetória política e o governo do ex-presidente da República Federativa do Brasil Michel Temer (2016-2018)” contempla a trajetória política e o governo do ex-presidente da República, Michel Temer. Numa perspectiva temporal-histórica é abordada a biografia do presidente, desde o percurso acadêmico até a experiência política; a atuação de Temer no processo de impeachment; Contextualização do governo Temer com detalhamento e explicação das denúncias, inquéritos, medidas econômicas e sociais, reprovação recorde e as últimas medidas de 2019, avaliação do governo e uma linha do tempo que resume a carreira política e o governo de Michel Temer.

O terceiro capítulo da pesquisa intitulado “Discurso e produção de sentidos” detalha as relações e especificidades do discurso jornalístico e do discurso político, ancorados nas reflexões sobre os conceitos desses dois tipos de discurso e as correlações entre ambos. O capítulo contempla uma abordagem sobre o aporte teórico-metodológico da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, com aspectos do surgimento, principais autores, procedimentos para a análise firmados no entendimento da AD como teoria que extrapola o limite metodológico e fundamenta as percepções dos sentidos inerentes aos discursos e o contexto sócio histórico, destacando conceitos e noções operatórias da produção de sentidos e perspectivas construcionistas do discurso jornalístico. Os autores acionados para a discussão, entre outros são Charaudeau (2008; 2016), Maingueneau (2004, 2015), Berger e Luckmann (1985, 2009), Amossy (2008), Hackett (2016), Benetti (2006), Gomes (2009), Vizeu (2003), Traquina (2016), Tuchman (2016), Berger e Luckmann (2009), Panke (2016), Pêcheux

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(1997), Orlandi (2007), Gregolin (2007), Brandão (1994), Bakhtin (2004) e Molotch e Lesters (2016).

O quarto capítulo, “Imagem de si de Michel Temer e sentidos produzidos pelo discurso jornalístico de O Globo/G1 e Folha de S. Paulo/Uol” inicia com uma discussão acerca da relevância do estudo de mídias hegemônicas com detalhamentos dos procedimentos para análise. Posteriormente, fundamentado no aporte teórico-metodológicos da Análise de linha francesa, a primeira etapa da análise detalhada nesse capítulo consiste na identificação da “imagem de si – ethos discursivo” de Michel Temer a partir da seleção de 13 pronunciamentos: Pronunciamento como presidente interino (12 de maio de 2016); como presidente efetivo (31 de agosto de 2016); durante conferência na Organização das Nações Unidas (ONU) (20 de setembro de 2016); após aprovação da PEC do Teto de Gastos (em 13 de dezembro de 2016); após a Sanção da Lei do Novo Ensino Médio (16 de fevereiro de 2017); pronunciamento no Dia da Mulher (8 de março de 2017); pronunciamento após delação JBS (18 de maio de 2017); após denúncia sobre corrupção passiva (27 de junho de 2017); após rejeição da denúncia por corrupção passiva (2 de agosto de 2017); pronunciamento após denúncia do Inquérito dos Portos (27 de abril de 2018), pronunciamento de aniversário de dois anos de governo (15 de maio de 2018), pronunciamento sobre a Greve dos Caminhoneiros (27 de maio de 2018) e pronunciamento de última reunião ministerial (19 de dezembro de 2018). Os pronunciamentos foram escolhidos pelo critério de relevância, repercussão e por serem marcantes e constitutivos da própria história do mandato presidencial de Michel Temer. Além disso, esses pronunciamentos se tornaram pauta para os veículos jornalísticos em estudo, posts nas redes sociais, geraram polêmica e englobaram vários temas pertinentes ao governo.

Na análise da “imagem de si” foram identificadas 195 sequências discursivas que contribuíram para a composição das formações discursivas que totalizaram cinco núcleos principais: Formação Discursiva (FD) 1: “Sou conservador e confio na constituição”, com 50 sequências discursivas; FD2: “Sou reformista e confio no progresso”, com 92 sequências discursivas; FD3: “Sou corajoso e salvei o país” com 32 sequências discursivas; FD4: “Sou crente na união e no diálogo”, com 38 sequências discursivas e FD5: “Sou totalmente honesto e vítima” com 30 sequências discursivas.

Na segunda etapa da análise são analisadas as notícias dos portais O Globo/G1 e Folha

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12 de maio de 2016 a 31 dezembro de 2018, quando encerrou o mandato presidencial. A análise dos sentidos consistiu na identificação das regularidades discursivas presentes nas sequências discursivas que foram destacadas dos textos. O corpus total da análise dos portais contabilizou 64 notícias, sendo, G1 (20 notícias) O Globo (13 notícias), Uol (19 notícias) e

Folha de S. Paulo (12 notícias), todas publicadas nos portais on-line de cada veículo. Na

identificação da produção de sentidos, o total foi de 247 sequências discursivas em G1/O

Globo com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva e de

171 sequências discursivas em Uol/Folha de S. Paulo, também com várias sequências discursivas alocadas em mais de uma formação discursiva.

As formações discursivas identificadas foram: FD1: “Temer defende a constitucionalidade do impeachment e as instituições”, com 34 sequências discursivas (SDs) em G1/O Globo e 45 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; “FD2: “Temer quer união e prega o diálogo” com 56 SDs em G1/O Globo e 32 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; FD3: “Temer é um presidente polêmico em suas declarações” com 65 SDs em G1/O Globo e 46 SDs em

Uol/Folha de S. Paulo; FD4: “Temer vai gerar emprego e crescimento” com 43 SDs em G1/O Globo e 24 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; FD5: “Temer é reformista” com 28 sequências

discursivas em G1/O Globo e 32 SDs em Uol/Folha de S. Paulo; e FD6: “Temer é alvo da oposição e de denúncias” com 92 SDs em G1/O Globo e 55 SDs em Uol/Folha de S. Paulo, com a análise detalhada sobre cada formação discursiva no capítulo quatro dessa dissertação. Ainda nesse capítulo, concentrou-se uma discussão que responde o terceiro objetivo específico da pesquisa sobre a reflexão a respeito das mudanças do discurso político para o discurso jornalístico, com base nos sentidos produzidos sobre Michel Temer por meio do discurso dos portais jornalísticos associadas às possíveis analogias nos efeitos de sentidos, relações e interesses. Posteriormente seguem as considerações finais e referências empregadas no estudo.

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2. A TRAJETÓRIA POLÍTICA E O GOVERNO DO EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL MICHEL TEMER (2016-2018) Este capítulo inicia com o detalhamento da trajetória política e o governo do ex-presidente da República, Michel Temer. Numa perspectiva temporal-histórica é abordada a biografia do presidente, desde o percurso acadêmico até a experiência política; a atuação de Temer no processo de impeachment; Contextualização do governo Temer com explanação das denúncias, inquéritos, medidas econômicas e sociais, reprovação recorde e as últimas medidas de 2019, avaliação do governo e uma linha do tempo que resume a carreira política e o governo de Michel Temer.

2.1 O político Michel Temer, impeachment e presidência em 2016

Michel Miguel Elias Temer Lulia12 é um político brasileiro, casado13, advogado e professor, ex-presidente da República Federativa do Brasil e filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) desde 1981. Temer nasceu em 23 de setembro de 1940, em Tietê – SP. É o caçula da família com mais sete irmãos e filho de Miguel Elias Temer Lulia e March Barbar Lulia. Eles deixaram o Líbano em 1925 para viver no Brasil após a 1ª Guerra Mundial. No Brasil, os pais de Temer empreenderam em um negócio de produção de arroz e café que garantiu estabilidade econômica para a família.

Aos 16 anos, em 1957, Temer se mudou para São Paulo para concluir o Ensino Médio. Em 1959 ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), o mesmo percurso de quatro de seus irmãos. Durante a graduação, Michel Temer era atuante no movimento estudantil e vivenciou sua primeira experiência e frustração em disputa política em 1962, aos 22 anos, quando deixou o cargo de segundo-tesoureiro do “Centro Acadêmico (CA) 11 de Agosto” para concorrer à presidência do CA, mas foi derrotado por uma diferença

12Informação do site da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/mesa/presidencia/gestoes-anteriores/michel-temer-2009-2010>/

http://micheltemer.com.br/biografia e http://www.brasil.gov.br/governo/2011/01/biografia-do-vice-presidente Acesso em 18 out. 2018. Disponível em: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-planalto/biografia. Acesso em 15 set. 2018.

13Temer é casado com a ex-modelo Marcela Tedeschi Araújo Temer desde 2003 e com ela teve o filho Michel Miguel Elias Temer Lulia Filho, nascido em 2009. Temer já foi casado com Maria Célia de Toledo, com quem teve três filhas: Luciana (1969), Maristela (1972) e Clarissa (1974). O casal se divorciou em 1987. O segundo casamento de Temer foi com Neusa Aparecida Popinigis, sua professora de inglês. O casal não teve filhos. Temer teve um filho, Eduardo (1999), com a jornalista Érica Ferraz.

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de 82 votos. Nessa época, Temer também conquistou amizades com professores e dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que possuíam influência política. Outro fato marcante do movimento estudantil foi em 1963 quando Temer chegou a ser indicado para assumir a presidência do Diretório Central dos Estudantes, mas abriu mão para não concorrer com o atual presidente da União Nacional dos Estudantes, na época José Serra, que tinha um posicionamento esquerdista, oposto ao de Temer (ÉPOCA, 2016).

Após estar formado, em meados de 1963, Temer trabalhou como oficial de gabinete de Ataliba Nogueira, que foi seu professor na USP e era secretário de Educação do Estado de São Paulo no governo Ademar de Barros, inspirador do slogan “Rouba, mas faz”14. Em 1964,

Temer atuou ainda como advogado em um escritório próprio e iniciou a carreira docente na Faculdade de Direito de Itu (FADITU) e na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), instituição na qual também exerceu cargo de direção do Departamento de Pós-Graduação ao lado do também professor e amigo André Franco Montoro, considerado um político experiente que já possuía no currículo dois mandatos como deputado federal pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Em 1970, Temer é aprovado no concurso público para atuar no setor de mandado de segurança da Procuradoria Administrativa do Estado de São Paulo. Michel Temer seguiu na carreira acadêmica e titulou-se doutor em Direito Público pela PUC-SP, em 1974. O primeiro livro15, “Elementos de Direito Constitucional”, foi publicado após a defesa da tese “Território Federal nas Constituições Brasileiras”.

As experiências políticas e administrativas perpassaram a carreira pública de Michel Temer que atuou como diretor do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional e também integrou o Instituto Ibero-Americano de Direito Constitucional. Por intermédio da amizade com André Franco Montoro, Temer ingressa no recém-criado partido do Movimento Democrático brasileiro (MDB16) em 1981, único partido autorizado pela ditadura a atuar

14Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-plano-temer/ Acesso em 06 de jun. 2019.

15Esse livro foi publicado originalmente em 1982 e foi totalmente reformulado após a Constituição de 1988. A obra já vendeu mais de 200 mil cópias e é elogiada por possuir uma linguagem mais compreensível, sem o "juridiquês" que marca os livros da área. Temer também é autor de outros livros nas áreas jurídicas, política, além de um livro de poesias. Os demais livros escritos por Temer são: “Constituição e Política” (1994); “Democracia e Cidadania” (2006); e em 2013 também publicou um livro intitulado “Anônima Intimidade”, sobre poemas e ficção.

16O MDB ganhou a sigla “P” de partido em 1981, que permaneceu até maio de 2018. Em 15 de maio de 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou por unanimidade, a mudança do nome e da sigla do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) para Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Disponível em: < http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2018/Maio/aprovada-mudanca-do-nome-do-partido-do-movimento-democratico-brasileiro-pmdb> Acesso em 18 de out. 2018. O partido não elegeu (até 2019) nenhum presidente

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como oposição e partido no qual Temer seria presidente por 15 anos, de 2001 a 2016 e que permanece filiado até hoje (2019). Em 1983, Montoro se tornou governador do Estado de São Paulo e convida Temer para ocupar o cargo de procurador-geral do Estado de São Paulo. Temer atua na função de 16 de março de 1983 a 31 de janeiro de 1984. Posteriormente, em 1984, Temer foi convidado para assumir a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo. No cumprimento do cargo, Temer criou a primeira “Delegacia de Defesa da Mulher” no Brasil em seis de agosto de 198517. Em 12 de abril de 201718, em discurso durante

cerimônia de Assinatura de Atos em prol das Mulheres e como presidente da República, Michel Temer relembrou a experiência durante a criação da Delegacia:

[...] Eu na ocasião recebi um grupo de mulheres que reclamava do atendimento nas delegacias de polícia. Até porque, eram normalmente atendidas por homens, investigadores, escrivães, delegados, e a gente sabe como é essa história não é? Vai lá contar de uma agressão do marido à companheira, ou uma violência sexual, sempre há uma palavra desairosa em relação a esses episódios. [...] E o que fiz eu? Coloquei duas delegadas de polícia, oito, dez escrivães, mulheres escrivães mulheres, e 20, 30, investigadoras mulheres, para atender a mulher. Vejam que é um ato da maior singeleza administrativa, mas que teve uma repercussão extraordinária (TEMER, 2017).

Michel Temer deixa a Secretaria para iniciar carreira política com a disputa da eleição para deputado federal no estado de São Paulo, pelo MDB em 1986. Na época, Temer recebeu apenas 43.747 votos e não conquistou o cargo. Apesar da derrota, garantiu a suplência do deputado Tidei de Lima e em 16 de março de 1987, assumiu o cargo na Câmara dos Deputados após uma decisão de Lima de licenciar-se do mandato. Temer também atuou na elaboração da nova Constituição no ano de 1988, no período de renovação democrática com o presidente civil José Sarney após os 21 anos de regime militar. O emedebista votou a favor da legalização do aborto e da ampliação do mandato de cinco anos para o mandato de Sarney. Nessa época, o PMDB de Temer passou por mudanças com a saída de lideranças de destaque

da república por meio do voto direto, mas já contou com três vice-presidentes que se assumiram a presidência

devido a falecimento ou impeachment do(a) presidente(a) eleito(a). O MDB é considerado o maior partido do Brasil com mais de 2,3 milhões de filiados. O atual presidente do partido é o Senador Romero Jucá que assumiu o posto em 5 de abril de 2016, no lugar de Michel Temer. Disponível em: https://www.mdb.org.br/conheca/presidentes-do-mdb/ Acesso em 31 mai. 2019.

17Em 1985 Temer também instituiu a Delegacia de Proteção aos Direitos Autorais, considerada um importante instrumento de combate à pirataria conforme informações do portal do Governo Federal. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2011/01/biografia-do-vice-presidente. Acesso em 10 out. 2018.

18Disponível em: http://especiais.g1.globo.com/politica/2017/todas-as-falas-do-presidente-temer/#!/discurso-direitos-mulheres Acesso em 30 mai. 2019.

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como Montoro, José Serra, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso que decidiram fundar o PSDB, decisão que não foi seguida por Temer.

Pouco antes da promulgação, em outubro de 1988, Covas, Serra, FHC e Montoro saíram do PMDB para fundar o PSDB. Nessa oportunidade, Temer viveu outro momento-chave. Em vez de seguir os colegas, ficou no PMDB, aceitando um conselho do próprio ex-governador Montoro e colega de PUC: “No PSDB, a fila vai ser grande para você” (ESTADÃO, 2016).

Nas eleições de 1990, Temer concorreu novamente como deputado federal pelo Estado de São Paulo e obteve 32.024 votos o que garantiu somente o cargo de suplente. Em 1992, Temer foi convidado para assumir novamente a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo no governo de Luiz Antonio Fleury. Temer assumiu seis dias após o “massacre do Carandiru”, considerada uma das piores rebeliões penitenciárias da história do Brasil, com 111 presos assassinados por ordem do comando da Polícia Militar em uma rebelião na Casa de Detenção. Temer obteve reconhecimento do governo estadual por conter a crise durante os acontecimentos da rebelião.

A vitória tão almejada na Câmara foi concretizada em 1994, quando foi eleito deputado federal do estado de São Paulo com 70.968 mil votos e líder do MDB na Câmara dos Deputados. O primeiro mandato de Temer ocorreu junto ao primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso – FHC, (PSDB) como presidente do Brasil.

Naquele ano, o MDB elegeu a maior bancada da Câmara (107 deputados), o que daria ao partido o direito à Presidência da Casa. A antiga ligação com a cúpula tucana fez de Temer o principal interlocutor da sigla com o recém-eleito presidente Fernando Henrique Cardoso. Contudo, em vez de exigir a cadeira de presidente da Câmara, Temer propôs um acordo com o PFL (atual DEM), partido que ajudou o PSDB a conquistar a presidência: o deputado baiano Luís Eduardo Magalhães (PFL) – filho do então senador Antônio Carlos Magalhães, que apelidou o emedebista de “mordomo de filme de terror” – seria o presidente no biênio 1995-1997 e Temer lhe sucederia no cargo pelos dois anos seguintes. O acordo foi aceito e cumprido (ESTADÃO, 2016).

Na presidência da Câmara dos Deputados entre 1997 e 1998, Temer vivenciou a experiência de assumir a Presidência da República interinamente: de 27 a 31 de janeiro de 1998, fato que ocorreria novamente, 18 anos mais tarde, em 2016. Em 1998, Temer disputou a reeleição para deputado federal e foi reeleito com 206.154 votos, o político mais votado do MDB no estado de São Paulo. O emedebista assumiu novamente a presidência da Câmara, de 1999 a 2001. Nesse ano, FHC também foi reeleito presidente do Brasil.

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Temer não passou desapercebido durante seu mandato. Triplicou a verba das despesas dos parlamentares. Ganhou moral com seus colegas. Ficou ainda mais influente dentro da casa. [...] Coincidência com os tempos atuais, ou não, foi nessa época que Temer virou presidente pela primeira vez: durante uma viagem do Presidente e seu vice, o emedeista assumiu o controle do país por quatro dias. Em 1999 voltou a assumir a presidência da Câmara, quando vetou o impeachment de Fernando Henrique. Também assumiu o cargo em 2009 - dessa vez, com o apoio de Lula, também chegando a assumir a presidência quando ele e seu vice saíram do país (ÉPOCA, 2016).

Em 2001, Temer foi eleito presidente nacional do MDB, com aproximadamente 60% dos votos, após a rejeição de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo nas eleições de 2002. Ainda em 2002, Temer disputou novamente as eleições e foi reeleito no cargo de deputado federal com 252 mil votos, mesmo ano do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa época, Temer articulou apoio à candidatura de José Serra ao Planalto e iniciou o relacionamento com o PT.

Em 2005, [Temer] tentou voltar à presidência da Câmara após a renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PE), envolvido num esquema de cobrança de propina no restaurante da Câmara. Temer, que na oportunidade integrava a ala oposicionista do MDB, pediu para o governista Renan Calheiros convencer a Lula a apoiá-lo na empreitada. Quando o alagoano enfrentou a acusação de ter a pensão de uma filha fora do casamento paga pela empreiteira Mendes Júnior e teve de deixar o comando do Senado, o deputado paulista o ajudou a pelo menos conservar o mandato parlamentar. A aliados, Temer diz que Renan prometeu ajudá-lo, mas, ao reunir-se com Lula, defendeu o nome de Aldo Rebelo (PC do B-SP), que acabou assumindo a cadeira (ESTADÃO, 2016).

Temer disputou as eleições novamente em 2006 com 99 mil votos para o quarto mandato como deputado federal com menos da metade dos votos conquistados em 2002. Temer foi o 54º deputado mais votado, em uma lista de 70 e somente conseguiu garantir a eleição devido ao sistema de eleição proporcional para deputados, com a última das três vagas conquistadas pelo MDB19. Na época, “[...] Temer acertou que o petista Arlindo Chinaglia seria presidente entre 2007 e 2009 e o emedebista nos dois anos seguintes” (ESTADÃO, 2016).

A presidência projetou imagem de poder de Temer no partido que influenciou para a composição na chapa presidencial com Dilma Rousseff, em 2010, ano em que também foi reeleito presidente do MDB. Com o aceno positivo para a composição da chapa, Temer

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comemorou sua primeira vitória como vice-presidente nas eleições presidenciais de 31 de outubro de 2010 com 55,7 milhões de votos. Nessa época, Dilma e Temer mal se conheciam e Temer apareceu nos programas eleitorais apenas no segundo turno20.

Apesar do currículo, Temer nunca foi a primeira opção de Lula para vice de Dilma. Suas excelentes relações com o PSDB, especialmente com o senador José Serra, levantavam – e ainda levantam – desconfiança. No PMDB, Lula sempre preferiu ter como interlocutores Renan Calheiros e José Sarney. Temer acabou se viabilizando como uma espécie de mínimo denominador comum do partido, um agregador na confederação de caciques que é o PMDB. O PT se viu constrangido a engoli-lo (PIAUÍ, 2016).

A presença de Temer auxiliava o PT na medida em que fortalecia a imagem de Dilma diante dos políticos eleitos em todo o país, superior ao número do PT. Já para o MDB, Dilma era a chance de permanecer no poder, já que o partido não dispunha de nomes fortes para enfrentar PT e PSDB. “Os dois pouco se conheciam, mas conseguiram formar uma chapa vitoriosa naquela eleição. Mesmo com desentendimentos ao longo do primeiro mandato e menor apoio de emedebistas, a dupla Dilma-Temer foi mantida em 2014” (ESTADÃO, 2016). Em 2014, Dilma Rousseff e Michel Temer foram reeleitos no segundo turno com 51,64% dos votos válidos contra 48,36% de Aécio Neves (PSDB) e Aloysio Nunes.

Do impeachment (golpe) ao governo Temer: A vitória apertada no segundo turno da chapa Dilma-Temer seria o prenúncio de um segundo mandato que começaria afetado por crises, rupturas, polêmicas e instabilidade política. É pertinente compreender como Temer chegou ao poder e todo o processo de impeachment que marcou a história da política brasileira.

Miguel (2019) demonstra a partir dos próprios títulos dos capítulos da sua obra a sequência do que significou o contexto de golpe no Brasil: uma transição política e a crise na democracia no Brasil com semelhanças da ditadura em 1964; O PT e o lulismo, desde ascensão à queda; A recomposição da direita brasileira; Os meios de comunicação como personagens do golpe; As eleições de 2014, a produção do golpe, e o futuro da resistência democrática (MIGUEL, 2019). Conforme o autor, as bases da democracia construídas após o fim da ditadura militar foram abaladas e praticamente destruídas a partir da ofensiva de Direita, do golpe de 2016 e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

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O golpe, portanto, não foi um evento, ou uma sucessão de eventos: a abertura do processo de impeachment por Eduardo Cunha, em 2 de dezembro de 2015; a votação na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016; o afastamento provisório de Dilma Rousseff pelo Senado, em 12 de maio de 2016; a derrubada definitiva da presidente, em 31 de agosto de 2016. O golpe foi um processo, emblematizado pela queda de Dilma, mas que não se esgotou ela, um golpe cujo sentido é o retrocesso nos direitos, a redução do peso do campo popular na produção da decisão política e o adormecimento do projeto de construcao de uma sociedade mais justa. A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018 foi um desdobramento, em certa medida imprevisto, deste processo, que continua em aberto e para o qual, infelizmente, não há perspectiva de solução a curto prazo (MIGUEL, 2019, p. 22). Entre os eixos discursivos do impeachment, os argumentos contra o governo Dilma foram, entre outros, a defesa da “meritocracia” e denúncia dos “vagabundos”. Esses argumentos corroboraram com o trabalho ideológico da direita nos últimos anos que dizia ser “necessário” interromper o ciclo petista. Essa construção de clima de “instabilidade” foi fortalecida pela campanha de Michel Temer de que era preciso “tirar o país do vermelho”, em um sentido duplo facilmente decifrável. O golpe ainda foi articulado a partir dos protestos populares de 2013, conhecidos como “Jornadas de Junho” que abalaram a base eleitoral do PT, pelos escândalos da Lava-Jato, outra sucessiva derrota da direita nas eleições de 2014, força crescente do Poder Judiciário e a atuação seletiva do aparato repressivo do Estado (MIGUEL, 2019). Gomes (2016) corrobora com esse entendimento e aponta o consenso entre Eduardo Cunha e Michel Temer e o oportunismo para se livrar de acusações e conquistar o poder.

A eleição à Câmara dos Deputados, em 2014, de cerca de 250 deputados financiados por inúmeros setores empresariais voltados à defesa de interesses do grande capital, nacional e internacional. Setores como agronegócio, segurança privada, medicina particular, negócios evangélicos, entre tantos outros, financiaram candidatos ostensivamente vinculados a esses interesses. Para tanto, Michel Temer e Eduardo Cunha – aliados de primeira hora – foram os articuladores nacionais desse financiamento e, mais importante, os receptores dos valores que seriam distribuídos aos candidatos representantes do capital que, além do mais, foram escolhidos por sua posição relativamente consensual a respeito da derrogação dos direitos sociais e trabalhistas, assim como da defesa incondicional do Golpe a ser dado (em 2016) e do “governo” a ser instituído e capitaneado por Temer. Além do financiamento empresarial, a dupla Temer/Cunha estava entranhada em diversos aparatos estatais, como a Caixa Econômica Federal, e diversos ministérios, gerenciando propinas que seriam parcialmente voltadas ao financiamento de campanhas (FONSECA, 2018, p. 60).

As ofensivas contra o governo Dilma antes mesmo do processo de impeachment eram baseadas em invenções sobre a atuação do PT, como a doutrinação comunista, ideologia de gênero e marxismo cultural. Ainda nesse caminho, os meios de comunicação de massa foram fundamentais para produzir um clima de tensão e de que o país precisava de “salvação”. O

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controle da informação por grupos privados não eliminou a centralidade da mídia, mas dificultou o estabelecimento de um jornalismo democrático e plural (MIGUEL, 2019).

Na prática, formou-se no Brasil uma triangulação entre aparelho repressivo, mídia e fábrica de fake News. Informações contrárias a Lula e ao PT eram vazadas por policiais, procuradores ou juízes e repercutidas com alarde no noticiário; ou então, a informação, apresentada como um furo de reportagem motivava uma investigação da polícia ou do Ministério Público. Isso criava o clima de opinião propício para que organizações da extrema-direita produzissem seu próprio material – versões exageradas das notícias iniciais ou simples mistificações – ancoradas na credibilidade original dos funcionários públicos e do jornalismo profissional. A mídia gerava, portanto, o ambiente para que as fake News prosperassem. Sem a reiterada afirmação de que lula era o chefe e o PT uma quadrilha criminosa, as histórias sobre seus filhos serem proprietários de grandes empresas ou ele possuir contas bilionárias no exterior teriam mais dificuldade para se propagar. Sem o discurso reiteado de que Bolsonaro e o PT representavam formas opostas, mas simétricas, de “extremismo”, oapoio envergonhado que muitos conservadores deram ao ex-capitão, em 2018, teria sido mais custoso. (MIGUEL, 2019, p. 145).

O golpe de 2016 teria sido gestado ao menos dois anos antes, corroendo as bases de sustentação dos governos petistas, reforço aos ataques ao PT e especialmente às figuras de Lula e Dilma na insistente tentativa de neutralizar a imagem pública do ex-presidente Lula. Ainda nesse processo, jornais de grande circulação se posicionaram em uma campanha de convencimento de que o país estava quebrado oferecendo “alternativas” como a reforma trabalhista e da previdência como únicas soluções para conter a crise causada pelos governos petistas (DIAS; SOUSA, 2018).

A Folha de S. Paulo, do dia 13/3/2016 utilizando-se de um método supostamente “científico” contabilizaram 500 mil pessoas na Avenida Paulista em São Paulo a favor do impeachment. Na semana seguinte em 18/03/2016 ocorreu a manifestação em defesa do governo, mas essa não teve o mesmo espaço de divulgação nos meios de comunicação e, segundo o mesmo método “científico” do jornal, alcançou um volume de 95 mil pessoas. Número bem inferior, portanto, à manifestação contra o governo que ocorreu na mesma avenida em favor do Golpe uma semana antes. Curiosamente, quando observamos as fotos aéreas, contudo, não é possível identificar uma diferença tão grande no volume de manifestantes (DIAS; SOUSA, 2018, p. 50).

Deve-se ressaltar o papel decisivo e primordial do Sistema Globo nesse processo, embora articulado com os outros meios e veículos. Igualmente, embora voltado a setores minoritários, tanto o mundo digital dos portais, sites, blogs como das redes sociais (Facebook e Twitter) e também o Whatsapp, representaram campo de batalha significativa entre dois segmentos opostos: os pró e os contra o impeachment. Esses canais foram e são utilizados para expressar: pontos de vista alternativos aos da grande mídia, desconstruindo suas meias verdades, mentiras e manipulações, a opinião de grupos golpistas, que não apenas reforçaram

Referências

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