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Principio do mar livre 20010507

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Academic year: 2021

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(1)Direito Internacional Público. A liberdade do mar-alto. Rogério Bravo 20010507 2.º ano Departamento Direito Turma A UAL 2002 / 2003.

(2) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. E tu, nobre Lisboa, que no mundo Facilmente das outras és princesa, Que edificada foste do facundo Por cujo engano foi Dardânia acesa; Tu, a quem obedece o Mar profundo, Obedeceste à força Portuguesa, Ajudada também da forte armada Que das Boreais partes foi mandada. Canto III. Figura: on-line no site do Navio-escola Sagres (http://www.marinha.pt/sagres/index.html).. 2.

(3) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Índice. Nota introdutória ____________________________________________________________4 Brevíssima introdução histórica ______________________________________________5 A actual soberania e território ________________________________________________6 Direito do mar e direito marítimo______________________________________________7 Tribunais especiais ____________________________________________________________________ 8. Do Direito Marítimo __________________________________________________________9 Mar ______________________________________________________________________10 Navio ____________________________________________________________________10 A figura de capitão _________________________________________________________11. Do Direito do Mar ___________________________________________________________12 Águas interiores___________________________________________________________12 Mar territorial______________________________________________________________13 A plataforma continental ____________________________________________________15 O alto-mar ________________________________________________________________16. As liberdades do alto-mar ___________________________________________________17. Índice alfabético ___________________________________________________________20 Bibliografia _______________________________________________________________21 Legislação portuguesa _____________________________________________________22 Sites consultados__________________________________________________________22. 3.

(4) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Nota introdutória O presente trabalho decorre da necessidade de classificação do aluno no âmbito da Cadeira de Direito Internacional Público do Departamento de Direito da Universidade Autónoma de Lisboa e foi determinado pelo Ex.mo. Prof. José Amorim e pela Ex.ma. Professora Sónia Reis, docentes universitários. Estes indicaram vários temas, a saber: -. O costume selvagem; Os modos de criação dos novos Estados; O indivíduo como sujeito de Direito Internacional; A delimitação da plataforma Continental; A liberdade do Mar-Alto. Atendendo ao leque de temas propostos, o signatário propõe-se abordar o subordinado ao título “A liberdade do mar alto”, por ser um título que se reporta a matéria que ainda não tinha abordado à altura da indicação dos trabalhos, sendo um dos objectivos precisar o significado do tema e enquadra-lo minimamente na actualidade. A meu ver o desafio consiste em apresentar a matéria relacionada, em pouco mais de 15 páginas úteis, demonstrando a recolha de informação pertinente para o tema e simultaneamente, ficar de posse dos instrumentos mínimos de recuperação de informação que permita a qualquer momento continuar o aprofundamento desta matéria. Este trabalho deverá assim consistir num texto propedêutico, mas simultaneamente num repositório mínimo de doutrina e de legislação aplicável.. 4.

(5) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Brevíssima introdução histórica Depois dos Fenícios, durante o auge do Império Romano, a ideia de que o Mediterrâneo era “mare nostrum” não destoava do domínio efectivo terrestre. A ideia subjacente é simples: os mares não se partilhavam5. Já do séc. XVII “As leis da Guerra e da Paz”, datado de 1625, tem sido considerado o primeiro tratamento da ética da guerra e é a obra de Hugo Grócio1 mais indicada em estudos de teor histórico, filosófico e político; mas é também considerado um tratado de Direito internacional2 e por isso aquele autor tem sido considerado o fundador do ramo de Direito internacional. Em 1608 surgiu, sabe-se hoje que também por Grócio, primeiro em “De jure praedae” e depois num parecer advogando a liberdade dos mares - “Mare Liberum” 3, a que, em 1625, se oporia, tal como o havia feito John Selden, o jurisconsulto português Serafim de Freitas em, “De Justo imperio Lusitanorum Asiatico”, defendendo precisamente o contrário. A teoria do “mare clausum”, (Selden, J.), era na pratica, defendida pelas principais nações empreendedoras de navegadores, (Portugal4, Espanha, Inglaterra, Repúblicas marítimas da península itálica e escandinavos), pela qual dividiam uma soberania ou um domínio sobre rotas marítimas de comércio e por consequência, de mares5. A percepção de que o “Mar livre” era essencial à afirmação da lógica de poder6 e de comércio e portanto de domínio da Europa, conduziu à prática da livre navegação, em que a partir do século XVIII o alcance efectivo do tiro de canhão a partir da costa era a medida da restrição à livre navegação.. 1. KENNY, Anthony – História concisa da filosofia ocidental. MARQUES, Mário Reis – História do Direito português Medieval e Moderno. Também GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 17, 22 a 25. 3 Iden, pág. 121; Em sentido idêntico, SOARES, Albino Azevedo – Lições de Direito Internacional Público, pág. 54 e ss. E também GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 23 e ss.. Posição ligeiramente diferente de DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público, para quem “Mare liberum” é um capítulo do parecerer “De jure praedae” (pág. 1021). 4 em relação ao Atlântico Sul e ao Índico, Portugal beneficiava da intervenção e reconhecimento pontifício (bula Papal de Alexandre VI). 5 sobre as teorias globais do poder mundial na perspectiva da teoria do poder marítimo, CORREIA, Pedro de Pezarat – Manual de geopolítica e geoestratégia (pág. 153 e ss). 6 sobre a actual análise geopolítica da importância dos mares, CHAUPADRE, Aymeric – Introduction à l’analyse géopolitique (pág. 212 e ss.); 2. 5.

(6) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. A implicação desta ideia de liberdade, para além de histórica, é a de ficar fundamentada, mais tarde, a extensão da territorialidade em sentido clássico, ao navio em alto-mar, segundo o pavilhão exibido, sendo hoje aceite que a competência do Estado do pavilhão é exercida de forma exclusiva.. A actual soberania e território Portugal é uma República, um Estado de Direito, democrático, baseado na soberania popular – art. 1.º e art. 2.º da Constituição da República Portuguesa. Um dos elementos constitutivos do Estado habitualmente considerado é o território. Este assume importância especial em sentido político internacional na medida em que o Estado exerce a sua soberania sobre esse território, defendendo-o em termos políticos, militares e económicos. Contemporaneamente e em sentido político, um território nacional tende ser considerado como um espaço demarcado, historicamente definido delimitado por fronteiras, quer naturais, quer artificiais7 ou ambas engloba diferentes domínios geográficos: o terrestre, (a terra firme), fluvial e o marítimo.. a e e o. Sob a epígrafe “Território”, o art. 5.º da CRP, (em especial o n.º 2), diznos8: Artigo 5.o (Território) 1. Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e os arquipélagos dos Açores e da Madeira. 2. A lei define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica exclusiva e os direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos. 3. O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras.. 7. SOARES, Albino Azevedo – Lições de Direito Internacional Público, pág. 218. artigos da Constituição Portuguesa relacionados com este preceito: 9.º al. a); 161.º al. j); 164.º al. g); 292.º. Legislação complementar da C.R.P.: Plataforma continental (Lei 2080, de 21 de Março de 1956); Jurisdição do mar territorial e da zona contígua (L. 2130, de 22 de Agosto de 1966); Largura e limites do mar territorial e zona económica exclusiva (L. 33/77, de 28 de Maio); Zona económica exclusiva e seus limites (D.L. 52/85, de l de Março); Exercício da pesca nas aguas sol') jurisdição portuguesa (D.L. 383/98, de 21 de Novembro); Linhas de fecho e de base nas costas do continente, dos Açores e da Madeira (D.L. 495/85, de 29 de Novembro); Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. 8. 6.

(7) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Pela lei fundamental portuguesa, a soberania portuguesa estende-se, com determinados limites, aos espaços marítimos adjacentes designados por “águas territoriais” e “zona económica exclusiva”. Como veremos, importa explicitar estes conceitos, bem assim a par de outros, para chegarmos à delimitação do que se poderá ter por “liberdade do alto-mar”. É assim que o conceito de território se reflecte no de “espaço territorial” para efeitos de política de Defesa Nacional e por sua vez nas actuais missões da Marinha portuguesa: “A política de Defesa Nacional tem como principal objectivo a defesa do território nacional em toda a sua extensão, que abrange o Continente e as Regiões Autónomas dos Açores e Madeira. Na definição dessa política, devem inscrever-se os seguintes elementos matriciais: a) o território que se define, nas suas referências cardeais, entre o ponto mais a Norte, no concelho de Melgaço, até ao ponto mais a Sul, nas ilhas Selvagens; e do seu ponto mais a Oeste, na ilha das Flores, até ao ponto mais a Leste, no concelho de Miranda do Douro; b) o carácter descontínuo do nosso espaço territorial; c) o espaço estratégico de responsabilidade nacional que integra, até aos seus limites, as nossas águas territoriais, o espaço aéreo nacional, os fundos marinhos contíguos, a zona económica exclusiva e a zona que resultar do processo de alargamento da plataforma continental.”9. Direito do mar e direito marítimo As questões jurídicas do Mar integram-se num ramo do Direito marcadamente Público, o Direito do Mar. Diz-se “marcadamente”, porque se trata de um ramo do Direito que abrange tanto normas de Direito Internacional Público como Privado10. É por isso que a doutrina tendia a acolher a separação de terminologia entre Direito do Mar (Law of the Sea) e Direito Marítimo (Maritime Law), este referente a aspectos mercantilísticos e técnicos do âmbito marítimo, de. 9. on-line em http://www.mdn.gov.pt/Destaque/destaque.asp no mesmo sentido, ESTEVES, José M. P. – Introdução ao armamento - navio, comandante e piloto.. 10. 7.

(8) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. onde sobressaem as condições marítimos hoje considerados.11. de. utilização. dos. diferentes. espaços. Outros autores12 assentam a diferença entre uma e outra designação com base no sistema jurídico, em que à primeira corresponde o sistema anglosaxónico e à segunda o sistema jurídico de base romanista. Mas no plano internacional parece agora vingar a expressão “Direito do Mar” 13, conceito mais recente em relação aos restantes; e diz-se mais recente, porque foi adoptado em 1947 pela Assembleia Geral da ONU para caracterizar as três Conferências na base do que hoje consiste a codificação da parte do Direito Internacional relativa aos espaços marítimos, comumente referida por Convenção de Montego Bay (terminada em 1982 e em vigor desde 16 de Novembro de 1994; ratificada pelo Estado Português em 3 Novembro de 1997, sob declaração14) .. Tribunais especiais As relações internacionais geram conflitos internacionais. Tanto em Direito Internacional como interno existem tribunais especiais marítimos. É o caso, no plano internacional, do Tribunal Internacional de Direito do Mar15 situado em Hamburg, Alemanha, constituindo um dos quatro16 mecanismos de dirimição de conflitos internacionais previstos na Convenção de Montego Bay. No ordenamento jurídico português, cabe aos Tribunais Marítimos 17 com algumas excepções de reserva, (como a presa para o Tribunal Marítimo de Lisboa), conhecerem de matéria cível, de matéria contra-ordenacional e com competência de execução das decisões que proferir18.. 11 12 13 14. DIOGO, Luís Costa et al, Direito internacional do mar, pág. 27 e ss. GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, páginas iniciais. idem Decreto do Presidente da República n.º 67-A/97 de 14 de Outubro. Informação on-line em língua inglesa. em http://www.un.org/Depts/los/index.htm. 15. Informação on-line em http://www.itlos.org/start2_en.html; composição e modo de fincionamento em DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público, pág. 880; 16 os outros três são o Tribunal Internacional de Justiça e dois outros tipos de tribunais arbitrais. 17 os Tribunais marítimos são Tribunais Especiais previstos na Lei 3/99, de 13 de Janeiro (art. 78.º Espécies e 90.º - Competência) e Regulado pela Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro. Tribunal Marítimo de Lisboa, situado na Praça da Armada, em Lisboa. 18 Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro; das diferentes competências: art. 5.º a 8.º; da competência cível, as indicadas no art.º 4.º: Indemnizações devidas por danos causados ou sofridos por navios, embarcações. 8.

(9) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. A Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais atribui-lhe o conhecimento de entre outras, de questões específicas em matéria cível19, ligadas à propriedade e à posse de coisas assentes nos fundos do mar ou dele provenientes20.. Do Direito Marítimo Apesar do que se deixou quanto à diferenciação entre Direito Marítimo e Direito do Mar, para efeitos deste pequeno relatório opto por essa distinção apenas para abordagem dos limites marítimos num título separado. Parece pacífica a ideia de que se podem encontrar fontes remotas e fontes próximas deste ramo do Direito, em que as primeiras são constituídas por textos e compilações de usos e de costumes que remontam à Antiguidade, revelados por textos gregos e romanos 21. Em relação às chamadas “fontes próximas”, indicam-se as suas raízes no Código de Comércio Francês de 1808, a par de usos, de costumes, pela. e outros engenhos flutuantes, ou resultantes da sua utilização marítima; Contratos de construção, reparação, compra e venda de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, desde que destinados ao uso marítimo; Contratos de transporte por via marítima ou contratos de transporte combinado ou multimodal; Contratos de transporte por via fluvial ou por canais, nos limites do quadro I anexo ao Regulamento Geral das Capitanias; Contratos de utilização marítima de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, designadamente os de fretamento e os de locação financeira; Contratos de seguro de navios, embarcações e outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo e suas cargas; Hipotecas e privilégios sobre navios e embarcações, bem como quaisquer garantias reais sobre engenhos flutuantes e suas cargas; Processos especiais relativos a navios, embarcações, outros engenhos flutuantes e suas cargas; Decretamento de providências cautelares sobre navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, respectiva carga e bancas e outros valores pertinentes aos navios, embarcações e outros engenhos flutuantes, bem como solicitação preliminar à capitania para suster a saída das coisas que constituam objecto de tais providências; Avarias comuns ou avarias particulares, incluindo as que digam respeito a outros engenhos flutuantes destinados ao uso marítimo; Assistência e salvação marítimas; Contratos de reboque e contratos de pilotagem; Remoção de destroços; Responsabilidade civil emergente de poluição do mar e outras águas sob a sua jurisdição; Utilização, perda, achado ou apropriação de aparelhos ou artes de pesca ou de apanhar mariscos, moluscos e plantas marinhas, ferros, aprestos, armas, provisões e mais objectos destinados à navegação ou à pesca, bem como danos produzidos ou sofridos pelo mesmo material; Danos causados nos bens do domínio público marítimo; Propriedade e posse de arrojos e de coisas provenientes ou resultantes das águas do mar ou nestas existentes, que jazem nos respectivos solo ou subsolo ou que provenham ou existam nas águas interiores, se concorrer interesse marítimo; Presas; Todas as questões em geral sobre matérias de direito comercial marítimo. 19 GUEDES, Armando M. Marques, – Direito do Mar, pág. 147 e ss. iden para legislação especial portuguesa aí citada relativamente a aspectos do domínio da arqueologia subaquática. 20 al. r) art. 90.º da Lei 3/99. 21 ESTEVES, José M. P. – Introdução ao armamento - navio, comandante e piloto.. 9.

(10) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. jurisprudência e pela Doutrina22, daqui emergindo quatro famílias de legislação marítima: modelo francês, um modelo formado pela Alemanha, Japão e Turquia, um modelo anglo-saxónico e finalmente, um modelo constituído pelos chamadas legislações modernas, por em geral adoptarem as Convenções Internacionais.. Mar Ao conceito proposto pelos geógrafos,23 como “conjunto de espaços de água salgada”, contrapõe-se o conceito jurídico, que incluirá outros elementos: o Os espaços de água salgada não constitui mar senão na faceta de permitirem a comunicação livre e natural sobre as extensões que cobre; o O Direito Internacional do mar abrange o se u solo, o seu subsolo e em alguns aspectos o espaço aéreo sobrejacente; São hoje diferentes espaços para além da superfície, abrangidos por legislação atinente à sua exploração.. Navio Inerente à comunicação livre e natural no mar está o factor material que o permite e por isso mesmo há a necessidade de nos referirmos ao que se entende por navio e implicações jurídicas mínimas a ele ligadas24. A definição mais simples parece ser a de parte da doutrina que o define como engenho flutuante capaz de navegação25, assim classificado para. 22. idem (pág. 20 e ss). seguindo de perto os ensinamentos de DINH, Nguyen Quoc et al – Direito Internacional Público; 24 SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 241. Cf. também com DINH, Nguyen Quoc et al – Direito Internacional Público, pág. 971 a 973. 25 DINH, Nguyen Quoc et al – Direito Internacional Público, pág. 972; a navegabilidade é, na opinião deste autor, critério de distinção essencial entre navio e pontões, docas flutuantes e ilhas artificiais, todos considerados engenhos flutuantes. Segundo outro autor, (ESTEVES, José M. P. – Introdução ao armamento - navio, comandante e piloto), a problemática é extensível aos “aerobarcos”, (ou ainda segundo a designação de outros, navios pairantes), “cujo estatuto continua por definir, havendo fortes reticências em classificá-los quer como aeronaves quer como navios”, propondo a designação de “embarcação” para se referir a todos os meios de deslocação na água, por contraposição a “navio”, que se refere a um meio de transporte no mar. Ainda sobre a problemática da integração de “aeronave” no conceito de navio, cf. GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito de Passagem inofensiva no novo Direito Internacional do Mar, pág. 36. 23. 10.

(11) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. efeitos de distinção de outros engenhos flutuantes mas que não navegam autonomamente. O navio é considerado ou como público ou como privado, sendo critério de distinção entre ume outro o desempenho de uma função essencialmente estadual, caso em que se considerará “navio público”26. No caso português, o Regulamento Geral das Capitanias propõe outras formas de classificação, referindo-se à possibilidade das embarcações5 da Marinha Mercante poderem ser divididas em grupos distintos 27. O navio tem elementos de identificação, como o nome, a arqueação, (tonelagem bruta e ilíquida), a nacionalidade, (para a determinação da qual importa atender ao pavilhão, ao título de propriedade, ao passaporte de embarcação e ao rol da tripulação) e finalmente, o registo constante no porto de registo.. A figura de capitão O do navio faz parte a sua equipagem. Uma curta nota sobre o capitão, uma das figuras mais relevantes em termos de Direito Marítimo, porque sobre este recaem responsabilidades de diverso tipo que advêm de diferentes funções. Em termos nacionais, algumas vêm expressas em diferentes diplomas do ordenamento jurídico interno, anteriormente consignadas no Livro Terceiro do Código Comercial28 e outros Regulamentos 29.. 26. SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 241. Segundo este autor, os navios podem ser classificados em duas grandes categorias: os navios privados (ou mercantes) e os navios públicos, subdividindo-se estes em navio públicos civis e navios de guerra. 27 Cf. ESTEVES, José M. P. – Introdução armamento, navio, comandante e piloto, página 41; as embarcações podem considerar-se como agrupáveis nas categorias de comércio, de pesca, de recreio, de rebocadores e de auxiliares. Segundo o mesmo autor, “classificação” ou “navio classificado” pode ser, por outro lado, um termo empregue para significar que o navio cumpre com determinados requisitos técnicos (pág. 51). 28 Regime jurídico da cabotagem marítima - DL 194/98, de 10 de Julho, alterado pelo DL 331/99, de 20 de Agosto. — Inspecção de Navios Estrangeiros (RINE) – DL 195/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico da actividade dos transportes marítimos – DL 196/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico da actividade dos transportes com embarcações de tráfego local – DL 197/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico da actividade do gestor de navios – DL 198/98, de 10 de Julho, alterado pelo DL 156/2000. de 22 de Julho. — Regulamento do sistema tarifário dos portos nacionais - DL 200/98, de 10 de Julho, com as alterações do DL 539/99, de 13 de Dezembro. — Estatuto legal do navio – DL 201/98, de 10 de Julho. — Responsabilidade do proprietário do navio e das entidades que o representam – DL 202/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico da salvação marítima – DL 203/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico relativo à tripulação do navio – DL 384/99, de 23 de Setembro. — Registo de pessoas que viagem em navios de. 11.

(12) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Basicamente as funções do comandante parecem poder resumir-se a quatro tipos (técnicas, comerciais, públicas e disciplinares), sendo particularmente relevantes para o Direito Internacional Privado as terceiras indicadas, por força dos diferentes autos de ocorrência com interesse para o registo civil (nomeadamente óbitos, naufrágio, nascimentos, desaparecimento)30. Destaca-se também a sua obrigação de prestar socorro 31. Sendo uma figura com diversas responsabilidades, no n.º 4 do art. 94 da Convenção de Montego Bay de 1982 encontram-se enumeradas algumas obrigações de inspecção, de garantia de manutenção e de tripulação, que recaem sobre os Estados, tendo em vista a segurança da navegação.. Do Direito do Mar Águas interiores Visto de passagem o “Direito Marítimo”, (o Direito do Mar técnico?), apresentam-se em revista alguns conceitos ligados ao “Direito do Mar”, infelizmente em foco devido aos recentes desastres marítimos com grande repercussão ecológica. Perceber-se-á que as matérias de um e do outro “Direitos”, se entrecruzam. Segundo alguns autores, excluem-se do conceito de Direito do Mar as superfícies de água doce (como exemplo os rios, os lagos, os rios que coincidem com linha de demarcação das fronteiras terrestres). As “águas interiores” definem-se como "as águas situadas entre passageiros – DL 547/99, de 14 de Dezembro. — Transporte marítimo de mercadorias – DL 352/86, de 21 de Outubro. — Transporte de passageiros pôr mar - DL 349/ 86, de 17 de Outubro. — Contrato de fretamento – DL 191/87, de 29 de Abril. — Aplicação da Convenção Internacional de Linhas de Carga, de 1966, a que Portugal aderiu pelo DL 49 209, de 26 de Agosto de 1969 – Regulamentada pelo DL 189/98, de 10 de Julho. — Regulamento do serviço radioeléctrico das embarcações – Aprovado pelo DL 190/98, de 10 de Julho. — Regime jurídico aplicável aos meios de salvação de embarcações nacionais – DL 191/98, de 10 de Julho. — Aplicação do Código Internacional de Gestão para a Segurança da Exploração dos Navios e para a Prevenção da Poluição – DL 193/98, de 10 de Julho. 29 Regulamento Geral das Capitanias - Aprovado pelo DL 265/72, de 31 de Julho, e depois alterado pela Lei 35/86, de 4 de Setembro, pelo DL 162/88, de 14 de Maio, pelo DL 55/89, de 22 de Fevereiro e pelo DL 208/2000, de 2 de Setembro. A Portaria n. 32/90 de 16 de Janeiro, alterou o quadro n.º 2, anexo ao DL 265/72. 30 ESTEVES, José M. P. – Introdução armamento, navio, comandante e piloto, pág. 137 e ss., onde se enunciam cada uma das quatro funções do capitão ali indicadas. 31 art. 98 da Convenção sobre Direito do Mar de 1982; sobre aquela obrigação e a possibilidade ou não de se remunerar o salvamento, cf. RAPOSO, Mário – Estudos sobre o novo Direito Marítimo, pág. 104 e ss. Na mesma obra, considerações profundamente críticas acerca da legislação portuguesa sobre “salvação marítima”, integrando em estudo crítico o texto da Convenção Internacional de 1989 sobre Salvação.. 12.

(13) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. a linha normal da maré-baixa e o território terrestre", ficando assim abrangidas as "águas dos portos, os golfos, as baías os estuários, os mares internos, os estreitos e canais". Estas "águas interiores" são para todos os efeitos território estadual, submetidas à soberania do Estado ribeirinho ou costeiro, onde a soberania deste nem encontra excepção quanto ao direito de passagem inocente32: tem que haver autorização do Estado costeiro para sulcar essas águas. Contudo, a prática é de uma permissão tácita para a navegabilidade naquelas águas.. Mar territorial Este conceito abrange o espaço entre a "linha normal de maré baixa até uma distância sobre a qual não há unanimidade de pontos de vista.", conforme art. 1.º da Convenção sobre Mar territorial e a Zona Contígua 33: “CONVENÇÃO DE GENEBRA SOBRE O MAR TERRITORIAL E A ZONA CONTÍGUA DE 29 DE ABRIL DE 1981 Os Estados partes na presente Convenção acordaram nas disposições seguintes: PRIMEIRA PARTE MAR TERRITORIAL SECÇÃO l DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo l.º l. A soberania do Estado estende-se, para além do seu território e das suas águas interiores, a uma zona de mar adjacente às suas costas, designada sob o nome de mar territorial. 2. Esta soberania exerce-se nas condições fixadas nas disposições dos presentes artigos e pôr outras regras de direito internacional. Artigo 2.° A soberania do Estado ribeirinho estende-se ao espaço aéreo superior ao mar territorial, e bem assim ao leito e ao subsolo deste mar. SECÇÃO II LIMITES DO MAR TERRITORIAL Artigo 3.°. 32. GOUVEIA, Jorge Bacelar – O Direito de passagem inofensiva no novo Direito Internacional do Mar; para o autor, trata-se de um direito de gozo; pág. 131. 33 “Aprovada, para ratificação, pelo Decreto-Lei n.° 44.490, de 3 de Agosto de 1962. A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de que Portugal é parte, nos termos do disposto no seu artigo 311°, prevalece, nas relações entre os Estados Partes, sobre esta Convenção de Genebra sobre o mar territorial e a zona contígua, que data de 29 de Abril de 1958.”. Extraído de MARTINS, Afonso D’Oliviera – Textos Básicos de Direito do Mar, 2.ª ed. AAFDL, 2000.. 13.

(14) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Salvo disposição em contrário contida nos presentes artigos, a linha de base normal para medir a largura do mar territorial é a linha da maré baixa, ao longo da costa, conforme marcada nas cartas .”. No caso português a largura do mar territorial foi fixada pela Lei 33/77 de 28 de maio em doze milhas marítimas34, (n.º 1 do art. 1.º), absorvendo nesta fixação o espaço designado por “zona contígua”35 em consonância com o Direito Internacional, já que deste resulta ilegítima a pretensão de qualquer Estado de reivindicar sob aquela designação, qualquer extensão para além daquele limite 36. O Estado costeiro pode mesmo exercer diversos actos revestidos de imperii, uns de carácter económico e neste caso de forma exclusiva, outros de carácter cível (como o arresto 37) e bem assim outros de carácter penal, abrangendo tanto a fiscalização (prevenção geral) como a repressão, havendo inclusive direito a encetar perseguição a navios nacionais ou estrangeiros desde que reunidas determinadas condições. Tal perseguição é conhecida como "hot persuit"38 e constitui um direito segundo o qual um Estado pode perseguir, (através de navios e de aeronaves exibindo sinalética inequívoca de que estão ao serviço de um serviço público), inspeccionar, deter e desviar um navio arvorando pavilhão diferente desse Estado, desde que existam razões sérias de que foram violadas leis e regulamentos. Aqui, (Mar Territorial), a soberania do Estado costeiro é quase completa e diz respeito também ao espaço aéreo suprajacente, às águas, ao leito e ao subsolo desta área em causa, mantendo-se, segundo o mesmo autor, o direito de passagem inofensiva39 de todos os navios, incluindo os de guerra 40, desde que na observância de determinadas circunstâncias.. 34. “milha; [...]; ~ marítima: comprimento de 1852 m; [...]; (Do lat. milîa, «id.»)”; on-line, http://www.portoeditora.pt. 35 a “Zona Contígua” portuguesa foi extinta pelo n.º 1 do art. 11 da mesma Lei 33/77 de 28 de Maio; in GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, com repercussões sobre questões ligadas à defesa do património cultural; pág. 145 a 147. 36 SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 230 e 234. 37 sobre este, cf. RAPOSO, Mário – Estudos sobre o novo Direito Marítimo, pág.167. 38 art. 111 da Convenção de Montego Bay. Análise do conceito, condições de execução e limites in SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 227, 231 e 232, 242. DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público, pág. 1026 e ss. 39 sobre este conceito, em concreto, GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito de Passagem inofensiva no novo Direito Internacional do Mar, pág. 25 e ss.; idem, para a distinção entre a “liberdade do mar-alto” e o “direito de passagem inofensivo ”: este só tem aplicação em águas submetidas à soberania dos Estados. 40 SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 227 e 228. Uma curta nota para assinalar a capacidade de os navios de guerra poderem conceder asilo político – o “asilo naval”: pág. 225.. 14.

(15) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. São os chamados “poderes de polícia” reconhecidos aos Estados pelo Direito Internacional (Convenções de Montego Bay e de Genebra), que os consignam e graduam. Admitem-se actos como a “aproximação”, “reconhecimento do pavilhão”, “visita e inspecção”, “desvio”, “apreensão” e “imobilização”, “confisco” e mesmo a “destruição”. O direito Internacional integrou no texto da Convenção de Montego Bay deveres de cooperação a repressão em dois domínios, a saber, o narcotráfico e o de emissões radiofónicas e de televisão contrárias à regulamentação internacional. E em termos de protecção e preservação do meio marinho41 a mesma Convenção sintetizou na Parte XII diversos acordos de cooperação anteriores, (por exemplo, os referentes ao Canal da Mancha, Mar do Norte e Mediterrâneo, respectivamente, de Bona de 1983 em relação aos primeiros e de Barcelona de 1969 em relação ao último) e incumbiu os Estados de promoverem a legislação adequada ao tema, tratando inclusive de alguns tipos de poluição (artigos 207 e ss.).. A plataforma continental Em termos geológicos, “Plataforma Continental – Zona adjacente a um continente (ou em redor de ilhas, no caso da plataforma insular) que se estende a partir do nível das marés baixas até a uma profundidade onde existe habitualmente um nítido aumento de declive em direcção às grandes profundidades oceânicas. Estas superfícies são planas com inclinações reduzidas (5º), afundando até 200 m. A sua extensão média é de 60 Km, podendo variar entre 1000 Km no Árctico, e alguns Kms nas costas oeste da América do Norte e do Sul.” 42 Parece haver o entendimento43 de que a partir de 1945 (28/9/1945 declaração Truman), se reconhece o direito aos Estados ribeirinhos de poderem explorar recursos naturais do leito do mar e do subsolo da plataforma continental correspondente ao alto-mar. Àquela declaração segui-se a Convenção de Genebra de 1958 sobre a Plataforma Continental, que a definiu, ao mesmo tempo que legitimava o. 41. DINH, Nguyen Quoc, Direito Internacional Público, pág. 1028 e ss.; iden para extensa enumeração das principais convenções sobre ambiente marinho, pág. 1030. 42 referência disponível on-line em http://www.horta.uac.pt/ct/forum/questoes/index.html 43 SOARES, Albino Azevedo – Lições de Direito Internacional Público; pág. 234 e ss.; parece tratar-se de uma declaração unilateral que fundou um costume internacional; este, foi incluído na Convenção de Genebra de 1958.. 15.

(16) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. costume assente na Declaração Truman. Por aquele texto, a exploração económica em causa não podia colidir com a liberdade de navegação e de sobrevoo do alto-mar, sendo que o actual texto da Convenção de Montego Bay o reafirma, estabelecendo os limites, os direitos e os deveres dos Estados ribeirinhos – art. 76 e ss.. O alto-mar Segundo o Senhor Professor Albino Azevedo Soares, (Lições Direito Internacional Público), a Lei 33/77 de 28 de Maio fixa as seguintes extensões: - 12 milhas marítimas para o mar territorial; - 200 milhas marítimas para a chamada Zona Económica Exclusiva (ZEE).. Figura 1: representação da ZEE portuguesa (retirado do site do Instituto Hidrográfico, www.hidrografico.pt). Esta fixação de espaços é importante na medida em que o "o alto mar é formado por «todas as partes do mar que não pertencem ao mar territorial. 16.

(17) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. ou às águas interiores dum Estado»"44. Trata-se de uma definição “de forma negativa [...] ou por exclusão de partes” 45 Em termos de regime jurídico daquele espaço temos que em princípio, no alto mar cada navio está sujeito à jurisdição do Estado do pavilhão que arvora, “não podendo arvorar mais que um, sob pena se ser equiparado a navio sem nacionalidade”46. A ideia subjacente é de que este espaço não está ao sabor da livre utilização de cada utilizador, mas sim de que se trata de uma coisa comum, uma “res comunis”, da qual todos podem usufruir sem se apropriar” 47 e que engloba “a Zona”, ou seja, os seus recursos e os fundos marinhos, que são considerados património Mundial48, cabendo com aquela utilização a obrigação de utilização pacífica. Para efeito de controlo, foi criada no âmbito da Convenção de Montego Bay uma Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos. Na ZEE cabe ainda o direito de visita, de inspecção e de apresamento nos termos do art. 73 da Convenção, sob a epígrafe “execução de leis e de regulamentos do Estado costeiro”, a este cabendo por isso fixar, com a devida publicidade, todas as medidas que tomar naqueles domínios49. A exploração de todos os recursos naturais na ZEE fica sujeita a critérios de bom senso que se devem traduzir na preservação e protecção do ambiente marinho em geral, bem como dos direitos dos outros Estados.. As liberdades do alto-mar Depois de uma breve (e por isso necessariamente incompleta) passagem pelos tópicos que tivemos por inerentes ao tema principal e após a definição de alto mar a que tínhamos sido conduzidos, percebemos então porque há a presunção50 de liberdade naquele espaço: sobre o alto-mar não se reconhece 44. SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 240. DIOGO, Luís Costa et al, Direito internacional do mar, pág. 79. No mesmo sentido GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 241. 46 SOARES, Albino Azevedo - Lições de Direito Internacional Público; pág. 241; Ainda deste autor se pode extrair que segundo a Convenção de Genebra de 1958, cabe o direito de aproximação e visita; 47 DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público; 48 art. 136 da Convenção sobre o Direito do Mar de 10 de Dezembro de 1982 – Montego Bay. 49 in GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 164 e ss. A ZEE portuguesa está, por sua vez, subdividida em três subáreas, respectivamente correspondentes ao Continente, Madeira e Açores: mesma obra, pág. 172 e ss. A figura 1 pretende ilustrar as divisões referidas. 50 artigos 87 e ss. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 10/12/1982; in AAFDL – 45. 17.

(18) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. soberania territorial dos Estados e nisso mesmo consiste o princípio da liberdade51. E é por isso um espaço aberto a todos os Estados, “quer sejam costeiros ou sem litoral”: assim se consigna no art. 87 Convenção de Montego Bay de 1982. Tradicionalmente e antes desta positivação, entendia -se que tais liberdades se reconduziam a dois planos: liberdade de navegação52 e liberdade de pesca. Mas em Direito Internacional é naquele mesmo artigo que encontramos decompostas as diferentes liberdades que compõem “a” liberdade do alto mar, a saber, a liberdade de navegação53, de sobrevoo, de pesca, de colocação de cabos e de condutas submarinas, de construção de ilhas artificiais e de pesquisa científica. Por isso a doutrina considera estas liberdades como típicas. São as necessidades de exploração de recursos e de avanço tecnológico que estão na base da sua nomenclatura originária e que conduzirão à sua extinção enquanto estatuto autónomo de Alto Mar por força de jurisdições nacionais que lentamente se vão apropriando daquele espaço54, conforme prognóstico algo pessimista, mas no meu humilde entender realista, permitindo-me a este propósito citar55 enquanto transcrevendo, um elucidativo e insubstituível trecho sobre o Alto Mar e necessariamente as suas liberdades: “Figuras como a Zona Contígua, a Zona Económica Exclusiva, a Plataforma Continental e, a fechar por agora o ciclo, a Área (sobre que exercerá jurisdição a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos), são marcos a atestar a progressão no sentido da perda da dimensão originária que possuía. Quando a evolução atingir o seu termo, o Alto Mar deixará de existir. A figura independente, dotada de estatuto próprio, que hoje ele ainda é, ter-se-á fraccionado num conjunto de figuras autónomas em tomo das quais se ordenarão estatutos parcelares diferenciados. É num estádio já relativamente adiantado desta mutação que o Alto Mar presentemente se encontra. Há algumas décadas, o regime característico que lhe cabia era aplicável não apenas à superfície das águas como à espessura delas, à camada aérea que se lhes sobrepunha, e ao leito e subsolo que pôr sob elas se encontrava. Na actualidade, o Alto Mar abarca unicamente a superfície, a espessura das águas e a camada aérea que se lhes sobrepõe. Parte. Textos de Direito Internacional Público, pág. 61 e ss. 51 aqui seguimos DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público, pág. 1022 ss.; “presunção” porque as liberdades indicadas não são absolutas. O autor refere ainda que a Convenção de Montego Bay é omissa às liberdades do mar alto em caso de guerra. 52 correlacionado com o direito de “não interferência” na navegação; 53 tanto em superfície como em profundidade; cf. GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito de Passagem inofensiva no novo Direito Internacional do Mar, pág. 85. Iden, para a diferenciação que o autor coloca quanto à navegação submersa, permitida pelo “principio da liberdade do alto-mar”, mas excluída do direito de passagem inofensiva. 54 “creeping jurisdiction”; GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 245 e ss. 55 GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, pág. 241 e ss.. 18.

(19) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. da superfície e da espessura estão, aliás, sujeitas às restrições e limitações que resultam da existência de zonas contíguas e de zonas económicas exclusivas.”. Segundo o mesmo autor os limites ao exercício daquelas liberdades reduziam-se às liberdades dos diferentes Estados para exercício idêntico. Ultimamente emergem do Direito Internacional subsequente à Convenção de Montego Bay outros tipos de limitações certamente resultantes da consciência político-económica do conceito de escassez dos recursos naturais, sendo que ao novo leque de restrições se ligam deveres de conservação do equilíbrio ecológico do “património comum da Humanidade” responsabilizando, conforme o caso, civil e criminalmente 56 pelo mau uso daquele espaço, como é o caso da ameaça ecológica pela poluição marítima.. É assim que em jeito de conclusão resumo que a “liberdade do Mar-alto” é originária dum costume da navegação e por isso mesmo veio a ser fonte de Direito Internacional, regida hoje pela Convenção de Montego Bay (que por sua vez, integra como vimos costumes internacionais), cada vez mais espartilhada entre zonas de mar definidas por legislação local e juridicamente protegido dos usos negligentes e dos abusos inerentes à sua exploração com vista à sua própria preservação.. Lisboa, 5 de Janeiro de 2003. 56. em Direito Interno: Código Penal, art. 278 a art. 280; v.g. “Legislação” no final do relatório. Em Direito Internacional: art. 235 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar; sobre deveres de preservação e de colaboração nesse sentido: toda a Parte XII da mesma Convenção.. 19.

(20) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Índice alfabético Águas interiores, 12, 13. liberdade de pesca, 18. águas territoriais, 6, 7. liberdade do alto-mar, 7, 18. arresto, 14. mar territorial, 13, 14, 16, 23. As leis da Guerra e da Paz, 5. mare clausum, 5. asilo naval, 14. mare nostrum, 5. capitão, 11, 12. Maritime Law, 7. Convenção de Montego Bay, 8, 15, 16, 18, 19. milha, 14. creeping jurisdiction, 18. milhas marítimas, 14, 16. De jure praedae, 5. narco-tráfico, 15. De Justo imperio Lusitanorum Asiatico, 5. navio sem nacionalidade, 17. Declaração Truman, 16. ONU, 8. direito de passagem inofensiva, 14, 18. princípio da liberdade, 18. direito de passagem inofensivo, 14. res comunis, 17. espaço aéreo, 7, 10, 13, 14. Serafim de Freitas, 5. espaço territorial, 7. território, 6, 13. famílias de legislação marítima, 10. território nacional, 6, 7. fronteiras, 6, 12. Tribunal Internacional de Direito do Mar, 8. hot persuit, 14. Tribunal Marítimo, 8. Hugo Grócio, 5. ZEE. Ver Zona Económica Exclusiva. Law of the Sea, 7. zona contígua, 13, 14. liberdade de navegação, 16, 18. zona económica exclusiva, 6, 7, 23. 20.

(21) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Bibliografia AAFDL – Textos de Direito Internacional Público, 1997, 311p.. CHAUPADRE, Aymeric – Introduction à l’analyse géopolitique, Ellipses, 1999, 320p. CORREIA, Pedro de Pezarat – Manual de geopolítica e geoestratégia – vol. I, Quarteto, 2002, 341p. DINH, Nguyen Quoc – Direito Internacional Público, 4.ª ed. Gulbenkien, 1999, 1230p. DIOGO, Luís Costa et al, Direito internacional do mar, Áreas editora, 2000, 262p. ESTEVES, José M. P. – Introdução ao armamento, navio, comandante e piloto, 1.ª ed. Petrony, 1990, 358p. GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito de Passagem inofensiva no novo Direito Internacional do Mar, Lex, 1993, 162p. GUEDES, Armando M. Marques – Direito do Mar, 2.ª ed. Coimbra, 1998, 278p. LOPES, J. J. Almeida, Tratados Europeus Explicados, 2.ª ed. VISLIS, 2002, 575p. KENNY, Anthony – História Filosofia Ocidental, 1.ª ed. Temas e Debates, 1999, 460p. MARQUES, Mário Reis – História do Direito português medieval e moderno, 2.ª ed. Almedina, 2002, 235p. MARTINS, Afonso d’Oliveira – Textos básicos de Direito do Mar, AAFDL, 2000, 458p. MIRANDA, Jorge – Curso de Direito Internacional Público, 1.ª ed. Principia, 2002, 346p. PEREIRA, André Gonçalves et al – Manual de Direito Internacional Público, 3.ª ed. Almedina, 2001, 691p. RAPOSO, Mário – Estudos sobre o novo Direito Marítimo, Coimbra editora, 1999, 348p. SOARES, Albino Azevedo – Lições de Direito Internacional Público, 4.ª ed. Coimbra, 1996, 435p.. 21.

(22) A liberdade do Mar-alto R. Bravo. Legislação portuguesa Lei Constitucional 1/2001 de 12 de Dezembro, Constituição da República Portuguesa. Lei n.º 2.080, de 21 de Março de 1956, sobre o redime jurídico da plataforma continental. Lei n.º 2.130, de 22 de Acosto de 1966, sobre o mar territorial e a zona contígua. Lei n.º 33/77, de 28 de Maio, sobre a largura e os limites do mar territorial sobre uma zona económica de 200 milhas. Lei n.º 35/86, de 4 de Setembro Tribunais marítimos. Decreto-I.ei n.º 119/78, de 1 de Junho, sobre os limites da zona económica exclusiva. Decreto-I.ei n.º 79/85, de 26 de Março, sobre a linha de 200 metros de profundidade relativa à plataforma continental. Decreto-I.ei n.º 49 5/85, de 29 de Novembro, sobre as linhas de base a partir das quais se mede a largura do mar territorial.. Sites consultados Instituo Hidrográfico. http://www.hidrografico.pt/hidrografico/ Marinha Portuguesa. http://www.marinha.pt/ Ministério Negócios Estrangeiros. http://www.min-nestrangeiros.pt/mne/ Direito do Mar nas Nações Unidas. http://www.un.org/Depts/los/index.htm Tribunal Internacional Direito do Mar. http://www.itlos.org/ Tribunal. http://www.diramb.gov.pt/ Site independente. http://www.unclos.com/index.htm. 22.

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Referências

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