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Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CURSO DE MESTRADO EM DIREITOS HUMANOS

MARLETE MOTA GONÇALVES

ECONOMIA SOLIDÁRIA: POSSIBILIDADES E LIMITES À

CONCRETIZAÇÃO DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS À LUZ DOS

DIREITOS HUMANOS

Ijuí, RS 2017

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ECONOMIA SOLIDÁRIA: POSSIBILIDADES E LIMITES À

CONCRETIZAÇÃO DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS À LUZ DOS

DIREITOS HUMANOS

Dissertação final do Curso de Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, apresentada como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Direito. Área de Concentração: Direitos Humanos. Linha de Pesquisa: Direitos humanos, Meio Ambiente e Novos Direitos.

Orientadora: Profª. Drª. Elenise Felzke Schonardie Coorientador:Prof. Dr. Enio Waldir Silva

Ijuí, (RS) 2017

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Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

G635e Gonçalves, Marlete Mota.

Economia solidária: possibilidades e limites à concretização das cidades sustentáveis à luz dos direitos humanos. / Marlete Mota Gonçalves. – Ijuí, 2017. –

112 f. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Direitos Humanos.

“Orientadora: Elenise Felzke Schonardie”.

1. Cidades sustentáveis. 2. Direitos Humanos. 3. Economia solidária. 4. Inclusão social. I. Schonardie, Elenise Felzke. II. Título.

CDU: 334:342.7

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Direito

Curso de Mestrado em Direitos Humanos

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

ECONOMIA SOLIDÁRIA: POSSIBILIDADES E LIMITES À

CONCRETIZAÇÃO DAS CIDADES SUSTENTÁVEIS À LUZ DOS

DIREITOS HUMANOS

elaborada por

MARLETE MOTA GONÇALVES

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito

Banca Examinadora:

Profª. Drª. Elenise Felzke Schonardie (UNIJUÍ): ____________________________________

Prof. Dr. Ricardo Hermany (UNISC): ____________________________________________

Prof. Dr. Enio Waldir da Silva (UNIJUÍ): _________________________________________

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A Deus e aos que se preocupam comigo e desejam o meu sucesso de um modo único e maravilhoso eu agradeço do fundo do coração!

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“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu,

mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê”.

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A presente dissertação tem como tema a análise da economia solidária com o objetivo de verificar se a mesma se constitui como meio de geração de renda e inclusão social no meio urbano para efetivação de direitos humanos. Para tanto, o estudo inicia pela abordagem dos aspectos históricos da economia solidária no Brasil, seus atores sociais e as políticas públicas que envolvem o tema. Na sequência, analisa-se a relação da sustentabilidade ambiental a partir da ideia de cidades sustentáveis e as práticas de economia solidária como importante instrumento na geração de trabalho e renda. O último capítulo trata da relação entre a economia solidária e os direitos humanos, e a efetivação dos mesmos. O estudo é teórico com abordagem hipotético-dedutivo, na qual buscou-se identificar a potencialidade dessa prática de economia na reconstrução social e sua efetivação da inclusão social. Assim, o estudo se relaciona com a linha de pesquisa intitulada Direitos Humanos, Meio Ambiente e Novos Direitos, do Programa de Pós-Graduação em Direito, Mestrado em Direitos Humanos, da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul. Conclui-se que a prática da economia solidária está alicerçada na gestão democrática associada à participação dos seus atores sociais e no interesse coletivo, que são pressupostos indispensáveis para a existência de uma cidade sustentável à luz dos direitos humanos e da justiça social. Restam indispensáveis essas conexões a fim de atenuar as disparidades sociais e econômicas, buscando a prevalência da igualdade com mais dignidade ao cidadão ao ter consciência individual de seus direitos.

Palavras-chave: Cidades Sustentáveis; Direitos Humanos; Economia Solidária; Inclusão Social.

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The purpose of this dissertation is to analyze the solidarity economy with the objective of verifying whether it is a means of generating income and social inclusion in the urban environment for the realization of human rights. Therefore, the study begins by approaching the historical aspects of the solidarity economy in Brazil, its social actors and the public policies that surround the theme. The analysis of the relationship between environmental sustainability and the idea of sustainable cities and practices of solidarity economy as an important tool in the generation of work and income is analyzed. The last chapter deals with the relationship between the solidarity economy and human rights, and their effectiveness. The study is theoretical with a hypothetical-deductive approach, in which it was sought to identify the potentiality of this practice of economics in social reconstruction and its effectiveness of social inclusion. Thus, the study is related to the research line entitled Human Rights, Environment and New Rights, of the Graduate Program in Law, Master in Human Rights, of the Regional University of the Northwest of Rio Grande do Sul. It is concluded that the practice of solidarity economy is based on the democratic management associated with the participation of its social actors and on the collective interest, which are indispensable presuppositions for the existence of a sustainable city in the light of human rights and social justice. These connections are indispensable in order to attenuate the social and economic disparities, seeking the prevalence of equality with more dignity to the citizen by having individual awareness of their rights.

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ANTEAG Associação Nacional dos Trabalhadores em empresas de Autogestão e Participação Acionárias

CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos EES Empreendimentos Econômicos Solidários FBES Fórum Brasileiro de Economia Solidária

ITCPS Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ONGs Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas PNES Plano Nacional da Economia Solidária SCA Sistema de Cooperativa dos Assentados

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1 INTRODUÇÃO ... 9

2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO PRÁTICA DEMOCRÁTICA ... 13

2.1 Aspectos históricos da economia solidária no Brasil ... 13

2.2 Os atores sociais que protagonizam as práticas da economia solidária ... 24

2.3 Políticas públicas para a economia solidária ... 33

3 SUSTENTABILIDADE E CIDADE SUSTENTÁVEIS: A BUSCA PELA CONVIVÊNCIA ... 44

3.1 Sociedade moderna e a importância das cidades ... 44

3.2 Cidades e Regulação ... 54

3.3 Cidades sustentáveis e economia solidária ... 64

4 DIREITOS HUMANOS E ECONOMIA SOLIDÁRIA ... 75

4.1 A economia solidária e dignidade humana ... 75

4.2 A economia solidária como projeto de desenvolvimento social e cultural . 85 4.3 Os desafios à economia solidária para a inclusão e justiça social ... 94

5 CONCLUSÃO ... 104

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1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação de mestrado surgiu sob a inquietação relacionada à efetivação da inclusão social por meio da economia solidária, como forma de justiça social ao cidadão consciente de seus direitos. O debate central do texto baseia-se em três focos: Economia Solidária, Cidade Sustentável e Direitos Humanos. Consequentemente, estes focos irão nortear as reflexões, constituindo o tema desta dissertação, desenvolvida no Programa de Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

O objetivo geral da pesquisa visa estudar a economia solidária a fim de identificar se a mesma constitui um meio viável de geração de trabalho e renda e inclusão social no ambiente urbano visando à efetivação de direitos humanos. O estudo buscou compreender as causas e as consequências geradas pela prática da Economia, conforme um dos seus principais expoentes Paul Singer (2002).

Os objetivos específicos contemplam: analisar a cidade sustentável em conformidade com os direitos humanos; averiguar o papel que o poder público assume na economia solidária; analisar a prática da economia solidária e seus impactos no meio urbano; estabelecer relações entre inclusão social da economia solidária com os direitos humanos e a cidade sustentável.

São apresentados conceitos e definições, necessários para a compreensão do assunto. Busca-se, também, identificar as responsabilidades do poder público, a fim de que este atue juntamente com os grupos na organização da economia solidária, em prol da inclusão social e da efetivação dos direitos humanos. Tema este que apresenta relevância social, pois uma parte da população economicamente vulnerável sobrevive com renda auferida pela prática da economia solidária e o interesse pelo assunto advém da grande importância que representa aos atores sociais envolvidos nesta prática. Além disso, esse tema caracteriza-se por estar em consonância com a efetivação dos direitos humanos, de sustentabilidade ambiental e de inclusão social. No século XVII iniciou-se o processo de industrialização, induzindo a formação de uma futura sociedade capitalista e, em consequência, emergiu a produção dominante, contribuindo significativamente com o início dos problemas sociais e ambientais. Com base nisso, no século XVIII iniciou-se a prática da economia solidária. Na época foi a solução que as pessoas excluídas economicamente do

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trabalho formal, encontraram para trabalhar e prover sua subsistência e a de sua família. Ademais, o desenvolvimento econômico alicerçado pelo sistema capitalista foi o ponto de partida, para que iniciasse, de forma acelerada, o crescimento desordenado das cidades e, consequentemente, a formação dos problemas ambientais.

O início da era moderna, em meados do século XVIII, foi associado ao surgimento do Iluminismo Europeu. A evolução proporcionada por esta era ensejou que a simplicidade cedesse espaço para a complexidade e, portanto, a modernidade foi aceita como um estilo de vida que, aos poucos, conduziu ao surgimento de inovações tecnológicas, permitindo o aumento do consumismo humano. Sendo assim, marcou-se um novo período de uma nova ordem do desenvolvimento social, político e econômico.

A partir do surgimento das inovações tecnológicas, iniciou-se uma verdadeira revolução no mercado de consumo. Todavia, muitos problemas surgiram, comprometendo a estabilidade da mão de obra nas cidades, provocando, também, o aumento do desequilíbrio ambiental.Essa exploração insustentável do meio ambiente continua desenfreada, tendo em vista as razões de que quanto maior for a extração da natureza, mais expressivo é o prestígio e o sucesso de quem a explora.

Diante disso, surgiu a necessidade de investir-se em ações preventivas sustentáveis. Para tal, seria necessário reunir forças sociais democráticas, no sentido de construir um modelo de gestão que, de fato, alinhe os objetivos sociais, o qual é justamente a preservação do meio ambiente. Nas cidades tornou-se indispensável o planejamento e a prática de desenvolvimento sustentáveis, ou seja, esse desafio carece de comprometimento político associado à participação efetiva da sociedade.

Desta forma, observa-se a necessidade de ampliar ações multidisciplinares, focado nos problemas que assolam a população. E a responsabilidade quanto ao propósito seria do poder público integrado à comunidade local. Com base nisso, a união entre as pessoas possibilita a organização de trabalho coletivo, em forma de cooperativas ou de associações na comunidade. Nesse sentido, observa-se que um trabalho realizado em grupo fortalece as relações humanas e sociais, uma vez que, a falta de uma política pública direcionada para efetivar o desenvolvimento do trabalho, em forma de cooperativas ou associações, desarticula o sujeito, que ainda não descobriu seu espaço de atuação no mundo.

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Consoante a essas premissas, esta pesquisa acadêmica buscou responder ao seguinte problema: Até que ponto a economia solidária impacta na organização das cidades mais sustentáveis, na inclusão social e na efetivação dos direitos humanos? Sendo assim, como hipótese para a questão de pesquisa que norteia este estudo, tem-se que a prática da economia solidária está alicerçada em uma perspectiva positiva. Além disso, visa a civilização com equidade em relação a oportunidades e distribuição de renda, tendo por finalidade reduzir a discrepância entre os padrões de vida dos pobres e dos ricos. A atividade da economia solidária promove uma melhor qualidade de vida e contribui, dessa forma, para a formação de uma cidade, tornando-a justa e sustentável à luz dos direitos humanos.

Com base nessas considerações, o presente estudo está vinculado à linha de pesquisa intitulada Direitos Humanos, Meio Ambiente e Novos Direitos, do Programa de Pós-Graduação em Direito, Mestrado em Direitos Humanos da UNIJUÍ, e vem ao encontro das análises que buscam identificar a potencialidade da economia solidária para plena efetivação da inclusão social e ao enfrentamento de um fenômeno social denominado exclusão humana.

Nesse cenário urbano em que as desigualdades sociais se intensificam rapidamente, especialmente nas regiões periféricas, percebe-se a ineficácia das ações públicas do Estado em promover melhoria nas condições básicas de sobrevivência da população. Esses espaços, ecologicamente precários das cidades, são locais que atraem a maioria das pessoas economicamente vulneráveis, que migram para os centros urbanos à procura de trabalho.

No desenvolvimento desta pesquisa, observou-se o método de abordagem hipotético-dedutivo. Para alcançar os objetivos propostos utilizou-se a pesquisa teórico-bibliográfica, com coleta de dados em fontes secundárias. Além disso, atentou-se na análiatentou-se histórico-crítica do cotidiano da economia solidária, alicerçada no ambiente urbano das cidades, discutindo práticas, refletindo a trajetória do reconhecimento do direito às cidades, com base nos direitos humanos.

A partir do exposto, estruturou-se o texto em três capítulos. No primeiro capítulo buscou-se analisar o tema, o qual se refere aos aspectos históricos da economia solidária e seus atores sociais que protagonizam tal prática dentro de um espaço público, com intuito de efetivar a inclusão social por meio de políticas públicas. No capítulo subsequente, aborda-se o tema referente às tendências ocorridas na sociedade moderna, que foi externada por indução do capitalismo, tornando-a menos

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convincente, para enfrentar a crise urbana, de modo que, viabilizasse um cenário ambiental propício para consolidar as cidades de forma sustentável.

Por fim, no terceiro capítulo, discorre-se sobre a economia solidária, como um projeto de desenvolvimento e justiça social. Nesse sentido, busca-se demonstrar que o trabalho solidário é digno de enfrentar os desafios para a concretização da inclusão social diminuindo, de certa forma, diversos níveis de exclusão. Considera-se que a economia solidária tem exercido seu papel de forma a atender dignamente às pessoas que dela participam, promovendo a frenagem das consequências trazidas pelo desemprego, fruto do capitalismo moderno.

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2 A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO PRÁTICA DEMOCRÁTICA

O presente capítulo tem por objeto a análise conceitual e a aplicabilidade da economia solidária sustentável em sua dimensão social, econômica, política, ecológica e cultural. A importância desse assunto induz rememorar a história para compreender o presente e alicerçar o futuro em busca de uma reconstrução econômica planejada e alinhada ao equilíbrio do meio ambiente, tornando-o justo e sustentável à luz dos direitos humanos. Nesse sentido, a prática da economia solidária é uma alternativa capaz de enfrentar as adversidades sociais advindas com a modernidade, tendo por objetivo promover a geração de renda e a inclusão social. Essa prática permite focar em ações prementes, motivando a coletividade a trabalhar integradamente e contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento e fortalecimento de uma cidade sustentável.

2.1 Aspectos históricos da economia solidária no Brasil

A economia solidária possui como característica fundamental uma atuação com essencialidade em sua organização democrática. Essa afirmação encontra respaldo em um conjunto de regras constituídas por decisões coletivas. No contexto atual, a economia solidária imprime uma formação de sociabilidade, uma vez que, as decisões não partem de um sistema fechado e, por essa razão, contém características democráticas e, periodicamente, realizam debates, reuniões com um único objetivo: selecionar as melhores propostas que satisfaçam as expectativas dos integrantes do grupo.

O perfil democrático da economia solidária, no Brasil, sustenta a possibilidade de se estreitar os laços de participação de forma efetiva na tomada de decisões. É justamente essa forma de cooperação que fortalece e amplia o modo de produção e de distribuição das atividades econômicas, desenvolvidas por meio de grupos de agentes. Cabe salientar, ainda, o modelo da sistemática aplicada na organização do trabalho que ocorre de forma alternativa, uma vez que a administração é submetida aos princípios de cooperação e autogestão, regulados pela gestão democrática e coletiva.

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Nesse contexto, destaca-se como princípio norteador da atividade solidária o valor ao trabalho, que prioriza a união e defende a tolerância em grupos, estabelecendo laços entre si com único objetivo, qual seja, fortalecer vínculo laboral com reciprocidade. Notadamente, houve um processo evolutivo alicerçado em uma gestão democrática e coletiva. Logo, essa evolução, vai ao encontro de um conjunto de práticas designadas com objetivo de iniciar autonomamente o exercício de um comércio justo e igualitário que represente o real motivo para a ocupação do espaço, promovendo a adaptação do sujeito ao tecido social.

É interessante, para implementar o exercício da prática, contar com o auxílio de políticas socioeconômicas, com a finalidade de viabilizar um novo modelo de reestruturação social produtiva, em nível local ou até mesmo nacional. Dessa forma, naturalmente, o trabalho associativo demonstrou o vigor da organização destacando a aceitação no cenário econômico atual. Além disso, a capacidade de produção reflete a potencialidade interna de participação na geração de renda, como também, viabiliza o cidadão a formar sua identidade profissional.

Sob este prisma, diversos intelectuais têm analisado a necessidade e a importância de regulamentar a atividade da economia solidária. Alguns estados já possuem alguma norma que regulamenta a atividade local, o que torna a organização econômica mais segura e confiável, trazendo maior expressividade e abrangência às atividades.

Contudo, no aspecto histórico, o capitalismo industrial antecedeu a origem da economia solidária, sendo que esta somente emergiu com a justificativa de desafiar o desemprego que foi motivado em razão da forte difusão das máquinas. E como consequência, desencadeou a organização fabril da produção, ocasionando de forma acentuada o empobrecimento, principalmente, dos artesões.

De acordo com Santos (2002, p. 83):

A Economia solidária foi inventada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego resultante da difusão desregulamentada das máquinas-ferramenta e do motor a vapor do século XIX.

Cabe destacar que a Revolução Industrial foi um marco histórico que se iniciou na Grã-Bretanha e a maioria dos camponeses foi expulsa das fábricas e os que permaneciam trabalhando tinham por obrigação cumprir uma carga horária excessiva.

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Como consequência restava a exaustão física aos trabalhadores e, inevitavelmente, isso gerava a diminuição da produção.

Nessa fase inicial da economia solidária, até mesmo as crianças trabalhavam nas fábricas e cumpriam as jornadas longas de trabalho. Naquele contexto, Singer (2002, p. 24) afirmou que surgiram os industriais, principalmente, o britânico Robert Owen, que detinham certo esclarecimento da ilegalidade das excessivas jornadas de trabalho e se empenharam em regulamentar as leis, dando maior proteção aos trabalhadores.

Singer (2002) destacou a influência e a generosidade como características marcantes de Robert Owen. Ele era um grande proprietário industrial na área têxtil, porém, não consentia com a exploração da força de trabalho de seus empregados e, por isso, decidiu, na primeira década do século XIX, limitar a extensa jornada de trabalho e coibir a presença e o trabalho de crianças nas fábricas. Para o cumprimento regular das ordens, Owen se dispôs a construir escolas para que os filhos de seus empregados pudessem frequentar.

Devido ao tratamento indispensável e notório por parte de Owen a seus assalariados, estes reconheceram a sua generosidade e se dispuseram a recompensar, por isso, se empenharam em elevar a produção. Logo, Owen passou a auferir maior lucro e produtividade em suas fábricas. Naquele contexto, Owen passou a ter mais credibilidade e admiração, recebendo, inclusive, o título de filantropo.

Na Europa, em 1815, finalizava um extenso período de guerras. Nesse contexto, houve depressão profunda na Grã-Bretanha. Diante disso, Robert Owen propôs-se a auxiliar no restabelecimento da economia, que estava totalmente abalada, a fim de amenizar o desemprego e auxiliar as pessoas economicamente desamparadas. Ao identificar o problema, Owen constatou que tinha ocorrido a degeneração da economia em razão de não haver mais a procura por armamento, navios e outros produtos que interessavam para continuar as guerras na Europa. Robert Owen, em 1817, incentivou o governo britânico na compra de terras, construção de aldeias e cooperativas para auxiliar os pobres a retirarem o próprio sustento e o de sua família. Os excedentes de produção eram destinados a trocas nas aldeias.

As cooperativas de produção, conforme explicou Singer (2002, p. 89), “são associações de trabalhadores, inclusive administradores, planejadores, técnicos que visam produzir bens ou serviços a serem vendidos em mercados”. O procedimento

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econômico adotado por Owen estava dando certo, até que na segunda década do século XIX, o governo britânico passou a ignorar a proposta de Owen, uma vez que, conforme Singer (2002, p. 26), “quanto mais Owen explicava o seu plano, mais evidente se tornava que o quê ele propunha não era baratear o sustento dos pobres, mas uma mudança completa no sistema social e uma abolição da empresa lucrativa capitalista”. Owen, então, partiu para os Estados Unidos com a ideia de lançar um novo meio social, uma aldeia cooperativa que prometia conquistar interesse da população e que se consolidasse como uma sociedade do futuro.

A invenção de Owen ganhou credibilidade e passou a garantir trabalho à população por todos os lugares e, o mais importante de tudo, sem a tutela do Estado. No mesmo sentido, as cooperativas, cuidavam da produção e do consumo. Surgiram armazéns cooperativos que comercializavam os produtos das cooperativas operárias. Houve rejeição do comércio, isso levou as sociedades Owernistas a organizarem bazares ou bolsas, que agradaram as cooperativas operárias, gerando notoriedade social. Nessa fase, o trabalho de Owen vinha ganhando espaço na economia e já se evidenciava como uma alternativa de produção paralela ao capitalismo. No decorrer daquela fase o projeto de Robert Owen se tratava de uma república cooperativa.

No ano de 1833 foi aprovada uma legislação chamada Factory Act, que tinha como interesse proteger o trabalhador de fábricas, porém, não minorava a jornada de dez horas diária, conforme era a proposta de Robert Owen. Por essa razão, Owen, notando a necessidade de formalizar a jornada de trabalho para oito horas diárias, resolveu se engajar na reação entre os sindicalistas e passou a liderá-los. Dessa forma, foi possível implementar a redução da jornada de trabalho, uma vez que havia recusa em massa dos trabalhadores em terem de se subordinarem ao trabalho exaustivo de dez horas por dia.

A época da Revolução Industrial foi apontada, em várias publicações, como marco inicial da economia solidária. Vários fatores contribuíram para que novas alternativas fossem analisadas como solução para enfrentar a acentuada crise econômica, uma vez que na época emergia uma sociedade capitalista, demonstrando um cenário que levaria ao aumento da exclusão social. A crise de identidade profissional foi a maior preocupação, pois, aos poucos, a crise econômica retirou do cidadão seu direito de pertencimento na sociedade.

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A literatura atual sobre a economia solidária converge em afirmar o caráter alternativo das novas experiências populares de autogestão e cooperação econômica: dada a ruptura que introduzem nas relações de produção capitalistas, elas representariam a emergência de um novo modo de organização do trabalho e das atividades econômicas em geral. Retomando a teoria marxista da transição e analisando, sob esse prisma, [...] estarmos diante da germinação de uma nova “forma social de produção”, cuja tendência é abrigar-se contraditoriamente, sob o modo de produção capitalista. Extrai, por fim, as consequências teóricas e políticas desse entendimento, posto que repõe, em termos não antagônicos, a presença de relações sociais atípicas, no interior do capitalismo (GAIGER, 2003).

O aumento do desemprego, como consequência das transformações no mercado de trabalho, foi o maior incentivador pela busca constante de alternativas que viabilizassem a inserção de diferentes formas sociais de produção no mercado. Surgiu, então, a economia solidária com potencial de distribuição de bens, serviços e geração de renda. Singer (2002) defendeu que no século XVIII deu-se o ponto de partida para que se disseminassem diversas formas de produção e de serviços, associações de produtores em regime de autogestão, e de diversas organizações populares, compondo a chamada Economia Solidária.

Nos séculos XVIII e XIX, na Europa Ocidental, começou a emergir a produção das máquinas a vapor nas fábricas, motivando o aumento do nível da produção. Todavia, iniciou o dilema da substituição da força de trabalho humano, que culminou por promover a reestrutura das relações de trabalho e de produção. A inserção de máquinas, movendo a produção em ritmo acelerado, motivou a migração das pessoas dos campos para as cidades, em busca de melhores condições de trabalho e de vida. Em síntese, a origem da economia solidária ocorreu em razão do surgimento do capitalismo moderno. Sendo este, consequência da Revolução Industrial que alicerçou a era das inovações das formas de produção. Nesse sentido, a população pobre passou a sentir os efeitos do capitalismo, onde se inclui a elevada taxa de desemprego. Este cenário colaborou para que ocorresse a motivação por manifestação em favor da prática da economia solidária. Este comportamento tinha por propósito fundamentar e enaltecer uma cultura de cooperação e solidariedade mútua dentro de um grupo onde o indivíduo passou a desempenhar suas atividades. Além de partilhar o trabalho coletivo, o indivíduo sentiu-se comprometido com o lado social, pelo fato de estar inserido em uma mesma comunidade, a fim de construir sua própria identidade e poder compartilhar a produção do seu trabalho com os outros componentes do grupo.

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Nota-se, no contexto atual, a evolução permanente da atividade econômica no espaço urbano, vindo a se alastrar e consolidar por diversos países do mundo, tendo como característica fundamental sua forma de administrar a produção e a distribuição de seus bens e produtos. Essa atividade ganhou notoriedade em razão do seu potencial como gerador de renda e pela possibilidade de atenuar as consequências promovidas pela sociedade capitalista.

A economia solidária surgiu como resposta dos trabalhadores ao novo sistema capitalista. Este prometia controlar o comércio de produtos, inviabilizando a inserção do indivíduo no mercado de trabalho e, em consequência, restaria alterar os índices de desempregados e excluídos do mercado de trabalho. As novas formas sociais de produção por parte dos trabalhadores foram necessárias para frear a crise social que estava em iminência de se instalar.

Para impedir o aprofundamento da crise econômica, foi necessário a invenção de diversas formas de empreendimentos e de diversos ramos de negócios. A estratégia de organização do trabalho pautava-se pela autogestão e os negócios se instalavam tanto no perímetro urbano como na área rural. Dessa forma, a população enfrentava o dilema de inibir a temida crise econômica sem promover o aumento da exclusão social. As parcerias firmadas ocorreram por meio da livre associação ao trabalho e autogestão.

Conforme Singer e Souza (2000, p.25):

A economia solidária ressurge, de forma esparsa na década de 1980 e tomou impulso crescente a partir da segunda metade dos anos 1990. Ela resulta de movimentos sociais que reagem à crise de desemprego em massa, que tem seu início em 1981 e se agrava com a abertura do mercado interno às importações, a partir de 1990

Com a evolução da sociedade moderna, é possível justificar o porquê do sistema capitalista ocasionar a geração de riquezas, e, simultaneamente, alargar a margem da pobreza. Um mesmo momento, porém, com resultados distintos foi emergindo e com muita intensidade. Nesse contexto, as pessoas excluídas do mercado de trabalho lutavam por uma sobrevivência digna, buscando uma alternativa como empreendedoras, alimentando a esperança de iniciar a construção de sua identidade como resultado de esforço próprio.

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Com abundância dessas proposições, devemos considerar que esses “modelos de produção” (comunitária, grupal, familiar...), embora vistos por seus impulsionadores como contribuições à democratização econômica e à geração de emprego, que, é preciso salientar, quando não nascem dos próprios setores populares, mas que são promovidos por interesses externos, advêm, com muita frequência, em formas de apaziguamento político, de geração de emprego a baixo custo, de ocupação de mão-de-obra ociosa em terras de baixa produtividade, de transferência de custos de infraestrutura e manutenção, bem como liberação de custos das cargas sociais.

Estas pessoas acreditavam que se somando ao empreendedorismo teriam mais oportunidades e força produtiva inalienável e, com isso, ganhariam mais notoriedade pelo desempenho de suas atividades e também pela forma como se organizavam. Nesse sentido, as organizações dos grupos foram se consolidando e abrindo novos caminhos, superando as expectativas de todos. As formações de grupos em associações de autogestão são representadas por organizações coletivas e que visam ao bem coletivo em detrimento de seus cidadãos.

Porém, o sistema capitalista tem o poder de formar ganhadores, ao passo que na mesma intensidade acelera as desigualdades sociais, tornando a sociedade subordinada ao universo do consumismo. Nesse contexto, entende-se que esse dilema é histórico e advém da arquitetura do modelo capitalista e que se instalou permanentemente causando seus efeitos de forma egoísta ao longo prazo.

O sistema moderno premia e estimula o individualismo que é a forma de satisfazer o interesse pessoal e de se sentir autossuficiente. Singer (2002, p. 9) afirmou que “acaba produzindo sociedades desiguais” ao passo que a prática da economia solidária visa à civilização com equidade em relação a oportunidades e distribuição de renda, tendo por finalidade reduzir a discrepância entre os padrões de vida dos pobres e dos ricos.

O sistema capitalista atual, cujo modo de produção vigora norteado pelo princípio de propriedade individual, associado ao direito à liberdade individual. Estes princípios funcionam de forma a permitir a divisão da sociedade em duas classes distintas, ou seja, a classe proprietária de bens e riquezas e a classe dos desfavorecidos economicamente. A partir disso, verifica-se que esta última mantém sua subsistência vendendo sua força de trabalho para a classe possuidora. Em consequência, vivencia-se o resultado frustrante denominado desigualdade social.

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Uma característica importante que trata de diferenciar a economia capitalista da solidária, consiste na sistemática de administração. A economia capitalista procede pela administração hierárquica, também denominada de heterogestão. E, por sua vez, a empresa solidária é administrada de forma democrática, ou seja, na forma de autogestão. O grupo que lidera a autogestão tenta combater de maneira resistente as consequências destrutivas criadas pelo capitalismo.

Para Gaiger (2003, p. 05):

O modo de produção capitalista nasce da reunião de quatro características da vida econômica, até então separadas: a) um regime de produção de mercadorias, de produtos que não visam senão ao mercado; b) a separação entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores, desprovidos e objetivamente apartados daqueles meios; c) a conversão da força de trabalho igualmente em mercadoria, sob forma de trabalho assalariado; d) a extração da mais-valia, sobre o trabalho assim cedido ao detentor dos meios de produção, como meio para a ampliação incessante do valor investido na produção; a mais-valia é a finalidade direta e o móvel determinante da produção, cabendo à circulação garantir a realização do lucro e a reposição ampliada do capital. O capitalismo, portanto, está fundado numa relação social, entre indivíduos desigualmente posicionados face aos meios de produção e às condições de posta em valor de sua capacidade de trabalho.

Nesse sentido, Singer (2002, p.18) esclareceu a diferença de administrar uma empresa solidária pequena para grande. Nesta, “as assembleias gerais são mais raras porque é muito difícil organizar uma discussão significativa entre um grande número de pessoas”. Enquanto que naquelas “todas as decisões são tomadas em assembleias, que podem ocorrer em curtos intervalos, quando há necessidade”. Por isso, que as empresas solidárias de grande porte necessitam eleger delegados por departamento, facilitando assim uma maior organização na tomada de decisão.

Nas empresas solidárias de grande porte, a organização dos sócios ocorre mediante hierarquias de coordenadores e todos têm a obrigação de se manter informados. É justamente esse o comportamento da equipe que promove uma administração forte evolutiva e contribui ativamente na tomada de decisões importantes.

O perfil empreendedor dos sócios autogestinários é imprescindível para a consolidação de uma administração forte e eficiente, mas, para isso, deve compreender a necessidade de todos os sócios manterem uma boa relação recíproca no âmbito da empresa. O nível de deliberação das decisões é medido pelo o resultado

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final da produção. Se o resultado for expressivo na produção da empresa, fica demonstrado o comprometimento dos dirigentes, todavia, uma autogestão fraca pode ocasionar a degeneração da empresa solidária, por insuficiência da gestão democrática de seus sócios.

A autogestão no empreendimento solidário reflete no desenvolvimento humano. Isso é importante e conecta com o direito humano ao desenvolvimento e à dignidade humana e, por isso, requer que as decisões sejam deliberadas por pessoas que tenham um perfil inclinado para a autogestão. O sucesso dos associados está na capacidade individual de buscar alternativas para a resolução dos problemas. Por isso, aqueles incumbidos pela autogestão terão de se disponibilizar um pouco mais, a fim de manter o nível da produção.

Singer (2002) destacou que, especialmente no Brasil, as cooperativas de produção ampliaram suas atividades no século XX, resgatando o vínculo do cidadão desempregado com as comunidades. A economia solidária, desde então, passou a fazer parte da vida de muitos cidadãos, assim como fez em muitos países da Europa. No século XIX, as pessoas foram adequando-se conforme as idealizações das elites políticas e econômicas, por isso, em1887, tiveram início as primeiras cooperativas.

Nesse sentido, a evolução das atividades solidárias tomou espaço abrangente em todo o país, pois conseguiam organizar economicamente os desempregados. Vale citar a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Companhia Paulista, em Campinas, São Paulo, e a Sociedade Econômica Cooperativa dos Funcionários Públicos, de Minas Gerais. Assim, vários empreendimentos foram se multiplicando e assumindo o papel de gerador de renda e trabalho para a população.

Apesar de todo o dilema, o sistema solidário brasileiro foi se fortalecendo e demonstrando sua importância na vida de muitas pessoas. Em 1971entrou em vigor o Decreto-Lei 5.764/71, assinado porEmílio G. Médici. Em seu artigo 1º, assevera-se:

Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas entre si, desde que reconhecido seu interesse público (BRASIL, 1971).

Com isso, a incidência do decreto ajudou a reunir forças e regulou o funcionamento das cooperativas. Por essa razão, elas ganharam notoriedade no

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Brasil, por ser uma alternativa de geração de renda, especialmente a partir da década de 1980.

No Brasil, conforme esclareceu Singer (2002), especialmente, na cidade do Rio de Janeiro, evidenciou-se o aprimoramento no setor de produção, em razão de haver maior demanda no setor de vestiário e complementos têxteis, alimentação e artesanatos. Para a produção de grandes variedades de produtos, os empreendimentos necessitam ocupar espaços em salão de associação de moradores, centro cultural de bairros e, até mesmo, em pátio de casa de um dos integrantes do grupo. Todo este dilema demonstra que não é somente trabalhar para mantê-los vivos por meio do trabalho solidário, mas também, prover as necessidades humanas, ampliando a socialização o saber e a cultura.

Da mesma forma, Singer (2002) alegou que na cidade de São Paulo, o trabalho informal cresceu muito e pode-se afirmar o surgimento da economia solidária por meio de empreendimento comunitário que está inserido no setor da informalidade. Este setor abrange as pessoas que trabalham na forma de economia familiar, ou seja, é um trabalho de característica autônoma que ainda persiste no contexto atual.

No trabalho informal, se inserem mulheres, migrantes, negros, idosos, adolescentes sem qualificação profissional e deficientes físicos ou mentais. Nesse sentido, percebe-se que pessoas com várias características e perfis se encontram em condições desfavorecidas economicamente e, sem outras alternativas, refugiam-se para a informalidade ativa.

Já na década de 1970, Mészáros (2006, p. 29) afirmava que:

Como resultado dessa tendência, o problema não se restringe à situação dos trabalhadores não qualificados, mas atinge também um grande número de trabalhadores altamente qualificados, que agora disputam, somando-se ao estoque anterior de desempregados, os escassos - e cada vez mais raro - empregos disponíveis. Da mesma forma, a tendência da amputação "racionalizadora" não está mais limitada aos "ramos periféricos de uma indústria obsoleta", mas abarca alguns dos mais desenvolvidos e modernizados setores da produção.

É possível perceber que, desde a origem da economia solidária, ocorrida inicialmente nos países europeus e se expandindo até o contexto atual, sua trajetória foi marcada expressivamente por avanços e retrocessos. Além dos benefícios que a renda extraída da atividade oferece, outro ponto positivo merece ser destacado, o

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aumento da produção e, consequentemente, uma condição de bem-estar com dignidade.

Em 1990, com a inércia da economia brasileira, motivada pelas políticas neoliberais, o mercado nacional recebia produtos estrangeiros. A estrutura, econômica e política do país, tornou-se profundamente abalada, tendo em vista o aumento da concorrência das empresas multinacionais que passaram a sufocar as empresas nacionais, culminando com a falência destas.

Singer (2000) explicou que, a partir dessa época, a economia solidária ganhou espaço em algumas cidades do Rio Grande do Sul, justamente em razão da degeneração da economia que forçou o desemprego no estado, fazendo com que a vida urbana mudasse de ritmo, tornando-se lentamente mais complexa no sentido financeiro. Logo, a crise econômica fez com que a população se mobilizasse em buscar novas alternativas que construíssem a verdadeira vertente de trabalhos, como o clube de troca, cooperativas populares, associações e redes de produção, empresas autogestionárias, bem como cooperativas de agricultura familiar.

Segundo Singer (2000, p.25):

A economia solidária ressurge, de forma esparsa na década de 1980 e tomou impulso crescente a partir da segunda metade dos anos 1990. Ela resulta de movimentos sociais que reagem à crise de desemprego em massa, que tem seu início em 1981 e se agrava com a abertura do mercado interno às importações, a partir de 1990.

Nesse contexto, surgiu a ideia de implementar a economia solidária que, até então, já se considerava uma atividade globalizada. Dessa forma, foi se constituindo a integralidade de grupos com características autogestionárias, razão pela qual, todos contribuem com um objetivo único, ou seja, a mobilidade popular das pessoas frente à economia solidária possa emergir plenamente, como direito humano conquistado no século XXI.

O processo da economia solidária, por apresentar características de autosgestão, tende a promover o reagrupamento das famílias, permitindo que o processo ocorra de forma coletiva e com projetos diversificados que se ajustem à questão cultural e demográfica. Nesse sentido, a vida urbana propõe um cruzamento de informações culturais que culmina na criação de novos projetos que facilitarão a geração de renda e a inserção do indivíduo na sociedade.

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Na região central do estado do Rio Grande do Sul, o incentivo à prática da economia solidária tornou-se mais avançada, isso se deve à iniciativa da diocese há mais de dez anos. Na cidade de Santa Maria, essa prática está, como escreve Singer (2000, p.275), “na dinâmica entre grupos de produção, cooperativas, sindicatos, movimentos populares, pastorais sociais, universidades e outros agentes”. Além, disso destaca-se a promoção de eventos, com objetivos de comercializar produtos e promover discussões de ideias de interesse comum.

2.2 Os atores sociais que protagonizam a prática da economia solidária

No contexto atual, prevalece a resistência política em consolidar uma legislação que traga um produto normativo que defina uma baliza ideal e norteie o desenvolvimento da economia solidária no Brasil, uma vez que muitas pessoas gostariam de trabalhar, mas não na informalidade. Redes de produção e fóruns de trabalho buscam, cada vez mais, o aperfeiçoamento da atividade econômica já que, para esses atores, esse novo modelo de economia é prioridade para superação do atual desemprego que atinge grande parte da população. França Filho (2006, p.69) esclareceu que:

[...] os fóruns, como as redes, apresentam um caráter ao mesmo tempo militante e de assistência técnica. Os fóruns são também espaços de reunião dos atores, porém num sentido mais abrangente em relação às redes, pela presença e participação dos poderes públicos governamentais. Ao mesmo tempo em que reivindicam sua autonomia enquanto espaço de atores da sociedade civil, os fóruns constituem-se como espaços de intermediação em relação ao Estado. Tais espaços reagrupam, desse modo, o conjunto das diversas partes que participam de um movimento de economia solidária (entre pesquisadores, entidades de apoio e fomento, gestores públicos e os próprios atores) cujo engajamento nos fóruns ocorre de maneira fundamentalmente voluntária.

A economia solidária é um projeto de desenvolvimento social com expressiva dimensão, cultural e ambiental, associado à sustentabilidade. Ela defende com autonomia a organização dos trabalhadores por meio de uma gestão democrática em conjunto com a sociedade. Essa integração estabelece maior possibilidade de crescimento em conjunto, bem como a realização do indivíduo como ser social, na construção de um processo de humanização do cidadão.

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Para pessoas humildes, que sempre foram estigmatizadas por serem pobres – sobretudo mulheres e negros, vítimas da discriminação por gênero e raça – a experiência cooperativa enseja verdadeiro resgate da cidadania. Ao integrar a cooperativa, muitos experimentam pela primeira vez em suas vidas o gozo de direitos iguais para todos, o prazer de poderem se exprimir livremente e de serem escutados e o orgulho de perceber que suas opiniões são respeitadas e pesam no destino do coletivo.

O estado democrático tem por incumbência representar a sociedade, zelando pelos direitos e deveres do cidadão e incentivando a participação social que influencie na tomada de decisões internas. Assim, o Estado fortalece seus laços sociais aliando-se a uma gestão democrática e participativa. Nesaliando-se aliando-sentido, o movimento da economia solidária também constrói laços sociais por meio de um espaço de discussão coletiva e tem como maior incentivador o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), que objetiva promover a democratização política e social, interligado aos outros Empreendimentos Econômicos Solidários (EES).

O FBES é um dos principais movimentos articuladores que dá sentido com expressividade a este trabalho social, tendo em vista que organiza um movimento propiciando a integração de uma pluralidade de práticas produtivas, tendo por finalidade essencial legitimar a economia solidária. Logo, a sistemática de organização dos atores sociais é a principal característica que mantém a economia solidária como um novo modelo de gerir a renda, diferenciando-se, dessa forma, do estatal e, por sua vez, do capitalismo econômico. O Decreto nº 5.764/1971 explica o seguinte:

Art. 2° As atribuições do Governo Federal na coordenação e no estímulo às atividades de cooperativismo no território nacional serão exercidas na forma desta Lei e das normas que surgirem em sua decorrência. Parágrafo único. A ação do Poder Público se exercerá, principalmente, mediante prestação de assistência técnica e de incentivos financeiros e creditórios especiais, necessários à criação, desenvolvimento e integração das entidades cooperativas (BRASIL, 1971).

É nesse sentido que surge a necessidade de ampliar as ações multidisciplinares tornando-as interligadas em forma de cooperativas ou de associações na comunidade. Esta integração visa o fortalecimento de um trabalho que é digno e desenvolvido em grupos, como a prática da economia solidária, que possui

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uma proposta ampla de trabalho, sendo capaz de articular os grupos sociais, despertando o interesse de forma coletiva em promover novos projetos sociais coletivos.

Silva (2014, p. 279) discorreu conceituando a economia solidária:

É um movimento social que agrega as propostas civilizacionais de construção de uma nova plataforma cognitiva organizadora de uma nova estrutura social, um novo modelo de desenvolvimento sustentável social, econômica, política, ecológica e culturalmente.

Nesse sentido, observa-se que um trabalho desenvolvido em grupo possui maiores condições em fortalecer as relações humanas e sociais, uma vez que, a falta de uma política pública direcionada para efetivar o desenvolvimento do trabalho em forma de cooperativas ou associações desarticula o sujeito, tendo em vista que este ainda não descobriu seu espaço de atuação no mundo.

No Brasil, o seguimento da economia solidária foi influenciado não somente pela população excluída e pelos desempregados, mas, principalmente, pelo amparo fundamental de instituições como da igreja católica e outras igrejas, sindicatos e universidades. Todos prestaram apoio indispensável para a manutenção da atividade econômica e social. Nesse contexto, os integrantes dos empreendimentos solidários receberam dessas entidades treinamentos necessários, além disso, prestaram assistência na concretização dos negócios, como também, acompanharam na formação dos grupos que seriam os responsáveis pela autogestão.

É importante destacar que outros atores sociais também contribuíram significativamente para que as atividades econômicas pudessem assumir e permanecer ativas na sociedade, por isso vale citá-los. Conforme Singer (2002, p. 122-123) em 1980, a Cáritas, entidade ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) financiou diversos projetos alternativos comunitários, priorizando a geração de trabalho e renda.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), participando do cooperativismo agrícola criado por esses trabalhadores, teve como objetivo assentar famílias em terras desapropriadas de latifúndios improdutivos e, somente em 1989 e 1990, o movimento criou o Sistema de Cooperativa dos Assentados (SCA). Esta dividiu-se em outras três modalidades de cooperativas as quais são: cooperativas de

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produção agropecuária, cooperativas de prestação de serviços e cooperativas de créditos.

A Associação Nacional dos Trabalhadores em empresas de Autogestão e Participação Acionárias (ANTEAG) possui como objetivo a transformação de empresas em crise em cooperativas. Nas Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPS), seus integrantes são professores e alunos de graduação, pós-graduação e funcionários das mais diferentes áreas do saber. Estas possuem como objetivos, atender grupos comunitários dando-lhes suporte técnico, logístico e jurídico para aqueles que desejam trabalhar e produzirem em conjunto.

De acordo com Anteag (2000, p. 22):

Na perspectiva de ser dono do negócio, surgia a dúvida: o que é mais importante, ter o controle da gestão ou o controle dos meios de produção? [...] Existem casos de os trabalhadores gostarem tanto da gestão empresarial que assumem o controle da empresa como gestores empresariais e se recusam a responder enquanto verdadeiros donos coletivos da empresa. O caminho é educar os proprietários coletivos para que assumam o controle da gestão. Não é por outra razão que a Anteag investe 70% da sua força na educação dos gestores. Não adianta ter o controle da empresa se não se tem controle da gestão.

Os atores sociais aprendem a participar coletivamente na organização, planejamento e administração da economia solidária. No contexto atual, pode-se notar que esta atividade se tornou uma rede que, aos poucos, foi crescendo e descobrindo um potencial de geração de trabalho e renda. Por sua vez, no Rio Grande do Sul, essa atividade econômica tornou-se tradicional, mas, desde o século XX, passa por dilemas que a impedem de se tornar plenamente o reagente cabível para a solução do desemprego.

Portanto, foi somente a partir de 1970 que parte dos administradores reuniram forças para manter o projeto ativo. Essa rede de produção tornou-se um espaço desafiador de ideias e de preferências por parte de seus atores constituidores de progresso econômico. O conjunto de instituições envolvidas com o prosseguimento da economia solidária, igrejas, fóruns, demonstram com clareza que elas são formadas por indivíduos que compartilham de mesmas ideias, opiniões, atitudes, esperanças, centradas em um futuro melhor.

O comprometimento com o exercício da economia solidária consiste em uma forma de segurança essencial para que qualquer empreendimento dessa natureza

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apresente resultado satisfatório ao grupo. Nesse sentido, essa racionalidade moderna permite a existência de uma conduta padronizada entre homens e mulheres. Logo, somada a isso, a prática de um trabalho configura o pleno exercício do direito humano.

Araújo (2004, p.13) afirmou que:

[...] os homens não agem simplesmente pelo caráter neutro da universalidade das leis, mas por valores que os motivam a realizar-se como um modo possível de ser humano no espaço da convivência sociopolítico-cultural, onde as diferenças, nas formas da ação moral, tornam-se visíveis.

Todas as formas de negócios, que envolve a economia solidária, têm evoluído gradativamente, não só no sentido econômico, mas também, como fonte de responsabilidade de seus gestores, uma vez que, caracteriza-se pelas ações e suas consequências. E, de fato, a história da economia solidária demonstra nitidamente sua superação a cada ano. Isso comprova efetivamente que o método adotado para a prática do trabalho ocupa técnicas apropriadas e com dimensões evolutivas gerando resultados positivos.

Para Singer (2000 p. 138):

A construção da economia solidária é uma destas outras estratégias. Ela aproveita a mudança nas relações de produção provocada pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou coletivamente.

A forma que os atores sociais encontraram para responder positivamente ao desemprego foi o surgimento da prática da economia solidária. Nessa fase, era profunda a crise econômica que se instaurou, motivada pelo desencadeamento da globalização associada à revolução tecnológica. Com o surto da miséria e falta de emprego, o cidadão tornou-se perdido, por sua vez, desconectado da sociedade. A iniciativa foi condição essencial para que a população assumisse como meta a busca por melhores condições de vida. Demonstrando, com isso, a expressiva capacidade de organização e o aprendizado profissional dos integrantes da atividade associativa. A capacidade de formação de ideias supremas dos atores em organizar e protagonizar alternativas contra a crise foi visivelmente percebida. A solução para a

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crise financeira foi idealizada de forma que aproximasse as pessoas, assim, a reunião de esforços fortaleceria o grupo e o resultado se tornaria mais expressivo.

Conforme Gohn (2010, p.14):

Um movimento social é sempre expressão de uma ação coletiva e decorre de uma luta sociopolítica, econômica ou cultural. Usualmente ele tem os seguintes elementos constituintes: demandas que configuram sua identidade; adversários e aliados; bases, lideranças e assessorias – que se organizam em articuladores e articulações e formam redes de mobilizações; práticas comunicativas diversas que vão da oralidade direta aos modernos recursos tecnológicos; projetos ou visões de mundo que dão suporte a suas demandas; e culturas próprias nas formas como sustentam e encaminham suas reivindicações.

A melhoria na condição de vida do indivíduo possibilita a ele sentir-se integrado na comunidade a qual ele pertence. Nesse sentido, é verdade que se o indivíduo mudar a si próprio, estará constantemente em renovação mudando a sociedade. É, na maioria das vezes, em comunidades periféricas que as pessoas possuem afinidade cultural e, assim, conseguem compartilhar de mesmas ideias em busca de melhores recursos. Desse modo, a solução viável está em criar formas de sobrevivência com potencial de romper os obstáculos impostos, inevitavelmente, pelo campo da modernidade.

Entretanto, quando se propõe a desempenhar um trabalho em grupo, será necessário administrar os desafios de maior envergadura, pois esses obstáculos permitem ao indivíduo organizar uma base consistente para obter resultados satisfatórios que assegurem uma forma digna de sobrevivência.

Os atores sociais cumprem um papel de extrema importância no que concerne à administração dos empreendimentos solidários. Para resolver os impasses, tudo depende do apoio que vem da aproximação das lideranças que compõem a administração. São pessoas que, notadamente, têm perfil empreendedor e que podem estar atuando de forma centralizada. Essa administração tem por obrigação zelar pela consolidação dos interesses coletivos.

Ressalta-se que a autogestão tem sido um caminho acolhedor para aqueles que se submetem a um esforço adicional, que, na realidade, a prática democrática exige ao longo prazo. Do contrário, o desinteresse dos sócios em colaborar na busca de melhores resultados, os levaria para viver uma vida condenada, ou seja, sem consideração, pelo sistema capitalista. De resto, cumpre destacar que uma vida digna

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é essencial para a condição humana e para a manutenção do valor da sua autoafirmação, pois, sem esses atributos, dificilmente o cidadão será reconhecido como integrante do Estado onde se insere.

Nesse sentido, destaca-se a importância da união dos sócios, pois a confiança mútua contribui para consolidar a coesão interna entre os líderes. Estes são pessoas que possuem condições de realizar as tarefas que exigem um maior grau de complexidade, ou seja, de condições especiais para resolvê-las. No contexto atual, pode-se notar que as estratégias para manutenção e desenvolvimento dos empreendimentos econômicos tornaram-se tradicionais. Mas, é preciso ir além e, para isso, necessita-se dispender verbas públicas para auxiliar as instituições a externar suas potencialidades produtivas.

É evidente que o Estado não dispõe de mecanismos incentivadores que promovam uma maior participação social no trabalho solidário. Muitas vezes, isso culmina em retrocessos. Essa ausência de incentivo financeiro gera impacto negativo que se projeta por diversas dimensões das organizações econômicas solidárias.

Para Loureiro (2004, p.71):

Participar trata-se de um processo que gera a interação entre diferentes atores sociais na definição do espaço comum e do destino coletivo. Em tais interações, ocorrem relações de poder que incidem e se manifestam em níveis distintos em função dos interesses, valores e percepções dos envolvidos. Participar, aqui, é promover a cidadania, entendida como realização do “sujeito histórico” oprimido.

Nesse contexto, pode-se perceber que a situação atual abre caminhos para emergir uma discussão com racionalidade política. O sistema econômico atual requer a manifestação do Estado com propostas refinadas capazes de estabelecer acordo por meio uma gestão democrática associada à integração da sociedade. Isto funciona como um canal de diálogo com objetivo de expressar os anseios da comunidade.

Não existe uma articulação suprema entre o Estado e os atores sociais. Essa inércia acarreta mudanças não temporárias, mas, que de alguma forma influenciam nas decisões do sistema interno das instituições. Esses efeitos se mantêm ou, até mesmo, se aprofundam por longo período. Logo, a crise do Estado torna-se cada vez mais expressiva justamente por falta de investimentos e aumento de desemprego. Singer (2006, p. 111) dissertou da seguinte forma: “[...] a construção de uma economia solidária depende essencialmente da população, sua vontade de experimentar e

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aprender, aderindo aos princípios da solidariedade, da igualdade e da democracia, a sua vida cotidiana”.

No contexto atual, presencia-se, pela mídia, as consequências políticas e corrupções que aceleram os dilemas humanos. O sentimento de não pertencer a uma sociedade não comove a classe política, nem mesmo os problemas não temporários, conforme o desemprego. Isso tornou-se crônico e que envolve o sistema social e econômico mantendo seus efeitos por um longo período.

Como característica fundamental e de expressividade notória, destaca-se como essencial para um bom desempenho do trabalho, o relacionamento entre os sujeitos produtores e idealizadores do negócio que, por razões éticas, não tendem a explorar o potencial de trabalho do outro integrante do grupo, como colega e produtor. Portanto, ressalta-se que todo o trabalho econômico solidário é formado e desenvolvido por uma gestão coletiva de seus associados. Evidentemente, esse modelo de gestão contribui significativamente para a dignidade e a valorização humana.

Salienta-se que a gestão coletiva é pautada pela colaboração de seus sócios e se refere ao controle e administração dos empreendimentos e do capital. No trabalho cooperado é, portanto, necessário estar atento à questão tecnológica, uma vez que, a sociedade moderna passou a exigir maior qualificação profissional dos trabalhadores. Evidente que, essas políticas de qualificação profissional são motivadas pelo aumento da concorrência. Isso sugere a importância de as pessoas buscarem atualização constante em suas áreas de atuação, ou permanecerão, conforme Bauman (2016b, p. 47):

[...] o mundo dos excluídos cresce diante de nossos olhos diariamente, pessoas que não são capazes de permanecer na sociedade ativa flutuam às margens ou têm o sentimento de terem sido expulsas, descartadas. Para eles, as portas da democracia fundada em trabalho e direitos estão fechadas. Mesmo que estivessem abertas, seriam as portas dos fundos, que só levariam aos andares inferiores, sem escadaria para o crescimento social. Pior que isso, o uso dessas escadarias é prerrogativa exclusiva dos outros, um instrumento de discriminação, um mecanismo de privilégio.

Dessa forma, acredita-se que o poder público deve interagir junto aos organizadores da atividade econômica para agilizar o estabelecimento e o regulamento de uma reconstrução produtiva, de modo a implementar positivamente os resultados da produtividade. Com isso, estará proporcionando à população uma condição existencial mais digna, à luz dos direitos humanos. Bauman (2016b, p. 28)

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sustentou que “o Estado em crise, em vez de ser provedor e garantidor do bem-estar público, tornou-se ‘um parasita’ da população, preocupado apenas com a própria sobrevivência, exigindo cada vez mais e dando cada vez menos em troca”.

Diante disso, a Constituição Federal dispõe, em seu artigo 1º, inciso II, a cidadania como sendo um dos fundamentos que embasam a República, isto é, a cidadania está atrelada ao status do ser humano, pois ela representa direito fundamental do indivíduo. Nessa conjuntura, compreende-se a cidadania, no sentido lato, como a arte de qualificar os integrantes de um Estado. Isso se justifica por meio do reconhecimento e da participação ativa da pessoa, enquanto membro integrador da sociedade estatal.

Considerando o contexto dos fundamentos da República, torna-se imprescindível que o poder público priorize iniciativas para frear as desigualdades sociais, por meio de um caminho restaurador que promova o desenvolvimento urbano. Assim, o cidadão conseguirá fortalecer seus laços sociais e se vincular à sociedade, promovendo a formação de sua identidade profissional e conseguindo exercer a cidadania.

O trabalho econômico solidário caracteriza-se como uma atividade desenvolvida sem oposições e de forma socializadora, alicerçada na democracia popular, tendo em vista que sua característica marcante se revela, por si só, como uma organização coletiva formada por pessoas que visam alcançar os mesmos ideais. Neste norte, se observou a perseverança coletiva e a honestidade individual como pilares na sustentação e equilíbrio para a consolidação de uma empreitada que se estendeu, naturalmente, por diversos países do mundo.

Isso se justifica, em razão das mudanças econômicas e sociais que atormentam os trabalhadores, obrigando-os a aderirem ao plano da informalidade e, em muitas vezes, atuar com absoluta ilegalidade. Estes são exemplos de situações permanentes que predominam desde sempre. Bauman (2016b, p. 28) asseverou que: “A crise do Estado se deve à incapacidade de tomar decisões concretas no âmbito econômico e, portanto, a incapacidade de prover serviços adequados”. Considera-se que atitudes corretas, por parte do Estado, deverão reduzir os problemas econômicos e melhorar as relações humanas.

De tal forma que, sob um olhar lúcido para as mazelas sociais, pode-se perceber as reações desastrosas provocadas pelo movimento da economia, política e outros confrontos institucionais, que colaboram para fortalecer a desgraça que torna

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o ser humano sem defesa, fragilizando seus vínculos com o Estado e com a sociedade. De maneira mais precisa, deve-se buscar condições dignas de sobrevivência, reformando as condições de existência humana, permitindo ao sistema capitalista devolver ao cidadão o direito de viver com dignidade.

O trabalho solidário permite ao homem restaurar os vínculos recíprocos que a vida reprimiu e fragilizou entre os seres humanos, tornando sua existência uma verdadeira desgraça social. Esse comportamento resgata os laços formados por suas inclinações naturais de vida, manifestando a revogação de um estágio de vida conturbada socialmente e que, por isso, necessita ter sua identidade reconfigurada de forma satisfatória e em consonância aos direitos humanos que são pressupostos ínsitos ao homem.

2.3 Políticas públicas para a economia solidária

A prática da economia solidária possui como característica essencial o desenvolvimento de uma extensa diversidade de produtos e serviços. Tendo por objetivo a sua comercialização no espaço local. No entanto, o que se percebe é a necessidade de haver políticas públicas voltadas a incentivar a comercialização dos produtos e, ao mesmo tempo, a ampliar e fortalecer a divulgação dessa prática solidária, que garante trabalho e renda para milhares de famílias que não encontraram um lugar no mercado formal de trabalho.

A política pública é um instrumento que se constitui por meio de planejamentos, avaliações e execução e se encontra constitucionalmente estabelecida como uma incumbência do Estado, que é o garantidor do bem-estar social e, como um direito imprescindível do cidadão. Adotar políticas públicas em prol de uma economia solidária mais expressiva é uma experiência que condiz com o dever do Poder Executivo em auxiliar o processo organizativo solidário.

Segundo Bucci (2006, p. 39):

Política pública é o programa de ação governamental que resulta de um processo ou conjunto de processos juridicamente regulados[...] visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados. Como tipo ideal, a política pública deve visar a realização de objetivos definidos, expressando a seleção de prioridades, a reserva de meios necessários à sua consecução e o intervalo de tempo em que se espera o atingimento dos resultados.

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