• Nenhum resultado encontrado

O incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR)"

Copied!
49
0
0

Texto

(1)

DANIELA TOMAZI BROCH

O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS (IRDR)

Ijuí (RS) 2019

(2)

DANIELA TOMAZI BROCH

O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS (IRDR)

Monografia final apresentada ao curso de Graduação em Direito, requisito parcial para aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

Ijuí (RS) 2019

(3)

Dedico este trabalho à minha família, especialmente aos meus pais e a minha irmã, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada. Aos meus amigos, ao pessoal do meu trabalho e a todos que de alguma forma ou outra, contribuíram para a realização deste.

(4)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus pelo dom da vida e por tudo que me concedeu até hoje. De igual forma, agradeço à minha família, especialmente a meu pai, minha mãe e minha irmã, que mesmo distante fisicamente, sempre se fizeram presentes psicologicamente e me incentivaram com todo apoio moral e confiança para enfrentar as batalhas da vida. Nunca me deixaram pensar em desistir e sempre confiaram no meu potencial, o que me instigou para cada vez mais dar o meu melhor. Me ensinaram a enfrentar cada obstáculo do dia a dia e com quem aprendi que os desafios servem tão somente para nos fortalecer.

Ao meu excelentíssimo orientador, Sr. Joaquim Henrique Gatto, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento. Não há palavras que possam expressar todo o meu sentimento de gratidão por esta pessoa, eis que me apoiou nos momentos mais difíceis da faculdade, passou de professor para um verdadeiro amigo e conselheiro, que quero levar eternamente comigo.

Aos meus chefes e colegas de estágio da 12ª PGE- Ijuí/RS, 2ª Vara Cível do Fórum de Ijuí e ao meu atual local de trabalho, o escritório de Advocacia PRZ Advogados Associados, que incessantemente me apoiaram e incentivaram na realização deste trabalho, bem como colaboraram, sempre que solicitados, com disposição, destreza e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado. Gratidão por poder compartilhar de novos conhecimentos com pessoas tão inteligentes, competentes e grandiosas.

(5)

“Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante a todos.” Salvador Allende

(6)

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por escopo analisar o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, o popularmente chamado IRDR, que foi implantado definitivamente com o advento no Novo Código de Processo Civil de 2015. Tal incidente é de suma importância para a sociedade e prática forense, principalmente nos dias de hoje, em que o futuro do Judiciário propriamente dito, está comprometido, uma vez que é inegável a quantidade de demandas judiciais, por vezes assustadora, que assola o judiciário diariamente. Destarte, é pertinente analisar detalhadamente tal incidente, que objetiva garantir a segurança jurídica almejada por todos, aliada à celeridade processual justa, com o objetivo principal de uniformizar as teses.

Palavras-Chave: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Segurança Jurídica. Poder Judiciário. Celeridade Processual.

(7)

ABSTRACT

The present work of course completion is intended to analyze the Incident of Resolution of Repetitive Demands, the popularly called IRDR, which was implanted definitively with the advent in the New Code of Civil Procedure of 2015. Such incident is of paramount importance for society and forensic practice, especially nowadays, in which the future of the judiciary itself is compromised, since the amount of sometimes frightening legal claims that plague the judiciary on a daily basis is undeniable. Therefore, it is pertinent to analyze in detail this incident, which aims to guarantee the legal security sought by all, together with the fairness of proceedings, with the main objective of standardizing the theses.

Keywords: Incident of Resolution of Repetitive Demands. Legal Security. Judicial power. Process acceleration.

(8)

LISTA DAS SIGLAS

CEJUSC Centro Judiciário de Solução de Conflitos CF Constituição Federal

CNJ Conselho Nacional de Justiça CPC Código de Processo Civil

FPPC Fórum Permanente de Processualistas Civis IRDR Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas NCPC Novo Código de Processo Civil

OAB Ordem dos Advogados do Brasil STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justiça

TJ/RJ Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ/RS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TST Tribunal Superior do Trabalho

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 A NECESSIDADE DE TUTELA ESPECÍFICA PARA A RESOLUÇÃO DOS LITÍGIOS DE MASSA E DEMANDAS REPETITIVAS NO NCPC ... 11

1.1 O acesso à justiça ... 12

1.2 A Contextualização das demandas Judiciais repetitivas ... 13

1.3 A razoável duração do processo ... 18

1.4 O Judiciário assoberbado e a necessidade de uma tutela efetiva no Direito Processual Civil ... 20

1.5 O IRDR e seu cabimento ... 22

1.5.1 Legitimidade ... 26

1.5.2 Competência ... 28

2 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS E A SUA APLICABILIDADE NO ÂMBITO DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA ... 30

2.1 Julgamento do incidente e recursos ... 31

2.2 Publicidade e Revisão da Tese ... 37

2.3 Aplicabilidade no âmbito dos Tribunais de Justiça ... 38

CONCLUSÃO ... 43

(10)

INTRODUÇÃO

Não é necessária uma análise aprofundada para constatar que o poder Judiciário está tomado por diversas demandas repetitivas. Neste viés, o presente trabalho tem o intuito de refletir sobre tais processos, eis que é notório o fato de que as ações são ajuizadas por pessoas que, na maioria das vezes, encontram-se em situações jurídicas congêneres.

Em razão da quantidade imensa de ações repetitivas, por vezes é comum visualizar decisões díspares para situações jurídicas iguais, acarretando assim no prejuízo e ofensa aos princípios da isonomia e da segurança jurídica. Tal fato ocasiona instabilidade da jurisprudência, gerando inevitavelmente a perda de referência acerca da conduta certa a ser adotada pelo cidadão ao adentrar com sua demanda no Judiciário.

Todavia, o Novo Código de Processo Civil (NCPC), interessado em tal questão, trouxe alternativas inovadoras no que tange a abordagem dessas demandas de massa, tendo por escopo poupar a divagação da jurisprudência e de diminuir o volumoso trabalho que detém o Poder Judiciário, sem contudo comprometer a qualidade da prestação jurisdicional ofertada aos indivíduos. Com tal finalidade, o NCPC introduziu o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR).

Tal incidente foi inspirado no direito alemão, sendo que o mecanismo trazido pelo NCPC visa identificar processos que possuam a mesma questão de direito, para possibilitar a pronúncia de decisão concomitante. Em vista disso, o que se pretende é a redução dos problemas da disparidade de decisões acerca de

(11)

situações idênticas, com o fito de garantir a isonomia e a segurança jurídica no sistema judiciário.

Este trabalho vai analisar o IRDR, com previsão expressa nos artigos 976 a 987 do Novo Código de Processo Civil. Para tanto, será dividido em duas partes. A primeira parte consiste na caracterização do incidente, compreendendo a exposição da problemática das demandas repetitivas e dos mecanismos criados a fim de solucioná-la e, ainda, seus requisitos de admissibilidade no tocante à instauração do IRDR.

Já, no segundo capítulo, serão analisados, mais profundamente, o procedimento, o julgamento do IRDR, como é feito o processamento no tribunal, as intervenções e o seu julgamento. Serão, por fim, analisados quais os recursos cabíveis para as decisões proferidas oriundas do incidente, bem como examinados os julgamentos no âmbito dos Tribunais de Justiça.

(12)

1 A NECESSIDADE DE TUTELA ESPECÍFICA PARA A RESOLUÇÃO DOS LITÍGIOS DE MASSA E DEMANDAS REPETITIVAS NO NCPC

Ao longo da história é cada vez mais perceptível a existência de inúmeras demandas com matéria repetitiva que chegam ao Poder Judiciário, o que implica diretamente na necessidade de celeridade na tramitação processual e, por consequência, resolução dos litígios.

Nesse sentido, nos casos em que haja diversos processos idênticos e quando houver risco de violação à igualdade entre litigantes e à segurança jurídica, o IRDR tem por escopo dar utilidade e praticidade às respostas judiciais em face da pluralidade destas demandas repetidas, que precisam de um enfrentamento judicial adequado e eficiente, uma vez que não é possível se utilizar de um sistema artesanal para julgamento de causas semelhantes.

Assim sendo, é notável que o mecanismo do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas surge para contribuir de maneira radical na celeridade e diminuição de litígios judiciais repetitivos no âmbito do Poder Judiciário.

Nos últimos anos é cada vez mais visível que o Poder Judiciário Brasileiro encontra-se assoberbado de demandas judiciais muitas vezes repetitivas. Inúmeros indivíduos propõem ações de natureza jurídica totalmente idêntica e que são grandes responsáveis pelo congestionamento conspícuo no dia a dia forense, bem como resultam na morosidade da outorga da prestação jurisdicional.

Cabe salientar que o direito a postular no Judiciário foi consagrado pelo princípio do acesso à justiça, o qual é assegurado pela Carta Maior, nos termos do artigo 5º, inciso XXXV, o qual dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988, p. 15). Uma vez que todos os cidadãos podem promover uma ação, em busca de seu direito, onde a causa será apreciada pelos profissionais competentes.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente trabalho tem por objetivo investigar como o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas

(13)

contribui para o qualificado acesso à justiça e para a efetiva entrega da prestação jurisdicional, com segurança jurídica, analisado sob a ótica das relações civis tuteladas pelo Novo Código de Processo Civil.

1.1 O acesso à justiça

Inicialmente, cabe fazer uma breve análise a respeito do acesso à justiça, eis que pode ser considerado como um dos princípios basilares do direito. Sendo assim, pertinente se faz esclarecer no que concerne o direito ao acesso à justiça, que ganhou espaço desde a implantação da mais remota Constituição Federal e se consagrou como um princípio essencial dos direitos e garantias fundamentais do ser humano. Em poucas palavras, pode-se compreender por acesso à justiça nada mais do que o direito que todo indivíduo possui para exercer completamente sua cidadania, não limitando-se tão somente ao acesso no Poder Judiciário em si, mas sim adentrar no mundo do conhecimento, aconselhamento e consultoria jurídica justa, com fito de obter a justiça almejada.

Sob essa ótica, Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988, p. 8) assimilam o conceito de acesso à Justiça da consecutiva forma:

A expressão ‘acesso à Justiça’ é reconhecidamente de difícil definição, mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico – o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e/ou resolver seus litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.

Ademais, tais autores discorrem que nenhum aspecto do sistema jurídico moderno é inatingível a julgamento pelo povo, isso porque cada vez mais se discute como e a benefício de quem, o sistema judiciário de fato funciona. Daí a importância do estudo sobre o incidente em tela, pois ao se decidir de maneira diversa sobre casos idênticos, não se está oferecendo a devida segurança jurídica que do direito se espera.

Ademais, de acordo com o entendimento de Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido R. Dinamarco (1996, apud, SILVA, 2013, p. 12), o

(14)

acesso à justiça não diz respeito somente ao processo, visto que para ele se concretizar é imprescindível a possibilidade de ingresso de um maior número de pessoas na demanda, garantindo-se a estas o cumprimento das regras do devido processo legal, para que possam, assim, participar intensamente da formação do convencimento do juiz e exigir dele a efetividade de uma participação em diálogo, sempre visando uma solução justa.

O acesso à justiça, de acordo com Cinthia Robert e Elida Séguin (2000, p. 21), não é apenas o acesso aos Tribunais, representado pela figura do Juiz, mas sim, e principalmente, acesso ao Direito.

Cabe salientar que o direito fundamental de acesso à justiça deve levar em conta aparatos materiais, assim como instrumentais, somado ao aprimoramento na forma de prestação pelo Estado, além de meios processuais necessários para concretizar a justiça.

Destarte, torna-se imprescindível o reconhecimento de direitos e sua efetivação, fato que acarretará em um dos mais importantes efeitos de incorporação de direitos: a redução nos graus de desigualdades. Historicamente, o processo de ampliação dos direitos e de construção de cidadania significou uma expressiva redução dos níveis de exclusão social. A partir do momento em que ocorreu a admissão da igualdade perante a lei, também ocorreu uma ampliação das possibilidades de usufruto dos bens coletivos (SADEK, 2013, p. 21). Diante de tais considerações, conclui-se que a conceituação de acesso à justiça deve ser compreendida de forma ampla, dando suporte à existência digna do cidadão e propiciando o melhor amparo e solução justa no momento em que este necessite da intervenção do Estado nas relações sociais.

1.2 A Contextualização das demandas Judiciais repetitivas

É notória a magnitude do instituto para a edificação da jurisprudência pátria, especialmente no tocante às questões de direito controvertidas que gerem dissídios interpretativos. Ou seja, resta imprescindível analisar minuciosamente este novo instituto processual de resolução de demandas repetitivas, eis que possui o condão

(15)

de alterar consideravelmente a forma de desenvoltura dos conflitos de massa no âmbito do Direito Brasileiro.

É, portanto, uma inovação implantada pelo Novo Código Processual Civil, que assegura enorme avanço e um traço marcante para o Poder Judiciário, pois além de haver inegável melhoria na prestação da tutela jurídica, a uniformização jurisprudencial, a partir do Incidente, reduz não só os custos forenses, mas também a morosidade dessas novas demandas.

Do mesmo modo que garante um procedimento mais célere e efetivo, aliado

ao princípio da isonomia e à necessidade de previsibilidade, fomentando a segurança jurídica para os cidadãos.

Neste viés de segurança jurídica, é pertinente apontar que:

O homem necessita de segurança para conduzir, planificar e conformar autônoma e responsavelmente a sua vida. Por isso, desde cedo se consideravam os princípios da segurança jurídica e da proteção à confiança como elementos constitutivos do Estado de Direito. Esses dois princípios – segurança jurídica e proteção da confiança – andam estreitamente associados, a ponto de alguns autores considerarem o princípio da confiança como um subprincípio ou como uma dimensão específica da segurança jurídica. Em geral, considera-se que a segurança jurídica está conexionada com elementos objetivos da ordem jurídica - garantia de estabilidade jurídica, segurança de orientação e realização do direito – enquanto a proteção da confiança se prende mais com os componentes subjetivos da segurança, designadamente a calculabilidade e previsibilidade dos indivíduos em relação aos efeitos dos atos (CANOTILHO, 2000, p. 256).

Ocorre que ante essa liberdade de acionar o Judiciário e em virtude da vasta abundância de ações repetitivas, muitas vezes são dadas decisões discrepantes às situações jurídicas equivalentes, ocasionando ofensa aos princípios da isonomia e segurança jurídica.

Tendo em vista que, o decreto de decisões díspares para casos análogos, acaba por resultar na instabilidade jurisprudencial e perda de referência acerca do procedimento a ser tomado pelo sujeito.

(16)

Segundo Fuk e Assunção, o princípio da segurança jurídica está disposto no novo CPC, de maneira que:

O novo Código prestigia o princípio da segurança jurídica, obviamente de índole constitucional, pois que se hospeda nas dobras do Estado Democrático de Direito e visa a proteger e a preservar as justas expectativas das pessoas. Todas as normas jurídicas devem tender a dar efetividade às garantias constitucionais, tornando "segura" a vida dos jurisdicionados, de modo a que estes sejam poupados de "surpresas", podendo sempre prever, em alto grau, as consequências jurídicas de sua conduta (2015, p. 311).

Considerando-se a facilidade ao acesso à Justiça, torna-se inevitável o sobrecarregamento do Poder Judiciário, ou até mesmo o seu congestionamento, em face da grande quantidade de demandas, já que em função dessa abundância, acarretam inevitavelmente também na perda de qualidade.

Guilherme Rizzo Amaral, destaca alguns motivos que levam a esse aumento desenfreado de demandas:

(a) a privatização dos serviços públicos, que ensejou a universalização de tais, alcançando uma enorme massa da população; (b) a grande complexidade da regulamentação dos serviços públicos, que passa a ser contestada por violar norma de hierarquia superior, como o Código de Defesa do Consumidor e a Constituição Federal; (c) o amplio de acesso ao crédito, que faz com que muitos passem a questionar o débito assumido, devido à dificuldade em honrar o compromisso feito; (d) o próprio Estado, por não honrar suas dívidas e prestar um serviço de má qualidade; (e) o aumento descontrolado do número de Faculdades de Direito em todo país e, (f) o assistencialismo da justiça gratuita, com a falta de uma análise rigorosa do Judiciário na concessão de tal (AMARAL, 2014, p. 1).

Desta forma, pode-se compreender que a segurança jurídica é um princípio garantidor do Estado para o cidadão, uma vez que por mais que seja possuidor do poder maior, o qual lhe é conferido pela CF de 1988, existem dosagens, limites e um determinado controle para a utilização de tanto. O princípio da segurança jurídica aqui tratado, está previsto no artigo 2º, caput, da Lei nº 9.784 de 19991 e possui muitas aplicações, dentre elas a proteção ao direito adquirido.

1 Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,

motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência (BRASIL, 1999, p.1).

(17)

Em relação ao acesso à justiça, é pertinente destacar que todo indivíduo tem direito à assistência judiciária gratuita, que é quando o indivíduo fica isento do adiantamento das custas do processo. O sujeito pode estar sendo representado por advogado privado também e a parte pode requer a juízo a gratuidade da justiça. Didier descreve o pressuposto para concessão do benefício ora citado:

Qual é o pressuposto para concessão do benefício? É a insuficiência dos recursos financeiros para o adiantamento das despesas processuais. Não há mais sentido na utilização do termo: A parte não poder arcar com as despesas processuais, sem prejuízo do sustento próprio ou de família. Agora, basta dizer que não tem condições de arcar com as despesas processuais (DIDIER, 2015, p. 100).

Com a vigência do novo Código de Processo Civil, a Assistência Judiciária Gratuita está disciplinada na Seção IV do Capítulo II, revogando expressamente diversos artigos da Lei nº 1.060/50, nos termos do seu art. 1.072, III. Não obstante a nova disciplina, os benefícios permanecem sendo ofertados aos necessitados, conforme dispõe o art. 98, § 1º do NCPC2. A OAB (2015, p. 125), comenta:

Permanece a disciplina segundo a qual a concessão de gratuidade não afasta a responsabilidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos honorários advocatícios decorrentes da sua sucumbência (art. 98, § 2º). Por outro lado, também resta mantida a suspensão da exigibilidade das obrigações decorrentes da sucumbência, as quais somente poderão ser executadas se o beneficiário passar a ter recursos financeiros em até 5 (cinco) anos do transito em julgado da decisão concessiva (art. 98, § 3º).

2 Art. 98 A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para

pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

§ 1o A gratuidade da justiça compreende: I – as taxas ou as custas judiciais; II – os selos postais;

III – as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em outros meios; IV – a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral, como se em serviço estivesse;

V – as despesas com a realização de exame de código genético – DNA e de outros exames considerados essenciais;

VI – os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira;

VII – o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;

VIII – os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;

IX – os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.

(18)

Importante salientar que essa suspensão de exigibilidade torna praticamente inócua a responsabilização do beneficiário, razão pela qual entendemos recomendável outorgar-se ao interessado os meios legais para averiguar a situação patrimonial daquele.

Complementa ainda Bueno (2017, p. 260) no que tange a função da Defensoria Pública:

O art. 185, nesta toada, enuncia qual a finalidade institucional da Defensoria Pública para os fins do direito processual civil: exercer a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em rodos os graus, de forma integral e gratuita.

O ponto crucial a destacar, com relação ao acesso à justiça, é que devido a inúmeras ações que são ajuizadas diariamente, bem como levando em consideração as que já estão tramitando no Judiciário, foi necessário a criação de figuras no novo CPC, para evitar a dispersão excessiva da jurisprudência. Pois com isso, haverá condições de se atenuar o assoberbamento de labor no Poder Judiciário, sem comprometer a qualidade da prestação jurisdicional.

No tocante aos requisitos para a gratuidade judiciária, o NCPC também se preocupou em fazer fortes alterações sobre este ponto, o artigo 99 deste diploma legal prevê que “o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso” (BRASIL, 2015). Tal procedimento foi amplamente modificado, bastando ao autor, réu e ainda terceiro interessado, fazer o pedido no primeiro momento oportuno ou até mesmo quando for necessário a obtenção de tal benefício, vez que pode ocorrer de forma superveniente.

Alves e Cabral caracterizam a necessidade do controle das demandas repetitivas, sendo que o que serviu de estímulo para impulsionar à mudança de paradigma do individual para o coletivo, veio em decorrência da Revolução Industrial e da instituição do Welfare State, bem como a instituição da Ação Popular (Lei Federal nº 4.717, de 29 de junho de 1965), em que o cidadão passa a ser ente legitimado a promover a defesa ao patrimônio público. Não obstante, tais autores discorrem que a Constituição Federal vinculou toda a legislação ao novo paradigma ao classificar os direitos individuais e coletivos em seu Título II, Capítulo I.

(19)

Destarte, há que se afirmar que ocorreu verdadeira consagração do direito processual coletivo3. Posteriormente, o Código de Defesa do Consumidor passou a definir e classificar os direitos tuteláveis pela via coletiva.

1.3 A razoável duração do processo

O art. 5º, inciso LXVIII da Constituição Federal, prevê, expressamente, o dever de o órgão jurisdicional observar a proporcionalidade e a razoabilidade ao aplicar o ordenamento jurídico.

Há muito tempo, a doutrina exige que os códigos conceituem o que vem a ser razoabilidade do processo, sem prejuízo da aplicação imediata do princípio. Entretanto, o que se nota, diariamente nos tribunais, são processos que se arrastam por longos anos até seu encerramento.

O Novo Código de Processo Civil, que é a legislação codificada em análise, classifica-se como uma base normativa. Visto que é um disciplinador das condutas, não só dos cidadãos, mas da máquina Judiciária, verifica-se qual regra a ser adotada. Todavia, nem sempre a norma é clara, e justamente a doutrina auxilia sua interpretação. Não só a doutrina é usada como método de interpretação, mas também a jurisprudência. A jurisprudência é “[...] a forma de revelação do direito que se processa através do exercício da jurisdição, em virtude de uma sucessão harmônica de decisões dos tribunais” (REALE, 2002, p. 167).

O tardamento na resolução de demandas jurídicas engloba diversos fatores como complexidade, quantidade de servidores nos tribunais e quantidade de recursos existentes na legislação processual, entre outros. Com intuito de promover um processamento mais célere das demandas judiciais, o Poder Judiciário brasileiro tem instituído muitos avanços, com vistas à celeridade na justiça brasileira, o CNJ destaca alguns desses:

3 Observa-se que o direito processual civil deve ser concebido através de um novo gênero, que tutela

aqueles interesses que não são nem públicos, nem privados, mas transindividuais, para que se promova sua socialização, como instrumento ou mecanismo de satisfação também de interesses além dos individuais (MANDELLI, 2015, p. 27).

(20)

A criação de Núcleos e Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) constitui uma alternativa capaz de solucionar conflitos antes mesmo da instauração do processo, além de ser uma política consonante com as orientações do Novo Código de Processo Civil. Os 58 Núcleos e os 362 Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania em atividade nos tribunais brasileiros já evidenciam o poder da conciliação como mecanismo profícuo de autocomposição dos conflitos e de pacificação social por meio de conciliação e da mediação.

A instituição da Política Nacional de Atenção Prioritária ao 1º Grau de Jurisdição pela Resolução CNJ 194/2014. O CNJ estimula, nesse contexto, que os tribunais envidem esforços para o alinhamento ao Plano Estratégico, adequação do orçamento e da distribuição da força de trabalho, estabelecimento da governança colaborativa, prevenção e racionalização de litígios, dentre outras ações dessa natureza. O cotejo com a distribuição de servidores apresentada ao longo desta edição demonstra que há diferenças pontuais de lotação entre a 1ª e a 2ª instâncias e que a carga de trabalho e a taxa de congestionamento no 1º grau são, em regra, mais expressivas. Os resultados devem suscitar iniciativas que orientem a lotação de servidores em conformidade com as demandas processuais, a fim de equalizar a força de trabalho e assim buscar maior equilíbrio na prestação de justiça.

A criação do Processo Judicial Eletrônico – PJe, um projeto inovador e corajoso, que deverá impactar a redução de custos e a diminuição da morosidade processual, a fim de garantir o direito constitucional da razoável duração do processo e assegurar os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. É notório que projetos que envolvam consideráveis mudanças também exigem um período de tempo mínimo para serem totalmente efetivados; e há que se considerar que o PJe faz parte desse universo. Em vista do amplo espectro de abrangência desse projeto e apesar dos diferentes entraves a serem superados, os tribunais já deram os primeiros passos à colher os frutos desta mudança, visto que tem obtido avaliações positivas de seus usuários e o reconhecimento público de sua importância e necessidade.

Núcleos de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos – NURER - nos Tribunais Superiores, na Justiça Federal e nos Tribunais de Justiça dos Estados. A uniformização de procedimentos e de gerenciamento de processos, além da contínua especialização desses tribunais no julgamento de processos que vêm se repetindo e se acumulando no Poder Judiciário, constituem urgências que se reconhecem como cruciais para melhoria e tempestividade da prestação jurisdicional (CNJ, 2015).

A análise criteriosa da grande quantidade de litígios, os quais por vezes trazem demandas mais complexas, acaba se tornando impossível, acarretando assim, maior demora na prestação da tutela jurisdicional. Todavia, resta evidente o descontentamento populacional. Consoante descreve Futami e Castro, “a noção de efetividade do processo está ligada à agilidade na entrega do bem da vida pretendido pelo cidadão” (FUTAMI & CASTRO, 2012, p. 127).

Ou seja, devido à falta de celeridade e duração razoável do processo, é automática a insatisfação. Além disso, não somente pela ausência de infraestrutura do Judiciário, mas a legislação processual era incompatível com as garantias constitucionais atuais. Como se sabe, antes da elaboração do NCPC, estava em

(21)

vigência o Código de 1973, editado no pico do Estado Social. Estado considerado como agente da promoção social, intervencionista, organizador da economia, representava “a cultura de que todos os conflitos devem ser resolvidos pelo Estado, de forma individual, a partir da análise de caso a caso” (PEDRON, XAVIER, AZEVEDO, 2015, p. 86).

Portanto, com a finalidade de assegurar à população um processo mais ágil e sempre levando em consideração, acima de tudo, a razoável duração do processo, o Novo Código de Processo Civil, trouxe em seu Título IV, capítulo I, expressamente:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

I - assegurar às partes igualdade de tratamento;

II - velar pela duração razoável do processo (BRASIL, 2015).

Assim, explanados o direito ao acesso à justiça e a indispensabilidade de um processo com duração razoável, passa-se a verificar a solução do código de 2015, com a instauração do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.

1.4 O Judiciário assoberbado e a necessidade de uma tutela efetiva no Direito Processual Civil

No balbucio de solucionar os problemas atuais, entre eles a insegurança jurídica, foi elaborado o Novo Código de Processo Civil, que entrou em vigência em março de 2016, no qual, dentre muitas inovações, trouxe o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR). O exórdio dessa transfiguração deu-se em conta da Presidência do Senado Federal, que apontou uma Comissão de Juristas para elaborar um anteprojeto de lei para o novo Código de Processo Civil (CPC).

Essa Comissão e em seguida o Congresso Nacional, desenvolveram variadas audiências públicas para divulgação, debate e recebimento de sugestões acerca do assunto, fator decisivo para que o novo Código não ficasse limitado a um determinado grupo de doutrinadores e legisladores.

(22)

O IRDR é um instrumento jurídico com técnica de julgamento para casos repetitivos. Ao estabelecer uma tese pacificadora a esses inúmeros litígios, instaura maior uniformidade jurídica a todos que estão em situação congênere a discutida no caso-modelo. O objetivo propriamente é o de “equacionar os reclamos por uma eficiência sistêmica do Judiciário com o respeito à condução individual dos processos, reduzindo ainda alguns problemas das ações coletivas” (CABRAL, 2014, p. 202).

O Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas pode ser instaurado a pedido das partes, pelo próprio juiz da causa principal, pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública sempre que for verificada a repetição de determinada controvérsia de direito em vários processos e risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica pela multiplicidade de decisões diferentes sobre o mesmo assunto.

Pode-se conceituar demandas repetitivas como sendo processos nos quais a mesma questão de direito se reproduz de modo que a sua solução pelos Tribunais Superiores ou pelos próprios Tribunais locais pode ser replicada para todos de modo a garantir que essas causas tenham a mesma solução, ganhando-se, assim, celeridade, isonomia e segurança jurídica no tratamento de questões com grande repercussão social.

Inúmeros litígios são lides em situação que se examina a mesma questão de direito. Será instaurado a partir de processo individual ou coletivo, o interessante é que não verse sobre fatos comuns, mas tão somente questão una de direito. Salienta-se que independentemente de se tratar de direito material ou direito processual, basta apenas não estar englobando controvérsia de matéria fática e critérios pessoais.

Segundo Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 55), por conseguinte “criaram-se figuras, no novo CPC, para evitar a dispersão excessiva da jurisprudência.” Desse modo, e, “com isso, haverá condições de se atenuar o assoberbamento de trabalho no Poder Judiciário, sem comprometer a qualidade da prestação jurisdicional.”

(23)

A esse respeito, segue entendimento de Theodoro Jr. (2016, p. 55):

Dentre esses instrumentos, está a complementação e o reforço da eficiência do regime de julgamento de recursos repetitivos, que agora abrange a possibilidade de suspensão do procedimento das demais ações, tanto no juízo de primeiro grau, quanto dos demais recursos extraordinários ou especiais, que estejam tramitando nos tribunais superiores, aguardando julgamento, desatreladamente dos afetados. Com os mesmos objetivos, criou-se, com inspiração no direito alemão, o já referido incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, que consiste na identificação de processos que contenham a mesma questão de direito, que estejam ainda no primeiro grau de jurisdição, para decisão conjunta. O incidente de resolução de demandas repetitivas é admissível quando identificada, em primeiro grau, controvérsia com potencial de gerar multiplicação expressiva de demandas e o correlato risco da coexistência de decisões conflitantes.

Ainda de acordo com Theodoro Jr. (2016, p. 55), o instituto:

É instaurado perante o Tribunal local, por iniciativa do juiz, do MP, das partes, da Defensoria Pública ou pelo próprio Relator. O juízo de admissibilidade e de mérito caberão ao tribunal pleno ou ao órgão especial, onde houver, e a extensão da eficácia da decisão acerca da tese jurídica limita-se à área de competência territorial do tribunal, salvo decisão em contrário do STF ou dos Tribunais superiores, pleiteada pelas partes, interessados, MP ou Defensoria Pública. Há a possibilidade de intervenção de amicus curiae. O incidente deve ser julgado no prazo de seis meses, tendo preferência sobre os demais feitos, salvo os que envolvam réu preso ou pedido de habeas corpus.

Para que seja possível a instauração do Incidente deverão ser praticados dois requisitos concomitantemente. Não há opção dentre um ou outro, sendo imprescindível ambos, já que aliás, o segundo é subordinado do primeiro. O primordial é a existência de efetiva repetição dessas demandas, isto é, tenham várias controvérsias sobre a mesma questão de direito. Além do mais, essa repetição necessita ser um risco à isonomia e à segurança jurídica, ou seja, risco de decisões conflitantes que ofereçam perigo ao respeito referente às decisões judiciais, ou aos precedentes.

1.5 O IRDR e seu cabimento

Quanto ao cabimento do incidente, este serve para qualquer matéria, inclusive benefícios que podem ser individualmente determinados. Ampara tanto o direito material, processual, local, nacional, constitucional ou infraconstitucional.

(24)

Será instaurado a partir de processo individual ou coletivo e o essencial é que se refira unicamente a questão de direito4.

Sendo assim, consoante o art. 976, do Novo Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 976. É cabível a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas quando houver, simultaneamente:

I - efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;

II - risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica.

§ 1º A desistência ou o abandono do processo não impede o exame de mérito do incidente.

§ 2º Se não for o requerente, o Ministério Público intervirá obrigatoriamente no incidente e deverá assumir sua titularidade em caso de desistência ou de abandono.

§ 3º A inadmissão do incidente de resolução de demandas repetitivas por ausência de qualquer de seus pressupostos de admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o requisito, seja o incidente novamente suscitado. § 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

§ 5º Não serão exigidas custas processuais no incidente de resolução de demandas repetitivas.

Neste sentido, destaca-se as brilhantes palavras de Daniel Amorim Assumpção Neves (2017, p. 1495), a respeito do caput do artigo supra indicado, no sentido de que:

O tratamento isonômico de diferentes processos que versam sobre a mesma matéria jurídica, gerando dessa forma segurança jurídica e isonomia, é a justificativa do incidente ora analisado, como se pode constatar na mera leitura do art. 976, caput, do NCPC.

Ou seja, resta claro que o IRDR tem por escopo dar tratamento idêntico justamente para matérias de cunho jurídico exatamente igual, garantindo assim a aplicabilidade real do princípio da isonomia e segurança jurídica.

4De outro lado, a noção do que sejam ‘casos repetitivos’ também poderia dar uma falsa impressão sobre o objeto do incidente. Na realidade, o incidente não se presta para a discussão de controvérsias resultantes de um fato comum ou de uma mesma gênese. Como também expressamente consigna o art. 976, I, o incidente só se presta para a solução da mesma questão unicamente de direito. A rigor, portanto, os casos submetidos à solução pelo incidente não podem conter discussão a respeito de matéria de fato (MARINONI, et.al., 2015, p. 579).

(25)

Diante de um ambiente variado de demandas massificadas, visando a obter maior racionalidade e confessada uniformidade para as causas repetitivas, a Comissão de Juristas, estes responsáveis pelo Anteprojeto de novo Código de Processo Civil, sugeriu o incidente de resolução de demandas repetitivas. O IRDR teve inspiração no procedimento-modelo do mercado de capitais alemão – musterverfahren, mas adquiriu feições próprias. Diante disso:

Supõe múltiplas ações, individuais ou coletivas, com uma ou mais questões comuns de direito, que constituem o objeto do incidente, que é processado pelo tribunal local, suspensas aquelas ações até o julgamento do incidente, quando retomam o seu curso, com aplicação da tese acolhida pelo tribunal (OAB, 2015, p. 738).

Segundo ainda, o novo CPC anotado da OAB (2015, p. 738), o incidente:

Trata-se, na essência, de um incidente para uniformizar a jurisprudência, mas antecipadamente, pois, ao invés de julgar múltiplas apelações de sentenças discrepantes, o tribunal determina previamente a tese de direito que considera correta.

A presença de demandas repetitivas pressupõe a ocorrência de “casos idênticos”. A expressão “casos idênticos” diz respeito aos chamados “processos repetitivos”, “demandas de massa”, nas quais a questão jurídica mostra-se uniforme para todos (ARAÚJO, 2008).

A esse respeito, segue entendimento do novo CPC anotado da OAB (OAB, 2015, p. 739):

Não há direito subjetivo à instauração do incidente, cabendo ao tribunal certa discrição no exame do risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. Se a controvérsia não estiver suficiente madura, não se conhecendo ainda todas as implicações da adoção de uma tese com a rejeição da outra, poderá o tribunal inadmitir o incidente, num primeiro momento, vindo a admiti-lo depois, quando conveniente pôr termo à controvérsia e de uma vez por todas, se possível, conforme previsão do artigo 976, § 3º. O incidente será incabível quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva.

Outrossim, é pertinente destacar alguns Enunciados do Fórum Permanente de Processualistas Civis, relativos a instauração do IRDR:

(26)

Enunciado n. 87: A instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas não pressupõe a existência de grande quantidade de processos versando sobre a mesma questão, mas preponderantemente o risco de quebra da isonomia e de ofensa a segurança jurídica.

Enunciado n. 88: Não existe limitação de matérias de direito passiveis de gerar a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas e, por isso, não é admissível qualquer interpretação que, por tal fundamento, restrinja seu cabimento. Enunciado n. 89: Havendo apresentação de mais de um pedido de instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas perante o mesmo tribunal todos deverão ser apensados e processados conjuntamente; os que forem oferecidos posteriormente à decisão de admissão serão apensados e sobrestados, cabendo ao órgão julgador considerar as razões neles apresentadas.

Enunciado n. 90: E admissível a instauração de mais de um incidente de resolução de demandas repetitivas versando sobre a mesma questão de direito perante tribunais de segundo grau diferentes.

Enunciado n. 342: O incidente de resolução de demandas repetitivas aplica-se a recurso, a remessa necessária ou a qualquer causa de competência originária. Enunciado n. 343: 0 incidente de resolução de demandas repetitivas compete ao tribunal de justiça ou tribunal regional.

Enunciado n. 344: A instauração do incidente pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal.

Enunciado n. 345: O incidente de resolução de demandas repetitivas e o julgamento dos recursos extraordinários e especiais repetitivos formam um microssistema de solução de casos repetitivos, cujas normas de regência se complementam reciprocamente e devem ser impetradas conjuntamente. Enunciado n. 346: A Lei n. 1.1.01 5, de 21 de julho de 2014, compõe o microssistema de solução de casos repetitivos..

Enunciado n. 347: Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de resolução de demandas repetitivas, devendo ser instaurado quando houver efetiva repetição de processos que contenham controvérsias sobre a mesma questão de direito (2017, p.18).

Nesse sentido, conclui-se que os mecanismos de julgamentos repetitivos, têm relevância para a diminuição de demandas judiciais repetitivas no âmbito dos Tribunais Superiores.

Contudo, pertinente se faz esclarecer que conforme bem destaca Neves (2017, p. 1498), por mais que estejam presentes os requisitos elencados no art. 976, caput, nota-se o seguinte:

Art. 976, §4º: ainda que estejam preenchidos todos os requisitos previstos pelo art. 976, caput, do NCPC, não se admitirá a instauração do incidente ora analisado quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre a questão de direito material ou processual repetitiva (BRASIL, 2015).

Há de se afirmar, portanto, que a regra do incidente é no mínimo valorosa, uma vez que não apresentaria coerência se instaurar o incidente de resolução de demandas repetitivas com o objetivo de criar um precedente vinculante em um

(27)

específico Estado, no caso Justiça Estadual, ou numa Região, nessa situação Justiça Federal, diante de cenários onde já existem outro incidente instaurado em tribunal superior, pois este criará um precedente vinculante com efetividade nacional.

1.5.1 Legitimidade

O Novo Código de Processo Civil, prevê expressamente os legitimados a requerer a instauração do IRDR, dispostos no artigo 977, quais sejam:

Art. 977. O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal:

I - pelo juiz ou relator, por ofício; II - pelas partes, por petição;

III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição (BRASIL, 2015).

De acordo com o disposto no artigo 977, incisos I, II e III do Novo Código de Processo Civil, as partes legítimas são: juiz, relator, partes, Ministério Público e Defensoria Pública.

Em se tratando da legitimidade para pedir a instauração do IRDR, Sparemberger atesta que:

É necessária a análise do caso concreto para se aferir a legitimidade do demandante, i.e., deve haver uma relação jurídica entre o demandante e o objeto do litígio. Serão os juízes os primeiros a perceberem se há possibilidade de repetição de demandas e se elas são capazes de causar risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica, razão pela qual terão legitimidade para instaurar o IRDR. A legitimação do Ministério Público e da Defensoria decorre de suas atribuições constitucionais. Cabe ao Ministério Público atuar na defesa do interesse social e individual indisponível (art. 127 da CF). Logo, tem legitimidade para instaurar o IRDR para a defesa de direitos individuais homogêneos quando identificado relevante interesses repetitivas, caberá o juízo de primeiro grau aplica- (NUNES, 2013, p. 380). Nesse sentido, cf: CUNHA, 2011, pp. 255-280 e, ainda, MACÊDO, 2015, p. 529. 364 social. Trata-se de legitimidade extraordinário, a exemplo do que ocorre na ação civil pública, que se justifica pela sua função institucional. Além de atuar como parte, o Ministério Público funcionará obrigatoriamente como custos legis, e, em caso de desistência ou de abandono assumirá a titularidade, porque o abandono da causa não impedirá o exame do mérito (SPAREMBERGER, 2015).

Ainda, no tocante a legitimidade para requerer a instauração do incidente, Neves acredita que no inciso I do artigo 977 elencado acima, nota-se o seguinte:

(28)

No inciso I vem prevista a legitimidade do juiz ou relator, quando a instauração se dará mediante ofício. Ainda que assim não esteja expressamente prevista no texto legal, a legitimidade do relator só existirá concretamente quando o processo repetitivo tiver chegado ao tribunal em grau recursal, reexame necessário ou, excepcionalmente, em ações de competência originária que estejam em trâmite perante o tribunal. (2017, p. 1498).

Em relação à legitimidade para instauração, o rol é taxativo. Isso significa que os terceiros que não se incluem entre os previstos legalmente, não podem requerer a instauração do IRDR. Apesar disso, “o rol é suficientemente amplo para praticamente garantir que não será por falta de legitimado que o incidente deixará de ser provocado” (OAB, 2015, p. 740).

A legitimidade do Ministério Público e da Defensoria Pública esta prevista constitucionalmente nos artigos 127 e 134. O Ministério Público5 é o fiscal da ordem jurídica. Como há um interesse público no Incidente, resta clara a capacidade do Ministério Público atuar no polo ativo da demanda.

Nesta perspectiva, pode se compreender como legitimados para postular a instauração do IRDR, segundo Neves (2017, p. 1499):

[...] além das partes dos processos repetitivos, o Ministério Público e a Defensoria Pública têm legitimidade para instauração do incidente, nos termos do inciso II do dispositivo ora analisado, quando o incidente será instaurado por meio de petição.

Nesta senda, Neves (2017, p. 1499), continua argumentando que:

No projeto de lei aprovado na Câmara havia previsão de legitimidade ativa de pessoa jurídica de direito público ou da associação civil, cuja finalidade institucional incluísse a defesa do interesse ou direito objeto do incidente. A legitimidade, portanto, exigia a pertinência temática, a exemplo do que ocorre na propositura da ação civil pública, e, embora omisso o texto legal, também a necessidade de existência da associação civil por ao menos um ano. Conforme observado pela melhor doutrina, essa legitimidade era inspirada na legitimidade para a propositura da ação civil pública, que a exemplo do incidente tem como objetivo a economia processual e a

5 O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e

dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis (art. 176 do CPC 2015). Ademais, o Ministério Público exercerá o direito de ação em conformidade com suas atribuições constitucionais (art. 177 do CPC 2015).

(29)

harmonização dos julgados. A redação final do art. 977 do Novo CPC, entretanto, não conta com tal legitimidade, o que, apesar de limitar o rol de legitimados, não elimina a conclusão que justifica a legitimação para o Ministério Público e para a Defensoria Pública.

Em relação à Defensoria Pública, seu papel não é tão amplo, pois só é cabível quando a questão puder afetar interesses de necessitados. É necessário a existência de interesse de necessitados ou hipossuficientes, ainda que de maneira indireta. Isto é, “o Ministério Público e a Defensoria Pública poderão, tendo em vista a redação não condicionante, requerer a instauração do incidente mesmo quando não forem partes, mas desde que haja um interesse com as suas funções” (MENDES, 2012, p. 283).

Finalmente, conclui-se que no que tange à instauração do incidente, são legitimadas qualquer uma das partes, em qualquer grau de jurisdição, não sendo necessário os dois polos ingressarem com o Incidente.

Sendo assim, é de se enfatizar que está notório como são incontáveis os benefícios atingíveis com a instauração do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, sendo essencial o fato de que todos os juízes do Tribunal ficarão vinculados à tese definida, pois desta forma se reduz a possibilidade de decisões discrepantes. Outrossim, assevera melhor celeridade, julgamento mais rápido, redução de processos a serem julgados, segurança jurídica, entre outras coisas mais.

1.5.2 Competência

No tocante à competência para a admissibilidade do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, está prevista no artigo 978, do NCPC. O qual dispõe o seguinte:

Art. 978. O julgamento do incidente caberá ao órgão indicado pelo regimento interno dentre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência do tribunal.

Parágrafo único. O órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente (BRASIL, 2015).

(30)

Conforme o exposto acima, entende-se que o IRDR será dirigido para o Presidente do Tribunal Local e só então será julgado pelo órgão indicado no regimento interno do tribunal. Dentre esses, os responsáveis pela uniformização de jurisprudência.

Consoante dispõe o Enunciado 343 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC), a respeito do tema: “O incidente de Resolução de Demandas Repetitivas compete a tribunal de Justiça ou tribunal regional” (2017, p. 47)

.

Isto é, compete necessariamente ao tribunal local.

Destarte, oportuno se faz destacar que no momento em que o incidente se originar de processo que tramita em primeira instância, o Tribunal fixará apenas a tese. Logo, quando o incidente se originar de processo que tramita no tribunal, este fixará a tese e julgará o processo.

Ademais, salienta-se que o órgão colegiado incumbido de julgar o incidente, julgará o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se instaurou o incidente. Em verdade, se trata de uma prevenção, que vislumbra garantir a segurança jurídica, bem como fazer com que os pronunciamentos judiciais sejam uníssonos, evitando decisões díspares.

Por derradeiro, é importante destacar que o IRDR possui o condão de diminuir os conflitos de massa nos casos repetitivos, podendo assim atenuar o assoberbamento de trabalho realizado no âmbito do poder judiciário. Destarte, analisada a contextualização do incidente, passa-se, por oportuno, à análise propriamente dita do teor e aplicabilidade prática do manejo recursal.

(31)

2 O INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS E A SUA APLICABILIDADE NO ÂMBITO DOS TRIBUNAIS DE JUSTIÇA

Considerando o notório crescimento da complexidade nas relações jurídicas e o volume de litígios jurisdicionalizados, como já explanado, se fez extremamente necessário o desenvolvimento de técnicas processuais a fim de se chegar o mais próximo possível dos princípios da isonomia e da segurança jurídica. Tais medidas foram tomadas no intuito de evitar, assim, decisões conflitantes para situações jurídicas idênticas entre si.

Outrossim, na data de 17 de dezembro de 2014, o Congresso Nacional aprovou o Novo Código de Processo Civil, decorridos cinco anos após a instituição da Comissão de juristas criada pelo Senado para elaborar seu Anteprojeto. Passou a vigorar então, em 18 de março de 2016. Entre suas inovações, trouxe, como já explanado anteriormente, o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, popularmente conhecido como IRDR, previsto no Livro III, Título I, Capítulo VIII, nos artigos 976 a 987, um instrumento jurídico com técnica de julgamento para casos repetitivos.

Resta, assim, evidenciado que o presente incidente não se trata de recurso, mas sim de um instrumento, conforme bem assevera Falcão: “Não é um recurso, mas um instrumento jurídico com uma técnica de julgamento para casos repetitivos” (FALCÃO, 2016, p. 1).

Ao estabelecer uma tese pacificadora a esses múltiplos litígios, implanta maior uniformidade jurídica a todos que estão em situação igual à discutida no caso-modelo. O objetivo justamente é “equacionar os reclamos por uma eficiência sistêmica do Judiciário com o respeito à condução individual dos processos, reduzindo ainda alguns problemas das ações coletivas” (CABRAL, 2014, p. 202).

Ainda de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pode-se afirmar que:

Incidente processual é uma questão controversa secundária e acessória que surge no curso de um processo e que precisa ser julgada antes da decisão do mérito da causa principal. Com a entrada em vigor do novo

(32)

Código de Processo Civil em 2016, foram integrados ao sistema processual brasileiro os Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas e de Assunção de Competência. Esses “Incidentes” veiculam a discussão de questões de direito que se repetem em vários processos ou que tenham grande repercussão social, cuja decisão se torna obrigatória, devendo ser reproduzida em todos os demais casos que discutem o mesmo tema (CNJ, 2019, p.1).

O incidente de resolução de demandas repetitivas, nada mais é do que uma técnica processual que tem por finalidade combater litígios em massa. Seus princípios fundamentais se concentram no princípio constitucional da isonomia, da segurança jurídica, e a prestação jurisdicional em tempo razoável. Estes princípios, além de nortearem o ordenamento jurídico processual vigente, são a base constitucional do incidente, como já explanado.

Ainda, no tocante ao trâmite processual do incidente, afirma o CNJ que:

“[...] a forma de processamento e julgamento dos Recursos Especiais e de Revista Repetitivos é uma técnica de formação de precedentes judiciais obrigatórios que possuem o mesmo potencial multiplicador” (CNJ, 2019, p.1).

Sendo assim, o IRDR, estabelecido mais precisamente no art. 976, do Novo CPC, será instaurado quando houver, simultaneamente, efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito e ainda risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica. Logo, compreende-se que o instrumento em análise, será aplicado nos tribunais cumulativamente, vez que seu rol não é alternativo.

2.1 Julgamento do incidente e recursos

Nos exatos termos do artigo 980, do NCPC, o IRDR será julgado no prazo máximo de 1 (um) ano e ainda terá preferência sobre as outras demandas, ressalvando-se, por óbvio, os processos que envolvam réu preso e pedidos de habeas corpus. Tal prioridade é utilizada justamente para não causar o oposto do que visa, que é o congestionamento do Poder Judiciário e decisões morosas.

Como dito, o artigo 980 do NCPC, estabelece o prazo para julgamento do incidente de resolução de demandas repetitivas, qual seja:

(33)

Art. 980. O incidente será julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

Parágrafo único. Superado o prazo previsto no caput, cessa a suspensão dos processos prevista no art. 982 salvo decisão fundamentada do relator em sentido contrário (BRASIL, 2015).

O julgamento do IRDR tem caráter prioritário para, assim, não gerar grande quantidade de demandas sem decisão por um longo período de tempo. Com o seu julgamento finalizado, a tese deve ser aplicada a todos os processos que versem sobre a mesma questão de direito, bem como às que estão em trâmite no respectivo tribunal, inclusive aos que tramitam nos juizados especiais do respectivo Estado ou região.

Nos casos em que o Tribunal não venha a observar a tese fixada, caberá reclamação ao Tribunal, nos termos do artigo 985, §1º do NCPC, in verbis:

Art. 985. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada:

I - a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de jurisdição do respectivo tribunal, inclusive àqueles que tramitem nos juizados especiais do respectivo Estado ou região;

II - aos casos futuros que versem idêntica questão de direito e que venham a tramitar no território de competência do tribunal, salvo revisão na forma do art. 986.

§ 1º Não observada a tese adotada no incidente, caberá reclamação (BRASIL, 2015).

Tal observância à tese é de suma importância e deve ser aplicada fielmente pelos magistrados, uma vez que nos casos que é dispensada a fase instrutória, o juiz deve julgar liminarmente o pedido que contrariar o entendimento firmado, independentemente de o réu já ter sido citado ou não, nos exatos termos do artigo 332, inciso III do mesmo dispositivo legal, qual seja:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

(...)III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência (BRASIL, 2015).

Nesta senda, caso interposto recurso contra decisão contrária ao entendimento firmado pelo Tribunal, deverá ser dado provimento ao recurso,

(34)

conforme dispõe o art. 932, inciso IV, alínea “c”, do NCPC e também inciso V, alínea “c”, in verbis:

Art. 932. Incumbe ao relator:

IV - negar provimento a recurso que for contrário a:

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;

(...) V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a:

c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência (BRASIL, 2015).

O procedimento do incidente está previsto no artigo 984 do NCPC6 e será realizado com a oitiva pelo relator das partes e demais interessados, o que inclui também pessoas, órgãos e entidades com interesse na controvérsia, sobretudo as partes dos processos sobrestados, podendo o relator requerer juntada de documentos e diligências necessárias. Os interessados, embora não tenham legitimidade para instaurar o incidente podem intervir, inclusive requerendo a juntada de documentos e diligências para a elucidação da questão, bem como requerer a suspensão em território nacional, pois há presença de um interesse público no julgamento.

Quanto aos terceiros interessados, frisa-se que estes não possuem legitimidade para instaurar o incidente, no bojo do artigo art. 977, NCPC7. Contudo guardam legitimidade para requerer a juntada de documentos e diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida, conforme prevê o artigo 9838, do mesmo diploma legal. Podem, também, requerer a suspensão de

6 Art. 984. No julgamento do incidente, observar-se-á a seguinte ordem:

I - o relator fará a exposição do objeto do incidente; II - poderão sustentar suas razões, sucessivamente:

a) o autor e o réu do processo originário e o Ministério Público, pelo prazo de 30 (trinta) minutos; b) os demais interessados, no prazo de 30 (trinta) minutos, divididos entre todos, sendo exigida inscrição com 2 (dois) dias de antecedência.

§ 1º Considerando o número de inscritos, o prazo poderá ser ampliado.

§ 2º O conteúdo do acórdão abrangerá a análise de todos os fundamentos suscitados concernentes à tese jurídica discutida, sejam favoráveis ou contrários.

7 Art. 977. O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de tribunal:

I - pelo juiz ou relator, por ofício; II - pelas partes, por petição;

III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição.

Parágrafo único. O ofício ou a petição será instruído com os documentos necessários à demonstração do preenchimento dos pressupostos para a instauração do incidente.

8 Art. 983. O relator ouvirá as partes e os demais interessados, inclusive pessoas, órgãos e entidades

(35)

todos os processos em curso no território nacional que versem sobre a questão de direito objeto do incidente, consoante art. 982, § 3º9 do NCPC.

Na data aprazada para o julgamento, há uma ordem de costume a ser seguida, a qual ocorre da seguinte maneira: o relator irá fazer uma breve exposição dos fatos e objeto, logo após os representantes podem sustentar suas razões. A ordem de sustentação se dará, respectivamente, inicialmente por autor e réu do processo originário, Ministério Público e os demais interessados. O prazo para manifestação de suas sustentações é de 30 minutos para autor, réu e MP, enquanto para os demais interessados o prazo também será de 30 minutos, só que dividido entre todos eles, podendo este ser ampliado, dependendo da quantidade de inscritos. A propósito, para esses existe uma exceção, qual seja, devem efetuar sua inscrição com 2 dias de antecedência.

Após o julgamento, será lavrado acórdão, o qual deverá estar devidamente fundamentado, contendo todos os fundamentos suscitados concernentes à tese jurídica discutida, independentemente de ser favorável ou contrário. Desta forma, deve mencionar inclusive os argumentos rejeitados, explicando o porquê da negativa. A fundamentação é justamente para a efetividade do incidente, justificando

de documentos, bem como as diligências necessárias para a elucidação da questão de direito controvertida, e, em seguida, manifestar-se-á o Ministério Público, no mesmo prazo.

§ 1º Para instruir o incidente, o relator poderá designar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e conhecimento na matéria.

§ 2º Concluídas as diligências, o relator solicitará dia para o julgamento do incidente (BRASIL, 2015).

9 Art. 982. Admitido o incidente, o relator:

I - suspenderá os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região, conforme o caso;

II - poderá requisitar informações a órgãos em cujo juízo tramita processo no qual se discute o objeto do incidente, que as prestarão no prazo de 15 (quinze) dias;

III - intimará o Ministério Público para, querendo, manifestar-se no prazo de 15 (quinze) dias. § 1º A suspensão será comunicada aos órgãos jurisdicionais competentes.

§ 2º Durante a suspensão, o pedido de tutela de urgência deverá ser dirigido ao juízo onde tramita o processo suspenso.

§ 3º Visando à garantia da segurança jurídica, qualquer legitimado mencionado no art. 977, incisos II e III, poderá requerer, ao tribunal competente para conhecer do recurso extraordinário ou especial, a suspensão de todos os processos individuais ou coletivos em curso no território nacional que versem sobre a questão objeto do incidente já instaurado. § 4º Independentemente dos limites da competência territorial, a parte no processo em curso no qual se discuta a mesma questão objeto do incidente é legitimada para requerer a providência prevista no § 3º deste artigo.

§ 5º Cessa a suspensão a que se refere o inciso I do caput deste artigo se não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no incidente (BRASIL, 2015, grifo do autor).

Referências

Documentos relacionados

A suspensão ope legis dos processos não se confunde, porém, com a suspensão nacional dos processos pendentes, previsto no artigo 982, §§ 3º e 4º, CPC/2015, pois, neste caso,

A pesquisa tem por escopo o incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR), como instrumento de tutela coletiva de direitos homogêneos, contribuindo para

Por fim, avigoramos o entendimento quanto à natureza jurídica do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, que constitui um processo coletivo formado a partir

Essa negativa de assumir um mero fato cotidiano como poesia também se apresenta como um elemento da mais profunda importância, pois a “cotidianidade” em Drummond, não significa

§  4 o     Quando,  por  ocasião  do  processamento  do  incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas, 

§  4 o     Quando,  por  ocasião  do  processamento  do  incidente  de  resolução  de  demandas  repetitivas, 

Distribuído o incidente, o relator poderá requisitar à unidade administrativa competente informações sobre se o objeto do incidente já foi afetado pelo Supremo

De acordo com os dados do (Quadro 4), tornou-se possível compreender que, durante o período das ocupações de terras (1998), o rebanho bovino diminuiu e/ou foi transferido para