• Nenhum resultado encontrado

Estruturas e transições magnéticas dos compostos GdNiSi3 e TbNiSi3

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estruturas e transições magnéticas dos compostos GdNiSi3 e TbNiSi3"

Copied!
92
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE F´ISICA “GLEB WATAGHIN”

Estruturas e Transi¸

oes Magn´

eticas dos compostos GdNiSi

3

e

TbNiSi

3

Rodolfo Tartaglia Souza

Campinas 2019

(2)

Rodolfo Tartaglia Souza

Estruturas e Transi¸

oes Magn´

eticas dos compostos GdNiSi

3

e

TbNiSi

3

Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada ao Instituto de F´ısica “Gleb Wataghin” da Universidade Esta-dual de Campinas como parte dos requis´ıtos exigi-dos para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em F´ısica, na ´Area de F´ısica

Orientador: Eduardo Granado Monteiro da Silva

Este exemplar corresponde `a vers˜ao final da Dis-serta¸c˜ao de Mestrado defendida pelo aluno Rodolfo Tartaglia Souza, orientado pelo Prof. Dr. Eduardo Granado Monteiro da Silva

Campinas 2019

(3)

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174

Souza, Rodolfo Tartaglia,

So89e SouEstruturas e transições magnéticas dos compostos GdNiSi3 e TbNiSi3 / Rodolfo Tartaglia Souza. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

SouOrientador: Eduardo Granado Monteiro da Silva.

SouDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Sou1. Raios X - Difração. 2. Estruturas magnéticas. 3. Luz síncrotron. 4. Ruderman – Kittel – Kasuya – Yosida, Interação de. 5. Acoplamento magnetoelástico. I. Silva, Eduardo Granado Monteiro da, 1974-. II.

Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Magnetic structures and transitions of GdNiSi3 and TbNiSi3 Palavras-chave em inglês:

X-rays – Diffraction Magnetic structure Synchrotron light

Ruderman – Kittel – Kasuya – Yosida interaction Magnetoelastic coupling

Área de concentração: Física Titulação: Mestre em Física Banca examinadora:

Eduardo Granado Monteiro da Silva [Orientador] Raimundo Lora Serrano

Carlos Rettori

Data de defesa: 29-03-2019

Programa de Pós-Graduação: Física

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-6122-4292

- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/7258158428305550

(4)

MEMBROS DA COMISSÃO JULGADORA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DE

RODOLFO TARTAGLIA SOUZA – RA 193109 APRESENTADA E APROVADA AO

INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN”, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, EM 29 / 03 / 2019.

COMISSÃO JULGADORA:

- Prof. Dr. Eduardo Granado Monteiro da Silva – Orientador –

DEQ/IFGW/UNICAMP

- Prof. Dr. Raimundo Lora Serrano – IF/UFU

- Prof. Dr. Carlos Rettori – DEQ/IFGW/UNICAMP

OBS.: Informo que as assinaturas dos respectivos professores membros da banca

constam na ata de defesa já juntada no processo vida acadêmica do aluno.

CAMPINAS

2019

(5)

Agradecimentos

Mais uma grande etapa da minha vida termina e, devido a companhia de pessoas muito queridas, terminar este mestrado foi muito mais f´acil. A todos vocˆes, meu mais singelo obrigado.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais, Jovania e Toninho. Vocˆes s˜ao as minhas maiores inspira¸c˜ao e motiva¸c˜ao para continuar nessa jornada. Muito obri-gado por sempre acreditarem em mim e fazerem de tudo para que eu pudesse chegar at´e aqui. Mais uma vez, devo tudo que tenho e sou a vocˆes!

Ao meu irm˜ao, Gustavo, que mesmo longe e na correria de seu dia-a-dia, sempre se fez muito presente em minha vida. Muito obrigado por ser um dos meus melhores amigos e me fazer saber que posso contar com vocˆe sempre.

Ao Prof. Dr. Eduardo Granado por ter aceitado me orientar e ter sido uma fonte de inspira¸c˜ao. Muito obrigado por todos os ensinamentos passados, sempre com muita clareza e, para minha surpresa, de maneira bem divertida. Mais ainda, muito obrigado pela paciˆencia em me ensinar, mais de uma vez, sobre a t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica ressonante de raios-X e sobre a instrumenta¸c˜ao da linha XDS.

Ao Prof. Dr. Marcos Avila e a Dra. Fabiana Arantes por terem disponibilizado

as amostras para a realiza¸c˜ao deste mestrado. Al´em disto, muito obrigado pela ´otima recep¸c˜ao nas vezes em que estive na UFABC e pela disponibilidade em sanar todas minhas d´uvidas acerca do sistema RNiSi3.

A todos os funcion´arios do LNLS, em especial ao Marcos Eleot´erio da linha XDS, por ser um excelente profissional e tornar as medidas bem mais f´aceis.

`

A Laiza, por sempre acreditar em mim e nunca ter me deixado desanimar. Vocˆe tem sido meu porto seguro e uma das raz˜oes de eu estar sempre feliz e motivado.

Ao Gabriel, que desde a gradua¸c˜ao vem sendo um grande amigo! Agrade¸co pelos ´

otimos momentos discutindo sobre a vida e sobre f´ısica (na maioria das vezes nenhum dos dois sabendo do que tava falando) e que fizeram a gente amadurecer tanto pessoalmente quanto profissionalmente.

(6)

Aos queridos amigos Mateus e Vinicius, que tornaram o estado de S˜ao Paulo um pouco mais capixaba, fazendo com que a estadia aqui fosse bem mais agrad´avel. Vocˆes s˜ao um sucesso!

Aos amigos do GPOMS Profa. Dra Cris Adriano, Prof. Dr. Pascoal Pagliuso, Prof.

Dr. Ricardo Urbano, Andr´e, Davi, Denise, ´Italo, Jean, Kevin, Dr. Kousik, M´ario Piva, Paul˜ao do RMN e Rog´erio, muito obrigado pelos ´otimos momentos de descontra¸c˜ao e aprendizado, seja na hora do caf´e ou na mesa de um bar. Em especial gostaria de agra-decer ao Carlos por ter me ajudado muito com as medidas de difra¸c˜ao magn´etica e me acompanhado em v´arios caf´es madrugada a dentro no s´ıncrotron.

Ao Danilo, pelas longas discuss˜oes acerca dos mais variados temas, principalmente sobre f´ısica de um modo geral. Muito obrigado tamb´em por me ajudar na an´alise de dados e sempre estar disposto a me explicar alguns conceitos de estat´ıstica.

Ao Dr. Ulisses Kaneko, por ter contribu´ıdo muito nas medi¸c˜oes de difra¸c˜ao e pela amizade constru´ıda ao longo deste mestrado.

Ao casal Tamaira e M´ario ou tamario, por serem uma das melhores pessoas que tive a oportunidade de conhecer e conviver, tornando-se uma parte muito importante na minha vida.

Ao pessoal do LFQO, muito obrigado por terem acolhido a Laiza e eu de maneira t˜ao amistosa. Vocˆes s˜ao sensacionais!

O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordena¸c˜ao de Aperfei¸coamento de Pessoal de N´ıvel Superior - Brasil (CAPES) - C´odigo de Financiamento 001 e da Funda¸c˜ao de Amparo `a Pesquisa do Estado de S˜ao Paulo (FAPESP) no processo 2017/04913-1. Vale ressaltar que as opini˜oes, hip´oteses e conclus˜oes ou recomenda¸c˜oes expressas neste material s˜ao de responsabilidade do autor e n˜ao necessariamente refletem a vis˜ao da CA-PES e da FACA-PESP.

A todos os professores e demais funcion´arios(as) do IFGW, por tornarem este ambiente um ´otimo local para o desenvolvimento de qualquer atividade, principalmente as que necessitei para a conclus˜ao do meu mestrado.

(7)

Resumo

Nesta disserta¸c˜ao n´os resolvemos as estruturas magn´eticas dos compostos GdNiSi3

e TbNiSi3atrav´es da t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica ressonante de raios-X. Estes compostos

fazem parte da fam´ılia RNiSi3 (R = Y, Gd-Lu), que apresenta um estado fundamental

antiferromagn´etico (TN = 2-32 K) bastante interessante e transi¸c˜oes metamagn´eticas

induzidas por um campo magn´etico externo em alguns destes compostos. Em nossas medidas nos compostos `a base de Gd e Tb n´os verificamos que as c´elulas primitivas magn´etica e qu´ımica s˜ao as mesmas abaixo das temperaturas de N´eel TN = 22,2 e 33,2

K, respectivamente. A estrutura magn´etica ´e formada por camadas ferromagn´eticas no plano ac de momentos magn´eticos dos ´ıons de Gd/Tb empilhadas ao longo do eixo ~b em uma sequˆencia + - + - e com momentos magn´eticos ao longo da dire¸c˜ao ~a (estrutura pertencente ao grupo magn´etico espacial Cmmm’ ). Esta estrutura magn´etica contrasta com a sequˆencia de acoplamento + - - + e com momentos magn´eticos apontando na dire¸c˜ao ~b, previamente reportada para o composto de YbNiSi3. Esta diferen¸ca indica

uma mudan¸ca no acoplamento entre segundos vizinhos `a medida que nos movemos do Gd e Tb para o Yb. N´os tamb´em observamos que os compostos de GdNiSi3 e TbNiSi3

apresentam uma expans˜ao magnetoel´astica do parˆametro de rede b `a medida em que resfriamos a amostra para temperaturas menores que TN, indicando que o acoplamento

+ - + - estabiliza-se com esta expans˜ao.

Palavras-chaves: Difra¸c˜ao Magn´etica Ressonante de raios-X, Estruturas Magn´eticas, Luz S´ıncrotron, Intera¸c˜ao RKKY, Acoplamento Magnetoel´astico.

(8)

Abstract

In this work, we solved the magnetic structures of GdNiSi3 and TbNiSi3 by means

of resonant magnetic x-ray diffraction experiments. These compounds are members of the family RNiSi3 (R = Y, Gd-Lu), that presents an interesting antiferromagnetic ground

state at low temperatures (TN= 2-32 K) evolving with R and metamagnetic transitions

under applied magnetic field for some of the compounds. In our measurements on both Gd and Tb based-compounds, we found that the primitive magnetic unit cell matches the chemical cell below the N´eel temperatures TN = 22.2 and 33.2 K, respectively. The

magnetic structure features ferromagnetic layers of Gd/Tb magnetic moments in the ac plane stacked in an antiferromagnetic + - + - sequence along the ~b axis, with magnetic moments along the ~a direction (magnetic space group Cmmm’ ), which contrasts with the + - - + stacking sequence and magnetic moments towards the ~b direction previously reported for YbNiSi3. This indicates a change in the coupling between second-neighbor

as we move from Gd and Tb to Yb. We also observed that GdNiSi3 and TbNiSi3 shows

a magnetoelastic expansion of the b lattice parameter upon cooling below TN, indicating

that the + - + - coupling stabilizes the magnetic structure under this expansion.

Key-words: Resonant X-ray Magnetic Diffraction, Magnetic Structures, Synch-rotron Light, RKKY Interaction, Magnetoelastic Copuling.

(9)

Lista de Figuras

2.1 Ordenamento ferromagn´etico (a) e antiferromagn´etico(b) para uma rede retangular de momentos magn´eticos. . . 24 2.2 Distribui¸c˜ao radial de carga para o ´ıon Gd+. Adaptada da Referˆencia [21]. 28 2.3 Estruturas ferromagn´eticas com momentos magn´eticos apontando em dire¸c˜oes

distintas. Adaptada da Referˆencia [23]. . . 29 2.4 (a) Orbitais p de um ´ıon livre. (b) Orbitais p de um ´ıon na presen¸ca de um

campo el´etrico uniaxial no eixo z. Adpatada da Referˆencia [23]. . . 30

3.1 (a) Representa¸c˜ao esquem´atica da c´elula unit´aria do composto de YbNiSi3.

Medidas de susceptibilidade magn´etica (b) e magnetiza¸c˜ao (c) para o com-posto de YbNiSi3. Adaptada da Referˆencia [14]. . . 34

3.2 Estrutura magn´etica do composto YbNiSi3, no qual as setas vermelhas

representam os momentos magn´eticos dos ´ıons de Yb. Adaptada de [18]. . 35 3.3 Calor espec´ıfico para os compostos YNiSi3 e LuNiSi3 que n˜ao possuem ´ıons

magn´eticos. Adaptada da Referˆencia [16]. . . 36 3.4 Calor espec´ıfico para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b). Em ambas

os compostos, Cp corresponde ao calor espec´ıfico total e Cm o magn´etico,

obtido a partir da subtra¸c˜ao de Cp pela contribui¸c˜ao n˜ao magn´etica do

composto, obtida a partir das referˆencias n˜ao magn´eticas `a base Y e Lu. Adaptada da Referˆencia [16]. . . 37

(10)

LISTA DE FIGURAS

3.5 Susceptibilidade magn´etica para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b),

no qual um campo de 0,1 T foi utilizado para a realiza¸c˜ao das medidas. Adaptada da Referˆencia [16]. . . 38 3.6 Isotermas magn´eticas para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b),

medi-das em 2 K. Adaptada da Referˆencia [16]. . . 38 3.7 Calor espec´ıfico para os compostos DyNiSi3 (a) e HoNiSi3 (b). Em ambas

os compostos, Cp corresponde ao calor espec´ıfico total e Cm o magn´etico,

obtido a partir da subtra¸c˜ao de Cp pela contribui¸c˜ao n˜ao magn´etica do

composto, obtida a partir das referˆencias n˜ao magn´eticas `a base Y e Lu.(c) Susceptibilidade magn´etica para o composto HoNiSi3, no qual um campo

de 0,1 T foi utilizado para a realiza¸c˜ao das medidas.(d) Isoterma magn´etica do composto TmNiSi3, medida em 2 K. Adaptada da Referˆencia [16]. . . . 40

4.1 (a) Varreduras em θ dos picos magn´eticos (1/2 1/2 1/2) (a) e (3/2 3/2 3/2) (b) coletados em uma temperatura abaixo (pontos escuros) e acima (cruzes escuras) de TN = 250◦C para o composto de NiO. Adaptada da Referˆencia

[30]. . . 44 4.2 Rocking curve do pico magn´etico (3/2 3/2 3/2) do composto NiO.

Adap-tada da Referˆencia [33]. . . 45 4.3 Esquema ilustrativo de um laborat´orio de luz s´ıncrotron. Adaptado da

Referˆencia [27]. . . 47 4.4 Esquema ilustrativo de s´olido unidimensional que se ordena

antiferromag-neticamente abaixo de TN. Adaptada da referˆencia [39]. . . 52

4.5 Esquema ilustrativo de configura¸c˜oes experimentais com plano de espa-lhamento vertical, evidenciando a polariza¸c˜ao σ dos f´otons incidentes e polariza¸c˜oes σ’ e π’ dos f´otons espalhados pela amostra. Imagem obtida em http://magnetism.eu/esm/2017/slides/chapon-slides2.pdf. . . . 54

(11)

LISTA DE FIGURAS

4.6 Foto de um difratˆometro Huber utilizado para medidas de difra¸c˜ao em mo-nocristais indicando os movimentos angulares correspondentes aos ˆangulos θ, 2θ, χ e φ. Foto obtida em https://www-ssrl.slac.stanford.edu/ conferences/workshops/scatter2007/talks/ingham_introduction.ppt. 57 4.7 (a) Esquema ilustrativo das fam´ılias de planos {h k l} e {h’ k’ l’} contidas

no plano de difra¸c˜ao. (b) ˆAngulo ρ entre os planos. . . 58 4.8 Foto da montagem experimental utilizada para detec¸c˜ao dos sinais de carga

e magn´etico. . . 60 4.9 Esquema ilustrativo da montagem experimental ap´os o acoplamento de um

polar´ımetro que permite a distin¸c˜ao entre os dois canais (σ - σ) e (σ - π) de polariza¸c˜ao. Adaptada da Referˆencia [35]. . . 60 4.10 Fotos da montagem experimental, com o acoplamento do polar´ımetro de

grafite (HOPG - Highly Oriented Pyrolytic Graphite), utilizada para a de-tec¸c˜ao do sinal oriundo da estrutura cristalina, ou seja, (σ - σ) (a) e da estrutura magn´etica, observada em (σ - π) (b). Em ambas as situa¸c˜oes os f´otons incidentes se propagam perpendicular ao plano da imagem. . . 61

5.1 Monocristal de GdNiSi3 utilizado na primeira medida. . . 62

5.2 Medida de Fluorescˆencia (linha preta) e sua derivada (linha azul) indicando a borda L3 do Gd no composto GdNiSi3. . . 63

5.3 Evolu¸c˜ao dos parˆametros de rede a (a), b (b) e c (c) e do volume (d) com a temperatura para o composto GdNiSi3. . . 65

5.4 Monocristal de GdNiSi3 utilizado na segunda medida. . . 66

5.5 Medida de Fluorescˆencia (linha preta) e sua derivada (linha azul) indicando a borda L2 do composto GdNiSi3. . . 67

5.6 Mapeamentos bidimensionais do espa¸co rec´ıproco do composto GdNiSi3

para diferentes valores de h, k e l. A escala de cores ´e referente ao logaritmo da intensidade coletada. A intensidade real ´e dada por 10α, onde α ´e o

(12)

LISTA DE FIGURAS

5.7 Varredura em 2θ em torno do pico (1 17 0) da amostra de GdNiSi3 com o

polar´ımetro na configura¸c˜ao (σ-σ), curva vermelha, e quando este ´e posto na configura¸c˜ao (σ-π), curva preta. As medidas foram feitas com T = 46 K. 69 5.8 Varredura θ-2θ em torno do pico (0 16 0) da amostra de GdNiSi3 na

con-figura¸c˜ao (σ-π) (a) e (σ-σ) (b) para trˆes temperaturas distintas: T<TN

(curva azul), T'TN (curva preta) e T>TN (curva vermelha), onde TN =

22,2 K. . . 69 5.9 (a) Dependˆencia da intensidade integrada com a temperatura do pico de

Bragg (0 16 0) da amostra de GdNiSi3 em condi¸c˜ao ressonante (c´ırculos

pretos) e fora da ressonˆancia (c´ırculos azuis) para o canal (σ-π) de pola-riza¸c˜ao e tamb´em em condiss˜ao ressonante (c´ırculos vermelhos) e fora da ressonˆancia (c´ırculos verdes) para o canal (σ-σ) de polariza¸c˜ao. Na Figura (b) apenas o canal (σ-π) ´e mostrado, no qual a imagem do interior apresenta em detalhe a regi˜ao cr´ıtica pr´oxima de TN. Para facilitar a visualiza¸c˜ao,

n˜ao apresentamos as barras de incerteza j´a mostradas em (a). A partir de um ajuste num´erico com uma lei de potˆencia, ´e poss´ıvel extrair o expoente cr´ıtico β = 0,33(9) e TN = 22,2 K, sendo que este ´ultimo est´a em ´otimo

acordo com o valor de TN obtido atrav´es de medidas macrosc´opicas [16].

As intensidades integradas foram normalizadas pela intensidade integrada do pico coletado em mais alta temperatura. . . 71 5.10 Dependˆencia da intensidade integrada do pico (1 17 0) da amostra de

GdNiSi3 com a temperatura para os canais π) (c´ırculos pretos) e

(σ-σ) (c´ırculos vermelhos) de polariza¸c˜ao, ambos medidos em condi¸c˜ao res-sonante. As intensidades integradas foram normalizadas pela intensidade integrada do pico coletado em mais alta temperatura. . . 72 5.11 Estrutura magn´etica do composto GdNiSi3, resolvida neste estudo. . . 75

5.12 Monocristal de TbNiSi3 utilizado na medida. . . 76

5.13 Medida de Fluorescˆencia (linha preta) e sua derivada (linha azul) indicando a borda L2 do composto TbNiSi3. . . 76

(13)

LISTA DE FIGURAS

5.14 Varredura em θ em torno do pico (0 6 0) da amostra de TbNiSi3 com o

polar´ımetro na configura¸c˜ao (σ-σ), curva vermelha, e quando este ´e posto na configura¸c˜ao (σ-π), curva preta. As medidas foram feitas com T = 15,5 K. . . 77 5.15 (a) Dependˆencia da intensidade integrada com a temperatura dos picos

de Bragg (1 19 0) (a) e (0 14 1) (b) do composto TbNiSi3 em condiss˜ao

ressonante (c´ırculos pretos) e fora da ressonˆancia (c´ırculos azuis) para o canal (σ-π) de polariza¸c˜ao e tamb´em em condiss˜ao ressonante (c´ırculos vermelhos) para o canal (σ-σ) de polariza¸c˜ao. As intensidades integradas foram normalizadas pela intensidade integrada do pico coletado em mais alta temperatura. . . 78 5.16 Dependˆencia com a temperatura da intensidade integrada dos picos (0 16 1)

(a) e (0 10 0) (b) para o composto TbNiSi3 quando estes foram medidos nos

canais de polariza¸c˜ao (σ-π) (c´ırculos pretos) e (σ-σ) (c´ırculos vermelhos) ambos em condi¸c˜ao ressonante. As intensidades coletadas foram normali-zadas pelo valor da intensidade coletada na maior temperatura. . . 79 5.17 (a) Dependˆencia da intensidade integrada com a temperatura do pico de

Bragg (0 16 1) para o composto TbNiSi3 quando aquecemos (c´ırculos

ver-melhos) e quando resfriamos (c´ırculos azuis), evidenciando que n˜ao h´a fenˆomenos de histerese no espalhamento magn´etico. Na Figura (b) ape-nas o canal (σ-π) ´e mostrado, no qual a imagem no interior apresenta em detalhe a regi˜ao cr´ıtica pr´oxima de TN. A partir de um ajuste com lei de

potˆencia ´e poss´ıvel extrair o expoente cr´ıtico β = 0,38 e TN = 34,4 K, sendo

que este ´ultimo est´a em ´otimo acordo com o valor de TN obtido atrav´es de

medidas macrosc´opicas [16]. . . 80 5.18 Evolu¸c˜ao dos parˆametros de rede a (a), b (b) e c (c) e do volume (d)

com a temperatura quando aquecemos (quadrados vermelhos) e resfriamos (c´ırculos azuis) a amostra de TbNiSi3. . . 81

5.19 Estrutura magn´etica do composto TbNiSi3, tal como determinada neste

(14)

LISTA DE FIGURAS

5.20 Compara¸c˜ao entre a estrutura magn´etica do composto YbNiSi3 (Referˆencia

(15)

Lista de Tabelas

2.1 Configura¸c˜ao eletrˆonica dos ´atomos da fam´ılia dos Lantan´ıdeos com seus respectivos estados de oxida¸c˜ao. Adaptada da Referˆencia [12] . . . 27

3.1 Parˆametros de rede obtidos em temperatura ambiente para os compostos da fam´ılia RNiSi3. Adaptada das Referˆencias [14, 16]. . . 35

3.2 Principais parˆametros experimentais obtidos atrav´es da caracteriza¸c˜ao ma-crosc´opica dos compostos da fam´ılia RNiSi3. Adaptada das Referˆencias

[16, 13]. . . 40

5.1 Regras de extin¸c˜ao que determinam os ´ındices dos picos de Bragg permi-tidos pela estrutura cristalina. A letra n se refere a um n´umero inteiro qualquer [48]. . . 64 5.2 Compara¸c˜ao entre as intensidades integradas observadas (Iobs) e

calcula-das dos picos de Bragg magn´eticos, normalizadas pelo valor do pico mais intenso. Devido ao fato do plano de espalhamento sem inclinar a amostra ser paralelo a (hk0), Equa¸c˜ao 4.15 nos retorna intensidade nula para os momentos magn´eticos apontando na dire¸c˜ao ˆc. . . 74 5.3 Compara¸c˜ao entre as intensidades integradas observadas (Iobs) e calculadas

dos picos de Bragg magn´eticos do composto TbNiSi3, normalizadas pelo

valor do pico mais intenso. Os modelos utilizados assumem trˆes diferentes tipos de acoplamentos entre os momentos magn´eticos com eles paralelos aos eixos ˆa, ˆb e ˆc. . . 81

(16)

Sum´

ario

1 Introdu¸c˜ao 18

2 Fundamenta¸c˜ao Te´orica 21

2.1 Magnetismo em s´olidos . . . 21

2.2 Lantan´ıdeos . . . 26

2.3 Campos El´etricos Cristalinos . . . 28

3 Compostos da fam´ılia RNiSi3 32 4 Difra¸c˜ao Magn´etica Ressonante de raios-X 42 4.1 Aspectos Hist´oricos . . . 42

4.2 Radia¸c˜ao S´ıncrotron . . . 46

4.3 Aspectos Te´oricos . . . 48

4.4 Aspectos Experimentais . . . 55

5 Resultados e Discuss˜oes 62 5.1 GdNiSi3 . . . 62

5.2 TbNiSi3 . . . 75

6 Conclus˜oes 85

(17)
(18)

18

Cap´ıtulo 1

Introdu¸

ao

No decorrer das ´ultimas d´ecadas, muita pesquisa tem sido feita em compostos que possuem em sua composi¸c˜ao ´ıons da fam´ılia dos lantan´ıdeos. Este interesse por parte da comunidade cient´ıfica se deve ao fato das potencialidades, tanto do ponto de vista tec-nol´ogico quanto de ciˆencia b´asica, que esses compostos apresentam. No ramo tecnol´ogico, podemos citar os compostos LaB6 e CeB6, que s˜ao utilizados como c´atodos termiˆonicos

mais eficientes que os tradicionais de Tungstˆenio [1, 2] e Nd2Fe14B [3, 4] e SmCo5 [5] que

s˜ao largamente utilizados como im˜as permanentes. J´a no ramo de ciˆencia b´asica, muito fenˆomenos f´ısicos interessantes s˜ao observados, como efeito Kondo [6, 7], criticalidade quˆantica[8, 9], supercondutividade n˜ao convencional [10, 11], entre outros.

Estes fenˆomenos emergem, principalmente, devido `a presen¸ca de orbitais 4f semi-preenchidos e localizados nos lantan´ıdeos. Por estarem localizados, os orbitais 4f acabam sendo blindados por camadas externas j´a preenchidas, como a 5s2, 5p6 e 6s2. Essa

loca-liza¸c˜ao dos orbitais 4f faz com que eles sofram quase nenhuma sobreposi¸c˜ao com orbitais de outros ´ıons vizinhos, fazendo com que n˜ao participem de liga¸c˜oes qu´ımicas [12].

Para compostos cujo magnetismo ´e devido aos ´ıons de lantan´ıdeos em sua com-posi¸c˜ao, temos que os momentos magn´eticos provenientes dos el´etrons desemparelhados destes orbitais n˜ao interagem diretamente com os dos ´ıons vizinhos. Por´em, vemos que estes compostos ordenam-se magneticamente e esse ordenamento ocorre com uma in-tera¸c˜ao indireta mediada pelo spin dos el´etrons de condu¸c˜ao, intera¸c˜ao esta conhecida como RKKY (Ruderman–Kittel–Kasuya–Yosida). Por possuir um car´ater oscilat´orio, esta

(19)

19 intera¸c˜ao ´e respons´avel pela variedade de estruturas magn´eticas encontradas nestes com-postos. Outro ingrediente essencial ´e a influˆencia de campos el´etricos provenientes dos demais ´ıons da rede cristalina. Apesar de este efeito ser fraco nos orbitais 4f, percebe-se que, mesmo atuando como uma perturba¸c˜ao no sistema, esses campos s˜ao respons´aveis pelas anisotropias magn´eticas observadas [13].

Dentre materiais que apresentam algumas das caracter´ısticas supracitadas, pode-mos citar a fam´ılia RNiSi3, onde R = Y, Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb e Lu [14, 15, 16]. At´e

o ano de 2004, apenas medidas de susceptibilidade magn´etica em amostras policristalinas haviam sido feitos nestes compostos, no qual revelaram um comportamento paramagn´etico acima de 80 K para todos eles [17]. Por´em, com a obten¸c˜ao de monocristais foi poss´ıvel observar a presen¸ca de propriedades magn´eticas anisotr´opicas, al´em de um magnetismo complexo como fun¸c˜ao do ´ıon de terra rara.

O primeiro monocristal sintetizado foi o YbNiSi3, utilizando a t´ecnica de fluxo

met´alico `a base de estanho [14]. Este composto apresenta propriedades magn´eticas ani-sotr´opicas, com uma estrutura magn´etica formada por planos ferromagn´eticos paralelos ao plano ac, empilhados antiferromagneticamente ao longo da dire¸c˜ao ~b em uma sequˆencia + - - +, com momentos magn´eticos paralelos ao eixo ~b [18]. Al´em disto, ele pode ser con-siderado um f´ermion pesado moderado, devido a presen¸ca de um m´ınimo local na curva de resistividade e um coeficiente de Sommerfeld igual a 190 mJ/molK2. Motivados pela obten¸c˜ao do YbNiSi3, estendeu-se a s´ıntese para os demais ´ıons da fam´ılia dos lantan´ıdeos

utilizando o mesmo procedimento, obtendo-se monocristais para os ´ıons de Y, Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm e Lu [15, 16]. Todos os compostos da fam´ılia, incluindo o YbNiSi3,

cristali-zam em uma estrutura ortorrˆombica com grupo espacial Cmmm, na forma de placas finas, geralmente com bordas retas e superf´ıcies lisas com aspecto met´alico. Atrav´es de medi-das de difra¸c˜ao, foi determinada que a dire¸c˜ao perpendicular `a superf´ıcie destes cristais corresponde ao eixo ~b, e que o plano da superf´ıcie ´e formado pelos eixos ~a e ~c.

Medidas magn´eticas revelaram que os demais compostos com um ´ıon magn´etico desta fam´ılia tamb´em apresentam um ordenamento antiferromagn´etico anisotr´opico, assim como o YbNiSi3, com temperaturas TN variando entre 2,5 K para o Tm e 32,4 K para

o Tb. Al´em disto, tamb´em foram observadas transi¸c˜oes metamagn´eticas na presen¸ca de um campo magn´etico externo. Entretanto, as estruturas magn´eticas ainda precisam ser

(20)

20 determinadas se quisermos entender completamente estas propriedades.

Um meio de sondar esta estrutura ´e utilizando a t´ecnica de difra¸c˜ao de raios-X, pois estes possuem sensibilidade ao magnetismo gerado pela nuvem eletrˆonica de determinado ´ıon magn´etico, dando origem a picos de difra¸c˜ao referentes ao ordenamento magn´etico do composto a ser analisado. Por´em, se comparado aos picos de difra¸c˜ao referentes ao ordenamento estrutural, os picos magn´eticos s˜ao menos intensos, cerca de oito ordens de grandeza menores. Isto torna sua observa¸c˜ao complicada do ponto de vista experimental, visto que as fontes de raios-X convencionais s˜ao pouco intensas, sendo necess´aria a uti-liza¸c˜ao de fontes muito intensas, como ´e o caso das fontes de luz s´ıncrotron. Al´em disto, caso a energia do f´oton coincida com a energia de uma das bordas de absor¸c˜ao do ´ıon que gera o magnetismo do composto, a intensidade do pico magn´etico ´e amplificada conside-ravelmente. Essa condi¸c˜ao ´e denominada de espalhamento ressonante, fazendo com que um pico magn´etico passe a ser cerca de quatro ordens de grandeza menor que o estrutural. Assim, poder escolher qual a energia do feixe ´e algo de suma importˆancia para o sucesso de um experimento de difra¸c˜ao magn´etica e que s´o um laborat´orio de luz s´ıncrotron pode oferecer [19].

Esta disserta¸c˜ao tem como objetivo a determina¸c˜ao da estrutura magn´etica dos compostos GdNiSi3e TbNiSi3, pertencentes `a fam´ılia RNiSi3, utilizando a difra¸c˜ao magn´etica

ressonante de raios-X. O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma: no Cap´ıtulo 2 fazemos uma pequena revis˜ao sobre o magnetismo na mat´eria e das principais carac-ter´ısticas da fam´ılia dos Lantan´ıdeos. Neste Cap´ıtulo 3 relatamos a caracteriza¸c˜ao dos compostos da fam´ılia RNiSi3, com maior enfoque nos compostos `a base de Gd e Tb. No

Cap´ıtulo 4 apresentamos um breve hist´orico da t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica de raios-X bem como os principais aspectos te´oricos e pr´aticos da t´ecnica. Al´em disso, por ser uma t´ecnica que passou a ser utilizada com advento e aprimoramento de laborat´orios de luz s´ıncrotron, tamb´em discorremos sobre o funcionamento destes laborat´orios. No Cap´ıtulo 5 expomos e discutimos os resultados obtidos durante este mestrado. No Cap´ıtulo 6 apresen-tamos as conclus˜oes que pudemos obter at´e o momento, bem como perspectivas futuras.

(21)

21

Cap´ıtulo 2

Fundamenta¸

ao Te´

orica

Neste cap´ıtulo vamos fazer um breve resumo sobre as propriedades magn´eticas de s´olidos. Al´em disto, tamb´em evidenciaremos os principais ingredientes que d˜ao origem ao magnetismo de ´ıons da fam´ılia dos lantan´ıdeos, que ´e o caso dos compostos estudados nesta disserta¸c˜ao.

2.1

Magnetismo em s´

olidos

Um dos fenˆomenos mais interessantes da f´ısica da mat´eria condensada ´e a ma-nifesta¸c˜ao de propriedades magn´eticas macrosc´opicas em s´olidos. Apesar destas serem conhecidas desde muitos s´eculos atr´as e serem utilizadas para fins tecnol´ogicos, o enten-dimento da origem deste fenˆomeno permaneceu um enigma at´e o advento da Mecˆanica Quˆantica. Isto porque, segundo o Teorema de Bohr-van Leeuwen, n˜ao ´e poss´ıvel ha-ver magnetiza¸c˜ao em um sistema cl´assico em equil´ıbrio termodinˆamico [13]. Assim, fica evidente que o magnetismo ´e um fenˆomeno quˆantico, mais precisamente, gerado pelos momentos magn´eticos de spin e orbital dos el´etrons desemparelhados do s´olido.

A classifica¸c˜ao de um material quanto `as suas propriedades ´e caracterizada por uma resposta devido a intera¸c˜ao com algum agente externo. No caso de materiais magn´eticos, a fun¸c˜ao resposta ´e chamada de susceptibilidade magn´etica χ e o agente externo ´e o campo magn´etico ~H. Assim, na presen¸ca de um campo magn´etico externo, h´a o surgimento de

(22)

2.1. Magnetismo em s´olidos 22 uma magnetiza¸c˜ao macrosc´opica ~M , dada por

~

M = χ ~H (2.1)

que nos permite determinar a susceptibilidade magn´etica do material. De acordo com o valor desta grandeza, podemos caracterizar os materiais em paramagn´eticos, quando χ > 0 e diamagn´eticos, quando χ < 0. Estes dois comportamentos est˜ao presentes na mat´eria mesmo que n˜ao haja a presen¸ca de intera¸c˜oes entre os entes respons´aveis pelo magnetismo, ou seja, entre os el´etrons. Caso seja considerada uma intera¸c˜ao entre eles ´e poss´ıvel, abaixo de uma determinada temperatura cr´ıtica, o surgimento de uma fase magn´etica ordenada mesmo sem a presen¸ca de campo externo. Dentre estas fases ordenadas, podemos citar o fenˆomeno de ferromagnetismo e antiferromagnetismo.

• Diamagnetismo

Materiais diamagn´eticos apresentam χ < 0, ou seja, a magnetiza¸c˜ao gerada pelo campo externo ´e contr´aria ao sentido do campo aplicado (Equa¸c˜ao 2.1). Assim, vemos que a resposta ´e tal que tende a minimizar o efeito do campo externo. Se considerarmos que o material ´e composto por v´arios momentos de dipolo magn´etico, a aplica¸c˜ao do campo tende a alinh´a-los na dire¸c˜ao contr´aria. Al´em disto, todos os materiais apresentam um certo grau de diamagnetismo, por´em esta contribui¸c˜ao para a susceptibilidade ´e, em geral, muito pequena se comparada as outras respostas magn´eticas e n˜ao depende fortemente da temperatura.

• Paramagnetismo

A susceptibilidade para materiais paramagn´eticos ´e maior que zero, indicando que a magnetiza¸c˜ao criada tende a aumentar o efeito do campo externo aplicado. Isto indica que os momentos magn´eticos microsc´opicos do s´olido em quest˜ao alinham-se na dire¸c˜ao do campo. Para momentos magn´eticos localizados, temos que a suscep-tibilidade paramagn´etica ´e dada por

χ(T ) = C

T (2.2)

onde C ´e a constante de Curie. Pela Equa¸c˜ao 2.2 vemos que a medida que a tempe-ratura aumenta a suscetibilidade diminui. Isto ocorre pois temos uma competi¸c˜ao

(23)

2.1. Magnetismo em s´olidos 23 entre o efeito do campo em alinhar os momentos magn´eticos e da temperatura que tende a desalinh´a-los devido `a agita¸c˜ao t´ermica da rede. Vale mencionar que esta descri¸c˜ao prevˆe resultados em bom acordo com os obtidos atrav´es de medidas expe-rimentais.

• Ferromagnetismo e Antiferromagnetismo

Nos casos anteriores ´e poss´ıvel prever o comportamento magn´etico dos compostos sem que haja intera¸c˜ao entre os momentos magn´eticos microsc´opicos. Por´em, caso seja levado em conta a intera¸c˜ao entre os entes do sistema, temos o surgimento de uma fase ordenada dos momentos magn´eticos mesmo sem a presen¸ca de campo magn´etico externo. Este ordenamento ocorre abaixo de uma temperatura cr´ıtica Tc, onde h´a uma transi¸c˜ao de fase marcada por um parˆametro ordem, no qual

acima de Tc este parˆametro ´e nulo e baixo de Tc passa a ser diferente de zero e

aumenta continuamente `a medida em que se diminui a temperatura. Assim, vemos que um meio de caracterizar se o sistema encontra-se em uma fase ordenada ou n˜ao ´

e analisando o seu parˆametro de ordem.

Como dito anteriormente, tanto o diamagnetismo quanto o paramagnetismo s˜ao gerados pela presen¸ca de momentos magn´eticos microsc´opicos que podem ser locali-zados ou itinerantes. Assim, o primeiro passo para tentar entender as propriedades magn´eticas de um material ´e tentar identificar de onde vem a contribui¸c˜ao majo-rit´aria do magnetismo. Como veremos na Se¸c˜ao 2.2, o magnetismo dos n´ıveis 4f ´e muito bem descrito atrav´es de momentos localizados e como o magnetismo dos com-postos estudados nesta disserta¸c˜ao adv´em destes n´ıveis, abordaremos aqui apenas o tratamento te´orico para este tipo de magnetismo.

Materiais ferromagn´eticos s˜ao caracterizados pelo surgimento de uma magnetiza¸c˜ao espontˆanea abaixo de TC, denominada Temperatura de Curie. Temos ent˜ao que,

abaixo desta temperatura, as intera¸c˜oes presentes no sistema s˜ao tais que ´e energe-ticamente favor´avel o sistema possuir todos os seus momentos magn´eticos alinhados em uma dire¸c˜ao, como pode ser visto na Figura 2.1 (a). A partir disso podemos concluir que a magnetiza¸c˜ao ´e o parˆametro de ordem desta transi¸c˜ao.

No caso de materiais antiferromagn´eticos tamb´em temos uma transi¸c˜ao de uma fase desordenada para uma fase ordenada, marcada pela Temperatura de N´eel TN.

(24)

2.1. Magnetismo em s´olidos 24 Por´em, diferentemente do que ocorre para materiais ferromagn´eticos, abaixo de TN

´

e favor´avel que os momentos magn´eticos se alinhem antiparalelamente com seus vi-zinhos, resultando em uma magnetiza¸c˜ao nula. Assim, vemos que a magnetiza¸c˜ao n˜ao pode ser o parˆametro de ordem, visto que esta ´e nula tanto na fase desordenada quanto na ordenada. Por´em, pela Figura 2.1 (b), vemos que podemos tratar um com-posto antiferromagn´etico como sendo formado por duas sub-redes ferromagn´eticas com a mesma magnetiza¸c˜ao em m´odulo, por´em antiparalelas entre si. Portanto, o parˆametro de ordem ´e a diferen¸ca entre a magnetiza¸c˜ao de cada uma das sub-redes (M+ - M−). T>TC T<TC Resfriando (a) T>TN Resfriando T<TN = + M+ M -(b)

Figura 2.1: Ordenamento ferromagn´etico (a) e antiferromagn´etico (b) para uma rede re-tangular de momentos magn´eticos.

Para ambos os ordenamentos, temos que o Hamiltoniano mais simples que descreve as propriedades destes sistemas ´e dado por

H = − X <ij> JijS~i· ~Sj + gµB X i ~ Si· ~B (2.3)

onde a primeira soma ´e feita apenas sobre os primeiros vizinhos, enquanto que a segunda ´e feita sobre todos os momentos magn´eticos da rede. O primeiro termo ´

e referente `a intera¸c˜ao dos momentos do s´ıtio i e do s´ıtio j e o segundo termo ´e devido o Efeito Zeeman caso tenhamos um campo magn´etico externo. Analisando este hamiltoniano, vemos que Jij ´e a constante que acopla momentos magn´eticos

(25)

2.1. Magnetismo em s´olidos 25 a intera¸c˜ao coulombiana entre os el´etrons de ´atomos vizinhos, possuindo origem eletrost´atica. Al´em disto, pelo fato de el´etrons serem f´ermions, estes est˜ao sujeitos ao Princ´ıpio da exclus˜ao de Pauli, portanto, a antissimetriza¸c˜ao da fun¸c˜ao de onda deve ser levada em conta para a deriva¸c˜ao de Jij. Outro fator relevante sobre esta

grandeza ´e que ela pode ser positiva ou negativa. Caso seja positiva, temos que o estado fundamental ´e antiferromagn´etico, enquanto se esta for negativa temos um estado fundamental ferromagn´etico.

O primeiro m´etodo utilizado para resolver este hamiltoniano, ou seja, calcular a fun¸c˜ao de parti¸c˜ao do sistema e encontrar os observ´aveis termodinˆamicos, foi pro-posto por Pierre Weiss, m´etodo este que ficou conhecido posteriormente como Apro-xima¸c˜ao de Campo M´edio. A resolu¸c˜ao consiste em considerar que a intera¸c˜ao entre um momento magn´etico e seus vizinhos ´e devido a existˆencia de um campo magn´etico m´edio gerado pelos momentos magn´eticos vizinhos. Assim, o hamiltoni-ano 2.3 passa a ser

H = gµB

X

i

~

Si· ( ~B + ~Bmf) (2.4)

onde ~Bmf ´e o campo m´edio gerado pelos momentos magn´eticos dos ´ıons vizinhos. A

partir desta defini¸c˜ao, ´e conveniente supor que o campo produzido ´e proporcional `a magnetiza¸c˜ao, ou seja,

~

Bmf = λ ~M (2.5)

onde λ ´e uma constante que mede a for¸ca do campo e, portanto, das intera¸c˜oes. Desta forma, temos que λ ∝ Jij. Vemos ent˜ao que nosso problema ´e similar ao problema de

momentos magn´eticos n˜ao interagentes na presen¸ca de um campo efetivo dado pelo campo externo e pelo campo m´edio. No limite de campos fracos, a susceptibilidade magn´etica na fase desordenada ´e dada por [13]

χ(T ) ∝ 1

T − θ (2.6)

onde θ ´e a Temperatura de Weiss. Repare que esta dependˆencia ´e muito parecida com a dependˆencia encontrada para um material paramagn´etico. Caso θ > 0, temos que θ = TC e o material se ordena ferromagneticamente, enquanto que para θ < 0

(26)

2.2. Lantan´ıdeos 26 que θ ∝ λ ∝ Jij, ou seja, vemos que a temperatura de transi¸c˜ao est´a relacionada

com as intera¸c˜oes do sistema e, portanto, s˜ao o principal ingrediente para que ocorra uma transi¸c˜ao de um estado desordenado para um ordenado. Caso esta seja nula, vemos que a Equa¸c˜ao 2.6 fica igual a Equa¸c˜ao 2.2, ou seja, recuperamos o estado paramagn´etico.

2.2

Lantan´ıdeos

A fam´ılia dos Lantan´ıdeos ´e composta pelos ´atomos que possuem o orbital 4f sendo preenchido a medida que aumentamos o n´umero atˆomico. Desta forma, o primeiro ´atomo da fam´ılia ´e o Lantˆanio (La), que n˜ao possui nenhum el´etron na camada 4f, e o ´ultimo ´e o Lut´ecio (Lu), que possui quatorze el´etrons na camada 4f. Pelo fato do ´Itrio (Y) possuir caracter´ısticas semelhantes aos demais ´atomos, este tamb´em pode ser considerado um membro da fam´ılia.

Uma das principais caracter´ısticas dos ´atomos desta fam´ılia ´e que a medida que aumentamos o n´umero atˆomico, os el´etrons v˜ao preenchendo os orbitais 4f que, por sua vez, n˜ao s˜ao os orbitais de valˆencia. Desta forma, estes n˜ao participam ativamente das liga¸c˜oes qu´ımicas, fazendo com que os elementos desta fam´ılia sejam muito semelhantes quimicamente e de dif´ıcil separa¸c˜ao. Na Tabela 2.1 abaixo vemos os estados de oxida¸c˜ao que os ´ıons podem assumir. Perceba que todos permitem uma oxida¸c˜ao 3+, e alguns podendo ter 2+ ou 4+. Como os orbitais 6s e 5d s˜ao mais energ´eticos, el´etrons s˜ao primeiramente removidos destas camadas para fazer a liga¸c˜ao e por isto a valˆencia 3+.

Outra caracter´ıstica importante dos orbitais 4f ´e o fato de serem bem localizados no interior do ´ıon. Isso faz com que suas fun¸c˜oes de ondas tenham pouca ou nenhuma sobreposi¸c˜ao com fun¸c˜oes de onda de ´ıons vizinhos, como pode ser visto na Figura 2.2 para o Gd. Esta localiza¸c˜ao faz com que a presen¸ca do ambiente cristalino ao qual eles est˜ao imersos seja, em primeira aproxima¸c˜ao, irrelevante, de tal forma que eles preservem as caracter´ısticas de um ´ıon livre. Isto fica claro no momento magn´etico efetivo deles, que quando medidos na fase s´olida est˜ao em bom acordo com o previsto teoricamente pela regra de Hund para ´atomos livres.

(27)

2.2. Lantan´ıdeos 27

Tabela 2.1: Configura¸c˜ao eletrˆonica dos ´atomos da fam´ılia dos Lantan´ıdeos com seus respectivos estados de oxida¸c˜ao. Adaptada da Referˆencia [12]

.

´

Atomo 2+ 3+ 4+

La [Xe]5d16s2 - [Xe]

-Ce [Xe]4f15d16s2 - [Xe]4f1 [Xe]

Pr [Xe]4f36s2 - [Xe]4f2 [Xe]4f1

Nd [Xe]4f46s2 [Xe]4f4 [Xe]4f3 [Xe]4f2

Pm [Xe]4f56s2 - [Xe]4f4

Sm [Xe]4f66s2 [Xe]4f6 [Xe]4f5

-Eu [Xe]4f76s2 [Xe]4f7 [Xe]4f6

-Gd [Xe]4f75d16s2 - [Xe]4f7

-Tb [Xe]4f96s2 - [Xe]4f8 [Xe]4f7

Dy [Xe]4f106s2 [Xe]4f10 [Xe]4f9 [Xe]4f8

Ho [Xe]4f116s2 - [Xe]4f10

-Er [Xe]4f126s2 - [Xe]4f11

-Tm [Xe]4f136s2 [Xe]4f13 [Xe]4f12

-Yb [Xe]4f146s2 [Xe]4f14 [Xe]4f13

-Lu [Xe]4f145d16s2 - [Xe]4f14

-Y [Kr]4d15s26s2 - [Kr]

-quando h´a intera¸c˜oes entre os constituintes microsc´opicos da mat´eria. No caso abordado, visto que o acoplamento ocorre atrav´es da Integral de Troca, de origem eletrost´atica. Como os potenciais de intera¸c˜ao decaem com 1/r, onde r ´e a distˆancia entre os entes interagentes, ´e necess´ario que estes estejam pr´oximos o suficiente para que a intera¸c˜ao seja efetiva e, portanto, uma intera¸c˜ao de troca direta. No caso dos lantan´ıdeos, uma intera¸c˜ao de troca direta n˜ao ´e poss´ıvel, visto que o magnetismo destes ´e devido `a presen¸ca de el´etrons em orbitais 4f que se sobrep˜oem muito pouco com orbitais vizinhos. Por´em, observa-se experimentalmente que tanto os s´olidos formados por estes ´ıons quanto materiais cujo magnetismo ´e devido a eles se ordenam magneticamente. Isto ocorre devido uma intera¸c˜ao indireta entre os momentos magn´eticos localizados dos orbitais 4f mediada pelo spin dos el´etrons de condu¸c˜ao. Esta ´e a Intera¸c˜ao RKKY, no qual Ruderman, Kittel, Kasuya e Yosida mostraram que impurezas magn´eticas inseridas em um mar de el´etrons de condu¸c˜ao s˜ao capazes de polariz´a-los, que por sua vez transmitem essa polariza¸c˜ao para impurezas vizinhas, gerando um acoplamento indireto [13]. Este acoplamento ´e caracterizado por uma Integral de troca JRKKY dada por

JRKKY = − 9π 8 n 2 c Jf c2 EF 1 r3 ñ 2kfcos(2kfr) − sin(2kfr) r ô (2.7)

(28)

2.3. Campos El´etricos Cristalinos 28

Figura 2.2:Distribui¸c˜ao de carga radial para o Gd+. Adaptada da Referˆencia [21].

onde nc´e a densidade de el´etrons de condu¸c˜ao, Jf c´e a integral de troca entre os momentos

localizados e os el´etrons de condu¸c˜ao, r ´e a distˆancia entre os momentos localizados, EF

´e a energia de Fermi e kf ´e o raio da superf´ıcie de Fermi [20]. Atrav´es desta express˜ao,

vemos que a intera¸c˜ao ´e de longo alcance e possui car´ater oscilat´orio, que ´e respons´avel pela variedade de estruturas magn´eticas presentes neste tipo de material. Por se tratar de uma intera¸c˜ao indireta, as temperaturas cr´ıticas para materiais que interagem desta forma s˜ao menores quando comparadas com as temperaturas encontradas em materiais que interagem diretamente, como ´e o caso do magnetismo de metais de transi¸c˜ao 3d.

2.3

Campos El´

etricos Cristalinos

Quando discutimos sobre o surgimento de uma fase ordenada, consideramos ape-nas os campos magn´eticos molecular e externo (Equa¸c˜ao 2.3). Apenas com isto, nenhuma restri¸c˜ao ´e feita sobre a dire¸c˜ao dos momentos magn´eticos, significando que estados fun-damentais com os momentos magn´eticos alinhados em dire¸c˜oes distintas s˜ao igualmente prov´aveis de ocorrer, como podemos ver na Figura 2.3 para um composto ferromagn´etico hipot´etico (da mesma forma ocorre para um composto antiferromagn´etico). Uma vez que

(29)

2.3. Campos El´etricos Cristalinos 29 n˜ao h´a uma dire¸c˜ao preferencial, n˜ao ´e esperado que ocorram anisotropias nas proprieda-des magn´eticas. Por´em, como veremos na se¸c˜ao seguinte, h´a sim compostos que apresen-tam propriedades bastante anisotr´opicas, e uma das poss´ıveis causas dessa anisotropia ´e a influˆencia do campo cristalino na determina¸c˜ao do estado fundamental do sistema.

Figura 2.3: Estruturas ferromagn´eticas com momentos magn´eticos apontando em dire¸c˜oes distintas. Adaptada da Referˆencia [23].

Como dito na se¸c˜ao anterior, a presen¸ca do ambiente cristalino para as propriedades dos ´ıons de terras raras ´e tratada com uma perturba¸c˜ao ao sistema, contribuindo ent˜ao com uma corre¸c˜ao para a energia do estado fundamental. Para ilustrar como a presen¸ca de um campo el´etrico gerado pelos vizinhos do ´ıon afetam o seu estado fundamental, considere um ´ıon livre com momento angular orbital L = 1. Para esta configura¸c˜ao temos uma degenerescˆencia no estado fundamental quanto ao n´umero quˆantico mL, que pode

assumir os valores ±1 e 0, que correspondem aos orbitais px, py e pz (Figura 2.4 (a)). Se

agora, ao inv´es de totalmente livre, este ´ıon for posto numa cadeia linear cujos primeiros vizinhos s˜ao ´ıons positivos (Figura 2.4 (b)), a situa¸c˜ao de menor energia, e portanto o estado fundamental, ´e aquela no qual o el´etron est´a no orbital orientado na dire¸c˜ao das cargas positivas, enquanto que os outros dois casos continuam degenerado e com uma energia maior. Esta quebra de degenerescˆencia devido a aplica¸c˜ao de um campo el´etrico ´e conhecida como Efeito Stark [22]. Com este simples exemplo, vemos como o ambiente cristalino ´e importante para a determina¸c˜ao da fun¸c˜ao de onda do estado fundamental de um composto e, consequentemente, da orienta¸c˜ao da nuvem eletrˆonica.

O modelo mais simples para modelar o campo el´etrico cristalino consiste em con-siderar cargas pontuais que interagem via potencial de Coulomb. Desta forma, para um

(30)

2.3. Campos El´etricos Cristalinos 30

(a)

(b)

Figura 2.4:(a) Orbitais p de um ´ıon livre. (b) Orbitais p de um ´ıon na presen¸ca de um campo el´etrico uniaxial no eixo z. Adpatada da Referˆencia [23].

el´etron de interesse k, o potencial ´e dado por

Vk(~rk) = |e| X j Zj | ~Rj− ~rk| (2.8)

onde |e| ´e a carga absoluta do el´etron, Zj ´e a carga do j-´esimo ´ıon vizinho que produz

o campo el´etrico, ~Rj e ~rk s˜ao as posi¸c˜oes do j-´esimo vizinho e do el´etron de interesse,

respectivamente. A soma ´e feita sobre todos os vizinhos cujo campo el´etrico ´e apreci´avel. Este potencial d´a origem ao seguinte hamiltoniano

Hcf = −|e| nf X

k=1

Vk(~rk) (2.9)

onde a soma corre sobre os nf el´etrons desemparelhados que dar˜ao origem `as propriedades

(31)

2.3. Campos El´etricos Cristalinos 31 [24], podemos reescrever o hamiltoniano da seguinte forma

Hcf = ∞ X n=0 n X m=−n Amn nf X k=1 rnkYnm(θk, φk) (2.10)

com Amn fatores que determinam a for¸ca do campo cristalino, dados por

Amn = − 4πe 2 2n + 1 X j Zj Rn+1j Y m n (θj, φj) (2.11)

com a somat´oria em j, novamente, sendo feita sobre os ´ıons vizinhos que geram o campo el´etrico nos el´etrons a serem considerados. Ap´os aplicarmos o m´etodo de Stevens de Ope-radores Equivalentes [25], que consiste em transformar os harmˆonicos esf´ericos em coorde-nadas cartesianas e em seguida transformar as coordecoorde-nadas cartesianas para as proje¸c˜oes de momento angular Jx, Jy e Jz, e utilizando o Teorema de Wigner-Eckart [22], podemos

escrever o hamiltoniano da Equa¸c˜ao 2.10 como

Hcf = ∞ X n=0 n X m=−n BnmOmn (2.12) com Om

n denominados Operadores de Stevens, que dependem dos valores de J , Jx, Jy e

Jz e os parˆametros Bnm, dados por

Bnm = hr2iδjAnm (2.13)

onde hr2i ´e o valor esperado da distˆancia radial do orbital 4f e δ um parˆametro tabelado

que depende do ´ıon considerado.

Se considerarmos agora que o ambiente cristalino tamb´em influencia nas proprie-dades magn´eticas, devemos acrescentar um termo proporcional `a BnmOmn na Equa¸c˜ao 2.3. Este termo contribui como uma corre¸c˜ao para a energia total do sistema de tal forma que ela dependa da orienta¸c˜ao dos momentos magn´eticos atrav´es dos valores de ~J . Assim, devido ao campo cristalino ´e energeticamente favor´avel que os orbitais assumam uma determinada orienta¸c˜ao (Figura 2.4) e, consequentemente, os momentos magn´eticos se orientam em uma determinada dire¸c˜ao para minimizar a energia do sistema.

(32)

32

Cap´ıtulo 3

Compostos da fam´ılia RNiSi

3

O primeiro composto desta fam´ılia sintetizado na forma de monocristal foi o YbNiSi3 no ano de 2004 [14]. Apesar de estudos preliminares j´a terem sido conduzidos em

amostras policristalinas [17], um estudo completo das propriedades f´ısicas de um composto em sua forma monocristalina ´e sempre importante, visto que muitas destas propriedades s˜ao anisotr´opicas. Al´em disto, algumas t´ecnicas que revelam detalhes microsc´opicos do material s´o podem ser efetuadas ou s˜ao mais facilmente executadas em monocristais. Como veremos no pr´oximo Cap´ıtulo 4 desta disserta¸c˜ao, a t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica ressonante ´e uma delas.

Existem alguns m´etodos para a s´ıntese de monocristais. O m´etodo a ser escolhido depender´a das especificidades do composto a ser sintetizado. O m´etodo de s´ıntese utili-zado para o composto de YbNiSi3 foi o de fluxo met´alico [26]. No geral, o m´etodo consiste

em misturar quantidades estequiom´etricas dos ´atomos constituintes do composto (rea-gentes), coloc´a-los em uma recipiente de quartzo (ampola) com um metal de baixo ponto de fus˜ao em excesso (fluxo met´alico), acrescentar l˜a de quartzo acima da mistura, selar o tubo a v´acuo e levar ao forno seguindo uma determinada rampa de aquecimento e resfria-mento. Dependendo do composto a ser sintetizado, ´e aconselh´avel que os reagentes sejam colocados dentro de um cadinho, caso algum deles possa reagir com o quartzo em altas temperaturas. Ao adotar este procedimento tamb´em deve se ater ao fato de que os rea-gentes possam reagir com o material do cadinho. Assim, deve-se escolher cuidadosamente o cadinho a ser utilizado.

(33)

33 O metal colocado em excesso agir´a como um meio l´ıquido para facilitar a nuclea¸c˜ao e, posteriormente, o crescimento dos cristais. A ampola ´e retirada em uma temperatura que o fluxo met´alico ainda se encontre no seu estado l´ıquido e colocada em uma centr´ıfuga para que toda ou boa parte do fluxo seja separada dos cristais com o aux´ılio da l˜a de quartzo, que atua como um filtro. No fim do processo espera-se obter os monocristais na fase desejada com algum poss´ıvel resqu´ıcio do fluxo. No caso dos compostos estudados nesta disserta¸c˜ao ´e poss´ıvel remover o excesso de fluxo colocando os cristais em uma solu¸c˜ao de HCl. Essa remo¸c˜ao ´e fact´ıvel pois o ´acido utilizado dissolve apenas o fluxo. Em geral, este procedimento deve ser feito apenas quando h´a certeza de que o ´acido ou alguma outra substˆancia ir´a dissolver o fluxo em uma taxa muito maior do que o composto sintetizado, evitando grandes danos ao material.

A s´ıntese de materiais a partir deste m´etodo ´e vantajosa pois o aparato experi-mental necess´ario ´e, relativamente, acess´ıvel, visto que requer um forno e uma centr´ıfuga. Al´em disto, o processo pode ser conduzido em diferentes atmosferas, incluindo atmosferas inertes ou v´acuo, uma vez que os materiais de partida, principalmente o fluxo met´alico, podem reagir fortemente com alguns gases. Apesar destas vantagens, o m´etodo tamb´em apresenta algumas desvantagens. Uma delas ´e a possibilidade do fluxo ser incorporado na estrutura cristalina na forma de defeitos. Outra desvantagem ´e que nem sempre os cristais s˜ao grandes, dificultando a caracteriza¸c˜ao destes por certas t´ecnicas experimentais como difra¸c˜ao de nˆeutrons.

A estequiometria utilizada para a s´ıntese do composto `a base de Yb foi 1:1:3:45 (Yb:Ni:Si:Sn) [14]. A caracteriza¸c˜ao estrutural revelou que o composto cristaliza-se em uma estrutura ortorrˆombica definida pelo grupo espacial Cmmm, cuja c´elula unit´aria possui 20 ´atomos e pode ser vista na representa¸c˜ao esquem´atica da Figura 3.1 (a). Perceba que o eixo ˆb ´e muito maior que os demais eixos. Al´em disso, ´e poss´ıvel ver que h´a 4 ´ıons de Yb nesta c´elula.

Medidas magn´eticas (Figura 3.1 (b) e (c)) revelaram que o composto possui um ordenamento antiferromagn´etico abaixo de TN = 5,1 K. O comportamento

antiferro-magn´etico ´e evidenciado pela diminui¸c˜ao da susceptibilidade magn´etica abaixo desta temperatura quando o campo magn´etico ´e aplicado ao longo do eixo ˆb e pela presen¸ca de transi¸c˜oes metamagn´eticas na curva de magnetiza¸c˜ao para um campo magn´etico externo

(34)

34 B = 1,7 T, tamb´em ao longo do eixo ˆb, indicando que este ´e o eixo antiferromagn´etico. A curva de susceptibilidade magn´etica foi medida com um campo magn´etico de 0,1 T e a curva de magnetiza¸c˜ao foi coletada em 2 K.

(a)

(b) (c)

Figura 3.1: (a) Representa¸c˜ao esquem´atica da c´elula unit´aria do composto de YbNiSi3.

Medidas de susceptibilidade magn´etica (b) e magnetiza¸c˜ao (c) para este mesmo composto. Adaptada da Referˆencia [14].

Ainda com rela¸c˜ao a este composto, medidas de difra¸c˜ao de nˆeutrons em uma amostra monocristalina [18] revelaram uma estrutura magn´etica comensur´avel com vetor de propaga¸c˜ao magn´etica ~τ = (1, 0, 0). Na Figura 3.2 apresentamos a estrutura magn´etica deste composto, formada por planos ferromagn´eticos no plano ac e ordenados antiferro-magneticamente ao longo do eixo ˆb em uma sequˆencia de empilhamento + - - +, com momentos magn´eticos dos ´ıons de Yb alinhados ao longo do eixo ˆb. Repare que a dire¸c˜ao dos momentos magn´eticos est´a em acordo com o eixo antiferromagn´etico determinado por medidas magn´eticas.

(35)

35

Figura 3.2: Estrutura magn´etica do composto YbNiSi3, no qual as setas vermelhas

representam os momentos magn´eticos dos ´ıons de Yb. Adaptada da Referˆencia [18].

similaridade entre os ´ıons da fam´ılia dos lantan´ıdeos, tentou-se estender a s´ıntese para os demais ´ıons desta fam´ılia utilizando o mesmo procedimento e mesma estequiometria, onde foram obtidos monocristais para os ´ıons de Y, Gd-Lu [15, 16]. Todos estes compostos adotam a mesma estrutura cristalina do composto `a base de Yb, sendo que macroscopica-mente os cristais apresentam o formato de placas finas, com bordas retas, superf´ıcie lisa, aspecto met´alico e com o eixo ˆb perpendicular `a face principal.

Na Tabela 3.1 apresentamos os parˆametros de rede medidos em temperatura am-biente para todos os compostos da fam´ılia. Repare que os parˆametros diminuem a medida que avan¸camos para ´ıons mais pesados. Assim como o composto `a base de Yb, todos os demais apresentam o eixo ˆb mais alongado do que os demais.

Tabela 3.1: Parˆametros de rede obtidos em temperatura ambiente para os compostos da fam´ılia RNiSi3. Adaptada das Referˆencias [14, 16].

Composto a (˚A) b (˚A) c (˚A) YNiSi3 3,9216(1) 20,9448(6) 3,9506(1) GdNiSi3 3,9402(2) 21,0224(6) 3,9730(1) TbNiSi3 3,9259(1) 20,9696(5) 3,9547(1) DyNiSi3 3,9167(2) 20,929(1) 3,9401(1) HoNiSi3 3,9085(1) 20,9057(4) 3,9292(1) ErNiSi3 3,9015(1) 20,8817(6) 3,9181(1) TmNiSi3 3,8930(1) 20,8417(4) 3,9058(1) YbNiSi3 3,8915(1) 20,8570(6) 3,9004(1) LuNiSi3 3,8808(3) 20,792(1) 3,8868(3)

(36)

36 Medidas de calor espec´ıfico para os compostos `a base de ´ıons n˜ao magn´eticos, que ´e o caso do Y e Lu, n˜ao apresentaram nenhuma anomalia na curva de calor espec´ıfico que possa indicar a presen¸ca de alguma transi¸c˜ao de fase, como pode ser visto na Figura 3.3. Desta forma, estes compostos podem ser utilizados como referˆencias n˜ao magn´eticas para os demais, al´em de revelar que o magnetismo desta fam´ılia ´e totalmente devido aos ´ıons de terra rara.

Figura 3.3: Calor espec´ıfico para os compostos YNiSi3 e LuNiSi3 que n˜ao possuem

´ıons magn´eticos. Adaptada da Referˆencia [16].

Para os compostos que possuem ´ıons magn´eticos em sua estrutura, medidas de calor espec´ıfico revelaram a presen¸ca de um pico bem pronunciado, indicando a presen¸ca de uma transi¸c˜ao de fase. Al´em disto, medidas de susceptibilidade magn´etica tamb´em revelaram anomalias na mesma temperatura em que foram observadas nas medidas de calor espec´ıfico. Pelo tipo da resposta magn´etica, concluiu-se que uma transi¸c˜ao de um estado paramagn´etico para uma fase ordenada antiferromagn´etica ocorre nestes compostos abaixo de uma certa temperatura TN. Como dois exemplos representativos, apresentamos

nas Figura 3.4 (a) e 3.4 (b) as curvas de calor espec´ıfico para os compostos de Gd e Tb, respectivamente. Para ambos os compostos, a curva em verde ´e o calor espec´ıfico total (Cp) e a curva em laranja ´e o calor espec´ıfico magn´etico, que consiste na subtra¸c˜ao de Cp

pelo calor espec´ıfico dos compostos n˜ao magn´eticos `a base de Y e Lu.

(37)

apre-37

(a) (b)

Figura 3.4: Calor espec´ıfico para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b). Em ambas os

compostos, Cp corresponde ao calor espec´ıfico total e Cm o magn´etico, obtido a partir

da subtra¸c˜ao de Cp pela contribui¸c˜ao n˜ao magn´etica do composto, obtida a partir das

referˆencias n˜ao magn´eticas `a base Y e Lu. Adaptada da Referˆencia [16].

sentaram anomalias. Nas Figuras 3.5 (a) e (b) apresentamos estas curvas, medidas uti-lizando um campo magn´etico externo de 0,1 T, para os compostos GdNiSi3 e TbNiSi3,

respectivamente. Repare que as temperaturas em que as anomalias s˜ao observadas, de fato, s˜ao muito pr´oximas com as temperaturas observadas nas curvas de calor espec´ıfico, o que nos faz concluir que as temperaturas de N´eel s˜ao 22,2 K e 33,2 K para os compostos de Gd e Tb, respectivamente. Repare tamb´em que quando o campo magn´etico ´e aplicado ao longo do eixo ˆa, a susceptibilidade magn´etica diminuiu a medida que a temperatura diminuiu abaixo de TN, indicando que o acoplamento antiferromagn´etico fica cada vez

mais forte com rela¸c˜ao a agita¸c˜ao t´ermica que tende a desalinhar os momentos magn´eticos. Ainda com rela¸c˜ao a estas medidas, vemos que a resposta destes compostos, quando o campo magn´etico externo ´e aplicado paralelo aos eixos ˆb e ˆc, depende muito pouco com a temperatura, indicando que o eixo antiferromagn´etico ´e o eixo ˆa, ou seja, os momentos magn´eticos est˜ao alinhados nesta dire¸c˜ao.

Ainda com rela¸c˜ao `a caracteriza¸c˜ao magn´etica destes dois compostos, nas Figuras 3.6 (a) e (b) temos as isotermas magn´eticas medidas em 2 K para os compostos de Gd e Tb, respectivamente. No caso do GdNiSi3, quando o campo ´e aplicado paralelo ao eixo

ˆ

a a magnetiza¸c˜ao permanece nula at´e um certo campo cr´ıtico de 2,7 T no qual, para va-lores acima deste campo, o composto desenvolve uma magnetiza¸c˜ao n˜ao nula e aumenta

(38)

38

(a) (b)

Figura 3.5: Susceptibilidade magn´etica para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b),

no qual um campo de 0,1 T foi utilizado para a realiza¸c˜ao das medidas. Adaptada da Referˆencia [16].

continuamente a medida que o campo ´e aumentado. Este tipo de comportamento ´e co-nhecido como uma transi¸c˜ao metamagn´etica do tipo spin-flop. Para o composto TbNiSi3

tamb´em ´e poss´ıvel ver a presen¸ca de transi¸c˜oes do tipo spin-flop quando o campo externo ´e aplicado paralelo ao eixo ˆa. Este tipo de transi¸c˜ao n˜ao ´e observado quando o campo ´e aplicado paralelo aos outros eixos cristalogr´aficos, evidenciando ainda mais que o eixo ˆ

a ´e o eixo antiferromagn´etico destes compostos. A partir destes dois resultados, temos a primeira peculiaridade deste sistema. Enquanto que campos de at´e 7 T s˜ao suficientes para saturar a magnetiza¸c˜ao do composto `a base de Tb e para os demais [16], isto n˜ao ocorre para o composto GdNiSi3.

(a) (b)

Figura 3.6: Isotermas magn´eticas para os compostos GdNiSi3 (a) e TbNiSi3 (b), medidas

(39)

39 `

A medida em que nos movemos na fam´ılia para os compostos com ´ıons mais pe-sados, outros aspectos curiosos aparecem. Medidas de calor espec´ıfico indicam a presen¸ca de duas transi¸c˜oes magn´eticas nos compostos `a base de Dy e Ho (Figuras 3.7 (a) e (b), respectivamente). Para o composto de Dy as duas transi¸c˜oes s˜ao bem pr´oximas em tem-peratura, como pode ser visto pela presen¸ca de um ombro pr´oximo `a anomalia, indicado por uma seta na Figura 3.7 (a). J´a no composto de Ho, as duas transi¸c˜oes s˜ao bem mais evidentes, visto que h´a a presen¸ca de dois picos bem distintos e em temperaturas bem separadas (Figura 3.7 (b)). Ao analisar a resposta magn´etica do composto de Ho, apre-sentada na Figura 3.7 (c), vemos que h´a ainda uma transi¸c˜ao metamagn´etica quando o campo ´e aplicado paralelo ao eixo ˆa, assim como nos compostos de Gd e Tb, mas tamb´em h´a quando o campo ´e aplicado paralelo `a ˆc, indicando agora que h´a tamb´em uma compo-nente magn´etica neste eixo. Apesar disto, como a resposta ainda ´e maior no eixo ˆa, este continua sendo o eixo antiferromagn´etico. Indo ainda mais adiante vemos que o ErNiSi3

e TmNiSi3 apresentam o eixo ˆb como eixo antiferromagn´etico, assim como o YbNiSi3, o

´

ultimo composto magn´etico da fam´ılia. Esta mudan¸ca ´e evidenciada na Figura 3.7 (d), onde ´e mostrado a susceptibilidade magn´etica do composto de Tm.

Na Tabela 3.2 resumimos os principais parˆametros obtidos a partir da caracte-riza¸c˜ao macrosc´opica dos compostos desta fam´ılia. Vale a pena mencionar que no decor-rer do texto, o termo “´ıon magn´etico” ´e utilizado para os ´ıons da fam´ılia dos lantan´ıdeos. Como bem sabemos, o Ni tamb´em pode apresentar um momento magn´etico n˜ao nulo, mas nestes compostos isso n˜ao ocorre, ou seja, o magnetismo desta fam´ılia se deve `a presen¸ca de el´etrons desemparelhados nos orbitais 4f dos lantan´ıdeos. Isto fica evidente se lembrar-mos que n˜ao foi observado nenhuma transi¸c˜ao nos compostos com Y e Lu (no intervalo de temperatura em que as medidas foram realizadas), que tamb´em n˜ao s˜ao magn´eticos. Outro fator que corrobora com esta conclus˜ao pode ser visto na Tabela 3.2, no qual o momento magn´etico efetivo µexpef f obtido est´a em bom acordo para o previsto teoricamente pela regra de Hund (µcal

ef f) para R3+.

A partir do que foi discutido neste cap´ıtulo, vemos que h´a v´arios aspectos inte-ressantes a respeito do magnetismo microsc´opico destes compostos que ainda precisam ser determinados para um melhor entendimento do comportamento macrosc´opico obser-vado. Primeiramente temos as transi¸c˜oes metamagn´eticas que ocorrem quando um campo magn´etico externo ´e aplicado paralelo ao eixo antiferromagn´etico, revelando a existˆencia

(40)

40

(a) (b)

(c) (d)

Figura 3.7: Calor espec´ıfico para os compostos DyNiSi3 (a) e HoNiSi3 (b). Em ambas os

compostos, Cp corresponde ao calor espec´ıfico total e Cm o magn´etico, obtido a partir

da subtra¸c˜ao de Cp pela contribui¸c˜ao n˜ao magn´etica do composto, obtida a partir das

referˆencias n˜ao magn´eticas `a base Y e Lu.(c) Susceptibilidade magn´etica para o composto HoNiSi3, no qual um campo de 0,1 T foi utilizado para a realiza¸c˜ao das medidas.(d)

Isoterma magn´etica do composto TmNiSi3, medida em 2 K. Adaptada da Referˆencia [16].

Tabela 3.2: Principais parˆametros experimentais obtidos atrav´es da caracteriza¸c˜ao ma-crosc´opica dos compostos da fam´ılia RNiSi3. Adaptada das Referˆencias [16, 13].

R Eixo antiferromagn´etico T1

N(K) T2N(K) µ exp ef f (µB) µcalef f (µB) Gd aˆ 22,2(2) - 8,1(2) 7,94 Tb aˆ 33,2(2) - 9,6(3) 9,72 Dy aˆ 23,6(2) 22,8(2) 9,4(3) 10,63 Ho aˆ 10,4(3) 6,3(2) 11,0(3) 10,60 Er ˆb 3,7(1) - 9,2(3) 9,59 Tm ˆb 2,6(1) - 7,8(2) 7,57 Yb ˆb 5,1(2) - 4,45(2) 4,53

de mais de uma estrutura magn´etica est´avel. Mais ainda, para os compostos `a base de Dy e Ho temos a ocorrˆencia de duas transi¸c˜oes magn´eticas (Figuras 3.7 (a) e (b), res-pectivamente), revelando a existˆencia de uma competi¸c˜ao entre estados fundamentais antiferromagn´eticos distintos. E por fim, temos a mudan¸ca do eixo antiferromagn´etico em

(41)

41 fun¸c˜ao do ´ıon magn´etico, indicando a influˆencia dos campos el´etricos cristalinos para a determina¸c˜ao do estado fundamental desta s´erie de compostos.

At´e o presente momento apenas a estrutura magn´etica do composto YbNiSi3 foi

determinada, utilizando a t´ecnica de difra¸c˜ao de nˆeutrons. No caso de compostos `a base de Gd, que s˜ao absorvedores de nˆeutrons, n˜ao ´e apropriado utilizar esta t´ecnica. Como veremos no Cap´ıtulo 4, tamb´em ´e poss´ıvel determinar a estrutura magn´etica utilizando raios-X, sendo ent˜ao uma op¸c˜ao alternativa para obter este tipo de informa¸c˜ao. A partir do conhecimento das estruturas magn´eticas que, basicamente, nos informar´a a respeito dos acoplamentos entre os ´ıons magn´eticos, al´em da dire¸c˜ao em que eles est˜ao orientados, poderemos entender melhor as propriedades magn´eticas destes compostos. Como os com-postos de Gd e Tb s˜ao os que apresentam as maiores temperaturas cr´ıticas e respostas magn´eticas sem a presen¸ca de campos externos mais simples, estes foram os compostos escolhidos para serem estudados nesta disserta¸c˜ao de mestrado utilizando a t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica ressonante de raios-X.

(42)

42

Cap´ıtulo 4

Difra¸

ao Magn´

etica Ressonante de

raios-X

Neste cap´ıtulo abordaremos os principais aspectos te´oricos e experimentais da t´ecnica de difra¸c˜ao magn´etica ressonante de raios-X. Como esta se tornou fact´ıvel com o advento dos laborat´orios s´ıncrotron, tamb´em ´e feito um breve resumo sobre o princ´ıpio de funcionamento destas fontes de luz.

4.1

Aspectos Hist´

oricos

O tratamento mais simples para modelar o processo de intera¸c˜ao da radia¸c˜ao com a mat´eria ´e considerar a radia¸c˜ao como sendo composta de campos el´etrico e magn´etico oscilantes e a mat´eria como sendo el´etrons ligados a n´ucleos positivos atrav´es de molas. Ao incidir na mat´eria, a radia¸c˜ao faz com que as cargas ligadas aos n´ucleos oscilem na mesma frequˆencia que os campos e, por consequˆencia desta acelera¸c˜ao adquirida, reemitam radia¸c˜ao com a mesma frequˆencia. A radia¸c˜ao emitida recebe o nome de radia¸c˜ao dipolar el´etrica pois sua dependˆencia angular ´e semelhante a de um dipolo el´etrico oscilante.

Essa intera¸c˜ao que acabamos de descrever origina o chamado “Espalhamento Thomp-son”. Ele ´e respons´avel pelo surgimento de picos de Bragg quando o material apresenta um ordenamento estrutural de longo alcance com distˆancias interplanares da ordem de grandeza do comprimento de onda da radia¸c˜ao incidente. Como estas distˆancias s˜ao de

(43)

4.1. Aspectos Hist´oricos 43 alguns Angstrons, temos que a radia¸c˜ao utilizada compreende a regi˜ao de raios-X duros do espectro eletromagn´etico.

Como sabemos, al´em de carga el´etrica, a mat´eria e seus constituintes tamb´em pos-suem momento magn´etico e, portanto, ´e esperado que eles respondam a campos el´etricos e magn´eticos. Com base nisso, em 1929, O. Klein e Y. Nishina [28] mostraram que um el´etron de carga e e momento magn´etico µ pode espalhar radia¸c˜ao al´em da usual radia¸c˜ao dipolar devido `a intera¸c˜ao dos campos el´etrico e magn´etico da radia¸c˜ao incidente com o momento magn´etico do el´etron. A partir disto, muitos trabalhos te´oricos foram feitos no intuito de estudar mais a fundo a se¸c˜ao de choque deste tipo de espalhamento. Assim, por analogia, se algum material apresentar um ordenamento magn´etico de longo alcance, como ´e o caso de materiais ferromagn´eticos e antiferromagn´eticos, existe a possibilidade de termos picos de Bragg referentes ao ordenamento magn´etico [29].

Apesar de previs˜oes te´oricas existirem desde 1929, a primeira comprova¸c˜ao experi-mental de um sinal de difra¸c˜ao advindo do ordenamento magn´etico s´o foi obtida em 1972 por de Bergevin e Brunel [30]. Na ocasi˜ao eles mediram os picos (1/2 1/2 1/2) e (3/2 3/2 3/2), que podem ser vistos na Figura 4.1, do composto NiO, que cristaliza na forma c´ubica e se ordena antiferromagneticamente abaixo de 250◦C.

O motivo desta demora para comprova¸c˜ao experimental da difra¸c˜ao magn´etica ´e que sinais magn´eticos s˜ao intrinsecamente mais fracos que os sinais que d˜ao origem aos picos de Bragg estruturais, aos quais daremos o nome de picos ou sinais de carga. Como veremos, a intensidade de um sinal magn´etico ´e cerca de oito ordens de grandeza mais fraca que um sinal de carga, tornando sua medi¸c˜ao extremamente complicada.

Como na ´epoca as ´unicas fontes eram os tubos de raios-X, que eram fontes pouco intensas, a medida em si de cada sinal magn´etico levou dias para ocorrer. Os autores afirmam que a taxa de detec¸c˜ao era de dois f´otons por minuto, mesmo utilizando um cristal de grafite para focalizar e monocromatizar o feixe na amostra monocristalina. Al´em disto, como qualquer outro sinal ´e potencialmente mais intenso do que o sinal magn´etico, muito esfor¸co foi feito para eliminar essas contribui¸c˜oes indesejadas, como o segundo harmˆonico dos picos (1 1 1) e (3 3 3) do grafite que iriam sobrepor o sinal magn´etico medido. Isto foi feito ajustando a tens˜ao do tubo para que radia¸c˜ao com esse comprimento de onda fosse menos intensa.

Referências

Documentos relacionados

Objetivando reduzir as oscilações indesejadas do tronco, verificadas na apli- cação do RMC com momento angular nulo, Ugurlu et al [16-19] desenvolveram um método online de geração

costumam ser as mais valorizadas. B) Uma soma de fatores, como fácil acesso à água, possibilidade de utilizar os rios como meio de transporte e o baixo custo imobiliário devido

O objetivo deste trabalho foi gerar recomendações de adubação potássica para as culturas de trigo, milho e soja sob sistema plantio direto (SPD) a partir da condução de

Essa mudança, segundo Leite et al (1998), pode relacionar-se às cobranças do mundo globalizado que provocou uma alteração na missão das instituições de ensino, as quais devem

Esta pesquisa objetivou investigar sobre as condições socioeconômicas do município de São Francisco de Itabapoana – RJ (SFI), após sua emancipação

Propomos um modelo para estimar a umidade do solo considerando a textura e o potencial matricial do solo, usando um controlador fuzzy.. Escolhemos a textura por

Thirty-two yeast strains were identified by means of molecular methods isolated from traditional Turkish cheeses (Tulum, Kashkaval, Mihalic, Orgu, White, Sepet, and

4.1.2.1 - Secagem por exposição direta ao sol durante o dia combinada com secador ACSN ou abrigo, no período noturno 4.1.2.2 - Secagem em secador solar durante o dia combinada