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Inventário e partilha no direito brasileiro: particulariedades da Lei 11.441/2007

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UNIJUI – UNIVERSDIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CAMILA MAGNABOSCO

INVENTÁRIO E PARTILHA NO DIREITO BRASILEIRO: PARTICULARIDADES DA LEI 11.441/2007

Santa Rosa 2012

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CAMILA MAGNABOSCO

INVENTÁRIO E PARTILHA NO DIREITO BRASILEIRO: PARTICULARIDADES DA LEI 11.441/2007

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora: MSc. Fernanda Serrer

Santa Rosa (RS) 2012

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Dedico este trabalho a meus pais, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados, e que não mediram esforços para me ajudarem durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por ter me dado à vida, força, coragem e confiança para superar as dificuldades e nunca desistir.

À minha família e ao meu namorado, que sempre estiveram presentes, me incentivando com apoio e confiança nas batalhas da vida e na minha jornada acadêmica.

À minha orientadora com quem pude contar com sua dedicação e disponibilidade.

E a todos que de uma forma ou outra sempre me incentivaram e colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade.

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“O estudo é a valorização da mente ao serviço da felicidade humana.” (François Guizot)

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RESUMO

O tema abordado no presente trabalho monográfico refere-se à realização de inventário e partilha extrajudicial, ou seja, administrativamente por escritura pública, observando as particularidades da Lei 11.441/2007, que instituiu tal procedimento. Na primeira parte serão abordadas noções gerais sobre sucessão e um estudo sobre inventário e partilha judicial. No segundo capítulo será feita uma abordagem sobre as particularidades da Lei 11.441/2007, que autorizou o uso da via administrativa para realização de inventário e partilha, analisando os requisitos, os impedimentos, a facultatividade, a partilha de bens e os efeitos que gera tal ato. Palavras-chave: Sucessão. Inventário. Partilha. Lei 11.441/2007.

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ABSTRACT

The topic approached in the present work refers to inventory making and extrajudicial partition, that is, administratively by public deed, observing the particularities of Law 11.441/2007, which instituted such procedure. In the first part, we will approach general notions about succession and a study about inventory and judicial partition. In the second chapter we will develop an approach about the particularities of Law 11.441/2007, which authorized the use of the administrative instance for making inventory and partition, analyzing the criteria, the impediments, the facultative issues, the partition of assets and the effects that generate such act. Key words: Succession. Inventory. Partition. Law 11.441/2077.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 INVENTÁRIO E PARTILHA JUDICIAL ... 11

1.1 Noções gerais ... 12

1.2 Conceito ... 13

1.3 Bens que não se inventariam ... 14

1.4 Espécies ... 15

1.5 Inventário judicial ... 16

1.6 Partilha judicial ... 19

1.5 Arrolamento judicial (sumário e comum) ... 22

2 INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAL: PARTICULARIDADES DA LEI 11.441/2007 ... 24

2.1 Motivação da lei 11.441/2007 ... 24

2.2 Requisitos que autorizam a realização do inventário e partilha pela via administrativa ... 25

2.3 Partes capazes, concordes e ausência de testamento ... 26

2.4 Obrigatoriedade da presença de advogado no processo extrajudicial ... 27

2.5 Facultatividade do processo administrativo e ausência de homologação judicial ... 29

2.6 Lavratura da escritura por tabelião de notas ... 31

2.7 Gratuidade do procedimento ... 33

2.8 Aplicação do procedimento administrativo a óbitos ocorridos antes da lei 11.441/2007 ... 34

2.9 Sobrepartilha na via administrativa ... 35

2.10 Inventário negativo ... 36

2.11 Alvará para levantar ou receber alvarás ... 37

CONCLUSÃO ... 39

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INTRODUÇÃO

O direito brasileiro sempre submeteu a sucessão às vias judiciais, mesmo quando as partes fossem capazes e concordes, seguindo procedimento diverso de quando tivesse menores, incapazes ou discordância, mas, em ambas as situações, necessitando de homologação judicial.

Com o advento da Lei 11.441/2007, que foi publicada em 05 de janeiro de 2007, grandes inovações se deram no direito das sucessões. A referida lei modificou e acrescentou dispositivos no Código de Processo Civil, permitindo que o Inventário e a Partilha sejam feitos via administrativa, por escritura pública perante o Tabelião de notas, desde que todas as partes sejam maiores e capazes, não haja testamento e tenha um consenso entre elas quanto à divisão dos bens.

Exigiu também que todas as partes devem estar assistidas por um advogado. Preenchidos os requisitos as partes podem escolher o procedimento judicial ou se preferirem o extrajudicial, que será mais célere e prático, o qual foi criado para facilitar a transmissão de bens após o falecimento do autor da herança, e que constitui título hábil para registro imobiliário, gerando efeito erga omnes, ou seja, contra todos.

No primeiro capítulo será abordada as noções gerais sobre direito sucessório, tais como conceitos de inventário, partilha, arrolamento, espécies de inventário e de partilha, bens que se inventariam e bens que não se inventariam.

Já no segundo capítulo será abordado as particularidades, requisitos, impedimentos, facultatividade da Lei 11.441/2007, tais como maioridade e

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capacidade das partes, inexistência de testamento, representação de advogado, gratuidade no procedimento.

No presente trabalho foi adotado o método de abordagem dedutivo, o método de procedimento monográfico, e a técnica de pesquisa bibliográfica.

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1 INVENTÁRIO E PARTILHA JUDICIAL

Neste primeiro capítulo o objetivo é fazer uma abordagem sobre noções gerais de direito sucessório, conceito e espécies de inventário e partilha judicial, pois para trabalhar com a partilha e inventário extrajudicial, preciso se faz um estudo prévio sobre inventário e partilha judicial.

1.1 Noções Gerais

A partir do momento que uma pessoa vem a falecer, os bens que esta possuía serão divididos. Para se saber qual é o momento da transmissão o direito sucessório adotou o Princípio de Saisine, segundo o qual a herança é transmitida no momento da morte do autor. Conforme o artigo 1.784, do Código Civil Brasileiro “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.”

Nos termos do artigo 983 do Código de Processo Civil Brasileiro o prazo para abertura de inventário e partilha é de 60 dias a contar da abertura da sucessão. No que tange ao foro competente para o ajuizamento da Ação de Inventário e Partilha dispõe o artigo 96 do Código de Processo Civil que “o foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.” Porém conforme parágrafo único deste artigo se o autor da herança não possuía domicílio certo será competente o da situação dos bens; já se este possuía bens em lugares diversos será o do lugar que ocorreu o óbito.

A sucessão pode ser classificada em legal ou testamentária. Na primeira modalidade os bens serão partilhados entre os herdeiros legítimos, que seguirá a seguinte ordem, os descendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; os ascendentes em concorrência com o cônjuge; ao cônjuge sobrevivente e aos colaterais, conforme artigo 1.829, do

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Código Civil Brasileiro. Já a sucessão testamentária, que decorre da vontade do autor da herança, verifica-se quando o falecido deixou testamento da totalidade ou de parte de seus bens, previsão legal encontra-se no artigo 1.857, do Código Civil Brasileiro.

O objeto da sucessão é o patrimônio que o de cujus deixou, seja ele móvel, imóvel, semovente, em dinheiro, ou seja, tudo que ele possuía em vida, bem como as suas dívidas, que serão pagas com o próprio patrimônio antes de ser partilhado, após pagas, o restante do monte mor será partilhado entre os herdeiros.

Há herdeiros que são excluídos da sucessão por terem atentado contra a vida ou honra de seu sucessor, podendo incorrer nas hipóteses de deserdação ou indignidade. A deserdação é somente para o Instituto do Direito Testamentário, e a indignação é para o Direito Legítimo ou Testamentário, mas em ambos os seus sucessores representam-no como se morto fosse, conforme artigos 1.814 e seguintes, e 1.962, 1.963, Código Civil Brasileiro.

A herança pode ser aceita ou renunciada pelos herdeiros. A aceitação ocorre quando o herdeiro manifesta a vontade de receber a herança, de forma expressa, tácita ou presumida, direta ou indireta. Já a renúncia é a recusa da herança, e deve ser expressa por parte do herdeiro veiculada mediante Instrumento Público ou termo judicial. É um ato personalíssimo.

A sucessão pode ser direta ou indireta, será direta quando o próprio herdeiro recebe a herança, e indireta quando um herdeiro assume a posição substituindo outro herdeiro.

Mesmo que seja apenas um herdeiro, será procedido o inventário sob forma de adjudicação, onde este ficará com todos os bens deixados pelo falecido.

Contudo, depois de ter os bens e os herdeiros sido selecionados e definidos, será iniciado o processo de Inventário e Partilha.

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1.2 Conceito

O inventário é o levantamento dos bens do falecido, que serão enumerados, para primeiramente serem pagas as dívidas que este deixou, e o restante dos bens posteriormente partilhados entre os herdeiros. Afinal, quem paga pelas dívidas deixadas é o espólio, ou seja, os bens, e não a sucessão, que são os herdeiros.

Para Maria Helena Diniz (2005, p. 368): “O inventário é o processo judicial tendente a relação, descrição, avaliação e liquidação de todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus sucessores.” Já para Sebastião Amorim e Euclides de Oliveira apud Camila Vione (2008, p. 20) a palavra inventário significa “ato ou efeito de inventariar, e é empregada como relacionar, registrar, catalogar, descrever, enumerar coisa, arrolar.”

No inventário objetiva-se apurar e verificar qual era o patrimônio do falecido, cobrando as dívidas ativas, pagando-se os débitos, calculando-se o valor do espólio e pagando os impostos, para então proceder-se a partilha (SILVIO RODRIGUES, 2002).

Realizado o inventário dos bens será feita a partilha, pois até então a herança era indivisível, após o arrolamento dos bens e pagamento das dívidas será partilhada entre os herdeiros.

Partilha no conceito de Clovis Beviláqua apud Rodrigues, (2002, p. 293) “é a divisão dos bens da herança segundo o direito hereditário dos que sucedem, e a consequente e imediata adjudicação dos quocientes assim obtidos aos diferentes herdeiros.”

Para Diniz (2005, p. 400):

A partilha é, portanto, a divisão oficial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre os sucessores do de cujus, para lhes adjudicar os respectivos quinhões hereditários. Tem, portanto, efeito declaratório, pois assim que for julgada o direito de cada herdeiro circunscrever-se-á ao seu quinhão e também retroativo, desde a abertura da sucessão.

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O principal efeito da partilha é extinguir a comunhão hereditária que existia. Com a partilha o espólio desaparece e cada herdeiro recebe sua respectiva quota (RODRIGUES, 2002).

1.3 Bens que não se inventariam

Segundo o artigo 1.037, do Código de Processo Civil, “independerá de inventário ou arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei 6.858, de 24 de novembro de 1980”, quais sejam pequenos valores, que poderão ser levantados pelos dependentes do de cujus, mediante alvará judicial. Esses consistem em depósitos de FGTS, PIS, PASEP, cadernetas de poupança, saldos bancários, não recebidos ou não retirados pelo falecido.

Silvio de Salvo Venosa (2009, p. 86) diz que:

A prática demonstrou que em certas situações, apesar da obrigatoriedade do inventário, do arrolamento e da partilha, tais requisitos podem ser simplificados ou até mesmo dispensados. Como não há interesse do Fisco, quando a herança é composta somente de valores mobiliários, ou de um único bem móvel (um automóvel, por exemplo), sendo poucos e conhecidos os herdeiros, passou-se a prática de permitir tão só um pedido de alvará para a liberação desses valores aos herdeiros e ao cônjuge, levando-se em consideração. Principalmente, o caráter finalístico da lei e a instrumentalidade do processo.

Conclui-se então que se o falecido não possuía bens imóveis ou de significativo valor econômico, não é necessário ingressar com um processo de inventário e partilha, basta um pedido de alvará para levantamento de tais valores.

Neste sentido o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já se manifestou favorável com relação ao saque destes valores mediante alvará judicial, sem a necessidade de processo judicial de inventário e partilha, conforme segue:

ALVARÁ JUDICIAL. LEVANTAMENTO DE VALORES EM DEPÓSITO BANCÁRIO, REFERENTES A FGTS E PIS. INEXISTÊNCIA DE BENS. DESNECESSIDADE DE INVENTÁRIO. 1. O pedido de expedição de alvará judicial é cabível quando, inexistindo bens a serem partilhados, existirem valores deixados pelo de cujus e que não foram por ele utilizados, seja em depósitos bancários, seja em conta de poupança saldo de FGTS, PIS/PASEP ou resíduos salariais. Inteligência da Lei nº 6.858/80. 2. Não havendo pretensão deduzida contra a Caixa Econômica Federal ou o Banco

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do Brasil, desnecessária citação destes. Recurso provido. (Agravo de Instrumento Nº 70046827911, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 26/12/2011).

Desta forma, nota-se que somente com pedido de alvará é possível a retirada de valores depositados em conta poupança, FGTS, PIS/PASEP, os quais não foram utilizados pelo possuidor em vida.

1.4 Espécies

O inventário judicial pode ser feito pelo rito tradicional e pelo rito de arrolamento que se divide em comum e sumário.

O inventário judicial que tramita pelo rito tradicional é o mais usado, pois não há requisitos específicos para tal procedimento, onde poderá haver partes maiores, menores, podendo ou não ter acordo, e independe do valor do espólio.

Já o inventário pelo rito do arrolamento, pode ser comum ou sumário. O arrolamento comum conforme artigo 1.036 do Código de Processo Civil será feito quando o valor dos bens do espóliofor igual ou inferior 2.000 OTN.

Art. 1.036. Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 2.000 (duas mil) Obrigações do tesouro Nacional – OTN, o inventário proceder-se-á na forma de arrolamento, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente da assinatura do termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição do valor dos bens do espólio e o plano de partilha.

Referente ao valor de 2.000 OTN, sua quantificação em reais é matéria conturbada. O índice é inadequado e defasado, sendo praticamente impossível saber o valor exato, há doutrinadores que sugerem mudança da lei para que conste o valor de 500 salários mínimos como limite para a adoção do arrolamento em questão. No ano de 2006, se seguida a Tabela de atualização do Tribunal de Justiça de São Paulo, o valor de 2.000 OTN corresponderia a R$ 38.826,41. (SCOTTINI, 2012).

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O arrolamento sumário será feito quando as partes forem capazes e a partilha for amigável, independente do valor dos bens do falecido, nos termos do artigo 1.031 e seguintes do Código de Processo Civil, como segue:

Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos dos art. 2.015 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e ás suas rendas, com observância dos arts. 1.032 a 1.035 desta Lei.

O inventário negativo serve para provar que o de cujus não possuía bens, ou seja, que inexistia bens de propriedade do falecido.

1.5 Inventário judicial

Segundo Rodrigues (2002, p. 285) “inventário é o processo judicial que se destina a apurar os bens deixados pelo finado, a fim de sobre o monte proceder-se a partilha.” Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial, assim como dispõe a primeira parte do artigo 982 do Código de Processo Civil.

Conforme Venosa (2009, p. 90):

Aquele que estiver na posse e administração do espólio (art. 987 do CPC) incumbe, no prazo de sessenta dias a contar da morte (art. 983, com nova redação), requerer o inventário e a partilha. Documento essencial para instruir o pedido é a certidão de óbito (parágrafo único do art. 987). Juntar-se-á também a procuração do advogado, com convenientes poderes para prestar compromisso de inventariante.

O artigo 983, do Código de Processo Civil, diz que “o processo de inventário e partilha deve ser aberto dentro de 60 dias a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de oficio ou a requerimento da parte.”

Conforme artigo 988, do Código de Processo Civil, tem legitimidade concorrente para requerer o inventário e partilha com aquele que estiver na posse da herança:

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I - o cônjuge supérstite; II - o herdeiro;

III - o legatário; IV - o testamenteiro;

V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;

Vl - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;

Vll - o síndico da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge supérstite;

Vlll - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes; IX - a Fazenda Pública, quando tiver interesse.

Para Venosa (2009) a sucessão se abre no lugar do último domicílio do falecido, se o de cujus teve mais de um domicílio, competente é o último, nos termos do artigo 96, do Código de Processo Civil. O parágrafo único deste dispositivo abre outras possibilidades de competência, como o foro da situação dos bens, se o autor da herança não tinha domicílio certo e o do lugar em que ocorreu o óbito, se o falecido não tinha domicílio certo e bens em lugares diferentes.

Segundo Rodrigues (2002, p. 287) “aberto o inventário, o juiz, como primeira medida, nomeia o inventariante, que é o representante e administrador do espólio.” Diniz (2005, p. 371) ainda diz que:

A inventariança é encargo pessoal, pois gera responsabilidade própria daquele que a exerce, e de investidura isolada, não podendo ser exercida conjuntamente por duas ou mais pessoas, mesmo que no inventário se tenha mais de um espólio.

Nomeado o inventariante, este prestará as primeiras declarações, conforme artigo 993, do Código de Processo Civil. Nas palavras de Venosa (2009, p. 95):

O inventariante tem prazo de 20 dias, a partir da data de seu compromisso,

para apresentar as primeiras declarações, lavrando-se termo

circunstanciado. Trata-se de ato crucial do processo. Nessas declarações, descrever-se-ão o estado da herança, ativo e passivo, herdeiros e legatários, como todos os pormenores possíveis.

Conforme lição de Rodrigues (2002, p. 288) “As primeiras declarações são peça-base do inventário, porque nelas é que se baseiam, ordinariamente, as partes, para todo o desenvolvimento do processo.”

Segundo Venosa (2009) após as primeiras declarações, o juiz mandará citar para os termos do inventário e partilha todos os interessados elencados no artigo

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999 do Código de Processo Civil, quais sejam, o cônjuge, os herdeiros, os legatários, a Fazenda Pública, e o Ministério Público, se houver herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento.

Diz ainda que serão citados pessoalmente os domiciliados na comarca ou os que forem aí encontrados; e por edital no prazo de 20 a 60 dias os demais, tanto residentes no Brasil ou no estrangeiro, nos termos do §1º do artigo 999 do Código de Processo Civil.

Depois de citados conforme artigo 1.000 do Código de Processo Civil, as partes terão prazo de 10 dias para falarem sobre as primeiras declarações, e poderão levantar questões quanto a erros ou omissões e fazer suas reclamações e contestações.

Diniz (2005), diz que depois de feitas as primeiras declarações, ouvidos os interessados e resolvidas questões levantadas, ter-se-á a avaliação dos bens do espólio que será feita por um perito nomeado pelo juiz, se na comarca não haver avaliador judicial.

Segundo Rodrigues (2005, p. 288)

Feitas as avaliações, abre-se vista ao inventariante para as suas declarações finais. Essas declarações visam suprir falhas das anteriores. Assim, nelas se informa da existência de bens por acaso omissos nas primeiras declarações, ou descobertos depois.

Feitas as declarações finais “seguir-se-á o processo preparatório da partilha, ordenando o juiz que se proceda ao cálculo do imposto de transmissão causa

mortis...” (DINIZ, 2005, p. 380).

O inventário encerra-se com uma sentença de mérito, que é o julgamento do cálculo do imposto, para então dar início à partilha (DINIZ, 2005).

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1.6 Partilha judicial

Antes de se iniciar o processo de partilha dos bens deve ser feitas as colações necessárias e o pagamento das dívidas do falecido, para posteriormente partilharem-se os bens.

Segundo Rodrigues (2002) colação é o ato de retorno ao monte partível das liberalidades feitas pelo falecido, antes de sua morte, a seus descendentes. Seu fim é igualar a legítima desses herdeiros, e do cônjuge sobrevivente.

O artigo 2.005, do Código Civil Brasileiro diz que é dispensada da colação as doações que o doador determinar que saiam da parte disponível, contanto que não a excedam.

O instituto da colação é regulado pelos artigos 2.002 e seguintes do Código Civil Brasileiro e pelos artigos 1.014 e seguintes do Código de Processo Civil.

Feitas as colações serão pagas as dívidas do falecido, pois, via de regra os bens do falecido respondem por suas dívidas. Conforme verificamos no artigo 1.997 e seguintes do Código Civil Brasileiro, a herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido, mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada um em proporção a parte que lhe couber.

Podemos ver regulada também nos artigo 1.017 e seguintes do Código de Processo Civil, onde diz que antes da partilha os credores do espólio poderão requerer ao juízo do inventário o pagamento das dívidas vencidas.

Portanto, feita a colação e paga as dívidas partimos para a partilha dos bens. Venosa (2009, p. 377) esclarece que:

Terminado o inventário ou arrolamento, quando já existe o quadro complexo do monte, acervo ou patrimônio sucessório, seguir-se-á a partilha, isto é, a divisão dos bens entre os herdeiros e legatários e a separação da meação do cônjuge ou direitos do companheiro, se for o caso.

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Diz ainda que o processo de partilha é sucessivo ao de inventário, sendo que ambos tramitam nos mesmos autos.

Diniz (2005) conceitua partilha como a divisão oficial do monte líquido, apurado durante o inventário, entre os sucessores do de cujus, para lhes adjudicar os respectivos quinhões hereditários.

O instituto da partilha é regulado pelos artigos 2.013 e seguintes do Código Civil Brasileiro e pelos artigos 1.022 e seguintes do Código de Processo Civil.

A partilha pode ser amigável ou extrajudicial; judicial; ou entre vivos.

A partilha amigável ou extrajudicial é a regulada pelo artigo 2.015 do Código Civil Brasileiro, o qual diz que se as partes forem capazes e estiverem de acordo poderão fazer a partilha por escritura pública, termos nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz.

Rodrigues (2002, p. 295) fala que “como todo negócio jurídico, a partilha amigável implica a capacidade das partes. Só se forem maiores e capazes podem os herdeiros recorrer a solução extrajudicial.”

Venosa (2009, p. 382) pensa que “essa forma de partilha é sempre a mais conveniente, porque acomoda melhor o interesse dos sucessores.” Diz ainda que a Lei 11.441/07 passou a permitir o inventário e partilha por escritura pública, se todas as partes forem capazes e concordes.

Já a partilha judicial vem regulada pelo artigo 2.016 do Código Civil Brasileiro, “será sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem, assim como se algum deles for incapaz.”

Sendo assim, se não houver acordo quanto à partilha, ou se algum herdeiro for menor ou incapaz deverá sempre ser feita a partilha judicial.

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Para Venosa (2009, p. 382) “se havendo incapaz quando da morte, quando da partilha já for capaz, tal não impede a partilha amigável. O momento da prática do ato rege a capacidade.”

Pode-se ter também a partilha entre vivos que vem regulada no artigo 2.018 do Código Civil Brasileiro, segundo o qual “é válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários.”

Completa Rodrigues (2002, p. 296) dizendo que “a partilha por ato entre vivos é aquela em que o ascendente destina o seu patrimônio, compondo desde logo os quinhões de seus sucessores.”

O artigo 2.023 diz que, “julgada a partilha, fica o direito de cada um dos herdeiros circunscritos aos bens do seu quinhão.” Diniz (2005, p. 418) afirma que:

Com o julgamento da partilha, o direito de cada herdeiro circunscrever-se-á aos bens de seu quinhão (CC, art. 2.023; CPC, art. 597); daí seu efeito declaratório, pois antes dela, pelo Código Civil, art. 1.791, os co-herdeiros terão indivisibilidade de seu direito à posse e ao domínio dos bens da massa partível. Com a partilha, que é declarativa, e não constitutiva da posse e da propriedade dos bens da herança, findar-se-á o estado de comunhão, de modo que o herdeiro, que, por ter direito à quota ideal, era condômino e compossuidor do todo, passará a ser senhor e possuidor de quota determinada especificadamente.

Rodrigues (2002) complementa dizendo que feita a partilha supõe-se haver sido alcançada a igualdade, mas se algum dos herdeiros vier a sofrer desfalque em seu quinhão, por evicção, todos os demais herdeiros irão concorrer para indenizá-lo do prejuízo sofrido, a fim de restabelecer a igualdade.

Porém, se o próprio evicto deu causa á perda da coisa, como por exemplo, não se defendeu em uma ação de reintegração, não haverá indenização (VENOSA, 2009).

Findo o processo de partilha o artigo 2.027 do Código Civil Brasileiro diz que “a partilha, uma vez feita e julgada, só é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos.” Ou seja, segundo o artigo 1.029 do

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Código de Processo Civil a partilha pode ser anulada, por dolo, coação, erro essencial ou intervenção de incapaz.

O prazo para propor ação anulatória de partilha prescreve em 1(um) ano, conforme parágrafo único dos artigos 2.027 do Código Civil Brasileiro e 1.029 do Código de Processo Civil.

Se a partilha for anulada os bens voltam ao estado de indivisibilidade que se encontravam, ou seja, voltam ao monte (VENOSA, 2009).

1.7 Arrolamento judicial (sumário e comum)

O arrolamento esta previsto nos artigos 1.031 e seguintes do Código de Processo Civil, o qual vem a ser uma forma de inventário simplificado, que se divide em duas modalidades: arrolamento sumário e arrolamento comum.

O artigo 1.031 do Código de Processo Civil, diz que a partilha amigável celebrada entre partes capazes será homologada de plano pelo juiz mediante a prova da quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas.

Diniz (2005, p. 387) conceitua o arrolamento como “um processo de inventário simplificado, caracterizado pela redução de atos formais ou de solenidades.”

O procedimento do arrolamento sumário é regulado pelos artigos 1.032 a 1.034 do Código de Processo Civil e o arrolamento comum é regulado pelo artigo 1.036 do mesmo código.

Venosa (2009, p. 103) leciona que:

Processar-se-á o inventário sob a forma de arrolamento sumário qualquer que seja o valor dos bens, sendo os interessados maiores e capazes, e estando de acordo na realização de partilha amigável, nos termos dos art. 2.015 do Código Civil (art. 1.031 do CPC). Note que a Lei 11.441/2007 permite doravante inventário por escritura pública, se não houver incapaz ou não existir testamento. Mas, se houver preferência pelo arrolamento, cujas

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disposições parecem continuar em vigor, basta que todos os interessados apresentem a partilha, por instrumento público ou particular, para ser homologada. Nessa modalidade, todos os herdeiros devem estar presentes no requerimento, devendo todos ser capazes.

Já o arrolamento comum conforme artigo 1.036, será feito quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 2.000 Obrigações do Tesouro Nacional – OTN, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente da assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição do valor dos bens do espólio e o plano de partilha.

Ao arrolamento aplicam-se subsidiariamente as normas concernentes ao inventário (DINIZ, 2005).

Feito um estudo sobre sucessão em geral e as formas de inventário judicial, no próximo capítulo será analisado as particularidades, requisitos e impedimentos sobre inventário e partilha extrajudicial, que foi criado pela Lei 11.441/2007, e regulamentado pela Resolução 35 do Conselho Nacional de Justiça.

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2 INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAL: PARTICULARIDADES DA LEI 11.441/2007

Neste segundo capítulo o objetivo é aprofundar o estudo específico da Lei 11.441/2007, que criou um mecanismo simplificado para resolver questões patrimoniais após a morte, não necessitando assim os herdeiros suportar as dificuldades de um processo judicial. Será abordado os requisitos indispensáveis a serem cumpridos para a lavratura da escritura pública de inventário e partilha.

2.1 Motivação da Lei 11.441/2007

A Lei federal nº 11.441, editada em 04 de janeiro de 2007, que passou a vigorar em 05 de janeiro de 2007, modificou e acrescentou dispositivos no Código Civil Brasileiro, tais como os artigos 982, 983, 1.031 e 1.124-A, possibilitando a realização de inventário, partilha, separação e divórcio consensual pela via administrativa, ou seja, por escritura pública lavrada pelo tabelião de notas.

Segundo Fabiana Fachinetto Padoim (2011, p. 69),

a justificativa para aprovação do projeto de lei foi apresentada pela senadora Serys Slhessarenko, em 9 de novembro de 2006, a qual sustentou que nas últimas décadas a sociedade brasileira passou a requerer menor tutela estatal para solução de questões de seu interesse, exigindo uma redefinição do papel do Estado. Neste contexto, a possibilidade de recorrer aos cartórios extrajudiciais para a realização de separações, divórcios, inventários e partilhas por mútuo consentimento tornou-se uma realidade, a exemplo de outros países.

Portanto, a possibilidade de recorrer aos cartórios extrajudiciais para resolver questões referentes a inventário e partilha de bens tornou-se realidade no país, uma vez que tornou o procedimento mais rápido e menos burocrático, desde que preenchidos os requisitos impostos pela nova lei, diminuindo assim a demanda judicial.

A referida lei possibilitou a realização de inventário e partilha extrajudicial, facilitando a transmissão dos bens do de cujus para os herdeiros, desde que

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preenchidos os requisitos legais, tais como a inexistência de testamento, a capacidade e o consenso das partes, além da assistência integral de um advogado.

No entanto, é um procedimento facultativo, segundo o artigo 2º da Resolução 35 do Conselho Nacional de Justiça “é facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial; podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.”

Com a vigência da Lei 11.441/2007, o procedimento de inventário e partilha pela via administrativa passou a ser mais viável, pois reduziu os custos e tornou o ato mais célere, beneficiando assim as partes envolvidas.

2.2 Requisitos que autorizam a realização do inventário e partilha pela via administrativa

Como todo procedimento tem seus requisitos, este não seria diferente. Para proceder ao inventário e partilha extrajudicial se faz necessária a existência dos requisitos a seguir estudados.

O artigo 982, do Código de Processo Civil, traz em sua redação os requisitos necessários.

Art. 982. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial; se todos forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário.

Parágrafo único. O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

Com base no dispositivo legal, os requisitos legais exigentes são: que todas as partes envolvidas sejam maiores e capazes; cabe ressaltar que o emancipado também esta habilitado; que não exista testamento; que haja a concordância das partes, ou seja, o consentimento na divisão dos bens; e que todas as partes estejam assistidas por um advogado.

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2.3 Partes capazes, concordes e ausência de testamento

Entre as alterações do Código de Processo Civil, esta a Lei 11.441/2007, que segundo Daniel Roberto Hertel (2009, p. 80),

afastou do Judiciário a realização do inventário e da partilha quando os interessados forem maiores e capazes, e houver acordo quanto à divisão, assim como a separação e o divórcio consensuais. Pretende-se, com isso, reduzir a intervenção judicial em situações secundárias, liberando-se, desse modo, o Magistrado para atuar em questões que, efetivamente, demandam a sua intervenção.

Partes maiores e capazes significa dizer que, devem ser maiores de 18 anos ou emancipadas e devem ter pleno discernimento de suas atividades, podendo realizar autonomamente todos os atos de sua vida civil.

Quanto a isso Humberto Theodoro Júnior (2007, p. 35) diz que:

Todos os interessados hão de ser “maiores” e “capazes”; os regularmente emancipados, antes da idade legal, equiparam-se plenamente aos maiores e, assim, poderão também participar do ato notarial (Código Civil, art. 5º, paragrafo único); basta que um dos participantes seja incapaz para inviabilizar a solução administrativa da sucessão.

Igualmente as partes necessitam estar concordes, ou seja, é preciso que haja entendimento entre elas quanto à divisão dos bens. Para Padoim (2011, p. 77) a concordância de todos os envolvidos “é pressuposto maior da realização do inventário por meio de escritura, posto que havendo discordância, o único caminho é o inventário judicial.”

Theodoro Júnior (2007, p. 35) diz ainda que “todos os interessados devem estar concordes quanto aos termos do inventário e quanto à partilha, de forma que qualquer divergência entre eles conduzirá ao procedimento judicial contencioso.”

Ainda ausência de testamento é requisito indispensável para a realização do inventário e partilha pela via administrativa. Para Venosa (2012, p. 84) “persiste a necessidade de inventário judicial se houver testamento ou interessado incapaz.”

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Quando da existência de testamento, o qual consigna uma disposição de última vontade do testador, devem ser cumpridas as exigências do procedimento próprio para a abertura de testamento, previsto nos artigos 1.125 a 1.141 do CPC.

Assim, a sucessão nesse procedimento não pode ser testamentária, deve ser legítima, pois a existência de testamento torna obrigatório o procedimento judicial (THEODORO JUNIOR, 2007).

2.4 Obrigatoriedade da presença de advogado no processo extrajudicial

O parágrafo único do artigo 982 do Código de Processo Civil, impõe que todas as partes estejam assistidas por um advogado no ato da lavratura da escritura pública.

Parágrafo único. O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

Sendo assim, sem a presença do advogado não será possível à realização do inventário e partilha por escritura pública.

Neste sentido Theodoro Júnior (2007, p. 35) se manifesta:

Todas as partes interessadas deverão comparecer à presença do tabelião assistidas por advogado, que pode ser comum ou não; não é preciso de outorgar mandato, porque partes e advogado estarão presentes ao ato notarial e todos firmarão a escritura; declarará cada interessado quem é o advogado que o assiste, e este, no exercício de múnus, se identificará e se qualificará convenientemente; não há necessidade de que todos sejam assistidos pelo mesmo advogado, embora isto possa acontecer, e, se forem vários, cada qual declinará a quem está assistindo; a nenhum dos interessados será permitido firmar a escritura sem a assistência advocatícia, sob pena de invalidar o ato, pois a lei proíbe ao tabelião lavrá-lo sem a observância dessa exigência. Trata-se pois, de solenidade substancial ao aperfeiçoamento do inventário e à partilha administrativos.

O artigo 8º da Resolução 35 do CNJ dispõe também sobre a necessidade da presença do advogado, ou defensor público, dispensada a procuração, na lavratura de escrituras públicas decorrentes da Lei 11.441/07, devendo constar nelas o nome e o registro da OAB. Nota-se que somente poderá representar as partes o advogado

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que encontrasse efetivamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, caso contrário o ato não terá validade.

Nota-se a importância da presença do advogado, pois é dispensada a intervenção do juiz e do Ministério Público, devendo o advogado e o notário preencher a lacuna da cautela jurídica antes incumbida àqueles (PADOIM, 2011).

Conforme artigo 9º da Resolução 35 do CNJ, o tabelião não poderá indicar advogado às partes, devendo elas comparecer ao ato com um profissional de sua confiança. Se as partes não dispuserem de recursos econômicos suficientes o tabelião deverá indicar-lhes a Defensoria Pública, ou a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.

Sobre a importância da presença do profissional da advocacia, Hertel (2009, p. 84) diz que:

A presença do advogado atende ao disposto no art. 133 da Constituição Federal, que esclarece ser esse indispensável à administração da justiça. Nota-se que a presença do advogado nesse caso visa a resguardar os interesses dos envolvidos na partilha. Presume-se, na verdade, que as partes consultaram um profissional e que estão cientes da quota que lhes cabe do acervo.

Caso a escritura pública de inventário e partilha for lavrada sem a presença do advogado, haverá violação ao disposto no artigo 982, parágrafo único do CPC. Nesse caso o ato é nulo por ofensa ao dispositivo, nos termos do artigo 166, V, do Código Civil, que diz ser nulo o negócio jurídico quando for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade, sendo assim, ao prejudicado caberá propor ação declaratória de nulidade de partilha administrativa (HERTEL, 2009).

Maria Clara Osuna Diaz Falavigna (2007, p. 231) acentua as razões da obrigatoriedade do acompanhamento de profissional habilitado dizendo que:

O que se diz é que houve uma pressão coorporativa da Ordem dos Advogados do Brasil para que o advogado fosse peça obrigatória, algo como uma reserva de mercado, o que macula a nobre classe profissional,

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pois a instituição que os representa deixa de reconhecer o avanço social da facilitação dos conflitos familiares.

Portanto, para a realização do inventário e partilha extrajudicial é indispensável à presença do advogado, tornando nulo o ato lavrado sem observância deste requisito.

2.5 Facultatividade do processo administrativo e ausência de homologação judicial

Dispõe o artigo 2º da Resolução 35 do CNJ, que é facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial. Sendo assim, mesmo que sejam preenchidos os requisitos para inventário e partilha extrajudicial, as partes podem requer que seja feito pela via judicial. Sobre essa faculdade Padoim (2011, p. 71), se manifesta:

Assim, estando presentes todos os requisitos legais para a realização da separação, divórcio, inventário ou partilha de bens, é oferecida às partes envolvidas a opção de escolher o procedimento extrajudicial para a sua efetivação, cabendo aos interessados comparecer em um Tabelionato munidos dos documentos que se fazem necessários. Frise-se que é dada às partes a faculdade, e não a obrigatoriedade, de optar pelo procedimento extrajudicial, permanecendo, ainda, intacto o direito de buscar a solução judicial.

O artigo 982 do CPC deixa claro que “poderá fazer-se o inventário e partilha por escritura pública”. Assim atendidos os requisitos poderá ser feito administrativamente, mas a lei não impôs uma obrigatoriedade para tal procedimento.

Portanto, nada impede de que se as partes forem maiores, capazes e concordes de proceder-se ao inventário judicial. Sobre isso Hertel (2009, p. 84) escreve que:

Se todos os herdeiros forem capazes e estiverem de acordo quanto a partilha, mas optarem por realizar o inventario na via judicial, o procedimento a ser adotado é o de arrolamento sumário, delineado nos arts. 1.031 usque 1.035 do CPC. Poderão, contudo, os interessados optar pelo inventário administrativo.

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Neste sentido o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, se manifesta a cerca da opção das partes pelo processo na via administrativa, tendo o direito de escolha, isso se todos forem capazes, concordes e não haver testamento, caso contrário a única alternativa é a via judicial:

INVENTÁRIO E PARTILHA. LEI 11.441/2007. POSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO PELA VIA ADMINISTRATIVA. DIREITO DE ESCOLHA DAS PARTES. EXISTÊNCIA DE TESTAMENTO. OBRIGATORIEDADE DA VIA JUDICIAL. ALVARÁ JUDICIAL. PEDIDO DE LEVANTAMENTO DE VALORES. NECESSIDADE DO PROCESSO DE INVENTÁRIO. 1. Pela nova redação do art. 982 do CPC, primeira parte, a regra permanece sendo a realização do inventário pela via judicial, tendo a lei apenas facultado às partes a opção pela via administrativa. 2. Embora a realização do inventário pela via administrativa possa dar maior celeridade ao procedimento de partilha de bens, a opção pela via judicial pode ser mais conveniente para os interessados, conferindo-lhes também maior segurança. 3. Havendo testamento, a Lei é clara ao dispor que deve ser o inventário procedido pela via judicial. 4. O pedido autônomo de expedição de alvará judicial somente é cabível quando, inexistindo bens a serem partilhados, existirem valores deixados pelo de cujus e que não foram por ele utilizados. 5. A apuração da existência de bens e a sua transferência deve ser deduzida em sede de inventário, que não se sujeita ao interesse ou à conveniência dos sucessores ou cessionários, tratando-se de providência obrigatória, que pode ser tomada até de ofício pelo próprio julgador. Inteligência do art. 982 do CPC. 6. Cabível determinação de ofício de abertura do processo de inventário, com nomeação de inventariante, e, após ouvido o órgão do Ministério Público, deverá ser examinado o pedido de expedição do alvará judicial. Recurso provido em parte. (Apelação Cível Nº 70036344562, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 31/03/2011).

Podendo ainda conforme a segunda parte do artigo 2º da Resolução 35, “ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias, ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.”

Tendo o procedimento homologatório função de jurisdição, é viável conservar as duas alternativas, judicial e extrajudicial para a sua realização. A razão em se manter o poder do Estado mesmo com a possibilidade de recorrer administrativamente, está na necessidade de garantir os preceitos legais constitucionais que regem as relações de vida e evitar a insegurança jurídica. Pois conforme regra constitucional do artigo 5º, XXXV, de que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, se não tivesse a faculdade de escolha, estaria ferindo princípio constitucional. (EZEQUIEL MORAIS, 2007)

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Se escolhida a via extrajudicial é dispensada a homologação judicial, conforme reza o artigo 3º da Resolução 35 do CNJ:

Art. 3' As escrituras públicas de inventário e partilha, separação e divórcio consensuais não dependem de homologação judicial e são títulos hábeis para o registro civil e o registro imobiliário, para a transferência de bens e direitos, bem como para promoção de todos os atos necessários à materialização das transferências de bens e levantamento de valores (DETRAN, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financeiras, companhias telefônicas, etc.)

Portanto, feita a escritura pública está constituirá título hábil para registro imobiliário, sem a necessidade de homologação judicial, afinal o notário é dotado de fé pública.

2.6 Lavratura da escritura pelo tabelião de notas

Os dispositivos do Código de Processo Civil, da Resolução 35 do Conselho Nacional de Justiça e da Consolidação Normativa Notarial e Registral do Rio Grande do Sul, em seus artigos 613 a 619-B, dispõem sobre os requisitos obrigatórios para a lavratura da escritura pública de inventário e partilha de bens.

A competência para a lavratura da escritura pública é de livre escolha das partes, conforme reza o artigo 1º da Resolução 35 do CNJ, “para a lavratura dos atos notariais de que trata a Lei nº 11.441/07, é livre a escolha do tabelião de notas, não se aplicando as regras de competência do Código de Processo Civil.”

Conforme explica e complementa Padoim (2011, p. 77)

De acordo com o teor do artigo 3º da Lei n.º 8935/1994, a prerrogativa profissional para executar os atos de escrituração é exclusiva do tabelião. Quanto ao local de realização da escritura pública, o ordenamento jurídico brasileiro distingue o regramento para competência judicial e a extrajudicial e, por este motivo, as partes podem realizar a escritura no local que desejarem, mesmo sendo este diverso do último domicílio do de cujus e da localização do bem.

O artigo 22 da Resolução 35 do CNJ dispõe que no ato da lavratura da escritura deverão ser apresentados alguns documentos, tais como: a) certidão de óbito do autor da herança; b) documento de identidade oficial e CPF das partes e do

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autor da herança; c) certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros; d) certidão de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros casados e pacto antenupcial, se houver; e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos; f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens móveis e direitos, se houver; g) certidão negativa de tributos; e h) Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR, se houver imóvel rural a ser partilhado.

Os documentos de identidade das partes devem ser os originais. Os demais necessários para a lavratura poder ser cópias autenticadas. Na escritura pública deve fazer menção de todos os documentos que foram apresentados (THEODORO JUNIOR, 2007).

Nos termos dos artigos 20 e 21, da Resolução 35, as partes devem estar devidamente qualificadas, e deverão apresentar declaração de que o falecido não deixou testamento, conforme segue.

Art. 20. As partes e respectivos cônjuges devem estar, na escritura, nomeados e qualificados (nacionalidade; profissão; idade; estado civil; regime de bens; data do casamento; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver; número do documento de identidade; número de inscrição no CPFIMF; domicílio e residência).

Art. 21. A escritura pública de inventário e partilha conterá a qualificação completa do autor da herança; o regime de bens do casamento; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver; dia e lugar em que faleceu o autor da herança; data da expedição da certidão de óbito; livro, folha, número do termo e unidade de serviço em que consta o registro do óbito; e a menção ou declaração dos herdeiros de que o autor da herança não deixou testamento e outros herdeiros, sob as penas da lei.

Ainda no artigo 11 desta Resolução diz que é obrigatória a nomeação de interessado na escritura pública para representar o espólio, com poderes de inventariante, para o cumprimento de obrigações ativas ou passivas pendentes.

Sobre o instituto da inventariança Padoim (2011, p. 78), diz que “cabe referir que é obrigatória a nomeação de interessado com poderes de inventariante para representar o espólio no cumprimento de obrigações ativas ou passivas pendentes.”

O artigo 31 da Resolução em comento diz que “a escritura pública de inventário e partilha pode ser lavrada a qualquer tempo, cabendo ao tabelião

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fiscalizar o recolhimento de eventual multa, conforme previsão em legislação tributária estadual e distrital específicas.”

Com relação ao prazo para lavratura da escritura, Parizatto apud Camila Vione (2008, p. 10) explica que:

Quanto ao inventário e partilha feitos em tabelionato não se impôs prazo para a realização do ato, eis que o artigo 983 do CPC fala em “processo de inventário”, que deva ser aberto e ultimado nos prazos mencionados, sendo omisso com relação ao inventário extrajudicial.

Sobre prazo Padoim (2011, p. 78) ainda explica que:

O artigo 983 do CPC estabelece o prazo para abertura do processo de inventário e partilha, que é de 60 dias, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 meses subsequentes. Este prazo, contudo, tem aplicabilidade em relação ao inventário e partilha feitos em tabelionato, tendo em vista que a lei não faz referência a este procedimento? O entendimento majoritário da doutrina, corroborado pelo Conselho Nacional de Justiça, é no sentido de que não se impôs prazo para tanto, uma vez que o referido artigo 983 fala apenas em “processo”, sendo omisso com relação ao inventário extrajudicial, tratado no artigo que lhe antecede. Neste sentido é a redação do artigo 31 da Resolução nº 35 do CNJ.

Por fim, é dever do tabelião, analisar se todos os requisitos estão presentes no momento da lavratura da escritura, faltando algum não deve praticar o ato notarial. Se presentes todos os requisitos e documentos necessários será lavrada a escritura e o tabelião entregará para cada herdeiros uma via, a qual deverá ser registrada no Registro de Imóveis competente.

2.7 Gratuidade do procedimento

Conforme o artigo 1.124-A, §3º, do CPC, que foi acrescentado pela Lei 11.441/07, “escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que se declararem pobres sob as penas da lei.” Tal dispositivo encontra-se no capítulo do CPC que trata da separação consensual, deixando de tal forma dúvidas referentes a sua aplicabilidade ao inventário e a partilha, mas a Resolução 35 em seu artigo 6º esclarece que tal gratuidade compreende as escrituras de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais.

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Neste sentido o artigo 7º da Resolução 35 do CNJ, complementa dizendo que:

Para a obtenção da gratuidade de que trata a Lei nº 11.441/07, basta a simples declaração dos interessados de que não possuem condições de arcar com os emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por advogado constituído.

Para acrescentar Theodoro Junior (2007, p. 41) explica que:

A gratuidade prevista na Lei nº 11.441/2007, segundo a Resolução nº 35/CNJ, compreende as escrituras de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais (art. 6º). Bastará que os interessados declarem não possuir condições de arcar com os emolumentos (art. 7º).

Portanto, o requerente pobre pode por si ou por seu procurador, declarar sua pobreza nos termos da Lei 7.115/83, que trata da prova documental e disciplina a emissão e responsabilidade pelas declarações emitidas, para o fim da obtenção da gratuidade mencionada no artigo 1.124-A, do CPC. Basta a declaração do requerente, sendo desnecessário que prove a insuficiência de recursos financeiros para fazer jus a gratuidade (TARTUCE, 2007).

Se o tabelião se negar a aceitar a declaração o requerente pode manejar procedimentos administrativos, como o incidente de dúvida, mandado de segurança ou comunicar a Corregedoria Geral de Justiça (TARTUCE, 2007).

Sendo assim, se a parte for pobre e não tem condições de arcar com as custas cartorárias, pode declarar perante o tabelião e receber a gratuidade dos emolumentos da respectiva escritura.

2.8 Aplicação do procedimento administrativos à óbitos ocorridos antes da Lei 11.441/2007

No que se refere à abertura das sucessões de óbitos ocorridos antes da vigência da lei 11.441/2007, o artigo 30 da Resolução 35 do CNJ dispõe que “aplica-se a Lei 11.441/2007 aos casos de óbitos ocorridos antes de sua vigência”. Deste modo, mesmo se o óbito ocorreu em 2005, e o inventário e partilha será aberto em

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2012, poderá ser utilizado o procedimento administrativo. Bem como dispõe o artigo 1.787 do Código Civil Brasileiro, que “regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.”

Sobre a questão Padoim (2011, p. 78) esclarece que:

Outrossim, como deve proceder-se com as sucessões abertas antes da vigência da Lei 11.441/2007? É possível a realização do inventário e partilha por escritura pública? Sim, pois é aplicável a lei vigente no momento da celebração do negócio jurídico, ou seja, da lavratura da escritura.

Portanto, aplica-se a lei a óbitos ocorridos antes de sua vigência, pois não há que se falar em efeito retroativo porque se trata de norma procedimental e não há prejuízo algum a quem quer que seja. (VENOSA, 2012)

Desde modo, a qualquer tempo após a vigência da Lei poderá proceder-se a sucessão pela via administrativa, sem a intervenção do poder judiciário, pois a lei vigente no tempo da abertura é que regula a sucessão.

2.9 Sobrepartilha na via administrativa

Na Resolução 35 do CNJ, em seu artigo 25, diz que é admissível a sobrepartilha por escritura pública, ainda que referente a inventário e partilha judicial já findo, mesmo que o herdeiro, hoje maior e capaz, fosse menor ou incapaz ao tempo do óbito ou do processo judicial.

Quanto a isso Venosa (2012, p. 403), esclarece que:

Quando, por qualquer razão, feita a partilha, restarem bens impartilhados, devem ser feitas uma ou mais partilhas adicionais. A isso se chama sobrepartilha, a qual implica, também, uma descrição adicional dos bens, noutro inventário.

Para Diniz (2005, p. 426) “a sobrepartilha ou partilha adicional vem a ser uma nova partilha de bens que, por razões fáticas ou jurídicas, não puderam ser divididos entre os titulares dos direitos hereditários.”

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É admissível o uso de escritura pública para os casos de sobrepartilha, ainda que se refere à sucessão anteriormente processada em juízo, mesmo que a seu tempo houvesse herdeiro menor, hoje maior e capaz (THEODORO JUNIOR, 2007).

Para Venosa (2012, p. 404) “todos os bens excluídos da partilha ficam sujeitos a sobrepartilha. Muito comum ocorrer que os herdeiros, aguardando uma solução amigável para determinados bens, não os incluam em uma primeira partilha.”

Assim, “à sobrepartilha aplicam-se as mesmas normas que regem a partilha, por objetivar a igualdade, a comodidade das partes e a prevenção de futuros litígios, tendo, portanto, a mesma natureza da partilha” (DINIZ, 2007, p. 428).

Portanto, se por algum motivo ficarem bens não partilhados, pode-se a qualquer momento fazer a sobrepartilha pela via administrativa, mesmo que a partilha anterior foi feita judicialmente, preenchendo os requisitos ao tempo da sobrepartilha.

2.10 Inventário negativo

O inventário negativo é possível por escritura pública conforme dispõe o artigo 28 da Resolução 35 do CNJ.

O inventário será necessário para apuração dos haveres existentes na herança. Só nas exceções é que se dispensa o inventário. Porém, podem ocorrer situações em que haverá necessidade de se provar que alguém não deixou patrimônio, que não existe bem algum a inventariar, a isso se chama inventário negativo (VENOSA, 2012).

Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2007, p. 309), diz que:

Deve-se, também, considerar possível o inventário negativo por escritura pública, com o advento da Lei 11.441/2007, não mais sendo necessário o ajuizamento de ação de inventário negativo, o que permitirá desempenhar

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“função de inegável utilidade, sempre que houver necessidade de comprovar a inexistência de bens”.

Desta forma, é possível o inventário negativo pela via administrativa, uma vez que é mais viável as partes e mais célere o procedimento.

2.11 Alvará para levantar ou receber alvará

Segundo o artigo 1.037, do Código de Processo Civil, “independerá de inventário ou arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei 6.858, de 24 de novembro de 1980”, tais como saldos bancários, depósito de FGTS, PIS/PASEP, entre outros valores. Tal dispositivo simplificou os arrolamentos, não necessitando abrir inventário se o falecido não possuía bens imóveis.

O Decreto 85.845/81, que regulou a Lei 6.858/80, autorizou a liberação administrativa desses valores, independentemente de alvará. Na falta de dependentes habilitados perante a Previdência é que os interessados, sucessores na ordem civil, pedirão alvará. (VENOSA, 2012).

Para Nogueira da Gama (2007, p. 298) “a finalidade é simplificar o levantamento de pequenas quantias deixadas pelo falecido de modo a evitar ou minimizar a importância de procedimento judicial do inventário, ou mesmo a necessidade da intervenção judicial para tais casos.”

O alvará é uma autorização e não um mandado. Se o alvará não puder ser cumprido em razão de obstáculos jurídicos, administrativos ou resistência de terceiros, a questão será resolvida pelas vias ordinárias. (VENOSA, 2012).

Nesse sentido o Tribunal de Justiça, já deferiu o pedido de alvará para levantamento de valores depositados em nome do falecido, mesmo que esteja sendo feito o inventário e partilha extrajudicial:

APELAÇÃO CÍVEL. ALVARÁ. VALOR DEPOSITADO EM POUPANÇA DEIXADA PELA DE CUJUS. DEFERIMENTO. Tratando-se de herdeiros maiores e capazes, que concordam expressamente que o valor depositado em conta poupança deixada pela falecida, seja levantado para cobrir as

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despesas do funeral já pagas, não há impedimento para o deferimento do alvará, ainda que existam bens a inventariar, mormente considerando-se que os herdeiros poderão, se assim optar, fazer o inventário por escritura pública, sem necessidade de ajuizamento de ação de inventário, conforme art. 982 do CPC, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei n.º 11.441/2007. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70043398254, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz Planella Villarinho, Julgado em 09/11/2011).

O recebimento desses valores pelos dependentes do falecido é feito na esfera administrativa, sem necessidade de qualquer providência judicial, mediante apresentação da certidão de dependência fornecida pelo Instituto de Previdência Social, acompanhada de declaração de inexistência de outros bens a inventariar. Em não havendo dependentes habilitados ou seguindo a ordem de vocação hereditária, para levantamento de tais valores se faz necessário o alvará judicial. (NOGUEIRA DA GAMA, 2007).

Portanto, se tiver dependentes habilitados perante a previdência social desnecessário se fazer o alvará judicial, mas caso não houver dependentes indispensável é o alvará para levantamento de tais valores.

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CONCLUSÃO

Acerca da Lei 11.441/2007, conclui-se que foi criada para modernizar o processo civil brasileiro, autorizando a realização de partilha, inventário, separação e divórcio pela via administrativa, desde que haja consenso entre as partes, e não haja interessado incapaz, bem como não exista testamento deixado pelo falecido, e que todos estejam assistidos por um advogado.

A referida lei tem por objetivo assegurar aos cidadãos maior celeridade e efetividade nos procedimentos especiais do Código de Processo Civil.

Com isso pretende-se reduzir o volume de atividade do Judiciário, para que os Magistrados direcionam-se a demandas que realmente precisam de sua intervenção, representando a possibilidade de aliviar a justiça de um bom número de processos, pois muitas vezes por alto número de demandas pode a segurança jurídica das partes ser comprometida. Afinal, a atividade notarial equipara-se em suas atribuições à jurisdição voluntária exercida pelos órgãos judiciais.

No entanto, mesmo tendo mais celeridade e a mesma eficácia jurídica, é facultado as partes a opção pela forma judicial ou extrajudicial.

Por fim, a Lei trouxe inúmeros benefícios às partes, pois criou um mecanismo simplificado para resolver as questões patrimoniais após a morte, para que os herdeiros não necessitem suportar as dificuldades de um processo judicial, e a Escritura lavrada pelo Tabelião constitui título hábil para registro no órgão competente, gerando o mesmo efeito de um Inventário Judicial, pois depois de registrado gera efeito erga omnes, ou seja, contra todos.

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REFERÊNCIAS

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