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A dignidade da pessoa humana é caracterizada como um princípio fundamental e está elencada no artigo 1º, inciso III, do título I, da Carta Magna brasileira. Sua relevância desperta o interesse dos estudiosos justamente por esse princípio apresentar expressiva densidade jurídica no mundo contemporâneo. Portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana atribui uma ideia de valor intrínseco ao ser humano e está diretamente associado com as relações do trabalho, ou seja, os direitos sociais que estão previstos no artigo 7º da Carta Constitucional vigente.

O valor intrínseco de cada pessoa e a capacidade individual de ter acesso à razão, de fazer escolhas morais e determinar seu próprio destino. Tendo suas raízes na ética, na filosofia moral, a dignidade humana é, em primeiro lugar, um valor, um conceito vinculado à moralidade, ao bem, à conduta correta e à vida boa (BARROSO, 2014, p. 61).

Um trabalho de carácter lícito e moral se encontra expressamente de acordo com os direitos humanos. E, evidentemente, constitui o aperfeiçoamento da identidade do indivíduo, mesmo que ele seja a minoria, como uma condição essencial para a realização como pessoas pertencentes a um grupo social. Logo, pode-se afirmar que o envolvimento do homem com um trabalho honesto representa um estágio importante do desenvolvimento pessoal, profissional e cultural à luz da dignidade humana.

[...] pode-se afirmar que a incidência do princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito do trabalho implica a necessidade de se proteger o trabalhador contra qualquer ato atentatório à sua dignidade, de lhe garantir condições de labor saudáveis e dignas, e também de propiciar e promover a inclusão social. [...] Independentemente de qualquer política pública, há necessidade de tutelar e, mais do que isto, dar efetividade ao direito de dignidade do trabalhador por meio da teoria dos princípios, como iniciativa do Poder Judiciário e dos juristas em geral. Com este objetivo, a postura crítica do intérprete e a utilização do princípio da proporcionalidade, com suas três parciais (adequação, necessidade, ponderação), são de suma importância.

Atualmente, em razão do aumento expressivo do desemprego, o cidadão tem procurado alternativas viáveis para manter seu sustento e o de sua família. Esse dilema se aprofundou rapidamente, devido uma série de problemas que originou a instabilidade da economia, em especial a brasileira. O problema que se destaca tem origem na fragilidade das políticas econômicas, pois se observa nitidamente a falta de um elo representativo com a população, uma vez que, somente isso poderia evitar esse cenário que se alastrou indevidamente no país, implicando um desajuste financeiro irreversível.

Para Tauile (2009, p.292-293):

Por mais que existam argumentos mostrando as deficiências desse modelo e apontando um decorrente e expressivo aumento na taxa de exploração do trabalho, não são poucos os que consideram essa uma experiência alternativa de grande significância, dado que seria impensável no espírito conflitivo do capitalismo moderno alcançar níveis de cooperação entre os agentes econômicos.

A economia solidária é uma forma de trabalho digno, que contém uma proposta adequada para contribuir efetivamente de forma contrária à crise financeira e ocultando os efeitos do desemprego. Ela atua como uma oportunidade que possibilita condições de segurança e dignidade aos sujeitos. Assim, pode-se afirmar que o trabalho solidário demonstra equidade e proteção social, ainda que, em muitos lugares, não haja a regulamentação dessa atividade, mas, está encaminhando-se para alcançar as formalidades legais.

Piovesan (2000, p. 54) explicou que:

A dignidade da pessoa humana, [...] está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo-lhe unidade de sentido, condicionando a interpretação das suas normas e revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como cânone constitucional que incorpora ‘as exigências de justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro’.

Contudo, a realidade social vem construindo-se, gradativamente, de forma determinante, ao ponto que já se pode notar o desemprego como um mal social à espreita da sociedade. A estabilidade desse fenômeno agita a sociedade e dificilmente será controlado, ao menos que haja sensibilidade na conduta humana, ou seja, a reação do governo para implementar uma reorganização de políticas públicas que possa gerar resultados positivos que alterem o cenário da economia atual.

Sarlet (2010, p. 104) lecionou:

O que se percebe, em última análise, é que onde não houver respeito pela vida e pela integridade física do ser humano, onde as condições mínimas para uma existência digna não forem asseguradas, onde a intimidade e identidade do indivíduo forem objeto de ingerências indevidas, onde sua igualdade relativamente aos demais não for garantida, bem como onde não houver limitação do poder, não haverá espaço para a dignidade da pessoa humana, e esta não passará de mero objeto de arbítrio e injustiças. A concepção do homem-objeto, como visto, constitui justamente a antítese da noção de dignidade da pessoa humana.

A principal função dos empreendimentos, os quais se organizam pelo modelo de autogestão, é gerar subsídios que desafiem o desequilíbrio da economia. Ainda possui a função de estruturar com maior dignidade a população de baixa renda. Para Comparato (2015, p. 226) “[...] a dignidade da pessoa humana não pode ser reduzida à condição de puro conceito”. Dentro do possível, isso busca amenizar as circunstâncias de vulnerabilidade enfrentada na comunidade e, ainda, dispondo de melhores formas para auxiliar as pessoas a se aglutinarem nos empreendimentos e desenvolver um trabalho em condições dignas.

Tem-se, por exemplo, o conceito desenvolvido por Sarlet (2010, p. 63), referente à dignidade da pessoa humana, ao qual o autor pontuou a seguinte ideia:

A dignidade da pessoa humana é qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Nesse contexto, Barroso (2012) atribuiu ao princípio da dignidade da pessoa humana conteúdos essenciais à luz de um conceito jurídico operacional. Aliado ao conceito, o autor inferiu que a dignidade humana está alicerçada sob o comando de

três componentes: o valor intrínseco, a autonomia, e o valor comunitário. Essas etapas promovem a categorização da dignidade humana e, ao mesmo passo, explicam as suas complexidades, pelas quais, este princípio demonstra sua relevância em âmbito social e jurídico.

Nesse sentido Barroso asseverou que:

O valor intrínseco é, no plano filosófico, o elemento ontológico da dignidade humana, ligado à natureza do ser. A singularidade da natureza humana é uma combinação de características e traços inerentes que incluem inteligência, sensibilidade e a capacidade de se comunicar que dão aos seres humanos um status especial no mundo, distinto da de outras espécies. Valor intrínseco é o oposto do valor atribuído ou instrumental por ser um valor bom em si mesmo e que não tem preço. Há uma consciência crescente, todavia, deque aposição especial da condição humana não autoriza a arrogância e indiferença em relação à natureza em geral, incluindo os animais irracionais, que possuem a sua própria espécie de dignidade [...] e por ter o valor intrínseco década pessoa como conteúdo essencial que a dignidade humana é, em primeiro lugar , um valor objetivo e que não depende de qualquer evento ou experiência e que, portanto, não pode ser concedido ou perdido, mesmo diante do comportamento mais reprovável. No plano jurídico, o valor intrínseco está na origem de um conjunto de direitos fundamentais. O primeiro deles é o direito à vida, uma pré-condição básica para o desfrute de qualquer outro direito (BARROSO, 2012, p. 162).

O valor intrínseco da dignidade da pessoa humana é um expoente que diferencia os seres humanos, que possui um valor maior daquilo que simplesmente se atribui valor econômico. É um indicativo de que a pessoa ocupa um espaço ímpar no universo, e a finalidade essencial desse atributo é singularizar o homem como uma criação de Deus. O diferencial prevalecente de cada indivíduo decorre da sedimentação da “inteligência, sensibilidade e da capacidade de formar uma comunicação”, conforme alegou Barroso (2014).

No mesmo norte, destaca-se a “autonomia” como segunda categoria referenciada por Barroso (2014, p. 82). A autonomia, portanto, corresponde à capacidade de alguém tomar decisões e de fazer escolhas pessoais ao longo da vida, baseadas na sua própria concepção de bem, sem influências externas indevidas. Destaca-se que, na realidade, a autonomia para fazer escolhas não está ao alcance de toda a coletividade, uma vez que os indivíduos que se encontram excluídos em termos sociais e econômicos demonstram o reflexo da peculiaridade da exegese que é dispensado ao seu direito. O autor defendeu, então, que esta etapa significa que o ser humano explicita a sua vontade de fazer “valorações e escolhas para sua vida”.

Assim, merece ressaltar as considerações do autor em relação à autonomia da pessoa.

A autonomia é o elemento ético da dignidade humana. É o fundamento do livre arbítrio dos indivíduos, que lhes permite buscar, da sua própria maneira, o ideal de viver bem e de ter uma vida boa. A noção central aqui é a de autodeterminação: uma pessoa autônoma define as regras que vão reger a sua vida. [...] A autonomia pressupõe o preenchimento de determinadas condições, como a razão (a capacidade mental de tomar decisões informadas), a independência (a ausência de coerção, de manipulação e de privações essenciais) e a escolha (a existência real de alternativas) (BARROSO, 2014, p. 81-82).

A “autonomia” defendida por Barroso é um pressuposto do princípio da dignidade da pessoa humana. O significado da “autonomia” encarrega-se de atribuir maior sentido ao direito que cada indivíduo possui, para assim, poder definir para si próprio quais as melhores normas que irão ordenar sua conduta. Portanto, Barroso (2014, p. 83) afirmou que a “autonomia resguarda um núcleo essencial de liberdade que deve estar presente na vida de todas as pessoas”.

Seguindo a linha de pensamento de Barroso (2014), vale destacar como terceiro e último componente o “valor comunitário”. Este componente também está ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana. O autor explicou que o “valor comunitário” é responsável pelas relações do indivíduo com os outros e, também, com o mundo ao seu redor.

A dignidade humana como valor comunitário, também chamada de dignidade como restrição ou dignidade como heteronomia, representa o elemento social da dignidade. Os contornos da dignidade humana são moldados pelas relações do indivíduo com os outros, assim como com o mundo ao seu redor. A autonomia protege a pessoa de se tornar apenas mais uma engrenagem do maquinário social. [...] A expressão “valor comunitário”, que é bastante ambígua, é usada aqui, por convenção, para identificar duas diferentes forças exógenas que agem sobre o indivíduo: 1. Os compromissos, valores e “crenças compartilhadas” de um grupo social, e 2. As normas impostas pelo Estado. O indivíduo, portanto, vive dentro de si mesmo, de uma comunidade e de um Estado. Sua autonomia pessoal é restringida por valores, costumes e direitos de outras pessoas tão livres e iguais quanto ele, assim como pela regulação estatal coercitiva. (BARROSO, 2014, p. 29)

O processo de internacionalização das normas que amparam os direitos humanos foi muito importante, no sentido de buscar um alinhamento com o princípio da dignidade da pessoa humana. A concretização desse processo contribuiu para que o Estado alterasse seu regimento interno, o qual previa quais os direitos humanos que

podiam prevalecer naquele território. Esse comportamento prevaleceu por muito tempo nas comunidades e abalava a população que se subordinava às atrocidades praticadas contra a vida humana.

De fato, a dignidade humana tem sido proeminentemente inserida no preâmbulo ou no texto de uma grande quantidade de declarações e tratados, alguns deles já mencionados no presente estudo, incluindo a Carta da ONU (1945), a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966), o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), a Convenção Americana de Direitos Humanos (1978), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (1981), a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), a Convenção de Direitos da Criança (1989), a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (2000), e a Carta Árabe de Direitos Humanos (2004), entre outros. Muitos desses documentos são aplicados diretamente por Cortes Internacionais, como a Corte Europeia de Justiça, a Corte Europeia de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos (BARROSO, 2014, p. 29-30).

Desse modo, cada Estado mantinha um comportamento soberano que somente a ele cabia dizer o que era direitos humanos internamente. Portanto, implica conceituar a palavra soberania que é a condição de alguém não se subordinar ao comando de ninguém, seja ao poder máximo de outrem. Diante disso, chegou-se à conclusão, após a Segunda Guerra Mundial, que não caberia mais apenas ao Estado a proteção aos direitos humanos, tendo em vista a necessidade de ampliar tais direitos para além do Estado.

Nesse norte, Novelino (2010, p. 339) observou que:

O reconhecimento e a proteção da dignidade da pessoa humana pelas constituições em diversos países ocidentais teve um vertiginoso aumento após a segunda guerra mundial, como forma de reação às práticas ocorridas durante o e o fascismo e contra o aviltamento desta dignidade praticado pelas ditaduras ao redor do mundo. A escravidão, a tortura e, derradeiramente, as terríveis experiências com seres humanos feitas pelos nazistas fizeram despertar a consciência sobre a necessidade de proteção da pessoa com o intuito de evitar sua redução à condição de mero objeto.

Diante disso, entende-se que foi a partir da Segunda Guerra Mundial que efetivamente os direitos humanos assumiram a forma de proteção humana e, por essa razão, havia o interesse em que esses direitos deveriam se estender em âmbito internacional, uma vez que, estavam previstos na ordem internacional, tratados, convenções e declarações. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948,

assegurou no seu artigo I, o seguinte “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (DUDH, 1948).

Mas, a problemática existe na questão de aceitação desses direitos como uma proteção universal para a humanidade, tendo em vista que em muitos países a questão cultural gera uma obstrução para garantir plena efetividade de direitos com dignidade. Segundo Comparato (2015, p. 81):

Todos os direitos humanos são universais, interdependentes e inter- relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos globalmente, de modo justo e equitativo, com o mesmo fundamento e a mesma ênfase. Levando em conta a importância das particularidades nacionais e regionais, bem como os diferentes elementos de base históricos, culturais e religiosos, é dever do Estado, independentemente de seus sistemas políticos, econômicos e culturais promover e proteger todos os direitos humanos e a liberdades fundamentais.

Essa é uma questão pertinente que os direitos humanos têm enfrentado atualmente, todavia, têm avançado gradativamente na área. Nessa perspectiva, talvez seja essa a grande discussão no momento em relação ao dilema da efetividade dos direitos humanos. Nesse contexto, na edição vigente da Constituição Brasileira, de 5 de outubro de 1988, os direitos humanos passaram a ocupar uma condição de supremacia no ordenamento jurídico brasileiro. A parte limítrofe dos direitos humanos está intrinsicamente alicerçada nos direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988, e outra parte associada ao direito internacional.

No entanto, os direitos humanos amparam todo e qualquer cidadão e em quaisquer condições em que ele se encontre, bastando, portanto, que tenha um direito violado e que este, esteja devidamente reconhecido em tratado internacional do qual seu país faça parte. Dessa forma, para Douzinas (2009, p.270) “De acordo com o direito natural racional, os direitos humanos objetivam reconhecer as características centrais e imutáveis da natureza humana”. Por isso, o Estado detém autonomia para constituir um ambiente no qual prevaleça a preservação dos direitos humanos como um ponto central. E, no contexto atual, o direito à cidade tem se ocupado de estudos que levam em conta, como uma condição essencial, os critérios ambientais e as questões sociais.

Nessa perspectiva, emerge uma terceira geração de direitos coletivos como, por exemplo, o direito à redução da pobreza. Nesse sentido, destaca-se a

necessidade de implementação de políticas de desenvolvimento que sejam direcionadas para a contenção desses problemas sociais e que proporcionem o aumento da criação de trabalhos. Porém, as atividades profissionais desenvolvidas não podem ser desassociadas dos princípios que norteiam a sustentabilidade, questão emergente e integrada ao direito à cidade.

Conforme o Artigo 170 da Constituição, ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

III - função social da propriedade; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei (BRASIL, 2016).

De fato, o trabalho da economia solidária ganhou espaço global justamente por ser uma prática humanizadora que confere ao cidadão uma vida mais digna e coerente com as necessidades humanas. Castilhos (2015, p.145) escreveu que a Declaração Universal dos Direitos Humanos coloca a “dignidade da pessoa humana como núcleo de todos os direitos humanos”. O autor afirmou, ainda, que a Declaração tem força jurídica vinculante plena.

Desse modo, convém destacar que essas práticas conseguiram superar as expectativas de seus atores sociais e isso agiu de forma tão intensa que até mesmo o poder público conseguiu se eximir de suas responsabilidades, ou seja, deixou de criar oportunidades dignas para o cidadão domiciliado naquela comunidade. Para Castilhos (2015, p. 144) a Declaração Universal dos Diretos do Homem consolida a afirmação de uma ética mundial para os valores relativos aos direitos humanos. Aduziu, ainda, que isso se justifica como um avanço considerável para a época moderna.

Nesse mesmo contexto, Moraes (2007) fez uma reflexão pertinente ao mencionar os valores inerentes à pessoa humana. Por conta disso, ele aduziu o seguinte conceito de dignidade humana.

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz a pretensão ao respeito por parte das

demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.(MORAES, 2007, p. 60)

Por isso, infere-se que a vida com dignidade é um momento de bem-estar que induz o indivíduo a se engajar pela busca de novas conquistas que lhe satisfaçam plenamente. Isso deve ocorrer no sentido de que ele deve aprender que o seu envolvimento com um trabalho digno, lícito e moral transcende a ideia de remuneração, tendo em vista, que o trabalho é mais do isso, é uma condição essencial para a sua realização digna como homem. O trabalho digno permite ao homem sentir- se útil socialmente e estimulado a permanecer buscando seus ideais. Por isso, pode- se afirmar que o trabalho é um exercício indissociável da natureza humana.

Nesse aspecto, Marques (2007, p. 115-116) apontou que:

[...] a valorização do trabalho humano não apenas importa em criar medidas de proteção ao trabalhador, como ocorreu no caso do Estado de Bem-Estar Social, mas sim admitir o trabalho e o trabalhador como principal agente de transformação da economia e meio de inserção social. Com isso o capital deixa de ser o centro dos debates econômicos, devendo-se voltar para o aspecto, quem sabe subjetivo, da força produtiva humana. A livre iniciativa, bem compreendida, além de reunir os alicerces e fundamentos da ordem econômica, também deita raízes nos direitos fundamentais. É daí que surge a observação de que as leis restritivas da livre iniciativa, vale dizer, aquelas que asseguram o acesso de todos ao livre exercício de profissão ou ofício, devem observar o conteúdo essencial dos direitos fundamentais, funcionando como uma espécie de limite negativo ao legislador, fazendo valer o princípio da dignidade da pessoa humana, art. 1º, III, da Carta de 1988 [...].