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A influência das mudanças climáticas e sua importância para os seguros

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CLAUDIR MELLER

A INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SEGUROS

Santa Rosa (RS) 2015

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CLAUDIR MELLER

A INFLUÊNCIA DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS SEGUROS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ- Departamento de Estudos Jurídicos

Orientador: MSc. Carlos Guilherme Probst

Santa Rosa (RS) 2015

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador MSc. Carlos Guilherme Probst, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas, que colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“O direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material como no da cultura e das mentalidades.”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão trata da influência das mudanças climáticas e sua importância para os seguros, considerando sobre tudo os seguros agrícolas. Este estudo tem como objetivo, verificar quais são as principais formulações que os seguros podem desenvolver, no sentido de antever para o futuro as garantias agrícolas. Sendo que para alcançar o objetivo proposto, desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica, a qual está apresentada em dois capítulos. Inicialmente aborda-se os aspectos pertinentes ao seguro: histórico, origem, evolução; sua configuração nos dias atuais e o tratamento que a legislação lhe oferece. Em seguida apresenta-se um levantamento sobre o clima e suas características, discutindo as ações que tem sido tomadas no sentido de observar e preservar o planeta, considerando sua influência na agricultura, e a repercussão no que se refere aos seguros agrícolas.

Palavra-chave: Seguro. Agricultura. Clima.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 07

1 CONCEPÇÃO DE MERCADO DE SEGUROS ... 09

1.1 Breve relato histórico do Seguro ... 09

1.2 O seguro no Brasil ... 10

1.3 O seguro no Código Civil de 2002 ... 14

1.4 Classificação dos contratos de seguro ... 15

1.5 Elementos do contrato de seguro ... 17

1.5.1 Quanto às partes ... 17

1.5.2 Quanto ao objeto ... 19

1.5.3 Quanto a forma ... 20

1.6 Efeitos do Contrato de Seguro ... 21

1.7 Perspectivas para o Mercado Segurador Brasileiro ... 22

1.8 Principais produtos de seguro comercializados no Brasil ... 24

1.9 O Mercado agrícola no ramo de seguros ... 31

2 CONCEPÇÃO DE MUDANÇA CLIMÁTICA ... 38

2.1 O clima ... 39

2.1.1 Sistemas eólicos globais ... 46

2.1.2 Do Vento à Tempestade ... 48

2.2 Ações de observação e proteção do meio ambiente ... 50

CONCLUSÃO ... 55

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo acerca da influência das mudanças climáticas e sua importância para os seguros, considerando sobre tudo os seguros agrícolas.

O Brasil, assim como outros países no mundo, sofre com as constantes alterações climáticas, o que implica diretamente na perda de safras e consequentemente redução da produção; de modo que a área de seguros agrícolas também acaba precisando se adaptar e adequar a esta realidade. Assim, o presente estudo pretende verificar quais são as principais formulações que os seguros podem desenvolver, no sentido de antever para o futuro as garantias agrícolas.

As concepções sobre o que deve ser entendido a partir da primeira Conferência Mundial sobre o Clima em 1979 em GENEBRA marcou, juntamente com o Programa Mundial sobre o Clima (WCP), o início de intensos esforços internacionais para entender cientificamente as mudanças climáticas. Contudo, não há uma compreensão do tema aceita como definitiva, uma vez que as acepções desta temática dentro deste contesto de mudança procura entender as variações na produção e preços dos principais produtos agrícolas e por consequência sua necessidade maior ou menor de garantias de seguro não só das plantações e vegetações bem como dos próprios equipamentos de produção que geram principalmente os alimentos para saciar a fome da população mundial.

Dentro da problemática dos efeitos das mudanças climáticas nos últimos anos e fazendo uma projeção dos vencedores e perdedores nas próximas décadas, apresentar uma posição sobre a vinculação aos valores dos produtos apresentados

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nos diversos ramos com suas perspectivas considerando também fatores para o mercado de seguros.

Sendo que para alcançar o objetivo proposto, desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica, a qual está apresentada em dois capítulos. No primeiro capítulo abordam-se os aspectos pertinentes ao seguro: histórico, origem, evolução; sua configuração nos dias atuais e o tratamento que a legislação lhe oferece.

No segundo capítulo apresenta-se um levantamento sobre o clima e suas características, discutindo sua influência no Brasil, e na agricultura, tratando das ações que mundialmente estão sendo tomadas no sentido de observar, estudar e preservar o clima do planeta, e a repercussão no que se refere aos seguros agrícolas.

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1 CONCEPÇÃO DE MERCADO DE SEGUROS

No presente capítulo apresenta-se uma breve explanação sobre os seguros e seus elementos técnicos.

1.1 Breve relato histórico do Seguro

A pesquisa sobre a história do seguro indicou que este surgiu ainda na Idade Média, com a finalidade de proteção dos bens dos acontecimentos imprevistos. Pulido (2006) informa verifica-se a ocorrência de contrato de seguro no Extremo Oriente, na forma de acordos realizados por cameleiros, tendo a função de cobrir possíveis perdas de animais que viessem a ocorrer durante as viagens das caravanas; isso porque, a perda de animais, no caso, camelos, poderia repercutir em prejuízo ou até mesmo na ruína para o mercador, de modo que, tiveram a ideia de dividir o risco entre todos que atuavam na mesma atividade, de forma que todos os mercadores assumiriam o risco da perda dos camelos das caravanas que fossem viajar.

Os cameleiros da Babilônia atravessavam o deserto em caravanas para comercializar seus animais nas cidades vizinhas. Sentindo as dificuldades e os perigos da travessia, como a morte ou desaparecimento dos animais, estabeleceram um acordo: cada membro do grupo que perdia um camelo tinha garantia de receber um animal pago pelos demais cameleiros. (MATTOS, 1990, p. 9 apud PULIDO, 2006, p. 10).

Pimenta Neto (2015) menciona que este mesmo mecanismo foi usado pelos navegantes fenícios e hebreus, cujos barcos navegavam através dos mares Egeu e Mediterrâneo, e que também enfrentavam problemas com as perdas de produtos eram enviados a longas distâncias, então faziam ajustes com o objetivo de amenizar os prejuízos das embarcações perdidas.

Sobre este aspecto, Pulido (2006) cita Mattos:

Povos da Antiguidade como os hebreus e os fenícios, grandes navegadores, enfrentavam riscos em suas contínuas travessias entre os mares Egeu e mediterrâneo. Por isso, procuraram uma forma de garantir-se contra possíveis prejuízos e firmaram um acordo entre si: quem perdia uma embarcação tinha garantida a construção de outra, paga pelos demais navegadores participantes da mesma viagem. (MATTOS, 1990, p. 9 apud PULIDO, 2006, p. 10).

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Pimenta Neto (2015) salienta que ainda na Fenícia foi criado um fundo de reserva formado de parte dos lucros de maneira a fazer frente a eventuais prejuízos de viagens futuras. Também se oneravam as mercadorias que chegavam a salvo a seu destino de forma a fazer frente ao valor das que eram perdidas.

O primeiro contrato de seguro nos moldes atuais foi firmado em 1347, em Gênova, com a emissão da primeira apólice. Era um contrato de seguro de transporte marítimo. Daí em diante, o seguro foi ainda mais impulsionado pelas Grandes Navegações do século XVI, pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimento da teoria das probabilidades associada à estatística (XAVIER et al., 2014).

Desta forma, surgiu o mutualismo, através do qual os comerciantes de determinado centro comercial reuniam-se a fim de contribuir para uma despesa comum. O prejuízo era dividido por todos, buscando assim amenizar o prejuízo (PULIDO, 2006).

A ideia de garantir o funcionamento da economia por meio do seguro prevalece até hoje, no entanto, a forma de seguro é que mudou, se aperfeiçoando conforme as situações que foram surgindo.

1.2 O seguro no Brasil

No que se refere a atividade seguradora no Brasil, Pulido (2006) destaca que esta teve início com a abertura dos portos ao comércio internacional, em 1808; sendo que a primeira sociedade de seguros a funcionar no país foi a “Companhia de Seguros BOA-FÉ”, em 24 de fevereiro daquele ano, na Bahia, e tinha por objetivo operar no seguro marítimo.

Os seguros começaram a se desenvolver no Brasil a partir de 1.808, com a chegada da família real portuguesa e a consequente abertura dos portos às nações estrangeiras, realizada por D. João VI. Neste ano, foi autorizado o funcionamento das primeiras companhias seguradoras brasileiras, ambas com sede na Bahia. A primeira denominava-se boa-fé e a segunda Conceito Público (ALVIM, 1999, p. 547 apud SOUZA, 2010).

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através do Código Comercial, com o advento da Lei n. 556/1850, o que motivou o surgimento de seguradoras atuando não só com o seguro marítimo, expressamente previsto na legislação, mas também com o seguro terrestre e o seguro de vida, este proibido antes por razões religiosas (PULIDO, 2006).

Pulido (2006) explica que em 1855, foi fundada a Companhia de Seguros Tranquilidade, sendo esta a primeira empresa a operar seguros de vida no Brasil, tanto de pessoas livres quanto de escravos, já que o Código Comercial de 1850 proibia o seguro de pessoas livres, sendo destinado sobre a vida de escravos, já que neste período, os escravos eram tidos como objeto de propriedade.

Xavier et al. (2014) explicam que em meados de 1862, surgiram as primeiras sucursais de seguradoras sediadas no exterior. No entanto, estas empresas acabavam transferindo para suas matrizes os prêmios cobrados, o que provocava indesejáveis evasões de divisas. Desta forma, com o objetivo de proteger os interesses econômicos do Brasil, foi promulgada a Lei n. 294 em 1895, a qual essencialmente determinava que as reservas técnicas fossem constituídas e tivessem seus recursos aplicados no Brasil.

Em 1901, o Decreto n. 4.270, conhecido como “Regulamento Murtinho”, juntamente com seu regulamento anexo, normatizou o funcionamento das companhias de seguros já existentes ou que viessem a se organizar no território nacional. Esse regulamento criou a “Superintendência Geral de Seguros”, a qual era subordinada diretamente ao Ministério da Fazenda, e que passou a concentrar todas as questões referentes à fiscalização de seguros. Cabia à Superintendência a fiscalização preventiva, exercida por ocasião do exame da documentação da sociedade que requeria autorização para funcionar, e a repressiva, sob a forma de inspeção direta, periódica, das sociedades (XAVIER et al., 2014).

O Código Civil de 1916 regulamentou os demais seguros em geral, salientando que os marítimos já estavam regulamentados no Código Comercial. Desse modo, o Código Comercial e o Código Civil fixavam os princípios essenciais do contrato de seguro e disciplinaram os direitos e obrigações das partes, de modo a evitar e dirimir os possíveis conflitos que viessem a surgir entre os interessados

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(PULIDO, 2006).

O conceito de contrato de seguro, no Código Civil de 1916, estava disciplinado no art. 1.432: “Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes se obriga para com a outra, mediante a paga de um prêmio, a indenizá-lo do prejuízo resultante de riscos futuros, previstos no contrato.”

Xavier et al. (2014) destaca que o Código Civil, sancionado pela Lei. 3.071/1916, apresentou um capítulo específico dedicado ao “contrato de seguro”; sendo que os preceitos formulados pelo Código Civil e pelo Código Comercial passaram a compor, em conjunto, o que se chama Direito Privado do Seguro. Esses preceitos fixaram os princípios essenciais do contrato e disciplinaram os direitos e obrigações das partes, de modo a evitar e dirimir conflitos entre os interessados. Foram esses princípios fundamentais que garantiram o desenvolvimento da instituição do seguro.

Com a criação do Estado Novo, em 1937, foram criados os seguros obrigatórios e estabelecido o Princípio da Nacionalização do Seguro. Sendo que em 1939, através do Decreto-lei n. 1.186, de 3 de abril de 1939, criou-se o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), o qual determinava que as sociedades seguradoras eram obrigadas a ressegurar no IRB as responsabilidades que excedessem sua capacidade de retenção própria, que, por meio da retrocessão, passou a compartilhar o risco com as sociedades seguradoras em operação no Brasil.

Com esta medida, o Governo Federal procurou evitar que grande parte das divisas fosse consumida com a remessa, para o exterior, de importâncias vultosas relativas a prêmios de resseguros em companhias estrangeiras. É importante reconhecer o saldo positivo da atuação do IRB, propiciando a criação efetiva e a consolidação de um mercado segurador nacional, ou seja, preponderantemente ocupado por empresas nacionais, sendo que as empresas com participação estrangeira deixaram de se comportar como meras agências de captação de seguros para suas respectivas matrizes, sendo induzidas a se organizar como empresas brasileiras, constituindo e aplicando suas reservas no País.

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O IRB adotou, desde o início de suas operações, duas providências eficazes visando criar condições de competitividade para o aparecimento e o desenvolvimento de seguradoras de capital brasileiro: o estabelecimento de baixos limites de retenção e a criação do chamado excedente único. Através da adoção de baixos limites de retenção e do mecanismo do excedente único, empresas pouco capitalizadas e menos instrumentadas tecnicamente -como era o caso das empresas de capital nacional -passaram a ter condições de concorrer com as seguradoras estrangeiras, uma vez que tinham asseguradas a automaticidade da cobertura de resseguro.

Em 20 de junho de 1940, através do Decreto n. 5.901, foram criados os seguros obrigatórios para comerciantes, industriais e concessionários de serviços públicos, pessoas físicas ou jurídicas, contra os riscos de incêndios e transportes (ferroviário, rodoviário, aéreo, marítimo, fluvial ou lacustre), nas condições estabelecidas no mencionado regulamento.

O Decreto-Lei n. 73 foi promulgado em 23 de novembro de 1966, o qual tratava do Sistema Nacional de Seguros Privados; e também regulou as Operações de Seguros e Resseguros, além de apresentar outras providências e regulamentar as demais espécies de seguros. Com este Decreto criou-se o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), e o Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização (DNSPC), atualmente extinto, sendo que em seu lugar foi criada a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Destaca-se que o Decreto-Lei n. 73 está vigente até os dias atuais (PULIDO, 2006).

Sobre a SUSEP, Pulido (2006) cita Cavaleiro Neto que explica:

Susep-Superintendência de Seguros Privados, órgão com função controladora e fiscalizadora da constituição e funcionamento das sociedades seguradoras e entidades abertas de previdência privada em solo brasileiro. Dotada de poderes para apurar a responsabilidade e apenar corretores de seguros que atuem culposa ou dolosamente em prejuízo das seguradoras ou do mercado, a Susep assume, pela primeira vez no Brasil, a tutela direta dos interesses dos consumidores de seguros (CAVALEIRO NETO, 2004, p. 5 apud PULIDO, 2006, p. 11-12).

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1.3 O seguro no Código Civil de 2002

O Código Civil de 2002, define o conceito de contrato de seguro no art. 757, da seguinte forma: “Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento de um prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativa a pessoa ou coisa, contra riscos pré-determinados.”

Pulido (2006) comenta que a definição está mais aperfeiçoada por dois motivos: não está firmado nas ideias de indenização e nem de bilateralidade. E isso se constata ao verificar que o Código Civil de 2002 não utiliza o verbo “indenizar”, em função de que este envolve uma ideia de inadimplemento de obrigação e culpa, que não é o caso do seguro, já que neste caso, trata-se de uma contraprestação contratual, pois está cumprindo o que está previsto no contrato. Apesar disso, chama-se à quantia paga ao segurado de indenização. Que na realidade trata-se de uma forma de ressarcimento em decorrência do próprio contrato de seguro.

Sobre este aspecto Pulido (2006, p. 13) cita Silvio de Salvo Venosa (2003, p. 377) que afirma:

No seguro, não existe propriamente uma indenização, conceito que está ligado à noção de inadimplemento e culpa, mas “contraprestação contratual”, ou seja, o segurador não indeniza quando ocorre um fato ou ato danoso, apenas cumpre o que toca pela avença contratual.

O outro aspecto levantado por Pulido (2006) trata do fato da inclusão da expressão “interesse legítimo”. No contrato de seguro as partes não são só o segurador e o segurado, há ainda a figura do beneficiário, este seria o terceiro que receberia a “indenização” no caso de seguro de vida.

A base do seguro é o mutualismo. A contribuição dos segurados formará o fundo comum de onde sairão os recursos para o pagamento de sinistros, pagamento das despesas de administração, lucro operacional e das reservas exigidas na lei. O que leva ao entendimento de que o seguro é a técnica da solidariedade, pois reparte os prejuízos para muitos em pequenas parcelas que não afetam sua estabilidade econômica.

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Venosa (2003, p. 377) comenta:

Embora o contrato de seguro seja negócio jurídico isolado e autônomo entre segurador e segurado, somente se torna viável se existe base mutuária para custeá-lo, e um amplo número de segurados (apud PULIDO, 2006, p. 13).

Com base nessas considerações, pode-se afirmar que o contrato de seguro, o segurador, mediante a contribuição pecuniária denominada prêmio, paga pelo segurado, se obriga a ressarcir o mesmo dentro dos limites convencionados, o prejuízo sofrido por um evento aleatório. Destacando que a interpretação de um contrato de seguro é sempre restritiva, pois, o segurador compromete-se a pagar apenas o valor segurado. O seguro é um poderoso meio para financiar o risco e reduzir a perda patrimonial (PULIDO, 2006).

Souza (2010) destaca que o seguro tem duas funções essenciais para com seu contratante: social, tranquilizando-o em sua vida particular e econômica, satisfazendo-o financeira e economicamente. Confere ao homem a certeza de em caso de destruição das coisas e perecimento das pessoas, o direito de prevenir-se, mantendo assim seu equilíbrio econômico e social. Atualmente está presente em diversos ramos de atuação, tais como, acidentes, automóveis, animais, cascos, fidelidade funcional, incêndio, lucros cessantes, roubo, transporte, vida e outros.

1.4 Classificação dos contratos de seguro

O contrato de seguro é doutrinariamente classificado como consensual, bilateral, oneroso, formal, de adesão e aleatório (SOUZA, 2010).

Pulido (2006) explica que o contrato de seguro é bilateral, pois tanto o segurado como o segurador tem obrigações. Por exemplo, uma das obrigações do segurado é pagar o prêmio e da seguradora é pagar a indenização em caso de sinistro.

Argumentam alguns que, não havendo sinistro, não teria o segurador de pagar nada, e, portanto, estaria descaracterizada a bilateralidade, posto que somente uma das partes teria cumprido a obrigação. Pode-se entender tal posição se focalizado o contrato sob o ponto de vista individual. Todavia, tal argumento não tem apoio técnico. O segurador sempre indenizará parte do grupo segurado, além de disponibilizar provisões financeiras para cada prêmio recebido. (MARTINS, 2002, p. 34 apud PULIDO, 2006, p. 17).

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Pulido (2006) argumenta e explica que é um contrato oneroso em função de ambas as partes terem sacrifício patrimonial. Mesmo não ocorrendo o sinistro durante a vigência do contrato, ainda assim continua sendo oneroso, pois o segurado pagou o prêmio devido. Além disso, trata-se de um contrato aleatório, já que não há equivalência entre as prestações, depende de um acontecimento futuro e incerto, da ocorrência ou não do sinistro e sua extensão. Também é consensual, pois este contrato está perfeito e acabado com o acordo de vontades; e finalmente, a exigência prevista no art. 758 tem caráter probatório já que o texto deste artigo defini que: “o contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete de seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio”.

Embora o legislador não expresse que o contrato não obriga, enquanto não reduzido a escrito, a doutrina é homogênea em considerá-lo consensual, porque essa formalidade não é da substância do ato, tendo apenas caráter probatório. O seguro surge do acordo de vontades. O contrato conclui-se com o consentimento das partes (VENOSA, 2003, p. 378 apud PULIDO, 2006, p. 17).

Ainda sobre o contrato de seguro, Pulido (2006) segue destacando que a execução neste contrato é sucessiva, já que o bem nele segurado estará protegido durante o período previsto no contrato. Trata-se ainda de um contrato de adesão pois as partes não participam da sua elaboração, nem das condições gerais, mas aderem o que está convencionado. É um contrato de adesão dirigido sendo que a aprovação da apólice de seguro depende da análise do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).

Pequenas alterações de cláusula, ou qualquer outra condição sugerida pelo segurado, não desnatura essa classificação, já que o contrato é apoiado em nota técnica e não se permitem alterações em sua base, sob pena de comprometer o todo (MARTINS, 2002, p. 38 apud PULIDO, 2006, p. 18).

Souza (2010) destaca que outro critério de classificação adotado e de essencial importância é a “boa fé”, que deve existir em qualquer relação jurídica, mencionando o artigo 422 do atual Código Civil contempla que:

Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato como em sua execução, os princípios de probidade e boa fé. O segurado deve manter uma conduta sincera e leal em suas declarações feitas a requerimento da seguradora, sob pena de receber sanções em procedendo

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de má fé. Esta de qualquer uma das partes, não se presume sendo necessária a sua comprovação.

O que vem de encontro ao entendimento de Pulido (2006) que também afirma que na realização do negócio, as partes têm que agir de boa-fé, principalmente em suas declarações, pois essas devem ser verdadeiras e completas sob pena de perder o direito ao valor da cobertura e pagar o prêmio vencido. A esse respeito o art. 766 e seu parágrafo único do Código Civil mencionam que:

Artigo 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na sua aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido.

Parágrafo único: Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.

Evidenciando-se desse modo, a necessidade da boa-fé no contrato de seguros para garantir sua validade e viabilidade.

1.5 Elementos do contrato de seguro

O seguro tem como finalidade específica restabelecer o equilíbrio econômico perturbado por um risco, de modo que, é proibido por lei a possibilidade de obtenção de lucro ao segurado.

Quanto aos elementos que constituem o contrato de seguro, Souza (2010) menciona que estes podem ser definidos como: as partes de uma relação jurídica, o objeto e a forma como é firmado o negócio jurídico. Elementos estes que serão tratados um a um a seguir.

1.5.1 Quanto às partes a) SEGURADO

O segurado dentro do contrato de seguros é aquele cujo interesse legítimo vai garantido contra os riscos que em um primeiro momento lhe atingiam de forma individual e, com o contrato de seguros, são transferidos para uma massa

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pulverizada de riscos homogêneos administrada pela seguradora.

Segurado é a pessoa física ou jurídica que, possuindo interesse segurável, contrata o seguro, em seu benefício pessoal ou de terceiros. É a parte na relação contratual que paga um prêmio à seguradora, para assim ter direito de receber uma indenização, se ocorrer o sinistro resultante do risco previsto no contrato. O segurado compra à seguradora o direito de receber uma eventual indenização, pagando um preço que se denomina prêmio ou quota (SOARES, 1975, p. 34 apud SOUZA, 2010).

Souza (2010) cita ainda a definição de segurado dada por Alvim, que determina como:

[...] a denominação técnica e jurídica do titular do risco. E o seguro que ele faz se diz por conta própria em oposição ao seguro por conta de outrem, também conhecido por seguro por conta de terceiro, quando alguém assume a posição de estipulante perante o segurador. O contexto da apólice esclarece, de um modo geral, se o seguro é por conta própria ou de outrem, seja expressamente por declaração do contratante, seja tacitamente por suas disposições” (ALVIM, 1999, p. 547 apud SOUZA, 2010).

b) SEGURADORA

Costa (2013) destaca que o parágrafo único do artigo 757, limita a legitimidade do segurador para que somente entidades autorizadas possam comercializar os seguros, afirmando assim, que o segurador terá sua atividade regulamentada em normas externas ao Código Civil.

A regulamentação da atuação das seguradoras a que faz referência o parágrafo único do artigo 757, encontra-se no Decreto-Lei 73/66, salientando que o início da operação da seguradora necessita de autorização fornecida pelo Poder Público, conforme dispõe o artigo 74 do referido decreto, que determina: “A autorização para funcionamento será concedida através de portaria do Ministro da Indústria e do Comércio, mediante requerimento firmado pelos incorporadores dirigido ao CNSP e apresentado por intermédio da SUSEP”.

A sociedade seguradora é a parte que na relação contratual se obriga a efetuar uma indenização, resultante do prejuízo de um sinistro. Só pode ser pessoa jurídica, legalmente autorizada para operar no ramo de seguros. Exercem com exclusividade as operações de seguros privados, compreendendo os seguros de coisas, bens, pessoas, obrigações, responsabilidades, direitos e garantias, mas não atuam com seguros sociais, os quais ficam a cargo do INSS (SOARES, 1975, p.34 apud

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SOUZA, 2010).

Costa (2013) lembra ainda, as normas modernas não permitem que os seguradores exerçam outra atividade que não a securitária como escopo de seus objetos sociais (artigo 73 do Decreto-lei 73/66), além de impor restrições a depender do tipo de seguro comercializado quanto à forma de organização societária da empresa seguradora, como se observa no artigo 24 do mesmo Decreto-lei, que dispõe que “Poderão operar em seguros privados apenas Sociedades Anônimas ou Cooperativas, devidamente autorizadas”.

Para operar com seguros privados, a pessoa jurídica, depende de prévia autorização governamental, sob pena de multa e de cometimento de crime contra o sistema financeiro nacional. Para atuar em seguros privados, as pessoas jurídicas devem assumir a forma de sociedade anônima ou cooperativa, a qual terá sua atividade restrita aos seguros rurais e de saúde (COSTA, 2013).

1.5.2 Quanto ao objeto

Costa (2013) destaca que o objeto reside no interesse segurado, ou seja, no risco. Neste sentido, Alvim conceitua o elemento risco como: “acontecimento possível, futuro e incerto, ou de data incerta, que não depende somente da vontade das partes” (ALVIM, 2001, p. 215 apud RACCA, 2012, p. 5). Deste modo, o risco pode ter a ocorrência certa, porém deve-se ter como incerto o momento do acontecimento, como por exemplo no caso do seguro de vida, onde a morte do segurado é certa, já que todo ser humano algum dia morre; porém, não se sabe quando ele irá falecer.

O Código Civil faz menção à expressão riscos predeterminados, ou seja, não serão todos os tipos de riscos que serão cobertos pela avença securitária, apenas os pré-acordados, pois é impossível a abrangência de todos os riscos possíveis. O dispositivo legal exprime a necessidade de se fixar os riscos a serem cobertos, pois é exatamente desta predeterminação de riscos que surge a possibilidade técnica de elaborar cálculos e estatísticos de molde a ser fixada a taxa de prêmio a ser paga pelo segurado.

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De outro lado, tem-se a expressão “prêmio”, o qual ao contrário do associado por muitas pessoas, não diz respeito à recompensa, premiação, bonificação ou a indenização decorrente de um sinistro; o prêmio na verdade refere-se ao valor pago pelo segurado (consumidor) ao segurador (fornecedor) para que este assuma os riscos do objeto contratual (LUCAS FILHO, 2011, p. 9 apud RACCA, 2012, p. 05).

Em outras palavras, Racca (2012) explica que o prêmio consiste na contraprestação devida pelo segurado à seguradora, em troca da garantia que esta lhe oferece no caso da ocorrência de um evento danoso no patrimônio ou na pessoa do segurado, sendo ausente o pagamento do prêmio, é impossível o segurador formar o fundo comum necessário às indenizações de todos os sinistros ocorridos. Portanto, o prêmio é um dos elementos essenciais na avença securitária.

1.5.3 Quanto a forma

O contrato de seguro é contrato formal, mas não solene, pois ser formal ou não, concerne a aspectos intrínsecos do contrato, ao passo que a solenidade é providência, extrínseca, geralmente relacionada à eficácia. No caso do contrato de seguro, o instrumento escrito é imprescindível, sendo que este recebe o nome de “Apólice”, mas também se admite a contratação através de bilhete emitido por solicitação verbal do interessado, prescindindo de proposta escrita afastando-se incidência do artigo 1.433 do Código Civil (SOUZA, 2010).

Assim, entende-se que o instrumento é sempre escrito, sendo a proposta também. Após a proposta por escrito, corre prazo de noventa dias para sua aceitação, que não é prazo do contrato mas sim de irrevogabilidade. A função da apólice é “ad probationem”, a qual tem duas implicações: a primeira é que na discordância da proposta assinada com a apólice, emitida “a posteriori”, há de prevalecer a primeira por reclamação do interessado, sob presunção de aquiescência, lícito que é modificar-se os termos até por instrumento à parte; a segunda é que a aceitação do contrato se dá com a emissão da apólice (SOUZA, 2010).

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apólice todas as cláusulas do contrato, divididas em duas espécies: obrigatórias e facultativas. As obrigatórias são tidas como essenciais, e são formadas de: a identificação dos contratantes, objeto do seguro, valor, data do início e fim, beneficiários, etc. Nas cláusulas facultativas, encontra-se disciplina dos interesses dos contratantes no caso específico.

1.6 Efeitos do Contrato de Seguro

O contrato de seguro, como já mencionado anteriormente, está disciplinado no atual Código Civil em seu capítulo XV, “Do Seguro” em seu Artigo 757 e seguintes, nele o código indica direitos e deveres das partes e princípios dessa relação jurídica. Mas apesar de um capítulo próprio no Código Civil, o que se observa na jurisprudência, são julgados utilizando o Código de Defesa do Consumidor (CDC), caracterizando a abusividade da parte mais forte (seguradora) em relação a parte mais fraca (segurado).

Isso porque, no Código Civil são observados, o sujeito capaz, objeto e forma desse contrato e demais disposições que regram a matéria no direito brasileiro. Enquanto que ao CDC cabe somente a obediência ao contrato de seguro pelas partes e nulidade de cláusulas abusivas, sancionando o abuso.

Como efeitos à falta de obediência ao capítulo XV do Código Civil tem-se a nulidade absoluta na relação jurídica, já a abusividade em uma cláusula contratual trará uma ineficácia a mesma, a qual poderá ser sanada em defesa pelo CDC.

Sobre as cláusulas abusivas, Nery Júnior e Nery (2007, p. 1379) afirmam que “As cláusulas abusivas são aquelas notoriamente desfavoráveis à parte mais fraca na relação contratual de consumo”.

O parágrafo 2º do artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre a nulidade de qualquer cláusula considerada abusiva, porém, apesar disso, não invalida o contrato, exceto quando da sua ausência acarretar ônus excessivo a qualquer das partes, adotando o CDC o princípio da conservação dos contratos ao determinar que somente a cláusula abusiva é nula permanecendo válidas as demais

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cláusulas contratuais.

Já o artigo 6º do CDC, cita como um direito do consumidor a possibilidade de modificação de cláusulas contratuais no sentido de restabelecer o equilíbrio da relação jurídica. Assim, cabe ao consumidor solicitar ao juiz de direito, que altere o conteúdo negocial de uma cláusula considerada abusiva. Existe, então, a ineficácia de uma cláusula abusiva e não a nulidade absoluta.

Neste sentido, preceitua o artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor:

São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

IV estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa fé ou a equidade.

Então tem-se alguns diplomas legais que disciplinam o seguro. São eles: o Código Comercial, o qual se aplica a transporte marítimo de cargas; o Decreto Lei 73/66 (Lei do Seguro) o qual dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados e regula operações de seguros e resseguros; o controle administrativo da Susep (Superintendência de Seguros Privados) que é órgão executor, fiscalizador da política do Conselho Nacional de Seguros Privados; assim como o Código Civil e CDC, anteriormente citados.

1.7 Perspectivas para o Mercado Segurador Brasileiro

Conforme Pereira (2007) o mercado segurador brasileiro é o maior da América Latina e, em razão de sua economia crescente e sua população, de aproximadamente 180 milhões, oferece potencial para tornar-se um dos mais importantes centros seguradores no médio-longo prazo, em todos os segmentos, incluindo Seguros Gerais, Seguro de Vida e Produtos de Previdência Complementar.

O autor informa que alguns aspectos como: a estabilização da economia, as tendências positivas de crédito e as reformas ocorridas na década de 90 para estabilizar a moeda e estimular a poupança interna, foram responsáveis para construção de um cenário apropriado ao crescimento estável para a maioria dos

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segmentos de seguros e um crescimento recentemente rápido para os planos de previdência complementar (PEREIRA, 2007).

O crescimento econômico contribuiu diretamente para o aumento do consumo e consequente crescimento da produção industrial, além do aumento da oferta de crédito; o que gerou o acréscimo na demanda por seguros de propriedade, geral e de vida. De outro lado, Pereira (2007) menciona que restringindo o crescimento tem-se a extrema disparidade da distribuição de renda no país e a modesta participação de gastos com seguros relativamente aos gastos internos totais, que apesar de comparáveis a outros países na América Latina, mantém-se aquém das economias mais desenvolvidas.

Assim, o mercado de seguros no Brasil mostra-se como um ramo consolidado, principalmente quando se trata dos grupos afiliados a bancos, salientando-se um considerável aumento da participação de seguradoras internacionais, através de uma combinação de aquisições e “joint ventures” com grupos seguradores estabelecidos (PEREIRA, 2007). Tendência esta que deve continuar, conduzindo a uma maior consolidação e racionalização da estrutura desse mercado.

No que se refere as seguradoras afiliadas a bancos, estas dominam os segmentos de seguros de vida e de previdência complementar, em função de que os conglomerados financeiros, particularmente, são bem desenvolvidos no Brasil. Ainda conforme o expresso por Pereira (2007), outros segmentos, como seguros de Auto e seguros comerciais, estão distribuídos entre corretoras independentes. Experiências com canais de distribuição alternativos, apesar de atualmente em operação, tendem ocorrer apenas de forma marginal, parcialmente em razão de restrições legais.

Pereira (2007) esclarece que, atualmente, distribuições por canais alternativos são focadas principalmente em marketing de massa para seguros e poupança, com baixos limites, direcionados para a população menos favorecida, o que pode ter um crescimento significativo, porém no médio-longo prazo.

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afirmando que a abertura do mercado de resseguros certamente implicará em mudanças no mercado e no comportamento das seguradoras, particularmente no segmento de seguro comercial, onde poderão ocorrer consolidações e alianças com seguradoras internacionais. E salienta ainda que é importante destacar o papel ativo e até mesmo pró-ativo da SUSEP, na formatação das informações financeiras do setor, padronização contábil e de constituição de reservas; no desenvolvimento de novas diretrizes de irregularidades para controle interno e governança corporativa; bem como possivelmente, um novo modelo de risco ajustado para análise de solvência de seguradoras.

1.8 Principais produtos de seguro comercializados no Brasil

A necessidade da população brasileira em proteger seus patrimônios está cada dia mais expressiva, em função de motivos sociais e econômicos vivenciados.

Com isso, o Brasil acabou se tornando um país com um amplo número de possibilidades de produtos segurados. Para a contratação de um seguro é adequado que o contratante encontre aquele que melhor se enquadre a sua necessidade. Para tanto, as seguradoras disponibilizam de vários tipos de produtos para cada risco analisado, demonstrando a preocupação destas em compreender de fato o que o cliente busca.

Sobre os produtos de seguro comercializados no Brasil, utilizou-se o disposto por Pereira (2007) e Pinto (2006), conforme segue:

Automóveis: trata-se, de um dos produtos mais vendidos no mercado segurador. Garante ao contratante da apólice, a indenização dos prejuízos efetivamente sofridos e despesas comprovadas, decorrentes dos riscos cobertos e pertinentes ao(s) veículo(s) segurado(s), com as seguintes coberturas: colisão, incêndio e Roubo. E ainda, coberturas acessórias como assistência dia e noite, carro reserva, vidro protegido e outros (PEREIRA, 2007).

Responsabilidade civil geral: garante o reembolso das quantias pelas quais o segurado vier a ser responsável civilmente. Destina-se às pessoas jurídicas ou

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físicas que possam vir a sofrer cobranças de indenizações, por danos causados a terceiros, decorrentes de riscos coberto pelo contrato de seguro. Nas pessoas jurídicas, as coberturas abrangentes neste tipo de seguro são adquiridas conforme a necessidade da atividade desenvolvida pela empresa. Para estabelecimentos comerciais e/ou industriais são cobertos os riscos referentes às atividades praticadas pelo segurado, causando danos a terceiros em razão de: uso e conservação dos imóveis; demonstração de produtos em postos de vendas e/ou locais de clientes; participação em feiras e exposições; incêndio; explosões e quedas de objetos (PINTO, 2006).

DPVAT: Seguro obrigatório para todas as categorias automotores, com finalidade de garantir indenizações nos casos de acidentes de trânsito de qualquer gênero ou natureza, obtendo as seguintes coberturas: morte acidental, invalidez permanente ou parcial acidental, despesas médicas hospitalares. Sua contratação é realizada no momento da regularização do veículo no Detran, e sua indenização poderá ser paga por qualquer instituição de seguro devidamente registrada nesta categoria pela SUSEP (PEREIRA, 2007).

DPEM: Seguro obrigatório para toda embarcação marítima, com finalidade de ressarcimento nos casos de acidentes durante o percurso fluvial. Sua contratação também é realizada na regularização de documentos da embarcação (PINTO, 2006). Riscos nomeados: garante as coberturas adequadas à evolução tecnológica da empresa, suas instalações em seus equipamentos. Surge como uma cobertura adicional adquirida quando já existe à cobertura obrigatória de incêndio, não importando o tamanho ou atividade da firma. São coberturas pretendidas devidamente listadas e associadas a seus respectivos limites máximos indenizáveis, podendo incluir também a cobertura para interrupção de produção (PINTO, 2006).

Riscos operacionais: caracteriza-se por sua cobertura tipo “All Risk”, isto é, abrange todas as perdas ou danos materiais causados aos bens segurados, exceto os formalmente excluídos em suas condições gerais de contratação da apólice. Não sendo obrigatória a contratação da cobertura relativa à quebra de máquinas, ficando a critério do segurado a contratação dos mesmos. Este seguro fica destinado as

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pessoas jurídicas e ainda mais interessantes à indústria e o comércio (PINTO, 2006).

Acidentes pessoais: este seguro tem por objetivo garantir o pagamento de uma indenização ao segurado ou aos seus beneficiários na ocorrência de qualquer sinistro acidental, como: morte acidental, invalidez permanente total ou parcial por acidente e despesas médicas hospitalares. Podem ser contratados de forma individual para pessoas físicas, coletivo para pessoas jurídicas (PEREIRA, 2007).

Acidentes pessoais de passageiros: Este seguro tem por objetivo garantir o pagamento de uma indenização em caso de morte, invalidez permanente ou despesas médicas hospitalares, em decorrência de um acidente de trânsito, de qualquer passageiro que esteja no interior do veículo do segurado (PINTO, 2006).

Transportes: os Seguros de transportes proporcionam proteção ampla para bens e mercadorias transportados no território nacional e internacional, em operações de importação e exportação, em meios de transporte terrestre, marítimo, aéreo, ferroviário, fluvial ou lacustre (PINTO, 2006).

Pereira (2007) esclarece que os seguros de transportes atendem às necessidades de empresas transportadoras ou pessoas físicas ou jurídicas que possuam bens a ser transportados na condição de carga. Sendo que no caso do transporte aéreo, são oferecidas as coberturas de incêndio, abalroação; colisão; queda da aeronave, além do extravio de volumes inteiros.

Já quando é transporte marítimo em território nacional (cabotagem), são cobertos os riscos de perda total e parcial, em decorrência de avarias por encalhe. Abalroação, entre outro. Tratando-se de transporte internacional, a cobertura All Risks cobre os riscos de incêndio ou explosão, encalhe, naufrágio, colisão, perda total, amassamento, danos causados por água doce ou de chuva, operação de carga e descarga (PINTO, 2006).

Riscos diversos: seguro que garante Equipamentos Móveis e Estacionários, Obras de Arte, Instrumentos Musicais de som ou imagem e Anúncios Luminosos,

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além de eventos múltiplos como: Desmoronamento, Terremoto, Deterioração de Mercadorias, Derrame d'água/Sprinklers e outros. Oferecendo grande diversidade de coberturas para cada atividade de mercado, pode ser adquirido por pessoas jurídicas e físicas, desde que a necessidade da contratação seja pré-avaliada pelas seguradoras e estas determinarem a taxação devidamente correta de acordo com risco á ser segurado (PINTO, 2006).

Compreensivo condomínio: protege condomínios residenciais, comerciais ou mistos contra os mais diversos riscos, garantindo a tranquilidade aos síndicos e aos moradores. Possuem como cobertura básica: incêndio, queda de raio e explosão por qualquer natureza e como algumas coberturas acessórias: vendaval, danos elétricos, desmoronamento, alagamento, responsabilidade civil do síndico, responsabilidade civil do condomínio, responsabilidade de veículos de guarda de veículos de terceiro, danos a portões eletrônicos, entre outros (PEREIRA, 2007).

Habitacional: seguro destinado a empresas que possuem imóveis financiados em longos prazos com consumidores de baixa renda, onde a garantia do bem no caso de eventual sinistro beneficia a própria empresa ou a instituição financeira que financiou o imóvel (PINTO, 2006).

Riscos engenharia: oferece cobertura para projetos de engenharia civil e caracteriza-se por contemplar uma multiplicidade de riscos como: falhas na construção; incêndio e explosão; roubo ou furto qualificado de máquinas e equipamentos durante a fase de instalação e montagem; impacto, desmoronamento e danos da natureza; quebra de máquinas e danos causados por defeito de fabricação, negligência, sabotagem, curtocircuito, entre outros (PINTO, 2006).

Fiança locatícia: seguro de fiança locatícia que garante aos proprietários de imóveis, imobiliárias e inquilinos, substituindo com vantagens o fiador. Além de garantir o pagamento em dia dos aluguéis e encargos vencidos e não pagos. (PEREIRA, 2007).

Seguro de revenda: seguro específico para revendas autorizadas de veículos de passeio, carga, utilitários, tratores e motos, nacionais ou importados. Garante

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cobertura para o prédio e todos os equipamentos, máquinas e mercadorias em uma única apólice. Cobertura básica: incêndio, queda de raio e explosão de qualquer natureza. Coberturas acessórias: vendaval, furacão, ciclone, tornado, granizo, queda de aeronave, danos elétricos, roubo, valores, vidros e anúncios luminosos, tumultos e greves, equipamentos móveis e eletrônicos, responsabilidade civil de revenda, pátio com e sem trânsito externo, despesas fixas decorrentes de sinistros (PINTO, 2006).

Vida em grupo: seguro específico a pessoas jurídicas, onde tem por objetivo garantir pagamento do valor contratado para os funcionários ou sócios da empresa contratante, ou na falta destes, seus beneficiários legais no caso de ocorrência dos seguintes eventos: morte natural ou acidental, invalidez permanente ou parcial por acidentes ou por doenças, despesas médicas hospitalares, despesas com funerais e ainda cestas básicas durante um determinado período aos familiares (PINTO, 2006).

Vida individual: seguro destinado as pessoas físicas na intenção de obter indenizações no caso de falecimento, invalidez parcial ou total por acidente ou por doença, despesas médicas, despesas com funerais entre outros, de acordo com as coberturas contratadas na adesão da proposta de seguro. Na falta do contratante a indenização é paga aos beneficiários legais ou pré-determinados pelo segurado na aquisição do seguro (PEREIRA, 2007).

Seguro saúde: seguro saúde privado garante ao segurado, de acordo com as condições gerais (pré-adquirida na assinatura dos contratos), todos os atendimentos médicos e hospitalares necessitados, porém, proporcionais a cada tipo de plano(regional ou nacional) optado (PEREIRA, 2007).

Seguro odontológico: garante a saúde bucal do segurado, como prevenções, radiografias de diagnóstico, cirurgia oral, tratamento endodôntico (canal), tratamento periodontal (gengivas e estruturas adiacentes), cobre todo o tratamento odontológico básico, atendendo as necessidades de alívio de dor, restaurações, extrações dentárias simples e de dentes inclusos, cirurgias gengivais, entre outros (PINTO, 2006).

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Seguro empresarial ou industrial: seguro para pessoas jurídicas, com objetivo de indenizar o imóvel e o conteúdo por eventuais sinistros com as seguintes coberturas básicas: incêndio, queda de raio e explosão. O seguro empresarial ou Industrial igualmente as residências possuem coberturas opcionais bastante abrangentes como: Danos Elétricos e Queda de Raio; Vendaval/Impacto de Veículos; Despesas Fixas; Perda ou Pagamento de Aluguel de Imóvel; Tumultos; Subtração de Bens e Mercadorias; Subtração de Valores; Coberturas de Equipamentos Eletrônicos; Responsabilidade Civil; Quebra de Vidros; Anúncios Luminosos; Sprinklers (PEREIRA, 2007).

Compreensivo Residencial: seguro completo para residências habituais ou de veraneio, oferecendo o como completa cobertura de incêndio, queda de raio e explosão de gás. Este seguro, ainda dispõe de algumas coberturas acessórias como: vendaval, danos elétricos, desmoronamento, alagamento, perda e pagamento de aluguel, responsabilidade civil familiar (PINTO, 2006).

Seguro Educacional: seguro a ser contratado especificamente por instituições de ensino, como objetivo principal garantir o pagamento das mensalidades escolares dos filhos/dependentes do responsável no caso de falecimento deste, invalidez permanente total por acidente ou perda de renda por desemprego, de acordo com as garantias contratadas pela escola, no período de validade dos contratos escolares (PEREIRA, 2007).

Roubo: seguro para o patrimônio, garantindo a reposição dos bens em caso de algum imprevisto, cobertura determinada acessória para cobertura básica de incêndio e explosão, contratada em determinada apólice de seguro, possui como objetivo repor o bem furtado de uma determinada pessoa ou empresa, desde que devidamente comprovado a existência do bem (PINTO, 2006).

Aeronáuticos: atende às necessidades de proprietários de aeronaves de diferentes portes e fins de utilização, obtendo cobertura em solo ou no ar. Indenizando danos causados em função de acidente, roubo total, avaria particular, incêndio, e ainda danos causados por guerra, sequestro e confisco, os contratantes podem ser pessoas físicas ou jurídicas (PEREIRA, 2007).

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Marítimos: seguro destinado a qualquer que seja o porte ou tipo de embarcação ou frota, ou seja, a pessoas físicas ou jurídicas. Garante cobertura para casco, máquinas, motores, instalações, equipamentos, responsabilidade civil facultativa, roubo ou furto da embarcação e assistência e salvamento, dentro e fora do mar (PEREIRA, 2007).

Garantia de Obrigações: seguro para concorrências, execuções, adiantamentos ou retenções de pagamento, além do perfeito funcionamento do objeto segurado. Com ele estarão seguros os prejuízos que o tomador (contratado) possa provocar em decorrência de descumprimento contratual com o segurado (contratante). Podendo ser de dois tipos: Garantia de Obrigações Públicas e Garantia de obrigações Privadas (PINTO, 2006).

Garantia Estendida: garante uma expansão do seguro contratado para um perímetro pelas quais as condições gerais não possuam cobertura. Específico para algumas atividades comerciais ou até mesmo particulares, que possam vir a utilizar fronteira entre países, caracterizado por um período, pré-fixado na apólice (PINTO, 2006).

Garantia Financeira: seguro contratado por pessoa jurídica ou física, afim de que, garanta recursos financeiros para o comprimento de seus deveres em um determinado contrato, pois o mesmo abona a aquisição de um avalista para as operações de compra no mercado (PEREIRA, 2007).

Lucros Cessantes: seguro específico para pessoas jurídicas legalmente constituídas, nos mais diversos ramos de atividades, obtendo como principal objetivo ressarcir a empresa dos prejuízos causados pela interrupção de atividades, gerada pela ocorrência de acidentes ou outras eventualidades. Os riscos cobertos são; lucro líquido mais despesas fixas, quando devidamente comprovado que a empresa operava com lucro antes da paralisação, oferecendo continuidade dos resultados positivos de cada firma contratante (PINTO, 2006).

Carta Verde: seguro de responsabilidade civil do proprietário e/ou condutor de veículos de passeio ou aluguel não matriculados no país de ingresso em viagem

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internacional. Garante cobertura a danos causados a pessoa ou objetos não transportados (PEREIRA, 2007).

Seguros Rurais: cobertura que abrange todas as atividades do setor, desde o plantio até a entrega ao distribuidor. Garante os riscos possíveis para máquinas, tratores e equipamentos utilizados para colheita, com coberturas adicionais para safra e eventuais imprevistos, bastante comercializados em zonas rurais (PEREIRA, 2007).

Prestamista: seguro contratado por pessoas jurídicas, construtoras e financiadoras, com a finalidade de obter como garantia o saldo do valor financiado em caso de falecimento do devedor ou responsável (PINTO, 2006).

Turístico: seguro destinado para pessoas físicas, onde na hora de viajar possuam todas coberturas possíveis para os imprevistos, são elas: extravio ou atraso de bagagem, cobertura médica e hospitalar e odontológicas para viagens internacionais, perda de embarque, apoio jurídico, acidentes pessoais e invalidez permanente, despesas de funerais e translados, e ainda repatriação quando necessário (PINTO, 2006).

Seguro Animais: seguro que garante a indenização dos bovinos e equinos em diversas situações. Este seguro promete atendimento médico veterinário em caso de doença, acidente, cirurgia, sacrifício ou morte do animal (PEREIRA, 2007).

1.9 O Mercado agrícola no ramo de seguros

O seguro da atividade agrícola é, de um lado, um instrumento para a estabilização financeira dos produtores e, de outro lado, uma mercadoria das seguradoras (SKEES, 1999 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

De modo semelhante aos outros tipos de seguros, o seguro agrícola está sujeito a dificuldades relacionadas ao mercado e às suas denominadas falhas, na teoria econômica (AKERLOF, 1970; STIGLITZ; WALSH, 2003 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

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Em sentido semelhante, Arrow (1996) e Stiglitz e Walsh (2003), ambos citados por Santos; Souza e Alvarenga (2013) destacam que entre as falhas de mercado que mais inibem a formação de sistemas de seguros estão: i) a ocorrência de informações assimétricas entre contratante e contratado; ii) a seleção adversa, que se refere à definição ou arbitragem de um preço médio para todos em função da impossibilidade de um fornecedor de bens (no caso seguro) distinguir os clientes de riscos alto ou baixo; e iii) o risco moral, que é a alteração do comportamento de um agente econômico, contratante ou contratado, quando não monitorado devidamente pela outra parte, aumentando a probabilidade de ocorrência de um dano ou acidente. Estes mesmos autores apontam a regulação, a informação ótima e o estímulo à concorrência como as medidas para viabilizar sistemas de seguros.

O seguro agrícola é um importante instrumento de estabilidade do setor e de suma relevância para o desenvolvimento de países em que a agricultura tem papel de destaque na economia. É o caso do Brasil que, em razão da expressão econômica do setor, de sua extensão territorial e das condições climáticas diversificadas, continua a merecer atenção especial do governo para o aprimoramento deste instrumento, que é um dos meios mais eficientes de estabilização da economia rural.

O desenvolvimento de um mercado de seguro rural privado é uma reivindicação relativamente antiga do setor agropecuário. Ao longo dos anos, diversas seguradoras ofertaram o seguro rural, mas as coberturas eram restritas e a abrangência, limitada (OZAKI, 2013).

Quando se refere ao âmbito agrícola, as denominadas falhas de mercado fazem com que, em países de clima tropical e subtropical como o Brasil, em que os riscos de intempéries são reduzidos, o seguro não se difunda em regiões de maior estabilidade climática (SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

Seguindo as teses de Rothschild e Stiglitz (1976), Arrow (1996) e Stiglitz e Walsh (2003), Ozaki (2008) e Guimarães e Nogueira (2009), citados por Santos; Souza e Alvarenga (2013) apontam que o comportamento dos agentes (produtores rurais e ofertantes de seguros) é levado naturalmente para o menor custo de

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produção, situação em que se prefere produzir sem o seguro, e em que os riscos são de menor percepção. Diante disto, os autores apontam a necessidade de aporte de recursos como subvenção ao prêmio, de forma controlada e combinada com medidas de difusão do seguro e consolidação deste mercado.

Esse panorama mudou com a sanção da Lei n. 10.823, de 2003, que, dentre outras atribuições, criou o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Com essa medida, o governo estabeleceu as bases para o início da massificação do seguro rural, na medida em que reduziu o preço do seguro pago pelos produtores rurais (ALMEIDA, 2007; RAMOS, 2009 apud OZAKI, 2013).

Desde o início do Programa, em 2005, muitos produtores tiveram acesso ao seguro rural. Desse período até 2011, a área segurada cresceu de 68,1 mil hectares para 5,6 milhões (MAPA, 2012 apud OZAKI, 2013). Ainda conforme Ozaki (2013), seu funcionamento consiste em estabelecer percentuais de subvenção por modalidade de seguro e tipo de cultura. Esse percentual corresponde à responsabilidade assumida pelo governo. Por exemplo, se o prêmio total a ser pago para segurar uma lavoura de soja for igual a R$ 100 mil e o percentual, igual a 50%, o produtor deverá pagar R$ 50 mil, e o governo federal, o restante do prêmio.

O governo vem tomando uma série de providências visando o desenvolvimento sustentado do seguro agrícola em bases racionais e compatíveis com a realidade brasileira. Para atingir esse objetivo, não se pode esquecer-se de experiências passadas.

Conforme Ozaki (2008) e Guimarães e Nogueira (2009) citados por Santos; Souza e Alvarenga (2013), o seguro agrícola desempenha importante papel na segurança da produção. No modelo brasileiro para este mercado, são cobertos os custos de produção convertidos em perdas financeiras nas ocasiões de intempéries e na ocorrência de quebras de safra causadas por pragas seguradas. Mercados de seguro agrícola mais desenvolvidos como o dos Estados Unidos e da Espanha têm um sistema de cobertura mais amplo, considerando produtividade e receita, além de maior participação de recursos estatais.

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Para Miqueleto (2011 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013), a solidez destes mercados se deve, em parte, ao maior grau de risco e, de outra parte, à maturidade do setor.

O primeiro marco para a introdução e o desenvolvimento do seguro agrícola no País deu-se em 1954, com a criação do Fundo de Estabilidade do Seguro Agrícola (FESA), destinado a atender a cobertura complementar de riscos catastróficos. Com ele, as seguradoras podem recuperar anualmente os prejuízos suportados com essa modalidade de seguro. Naquele ano, foi criada a Companhia Nacional de Seguro Agrícola (CNSA), sociedade de economia mista responsável pelo desenvolvimento e promoção do seguro agrícola em todo território brasileiro.

Em 1964, o governo constatou as dificuldades na operacionalização do seguro agrícola, tendo em vista os riscos peculiares à atividade. O seguro agrícola é caro para o produtor rural, além de requerer grande especialização e qualificação por parte das seguradoras. Ou seja, para o bom desenvolvimento do seguro agrícola, é fundamental a massificação e a pulverização, necessárias a qualquer modalidade de seguro, principalmente em um ramo que depende de condições climáticas favoráveis para cada tipo de cultura.

Com a promulgação da “Lei dos Seguros”, em 1966, a CNSA foi extinta, passando o seguro agrário a fazer parte do Sistema Nacional de Seguros Privados e comercializado pelas seguradoras privadas.

De 1970 a 2000, pouco se fez para o desenvolvimento do seguro agrícola no Brasil. O governo atuou de maneira tímida e poucas seguradoras operavam nesse ramo. A maior parte das empresas era estatal, limitadas a poucas culturas e à Região Sudeste do País.

Há explicações estruturais para o pequeno porte do seguro no país, além dos baixos riscos climáticos, conforme se discute neste texto. A Política Agrícola Nacional – PAN (Lei no 8.171/1991) prevê o estabelecimento do seguro agrícola, no que foi atendida pelo PSR e por outros dois programas, que são o Garantia Safra e o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), com objetivos

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distintos. O primeiro é direcionado para agricultores familiares que contratam crédito agrícola, e o segundo, também para este grupo, mas em região delimitada, centrada no semiárido, sendo uma política de cobertura parcial de perdas. Desta forma, o PSR é complementar aos dois outros programas (SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

O governo, por meio do CNSP e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), introduziu, em 2000, o aumento das fontes de receitas do Fundo de Estabilidade e as condições para participação das seguradoras no Fundo.

Em 2003, foi aprovada a subvenção ao prêmio do seguro agrícola, iniciativa que há muito tempo se fazia necessária, pois o alto custo do seguro era um dos maiores desestímulos para o produtor rural.

O governo federal tem se voltado, a partir de 2005, ao incentivo à adesão de agricultores e seguradoras. O Banco do Brasil e sua companhia de seguros Aliança (a partir de 2011, a Aliança uniu-se à Mapfre Seguros) têm sido aliados fortes nesse sentido, detendo 48% do montante do prêmio contratado do PSR, em 2011, tendo sido de 60% em 2009. A subvenção ao prêmio efetivada via PSR tem sido o estímulo maior para a adesão de ambas as partes – seguradoras e agricultores. Ozaki (2008 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013) observa que somente a partir de 1998 é que as seguradoras privadas mostraram interesse nos ramos de seguro rural e agrícola, o mesmo sendo válido para os agricultores.

Desde então, o governo busca entrosar os órgãos governamentais e a iniciativa privada, destacando-se a atuação da Federação Nacional das Seguradoras (Fenaseg), da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da Confederação Nacional dos Agricultores (CNA) na execução de soluções visando o desenvolvimento do seguro agrícola no Brasil.

Paralelamente a essa iniciativa, as entidades mencionadas têm se aprofundado no estudo de outros modelos de seguro agrícola, tais como o espanhol e o americano. Apesar de diferentes, ambos obtiveram êxito e hoje são referências para o mercado mundial. Eles mostram que o seguro agrícola é de interesse não só

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dos produtores, mas também do governo, e que o seu desenvolvimento em bases sustentáveis só é possível com a parceria entre as esferas pública e privada e com a adoção de programas de longo prazo.

Dois outros aspectos, conforme tem apontado o debate (OZAKI, 2008; FENSEG, 2011; BARROS, 2012 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013), dependem de avanços: dados estatísticos e uniformização de informações e continuidade/estabilidade das ações da subvenção, principalmente. De outro lado, o pequeno porte e a baixa abrangência regional, bem como interveniências operacionais, evidenciam que ainda há instabilidades tanto no mercado de seguros quanto no PSR. Alguns destes aspectos são explorados nas seções seguintes a partir dos dados empíricos.

A importância da subvenção ao prêmio, em comparação com o momento anterior ao programa, é destacada por FENSEG (2011), Ozaki (2008) e Guimarães e Nogueira (2011) citados por Santos; Souza e Alvarenga (2013), no sentido de que o seguro agrícola no Brasil, além de ter baixa adesão dos produtores, antes de 2006, contava com alto índice de sinistralidade – e, portanto, era deficitário.

A subvenção é variável – entre 40% e 70% do valor total do prêmio, até 2012, e entre 40 % e 60%, a partir da safra 2013/2014 –, dependendo do tipo de cultivo ou do bem segurado. Estes percentuais têm sido alterados ocasionalmente pelo Mapa, da mesma forma que o valor máximo subvencionável por produtor – R$ 96 mil até 2012 e R$ 192 mil a partir da safra 2013/2014 (MAPA, 2013 apud SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

Os cultivos mais afetados têm o maior percentual de cobertura, da mesma forma que regiões prioritárias. Para obter a subvenção, o agricultor tem que seguir o zoneamento agrícola e o calendário de plantio, ambos disponibilizados pelo Mapa. O público-alvo é formado por agricultores não enquadrados na categoria familiares, pois estes são atendidos pelo Proagro ou pelo Garantia Safra. A adesão é geralmente de médios e grandes produtores na forma definida em lei (SANTOS; SOUZA; ALVARENGA, 2013).

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Vale ressaltar que os programas citados contam com uma política de governo desenvolvida com a iniciativa privada (agricultores e seguradores), baseada em: capacidade de subscrição dos riscos; padronização das condições e das políticas de subscrição, por meio da pulverização e diversificação dos riscos e uniformização das operações das companhias; fixação e subvenção das taxas de risco; e criação de banco de dados único.

O desafio das entidades envolvidas é criar um sistema que seja eficiente e eficaz em termos de gestão, no atendimento das políticas de governo, e que também seja exequível para a iniciativa privada envolvida no segmento agrícola no Brasil. Para que haja sucesso nessa atividade é preciso a sinergia entre governo e a iniciativa privada. E o mercado percebe que as partes não estão medindo esforços para atingir esse objetivo.

Referências

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