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A sociedade contemporânea abrange um estágio de evolução marcado, principalmente, pelas inovações tecnológicas, deixando há muito tempo de ser considerada essencialmente agrícola. Logo, a urbanização se expandiu com muito vigor, tornando as cidades inchadas devido ao crescimento rápido e desordenado. No entanto, somente no século XX, emergiram novas formas de produção econômica. Registra-se o desenvolvimento de um ambiente tecnológico com grande força de transformação da estrutura institucional e direcionado em prol da organização de uma vida urbana. Este processo contribuiu de forma significativa ao incentivo de grande potencial de estabilidade financeira para uma minoria das pessoas e, ao mesmo tempo, desestabilizou grande parte da população. Isso se justifica por diversas razões, uma vez que a modernidade social exige, permanentemente, determinados sacrifícios do ser humano para que este consiga se adequar às novas exigências que a sociedade moderna, do consumo, impõe.

Conforme Santos (2012, p.59) o novo período consagra uma redistribuição das classes médias no território, e, de outro lado, uma redistribuição dos pobres que as cidades maiores são capazes de acolher. Nessa mesma abordagem, Touraine (2008, p.38) defendeu que a sociedade nada mais é que o conjunto dos efeitos produzidos pelo progresso do conhecimento. Com a mesma linha de raciocínio, Giddens (1991, p. 8) mencionou que:

[...] “modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica.

Este novo estilo de vida pode-se chamar de “crise dos tempos”, justamente em razão da transformação social e econômica que surgiu, demonstrando estar profundamente enraizada no passado. Logo, foi um momento que marcou a mudança de comportamento do homem e provocou desequilíbrio na sociedade moderna. Bauman (2016a, p. 74) discutiu que:

[...] assim como vivemos numa sociedade insegura, em que incerteza prevalece, nós também vivemos num estado perpétuo de crise, dominado por repetidas tentativas de ajustes e adaptações que são continuamente questionadas.

Desse modo, é inegável o impacto transformativo que ocorreu na sociedade, trazendo certa diversidade acentuada de problemas e que até hoje ninguém desvendou. É o caso dos problemas ambientais que, devido às ações cotidianas não sustentáveis praticadas pelo ser humano, geram a modificação progressiva do meio ambiente. Ocorre que, muitas vezes, esse comportamento humano é exercido como correto, sem ao menos se permitir entender o quanto prejudicial é a conduta praticada. Isso se caracteriza como uma incapacidade humana de tomar decisões e atitudes sustentáveis. “Esta mudança de paradigma social leva a transformar a ordem econômica, política e cultural, que, por sua vez, é impensável sem uma transformação das consciências e dos comportamentos das pessoas” (LEFF, 1999, p.112).

A modernização social marcou um novo estilo de vida nas cidades, tendo em vista que implicou em várias consequências, causando instabilidade na ordem cultural, social e econômica. Obviamente, essa mudança de paradigma transferiu para outros campos do saber significativas implicações e, em muitos casos, com resultados negativos. Bauman (2016b, p. 57) afirmou que “o Estado é o grande aparelho regulatório das nações modernas. Ele foi estabelecido já no século XV, demonstrando desde logo sua capacidade de manter o controle das populações dispersas e sem identidade”.

Existe a colisão de interesses na aplicação das regras reivindicatórias, suscitando expectativas que possam implementar de fato uma conexão entre o Estado e a coletividade social com a preservação do meio ambiente. Em contrapartida, isso

significaria uma ampliação potencialmente desintegradora, afastando visivelmente o Estado da sociedade, tornando cada vez mais uma situação dramática a espera de mecanismos que eliminem o declínio das questões prejudiciais ao meio ambiente.

Nesse norte, Giddens (1994, p. 398) salientou que:

[...] o indivíduo perdeu o controle dele próprio, o que transforma a sociedade contemporânea numa sociedade baseada na incerteza e na imprevisibilidade. Este risco manufaturado resulta da “intervenção humana na natureza e nas condições da vida social” e suas “incertezas (e as oportunidades) são amplamente novas”.

Nota-se que a modernização do espaço urbano se tornou-se um território em que predomina a hierarquia, diferenças e desigualdades. Todavia, também é o lugar no qual cada cidadão deve buscar novas possibilidades de sobrevivência digna, de conquistas e de novas perspectivas de vida social. Nesse sentido, o espaço urbano seria o local adequado em que as pessoas poderiam se reinventar, criando sua própria história, e se comprometer com o trabalho e geração de renda.

Com o surgimento da era pós-moderna passou a existir um determinado parâmetro de produção e consumo, ambientalmente desproporcional e insustentável. Então, quando se fala em sustentabilidade ambiental é necessário analisar se o cidadão, seja ele da cidade, periferia ou área rural, está realmente consciente de que suas atitudes devem ser condizentes com a educação ambiental. Isso se tornou indispensável para o equilíbrio da relação de consumo em prol de um meio ambiente sustentável e em consonância com os direitos humanos.

Sobre isso Beck, Giddens e Lasch (1995, p. 12) afirmaram:

[...] em razão do seu inerente dinamismo, a sociedade moderna está terminando com suas formações de classe, camadas sociais, ocupação, papéis dos sexos, família nuclear, agricultura, setores empresariais e, é claro, também com os pré-requisitos e as formas contínuas do progresso técnico- econômico. Este novo estágio, em que o progresso pode se transformar em autodestruição, em que um tipo de modernização destrói outro e o modifica, denominando-as como etapas da modernidade reflexiva.

A era da modernização foi o momento em que se consolidou a nova forma de pensar, agir e de viver. Em outras palavras, Bauman (2016a p. 92) explicou que “a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento”. Foi nessa fase em que ocorreu a maior concentração desenfreada de pessoas residindo nas áreas urbanas.

De acordo com Lombardi (2001, p. 23):

[...] pela noção de globalização pretende-se caracterizar a vida num mundo global que tende ao rompimento ou à dissolução das fronteiras, das economias, das culturas e das sociedades. A palavra pós-modernidade vai à mesma direção e está a expressar essa nova condição global da humanidade, pela qual se superou a modernidade as crenças dela decorrentes, como razão, objetividade, totalidade e resoluções.

Na sociedade atual, as cidades passaram a atuar diretamente com um perfil inovador e mais produtivo, cada vez mais expressivo e diferenciado. O novo perfil industrial passou a operar com maior vigor e capacidade em atrair pessoas com renovadas qualificações nos diversos setores da economia. Logo, em razão de a população carente não estar inserida em um trabalho, isso lhe impossibilita o acesso aos bens e serviços essenciais. Em consequência, seria inegável a expansão da crise nas cidades, elevando o aumento da degradação das condições de existência das pessoas. Salienta-se ainda que a pobreza é produto negativo da relação socioeconômico vigente, que permanece alicerçada no modelo de gestão pública atual.

Santos (2012, p. 11) asseverou que “nos períodos mais recentes o processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com o da pobreza, cujo locus passa a ser, cada vez mais, a grande cidade”. Nesse contexto, a modernização social foi um fator preponderante que contribuiu para que os menos favorecidos economicamente migrassem do campo para os centros urbanos em busca de melhores condições sociais. Nessa circunstância, fatores como falta de qualificação de mão de obra, operam como razões plausíveis capazes de repelir e conduzir as pessoas a encontrar apoio nas áreas mais distante dos centros urbanos. Nesse sentido, Santos afirmou que:

[...] a cidade, onde tantas necessidades emergentes não podem ter resposta, está desse modo fadada a ser tanto o teatro de conflitos crescentes como lugar geográfico e político da possibilidade de soluções (SANTOS, 2012, p.11).

O ordenamento jurídico trouxe, por meio da Lei nº 10.257/2001, o direito a cidades sustentáveis, isso porque o legislador teve a sensibilidade em identificar a necessidade premente em adotar critérios preventivos durante o exercício das ações humanas (BRASIL, 2001). Cidades sem planejamento tornam-se um espaço público

que serve de berço para sediar todos os tipos de problemas sociais e econômicos. Portanto, pode-se destacar, diante deste quadro histórico que persiste, que o processo de urbanização da maioria das cidades brasileiras se desenvolveu de forma bastante fragmentada, justamente por não haver uma interferência pelo Poder Público.

Nessa perspectiva, a Carta Mundial do Direito à Cidade, elaborada no ano de 2005, despertou expectativas que contemplavam todo um apoio social aos seus habitantes (CARTA, 2005). Nela, é disposto que “todas as pessoas devem ter o direito a uma cidade sem discriminação de gênero, idade, raça, condições de saúde, renda, nacionalidade, etnia, condição migratória, orientação política e etc....”. Entretanto, na realidade, não se identifica, de fato, essa acessibilidade em conformidade com as normas estabelecidos nessa Carta. Resta, assim, de forma contundente, a dificuldade de o poder público satisfazer as necessidades da população que vive no âmbito urbano.

A Carta Mundial pelo Direito à Cidade definiu um conjunto de direitos que vão de encontro com as desigualdades sociais, desencadeadas no âmbito urbano.

Em seu Artigo I consta:

2. O direito a cidade é definido como o usufruto equitativo das cidades dentro dos princípios de sustentabilidade, democracia equidade, e justiça social. É um direito coletivo dos habitantes das cidades, em especial dos grupos vulneráveis e desfavorecidos, que lhes confere legitimidade de ação e organização, baseados em seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar o pleno exercício do direito à livre autodeterminação e a um padrão de vida adequado. O direito à cidade é interdependente a todos os direitos humanos internacionalmente reconhecidos, concebidos integralmente, e inclui, portanto, todos os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais que já estão regulamentados nos tratados internacionais de direitos humanos. Este supõe a inclusão do direito ao trabalho em condições equitativas e satisfatória; de fundar e afiliar-se a sindicatos; de acesso a seguridade social e à saúde pública; de alimentação, vestuário, e moradia adequados; de acesso a água potável, à energia elétrica, o transporte e outros serviços sociais; a uma educação pública de qualidade; o direito a cultura e a informação; a participação política e ao acesso à justiça; o reconhecimento do direito de organização, reunião e manifestação; à segurança pública, e à convivência pacífica. Inclui também o respeito às minorias e à pluralidade étnica, racial, sexual e cultural, e o respeito aos migrantes (CARTA, 2005).

A população nas cidades se tornou cada vez mais densa, e com poucas ofertas de trabalho. De regra, isso contribuiu para que as diferenças sociais aumentassem de forma desordenada, implicando em sérias questões sociais como é o caso de moradias irregulares ou, até mesmo, de construções em lugares inapropriados ou de

risco. Logo, verifica-se a omissão do poder público em representar essas questões sociais por meio de implementação de medidas eficazes. Observa-se, também, a ausência de fiscalização, em todas as esferas do poder público, nas ações relacionadas à implementação das Políticas Públicas. São atribuições do governo local, nacional, e dos organismos internacionais, que representam todas as pessoas, assegurar que vivam com dignidade em suas cidades.

Nesse sentido, para Bauman (2016b, p. 17):

Estado social é aquele que protege todos os seus cidadãos dos caprichos do destino, de desventuras individuais e do medo das humilhações sob todas as formas (medo de pobreza, exclusão e discriminação negativa, saúde deficiente, desemprego, falta de moradia, ignorância.

Diante disso, fortes impactos sociais e ambientais foram originados sob os efeitos da modernidade em âmbito global. Conforme se refere Santos (2012, p.66), foi graças “ao desenvolvimento das comunicações, do consumo e a amplitude maior do intercâmbio com as demais regiões do país, graças a industrialização e à modernização da sociedade e do Estado”.

O que se observa, nesse contexto, é a dimensão dos problemas que as cidades enfrentam e todas apresentam certa semelhança em grau e intensidade. Isso se justifica em razão da extensão das cidades ou pelas atividades desenvolvidas, mas, em todas os problemas predominam, seja falta de habitação, transporte público, lazer, saneamento básico, saúde, educação e/ou segurança pública. Esses problemas são de âmbito global, porém, algumas cidades se destacam em razão de apresentarem em seus polos produtivos maiores oportunidades de trabalho.

Nesse sentido, há a necessidade de viabilizar a reorganização do espaço urbano, objetivando abolir as distorções negativas que encaminham o indivíduo em direção ao expressivo aumento da vulnerabilidade social. Essa dicotomia demonstra a discrepância existente entre os direitos fundamentais do cidadão, negados pelo Estado em relação à realidade vivida por cidadãos nas mais diversas periferias. Em relação às desigualdades sociais Bauman (2016a, p. 85) salientou:

Governos e políticos não ajudam em nada, eles não podem nos mostrar que direção tomar. Eles próprios não compreendem, estão desorientados Reagem de modo contraditório, às vezes pressionando em direções absurdas, rumo ao lugar onde enxergam um vislumbre de certezas e a oportunidade de recuperar o controle social que perderam.

Ora, o cidadão que se encontra abandonado pelo poder público às margens de uma sociedade cada vez mais complexa não vê nenhuma perspectiva relacionada a sua participação em uma nova história coletiva. Para ele, já não existe mais o sentimento de pertencimento no meio social, ou seja, esse cidadão tem consciência de que está sobre os efeitos da exclusão social. A desintegração do cidadão, do meio social, é um dilema histórico que avança de forma desproporcional e tem gerado repercussão significativa, contrariando o sistema legal e os direitos humanos.

Bauman (2016a, p. 47) salientou que:

[...] as pessoas presas as precariedades crônicas, que as impedem de assumir novas responsabilidades plenamente (como viver uma vida com liberdade, comprar uma casa ter filhos), e a expulsão do mundo do trabalho , que as impede de cumprir essas responsabilidades, quando já assumidas em relação às suas famílias.

Nesse sentido, observa-se que nas regiões distantes dos centros urbanos, ou seja, nas periferias, as mazelas sociais se acentuam. Esses espaços, ecologicamente precários das cidades, funcionam como locais propícios para se instalar a miséria, situação na qual vivem milhares de pessoas, desprovidas de identidade e vivendo de forma vulnerável. Essa é a fiel realidade, onde as pessoas vivem à espera pela efetividade de seus direitos, que são reconhecidos pelo ordenamento jurídico, mas, não aplicáveis à vida real desses indivíduos.

A partir dessa realidade social que submete, principalmente, os desfavorecidos economicamente, são desencadeados outros problemas conexos e inter-relacionados com essas questões. E, nesse contexto, se destaca a importância de um espaço urbano bem planejado a fim de acolher com dignidade todo cidadão, brasileiro ou estrangeiro, na forma da lei. Evidentemente, este espaço urbano deve permitir a possibilidade de um acolhimento inclusivo, digno e solidário para possibilitar uma convivência humana compartilhada, pacífica e harmoniosa.

Rech (2016, p. 43) dissertou que:

Não há cidadania e tampouco dignidade da pessoa humana, com o caos urbano que se verifica nas grandes cidades, com ocupações urbanas ou rurais sem sustentabilidade ambiental, física, social e econômica. É, preciso equilibrar saneamento ambiental com moradia, com trabalho, com infraestrutura urbana, com lazer, com qualidade de vida as presentes e futuras gerações. É preciso estabelecer cientificamente um padrão ideal de qualidade de vida e construir um planejamento jurídico que garanta que todos os empreendimentos do homem assegurem esse padrão de qualidade sustentabilidade

A importância das cidades está intrinsecamente atrelada ao direito de seus habitantes, mesmo que transitoriamente, ou visitantes, gozarem plenamente de seus espaços públicos com igualdade de oportunidades. São objetivos essenciais que denotam sua importância para a concretização de um desenvolvimento integral. Isso significa uma melhoria nas condições básicas de existência e permanência das pessoas que ali habitam.

Portanto, não constitui demasia pontuar que, para alcançar os objetivos da Carta Mundial do Direito à Cidade, se faz necessário uma forte intervenção democrática articulada entre a sociedade civil e associada ao poder público. Isso denota, no contexto social, um expressivo impacto na implementação de condições dignas de vidas para a população pobre desvinculada do direito de bem-viver. Rech (2016, p. 44) alegou que o Estado,

Tem garantido a ordem jurídica, mas não tem conseguido assegurar o bem- estar a todos os indivíduos. Está longe de ser um instrumento de convivência social e garantia da dignidade humana. Aplicar direitos iguais para desiguais não é sinônimo de justiça social tampouco de direito justo. Usar as mesmas normas para realidade distintas nem sempre dá os mesmos resultados e não é nada científico.

Resta claro que, as cidades constituem-se em espaços coletivos e culturalmente diversificados, conferindo legitimidade aos seus habitantes na prática de ações sustentáveis para o bem-estar de todos e em perfeita harmonia com a natureza. Condição essencial que representa os interesses sociais para as presentes e futuras gerações. Desse modo, uma ação conjunta significa a busca por um padrão de vida mais adequado, justo e inclusivo para as comunidades em situações vulneráveis.

Diante de todo o exposto, é interessante fazer uma releitura da problemática urbana instituída no espaço público, tendo em vista que, a partir desse cenário surgem reflexos mais expressivos vinculados à seara estrutural e funcional da cidade. Como se isso não bastasse, tornaram-se explícitas as distintas formas de exclusão social. Na realidade, o imaginário humano tende a ocultar a realidade social sobre os mais variados impactos em que a pobreza empoderada, visivelmente, se contrasta com o princípio da dignidade humana.

A falta de um seguimento efetivo na prestação dos serviços públicos são traços problemáticos que denotam cada vez mais o aprofundamento da crise urbana,

despertando rapidamente no imaginário humano esperanças que fornecem pistas de que o pior já passou. Mas, na realidade, a discussão sobre uma cidade para todos continua gerando debates acirrados, mas, sem respostas concretas que atendam, no mínimo, as necessidades básicas do cidadão.

Faz-se necessário estudo de medidas em diferentes níveis para entender a decadência das cidades em termos de estruturação e funcionamento, para só então, enfrentar os desafios do futuro baseado nos valores do humanismo. O pensamento contemporâneo, analisa uma condição que permita frear o fenômeno urbano que desencadeia a descontinuidade da ocupação correta do espaço público. Essas reflexões consistem na busca concreta de definições que ao menos simplifiquem os processos de desenvolvimento em curto prazo nas cidades.

A complexidade dos problemas que se instituiu nas cidades são consequências que estão atreladas às transformações que emergiram em decorrência da industrialização. Lefebre (2001, p. 11) afirmou que a “industrialização fornece o ponto de partida da reflexão sobre nossa época”. Não resta dúvida de que este processo é o indutor da problemática que interfere diretamente na realidade urbana atual, atingindo tanto a esfera estrutural do espaço quanto a social.

A natureza vem contestando a atitude do homem. Esse processo vem se concretizando de forma a induzir o homem a ignorá-lo constantemente, sem se preocupar com os possíveis resultados que somente o tempo trará. Lefebre destacou (2001, p. 21) “esta tentativa permitir acreditar que se trata de um processo natural, sem intenções e sem vontade”. De fato, o homem age contra a natureza com a finalidade única de satisfazer suas necessidades. Essas atitudes tornaram-se tão normais ao ponto de o homem ignorar a situação degradante que se instalou nas cidades.

O homem não se cansa de explorar a natureza com pensamento ideológico fundado na busca por crescimento econômico e reconhecimento social. Vive uma verdadeira opressão vinculada à exploração sem limites. Esse comportamento expressa uma realidade do que se vive hoje, principalmente nas cidades de grande porte. Segundo Lefebre (2001, p. 22): “A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos “padrões” que coexistem na cidade”. O interesse está em preencher cada espaço vazio da cidade sem esconder as perspectivas do ganho financeiro.

Rech (2016, p. 249) destacou uma possível solução:

Compreende uma efetiva reforma urbana. Todas as classes sociais devem ter seu espaço no projeto das grandes cidades. Estatisticamente, os dados são bastante conhecidos, mas, nas cidades, só há zoneamento urbano para classe rica ou para a classe média ou, no máximo, para a classe média baixa. Para a classe pobre não há destinação de lugares. Hoje os pobres são