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A natureza jurídica da duplicata virtual e sua relação com o protesto de títulos e outros documentos de dívida no tabelionato de Santa Rosa/RS

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GRANDE DO SUL

FRANCESCA PERIPOLLI

A NATUREZA JURÍDICA DA DUPLICATA VIRTUAL E SUA RELAÇÃO COM O PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA NO

TABELIONATO DE SANTA ROSA/RS

Santa Rosa (RS) 2013

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FRANCESCA PERIPOLLI

A NATUREZA JURÍDICA DA DUPLICATA VIRTUAL E SUA RELAÇÃO COM O PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA NO

TABELIONATO DE SANTA ROSA/RS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos.

Orientador: MSc. Luiz Gustavo Steinbrenner

Santa Rosa (RS) 2013

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim

depositados durante toda a minha

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador Luiz Gustavo Streinbrenner, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“alguns homens vêem as coisas como são, e dizem "Por quê?" Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo "Por que não?" George Bernard Shaw

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise doutrinária acerca da natureza jurídica da duplicata virtual, a fim de propiciar o melhor caminho para conciliar a utilização da duplicata virtual e sua regulamentação no ordenamento jurídico. Parte-se de uma análise da duplicata virtual e consequente necessidade de suporte na legislação para sua adequada utilização acompanhando os negócios do mundo informatizado. Aborda o procedimento do instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida mais especificamente a realidade do Tabelionato de Santa Rosa/RS e sua relação na normatização e inserção da duplicata virtual na sociedade moderna e na legislação. Estuda a natureza jurídica da duplicata virtual a partir dos caracteres criados em computador e sua relação com o protesto de títulos e outros documentos de dívida, mantendo a funcionalidade da duplicata, aliado a necessidade de acompanhar a evolução tecnológica. Faz uma breve análise referente à divergência sobre a admissibilidade da duplicata virtual em nosso ordenamento jurídico. Finaliza concluindo que se deve priorizar a inserção adequada da duplicata virtual no ordenamento jurídico para que o direito acompanhe as necessidades da sociedade informatizada, utilizando o instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida como meio extrajudicial nas resoluções de conflitos de crédito e débito, como já vem ocorrendo no Tabelionato de Santa Rosa/RS.

Palavras-Chave: Duplicata virtual. Divergência doutrinária. Protesto de Títulos e outros Documentos de Dívida. Realidade no Tabelionato de Protestos.

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This final research paper makes a doctrinal analysis about the legal nature of virtual duplicate in order to provide the best way to reconcile the use of virtual duplicate and its regulation in the legal system. It starts with an analysis of the virtual duplicate and consequent need for support in the law for their appropriate use following the computerized business world. It discusses the procedure the

Institute´s Protest of securities and other debt documents specifically the reality of Notary Santa Rosa / RS and its relation to standardization and integration of virtual duplicate in modern society and legislation. Studying the legal nature of the virtual duplicate characters created from the computer and its relation to the protest of securities and other debt documents, while maintaining the functionality of the duplicate, together with the need to monitor technological developments. The research makes a brief analysis regarding the dispute over the admissibility of virtual duplicate in our legal system. It concludes that there should be prioritization of the proper insertion of virtual duplicate the legal right to monitor the needs of the computerized society, using the institute's protest of bills and other documents of debt as a means of conflict resolution on extrajudicial credit and debit as has been occurring in Notary Santa Rosa / RS.

Keywords: Virtual Duplicate. Doctrinal divergence. Protest of securities and other debt papers. Reality of Notary in protest.

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INTRODUÇÃO ... 08

1 DUPLICATA VIRTUAL ... 10

1.1 Origem e evolução da duplicata virtual ... 12

1.2 Características da duplicata virtual ... 15

1.3 A duplicata virtual nas relações comerciais contemporâneas ... 16

2 O POSICIONAMENTO DA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA FRENTE A DUPLICATA VIRTUAL E O PROCEDIMENTO DO PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA ... 19

2.1 Posicionamento da doutrina e jurisprudência ... 20

2.2 O apontamento do protesto da duplicata tradicional ... 23

2.3 O apontamento do protesto da duplicata virtual...26

3 O POSICIONAMENTO DO TABELIONATO DE PROTESTOS ... 28

3.1 Importância do Instituto do Protesto da duplicata virtual ... 31

3.2 A realidade no Tabelionato de Protestos de Santa Rosa ... 32

3.3 Dificuldades e possíveis alternativas ... 36

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da natureza jurídica da duplicata virtual e sua relação com o instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida. Esse estudo é necessário para o entendimento e utilização da duplicata virtual que mantém a funcionalidade da duplicata tradicional aliado à necessidade de acompanhar a evolução tecnológica. Também são analisados os procedimentos do instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida na admissibilidade da duplicata virtual na realidade do Tabelionato de Santa Rosa/RS.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, analisando a divergência doutrinária da natureza jurídica da duplicata virtual, bem como no cenário mercadológico brasileiro e na prática do Tabelionato de Protestos.

No primeiro capítulo, é realizada uma abordagem da discussão doutrinária acerca da natureza jurídica da duplicata virtual e a revolução da informática. Segue uma análise da origem, evolução e características da duplicata virtual e sua importância nas relações negociais contemporâneas.

No segundo capítulo é analisado mais profundamente o posicionamento doutrinário e jurisprudencial frente à duplicata virtual. O apontamento do protesto da duplicata tradicional e o apontamento do protesto da duplicata virtual.

O terceiro capítulo é examinado especificamente o posicionamento e a admissibilidade da duplicata virtual no Tabelionato de Protestos de Santa Rosa/RS, também a importância do instituto do protesto de títulos e outros documentos de

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dívida. Verificou-se a realidade do Tabelionato de Santa Rosa/RS, as dificuldades da desmaterialização e possíveis alternativas, a utilização do instituto do protesto como um meio extrajudicial nas resoluções de conflitos de crédito e débito, como já vem ocorrendo no Tabelionato de Santa Rosa/RS.

A partir desse estudo, verifica-se que a divergência doutrinária acerca da natureza jurídica da duplicata virtual, apresenta características essenciais para que, aliado ao instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida, possibilite a admissibilidade em nosso ordenamento jurídico da duplicata virtual conciliando com a realidade atual.

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1 DUPLICATA VIRTUAL

O direito está caminhando para novos rumos, principalmente nas relações decorrentes dos títulos de crédito. Neste sentido, alguns princípios e teorias necessitam de adaptações para acompanhar os avanços tecnológicos, possibilitando a continuar existindo como mecanismo de soluções na relação creditícia.

Verifica-se no mundo contemporâneo que as relações negociais evoluíram, ocasionando problemas na aplicação das normas vigentes referente aos títulos de crédito e outros documentos de dívida, especificamente relacionado às duplicatas.

A Revolução da Informática trouxe grandes transformações no mercado creditício, ocasionando grandes modificações no tratamento principalmente das duplicatas que causam divergências na aplicação das normas do Direito Cambiário.

Nesse sentido, é o entendimento de Wille Duarte Costa (2008, p. 91):

O que é ainda importante, ao tratarmos de teorias sobre títulos de crédito, é que não podemos nos esquecer de que, nos dias de hoje, a questão é outra e o direito das obrigações está caminhando para outros rumos, principalmente em relação às obrigações decorrentes dos títulos de crédito. Inegavelmente estamos numa transição que nos levará a tomar como ultrapassados princípios e teorias sobre os títulos de crédito.

A doutrina tem discutindo acerca da existência do documento desmaterializado, assim não atendendo aos princípios da cartularidade e da literalidade essenciais para a caracterização dos títulos de créditos.

Para Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 60):

A evolução do título de crédito só se tornou possível com o reconhecimento de que se reveste de determinados princípios, que permitem cumprir a sua finalidade de ser negociável, e, por isso, o legislador sempre teve a preocupação de proteger o terceiro adquirente de boa-fé. Esses princípios correspondem a verdadeiros atributos do título de crédito para diferenciá-lo de outros documentos, e são os seguintes: a) literalidade; b) incorporação ou cartularidade; c) autonomia; d) independência; e) legalidade ou tipicidade.

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As considerações acerca do tema da aceitação da duplicata virtual, emergem a necessidade de um suporte seguro na legislação. O instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida abrange essa temática, para ser usado como meio extrajudicial para resoluções de conflitos de crédito e débito.

Nesse sentido, é o entendimento de Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 35):

A doutrina nacional e alienígena, sempre debateu a matéria quanto à necessidade e utilidade da inserção no direito positivo de uma Teoria Geral dos Títulos de Crédito. O CCB de 2002, ao agasalhar a mencionada Teoria, teve como objetivo restringir a sua aplicação aos títulos atípicos ou inominados, ou seja, títulos de crédito criados pela prática sem lei específica, mas que se subordinam a alguns princípios reguladores dos títulos típicos ou nominados. Assim, o mencionado Código adotou o princípio da liberdade de criação e emissão de títulos atípicos ou inominados, resultantes da criatividade da praxe empresarial, com "base no princípio da livre iniciativa, pedra angular da ordem econômica (Constituição de 1988, arts. 1º e 170º), visando a atender às necessidades econômicas e jurídicas do futuro, tendo em vista a origem consuetudinária da atividade mercantil.

A função da duplicata virtual é a mesma da duplicata convencional, que é incorporar o direito creditício de uma compra e venda mercantil ou de uma prestação de serviço e como vários outros procedimentos, antes realizados manualmente tiveram que se adaptar ao mundo informatizado, virtualizado.

Para Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 19-20):

Diante da atual conjuntura e da forma como as negociações se estruturam na atualidade fica difícil imaginar as vendas escrituradas por notas fiscais faturas sendo documentadas por duplicatas mercantis, tal como previstas na Lei de Duplicatas. A inviabilidade da utilização da duplicata tradicional é certa. Grandes e pequenos fornecedores não podem disponibilizar funcionários para a emissão de duplicatas convencionais, postá-las nos Correios para aceite (os Correios têm prazo de trinta dias para devolver o Aviso de Recebimento de uma carta postada), verificar se determinada duplicata foi aceita ou não, se não aceita emitir duplicata por indicação, ou até mesmo ir ao devedor para receber o valor devido. Se o credor optar pela cobrança bancária, esta instituição terá que guardar um enorme volume de títulos, disponibilizando profissionais habilitados ao manuseio dos papéis, além da grande responsabilidade assumida pelo gerente bancário da guarda de documentos de valor pecuniário.

Com as transformações do mundo atual e pelas facilidades inseridas pelos computadores e pela internet, o que aconteceu com a cartularidade foi à adequação a este mundo contemporâneo.

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Para Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 35-36):

A duplicata virtual é documento representativo de dívida, pois representa a dívida contraída por compra e venda de mercadorias ou da prestação de algum tipo de serviço. Não se trata de mera ficha de compensação. Ela foi criada pelas instituições bancárias com a única finalidade de cumprir o papel que seria desempenhado por uma duplicata mercantil ou de prestação de serviços cartularizada em papel, ou seja, sua finalidade é única, explícita e não somente de depósito.

Existe o posicionamento que a duplicata virtual não existe, pelo simples fato de que a duplicata convencional tem modelo próprio, e que esse modelo virtual não estaria dentro dos padrões do modelo original da duplicata.

Nesse sentido, é o entendimento de Wille Duarte Costa (2008, p. 419):

Se o título não pode e nem deve ser alterado na sua feição característica; se o "boleto" bancário não corresponde ao modelo oficial da duplicata; se no "boleto" bancário, via computador, não existe assinatura de quem quer que seja, mesmo criptografada; se não sendo duplicata, a duplicata virtual não é enviada para aceite e não recebe, por isso, aceite algum do sacado; se não é enviada a duplicata virtual ao sacado, a não se para pagamento, o sacado não pode impugná-la nos termos dos arts 8º e 21 da Lei das Duplicatas; essa chamada "duplicata virtual" ou "duplicata escritural" não pode e nem deve existir. É preciso combatê-la, pois não corresponde a um título típico, com base em lei especial. Sendo assim, não é título de crédito, porque espúrio e ilegal. É fruto da doutrina que não sabe onde põe os pés e nem as mãos, auxiliada por Instituições Financeiras que, sem importa-se em ferir a lei e o Direito, querem beneficiar-se do absurdo chamado duplicata virtual, duplicata escritural, duplicata-extrato, duplicata em fita magnética.

Diante dessas divergências doutrinárias, precisamos estudar e encontrar um caminho para a utilização da duplicata virtual, tendo em vista que existem divergências doutrinárias em relação ao enquadramento legal da duplicata virtual. Uma opção já inicialmente prevista, porém ainda não encaixada como deveria, diante da evolução tecnológica, poderia ser inserido em um novo instituto para disciplinar mais especificamente os documentos virtuais.

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A Lei 5.474/68 que dispõe sobre as duplicatas, no seu artigo 15 inciso II e § 2º, iniciou a possibilidade de utilização de indicações de duplicatas em casos específicos:

Artigo 15. A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil, quando se tratar:

II - de duplicata ou triplicata não aceita, contando que, cumulativamente: a) haja sido protestada;

b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria; e

c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.

§ 2º Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo.

O instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida, com o advento da Lei 9.492/97, começou a admitir, além dos títulos de crédito, também outros documentos de dívida, para serem levados a protesto, bem como regulamentou o encaminhamento das duplicatas por indicação:

Artigo 8º Parágrafo Único. Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas.

Artigo 21 § 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.

Verifica-se no Código Civil de 2002, que a possibilidade de utilização dos caracteres criados em computador ou por meio técnico equivalente, constou no Capítulo I nas Disposições Gerais, do Título VIII, referente Dos Títulos de Crédito conforme artigo 889 §3º:

Artigo 889. Deve o título de crédito conter a data de emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.

§3.º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

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Com a regulamentação da utilização dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente, tal como constam nas disposições gerais dos títulos de crédito no Código Civil, reforçando a executividade da duplicata virtual, sendo assim reconhecida como título de crédito.

Nesse sentido, é o entendimento de Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 36-37):

As normas do CCB revelam-se, no entanto, divergentes da legislação cambiária porque: a) consideram-se não escritas no título cláusulas de juros e proibitiva de endosso (art. 890); b) veda o aval parcial (art. 897, § único); c) nos títulos ao portador, o devedor só deverá opor ao portador exceção fundada em direito pessoal, ou em nulidade de sua obrigação (art.906); d) tratando-se de título de crédito à ordem, salvo cláusula em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título (art.914). Por outro lado deve-se chamar atenção para a norma contida no §3 do art. 889, por permitir que o título possa ser emitido "a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo". Trata-se de inovação notável que poderá ajudar a resolver problemas jurídicos relativos à duplicata virtual, decorrente da evolução tecnológica e que reduz a importância do dogma da cartularidade. Assim, se o título virtual está reconhecido pelo parágrafo terceiro do art. 889, que se posiciona nas Disposições Gerais, entendemos que não se poderá mais negar executividade à duplicata virtual, por ser reconhecida como titulo de crédito, e, consequentemente, consubstanciar obrigação líquida e certa, desde que os caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente constem da escrituração do emitente e o título observe os requisitos mínimos previstos no art. 889.

Na esfera estadual do instituto do protesto, temos a Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, instituída pelo Provimento nº 32/06, a qual define que os documentos podem ser apresentados ao Tabelionato em meio magnético ou transmitidos via Internet, preenchendo os requisitos:

Art. 718 – Os dados contidos nos documentos a protestar poderão, também, ser apresentados ao tabelionato em meio magnético ou transmitidos via Internet, desde que o apresentante:

a) – declare em meio papel, ou eletrônico protegido por assinatura digital, ser responsável pela veracidade dos dados gravados, que devem conter todos os requisitos enumerados no art. 717;

b) – entregue o documento original em papel, quando for da essência do título a protestar.

§ 1º – O apresentante é responsável pela veracidade dos dados fornecidos, ficando a cargo do tabelionato a mera instrumentalização dos mesmos, devendo ser mantida a integridade da gravação pelo prazo mínimo de trinta dias.

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§ 2º – Quando transmitidos via Internet, os dados deverão estar protegidos pela assinatura digital do apresentante.

§ 3º – Sempre que haja previsão legal, o documento poderá ser protestado por indicações do apresentante, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo credor ao tempo da emissão do título, vedada a exigência de qualquer outra formalidade não prevista na legislação própria. § 4º – A duplicata de prestação de serviço não aceita deverá estar acompanhada de cópia do contrato que autorizou sua emissão e, quando for o caso, de prova do cumprimento da obrigação contratual.

§ 5º – No caso de prestação continuada de serviço por parte de pessoa jurídica, os documentos mencionados no parágrafo anterior poderão ser substituídos por declaração do apresentante obrigando-se a apresentá-los, caso seja exigido pelo devedor.

§ 6º – O documento redigido em língua estrangeira deverá estar acompanhado da tradução feita por tradutor público juramentado e da certidão de seu registro no Serviço de Títulos e Documentos.

Notadamente, precisamos discutir essa problemática da duplicata virtual por ser um tema que sucinta alguma divergência, porém de inegável relevância na atualidade, interferindo na sociedade e principalmente no instituto dos Títulos de Crédito.

1.2 Características da duplicata virtual

Consiste em dados transmitidos pelos credores, para fins de cobrança junto ao sacado, em formulário padronizado pelo Banco Central, adaptada nas facilidades da cobrança bancária.

Segundo o entendimento de Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 750-751):

Hodiernamente a duplicata virtual vem sendo empregada em larga escala no meio empresarial em decorrência do avanço tecnológico, consistente no registro do crédito por meio magnético, sem cártula, sem papel. O vendedor via computador, saca a duplicata e a envia pelo mesmo processo ao banco, que, igualmente, por meio magnético, realiza a operação de desconto, creditando o valor corresponde ao sacador, expedindo, em seguida, guia de compensação bancária, que, por correio, é enviada ao devedor da duplicata virtual, para que o sacado, de posse do boleto proceda ao pagamento em qualquer agência bancária.

A duplicata virtual, foi adaptada às facilidades da cobrança magnetizada, possuindo os mesmos dados da relação jurídica da duplicata convencional.

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O mercado financeiro apresentou ao mundo o pagamento pela duplicata virtual, prático, célere e cômodo – emissão da duplicata, pelo credor, de qualquer computador e envio, por e-mail, para o Banco mandatário da cobrança; este, por sua vez, a envia por Correio ao devedor, o qual pode pagar em qualquer agência bancária ou estabelecimento dotado desta prerrogativa de recebimentos de títulos(v.g. Correios e Lotéricas) até o vencimento. Caso ocorra algum desentendimento do negócio no interstício da emissão e do vencimento, o credor pode mandar ordem de sustação da duplicata virtual ao banco mandatário. A sociedade negocial brasileira soube perceber tais facilidades e inseri-la como nova forma de cobrança.

A duplicata virtual, como se verá adiante, tornou-se uma alternativa célere e eficiente na utilização da cobrança bancária e na forma em que os negócios são realizados atualmente.

1.3 A duplicata virtual nas relações comerciais contemporâneas

Os títulos de crédito, em relação ao conceito econômico de crédito é um dos institutos mais importantes do direito comercial, por estar ligado diretamente na formação da economia moderna, sendo o instrumento mais adequado na circulação do crédito.

Nesse sentido, é o entendimento de Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 04):

A economia moderna caracteriza-se pela extraordinária velocidade das operações mercantis, tornando necessária uma circulação de riquezas mais rápida que a permitida pela moeda manual, e isso só é possível através do crédito porque viabiliza a imediata mobilização da riqueza produzida. Essa rapidez na circulação das riquezas decorre do maior volume e do custo mais elevado da produção, em razão do consumo ser, de forma progressiva, mais exigente e intenso.

Complementa ainda Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 33-34):

É escrita representativa de um negócio mercantil ou de prestação de serviço, ainda que de forma magnética, e é apta a formalizar o caráter creditício da relação existente entre credor e sacado, e mais, realiza o ápice da relação creditícia, o pagamento com a conveniência de sua facilitação, que pode ser realizado, até a data do vencimento, em qualquer agência bancária, lotérica ou Correios (banco postal). A literalidade é flagrante na duplicata virtual, já que esta contém em seu corpo todas as informações necessárias ao adimplemento, valor, data de vencimento, data de emissão, dados do sacado, dados do credor, praça de pagamento, número do título, entre outros. Exerce o direito nele contido o devedor que paga o crédito por meio da duplicata virtual, o credor ou a instituição financeira que apresenta a duplicata virtual a protesto e aquele que, de acordo com este estudo, tem prerrogativa de executá-la.

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A praticidade da duplicata faz com que sua aceitação na sociedade, alcance um grau cada vez mais elevado devido à evolução das negociações de crédito.

Para Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 05):

O crédito pressupõe uma economia em que o dinheiro desempenha papel significativo, porque torna possível a acumulação de riquezas, que pode ser transformada em poder aquisitivo genérico, facultando ao proprietário dessas riquezas transferir esse poder a outra pessoa, para que possa adquirir os bens e serviços de que necessita. Ademais, o desenvolvimento do crédito foi igualmente facilitado pela Revolução Industrial, pois a instalação de fábricas, exigindo maior quantidade de equipamentos onerosos, não podia ser custeada pelo industrial somente com recursos próprios, fazendo com que tivesse de recorrer a quem detinha maior concentração de capitais.

Nesse sentido Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 19-20):

O mundo dos negócios se estrutura na atualidade como o mundo da rapidez, da praticidade, do menor custo, da pouca burocracia. Tudo isso, de forma tão marcante, a ponto de colocar em grau mais baixo de relevância a segurança jurídica. A necessidade de facilidades tem colocado em cheque a utilização da duplicata tradicional, cartularizada em papel, para ceder lugar à mais nova invenção brasileira: a duplicata virtual.

Os empresários encontraram na duplicata virtual, mecanismos de rotatividade do crédito com a utilização do endosso, que lhes garante recursos para novos investimentos.

Para Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 20):

O mercado mercantil já aderiu à facilidade da duplicata virtual. Diariamente, milhões de brasileiros vão a uma instituição bancária pagar através desta modalidade de cobrança. Já é uma prática comercial, se perfez como um proceder negocial e virou hábito brasileiro. Os tabelionatos de protestos de todo o Brasil aceitam a duplicata virtual como título hábil ao protesto, tanto que este título representa mais de 90% dos títulos apontados a protesto. Mesmo que a lei não reconheça a sua existência válida, ela continuará existindo e sendo utilizada, salvo repressão severa Governista.

A utilização da duplicata virtual ganhou força e legitimidade com o instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida, que regulamentou o encaminhamento a protesto das duplicatas virtuais, através das indicações de duplicatas apontadas por meio eletrônico, propiciando o cumprimento da obrigação

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antes da lavratura do instrumento do protesto, ou exercer seu direito de recusa, em alguns casos conforme necessário pedir a ordem de Sustação de Protesto.

Para Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 382-383):

O protesto tem uma função meramente probatória da apresentação do título de crédito e da recusa de aceite, de pagamento ou de devolução, bem como de outros fatos relevantes para o mundo cambiário. Entretanto, o protesto gera uma presunção apenas relativa da prova do fato cambiário porque cede diante da prova em sentido contrário, como, por exemplo, a não-intimação do obrigado cambiário, declaração inexata de se encontrar em local incerto e não sabido etc. O protesto não é meio de cobrança e nem meio de coação como utilizado na prática por alguns credores, principalmente as instituições financeiras, para que o devedor cambiário sofra reflexos do descrédito. Quando o protesto for indevido e abale a imagem de pessoa natural ou jurídica, levando terceiros a ter fortes dúvidas sobre a sua situação financeira, apesar de não ter acarretado consequências patrimoniais, autoriza a condenação por dano moral.

A realidade dos negócios, no mundo informatizado faz com que a aplicabilidade da duplicata virtual na sociedade seja inevitável nas relações negociais, porém nosso ordenamento jurídico ainda precisa estar preparado para acompanhar essa transformação.

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2 O POSICIONAMENTO DA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA FRENTE A DUPLICATA VIRTUAL E O PROCEDIMENTO DO PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA

O desenvolvimento da informática e a consequente inserção dos títulos de crédito eletrônicos em nosso ordenamento jurídico, provocou uma revisão em alguns princípios essenciais dos títulos de crédito, como o da carturalidade, o da literalidade e o da autonomia.

A doutrina tem discutindo acerca da inexistência de documento materializado, assim não atendendo aos princípios da cartularidade e da literalidade essenciais para a caracterização dos títulos de créditos. Na economia, os títulos de crédito desempenham um papel importante, pela sua função principal de circulabilidade e de negociabilidade e estão acompanhando a evolução da sociedade moderna.

Os títulos de crédito tem lei específica, como a Lei das Duplicatas, Lei do Cheque, Lei da Letra de Câmbio e da Nota promissória, com o Código Civil de 2002, em seu artigo 889 §3º, foi inserida a possibilidade de criar títulos a partir de caracteres de computador ou meio equivalente, o que inovou o entendimento dos doutrinadores. Como se verá adiante.

A possibilidade de apontamento para protesto, de indicações das duplicatas de venda mercantil e de prestação de serviço, torna o instituto do protesto um meio que confere segurança na normatização das relações negociais, sendo requisito para a aceitação da executividade da duplicata virtual.

A utilização da duplicata virtual, pela sua praticidade e agilidade está sendo uma solução para a realidade dos negócios atuais. O Instituto do Protesto de títulos de crédito e outros documentos de dívida, é o instrumento de comprovação da existência do princípio da literalidade do crédito.

O protesto é o meio probatório do inadimplemento e descumprimento da obrigação, sendo ato formal e solene abrangendo não somente os títulos como

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também outros documentos de dívida. Sendo um meio extrajudicial, célere e eficaz de satisfação do crédito, utilizado como remédio ao inadimplemento.

2.1 Posicionamento da doutrina e jurisprudência

A doutrina diverge com relação à natureza jurídica da duplicata virtual, no que se refere a aplicabilidade dos princípios do instituto dos títulos de crédito, como a cartularidade, a autonomia e a literalidade em sua regulamentação.

Nesse sentido, Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 28):

A teoria geral dos títulos de crédito estabeleceu princípios dominantes, já bem sedimentados na doutrina e jurisprudência brasileira, a partir dos quais extrai-se as noções gerais dos títulos de crédito, esclarecem-extrai-se as normas jurídicas disciplinadoras da matéria e balizam-se os debates legislativos na produção das leis além de determinar a diferenciação dos títulos de crédito de outros documentos, identificando-os, por conseqüência, como tais.

Complementa ainda Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 65-66):

O novo Código contém uma disciplina geral para os títulos de crédito, com os seguintes objetivos primordiais: i) autorizar que um documento, presentes os requisitos legais imprescindíveis, seja reconhecido como um título de crédito atípico; ii) prestigiar a vontade jurídica manifestada livremente no seio das relações sociais mercantis; iii) servir de disciplina suplementar aos títulos de crédito típicos ou nominados, naquilo em que houver compatibilidade, iv) conferir aos títulos novos ou aos que vierem a ser criados uma disciplina referencial para remissão, uma vez que, as leis específicas de vários títulos determinam que a eles se apliquem, quando cabíveis, subsidiária ou suplementarmente, as normas sobre as cambiais; e v) dar “respaldo aos títulos de crédito eletrônicos, emitidos por computador ou quaisquer meios técnicos ou eletrônicos( art. 889, §3º, c.c., art. 903)”.

A posição tradicional da doutrina, defende que o protesto por indicações, somente pode ser feito no caso de falta de devolução da duplicata, caso em que é remetida para aceite e não é devolvida pelo sacado.

Nesse sentido, é o entendimento de Wille Duarte Costa (2008, p. 420):

Mas a não exibição da duplicata em papel só se verifica se ocorrer o protesto por simples indicação. Porém, para realizar tal protesto, é preciso provar que a duplicata foi retida pelo sacado. E para ser retida, é preciso que a duplicata tenha sido extraída e remetida ao sacado. Se não for remetida, não tem como ser retida. Essa remessa decorre do §1º do art. 6º, que fixa o prazo de 30

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dias para isso. No entanto, o que é mais marcante está no §3º do art. 21 da Lei 9.492/1997(define os serviços de protesto cambial) que, conceituando o protesto por simples indicações da duplicata, estabelece com muita clareza que: § 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado (...) nas indicações da duplicata, (...).

Complementando Wille Duarte Costa (2008, p. 420):

Então, sendo tudo isso um direito do sacado e obrigação do sacador, a duplicata extraída tem de ser remetida ao sacado para aceite, que é obrigatório, não havendo dúvida quanto à negociação e nenhuma reclamação a fazer para o aceite ser negado. Por isso, duplicata virtual é ilegal, pois não existe, a não ser na mentalidade de alguns doutrinadores que não sabem interpretar o direito vigente.

A outra parte da doutrina contemporânea, defende o protesto por indicação em qualquer caso, não somente quando remetida para aceite. Com esse posicionamento utilizado o artigo 8º da lei 9.492/97, e o artigo 889 § 3º do Código Civil, encontra previsão para o aceite das chamadas duplicatas virtuais.

Para Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 66):

Não houve o intuito de conformar uma disciplina geral de títulos de crédito visando a enumeração e reunião dos dispositivos comuns de parte ou da totalidade de todos os títulos de crédito existentes no sistema. Optou-se por arquitetar uma disciplina básica, genérica, direcionada para os títulos atípicos ou inominados, isto é, àqueles documentos dotados de certas características próprias dos títulos de crédito, criados de conformidade com as exigências e dinâmica dos negócios, porém não previstos em lei.

Complementa Luiz Emygdio F. da Rosa Jr (2004, p. 719-720):

O § único do art. 8º da Lei nº 9.492, de 10-9-97, em notável inovação, veio a permitir que as indicações a protesto de duplicatas mercantis e de prestação de serviço possam ser feitas por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, respondendo o apresentante responda pelos dados apresentados. Trata-se de reconhecimento pela lei da duplicata virtual, ou seja, não materializada em papel mas registrada em meios magnéticos, inclusive para envio aos bancos para que procedam à cobrança, desconto ou caução. Não havendo pagamento e não tendo o sacado recusado expressamente o aceite no prazo do art. 7º e por qualquer das razões do art. 8º, o portador poderá promover a execução com base no instrumento de protesto por indicações e no documento probatório da entrega e recebimento das mercadorias, não se podendo falar no caso em execução de duplicata porque esta não será apresentada.

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O Tribunal de Justiça no Estado do Rio Grande do Sul, admite a execução da duplicata virtual, comprovando a lavratura do protesto por indicação, através do seu instrumento e anexando comprovante de entrega e recebimento de mercadorias, nesse sentido:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.

EMBARGOS À EXECUÇÃO. DUPLICATA SEM ACEITE. PROTESTO DO TÍTULO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL CARENTE DE PROVA. INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA APARÊNCIA. 1. Trata-se de embargos à execução embasada na nota fiscal e duplicata mercantil, sem aceite e protestadas. 2. Admissível a execução de titulo extrajudicial através de duplicata virtual, tendo em vista que o meio eletrônico é aceitável diante da doutrina e jurisprudência majoritária desde que observados os requisitos essenciais. 3. Conforme art. 15, inc. II e §2º, da Lei nº 5.474/68, dois são os requisitos exigidos no caso de duplicata mercantil sem aceite, quais sejam: protesto e prova da entrega e recebimento da mercadoria. 4. No caso dos autos, contudo, a parte embargada apenas juntou os protestos do titulo executivo em questão, não fazendo prova que comprovasse a entrega e o recebimento das mercadorias à parte embargante. Assim, incabível a reforma da sentença diante do não preenchimento dos requisitos essências do caso concreto. Sentença mantida. APELAÇÃO DESPROVIDA. (RIO GRANDE DO SUL, 2011)

Verifica-se, analisando a decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que a admissibilidade da duplicata virtual acompanhada do instrumento do protesto, torna o instituto do protesto um suporte fundamental para a executividade da duplicata virtual. No mesmo sentido a decisão do STJ:

Ementa: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.

DIVERGÊNCIA DEMONSTRADA. EXECUÇÃO DE TÍTULOEXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO

ACOMPANHADO DO INSTRUMENTO DE PROTESTO, DAS NOTAS

FISCAIS E RESPECTIVOS COMPROVANTES DE ENTREGA DAS MERCADORIAS. EXECUTIVIDADE RECONHECIDA. 1. Os acórdãos confrontados, em face de mesma situação fática, apresentam solução jurídica diversa para a questão da exequibilidade da duplicata virtual, com base em boleto bancário, acompanhado do instrumento de protesto por indicação e das notas fiscais e respectivos comprovantes de entrega de mercadorias, o que enseja o conhecimento dos embargos de divergência. 2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 permita o protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o alcance desse dispositivo deve ser ampliado para harmonizar-se também com o instituto da duplicata virtual, conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei 9.492/97. 3. A indicação a protesto das duplicatas mercantis por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento da dívida. 4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 admite, essencialmente, é o protesto da duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante

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simples indicação de seus elementos ao cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por indicação na hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como expressamente previsto no referido artigo, mas também na de duplicata virtual amparada em documento suficiente. 5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento físico, autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada mediante indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos arts. 7º e 8º da Lei. 6. No caso dos autos, foi efetuado o protesto por indicação, estando o instrumento acompanhado das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados, não havendo manifestação do devedor à vista do documento de cobrança, ficando atendidas, suficientemente, as exigências legais para se reconhecer a executividade das duplicatas protestadas por indicação. 7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em apresentação do boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das garantias devidas ao sacado e ao sacador. 8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos.

A decisão do STJ reconheceu a executividade da duplicata virtual. Os boletos bancários vinculados à duplicata virtual deverão estar acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação, e dos comprovantes de entrega das mercadorias ou da prestação de serviços, esses requisitos suprem a ausência física da duplicata.

2.2 O apontamento do protesto da duplicata tradicional

A duplicata é um título de crédito criado pelo direito brasileiro, um título causal emitido a partir de uma fatura, que prova a origem da venda mercantil ou a prestação de serviço. A Lei das Duplicatas, regula o encaminhamento a protesto e o seu procedimento está normatizado no Decreto nº 2.044/1908, juntamente com a Lei 9.492/97 e os dispositivos da Lei 8.935/94.

Nesse sentido, Fabio Ulhoa Coelho (2013, p. 328):

A duplicata mercantil é título de crédito criado pelo direito brasileiro. Já o Código Comercial de 1850 previa, em seu art. 219, que nas vendas por atacado o vendedor era obrigado a extrair, em duas vias, uma relação das mercadorias vendidas, as quais eram assinadas por ele e pelo comprador, ficando cada via com uma das partes contratantes. Pelo art. 427 do CCom, também já revogado, a via da fatura assinada pelo comprador que permanecia em mãos do vendedor era título de efeitos cambiais, documento

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hábil para a cobrança judicial do preço da venda. Esta fatura, ou conta, é a origem, mediata, da duplicata mercantil.

As modalidades de protesto da duplicata são: por falta de aceite, de devolução ou de pagamento. O aceite é obrigatório na duplicata por se tratar de título causal, podendo o sacado recusar pelas razões do art. 8º tratando-se de duplicata mercantil e do art. 21 tratando-se de duplicata de prestação de serviço. Caso o sacado não devolva a duplicata no prazo de 10 dias da data do recebimento, para aceite, cabe o protesto por falta de devolução, já o protesto por falta de pagamento, não será necessário para a execução em face do comprador da mercadoria ou do beneficiário dos serviços, quando o aceite for dado expressamente na duplicata.

O lugar do pagamento é requisito essencial, que deve constar da duplicata e nele o protesto deve ser efetivado. Os requisitos da duplicata tradicional serão conferidos, conforme Lei 5.474/68:

Art.2º § 1º A duplicata conterá:

I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; II - o número da fatura;

III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador;

V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI – a praça de pagamento;

VII – a cláusula à ordem;

VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;

IX – a assinatura do emitente.

As duplicatas são conferidas em seus requisitos essenciais, para encaminhamento a protesto, sendo protocoladas e digitadas no sistema informatizado do Tabelionato de Protesto. Referente aos procedimentos específicos do protesto das duplicatas tradicionais, de venda mercantil e de prestação de serviço, são os mesmos procedimentos dos outros títulos e documentos de dívida, conforme Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

Art. 717 – No ato da apresentação do documento, que não deve conter rasura ou emenda modificadora de suas características, o apresentante declarará expressamente e sob sua exclusiva responsabilidade os seguintes dados: a) o seu nome ou o da empresa que representa, e o próprio endereço;

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b) o nome do devedor, como grafado no título;

c) o número de inscrição do devedor no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) da Secretaria da Receita Federal;

d) o endereço atual do devedor para o qual será expedida a intimação, devendo ser alertado que o fornecimento proposital de endereço incorreto poderá acarretar sanções civis, administrativas e penais;

e) o valor do documento com seus acréscimos legais ou convencionais, o qual não sofrerá variação entre a data do apontamento e a do eventual pagamento ou protesto, salvo o acréscimo dos emolumentos e despesas devidas ao tabelionato;

f) se deseja o protesto para os fins da Lei de Falências.

§ 1º – O Tabelião ficará obrigado a adotar o endereço declarado pelo apresentante na remessa da intimação ao devedor, ainda que seja diferente do grafado no documento apresentado.

§ 2º – O valor do documento declarado pelo apresentante corresponderá a seu respectivo valor original, que poderá ser acrescido:

a) – dos juros de mora de 6% (seis por cento) ao ano, se outra taxa não estiver convencionada entre as partes;

b) – dos encargos expressamente convencionados, vedada a acumulação de correção monetária e comissão de permanência;

c) – da atualização monetária do valor do cheque;

d) – da atualização cambial, nos contratos em moeda estrangeira.

A duplicata de venda mercantil, que não possuir assinatura do sacado poderá ser encaminhada a protesto, no caso de uma prestação de serviço é necessário ter assinatura do sacado, na ausência de assinatura somente poderá ser encaminhado com o documento comprobatório, do vínculo contratual que originou a duplicata de prestação de serviço. Primeiramente será emitido à fatura para poder ser extraída a duplicata.

Nesse sentido, Fabio Ulhoa Coelho (2013, p. 531):

De acordo com a sistemática prevista pela lei – que, hoje, se encontra parcialmente em desuso –, o comerciante, ao realizar qualquer venda de mercadorias, deve extrair a fatura ou a nota fiscal-fatura. Nos dois casos, ele elabora documento escrito e numerado, em que discrimina as mercadorias vendidas, informado quantidade, preço unitário e total. A duplicata será emitida com base nesse instrumento. Para o direito comercial, é irrelevante se o documento básico será a fatura ou a nota-fatura, servindo ambas à finalidade de preparar a criação da duplicata. Diferenças há, entre uma e outra forma, apenas para o direito tributário. Esse procedimento deve ser adotado, tanto para as vendas à vista, como a prazo (LD, arts. 1º e 3º, §2º).

A realidade do mundo informatizado, e a forma como os negócios estão sendo realizados, reduziram consideravelmente a espécie de duplicata tradicional física, tanto a de venda mercantil, como a de prestação de serviço, levadas a protesto.

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2.3 O apontamento do protesto da duplicata virtual

Com o advento da Lei 9.492/97, em seu artigo 21, §3º e no artigo 15 da Lei 5.474/68, encontra-se a possibilidade do apontamento a protesto de duplicatas por indicação. No artigo 8º da Lei 9.492/97 e na Consolidação Normativa Notarial e Registral do Rio Grande do Sul da Corregedoria Geral de Justiça em seu artigo 718, possibilitam o encaminhamento das duplicatas em meio eletrônico ou de gravação eletrônica de dados, fortalecidos pelo artigo 889, §3º o Código Civil que prevê a emissão do título a partir de caracteres criados em computador ou meio técnico equilavente, concluindo com esses dispositivos a circulação e a possibilidade do encaminhamento das duplicatas por meio virtual a protesto.

No entendimento de Sérgio Luiz José Bueno (2011, p.55):

Que não case estranheza o fato de querer o legislador de 1997 modernizar o protesto das duplicatas, pois é fato consumado a modernidade dos atos de comércio e das relações jurídicas em geral. Hoje temos nota fiscal eletrônica e contratos virtuais e o comércio exige agilidade maior. E não se diga que o sacado ficará à mercê de abusos, pois poderá valer-se sempre do Poder Judiciário, sem qualquer dispêndio, se pobre for, para obter a sustação do protesto comprovadamente indevido, diga-se raro.

Complementa ainda Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 56):

Todavia, esse cenário ganhou novos contornos com a vigência do Código Civil, no qual está, implicitamente amparada, a faculdade de se criar títulos de crédito ao lado do legislador ordinário, bem como de se obter, preenchidos os requisitos estabelecidos pela lei civil, a declaração de que os documentos, com os quais se ostenta o porte, caracterizam-se como títulos de crédito atípicos.

A duplicata virtual, pode ser encaminha por arquivo magnético ou de gravação eletrônica de dados, conforme a legislação estadual poderá ser transmitido via internet. Os dados deverão estar protegidos pela assinatura digital do apresentante, quando há previsão legal para o apontamento por indicação, sendo indispensável o termo assinado pelo apresentante se responsabilizando pelos dados fornecidos.

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Nesse sentido, é o entendimento de Sérgio Luiz José Bueno (2011, p. 56):

Assim, a duplicata pode ser emitida desde logo em meio magnético ou eletrônico. Não havendo papel, não subsiste a necessidade de remessa a aceite. Na prática, os bancos, ao receberem do cliente as indicações da duplicata virtual, remetem ao sacado o chamado boleto bancário para pagamento da dívida no prazo ajustado. Não efetivado o pagamento, as indicações são remetidas pelos mesmos meios ao Serviço de Protesto, que as materializa para a adoção do procedimento previsto na Lei 9.492/97.

Complementa ainda Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 135):

Eis a síntese do mecanismo: o credor (descontário) assume contratualmente a responsabilidade pela existência da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços; o registro dos dados das duplicatas pode ser feito em campos prederterminados no site da instituição financeira, a partir dos quais são enviados via internet para o descontador (banco); o valor líquido apurado do desconto é creditado na conta corrente do credor (descontário), dentro das condições e do prazo previstos no contrato.

Os requisitos são os mesmos da duplicata tradicional, que deverão ser lançados pelo credor e encaminhados pelo apresentante, geralmente uma instituição bancária que encaminha ao Tabelionato.

No entendimento de Marcos Paulo Félix da Silva (2009, p. 135):

Por sua vez, o banco emite bloqueto de cobrança para cada duplicata escritural descontada, para que o sacado realize o respectivo pagamento. Na falta de pagamento dos créditos, o banco remete ao cartório de protesto – em disquetes ou por transmissão eletrônico – as indicações dos dados das duplicatas, a partir das quais o cartório expedirá a intimação do devedor; não havendo pagamento no prazo legal para tal, o Tabelião lavrará e registrará o protesto, expedindo-se, outrossim, o instrumento de protesto por indicações, a ser entregue ao apresentante.

A duplicata de venda mercantil por indicação, poderá ser encaminhada somente pelos caracteres que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo credor ao tempo da emissão do título, a duplicata de prestação de serviço por indicação, deverá estar acompanhada de cópia do contrato que autorizou sua emissão, conforme dispõe o artigo 718 §4º da Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

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3 O POSICIONAMENTO DO TABELIONATO DE PROTESTOS

A origem na legislação dos serviços do Tabelionato de Protestos encontra-se na Constituição Federal em seu artigo 236 que define os serviços notariais e registrais como exercido em caráter privado, por delegação do Poder Público, esse artigo foi regulamentado pela Lei 8.935/94, que definiu em seu artigo 11 sua competência:

Art. 11 Aos tabeliães de protesto de título compete privativamente:

I – protocolar de imediata os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obrigação;

II – intimar os devedores dos títulos para aceita-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de protesto;

III – receber o pagamento dos títulos protocolizados, dando quitação;

IV – lavrar o protesto, registrando o ato em livro próprio, em microfilme ou sob outra forma de documentação;

V – acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante; VI – averbar;

a) o cancelamento do protesto;

b) as alterações necessárias para atualização dos registros efetuados; VII – expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis.

Desde a recepção dos títulos ou documentos de dívida, passando pela protocolização, intimação, pagamento, desistências, lavratura do registro, emissão de certidões, cancelamento, averbações, e os outros atos de atribuição dos Tabeliães de Protesto, deve observar a autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.

A responsabilidade dos atos praticados pela serventia extrajudicial de protestos está definida na Lei 9.492/97 em seu artigo 38, que os tabeliães de protesto são responsáveis pelos danos que derem causa, por culpa ou dolo, isto é, a responsabilidade desses profissionais é apreciada subjetivamente.

O instituto do protesto tem como definição como um ato formal e solene que comprova o descumprimento da obrigação. O credor encaminha a protesto, oportunizando ao devedor o cumprimento da obrigação antes da lavratura do registro do protesto.

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Nesse sentido, é o entendimento de Themistocles Pinho e Ubirayr Ferreira Vaz (2007, p. 12):

Constitui exercício regular de direito reconhecido ao documentar pelo instrumento de protesto, a pretensão frustada de receber um crédito existente, o que atende a fim social e econômico, para qual o protesto foi criado, sem que o exercício desse direito atente contra a boa fé e os bons costumes.

Complementa ainda Sérgio Luiz José Bueno (2011, p. 20):

Por outro lado, tendo o protesto também a função probatória, destacada por muitos como principal, somente atingiria essa finalidade com a lavratura do termo respectivo. Assim, não há protesto sem sua instrumentação pelo Tabelião. Por outro lado, a vontade do apresentante nem sempre se converte em protesto. Dessa maneira, não há como afirmar que o protesto é ato do credor ou do apresentante.

A natureza jurídica do instituto do protesto tem como objeto a manifestação da vontade de alguém, depois de respeitado o procedimento legal, por inércia do devedor, que tem a oportunidade de cumprir com a obrigação não sendo lavrado o protesto. Em seu sentido jurídico a efetivação do registro do protesto é meio de obtenção de prova do inadimplemento da obrigação.

Para Sérgio Luiz José Bueno (2011, p. 20):

Não destoa a maioria da doutrina quando afirma a oficialidade do protesto. Assim, não é ato de particular, mas do agente investido em função que permita sua prática. O particular não pratica o protesto, mas solicita ao Tabelião que o pratique. Este pode, depois de analisar os requisitos formais do documento, negar-se a tal lavratura, caso encontre vício que justifique a negativa.

Complementa Themistocles Pinho e Ubirayr Ferreira Vaz (2007, p. 124):

O Tabelião de Protesto tem que respeitar o direito reconhecido ao credor de protestar pelo recebimento de seu crédito, mas este só deve solicitar seus serviços para protestar, de forma lícita. Só é lícita a manifestação de protesto pelo recebimento do crédito, se este efetivamente existir e se não foi pago no vencimento.

A normatização do protesto, com a Lei 9.492/97 tornou possível o apontamento das duplicatas por indicação, baseado na alteração de não somente

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aceitar o encaminhamento dos títulos de crédito, possibilitando também o protesto de outros documentos de dívida, abrangendo os títulos cambiais ou executivos judiciais ou extrajudiciais e também outros documentos que dão origem a dívidas.

Nesse sentido, é o entendimento de Sérgio Luiz José Bueno (2011, p. 55):

Já o parágrafo único, do artigo 8º, da lei 9.492/97 inova, sem revogar as disposição anteriores, ao permitir que as duplicatas sejam apresentada em meio magnético ou de gravação eletrônica de dados. É óbvio que o legislador precisaria empregar a expressão indicações e não "duplicatas" simplesmente, pois os arquivos são virtuais. Tanto é assim que o mesmo dispositivo diz que ao Tabelião cabe a instrumentalização de tais indicações, ou seja, sua materialização. Aqui se trata, então, da possibilidade de enviar a protesto qualquer espécie de duplicata por meio virtual.

O credor não é obrigado a declarar qual o seu objetivo, a lei presume que seja o de receber, prevenir ou resguardar direito. O objetivo do protesto é a prova do descumprimento da obrigação dos títulos de crédito e de outros documentos de dívida, por intermédio do Tabelião de Protesto.

No entendimento de Themistocles Pinho e Ubirayr Ferreira Vaz (2007 p. 12):

Ao apresentar o título ou documento de dívida ao devedor, por intermédio do Tabelião de Protesto, o credor não está obrigado a declarar qual o seu objetivo, que a lei presume seja o de receber, prevenir ou resguardar direito, mesmo que não se trate de protesto necessário, podendo o protesto ser solicitado pelo portador credor que, nem sempre é endossatário, mas o próprio beneficiário da nota promissória ou do cheque, ou o sacador.

A duplicata virtual encontra no instituto do protesto, a possibilidade de caso não ser cumprida a referida obrigação, o devedor ficará com o protesto efetivamente lavrado que vai constar nos arquivos do Tabelionato, conforme define o artigo 29 da Lei 9.492/97, como também poderá ser encaminhada certidão dos protestos e cancelamentos efetuados para entidades de classe, não podendo dar publicidade pela imprensa, por se tratar de informação reservada.

Algumas consequências do protesto são apontadas por Ozíres Eilel Assan (2010, p. 527), senão vejamos:

Efetivando-se o protesto, suas consequências negativas à idoneidade e ao crédito do devedor são, muitas vezes catastróficas, prejudicando suas

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transações bancárias, tais como empréstimos e financiamentos, crédito pessoal, cheque especial, financiamentos habitacionais, descontos de duplicatas, além de que seu nome será levado ao SERASA, assim, obstando qualquer negócio que exija uma certidão negativa protesto.

A utilização da duplicata virtual como “documento de dívida”, que representa um negócio ou uma prestação de serviço, encontra no instituto do protesto um meio atualizado e extrajudicial para soluções dos conflitos, no descumprimento de obrigações originadas dos documentos de dívida.

O posicionamento do Tabelionato de Protesto de Santa Rosa, é de acatar o encaminhamento em meio eletrônico, e na falta do pagamento ou desistência realizar a lavratura do protesto das duplicatas por indicações, que foram encaminhadas na forma virtual. A ocorrência do apontamento em meio eletrônico, no Tabelionato de Santa Rosa, iniciou no ano de 2.001, baseado nos dispositivos da Lei 9.492/97, complementando com o entendimento majoritário da doutrina.

3.1 Importância do Instituto do Protesto da duplicata virtual

A função do protesto vai além da probatória do descumprimento da obrigação, está sendo o meio eficiente na resolução do conflito, sem a necessidade da lavratura do protesto, propiciando aos credores a satisfação do crédito de forma rápida, diferentemente de um litígio na esfera judicial.

Nesse sentido, é o entendimento de Sérgio Luiz José Bueno (2011, p. 23):

É essencial que não tenhamos uma visão distorcida do protesto como instituto jurídico, como tem sido lançado equivocadamente mesmo em algumas decisões pretorianas. O procedimento que pode resultar no protesto não é apenas um meio de coerção para obtenção do pagamento pelo devedor. É muito mais que isso, mesmo nos casos de protesto facultativo. É, sim, uma forma rápida e segura de composição e prevenção de litígios, sem passar por manobras meramente protelatórias que insegurança e revolta trazem aos bons pagadores. Não é um castigo ao mau pagador, mas um caminho jurídico legítimo e eficaz para o credor, com o desafogo do Poder Judiciário. A instituição do Protesto deve ser cada vez mais fortalecida com base no momento jurídico-social. Os procedimentos tendem à simplificação em prol da celeridade que dá efetividade ao direito subjetivo.

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O mundo dos negócios se estrutura na atualidade como o mundo da rapidez, da praticidade, do menor custo, da pouca burocracia. Tudo isso, de forma tão marcante, a ponto de colocar em grau mais baixo de relevância a segurança jurídica. A necessidade de facilidades tem colocado em cheque a utilização da duplicata tradicional, cartularizada em papel, para ceder lugar à mais nova invenção brasileira: a duplicata virtual.

O protesto é o meio coercitivo, que o credor pode utilizar para que o devedor tenha a oportunidade de cumprir a obrigação, originária de um título de crédito ou documento de dívida, o não cumprimento acarretará a lavratura do protesto.

Como consequências do protesto para Ozíres Eilel Assan (2010, p. 529):

As consequências fundamentais, derivadas do protesto, segundo a legislação uniforme complementada pelas leis brasileiras, são a caracterização da mora do obrigado principal e a preservação do direito regresso contra os endossantes, o sacador e outros coobrigados, à exceção do aceitante, no caso da letra de câmbio ou da duplicata.

Complementa ainda Fábio Ulhoa Coelho (2013, p. 497)

Na verdade, o protesto deve-se definir como ato praticado pelo credor, perante o competente cartório, para fins de incorporar ao título de crédito a prova de fato relevante para as relações cambiais. Note-se que é o credor quem protesta; o cartório apenas reduz a termo a vontade expressa pelo titular do crédito. Por meio desse ato, por outro lado, o credor formaliza a prova de fato jurídico, cuja ocorrência traz implicações às relações creditícias representadas pela cambial.

A utilização da duplicata virtual, está tornando um significante meio nas relações negociais atuais e o instituto do protesto serve de meio para assegurar legitimidade. A sua utilização no processo do protesto, é revestido de análise dos caracteres formais de cada espécie de títulos ou documentos de dívida.

3.2 A realidade no Tabelionato de Protestos de Santa Rosa

O serviço do Tabelionato de Protestos de Santa Rosa, tem a sistemática regulada pela Lei 8.935/94, Lei 9.492/97 e a Consolidação Normativa Notarial e Registral da Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, e baseado nesses preceitos, recebe os títulos de crédito e outros documentos de dívida para encaminhamento a protesto, inclusive as duplicatas em meio eletrônico,

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que são encaminhadas pelo apresentante para o Tabelionato efetuar sua instrumentalização, e envio ao devedor para dar prosseguimento às etapas do procedimento do protesto.

Para Nancy Raquel Felipetto Malta (2005, p. 30):

Com o advento da Lei 9.492/97, passou-se a admitir não somente o protesto de títulos de crédito, mas também os demais documentos de dívida. A Lei que regulamenta os serviços notariais e de registros de nº 8.935/1994 no art. 11, II, já falava protocolização de "documentos de dívida" para exprimir denotação de títulos de crédito. Em 1997, a Lei de Protestos de nº 9.492 nos arts. 1º e 3º deixou explícita a vontade do legislador em ampliar os títulos sujeitos a protesto cambiário, pela qualificação do "descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida" (Art. 1º da Lei 9.492).

O Tabelião irá analisar dentre os requisitos formais de cada título ou documentos de dívida, conforme artigo 9º da Lei 9.492/97. Na verificação de irregularidade, os títulos ou documentos serão devolvidos ao apresentante. Outro requisito importante é exigir o termo assinado pelo apresentante, responsabilizando-se pelos dados fornecidos, que responsabilizando-serão arquivados na Serventia.

Resumidamente, abordaremos os procedimentos práticos que um título ou documento de dívida, necessita para ser encaminhado a protesto para entendermos os estágios a que esses títulos estão sujeitos e sua melhor utilização.

Na apresentação do documento de dívida é conferido se os requisitos formais, em legislação própria estão preenchidos, tais como, não possuir emendas ou rasuras modificadoras de suas características, não cabendo ao tabelião investigar a origem da dívida, falsidade do documento, nem ocorrência de prescrição ou caducidade.

O apontamento é realizado no prazo que é de vinte e quatro horas, obedecendo à ordem cronológica de chegada. O protesto será registrado em três dias da data da protocolização, na contagem do prazo exclui-se o dia do protocolo e inclui-se o do vencimento, conforme a Lei 9.492/97. No Estado do Rio Grande do Sul conforme a Consolidação Normativa Notarial e Registral o protesto será lavrado dentro de três dias úteis, contados da data da intimação do devedor.

Referências

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